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OCIDENTE Com duas mios—o Ato ¢ 0 Destino Desvenckimos. No mesmo gesto, 20 céu Uma ergue 0 facho trémulo e divino Ea outra afasta o véu. 5 Fosse ahora que haver ou a que havia A mao que ao Ocidente o véu rasgou, Foi alma a Ciéncia e corpo a Ousadia_ Da mao que desvendou. Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal 20 Amo que ergucu o facho que luziu, Foi Deus a alma e 0 corpo Portugal Da mao que 0 conduziu. Femando Pessoa, Mensagem (ed. Fernando (Cabral Martins) Lisboa, Assia & Alvim, 2024, p. 56. 1 Explicita @ forma como a dualidade «o Ato e 0 Destino» se desenvolve ao longo do poema. 2. Comprova a predestinagao de Portugal, fundamentando a tua resposta com elementos textuais pertinentes. 3. Identifica no poema duas caractertsticas do discurso épico, documentando-as com ‘exemplas significatives. Teste 3 (p.325) 2. A predestinagdo de Portugal esté presente no Grupo cumprimento da vontade divira («Foi Deus a alma e 0 A corpo Portugal), sendo o «Ato» feito por designio de 1.0 wAtor © 0 «Destino» surgem 2 pat, ae longe do oema, num equilio de forqs, simbolzado por duas ‘mos humanas e pea dualidace compo e alma. © «Ato» corresporde & ago do Homem, que ultrapassou os lbstaculos do desconhecido, prmeireafastandc «0 véur, depois rasgando esse mesmo «dus. Eta agdo humana, @ avertura da navegacao, 56 foi passive pelaconjugacaa da alma, «a Ciénciay, © do corpo, «a Ousacias, dos havegadores. 0 «Destino», equivalente & intervened divina, 2 mio que sergue o facho trémulo € divino», estara tracado, por ser a vontade de Deus. Verifies, assim, ura relagdo completa do corpo (aPortugals) e da alma («Deus») que conduziu ao desvendamento do ‘mundo per descobric ‘ume force ocuta que orientou, através da liz do afacho», (0s navegadoresportugueses. 0s vocdbulos Decvendimmods, xafactan, — evbum,—araagaun, ‘cdesvendou» remetem primeiro para 9 mistério e, dopoic, para 2 rovalagie pormitids pelo «facho que luziu», pela vontade divina. 2. coletva de um pove, de ‘ualdades excacionais («Ciéncian, «Dusadias), capaz de erecutar fetes extaordnéris, glerioses © singulares (cafasta 0 véus, co véu raigous, «Desvendémors); revelagao da vontade dvina © de predestinagzo de Portugal («Foi Deu: a alma © © corpo Portugal; © signficado superior eintemporal da busca: Portugal «que ‘0 Ocidente 0 véu rasgoun. Inquicto, Carlos descintou o jomal. Chamava-se a Corneta do Diabo: € na impressio, no papel, na abundancia dos itilicos, no tipo gasto, todo ele revelava imundicie e malandrice. Logo nna primeira piigina duas cruzes a apis marcavam um artigo que Carlos, num relance, viu salpicado com o seu nome. E leu isto: «Ora viva, s6 Maia! Entio jé se ndo vai ao consultério, nem se vem os doentes do baitro, s6 janota? ~ Esta pi i porta da Hi «a0 Mai ihete, que abarrota por ai de calla; € © pai Paulino que tem olho ¢ que passava nessa ocasido ouviu a seguinte cometada: ~ E que o $6 Maia acha que é mais quente viver nas fraldas de uma brasiteira casada, que nem & brasil € casada, © a quem 0 papalvo pos casa, ai para o lado dos Olivais, para estar ao fresco! Sempre os hd neste mundo’... Pensa o homem que botou conquista; € cd a rapaziadla de gosto ri-se, porque 0 {que a gaja Ihe quer nio so os lindos olhos, sio as lindas louras... 0 simplirio, que bate ai pilecas, bifes, que nem que fosse © marqués, 0 verdadeiro marques, imaginava que se estava abiseoitanda, com uma senhora do chique, e do boulevard de Paris, ¢ casada, ¢ titular... E no fim (no, esta é para a gente deixar estourar 0 bandulho a rit!) no fim descobre-se que a tipa era uma cocotte safada, que trouxe para ai um brasileiro jd farto dela para a passar eft aos belos lusitanos... F cai a cspiga ao Maia! Pobre palerma! Ainda assim o s6 Maia s6 apanhou os restos de outro, porque a a, J antes de ele se enfeitar, tinha pandegado & langa, ai para a Rua de S. Franciseo, com um rapaz da fina, que safou também, porque ci como nos s6 aprecia a bela espanhola. Mas no obst a que 0 sé Maia seja traste! — Pois se assim é, dissemos nos, cautelinha, porque o Diabo cf tem a sua Cometa preparada para cometear por esse mundo as faganhas do Maia das conquistas. Ora Maia!» [..] Mas sb Lisboa, s6 a horrivel Lisboa, com o seu apodrecimento moral, o seu rebaixamento, social, a perda inteira de bom senso, o desvio profundo do bom gosto, a sua pulhi i podia produzir uma Corneta do Diabo. 440 Maia dos cavalos ingleses, ga de Qucis, Os Maia, Ponto, Livts do Brasil, 2014, ap. XV. 4. Relaciona o teor da carta com a linguagem ¢ estilo nla empregues. 5. Comenta as reflexes contidas no Uitimo parégrafo, tendo em conta a globalidade do texto € 2 critica de costumes implicita, B 4. 0 teor da carta prende-se com a exposicio do relacionamento amoroso entre Carlos da Maia e Maria Eduarda, Este tipo de informagies nunca deveria ser publicado, se 0 jornalismo fesse feito com seriedade. A linguagem e 0 estilo em que esta carte esté redigida adequa-se & falta de nivel do contedido. Notenrse os seguintes aspetos: registo de lingua préximo do caléo («a gejam, |. 10, «a tipan, |. 14); expressdes pejorativas como «60 (Il. 4, 5, 7), «papalvo» (1. 9); a irenia que percorre todo 0 texto «E calu a espiga a0 Maia» (Il. 15- 116), «as faganhas do Maia das conquistas» (I. 20). 5. 0 ultimo paragrafo contextualiza a carta no esparo social @ que pertence. Efetivamente, sé num meio devasso, corrupto € podre como o de Lisboa pode originar € permitir uma carta que € uma verdadeira devassa & vida privada dos protagonistas; estamos perante ume acutilante critica aos costumes da sociedade lisboeta, permissiva aos abusos da imprensa,

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