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IX SEMINÁRIO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS “HISTÓRIA, SOCIEDADE E EDUCAÇÃO NO BRASIL”


Universidade Federal da Paraíba – João Pessoa – 31/07 a 03/08/2012 – Anais Eletrônicos – ISBN 978-85-7745-551-5
 
A REFORMA LUCIO COSTA E O ENSINO DA ARQUITETURA E DO URBANISMO DA ENBA À 
FNA (1931‐1946) 
 
Caio Nogueira Hosannah Cordeiro 
caionhcordeiro@gmail.com 
 (UFMS) 
Resumo 
A  Reforma  do  Ensino  de  Arquitetura  proposta  por  Lucio  Costa  em  sua  breve  passagem  como  diretor  da  Escola 
Nacional de Belas Artes (ENBA), em 1931, é até hoje referência para o ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil. 
Sua  origem  se  remete  ao  movimento  modernista  e  à  introdução  do  pensamento  urbanístico  no  Brasil  e  no  plano 
internacional. Embora parte da historiografia trate‐a como evento casual, vinculado apenas à adesão de Lucio Costa 
ao ideário  de  Le Corbusier, a  tese  central da pesquisa  é  sua  inserção  no  movimento político,  cultural  e  artístico da 
vanguarda  intelectual,  que  via  novas  possibilidades  e  demandas  na  sociedade  que  se  urbanizava.  Nessas 
circunstâncias, a educação tornava‐se uma causa, e a construção de um “novo homem”, seu objeto. Na efervescência 
da chamada Revolução de 1930, os debates que ocorrem na Associação Brasileira de Educação (ABE) vão desencadear 
o Manifesto dos Pioneiros, as Reformas Estaduais do Ensino e a criação do Ministério da Educação e da Saúde. Esses 
debates também repercutiram entre os arquitetos em suas entidades representativas. Desde os anos 1920, grandes 
operações imobiliárias e investimentos em infraestrutura urbana, no Rio de Janeiro e em São Paulo, contribuíram para 
uma nova  visão de  cidade  que  perpassava  diversos setores  da  sociedade  e  campos  da  ciência.  É neste  quadro que 
Lucio Costa assume a direção da ENBA e propõe a reforma que desvinculava o ensino de Arquitetura das Belas Artes e 
incluía em seu currículo as disciplinas do Urbanismo e do Paisagismo. O ensino de Arquitetura assumiria identidade 
própria, mais próxima da problemática urbana e das novas técnicas da indústria da construção. Rejeitada nos embates 
iniciais da ENBA, a Reforma seria implantada apenas em 1946, com a fundação da Faculdade Nacional de Arquitetura 
da  Universidade  do  Brasil,  atual  UFRJ.  A  pesquisa  estudará  a  trajetória  da  Reforma  e  sua  inserção  no  movimento 
político,  cultural  e  artístico  do  período.  Conhecer  os  objetivos  e  princípios  norteadores  da  reforma  do  ensino  de 
Arquitetura proposta por Lucio Costa é aproximar‐se do entendimento não apenas das lições da Arquitetura Moderna 
sobre o  conjunto  da  obra  edificada  e  das  intervenções  urbanísticas,  mas  também  compreender a  relação  entre  os 
instrumentos do trabalho didático do ensino superior, seus procedimentos e resultados. O objetivo geral da pesquisa 
volta‐se,  assim,  para  a  análise  e  compreensão  do  trabalho  didático  naqueles  anos  na  Escola  de  Belas  Artes  e,  na 
criação  da  Faculdade  Nacional  de  Arquitetura, a  partir  de uma  visão  histórica  de  sua  proposição  e  efeitos  sobre  o 
ensino da arquitetura e do urbanismo no Brasil. Os limites temporais da pesquisa são alguns dos principais marcos do 
processo de aceitação e consolidação do modernismo como estética oficial da arquitetura brasileira. Inicia‐se com a 
apresentação  da  proposta  de  reforma,  em  1931,  e  conclui‐se  em  1946,  com  a  criação  da  Faculdade  Nacional  de 
Arquitetura.  
 
Palavras chaves: Educação superior. Arquitetura. Ensino de Arquitetura. Lucio Costa.  
 
Introdução 
 
A  Reforma  do  Ensino  de  Arquitetura  proposta  por  Lucio  Costa  em  sua  breve  passagem 
como  diretor  da  Escola  Nacional  de  Belas  Artes  (ENBA),  em  1931,  é  até  hoje  referência  para  o 

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ensino de Arquitetura e Urbanismo no Brasil. Sua origem se remete ao movimento modernista e à 
introdução do pensamento urbanístico no Brasil e no plano internacional.  
Embora parte da historiografia trate‐a como evento casual, vinculado apenas à adesão de 
Lucio  Costa ao ideário  de  Le Corbusier,  a  tese  central da  pesquisa  é  sua  inserção  no  movimento 
político, cultural e artístico da vanguarda intelectual, que via novas possibilidades e demandas na 
sociedade  que  se  urbanizava.  Nessas  circunstâncias,  a  educação  tornava‐se  uma  causa,  e  a 
construção de um “novo homem”, seu objeto.  
Na efervescência da chamada Revolução de 1930, os debates que ocorrem na Associação 
Brasileira  de Educação  (ABE)  vão  desencadear  o Manifesto dos  Pioneiros, as  Reformas  Estaduais 
do Ensino e a criação do Ministério da Educação e da Saúde. Esses debates também repercutiram 
entre  os  arquitetos  em  suas  entidades  representativas.  Desde  os  anos  1920,  grandes  operações 
imobiliárias  e  investimentos  em  infraestrutura  urbana,  no  Rio  de  Janeiro  e  em  São  Paulo, 
contribuíram  para  uma  nova  visão  de  cidade  que  perpassava  diversos  setores  da  sociedade  e 
campos da ciência.  
É  neste  quadro  que  Lucio  Costa  assume  a  direção  da  ENBA  e  propõe  a  reforma  que 
desvinculava o  ensino  de  Arquitetura  das  Belas Artes  e  incluía  em  seu  currículo  as disciplinas do 
Urbanismo e do Paisagismo. O ensino de Arquitetura assumiria identidade própria, mais próxima 
da problemática urbana e das novas técnicas da indústria da construção.  Rejeitada nos embates 
iniciais  da  ENBA,  a  Reforma  seria  implantada  apenas  em  1946,  com  a  fundação  da  Faculdade 
Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, atual UFRJ.  
A pesquisa estudará a trajetória da Reforma e sua inserção no movimento político, cultural 
e  artístico  do  período.  Conhecer  os  objetivos  e  princípios  norteadores  da  reforma  do  ensino  de 
Arquitetura  proposta por  Lucio  Costa  é aproximar‐se  do  entendimento  não apenas  das  lições da 
Arquitetura  Moderna  sobre  o  conjunto  da  obra  edificada  e  das  intervenções  urbanísticas,  mas 
também  compreender  a  relação  entre  os  instrumentos  do  trabalho didático  do  ensino  superior, 
seus  procedimentos  e  resultados.  O  objetivo  geral  da  pesquisa  volta‐se,  assim,  para  a  análise  e 
compreensão  do  trabalho  didático  naqueles  anos  na  Escola  de  Belas  Artes  e,  na  criação  da 

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Faculdade  Nacional  de  Arquitetura,  a  partir  de  uma  visão  histórica  de  sua  proposição  e  efeitos 
sobre o ensino da arquitetura e do urbanismo no Brasil.  
Os  limites  temporais  da  pesquisa  são  alguns  dos  principais  marcos  do  processo  de 
aceitação e consolidação do modernismo como estética oficial da arquitetura brasileira.  Inicia‐se 
com  a  apresentação da proposta de  reforma,  em  1931,  e  conclui‐se  em  1946,  com  a  criação da 
Faculdade Nacional de Arquitetura. 
 
Metodologia 
A  metodologia  do  trabalho  de  pesquisa  é  compreendida  como  a  forma  de  conduzir  o 
trabalho  de  investigação,  associado  a  um  modo  de  ver  o  mundo,  a  uma  doutrina,  como  define 
Abbagnano, ou mais precisamente a uma epistemologia. 
[...]  não  há  doutrina que  não  possa  ser  considerada  e  chamada  de  Método,  se 
encarada como ordem ou procedimento de pesquisa. Portanto, a classificação dos 
métodos  filosóficos  e  científicos  sem  dúvida  seria  uma  classificação  das 
respectivas doutrinas. (ABBAGNANO, 2000, p.668) 
 
A  opção  por  determinados  procedimentos  e  técnicas  de  pesquisa  decorrem  da  matriz 
metodológica  e  de  características  que  são  particulares  ao  objeto  e  aos  objetivos  que  se  quer 
alcançar. É assim que, a cada pesquisa, a metodologia deve ser problematizada, adequando‐se aos 
fins  da  pesquisa,  de  modo  a  evitar  “engessamentos”  que,  muitas  das  vezes,  tornam  a  visão  do 
pesquisador  demasiadamente  distante  do  objeto,  apoiando‐se  em  uma  perspectiva  que  lhe  é 
exterior. Para Pierre Bourdieu, a definição da metodologia científica, se tratada como algo dado, 
previsível  e  aplicável  a  todo  objeto  significaria  a  criação  de  uma  ciência  de  todas  as  ciências  e, 
sobre esta hipótese, argúi:  
Quais são os usos sociais da ciência? É possível fazer uma ciência da ciência, uma 
ciência  social  da  produção da  ciência,  capaz de  descrever e  de orientar os usos 
sociais  da  ciência?  Para  ter  condições  de  responder  a  essas  questões,  devo 
começar  por  lembrar  algumas  noções,  como  condições  para  uma  reflexão 
combativa,  e  em  particular a  noção de  campo,  da qual  evocarei  rapidamente  a 
gênese. 
Todas as produções culturais, a filosofia, a história, a ciência, a arte, a literatura 
etc.,  são  objetos  de  análises  com  pretensões  científicas.  Há  uma  história  da 
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literatura,  uma  história  da  filosofia,  uma  história  das  ciências  etc.,  e  em  todos 
esses  campos  encontra‐se  a  mesma  oposição,  o  mesmo  antagonismo, 
freqüentemente  considerados  como  irredutíveis  ‐  sendo  o  domínio  da  arte, 
certamente,  um  dos  lugares  onde  essa  oposição  é  mais  forte  ‐  entre  as 
interpretações que podem ser chamadas internalistas ou internas e aquelas que 
se podem chamar de externalistas ou externas. Grosso modo, há, de um lado, os 
que  sustentam  que,  para  compreender  a  literatura  ou  a  filosofia,  basta  ler  os 
textos. Para os defensores desse fetichismo do texto autonomizado que floresceu 
na França com a semiologia e que refloresce hoje em todos os lugares do mundo 
com o que se chama de pós‐modernismo, o texto é o alfa e o ômega e nada mais 
há para ser conhecido, quer se trate de um texto filosófico, de um código jurídico 
ou de um poema, a não ser a letra do texto. “Esquematizo um pouco, mas bem 
pouco. (BOURDIEU, 2004, p.18) 
 
A  crítica  de  Pierre  Bourdieu,  ao  definir  a  idéia  de  “Campo”  como  microcosmo 
relativamente autônomo  dirige‐se,  principalmente,  de um  lado, à  fenomenologia,  e de  outro ao 
marxismo.  Para  ele  o  texto  autonomizado,  isto  é,  tratado  como  fonte  única  do  conhecimento 
sobre o objeto restringe a pesquisa a uma visão incompleta. A crítica se dirige, por outro lado, ao 
marxismo, que seria, 
[...] em oposição, uma outra tradição, freqüentemente representada por pessoas 
que  se  filiam  ao  marxismo,  quer  relacionar  o  texto  ao  contexto  e  propõe‐se  a 
interpretar  as  obras  colocando‐as  em  relação  com  o mundo social ou o  mundo 
econômico. Há toda sorte de exemplos dessa oposição, e remeto os interessados 
ao meu livro Les regles de l'art (As regras da arte), no qual evoco de modo mais 
preciso as diferentes correntes e referências bibliográficas de apoio. (BOURDIEU, 
2004, p.19). 
 
A noção de Campo Científico é uma criação de Bourdieu, para quem, todas as produções 
culturais, em que se incluem a educação e a arquitetura, podem ser objetos de análise científica. 
Segundo ele, há uma história da literatura, uma história da filosofia, uma história das ciências etc., 
e em todos esses campos encontra‐se o mesmo antagonismo entre as interpretações que podem 
ser  chamadas  internalistas  ou  internas  (em  que  se  enquadraria  a  análise  fenomenológica)  e 
aquelas que  se  podem  chamar de  externalistas  ou  externas  (marxista).  O  Campo Científico  trata 
desse espaço que seria relativamente autônomo e dotado de leis próprias. Se ele é submetido a 
leis sociais, como o macrocosmos em que se insere, não se poderia afirmar que essas leis seriam 
as  mesmas.  Por  outro  lado,  se  jamais  escapa  às  imposições  do  macrocosmo,  ele  disporia,  com 
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relação a ele, de uma autonomia parcial mais ou menos acentuada. Esse grau de autonomia, e as 
redes sociais formadas pelos diversos campos, em um determinado momento histórico, deveriam 
ser avaliados, segundo o autor. 
Por outro lado, para a pesquisa científica, a despeito da avaliação que se faça do grau de 
autonomia  de  determinado  campo  do  conhecimento,  ao  estudar,  como  em  nosso  caso,  as 
condições  do  ensino  de  arquitetura  ou  a  própria  arquitetura  produzida  em  um  determinado 
período,  torna‐se  impossível  dissociar  a  teoria  ou  a  arte,  produtos  do  pensamento,  do  espírito 
humano,  das  condicionantes  de  seu  tempo.  A arquitetura  é  produção  humana  e,  como  tal,  é  “o 
resultado da atividade de toda uma série de gerações”. Desse modo, não pode existir uma história 
da  arquitetura,  ou  um  campo  específico  da  arquitetura,  que  seja  dissociado  da  história  da 
sociedade,  que  é  enfim  abrigo  e  produto  de  suas  singularidades  e  universalidade.  São  as 
condicionantes  de  seu  tempo,  a  totalidade  concreta  de  um  período,  que  constitui  o  que 
chamamos de História. Nessas condições, a compreensão de que há entrelaçamento entre Teoria 
e  História  é  fundamental  para  a  compreensão  do  fenômeno  arquitetônico,  assim  como  das 
intenções do ensino da arquitetura, isto é, da educação no enredamento entre Arte e Ciência.  
Para Marx, a história não é uma compilação de fatos memoráveis que se sucedem ao longo 
do tempo e determinam resultados sobre as gerações posteriores, mas,  
[...] a sucessão de diferentes gerações cada uma das quais explora os materiais, os 
capitais e as forças de produção a ela transmitidas pelas gerações anteriores; ou 
seja, de um lado prossegue em condições completamente diferentes a atividade 
precedente,  enquanto,  de  outro  lado,  modifica  as  circunstâncias  anteriores 
através de uma atividade totalmente diversa. (MARX, 2007) 
 
Ainda segundo Marx, 
Os homens fazem sua história, quaisquer que sejam os rumos desta, na medida 
em que cada um busca seus fins próprios, com a consciência e a vontade do que 
fazem;  e  a  história  é,  precisamente,  o  resultado  dessas  numerosas  vontades 
projetadas  em  direções  diferentes  e  de  sua  múltipla  influência  sobre  o  mundo 
exterior. (MARX, 2008) 
 
Evidentemente,  a  ciência  aplicada  à  História  da  Arte  não  pode  prescindir  da  visão 
totalizante do objeto, que deve incluir não apenas as condicionantes históricas de sua produção e 
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fruição, mas a observação do objeto em si. Todo pesquisador, em especial, o arquiteto, deve ter 
uma  curiosidade  especial  em  relação  ao  espaço  que  o  envolve.    Entretanto,  quando  essa 
curiosidade  busca  a  totalidade  do  conhecimento  sobre  o  objeto,  deve‐se  superar  a  simples 
observação  estática  do  edifício,  ou  do  objeto  em  si,  e  ampliá‐la  para  os  horizontes  da  relação 
espaço‐tempo, que é indissolúvel.  
O  método  empírico pode  ser  promovido a  ciência, o  método  teórico a filosofia, 
mas o procedimento que permite enquadrar os fenômenos artísticos no contexto 
da  civilização  é  a história da arte.  Faz‐se história da arte  não  apenas porque se 
pensa que se tenha de conservar e transmitir a memória dos fatos artísticos, mas 
porque  se  julga  que  o  único  modo  de  objetivá‐los  e  explicá‐los  seja  o  de 
"historicizá‐los”. (ARGAN, 1998, p.14) 
  
A  rigor,  a  história  da  Arquitetura  é  a  história  da  aventura  humana  que  produz  arte  ao 
construir  seu  habitat.  É  neste  entrelaçamento  entre  a  produção  material  e  a  representação 
humana traduzida em arte, sobre as condições dadas à sua época, que reside a dimensão histórica 
da arquitetura e sua transcendência ao longo do tempo para as gerações sucedentes. 
mi mayor interés está principalmente concentrado en el propósito de mostrar sus 
relaciones recíprocas con las actividades humanas y la semejanza de métodos que 
se  emplean  hoy día,  lo  mismo  en  construcción,  pintura,  urbanística  y  la  ciencia. 
(GIEDION, 1978, p.V)  
 
A análise da proposta de ensino para a formação do arquiteto envolve o conhecimento das 
condições  históricas  do  ensino  da  Arquitetura,  seus  antecedentes  e  demandas  da  sociedade 
quanto  à  participação  do  arquiteto  como  agente  cultural  e  econômico.  Além  disso,  é  preciso 
identificar  o  movimento  concreto  da  sociedade  que,  num  dado  período,  uniu  política,  ciência, 
educação, administração pública e arte. É nesse cenário que se pretende analisar a forma histórica 
do ensino superior de Arquitetura e é a partir desta visão que iniciaremos a coleta de dados e a 
análise do objeto. 

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O ensino de Arquitetura no Brasil 
 
O  ensino  de  Arquitetura  foi  introduzido  no  Brasil  com  a  transferência  da  família  real 
portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808, em fuga da iminente invasão do território português 
pelas tropas napoleônicas. O crescimento da cidade e a necessidade de equipá‐la com os edifícios 
demandados  pelas  novas  funções  públicas,  econômicas  e  culturais  fizeram  com  que  D.  João  VI 
trouxesse  para  o  Brasil,  em  1816,  a  chamada  Missão  Francesa.  A  Missão  chefiada  por  Joachim 
Lebreton era composta por artistas, pesquisadores e arquitetos, que fundaram, em 12 de agosto 
daquele ano, a Academia Imperial de Belas Artes, à qual o curso de arquitetura se vinculava. 
O  conhecimento  antes  transmitido  nos  canteiros  de  obra  ou  excepcionalmente  nas 
academias militares passou a ser oferecido de modo regular sob o modelo da escola neoclássica 
então  dominante  na  Europa,  que  se  baseava  na  retomada  do  racionalismo  da  cultura  greco‐
romana, difundido pelo iluminismo. 
O principal arquiteto da Missão, que se tornaria diretor da Academia Imperial, Grandjean 
de Montigny, é autor do projeto do edifício que passaria a abrigá‐la a partir de 1926. O programa 
didático  dividia‐se  em  disciplinas do Ensino Teórico  e do  Ensino  Prático.  A  primeira  subdividia‐se 
em:  História  da  Arquitetura  através  de  estudo  dos  antigos;  Construção  e  Perspectiva;  e 
Estereotomia.  O  Ensino  Prático  continha  aulas  de  Desenho,  Cópia  de  Modelos  e  Estudo  de 
Dimensões; e Composição. 
Pode‐se identificar que a relação entre ciência e arte é presente no ensino da arquitetura 
neoclássica, que se volta exclusivamente para o objeto a ser projetado como composição, isto é, 
combinando  os  elementos  artísticos  da  arquitetura  histórica,  às  necessidades  funcionais  do 
projeto.  A  ciência  ainda  não  se  voltava  para  os  aspectos  tecnológicos  da  construção.  Não  há  o 
cálculo  estrutural  ou  de  instalações  domiciliares,  o  conhecimento  dessas  disciplinas  se  dá  pela 
difusão  do  conhecimento  empírico  da  técnica  construtiva.  Por  outro  lado,  o  ideal  clássico  da 
definição matemática do belo, a partir das regras de proporção e harmonia, assim como a própria 
representação da  forma  está  contido  no  programa  em disciplinas  como  Perspectiva  e Estudo  de 

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Dimensões.  
O  Urbanismo  não  estava  contemplado  no  curso  de  Arquitetura,  apesar  de  importantes 
intervenções  urbanísticas  já  houvessem  ocorrido  na  cidade  do  Rio  de  Janeiro,  ainda  no  século 
XVIII.  São  reflexos  da  Missão  Francesa  e  da  Academia  de  Belas  Artes  a  consolidação  de  uma 
cultura artística de caráter neoclássico e historicista que rompera com a tradição barroca e passou 
a  ser  dominante  na  arquitetura  brasileira.  A  Arquitetura  Neoclássica,  por  sua  forte  presença  ao 
longo do século XIX no Brasil, é também denominada, por alguns autores, estilo Império.  
O  esgotamento  do  modelo  historicista,  que  está  na  essência  da  escola  neoclássica,  gera 
posteriormente  o  movimento  denominado  ecletismo  ou  “arquitetura  de  estilo”,  predominante 
nas construções brasileiras, como, de resto, em todo o mundo, até as primeiras décadas do século 
XX.  É  a  fase  das  construções  “mouriscas”,  “mediterrâneas”,  dos  “chalés  suíços”  e  das  igrejas 
neogóticas. Ao arquiteto, eram encomendados projetos em “estilo” definido pelo cliente, a partir 
de devaneios estéticos, como pastiches de épocas e regiões remotas, que em nada consideravam 
o conjunto da cultura e da paisagem urbana em que se assentavam. No meio acadêmico, destaca‐
se  o  estilo  “neocolonial”,  que  pretendia  reviver  as  tradições  construtivas  e  estéticas  do  Brasil 
Colônia. 
O Neocolonial não foi idéia original nossa, mas da maior parte do Continente, que 
nas  2ª  e  3ª  décadas do século  adotou  uma  espécie  de  Doutrina  Monroe para a 
arquitetura  (e  outras  manifestações  da  arte)  preconizando  como  que  uma 
independência da cultura, cada qual procurando reviver formas senão autóctones, 
pelo menos caldeadas no Novo Mundo ao tempo da colonização (SANTOS, 1981, 
p.89). 
 
Este é, de maneira geral, o panorama da Arquitetura Brasileira e do ensino de Arquitetura 
até  o  início  dos  anos  1930,  quando  Lucio  Costa  assume  a  direção  da  então  Escola  Nacional  de 
Belas Artes (ENBA) e propõe a reforma que até hoje é referência para o ensino de Arquitetura e 
Urbanismo  no  Brasil.  Sua  origem  se  remete  ao  movimento  modernista,  à  introdução  do 
pensamento  urbanístico  e  à  valorização  da  educação  como  política de  Estado.  Embora  parte  da 
historiografia  trate‐a  como  evento  casual,  vinculado  apenas  à  adesão  de  Lucio  Costa  ao 
modernismo e ao ideário de Le Corbusier, a tese central da pesquisa é a inserção da reforma no 
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movimento  político,  cultural  e  artístico  da  vanguarda  da  intelectualidade,  que  via  novas 
possibilidades e demandas na sociedade que se urbanizava.  
Entre  os  educadores,  os  debates  na  Associação  Brasileira  de  Educação  –  ABE,  vão 
desencadear o Manifesto de 1932, a tentativa de implantação de uma política Escolanovista para a 
educação, Reformas Estaduais do Ensino e a criação do Ministério da Educação e da Saúde. Esses 
debates  também  repercutiram  entre  os  arquitetos  em  suas  entidades  representativas,  como  se 
verifica  em  publicações  e  depoimentos  de  profissionais  associados  ao  Instituto  Brasileiro  de 
Arquitetos.  Vale  destacar  que,  desde  os  anos  1920,  grandes  operações  imobiliárias  e 
investimentos em infraestrutura urbana, no Rio de Janeiro e em São Paulo, contribuíram para uma 
nova visão de cidade que perpassava diversos setores da sociedade e campos da ciência.  
A  Reforma  proposta  por  Lucio  Costa,  em  sua  breve  passagem  como  diretor  da  Escola 
Nacional  de  Belas  Artes  (ENBA),  entre  dezembro  de  1930  e  setembro  de  1931,  propunha  a 
inclusão das disciplinas de  Urbanismo  e  Paisagismo,  e  a  separação  do  ensino  da  Arquitetura  das 
demais Belas Artes, assumindo identidade própria, mais próxima do pensamento modernista, da 
problemática  urbana  e  das  novas  técnicas  da  indústria  da  construção.  Rejeitada  nos  embates 
iniciais  da  ENBA,  a  reforma  seria  implantada  apenas  em  1946,  com  a  fundação  da  Faculdade 
Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, atual UFRJ.  
 
A reforma em seu contexto 
 
Embora  tenha  havido  um  importante  acréscimo  na  bibliografia  sobre  a  Arquitetura  no 
Brasil  nas  últimas  décadas,  é  ainda  muito  reduzida a literatura  sobre  o  ensino  de Arquitetura.  A 
maior parte das obras volta‐se principalmente para a produção arquitetônica em si, sem destacar 
a  formação  do  arquiteto  que  a  produziu.  A  Reforma  Lucio  Costa  é  constantemente  citada  nos 
textos  da  historiografia  da  Arquitetura  ainda que  seu  conteúdo  e desdobramentos  sejam  pouco 
conhecidos.  De  um  lado,  a  reforma  é  citada  como  um  fenômeno  de  adesão  ao  movimento 
moderno, que nasce das experiências de reconstrução da Europa após a Grande Guerra. De outro, 

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parece‐se desconhecer os movimentos internos do país, que visavam à superação da velha ordem 
a  partir  de projetos de  ensino  público  e  de  formação profissional  voltados  para  a  criação de  um 
novo homem, em novas bases culturais e territoriais, que colocam a educação e a urbanização no 
centro dessas transformações. 
Tanto no plano internacional, como no caso brasileiro, o modernismo era, sem dúvida, uma 
causa. Mas deve‐se ampliar a visão sobre suas características mais visíveis, de que não se tratava 
apenas de uma causa social. Mas também de uma causa estética. A nova arquitetura espelhava‐se 
na máquina e pretendia que, como ela, a forma fosse determinada pela função, o ornamento era 
suprimido  e  condenado.  Na  poética  da  máquina,  forma,  função  e  técnica  construtiva  buscavam 
um  grau  de  integração que  não  ocorria  desde a  construção  do  Partenon na acrópole  ateniense. 
Segundo Giulio Argan, o movimento moderno, como definição, reúne as seguintes tendências. 
1) a deliberação de fazer uma arte em conformidade com a época e a renúncia à 
invocação de modelos clássicos, tanto na temática como no estilo;  
2) o desejo de diminuir a distância entre as artes "maiores" (arquitetura, pintura e 
escultura)  e  as  “aplicações"  aos  diversos  campos  da  produção  econômica 
(construção civil corrente, decoração, vestuário etc.);  
3) a busca de uma funcionalidade decorativa;  
4) a aspiração a um estilo ou linguagem internacional ou européia;  
5)  o  esforço  em  interpretar  a  espiritualidade  que  se  dizia  (com  um  pouco  de 
ingenuidade e um pouco de hipocrisia) inspirar e redimir o industrialismo.  
Por  isso,  mesclam‐se  nas  correntes  modernistas,  muitas  vezes  de  maneira 
confusa,  motivos  materialistas  e  espiritualistas,  técnico‐científicos  e  alegórico‐
poéticos, humanitários e sociais. (ARGAN, 1992, P. 185) 
 
Diante  desses  cinco  pontos  citados  por  Giulio  Argan  como  tendências  modernistas, 
evidencia‐se  que,  para  Lucio  Costa,  “a  deliberação  de  fazer  uma  arte  em  conformidade  com  a 
época  e  a  renúncia  à  invocação  de  modelos  clássicos,  tanto  na  temática  como  no  estilo”  (Argan 
1992)  é  o  aspecto  mais  visível  de  sua articulação  com  o  movimento  revolucionário  de  1930.  Em 
entrevista realizada em 1931 sobre a situação do ensino na Escola Nacional de Belas Artes, quando 
foi seu diretor, Lucio Costa descreve assim o programa da reforma que tentava implantar. 
A reforma visará aparelhar a escola de um ensino técnico‐científico tanto quanto 
possível  perfeito,  e  orientar  o  ensino  artístico  no  sentido  de  uma  perfeita 
harmonia com a construção.  

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Os  clássicos  serão  estudados  como  disciplina;  os  estilos  históricos  como 
orientação crítica e não para aplicação direta. Acho indispensável que os nossos 
arquitetos  deixem  a  escola  conhecendo  perfeitamente  a  nossa  arquitetura  da 
época colonial ‐ não com o intuito da transposição ridícula de seus motivos, não 
de mandar fazer falsos móveis de jacarandá ‐ os verdadeiros são lindos ‐, mas de 
aprender  as  boas  lições  que  ele  nos  dá  de  simplicidade,  perfeita adaptação ao 
meio e à função, e conseqüente beleza.” (COSTA, 1931, p, 89) 
 
A  adaptação  ao  meio  e  à  função  é  uma  das  características  mais  presentes  na  obra 
arquitetônica e urbanística de Lucio Costa, como também em seus textos teóricos e depoimentos. 
Ao  rigor  das  linhas  do  racionalismo  europeu,  acrescentava  elementos  construtivos  e  de 
composição  do  espaço  que  respondiam  às  necessidades  funcionais  e  de  adequação  ao  clima 
tropical, à cultura e à paisagem, como elementos formadores de uma linguagem nacional. À sua 
obra  edificada,  somavam‐se  os  muxarabis  e  venezianas  que  aclimatavam  a  construção  do  Brasil 
colonial;  os  jardins  de  Burle  Marx;  as  peças  da  pintura,  escultura  e  azulejaria  de  Portinari,  Di 
Cavalcanti  e  outros  artistas.  Sua  visão  ultrapassava  a  simples  transposição  das  propostas  da 
vanguarda  internacional,  nasce  da  reflexão  sobre  as  novas  possibilidades  que  se  abrem  para  o 
ofício  de  projetar  diante  da  realidade  brasileira.  A  tendência  de  “aspiração  a  um  estilo  ou 
linguagem  internacional  ou  européia”,  nas  considerações  de  Argan,  eram  aqui  traduzidas  pelos 
elementos culturais e climáticos, ou “antropofagizadas”, como diria Mario de Andrade. 
O entrelaçamento da arquitetura moderna com outros setores da cultura brasileira torna‐
se  claro  e  é  visível  o  otimismo  com  que  se  identifica  com  as  soluções  que  retirariam  o  país  do 
atraso. Entre os educadores, um de seus principais patronos é Anísio Teixeira: 
Todos nós, que sonhamos um estado de entusiasmo para a grande aventura de 
construir a nacionalidade, temos nesse movimento da arquitetura brasileira, uma 
pequena amostra do que poderíamos ser, se um estado de esclarecimento e de fé 
se  criasse,  como  se  criou  entre  esses  engenheiros,  em  nossa  agricultura,  nossa 
indústria, nosso comércio, nossa educação e nossos serviços públicos e sociais em 
geral. 
Que  caracteriza,  porém,  a  arquitetura  brasileira  para  que  estejamos  a  fazer 
afirmação  desse  porte?  Nada  mais,  e  também  nada  menos,  do  que  1)  uma 
singular  libertação  de  velhas  formas  mentais,  2)  uma  corajosa  adaptação  das 
antigas  e  novas  funções  dos  prédios  aos  recursos  novos  e  novas  técnicas  da 
construção;  e  3)  uma  confiança  lírica  na  capacidade  do  homem  de  resolver  os 
seus problemas. Mas que outros característicos deviam marcar a ação do homem 
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que, nestes meados tormentosos do século XX, se deparasse com um continente a 
conquistar e todo um país a construir? Não será, assim, essa arquitetura como um 
presságio  das  forças  latentes  do  país?  Não  será  ela  um  sintoma,  um  sinal 
antecipado  de  que  vamos  despertar  e,  um  dia,  o  espírito  do  arquiteto  não 
dominará apenas as construções ocasionais que lhes entrega o acidentalismo de 
nossa vida pública e privada, mas todo o país e todas as suas atividades, lançadas 
final da grande aventura criadora de um povo entregue à construção voluntária e 
inteligente do seu destino?”[...] 
Com  estas  palavras  é  que  intentamos  fazer  a  apresentação  dos  novos  prédios 
escolares  que  São  Paulo  edifica,  acompanhando  esse  belo  movimento  da  nova 
arquitetura à brasileira. A direção técnica do plano de construções foi confiada à 
figura de arquiteto e de artista que é Helio Duarte, em cujos projetos a fantasia 
delicada  e  jovial se  mistura  com uma  real severidade  de propósitos  e a  técnica 
mais escrupulosa. 
Para julgar esses prédios, entretanto, é necessário que se levem em conta os dois 
aspectos da arquitetura. Se, por um lado, é uma técnica a usar os conhecimentos 
e recursos do seu tempo a respeito dos materiais e uma arte a praticar a coragem 
de  imaginação  das  novas  formas,  por  outro  lado  obedece  ao  programa  e  aos 
objetivos da consciência de educação a que estiver servindo. 
Há,  assim,  possibilidade  da  construção  de  belos  edifícios  modernos  para  uma 
educação  obsoleta,  e  essa  desproporção  entre  os  ideais  e  as  atitudes  que 
informam  o  estilo  do  prédio  e  os  que  inspiram  os  seus  ocupantes  torna  a 
arquitetura moderna, no país, por vezes, como já o insinuamos, um pungente e 
doloroso  espetáculo  que,  paradoxalmente  tanto  aflige  aos  que  não  a 
compreendem  por  isto  a  odeiam,  como  aos  que  a  sentem  e  amam.  Este  é  o 
resultado  do  desenvolvimento  desarmonioso  e  contraditório  do  país,  a  crescer 
dentro da camisa de força das suas, até agora irredutíveis, cristalizações residuais. 
Somos, de certo modo, um fóssil a lutar por viver e crescer. E, por força, há de ser 
grotesco o resultado!  (TEIXEIRA, 1951. p.175) 
 
Lucio  Costa  não  foi  de  início  um  adepto  do  modernismo.  Via  com  desconfiança  o  que 
chamava de “absolutismo” e o aparente desprezo de seus teóricos por tudo que dizia respeito ao 
passado.  Entretanto,  com  espírito  aberto  fez,  em  viagem  à  Europa,  o  levantamento  de algumas 
realizações  dos  “estilos  francamente  modernos”,  considerando  o  risco  de  tornarem‐se  “moda 
passageira” como o Art Nouveau e outras tentativas pré‐modernistas. Costa se preocupava com o 
radicalismo e um certo distanciamento da realidade brasileira. Para Yves Bruand, Costa adere ao 
modernismo a partir de uma conferência feita por Le Corbusier na Escola Nacional de Belas Artes: 
Assim,  para que  reconsiderasse a  questão,  bastou  aperceber‐se  de  que,  apesar 
das aparências em contrário, existia um denominador comum entre as idéias dos 
mestres  europeus  e  as  suas;  que  eles  propunham  um  programa  construtivo 
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coerente,  não desrespeitando  tanto o  passado,  quanto  pensava  inicialmente.  O 
processo foi desencadeado por um acontecimento acidental: a primeira visita de 
Le Corbusier ao Brasil e uma conferência por ele feita na Escola Nacional de Belas‐
Artes do Rio, em dezembro de 1925”.(BRUAND, 1981, p.122) 
 
Embora  se  possa  atribuir  à  influência  de  Le  Corbusier  a  adesão  de  Lucio  Costa  ao 
racionalismo  da  arquitetura  modernista,  a  visão  de  Lucio  Costa  sobre  essa  arte  e  seu  ensino 
ultrapassa  a  simples  transposição  das  propostas  da  vanguarda  européias,  de  que  o  arquiteto 
franco‐suiço é a estrela mais fulgurante. Nasce de sua reflexão sobre as novas possibilidades que 
se abrem para o ofício de projetar diante da realidade brasileira: seus problemas, seus recursos e a 
presença de uma vanguarda cultural modernista que se consolidava em outros campos das artes 
plásticas,  da  música  e  da  literatura.  Neste  sentido,  o  modernismo  deixa  de  ser  para  ele  apenas 
uma decisão de estilo, isto é, uma concepção de cunho estritamente estético, tornando‐se aquilo 
que Anatole Kopp define como uma causa. 
Kopp  analisa  o  pensamento  modernista,  como  essencialmente  firmado  em  propostas  de 
conteúdo social. Segundo o autor, esse ponto de vista fazia do Movimento Modernista uma causa, 
e não um estilo. Entre os anos 1920 e 40, parte dos arquitetos buscava uma linguagem estética, 
funcional  e  tecnológica  de  acordo  com  as  condições  determinadas  pelo  seu  tempo  para  sua 
atividade.  Para  outros,  o  ofício  do  arquiteto  estava  essencialmente  ligado  às  questões  sociais 
ligadas à arquitetura e ao movimento da história do período. De certa forma, pode‐se considerar 
que  havia  certo  desprezo  entre  estes  últimos,  em  relação  aos  primeiros,  por  seu 
comprometimento com o mundo “burguês” e sua falta de compromisso com as transformações.  
O que há em comum, à primeira vista, entre Bruno Taut, Hannes Meyer e Walter 
Gropius na Alemanha; André Lurçat e Le Corbusier na França; Moiseï Guinzburg, 
os irmãos Vesnine e Ivan Lonidov na URSS? Sem dúvida, todos eles surgiram na 
cena da arquitetura na década de vinte, mas o mesmo pode ser dito de vários de 
seus adversários. Assim, não são as datas que importam, mas a ideia que aqueles 
que  seriam  os  militantes  e  pioneiros  da  nova  arquitetura  faziam  de  seu  papel 
numa  sociedade  que  acabava  de  assistir,  assistia  e  assistiria  ainda  a  profundas 
transformações. 
Entre a revolução industrial dos séculos XVIII e XIX e a revolução econômica, social 
e política de outubro de 1917 na Rússia, o modo de produção havia mudado. O 
que Le Corbusier chamara de “Sociedade Maquinista” estruturara uma categoria 

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social que a imensa maioria dos arquitetos se obstinava em ignorar, mas a qual a 
vanguarda  arquitetônica,  considerava  com  razão  como  sua  clientela  potencial, 
não enquanto indivíduos, mas enquanto grupo social ocupando um lugar preciso 
na sociedade. Nas tomadas de posição desse grupo, através da expressão de suas 
necessidades elementares e imediatas, mas também através de suas utopias que, 
como as de Fourier ou de Tchernychevski, descreviam não só a sociedade ideal do 
futuro,  mas  também  seu  meio  ambiente  construído,  o  que  se  exprime  são 
necessidades  de  “massa”  às  quais  só  uma  produção  arquitetônica  também  de 
“massa” pode tentar responder. Assim se passou de uma arquitetura reservada às 
realizações  unidas  e  excepcionais  à  arquitetura  aplicada  à  solução  das 
necessidades  desse  novo  cliente  coletivo  constituído  basicamente  dos 
trabalhadores nas indústrias e escritórios. (KOPP, p.16). 
 
Mais  do  que  em  nenhum  outro  arquiteto  brasileiro,  em  Lucio  Costa,  essa  definição  pode 
ser considerada verdadeira. Por outro lado, a afirmação da cultura nacional em sua obra, como ato 
de  “deliberação  de  fazer  uma  arte  em  conformidade  com  a  época  e  a  renúncia  à  invocação  de 
modelos  clássicos,  tanto  na  temática  como  no  estilo”,  ao  mesmo  tempo  em  que  coloca  seu 
pensamento  e obra  nos  cinco  pontos de  Argan,  confirma  sua  presença  no  centro  do  movimento 
modernista brasileiro, não como um precursor isolado, mas como participante da síntese cultural 
que reunia a vanguarda das artes e da intelectualidade. Pode‐se ver na carta de Mário de Andrade 
para  Joaquim  Inojosa,  em  1924,  forte  vínculo,  do  escritor,  crítico  e  principal  organizador  da 
chamada “Semana de Arte Moderna”, de 1922, com o pensamento de Lucio Costa sobre a então 
atualidade da arte no Brasil. 
[...]  dentro  do  Brasil  também  a  atualidade  representativa  do  momento 
histórico  universal,  nos  veio  da  Europa  (via  França  e  Itália)  e  dos  Estados 
Unidos.  Essa  atualidade  tinha  aqui  uma  possibilidade  vasta  de  funcionar  em 
proveito do país. E funcionou de fato. Pra ficar só no meu terreno: é impossível 
a gente contestar a transformação inconcebível e a vitalidade agente, palpável 
que se manifesta na arte brasileira depois de 1922. [...]1 E  o maior benefício 
que  a  atualidade  estranha  trouxe  pra  gente  foi,  não  coincidindo  com  o 
regionalismo  e  o nacionalismo  que  já    existiam  por aqui,  leva pela  liberdade 
pela procura do novo e da realidade nacional, que se levou os modernistas a 
matutar sobre o dualismo do fenômeno universal‐nacional. Resultou, foi uma 
consciência  mais  imediata,  mais  livre  da  realidade  nacional,  que  [...] 
generalizou no sufragante a consciência artística nacional e levou toda a gente 
quase  pro  trabalho  de  fazer  coincidir  a  realidade  individual  com  a  entidade 
nacional.  Esta  coincidência  quando  estiver  normalizada  e  inconsciente  entre 
nós,  dará  pros  artistas  brasileiros  a  mais  justa,  a  mais  fecunda  e  nobre 
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libertação. E como este problema de acomodar a invenção artística nossa com 
a entidade nacional era importante por demais, ele evitou que a "atualidade" 
histórica  universal  que  nos  vinha  da  França  e  de  outros  países  da  Europa, 
continuasse aqui como simples reflexo, simples macaqueação. Dum momento 
pro outro a inquietude européia (produto de excesso de cultura, produto de 
esfalfamento,  produto  de  decadência)  não  coincidiu  mais  com  a  inquietude 
brasileira  (produto  de  problemas  nacionais  ingentes,  produto  de  progresso, 
produto  de  terra  e  civilização  moças,  principiando  apenas).  Com  efeito,  as 
capelas  artísticas  européias  deixaram  de  repente  de  influir  na  criação 
brasileira, Nos interessam agora como curiosidade. Não têm mais pra nós uma 
importância funcional. Ninguém mais entre os espíritos já formados, se amola 
de estar no dernier‐bateau parisiense ou florentino. Se volta ao metro como se 
foge  dele,  se  pinta  palmeiras  como  se  esculpe  banhistas,  sem  mais  a 
preocupação  da  atualidade  européia.  Porque  já  readquirimos  o  direito  da 
nossa atualidade.  (ANDRADE, M., 1928). 
 
Entre  educadores  e  profissionais  da  estatística,  percebe‐se  que  há  convergências  com  o 
pensamento urbano que se elaborava com vistas à causa modernista de construção de um “novo 
homem”,  que  levarão  posteriormente  ao  Manifesto  dos  Pioneiros,  à  criação  do  Ministério  da 
Educação e da Saúde e à Reforma do Ensino de Arquitetura da Escola Nacional de Belas Artes, que 
iria  incluir  a  disciplina  de  urbanismo  no  curso  de  Arquitetura.  Para  Margareth  da  Silva  Pereira, 
analisando  a  participação  de  Teixeira  de  Freitas,  advogado  e  estatístico,  fundador  do  Instituto 
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a relação entre educação, urbanização e a construção 
de um “novo homem” se interrelacionavam: 
Embora o estatuto da arquitetura e do urbanismo hoje nos faça parecer longínquo 
seu  diálogo  com  a  educação  e mais  ainda  com a  estatística,  a nova  arquitetura 
nascente  não  pode  ser  desvinculada,  do  amadurecimento  de  lutas  mais 
abrangentes  pela  extensão  de  direitos  civis  e  ‐  citadinos  ou  urbanos,  de  modo 
geral  ‐,  colocando‐se  a  ênfase,  em  certos  temas  como  habitação,  saúde, 
educação,  assistência  ou  previdência,  embora  de  modo  diverso  de  um  país  a 
outro. 
Para sermos mais precisos, trata‐se antes de tudo de se construir não uma nova 
arquitetura  mas  uma  nova  cidade  ‐  e  às  vezes  um  novo  modelo  de  fixação  da 
população  no  território  ‐  que  espelhe  uma  nova  sociedade.  Pode‐se  dizer  que 
durante a década de  1920,  Teixeira de  Freitas parece  passar  de  uma percepção 
municipal  e  citadina  das  estatísticas  e da  educação, para uma  visão  mais ampla 
"urbanizada",  melhor  seria  dizer  no  caso  "urbanizadora"  e  "educadora"  e  que 
justamente  tem,  nas  estatísticas,  sua  base  científica.  Educar  é  povoar,  em  suas 
palavras. (PEREIRA, 2009, p.37) 
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 A proposta de Lucio Costa para o ensino da Arquitetura está no cerne das transformações 
de  ordem  cultural e  artística que  tomavam  corpo  entre a  vanguarda  da  intelectualidade  que  iria 
consolidar o modernismo. Destacam‐se, mais uma vez, a introdução do urbanismo como disciplina 
e o desenvolvimento de projetos sob novos programas e funções, que demandavam por um novo 
tipo de  edificação  e  organização  do  espaço  urbano, para  uma  sociedade  que  se  urbanizava  e  se 
preparava para a industrialização. O entrelaçamento desta nova arquitetura, isto é, da arquitetura 
moderna com outros setores da cultura brasileira torna‐se claro e é visível o otimismo com que se 
identifica com as soluções que retirariam o país do atraso.  
No plano internacional, Arquitetura, Urbanismo e Educação também passavam a constituir 
fortes  laços  e  diálogos  estreitos  a  partir  de  1918,  com  o  fim da  Grande  Guerra  e os  esforços  de 
reconstrução  da  Europa.  São  exemplos  desse  período,  em  que  o  modernismo  se  introduz  na 
Arquitetura,  a  Bauhaus  (1926),  em  Dessau,  na  Alemanha;  a  École  de  Plein  Air  (1931‐1935),  em 
Suresnes, na periferia de Paris, França; as escolas italianas dos anos 1930; e a Openluchtschool, de 
Jan Duiker, em Amsterdam, Holanda.  
As mudanças estavam diretamente ligadas à construção de um novo tipo de cidadão: um 
cidadão "urbanizado", isto é, adaptado ao meio urbano como queriam alguns, mas também apto a 
agir  criticamente  sobre  ele  e  corrigi‐lo,  reformá‐lo,  melhorá‐lo,  contribuindo  para  seu 
desenvolvimento. De um pólo ao outro é a educação deste novo "cidadão" que torna‐se o tema 
principal a ser discutido: da teosofia às propostas da escola nova, trata‐se de pensar a educação 
como  processo  global de  formação  do  juízo  critico de  um novo  indivíduo:  mais  solidário,  menos 
preconceituoso e regionalista. 
O  período  de  Novembro  de  1930  a  Outubro  de  1931,  marcado  por  fatos 
importantes  para  a  cultura  brasileira  que  se  seguiram  à  Revolução  de  1930:  a 
criação  do  primeiro  Ministério  dedicado  à  Educação  no  país;  a  tentativa  de 
implantação de uma política educacional nos moldes da Escola Nova e a Reforma 
na Escola  de  Belas  Artes (ENBA),  [é]  considerado  marco da  renovação nas  artes 
plásticas e da arquitetura. 
Designado  diretor  da  instituição  naquele  período,  o  arquiteto  [Lucio  Costa] 
buscará,  sem  sucesso,  acentuar  a  importância  da  formação  em  Arquitetura, 
introduzindo o ensino do Urbanismo e do Paisagismo, ao mesmo tempo em que 
pretende  tornar  o Curso  de Arquitetura  independente do  ensino  artístico.  Estas 
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iniciativas  e  as  discussões,  então  travadas  na  imprensa,  contribuíram  para 
construir uma mudança de mentalidades que está à base da qualidade plástica e 
do alcance social que a arquitetura no Brasil já atingiria no final da década [...] 
Na verdade, para balizar um pouco mais de perto este cenário é necessária uma 
pequena digressão, sob pena de se continuar ignorando a existência de redes de 
sociabilidade que uniam a política à ciência, à educação à administração e estas à 
arte, que a fragmentação excessiva do campo do conhecimento hoje, induz‐nos a 
ver  como  inusitadas.  Essas  redes  interligavam  os  interesses  de  arquitetos, 
urbanistas,  artistas,  intelectuais  e  políticos  com  freqüência,  sobretudo  aqueles 
ligados ao movimento de reformas urbanas e sociais e é importante salientar que, 
desde o final do século XIX, o desejo muitas vezes enunciado de uma arquitetura 
nova esteve diretamente vinculado à construção de um também novo modo de 
vida. (PEREIRA, 2010, p.42) 
 
Conhecer  os  objetivos  e  princípios  norteadores  da  reforma  do  ensino  de  Arquitetura 
proposta  por  Lucio  Costa  é aproximar‐se  do  entendimento  não apenas das lições da  Arquitetura 
Moderna  sobre  o  conjunto  da  obra  edificada  e  das  intervenções  urbanísticas,  mas  também 
compreender  a  relação  entre  os  instrumentos  do  trabalho  didático  do  ensino  superior,  seus 
procedimentos  e  resultados.  O  objetivo  geral  da  pesquisa  volta‐se,  assim,  para  a  análise  e 
compreensão  do  trabalho  didático  naqueles  anos  na  Escola  de  Belas  Artes  e,  na  criação  da 
Faculdade  Nacional  de  Arquitetura,  a  partir  de  uma  visão  histórica  de  sua  proposição  e  efeitos 
sobre o ensino da arquitetura e do urbanismo no Brasil.  
Os  limites  temporais  da  pesquisa  são  alguns  dos  principais  marcos  do  processo  de 
aceitação e consolidação do modernismo como estética oficial da arquitetura brasileira.  Inicia‐se 
com  a  apresentação da proposta de  reforma,  em  1931,  e  conclui‐se  em  1946,  com  a  criação da 
Faculdade Nacional de Arquitetura. Embora se verifiquem transformações de caráter tecnológico 
nos instrumentos didáticos e de projeto, os princípios norteadores da Reforma permanecem vivos 
e ativos na estruturação dos cursos de Arquitetura. Esta permanência se evidencia nos conceitos 
de  composição do projeto, de  sujeição da  forma  à  função  e  ao  sistema  estrutural,  entre  outros. 
Entretanto,  ao  que  parece,  a  análise  da  forma  urbana  e  o  destaque  sobre  o  urbanismo  e  os 
problemas urbanos ainda demandam maior atenção nos currículos. 

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Referências  
 
ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. 
 
ANDRADE, Mário. Carta a Joaquim Inojosa, 1924, p. 28. LEONÍDIO, Otavio. Carradas de Razão: Lucio Costa e a 
Arquitetura Moderna Brasileira. Rio de Janeiro: PUC; São Paulo: Loyola, 2004.  
 
BRUAND, Yves. A Arquitetura Contemporânea no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1981. 
 
COSTA, Lucio. Entrevista como diretor da ENBA. Rio de Janeiro, 1931. COSTA, Lucio. Lucio Costa: Registro de uma 
Vivência. São Paulo: Empresa das Artes, 1995. 
 
GIEDION, Siegfried. Espacio, Tiempo y Arquitectura. Madri, Dossat, 1978. 
 
MARX, Karl. Miséria da Filosofia. São Paulo: Martin Claret, 2008. 
 
MARX, Karl, ENGELS Friedrich. A Ideologia Alemã: Teses sobre Feuerbach. São Paulo: Boitempo, 2011. 
 
PEREIRA, Margareth da Silva, 1931 Arte e Revolução: Lucio Costa e a reforma da Escola de Belas Artes. CD, PROURB – 
UFRJ; CNPQ, 2010. 
 
PEREIRA, Margareth da Silva, Horizontes do Urbanismo como disciplina e ação ou Teixeira de Freitas: das estatísticas 
da educação às colônias‐escolas (1908‐1932). Rio de Janeiro: IBGE, 2009. 
 
SANTOS, Paulo F. Quatro Séculos de Arquitetura. Rio de Janeiro, IAB, 1981. 
 
TEIXEIRA, Anísio. Um presságio de Progresso. Habitat. São Paulo, v.4, n.2, 1951. p.175‐177. 
 

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