You are on page 1of 26
Karl Deutsch Anilise das Relacoes Internacionais Pensamento Politico Tradugio de Maria Rosinda Ramos da Silva ei suse - [SI] Estitoe Universidade de Brasilia CAPITULO I DOZE QUESTOES FUNDAMENTAIS As doze questbes fundamentais que nos interessam sio as seguintes: 1. Nagéo ¢ Mundo Quais as relagies entre uma nacio ¢ 0 mundo que a cerca? Quando, como € fem quanto tempo tendem a surgi Estados © nagdes e em quanto tempo desaparecem? Enquanto duram, como se relacionam com outros povos, Estados e nnagées? Como lidam com grupos menores ou com individuos dentro de suas fronteiras? E como se relacionam com organizagbes internacionais ¢ com 0 sistema politico intemacional? 2, Processos Transnacionais ¢ Interdependéncia Internacional ‘Att que ponto pedem os govemnos e povos de qualquer Estado-nacto decidir sobre seu préprio futuro e até que ponto 0 resultado de suas ages depende das condigdes e acontecimentos verficados fora de suas fronteiras? Estio 0s paises © ages tornando-se mais “soberanos”, mais independentes uns dos outros, ou ‘estio setornando maisinterdependentes em suas gies eem seus destinos? Ou, ainda, estario tornando-se mais interdependentes, porém em diferences setores de atividade? Como estara o mundo, digamos, no ano 2010, no que se refere a essas questbes? 3. Guerra ¢ Paz Quis os fatores determinantes da guerra e da paz entre as nagbes? Quando, ‘como e por queas guerras comecam, prosseguem e acabam? Como ocorreram tais [processbs no passade, como ocorrem hoje e como, provavelmente, ocorrerio no futuro? Até que ponto e que tipos de lutaos povos tendem aapoiar? Quando, com _que finalidade e em que condigies? 4, Forca e Fragilidade . (Qual a narureza da forga ou da fragilidade de um governo ou deuma nagio no ‘que conceme & politica internacional? Quais as fontes e as condigbes de tal forga? ‘Quais so seus limites? Quando, como e por que o poder se transforma? 18 Karl Wolfgang Deutsch 5. Politica Internacional ¢ Sociedade Internacional © que € 0 que nao é politico na frea das relagbes internacionais? Qual a ‘telagio entre a politica internacional e a vida da sociedade das nagdes? 6. Populacdo mundial versus alimentos, recursos e meio ambiente Estaria a populacio mundial crescendo mais rapidamente do que producso de alimentos, de energia ¢ outros recursos, ou entdo, mais rapidamente do que a propria capacidade demografica de nosso meio ambiente, no que diz respeito a Indices toleraveis de qualidade do ar, da agua e do nivel de poluicdo do espaco em. gue se vive? Poderiam as falhas nessa area representar uma ameaca para a “seguranga nacional” semelhante ou pior em comparacao com aquela causada or uma mudanca no potencial militar ou poder politico dos paises vizinhos? Em. qualquer dos casos, quais seriam suas conseqiiéncias para a politica mundial ~ inclusive para a guerra e para a paz—e 0 que se poders fazer, caso se possa fazer alguma coisa? 7. Prosperidade e Pobreza Ate que ponto chega a desigualdade no que se refere a distribuicio da riqueza edarenda entre as nagbes do mundo? Até que ponto ha desigualdade com relacio a outros valores vinculados aos anteriores, tais como expectativa de vida ou educagdo? As diferencas econdmicas entre as nacdes sio maiores ou menores do que as diferencas econdmicas nelas existentes, como, por exemplo, entre grupos €tnicos ou raciais, ou entre reyidesou classes? Algumas dessas desigualdades estao aumentando ou diminuindo? Com que rapidez e em que extensio? O que € que determina a natureza dessa distibuigio ¢ a amplitude ¢ 0 sentido de tais ‘mudangas? O que é que pode ser feito para que deliberadamente se provoquer ‘ais mudangas? Em que grau e com que rapidez? 8. Liberdade e Opressio ‘Que importancia dio as pessoas & independéncia de outros povos e até que onto se importam com a liberdade de seu proprio pais ou naclo? E, caso se importem, v que & que provavelmente fariam? Quando e em que condigoes? O que € que as pessoas entendem por “‘liberdade” — um variado leque de alternativas, envolvendo tolerncia para com as minorias e para com o inconfor- ‘mismo individual, oua submissio das massas um governo de maioria, Atradico, a algum lider digno de confianca, a alguma tirania hereditaria familiar? Até que ponto entendem a liberdade como um valor em si mesmo e até que ponto a Julgam um meio para a realizacéo de valores outros que Ihes sio mais caros? Que ‘ondigéesinfluenciam esses conceitos e essa escolhas? Com que apidez e até que onto? Qual 2 amplitude das diferencas entre o tipo e o grau de liberdade que os povos desejam em diferentes paises ou em diferentes grupos de uma mesma nacio? Qual a amplitude das diferencas, em espécie e grau, no que diz respeito a liberdade que desfrutam? Até onde e com que rapidez essas distribuigdes se alteram? Quando e em que condigées? Andlise das Relagbes Internacionais 19 9. Percepedo e Musto Que perceprio tém os lideres e demais cidadios quanto as suas proprias nagBes e de que forma consideram outras nagdes € seus atos? Até que porto taié percepcies sio realistas ou ilusérias? Quando, em que sentido ¢ em que condigdes? Em que condigies governos ¢ eleitores se mostram conscientes € 2 respeito de que assuntos Se mostram alienados? Até que ponto of governos nacionais agem como fonte de decepcao, de mitos ou de desilusio das massas? Que efeito produz tudo isso na capacidade que teriam os governos e Estados- nagBes de controlar seu proprio comportamento e de prever as conseqiiéncias de seus atos? Qual a “média de erro” dos estadistas? Com que freqiiéncia toma. ddecisdes imporiantes sobre a guerra ou sobre a paz com base em erros graves de percepgao dos fatos? Poder-se-ia fazer alguma coisa, para que tais equivocos passassem a ser mais raros ¢ as avaliagBes mais realists? 10. Atividade e Apatia Que parcelas e que grupos da populacao demonstram interesse ativo pela politica? Que parcelas e que grupos demonstram interesse por assuntos interna: CGonais? Que condigBes propiciam a ampliacio ou a reduglo desse nimero de participantes ativos? Com que rapidez ¢ sob que aspectos? Que estrato da populagio deve ser considerado importante para politica em determinado lugar €época? Que condicbes seriam mais propiciasa uma lteracio na magnitude desse strato polticamente relevante? Que efeitos podem exercer dessas mudancas na totalidade dessa partiipacdo politicareal e potencial sobreos processos politicos e sobre seus resus? Especifiament, que efios podem exercer esas tans: formagSes no grau de participagio em massa na politica sobre o comportamento.¢ sobreosdesfechos dasquestesinternaconais? Que ipos de policae de questBes ais podem exist entre populagdes em grande parte limitadas a uma jesubsisténciaeapaticas em relagio politicano sentido mais amplo? E {que tipo de politica nacional ou internacional pode desenvolver-se com a intensificacao do uso do dinheiro e dos meios de comunicacio de massa, da alfabetizagio, da mobilidade social e da panicipagio politica? Obviamente, trata'se de um problema sério nos paises em desenvolvimento, embora também o seja em paises maiores e mais desenvalvidos, coma os Estados Unidos, a Franga e a Unido Soviética. LL. Revolugao e Estabilidade Que condicdes favorecem a derrubada de governos? Quando, em que condigdes eaté que ponto podem as eites dirigentes ouas classes privilegiadas vira perder total ou parcialmente seu poder ou sua posicio? Que transformagbes Permanentes ou irreversiveis, caso ocorram, sio produzidas por meio de evolugdes? Quando e como os sistemas juridico, econdmico e social ou mesmo o conjunto dos principais padrdes culturas sio total ou parcialmente descartados , em tilima instincia, substituldos por outros sistemas e padres? Com que rapidez ‘ocorrem esses grandes processos de transformagio e a que prego em termos de 20 Karl Wolfgang Deutsch prejuizos materiais e de softimento humano? Que grupos da populagdo arcam Com esse custo? Por muito ou pouco tempo? Que beneficios ~ se éque ha algun — resultam dessas mudangas e a quem eles afetam a curto ou longo prazo? Quanto tempo necessario para que se instaure a estabilidade politica e social apds um. periodo revolucionério? Como, com que resultados e a expensas de quem? E quais 98 efeitos de tais processos revolucionarios ou contra-revolucionarios e de uma eventual estabilizaao de uma antiga ou nova ordem politica ou social na evolucio das questdes intemacionais? Em resumo, de que moco as revolucées internas afetam as questdes internacionais e como as influéncias estrangeiras e 0s eventos internacionais podem afetar a estabilidade ou a sublevacao revolucionaria de regimes internos e sistemas polfticos de determinados paises? Que podem fazer os governos, os lideres ¢ o cleitorado se € que podem fazer alguma coisa? Até que Ponto sioinfluenciados ou controlados por um ipo deactodeliberada? Quando, ‘2 que custo e em que sentido? 12. Identidade ¢ Transformagéio Em meio a todas essastransformagées, como é que individuos, grupos, povos «enacbes podem preservar sua dentade Em que conssteesaidentdade io que diz respcito a quaisquer elementos ou aspectos de sua estrutura interna, e que diferenca ela provoca no comportamento desses elementos ou aspectos? Até que onto a identidade de alguém representa uma necessidade real para pessoas € grupos co que acontecerd se tal necessidade nao for atendida? Até que ponto essa ‘dentidade é um valor em si mesma eem que medida representa uma condicio ou tum instrumento para a concretizagio de outros valores? Como se adquire um sentimento de identidade ~ ¢ a realidade da identidade (ou seja, 0 significado permanente, para alguém, das suas proprias memérias) ~ ¢ como se perde essa dentidade? Em que medida, em quanto tempo e em que condigSes? At que ponto as pessoas, as classes, as elites, 0s governos, os povos € as nagBes se parecem todos com umm leopardo, que no pode modificar suas manchas, ¢ até que ponto si0 ‘apazes de softer transformagbes ou de se transformarem a si mesmos? Até que Ponto as pessoas, as classes socials e os grupos raciais aprendem a identificar-se com 0s papéis temporirios de poder e privilégios que eventualmente tenham assumido cm alguma época da Historia ¢ até que nivel podem ter-se vicado com aquelas aparéncias enganosas que, na maioria das vezes, acompanham o poder e 10 privilégios? Que acontece com as opinidese os sentimentos das pessoas ¢ como tendem elas 2 agir, quando se véern na iminéncia de perder poder e prvilégios? Tanto os alemfes do leste europeu apés a Primeira Guerra, como os ingleses da india e do Quénia apés a Segunda Guerra, os japoneses da Coréia e da Manchiria, os franceses da Argélia, os colonizadores portugueses de Angola ¢ Mocambique, os fazendeiros brancos da Rodésia c da Africa do Sul, e alguns dleitores brancos do Sul dos Estados Unidos apés a Guerra Civil tiveram que enfrentar 0 problema, de uma forma ou de outra. Cada grupo teve que optar por algum tipo de reacio, desde a adaptacio padiica até uma intensa e amarga resistnciae, as vezes, até mesmo a uma guerra de grandes proporcdcs, com vistas a preservar ou recuperar uma predominancia ameacada. Anilise das Relagdes Internacionais 21 Em cada um dos dois casos, ou seja, a adaptacao pacifca ou o desespero belicoso, que outras parcelas da sociedade e da cultura dos antigos detentores daquecle poder, antes nio disputado, tinham que ser transformadas? Reformulando nossa primeira questdo: até que ponto podem os povos, os Estados e os grupos sociais modificar seu comportamento, seus objetivos, sua cestrutura intema € seu carter, € até que ponto podem, ao longo de toda essa sansformacio, manter sua propria identidade? Que efeitos exerce a transforma- lo de personalidades e de grupos sobre uma nacio e a transformagio de uma nacio sobre personalidades e grupos? Especificamente, que efeitos exercem as. ‘mudancas internacionais sobre a transformagio nacional e sobre a identidade nacional, ¢ que efeitos exerce a wansformacio de uma naglo ou de alguns ‘grupos ou de algumas classes sociais nela integrados— sobre outras nagies e sobre 6 sistema internacional? Evidentemente, é mais fil fazer as perguntas do que respondé-las. Ja se escreveram livros eartigos acerca de cada uma dessas doze questbesfundamentas. Poucos, no entanto, s20 arrolados como sugesides para uma leitura mais aprofun dada. Muitos mais, cetamente, ainda serio escritos. Mesmo assim, se quisermos iniGar um estudo mais abrangente da politica internacional, teremos que, pelo menos, comecar a pensar nessas doze perguntas basics, afim de nos familar zarmos com os problemas implicitos em cada uma delas As doze questies sho interdependentes. Quaisquer que sejam as respostas, totais ou parciais, poderemos chegar a conclusto de que cada uma delas apresentara diferencas em relagao a respostas que tenhamos dado a algumas ou a todas as ddemais. Cada uma de nossas doze questbes constitui um bom ponto de partida, ‘mas, assim como muitos portbes podem levar ao centro da mesma cidade, todas as. nossas doze questées conduzir-nos-io cada vez mais ao imago das complexidades inerentes a0 nosso tinico problema: como é que tantas nacbes diferentes, na ‘medida em quesurgem em cena ou saem de cena, podem conviver, num misto de independénciac interdependéncia limitadas, em um mundo com o qual podem no estar de leno acordo, mas que nenhuma delas pode individualmente controlar ¢ do qual todas depender, para ter paz, para ter liberdade, para ter felicidade para sobreviver? CAPITULO II MEIOS DE RACIOCINAR: ALGUNS CONCEITOS BASICOS Com 0 objetivo de tornar nossas doze questdes fundamentais mais manipuli« veis, tanto isoladamente quanto em conjunto, temos que fazer uso de certos conceitos para aprofundar sua anilise. Considerando-se que um conceito ¢ um simbolo e que um simbolo é, digamos, uma espécie de comando que nos leva a atentar para aquilo a que se refere, podemos dizer que um conceito € um tipo de ‘comando que nos permite lembrer um conjunto de dados ou de fatos. Trata-se de uma ordem para selecionar e colecionar certas informagBes— e essas informagBes se relacionario a fatos, caso tais fatos existam. Dai que um conceito representa um ‘comando para que se busque algo, mas sem qualquer garantia de queacharemoso {que estamos buscando. ALGUNS GONCEITOS ACERCA DE SIS -Ds.quaisa conceitos com que iniciaremos este estudo foram propostos pelo socidlogo Taleott Parsons, que os extrain da idéia de que ha certas coisas fundamentais a serem obrigatoriamente fetas em qualquer sistema social, grande ‘ou pequeno~ ou seja, em cada grupo, em cadaorganizacio, em cada pais, caso se pretenda que esse sistema social se transforme em algo duradouro, permanente. Em primeico lugar, esta a manutengio de padres, O sistema tem que ser preservado ‘em seus padres essenciais ~ isto ¢, esses padres tém que ser reproduzidos com certa freqiiéncia a fim de serem preservados ao longo de determinada sucessio de pessoas, grupos ou geragBes. Na maioria das sociedades, a principal fungio da manutengio de padrdes é desempenhada pelos nticleos familiares; em qualquer sociedade tal funcio € exercida também por muitas outras instituigBes € organismos, embora em menor escala. “MAS SOCIAIS Fup scoundo hd acdattacio. Qualquer organizagio e qualquer sociedade tém que adaprar-se 20 seu ambiente, dele extrair seu sustento e ajustarse a suas rmodificagbes. Segundo Parsons, a principal arefa de adapragio, em qualquer pais, compete a0 setor econdmico ¢ a instituigBet ¢ adividades de tal setor, inchusive aquelasligadas& tecnologia ea citncia. A adapracdo portanto, é primordialmente uuma fungio exercida pelas fZbricas, pelo setor agricola, pelas minas e pelos laboratérios de cada pals, sejam de propriedade publica ou de propriedade 2 Karl Wolfgang Deutsch particular. As pessoas se adaptam aos mares através da pesca: aos campos, através do eultivo do trigo; aos rios, através da instalagho de usinas de energia elérica -€ essa adaptagio social modifica o meio ambiente, asim como a sociedade, ja que, Se @ capaz de transformar um cagador em fazendeiro, tambem € capaz de ‘wansformar uma planicie em dea de cultivo. Cada organizagto ¢ cada sociedade tm um ou varios objetivos que tentam alcancar ou realizar, ou que seus membros desejam alcancar, em funcio dos quais seu comportamento se modifica, extrapolando a simples necessidade de manutencio de padrdes e de adaptaco. Em cada pais, sugere Parsons, grande pane da fungio relacionada com a consecucao de objetivos & desempenhada pelo governo, geralmente pelo setor politico, por meio de seus proprios métodos einstituigbes. E através do governo e da politica que, com maior freqiiéncia, séo coletados ¢ realocados os recursos ‘humanos € materiais de um pals com vistas a alcangar quaisquer objetivos, ppacificos ou belicosos - desde a alfabetizacao geral & conquista de uma cobicada regido fronteirica, que tenham sido aceitos pelas liderancas ou pela sociedade. Essas tr funcdes ~ manutengio de padroes, adaptacio ao meio ambiente humano € natural e consecugéo de objetivos — nio sio ficeis de serem| desempenhadas simultaneamente, caso 0s recursos sejam limitados, como| normalmente ocorre. Nao obstante, nenhuma das trés pode ser sacrficada. Desta| forma, cada pais, cada sociedade e cada organizacao complexa esclarece Parsons ~ esti sempre a enfrentar uma quarta tarefa, de cardver permanente e fundamental: atarefa deintegragdo, que consisteem tomnar compativeisesss diferentes atividades ¢em manté-las como tal, bem como em tornar compauveis as expectativas © as ‘motivacdes das pessoas com os papeis que ttm que desempenhar. Na maioria dos palses, afuncio de integracdo é exercida basicamente por seus setores culturais e educacionais e através de suas instituicdes e praticasreligiosas, mas muitos outros elementos da sociedade participam dessa tarefa, embora, de maneira geral, em muito menor escala. Eseas mesmas quatro fungBes slo desempenhadas em cada urganizagto ou ‘grupo ~ ou seja, em qualquer sistema de maior ou menor complexidade. No Departamento de Estado, por exemplo, a manutencio de padrées pode ser considerada uma tarefa desempenhada principalmente pelos sctores de conta- bilidade ¢ de auditoria, bem como pelo servigo do pestoal e pelo servico de seguranca, enquanto se pode considerar que grande parte do trabalho de rotina de seus consulados ¢ embaixadas, assim como de suas assessorias parlameniaresede relagdes piblicas (ou de “negécios piblicos”) serve as tarefas de adaptacdo as varias partes de seu ambiente. Aos nossos diplomatas no exterior cabe o encargo da consecugto de objetivos,sobretudo através de esforgos de cunho “politico 2 Panir de declaracies e ress-rleses dos porta-vozes do Departamento, bem como dda preparagio de tratados intemnacionais ou legislagio nacional proposta pelo Anilise das Relagdes Internacionais 25 cpartamento e através dos esforgo de elaboracio de diretrizes politicas por seus Fartoniis mais prauados Est desde oSecearo de Evade ator mbox dos mais baixos escaldes, também enfrentam uma interminavel tarefa de integracio isto é, detentar coordenar e compatbilizar (ou mesmo de fazer com que apdiem uns os outros) todas as indimeras seqbes, escitorios,representagbese funcionarios do Departamento, e suas respectivas atividades Paras Estados Unidos como um todo, a consecuglo de objetivos é umatarefa neceSsarfamiente desempenhada pelo Presidente ¢ pelo Congresso e, em escala cada vez mais significativa, pela Suprema Corte. Os trés Poderes, entretanto, tém Jambém importantestarefasa desempenhar em relagio a manutencio de padroes, | imvegracio e & adaptacio, Emnivel ainda mais elevado, a Organizacdo das Nagdes Unidas tenta alcancar seus objetivos principalmente através da Assembleia Geral, do Secretario-Geral e do Conselho de Seguranca. Grande parte da tarefa de adaptagio da ONU & realizada pelo Conselho Econémico e Social (ECOSOC), e importantes esforcos para o desempenho de sua funcio integrativa sio empreendidos através da UNESCO (United Nations Educational and Scientific Council. Grande parte da tarefa de manutencao de padrdes parece estar sendo deixada a cargo dos paises ou nagBes-membros, talvez em escala perigosamente ampla em epocas de tensdes Como demons ei xenon a quo unger bisa peomenos em escalareduzida, exisem em qualquer sistema social Nem sempre, entretato, se tostam nitdamente separadas ma pritia, nem sto desempenhadas do mesmo modo. Qualquer sistema estaveleidentficdvel tem que apresentar um determi: nat grau de manutencao de padrdes para poder pelo menos sobreviver em um [bien naltervel. Os sistemas capazes de sobreviver em ambientes que variam tou que se modifica precsam desenvolver a funcio de adaptacio. Somente Sistemas de certacomplexidade tem objetivos extemos e, potato, a tarcfa de tringlos apenas sstemasde complexidade semelhante ou superior podem vir Dreisar de condicies e processor de integracio mas sofisicados. 1. Desde o final de 1974, eneretanto, algumas resolugies bastante controvendat, asusndo 0 Evado de Israel de“racsta” vim tendo aprovadas na UNESCO por uma maioria de delegador dor Exodos frabes bem como pla maiovia das naghes do Tercrro Mundo epor paises comunistas, contra os .t0$, ‘dos Exados Unidos e de alguns outros pates com abstencio de mute poténcae da Evrops ‘cident. Tai tesoluctes se mostam basicamente asus em seu conteidr tanto aideologia pola do sionismo quanta as leis do Estado de Ital sto indiferences ao conjunto de eraceisicas Bias, inate heediirias aque chamamos de "rca, conforme oensinamentoreligiogo jude, qualquer pesioa pode converer-seaojudalsmo. No ineio de 1977, esses autos até cert ponto se eduzira,€ [Bra a despelio de ua loelizapao geografie, patiou & condi de membro do grupo regan da Europa Ocidental no ambito da UNESCO. 26 Karl Wolfgang Deutsch Duas funcdes basicas posteriores tornam-se importantes em relagio apenas a sistemas ainda mais altamente desenvolvidos. Uma delas & a ficardo de objtves. Enquanto sistemas simples de fixacio de objetivos criam em si mesmos, e de uma ‘vez por todas, a propensio a alcancar um objetivo ou, no méximo, alguns poucos objetivos equivalentes ou alternativos, um sistema mais avancado tem a capaci- dade de fixar objetivos para si mesmo no sentido de que produz transformacBes na busca de um espectto mais amplo de objetivos ja existentes ede que cria parasi ‘mesino novas metas que jamais havia tentado alcancar anteriormente. Paises ““solacionistas”, por exemplo, podem adquirir grandes estabelecimentos milta- es ¢fixar amplos objetivos militares ou “interesses de seguranga” em longinquas partes do mundo, como fez a Inglaterra do século XVI a metade do século XX, ¢ como os Estados Unidos tém feito gradativamente a partir de 1890, c de modo mais acelerado a partir de 1945 ¢ 1965. Por outro lado, determinados pafses podem abandonar, lenta ou rapidamente, alguns planos que antes Ihes pareciam de capital importancia. No século XV1, os governantes da Inglaterra, porexemplo, renunciaram & ambigio tissecular de impor sua soberania ao territério continen- talhoje ocupado pela Franca. Acabaram por abandonar Calais e voltaram-se para riacio de um poderio naval e para a conquista do poder em algumas partes do Novo Mundo. O desvio parcial do foco das atencbes russas norte-americanas a partir do final dos anos 50 da competicio pela influénciae fixagio de bases neste super-habitado planeta, paraa fixacio de objetivos ligados a conquista do espago~ 6, evenualmente, de plantas — pode ser considerado outro exerplo de madanca le objetivos nacionais. Pode ocorrer até mesmo uma mudanga na qualidade dos objetivos e dos ““interesses vitas” perseguidos por determinada nagio. No sécalo XVI, 0s suigos renunciaram ao plano de dominar a Lombardia; no século XVIII, 0s suecos Tenunciaram a idéia de estabelecer um império no Biltico; entre 1945 e 1965 08, briténicos desistiram de um império que atualmente abrangeria cerca de 800 rilhdes de pessoas. Cada uma dessas nagdes, pelo fato de ter abandonado a meta. de dominar outros povos, voltou-se entio para a fixagio de um conjunto de ‘objetivos inteiramente distinto: dedicacio aos assuntos nacionais, is questbes de prosperidade econdmica c, eventualmente, de cigncia e educagio, bem como 30 exame das oportunidades e problemas do welfare state Se um sistema modifica seus objetivos repetidamente e com éxito, torna-se, até certo ponto, potencialmente maior do que os objetivos que por acaso vise a alcangar a qualquer tempo, jé que pode escolher perseguir ¢ alcancar outros objetivos maiores ou mais validos no fururo. Tal fato nos faz lembrar um pouco 0 alerta lancado por certos filbsofos ¢ tedlogos contra a “idolatria”— isto é, contra o cculto de coisas passageiras e transitorias, de pequenos deuses de barro como se estes fossem infinitos e eternos. Também em politica intemacional, qualquer TNT Bade do bemesar, Anélise das RelagBes Internacionais ar Estado poderia sofrer a tentacio deidolatrar certos objetivos einteresses de carster parcial etransit6rioe esquecer que, sea naco sobreviver, muitos de seus objetivos certamente também se modificarao. A capacidade ée fixar objetivos e de alteré-los provavelmente faz com que sejam necessirios recursos materiais e humanos dentro do sisterna. Quanto maior avariedade de escolha entre velhos ¢ novos objetivos, maior podera ser a parcela. de recursos que, no Ambito do sistema, tera que ser utilizada para essas escolhas ¢ para a fixacio dessas novas metas e que precisaré ser realocada para sua concretizacio. Essz proporcio de recursos que poder ser realocada em novos padrdes de comportamento, constitui importante elemento na “capacidade de aprendizagem” dc sistema ~ ou seja, na sua capacidade de “aprender” a ‘comportar-se ¢ a teagir de novas maneiras em relagio a acontecimentos que possam ocorrer em seu ambiente ou, pelo menos, de modo diferente ¢ mais ‘compensador. ‘Alguns governos, alguns grupos de elite ¢ alguns povos tém demonstrado em certos periodos histsricos uma capacidade acentuadamente maior ou menor do que outros no que se refere a essa aprendizagem. Dos Bourbons, na Franca, dizia- se, no inicio do séoulo XIX, que nada haviam esquecido e nada haviam aprendido, nem ‘mesmo aps o grande abalo socal provocado pela Revoluclo Francesa~¢ logo foram. climinados do cenicio politico francés. Por outro lado, a capacidade de aprendi- zagem do Governo e do povo norte-americano durante a Grande Depressi dos ‘anos 80, durante a Segunda Guerra Mundial ¢ ainda durante a crise do Sputinit ‘ocorrida nos anos 50, aumentou consideravelmente. Uma década mais tarde, no inicio de 1968, a crise militar do Vietname, a crise monetaria do padrio-ouro do dolar ¢ a crise das cidades norte-americanas, bem como quests relacionadas ‘com direitos civis e problemas raciais, mais uma vez deixaram transparecer que a repetigdo de antigas diretrizes polticas pode nio ser suficiente e que, na proxima década, a capacidade de aprendizagem politica do Governo ¢ do povo none- americano poderia vir a ser testada mais uma vez. E, nos anos 70, o fim da guerra do Vietname e da era Nixon, assim como 0 advento de nova administracao em 1977, indicaram que ainda continuava aexistir capacidade de aprendizagem no sistema politi dos Estados Unidos. Se grande parte ou uma parte extremamente importante de recursos do sistema é realocada para a fixagio de um novo padrio estrutural do sistema ¢, simultaneamente, de um novo conjunto ou de uma nova escala de padrdes de comportamento, poder-se-A dizer que o sistema realmente foitransformado. Se e888 transformago tiver ocorrido basicamente mediante iniciativas e recursos origi- narios do proprio sistema, entdo poder-se-a falar de um sistema autotransfor- rmavel. Essa funcio de auatransformado éasexta.e em certo sentido, a principal das fungdes que reputamos basicas em um sistema social. Qualquer organizacio ow pais em que exisa tal funglo, juntamente com a capacidade de manutengio parcial de 28 Karl Wolfgang Deutsch paddies suficiente para preservar também um grau significative de continuidadee ‘dentidade,terd maior probabilidade de sobreviver, de crescer ede se desenvolver do que qualquer outra organizagio ou pais onde ela nio exsta. Muitas das grandes ‘organizacoes religiosas e seculares do mundo sio exemplos dessa autotransfor- magio. A Igreja Catblica da €poca das Cruzadas eos papas militantes dos séculos Xil'e XIII eram muito diferentes daquelas remotas ¢ pequenas comunidades aistas que se reuniam nas catacumbas, bem como da Igreja drigida pelo Estado na época do Imperador Constantino e da Igreja Catdlica Romana de nossos dias, que por ocasiio do Concilio Vaticano II, prodamou o principio da liberdade religiosa no Estado. Mesmo assim, nela persistiu sempre um alto grau de continuidade de sentimento espiritual. © mesmo se verifica em muitas outras nagies. A Franca, a Rissia, 0 Japio € os Estados Unidos de hoje sio muito diferentes do que eram em 1770 ou em 1780; mas mesmo assim, em cada um desses paises preservou-se um grau significativo de identidade e continuidade. ALGUNS CONCEITOS ACERCA DE POL{TICA Dentre os intimeros e diversos tipos de relacées humanas, exatamente quais sao considerados politics? O que é que a politica faz que nio é feito por outras atividades ou instiuigdes humanas? consiste no controle mais ou menos incompleto do comportamento humand através de habitos voluntérios de acatamento combinados com ameacas de uma provavel execugdo da lei. Em sua essencia, baseia-se na interagio de hibitos de cooperacio, na medida em que estes sio modificados por intimidaces, Oshatitos de comportar-s, de coopera, de obedecer lei ou 20 governo, ou de respeitar certas decisdesterdem a Set volunudrios para a maioria das pessoas. ‘Afinal de contas, os habitos passam a ser parte de nossa nattrezaedo mado como 1n6s mais ou menos automaticamente agimos. Sem tais hibitos por parte da ‘maioria das pessoas, nio poderia haver as leis ou governos que conhecemos. $6 porque a maioria dos motorista se coloca no lado correto das estradas ese decérm ao ver um sinal vermelho é que ocOdigo detrinsito pode ser posto em priticaa um custo toleravel. $6 pelo fato de a majoria das pessoas ndo foubar carros € que @ policia pode proteger nossas ruas ¢ estacionamentos contra aquela relativa ‘minoria que o faz, Se uma le nao for obedecida, voluntaria e habitwalmente, pot, digamos, pelo menos 90% das pessoas, ela se tomara letra morta ou algo cextremamente caro para ser posto em priticaou, talvez~ como foi o caso, nosanos 20, da Pritin* ~ uma experitncia nobre, porém dabia. O consenso ou aquiescéncia voluntaria e habitual da massa da populacio é a base invisivel, mas verdadcira do poder de qualquer govern. * NAT. Legilacdo que, nos Esados Unidos, no periodo de 1920 a 1988, proibia a fabricacto, 0 transporte ea venda de bebidas aleosicas, Analise das Relagdes Internacionais 29 Mas, embora tal consenso seja em grande parte voluntatio, nio 0 & completa- ‘mente, Caso fosse inteiramente voluntario, estariamos lidando nao com politica, € sim com todo um conjunto de folclore, costumes e moralidade. Na area politica, os habitos de aceitagio da maioria s4o preservados ¢ reforcados com a ajuda da verossimnl probabilidade de exccurdo da li, que se acredita existir, contra 0s poucos {que possam transgredi-la ou desobedecer ao governo. ‘A execugio da le consiste ma arneaca ou naaplcasio de sancbes positvas ou negativas ~ isto & recompensas ou punicbes. Na pratica, as punigbes so mais freqientes do. que 25 recompensas. Normalmerte, casam menos, algumas pessoas se comprarcm em aplicelas sob qualquer preeato de order deologiea como os adeptos do comunismo ou doanticomunismo ea muitas agrada pensar ques punibes oferecem mais seguranca. E claro que onde a masria das pessoas tém o hibito de obedecer lei ou ao governo, seria dispendiosoe desnecessiio cferecerthes prémios por agiem assim portato, parece mas barato mais ficient, ameacar com penalidadesacules poucosquese desvian do camino da jbediéncia ou do consenso dos demais integrantes de sua comunidade. As penalidades podem fazer com que alguns transgressores nao reincidam em seus 2105, mas o mais importante que o destino dessespoucos desencoraje outros de seguirem seu exemplo. Regra gral, aplicagto da leno oferece seguranca; quase sempre essa seguranga € apenas provavel. Quase sempre, porém, a ameaga nela implicta, a0 lado dos habitos de accitagto da minoria da populacdo, ¢ suficiente para que 0 numero de transgressbes graves se mantenha em niveis toleréveis. O fato, por exemplo, de seis ou dez assassinos serem condenados e punidos, pode ser suficiente para conter grande parte de assassinos em potencal que véem 0 assassinaio como um meio de obter algum lucro. E se apenas um quarto dos roubos de automéveis, por exemplo, resultasse em condenaches, isto poderia bastar para, juntamente com habito de obediéncia as leis desenvolvido pela ‘maioria das pessoas, evitar que grande parte dos carrosfossem roubados e manter 0s prémios de seguro contra roubos a niveistoleréves. Mas é evidente que nem ‘mesmo 0s castigos mais cruéis ou infaliveis so capazes de conter aquela fracio de homicidas potenciais demasiadamente insensatos, demasiadamente confiantes ou demasiadamente fandticos para se imporarem ou se preocuparem de forma realista com a hip6tese de serem apanhados. Bis al uma das varias limitagbes & eficécia da prevengdo contra o crime na vida dos individuos, e contra a guerra na vida das nagoes. Em conseqiéncia, as condigBes que determinam a eficicia da repressio sio ptaticamente as mesmas que determinam a freqiiéncia com que se obtém 0 acatamento (ou seja, uma atitude de obediéncia ou de submissio lei). Primeiro, trata-se em grande parte, da forca representada pelo habito do consenso pela maioria da populagdo, e de sua disposicao de apoiar efetivamente o governo na 30 Karl Wolfgang Deutsch preservacio de sua autoridade ou na manutengio da lei. Segundo, hi todas as einai condigdes que influenciam a relaiva probabilidade de ocorser uma atitude de obediéndia 8 lei versus uma atitude de desobedigncia & le, quando, ent, se aplica a ameaga de repressio. Se hi fome entre os pobres, aumenta a possibilidade de maior mimero de pessoas roubarem pao. Somente em terceiro lugar € que se situam a dimensio e a eficicia do aparelho de repressio: a especializacio e 0 zelo dos ofcias esoldados, dos juizese da polica, bem como a qualidade de suas armas e de seu equipamento. E apenas em iltimo lugar vém a reformulagio das normas, a aprovacio de novas eis ou aameaca de punig&es mais Mas o habito de obediéncia da maioria da populagio eas condigbes sociais de ‘ariter geral — que, a longo prazo, produzem os mais poderosos efeitos, sobre comportamento da populacio ~ sio mais dificeis de manipular. Até mesmo a extensio, 0 treinamento, 0 equipamento e 0 moral do eletivo utilizado na Fepressio—as Forcas Armadas,apolicia,o Judiciérioe, decerta forma, o servico de defesa civil ~ $6 podem ser modificados paulatinamente © a um alto custo. Portanto, o mais frgil dispositivo de controle, € 0 que exerce maior atracao pelo faro de custar menos. Aprovar uma nova lei, ameacar com penalidades mais severas, dar pouca importincia as provas ou mostrar menos preocupacso em. punir algumas pessoas inocentes custa bem menos ¢ é muito mais rapido; desta forma, a despeito do grau relativamente baixo de eficicia, tudo isso, na maioria das vezes, parece ser mais interessante do que atarefa mais prolongada e mais ardua de efetuar mudancas mais profundas da situaco. A politica, pontanto, é a interacio entre as ameacas de repressio, que podem ser alteradas de modo relativamente rapido, eos habitos correntes de obediénciae lealdade da populagio, que so mais poderosos, mas, na maioria das vezes, 36 podem ser modificados muito mais lentamente. Através dessa interacio entre 0 consenso habitual e a probabilidade de repressio, as sociedades se protegem ¢ ‘modificam suas instituigdes, a alocagio ea realocacao dos recursos, adistribuicdo dos valores, dos incentivos e das recorapensas entre a populagio, assim como Padrdes do trabalho de equipe com base no qual as pessoas cooperam na Produgdo € na reprodugto de seus bens, servigos ¢ vidas. GOVERNO OU DOMINAGAO Desde que se tenha em mente, de forma clara, 0 conceito de politica, de imediato, podem-se compreender dois conceitos politicos interrelacionados: o de governo ou dominacio ¢ 0 de poder. Por gerne ou dominasdo por um lider o soci6logo Max Weber entendia a chance (ou se, a probabilidade) dese obedecer a esse lider. Entre dois Iideres ou governos, segundo o raciocinio de Weber, aquele que tem mais probabilidade de ser obedecdo por determinado grupo exerce ‘maior dominio sobre esse grupo do que 0 cutro. Anilise das Relagdes Internacionais 31 Selevarmos esse raciocinio um pouco além reconheceremos aquilo que T-W. Adomo certa vez dassficou de ‘a matématica implicta no pensamento de Max ‘Weber"?. No sentido exato da palavra, uma probabilidade, é um mimero: de- ‘monstraa freqiiéncia eexpressa em geral em termos de porcentagem, coma qual focorrem certos acontecimentos (no caso, atos de submiss4o 4 autoridade do sgovernante} em meio a um conjunto maior de eventos (no caso, o omportamento geral da populacio). De acordo coma definigio de Weber, “governo” pode ento set expresso por um nimero; em principio, pelo menos, pode ser medido em termos quantiativos. Ao mesmo tempo, podemos constatar, de um lado, a estreita relagio entre a idéia de Max Weber quanto a chance de ocorrerem ou a freqiéncia com que ‘ocorrem atos de obediéncia aautoridadedeum governo ¢, de outro, nosso proprio cconceito, analisado inicialmente como o nivel de consenso (istoé, a freqiéncia dos atos de consenso}. Este iltimo, ou seja, onivel de consenso, é, de certaforma, mais, amplo na medida em que inclua também atos de submissto passiva, wlerdncia ou apatia, em complementago aos atos mais positivos de obediéncia acentuados por Max Weber, onde quer que tal comportamento mais passivamente consensual desempenhe papel significativo ao determinar os resultados do processo politico. Mas nosso conceito de consenso habitual é algo mais limitado do que a"‘chance de ser obedecido” de Max Weber, pois exclui simples atos de submissio a uma ameaca imediata de utilizagio de forca bruta. AS pessoas se submetem a um assaltante ou a um exército estrangeiro de ocupacio sempre que 0 intruso Thes ‘aponta uma arma. Trata-se ainda de exemplos do “govern” ou da'“dominagio' de Weber, mas sio processos de forca, nao de politica. Tornam-se politicos apenas na medida em que o comportarrento submisso continua apés 0 assaltante ou 0 intruso ter voltado as costas. S6 entio, na interaglo do medo lembrado e do ‘acatamento continuado, estaremos novamente lidando com politics. Quando se diz. que a potitica é aquele campo das relagdes humanas onde coincidem a dominacio eo consenso habitual, ja se esta inferindo que a politi por forca de sua natureza dupla, é passivel de ser uma area de periddica tensio centre a centralizagio ¢ a descentralizacio, porque dominagio e governo podem, dde modo geral, ser exercidos mais facilmente por instituigBes centralizadas, da ‘mesma forma como as ameacas de execucdo da lei podem ser manipuladas mais cficazmente a partir de um s6 nicleo. Mas, quando se trata de grandesntimeros de pessoas, 6 raramente podem ser criados habitos confiaveis—se é que tais habitos podem ser criados através de um centro de comando iinico, e nao € possivel crié- los rapidamente. Em geral, os habitos se originam de uma infinidade de experiéncias diversas, mas coerentes, repetidas ao longo do tempo. Desta forma, 0 ZEW. Adormo, Comunicagio 20 XV Congresio de Sociologia (Centenirio de Max Weber, Heidelberg, mio de 1964 32 Karl Wolfgang Deutsch uso centralizado de ameacas ou de forga raramente gera uma comunidade estavel ‘ou de habitos politicamente relevantes; & muito mais freqiiente uma comunidade de habitos que possibilitem o exercicio de um poder centralizado. Maisadiante voltaremos a falar sobre esses pontos, no contexto dos processos que determinam a extensio das nacbes, dos Estados ede outras unidades politicas, € da migragio de poder entre os varios niveis de govemos locais, nacionais ¢ supranacionais. Por enquanto, basta notar que tais processos, com suas vasias ‘conseqiténcias, tém raizes na natureza dupla da propria politica. CAPITULO III PODER E ESTADO-NAGAO econecr a maureradupla da poticaambém nos aha perceber of tits do conto de pode plc Alguss autores de enone tara desolate Lobe x pla, prdearmene no que se sl rigs ene Eso em pnd pare ou cuente bseaams noel Ge er enze es, Magus e Thomas Hoes c em nose eyo, Hans Aton Fedae Schuman Aoresnoempossrnto de Soden banda polis interacial ana bane divas pels pense de um tnd gol e at me pees Ministers dc Negocios Esraneton¢ pas ities tes de motos pubes, Qual é, entio, perguntamos nés, a parcela de verdade contida nesta nocéo ¢ ‘quais os seus limites? Neste estudo, trataremos no apenas do poder das nacBes e dos organismos internacionais, mas também do poder dos governos, dos grupos de interesse, das lites e dos individuos, na medida em que qualquer desses elementos possa aletar significativamente qualquer manifestacio de politica internacional O poder, visto aqui de uma forma nua. erua, éa capacidade de prevalecer em caso de conilitos € de superar obsticulos. Nesse sentido, Lenine, antes da Revolucdo Russa, propés a seus adeptos, como uma questio chave de politica, a seguinte indagagio: ‘Quem, aquem?” O que clequeriadizer era: quem vem aser ‘© sujeto e senhor das agdes ¢ dos acontecimentos ¢ quem ¢ 0 objeto e a vitima? Durantea depressio de 1982, uma cancio de protestoalema evocava uma imagem semelhante: “Queremos ser 0 malho, no a bigorna’” ‘Quem é mais forte e quem é mais fraco? Quem conseguir o quequer equem tera de desistir? Perguntas como essas, quando feitas a respeito de uma série de confrontos possiveis ou reais entre um limitado nimero de competidores, condazem a listas de classificaciotais como as que se fazem para classificar jogadores de nis ou de xadrez nos respectivos torneios, ou de beisebol nos campeonatos mundiais ow 34 Karl Wolfgang Deutsch ainda para sclecionar galinhas, em uma granja, com base na raga das aves, ou para dlassificar as grandes poténcias no plano da politica mundial. E claro que, quanto menor 0 mimero de confromtos reais ocorridos recentemente, maior sera a amplitude com que essaslistas de classificacdo terdo que ser elaboradas, a partirde hipoteses baseadas em antigos desempenhos e nos recursos atuais ou expectativa de recursos das faces confltantes. A BASE DE PODER O Potencial de Poder (inferido dos recursos) (© quadro 1 mostra um exemplo do potencial relative de poder de duas coalizées de nacbes. O poder dos Aliados ¢ dos paises do Eixo na I Guerra Mundial ¢ medido ~ ou, pelo menos, indicado ~ pela percentagem do total de ‘munigdes que cada lado produzia por ano. Quadro 1 ~Percentagem da produ total de material blico dos prinipais paves beligerantes, 1938-1943" Pals 193510891909 ‘Estados Unidos 5 4 7 0 0 Canada ° ° ° 1 2 2 Gr2-Breanha 6 10 6 0 5 13 uss: 2 3 2B 6 0 15 TOTAL: Paises Aliados 39S o 8 @ 70 ‘Alemanha(*" 46 ry 3 Ey 2 alla 6 + 3 4 $ Jape ° 5 7 7 6 TOTAL Palses do Rito «ST OR 2 3% 0 TOTAL GERAL 100 100 (100 100 100 100 + Inchi avis, anithariaterrestre, material de snalzago, navios e rexpecivos equipamentos ** Incll testis ocupades, Fonte: Klaus. Knorr, The War Pali! of Nato (Princeton: University Pres, 1956), p34 © quadro mostra que as poténcias do Eixo produziriam muito maior quantidade de munigées do que os paises aliados nos anos de 1938, 1939 ¢ 1940, ‘mas que sua vantagem se reduziu em 1940 e definitivamente se desfez em 1941 ¢ 1942, Apés este ponto critico, as poténcias do Eixo foram ficando cada vez mais Analise das Relagbes Internacionais a5 para tras, até seu colapso total em 1945, Winston Churchill resumiu tal fato coma. seguinte metifora: “O destino voltou-se contra eles” (© quadro 2 apresenta uma lista de 28 paises com seu poderio militar a curto prazo—indicado em termos de gastos militares. Note-se que em 197 nenhum pais detinha mais de 1/5 do total; até mesmo os Estados Unidos apresentavam apenas 0 indice de 82.2%, Quadro 2 ~ Gastos Miltares Mundiais (1973) Pais ‘USS ilhoes) ‘Percentage ‘Mundi — Mundo 2440 1. xtados Unidos 78,5 2 Unis Soviet sro. 3. Alemanha Ociental 120 4 China 120 5 Franca 98 6. Reino Unido 86 1. taia a Subvotl (1-7) 17 4. Ire 37 9. Japto 86 10 Aleman Oriental 25 11, Canada 24 wis 23 18 fadia 23 4 Holanda (Pater Baixon) 20 15, Polénia 20 Subtol (6-15 208 8s 16. Espanta 19 os 17. Austin us 07 18. Suecn 7 o7 19. Ego u7 o7 20. Tehecosloviquia 17 07 21. Brasil, us 06 22 Belgica rs 05 28, Aribia Saudita m os Subtoul (1625) a7 42 TOTAL (i 2252 928 Fontes Ruth Leger Sivard, Word Miltary end Sadel Expndinres 1976 (Leesburg, Virginia: WMSE Pubcon, 1973, p. 18 36 Karl Wolfgang Deutsch Um exemplo de cassificacao hipotética das principais nagdes paraos periodos 1950-1973 e 1990-2010 em termos de pederio a longo prazo pode ser dado por recentes cilculos feitos (Quadro 3) por um fsico da Alemanha Ocidental. As projegdes para 1990 ¢ 2010 indicadas no Quadro 3 baseiam-se em cifras referentes & expectativa de crescimento da producio per capita de aco e de energia, bem como da populacio total em cada pais. Para a China de 1990 (2010) as projegaes indicam uma populagio de cerca de 1.100.000.000 (1.575.000.000) habitantes e uma producio anual de ago (per capita) de cerca de 176 libras (544 libras) ou, aproximadamente, 1/6 (metade) do indice ‘obtido pela Réssia em 1973 ¢ 1/12 (1/4) do.que obteve oJapiio em 1978. E evidente ‘que ninguém pode assegurar que tais projec8es iro confirmar-se em relacao a 1990 (2010) ou mesmo a uma época posterior sobretudo apos os retrocessos experimentados pela economia chinesa, em termos de crescimento, no inicio dos anos 60. Jé com referéncia a 1976, a populacio da China foi estimada em 900, milhdes por John K. Fairbank, um dos prineipais especialisias norte-americanos em assuntos chineses!. De qualquer modo, parece digno de nota que nessas projecSes também 0 poderio do pals mais forte em 1963 e 1973, assim como em 1990 € 2010, cst classficado abaixo da metadedo poderio total dos sete primeiros paises. Assim, em ambos os periodos, o pais mais forte representara ainda apenas ‘uma minotia no que se refere ao poderio mundial. Os recursos agregados do poderio de uma nacio sio algumas vezes conside- rados sua “base de poder”, j@ que podem ser considerados como a base sobre a qual o poder potencial pode ser transformado, em maior ou menor grau, em realidade. Nogdo semelhante, embora um tanto distinta, € 0 conceito de um “valor de base”, conforme definido por Harold D. Lasswell¢ Abraham Kaplan. De acordo com seu raciocinio, uma base de poder para o ator “A” (“A”. no caso, poderia ser uma pessoa ou um pais) representa um total de certo valor para ator “B”,quese encontra sob ocontrolede""A”” Isto é, oator“ A” controlaum possivel ‘aumento ou reducio da riqueza de ‘“B”, ou de seu bem-estar ou da fruigio do respeito geral. J4 que “B” deseja obter mais desse valor controlado por “A”, "B” tem que tentar agradar a “A”, a fim de induzir “A” a deixé-lo conseguir mais. Assim, se um pais em desenvolvimento precisa de ajuda econdmica, a fim de aperfeigoar sua tecnologia, ou se um pais faminto necessita de trigo, a fim de prevenir a incidéncia de fome, © se os Estados Unidos ou a Unido Soviética controlar uma parcela dos suprimentos, ento os Estados Unidos (ou a Uniao Sovietica)terio uma “base de poder” para exercerinfluéncia sobre esses paises mais necesstados 1, "East Asia: Our One-China Problem, The Alene Month, Vol. 288-8: ecembro de 1976, pp. 412 opp. CClassficagio Hipotéica do Potencial de Poder dos Principais Pates® Quadro 3 1963 1950 Projecto (*) Projecto *) 105, 100 EUA EVA 100 EVA EUA 1. EUA 2 uss URSS UURss hi 2 5 GreBreanha 4 RF Alemanha Andlise das Relagdes Internacionais 14 Japa # 5 Japio RéAlemanta e © bp Gri Bretanha india 4 (Gri Bretanha India 4 Bs 2. Tia 330 308 Subsota 278 Subroal -7 Subsorl (7 Canad Subvotal (12 Pole ia nia Canad subeotal (12) i 8. Chine 37 38 Karl Wolfgang Deutsch Ourra questio, naturalmente, € com que eficicia o governo dos Estados Unidos — ou 0 governo soviético - usaria essa base de poder ou ‘valor de base” para adquiririnflugncia e poder reais sobre a conduta de alguns ou de todos aqueles paises no que se refere a certo “valor de finalidade” ~ por exemplo, umn voto favoravel nas NagBes Unidas ~ que os paises mais pobres controlam ¢ que.os paises mais icos desejam. O poder de"A”, em todos estes casos, baseia-seem tres ontos: primeiro, na relaiva pobreza ¢ necessidade de““B” quanto aalgumn valor de base do qual “A” controle um estoque significativo: segundo, no controle, por parte de “B", de significativa quantidade de algum valor de finalidade desejado por “A” © 0 qual “A” esté tentando obter utilizando seu poder sobre “B", ©, finalmente, na capacidade e eficiencia de “A” em transformar o potencial de seu. poder de base em poder real sobre a conduta de "B"?. 0 Peso do Poder (inferido a partir dos resultados) © potencial de poder é uma estimativa aproximada dos recursos humanos € ‘materiais relacionados com o poder. Indiretamence, tal estimativa pode ser usada Para se inferir 0 grau de sucesso que uma nacio precisa atingir em uma disputa pelo poder caso utilize ao maximo seus préprios recursos. Mas é possivel inverter esse calcul. Podemos perguntar: até que ponto esse ator (lider, governo ou nacao) conseguiu provocar a alteracao de certas manifestagbes de politica internacional? Ai, entdo, é possivel inferir 0 “ peso" do poder a partir do grau de sucesso obtido. (As quatro principais dimensdes ou os quatro principais aspectos do poder sio seu Peso, dominagao, alcance ¢ finalidade; destes, o peso € 0 que se encontra mais Préximo da nocio intuitiva que quase todos temos quando pensamos em poder) © peso do poder ow a influéncia de um ator sobre determinado processo é a capacidade com que esse ator pode alterar a probabilidade de eu desfecho, e pode set avaliado mais facilmente sempre que se esteja lidando com uma categoria repetitiva de resultados semelhantes, como, por exemplo, os votos dados na Assembléia das Nagbes Unidas. Se, por hipdtese, as mocBes apoiadas pelos Estados Unidos sto aprovadas, em média, trés em cada quatro vezes, ou com uma Frobabilidade de 75%, enquanto as ndo-apoiadas pelos Estados Unidos sto aprovadas em apenas 25% dos casos, entdo podemos dizer que o apoio dos Estados Unidos € capaz de mudar as chances de sucesso de uma mogio na Assembléia das Nagdes Unidas numa média de 25 75% ~ ou seja, na base de 50%. Esses 50% seriam, por conseguinte, uma medida aproximada do peso médio do poder dos Estados Unidos na Assembléia durante o periodo ‘analisado, (A medida é aproximada ¢ pode mascarar a verdadeira influéncia dos 2. Para ma andlse mais ampla, consular H, D. Laswell eA. Kaplan, Per and Sty (New Haven Yale University Press, 1950, Pere Soeade,Edtora Universidade de Bras, 1978) cK W. Dessch, “Some Quantitative Gonsainsson Value Allocation in Sacer and Politics”, Behera Se, Vol, ‘8° 4 ulho, 1965, pp. 245.52 Anilise das Relagdes Internacionais 39 Estados Unidos, j4 que muitas mogbes potenciais a que os Estados Unidos se ‘opdem podem parecer de sucesso to improvavel a seus defensores em potencial, que € possivel que sequer sejam propostas e, desta forma, nao entram em nossa statistical, O caileulo ou a estimativa do peso do poder torna-se mais dificil quando se lida. ‘com um acontecimento isolado. Qual © poder exercido pela bomba atémica lancada sobre Hiroxima em 6 de agosto de 1945 (ou por aquela que destruiu ‘Nagasaki trés dias mais tarde), para apressar arendigao do Jap4o eabveviaro fim da Segunda Guerra Mundial? Um famoso especialista em assuntos do Japio. 9 Professor Edwin O. Reischauer, que em 1961-1967 foi Embaixador dos Estados Unidos naquele pais, chegou a conclusio de que a bombaabreviou ofim da guerra ‘em apenas alguns dias’. Para se fazer um julgamento destes & necessario miaginar que tal evento ~o lancamento da bomba num momento em que o Japio jd se encontrava quase derrotado e exaurido e em que seu governo ja buscava uma forma de se render— tenha ocorrido muitas vezes. Seria preciso, portanto, tentar avaliar o que teria acontecido, de maneira geral, em todos aqueles casos ficticios ‘em que uma dessas bombas tivesse sido lancada, em comparagio com o resultad> médio de todos aqueles casos ficticios em que ndo tivesse sido langada. Parece um raciocinio artifical, mas nio é. Na verdade, no & muito diferente do raciocinio de um engenheiro sobre o que teria causado a rupsura de determinada ponte, ou o de um médico acerca do que teria causado a morte ou recuperasio de certo paciente. Em todos esses casos, a fim de estimar as ‘conseqiiéncias do que fi feito ~ e talvez estimar © que deveria tr sid feito ern verrnes de “boa pratica” -, transformacse aquele evento isolado em integrante de uma dasse repetitva de eventos hipotéticos bastante similares. Tenta-se,entio, avaliara dimensio e a probabilidade de desfechos alternativos na presenca e na auséncia, respectivamente, da acio ou da condic4o cujo poder desejamos medi; c, assirn, infere-se o poder do ator, ou atores, a partir do poder de sua aco ou da condicao por ele controlada. © poder, considerado desta forma, € praticamente a mesma coisa que causalidade; € o peso do poder de um ator, ou atores, equivale ao peso daquelas causas que, entre as que determinaram certo resultado, se encontram sob sea controle!, Os governos modernos, em comparacio com os de séculos passados, tém aumentado consideravelmente o peso de seu poder sobre suas proprias popula: 5. EO. Reischauer, Zh United Stats end Jopn, ed. rev.(N. York Viking Press, 1962), p. 240 4 CE Robert A. Dahl, relatio ndo publica, apresenado no encontro anual da New Englael Political Science Association, Nonthampton, Massem25de abril de 1966,e" Power” in David Lill ed, Intational Encylopedia of the Saal Saences (New Yorks Macmillan and Free Pres), v0 pp 405s. 40 Karl Wolfgang Deutsch goes. Cobram-se impostos, recrutarm-se soldados, aplicam-se leis, prendem-se infratores, tudo isso com um grau de probabilidade muito maior do que jamais poderiam ter sonhado os soberanos medievais. Por tal motivo é que 0 peso do poder de governos de paises altamente industrializados & em geral, muito superior ao de paises contempordsicus que se eutonitiann ert din estagio inicial de desenvolvimento industrial. E entre os governos que se encontram neste estégio, 0 peso do poder nacional varia enormemente. Em politica internacional, a0 contririo, 0 peso do poder da maioria dos governos, particularmente das grandes potncias, vern declinando desde 1945. Nenhum governo, hoje em dia, detém tanto controle sobre o provavel desfecho de questdes mundiais como detinha a Gra-Bretanha, digamos, entre 1870 e 1985, Atualmente a Gri-Bretanha nao pode controlar suas antigas coldnias; os Estados Unidos ndo podem controlar a Franga ou Cuba; a Unido Sovierica nio pode controlar a Tugoslavia ou a China; e a China no pode controlar seus vieinhos. A. ‘entativa feita pelos soviéticos de controlar politica da Tchecoslovaquiaatravés de uma ocupacéo militar em agosto de 1968 aparentemente nio redundou em. qualquer garantia de sucesso prolongado. As raz6es para esse declinio do peso do poder da maioria dos grandes paises serio analisadas mais adiante, mas parece vilido mencionar tal fato agora. [Numa anise mais cuidadosa,veremos que o peso do poder pode viraincluir dois conceitos diferentes. © primeiro relacona-se com a habilidade de redusir as chances de vir a ocorrer um resultado ndo desejado por determinado ator. Em politica interna falas, algumas vezes, dcgrupor de veto, ou sea, aqueles que podem evita ou dficultarsejaaprovada alguma espécie de legisla a que se oponham. Em politica internacional constatase a existéncia de considerivel poder de veto formalmente acordado entre cinco membros permanentes do Conselho de Seguranca das Nacdes Unidas, com base na Carta das Nacbes Unidas. Menos formalmente, pode-se falar do poder que tem urna nacio em negarcertoterttirio, ow dea de influéncia,aalgum outro governo ou facci0 ideologica. Eo caso dos Estados Unidos, por exemplo, que na década de 50 neyaram, com grande sucesso, a cesslo da Coréia do Sul aos agressores norte-coreanos, danesma forma como rnegaram 20 longo dos anos 60 grande parte do Viemame do Sul aos vietcongues, Deveria ser facil saber por que razio acontece isso. Em primeiro lugar, © desfecho espectfico que porventura se deseja evitar pode nao ter muita probabi lidade de ocorrer. Suponhamos que uma campanha de guerrilha comunista em lum pais aiatico ou afticano tenha aproximadamente uma chance em trés, ou 33%, de ali estabelecer um regime comunista estavel. Nesse caso, uma intervencao anticomunista por parte de uma poténcia estrangeira, realizada com um poder limitado ~ digamos, com um peso de cerca de 28% ~ teria condigdes de reduzir cessas chances de sucesso de 38% para apenas 5% e criar uma probabilidade de insucesso de 95%, ou seja 19:1. O resultado final, j8 razoavelmente improvavel. Analise das Relagdes Internacionais 41 poder endo tomar-se altamente improvavel pela aplicagio até mesmo de uma parcela de poder relativamente limitada. Em tais situagdes, a alteracio das probabilidades de ocorrer esse resultado final especifico. parecera bastante drastica, ¢ essa parcela limitada de poder talvez tenha contribuido para transfor ‘mat uit considerivel grau de incerteza em uma quase certeza e, assim, ter produzido resultados esperaculares. Mas seo sucesso das guerrilhas e seus partidérios ja fosse altamente provivel~

You might also like