Professional Documents
Culture Documents
"
O Trabalho dos Operarios , zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCB
do Açucar
~
Jose Sergio Leite L~pes
Museu Naciona.1
1974
-
o "VAPOR DO DIABO": zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Dissertação zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLK
d e Meatrado apresentada no
Mus~u Nacional
1974
"Catende foi a.primeira usina que eu trabalhei. Nun
ca tinha visto usina ~sse informante estava chega~
do do cear~. Eu cheguei l~, num hotel em Catende,zyxwvut
/ ,
tomando uma bebida assim, ai chega os operarios,co!zyxwvutsrqpon
sa e tal e lá vai. Um se deu comigo e disse assim:
'Rapaz, que que está fazendo?' Eu disse: 'Procuro
traba.lhoI. Ele disse: 'Quer tra.balhar comigo? Eu I
ria Gatti e Roberto Ringuelet, assi~m como Moacir Palmeira e Lygia Sigaud, quezyxwvuts
(
fizer~ simult~eamente pesquisas no campo no mesmo per~odo, foram de grandezyxwvutsrqponmlk
apoio tanto no campo quanto posteriormente em discussões em seminários. Nos-
sas pesquisas complementaJlll-senão somente enquanto estudos de diferentes gru-
pos sociais e temas da zona da mata de Pernambuco, mas enquanto trabalho de
equipe. Em certo sentido, muitas idéias e formas de raciooínio presentes na
tese devem-se a esse trabalho coletivo, sem eliminarem no entanto a responsa-
bilidade de minhas deficiências pessoais. As discussões e O convivio com os
professores e colegas do Programa foram de grande estimulo na consecussão des
te trabalho, em particular dos Professores Otávio Guilherme Velho, Luiz de
Castro Faria e dos colegas Alfredo Wagner B. de Almeida, Neide Esterci e Lais
Mourão. Arma Maria Ribeiro Ramos datilografou em estencil os originais. Age-
nor Nunes de Oliveira e equipe mimQografaram a tese.
Maria Rosilene Barbosa Alvim acomparulou com seu apoio de ordem emocio
nal e intelectual todo o desenrolar desta tese, desde a pesquisa de campo até
sua forma atual. Quero dedicar esta tese a uma pessoa fisicamente distante
por motivos à sua e à nossa vontade, meu pai, Professor José Leite 10
alheioszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
peso Fina..lmeIlte
.•agradeço aos operários do açúcar sua indispénsáifelcola.bora.-
ção e sua hospitalidade~ dividas que esta tese está longe de saldar.
INTRODUÇÃOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
................... " " -. .. " . i
3.. O Artista . 23
4. O Servente e o Ajudante ••...••....•.•.......................••... 48
5. Conclusão .... 11 ••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• " ••••••••••••••••••••••••••••••.•••• " ••••••••••••••
56
CAPÍTULOrr. fiA CARNEE OS esses ": CS LIMITES DA JORNADA DE TRABALHO
••• 61
1. O 'Va.por do Dãabo" ou o Moto-Perp~tuo da Maquinária Diante do Oper!
rl.O 11 ••••••••••••••••••• 11 •••••• 11 •••••• li •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••• 62
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJ
2. A Resistência dos Operários contra a Antiga Diária e a Eternidade
Renova.da da Jornada de 12 Horas ••••.•..•••••.•..•....••.••.•.•••• 75
3. A Dilapidação da Força de Trabalho ••..•..••••.•...•.••.•.•.•.••••. 85
CAPÍTULO111: O "FETICHISMO"D O SALÁRIOE SUASREVEIAÇÕES.••••••.•••••• 116
1. A Concepção do Salário pelos Profissionistas ..•.....•.•...•.•••.• 117
a) O "Fetichismo do Salário-Hora .••.•....•••..•.•..•.•..••••••••
ll
117
b) As Resist~ncias ao "Fetichismo" do Salário-Hora •••.••••.••.••• 140
b ) As Roç~s dos Operários ou a Materialização da Insufici~ncia
l
do Salario ,. " ""e •••.•• " ••.•••• " " • " •.• " • " • 140
b2) O Roubo das Horas -Extra ..•••........•.••.•.••.•.•.•••••••• 150
2. A Concepção do Salário pelos Artistas .••..••...•••.••.••.•.••.••• 162
-
CONCLUSA O ............................•................•..•.......••••••.....•..•...•..•........•.•.•....••........
0000000
.1.zyxwvutsrqponml
em seus domÍnios para entrar em contacto com os seus operários. Enquanto o ca-
ráter fechado da fábrica em geral pode ser ilustrado pelo aviso colocado à en -
fiN o admitance except on business" (Marx, 1969: t I, cap. 6), as usinas de açú -
realizar uma pesquisa tendo por objetivo descrever o trabalho dos operários do
açúcar atrav~s do seu pensamento a respeito de sua prática econômica? Com efei
~
to de duas, uma: ou entra-se no territorio da usina sem o consentimento do usi-
velmente bloqueada pela proibição do usineiro e por sanções das autoridades co~
toras; ou entra-se na usina com a permissão do usineiro, mas então como conse -
parte industrial das usinas (incluindo, além dos operários fabris, os trabalha-
usinas), uma importancia numerica menor representando por volta de 10% dos
, " "'" A
trabalhadores agricolas ligados a cana --, tal fato nao minimiza sua importan -
tante inferior que consta do censo demográfico de 19-{O, de 3.489 pessoas emzyxwvutsrqponmlkjih
"o-
cupações das usinas e engenhos de açúcar" (tabela n~ 16, pg. 54 do Censo Demo -
rios na entre-safra.
dos à parte industrial da usina na razão de 1.000 sacos para um operário, o ta-
/ ~
manho das usinas quanto ao numero de operarios oscila entre aproximadamente 100
/ ,
e 1.000 operarios, tendendo a oscilar entre 300 e mais de 1.000 operarios.
Quanto aos trabalhadores agrícolas ligados à cana de açúcar, o Censo Demo
.iv.
gráfico de 1970 assinala um total de 157,403 pessoas de 10 anos e mais (p. 74),
cial e política dos grupos sociais condiciona de maneira marcante o próprio in-
, ~ .
teresse teorico sobre tais grupos. Com Efeito, esses operar-aos parecem nunca
ter produzido, nem de perto, um movimento social da enverga.dura do que atingiu
cia que fazem à dominação despótica sobre eles exercida pela administração da u
greveszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
d e grande repercussão local resultaram acordos coletivos de trabalho e
foi uma dificuldade conseguir-se alugar um local para sede diante do medo do se
- da policia
nhorio baseado na lembrança da depredaçao ~
sobre a antiga sede da 8S-
sob a hegemonia dos primeiros e tendo o apoio decisivo do governo estadual, tal
"
vez tenha contribuído ~
para o carater conciliador da atuaçao do sindicato nos
, -
conflitos de classe e tenha servido de apoio a mediaçao estatal nesses confli -
tos, que caracterizava.-a:-
poi.:í.ticatrabalhistado Estado Novo. Apesar da impla!!
da do IAA, etc.) com o auxilio de suas boas relações com o aparelho de Estado.
entidade passou a ter uma atuação relativamente mais agressiva no que diz res
à defesa dos direitos trabalhistas, tendo tido participação na greve ge -
peitozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ral na cana de aç~car ocorrida em fins de 63, ocasião em que se deu a união dos
sofreu intervenção, a qual s~ foi levantada em 67. De3de então o sindicato se-
gue a tradição de atrelamento à burocracia estatal, de assistencialismo e conci
espéCie de moeda que circulava internamente à usina. Tais crises foram freqffe~
tes depois de 64, ocorrendo nas usinas Santa Terezinha, Salgado, 13 de Maio ,
Cerro Azul, entre outras, e motivando questões trabalhistas coletivas a.cionadas
na. esse grupo social (cf. Wolf& Mintz, 1957; Rubin, 1960j "Sistemas de Planta.-
, ,
ciones en el Nuevo Mundo", 19(4). E certo que e principalmente a "plantation "
açuc~reira. que, ao necessitar de um complexo beneficiamento industrial da mate-
, ,
ria-prima agricola., trans~ormando-a quase que no produto final, proxima ao 10 -
;
cia da ind~tria em seus domínios agrícolas (cf. Waibel, 1954), o que de qual -
quer forma faz com que essa literatura deixe em aberto uma lacuna, a saber as
ria social geralmente urbana -- infi1trados nesse meio rural onde formam um elo
lar dos a.ntropólogos, por nada diferirem de seus similares urbanos, os quaiszyxwvutsrqponmlkjihgfed
,.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
\. /\. ~
constituem-se em area. reservada a competencia especializada da historia da. "re-
voluçio industrial ii
ou da "sociologia do trabalho" convencional.
estudo especifico. Pois o estudo da classe operária industrial não se faz tam-
;; -
bem atraves do estudo de sua inserçao concreta em diferentes ramos de produção?
EzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
p o r que também não se justificaria o estudo de car~ter antropológico da clas-
(3) Cf". Gramsci (1966, parte I), preocupado com a "filosofia espontânea" dos
grupos sociais, em particular dos gru~os dominados, distinguindo o "bom sen
so" próprio a esses grupos -- essa critica coerente de categorias e práti
cas impostas pela classe dominante que se manifesta em determinadas conjun-
A
turas -- e o seu "senso comum", onde predomina a:lnfluencia da ideologia.do-
minante.
(4) Seria interessante levar-se em conta, no decorrer deste trabalho, a litera-
tura brasileira sobre classe operária, fazendo-se os devidos paralelos. Cf.
em particular Brandão Lopes, 1964 e 1967; Martins Rodrigues, 1970; Loyola,
1972 e 1973; Pereira, V.M., 1973.
~ ;
autonomia relativa que teria, por exemplo, a ideologia sobre sua prática econ~-
miea de grupos sociais como os camponeses ou os artesãos, qu@ controlam seu pr2
cesso de trabalho? Assim,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
uma ideologia menos "heterônoma" dos operários -
nao
deveria ser procurada principalmente na esfera doméstica desses produtores dire
têm sua atenção totalmente voltada para a matéria e como que se destacam da 80-
ciedade (Halbwachs, 1972), como então produziriam representações sobre sua prá.-
~ ,
tica economica que pudessem esclarecer a propria estrutura social em que
-
estao
~ ~ A _
minação a que está submetida esta classe, dominação esta própria ao modo de p~
ção e ae manifesta a cada operação produtiva dos produtores diretos; tais obje-
ções não percebem que a cultura dominada se afirma sempre de alguma forma na r!
- ~ ,
lação mesma que a domina (Verret, 1972). E essa afirmaçao se da na propria !!-
interpretagão que os operáriOS fazem de categorias e práticas impostas a eles ,
.xi.
tam essa organização da produção em função de seus interesses .- que não deixam
produção de mais valia com que foram socializados, em principies de uma. cooper~
ção contra a ext~ção de mais valia. Assim} O mesmo trabalhador coletivo que
,
s e desdobra assim na inversão de categorias e práticas que, de impostaszyxwvutsrq
taszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
À "A
transformam-se em "espontaneas", categorias e praticas espontaneas contra a ex-
ploração. Desta forma, a cultura operária, tal como ela se manifesta na produ-
10 a.utor.
Mas apropria descriçao das formas concretas em que sao explorados oszyxwvutsrqponm
Op!
, , ~
rarios do açucar aponta para uma certa especificidade das condiçoes de trabalho
a que estão submetidos tais oparaz-Los com relação aos operar í.os urbanos. A in-
serção em meio rural desses operáriOS, elo industrial de um trabalho que se ini
.xí.í.L.zyxwvutsrqponm
be.lho na. planta fabril da usina. A começar pela sazona.lidade da produção do 8.-zyxwvu
,
çucar: a parte industrial das usinas funciona, em Pernambuco, aproximadamente
, ,
de ~etembro ate março ou abril, moendo as canas cortadas na parte agricola e i-
cal' exigem assim, além de uma seção de fabricação do aç~car (6), uma seção de ~
-, ,
ficinas diversas para a manutençao da fabrica e sua maquinaria durante a moagem
,
e principalmente durante o períOdO de entre-safra (7). Alem disso, ao necessi-
essa ~ltima de uma matéria-prima que começa a perder seu teor de sacarose a.pa~
(6)A seçao de fabricaç~o das usinas de aç~car compõe-se de (a) sub-seção da. mo
enda, que se decompoe nas pontes volantes de descarga da cana; na moagem dã
cana obtendo-se o caldo bruto realizada pela moenda, a qual é acionada por
uma máquina a vapor gigantesca de mecanismos expostos; na esteira de bagaço
que o leva às caldeiras onde é proâuzido o vapor consumido na usina; (b)sub-
seção de purificação do caldo, decompondo-se em balança de caldo, sulfita. -
ção, caleação, aquecimento, decantação e filtragem (separação das impurezas
do caldo); (c) sub-seção de fabricação propriamente dita (concentração do
caldo por evaporaçãoh decompondo-se nas seguintes operações: evaporação, co
zimento (nos vácuos), cristalização, turbinagem, secagem, pesagem e ensaca~
mento (cr . Fernandes, 1971} , As u~inas produzem aç~car cristal, principal -
mente para o mercado interno, e açucar demerara, principalmente para o mer-
cado externo, segundo cotas determinadas pelo IAA,
genhos de propriedade de terceiros que lhe fornecem cana. Por outro lado, as
,
necessidades variaveis de trabalho segundo a safra e a entre-safra divide os o-
13.000 operáriOS que permanecem na usina para os trabalhos de reparos, 60% tra-
, ,
balham na fabrica e 40% nos transportes. O numero elevado de trabalhadores nos
trabalhadores nos transportes está superest.imado por incluir operáriOS das ofi-
nesta ~ltima os serventes concentram-se na esteira por onde entra a cana na fá-
,
bricaj na limpeza da esplanada, o chão da fábricaj na caldeira, tambem em ta-
redução de mais de 50% do contingente da safra, ~ maior que a redução dos oper~
rios ligados à ind~tria, que ~ de 20%. Essa redução se efetua sobre os serven
, - ~
tes; os operarios com profissao,seja da fabricaçao, seja dos transportes, seja
das oficinas, permanecem na entre-safra, constituindo-se nos operáriOS fixos
,xv.
à repartição entre operários da fabricação do açÚcar e operários de ofi-
QuantozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
nafs .
,
Por outro lado, dentre os operarios fixos, grande parte deles mora em ca-
sas da própria usina, próximas à planta fabril. Um dos traçJs distintivos das
usinas de aç~car, ao menos no Nordeste, é assim a formação de um bairro operá -
,
rio nas ~roximidades da fabrica, um aglomerado de casas de propriedade da usina
para usufruto de seus operar tos permanentes. Essa ligação direta entre o domí-
nio do trabalho dos operáriOS e o dominio de sua moradia, que geralmente não e-
xiste para OS operários industriais urbanos que podem trabalhar em diversas fá-
bricas e continuar morando na mesma casa, faz com que tanto o "tempo livre" do
" ~
operaria do açucar, quanto as condiçoes de sua moradia sejam fortemente determi
nados por sua inserção especifica no processo de produção da usina. Essa carac
ta tese -- além do fato que é na produção que se efetiva uma afirmação estraté-
aos problemas encontrados para a realização da pesquisa que serve de base a es-
em uma usina apareceu de uma forma que se pOderia prever a prior! que inviabili
zaria a pesquisa: ser levado a uma usina,para passar alguns dias, por seu
parte do patrão, essa mesma pessoa que me permite permanecer na usina como qua!.
que- trabalhador pode presumir -- decidi assim mesmo observar uma usina mais dezyxwvutsrqponm
perto, mesmo tendo de levar em conta nessa observação minha posição de Itconvida
A
do 11 do us ineiro . Passei tres dias nessa usina, com o usineiro ou algum de seus
quâsa sobre você", etc. Sintomaticamente, no segundo dia dessa convivência for
~
çada na casa-grande, o usineiro convidou-me para conhecer a regiao, e o seu ear
.xvii "zyxwvuts
TO embrenhou-se Agreste adentro, onde passamos o dia todo, longe das usinas. Nozyxwvutsrqponmlkjihgf
'"
terceiro dia, no entanto, conseguindo uma pequena folga da vigilancia de meus
cicerones, conversei com alguns operários que faziam sua refeição na marmita ,
, zyxwvutsrqp
do lado de fora da fábrica. Para minha surpresa, além de serem receptivos a
N / ~
conver;açao com um hospede do patrao, mas que se apresentava como um estudante
que desejava. conhecer a vida dos operários, conversa esta que me forneceu algu-
não tiveram nenhum problema em fazer reclamações, tais como o não pagamento de
horas extras devidas" De qualquer forma a permanência nesta ~~ina, além de for
necer algumas informações sobre a usina e fazer sentir o seu clima, permitiu o
sem até o sindicato, mas o fato de sua sede 10ca1:1z8,:"-8Cem Recife, distantezyxwvuts
I'
,; ~ ,
( 8) Essa estrutura geografica do sindicato parece dificulte,!'sua açao junto as
bases. Possuindo apenas sua sede central e uma pequena. sub-sede em uma ci-
dade do interior da zona da mata, o acesso da massa de opsrários ao sindica
to para fazer suas queixas, "botar questão" e exercer sua própria associatI
vidade de grupo social ~ica bastante dificultada" Uma viagem a Recife tomi
muito tempo -- inclus ive terr,pode tre,balho -- e te'} um certo CU!3to monetar-ã
o para o operáriO. Além da sede central, o sindicato p03sui um delegadostn
dical em cada usina, um indivíduo isolado em me Io ÇcO poder absoluto da admI
nistração da usina" (Os delegados sindicais geralmente são escolhidos de 80=
cordo com a bas e .) Os delegados sindicais consomem muito de seu tempo via -
jando de sua usina para a sede em Recife e vice-ve:rsa. Já os sindicatos dos
trabalhadores rurais, de implantação municipal, com uma fec~er(l,çãosediada em
Recife, se permitem um contacto muito maül estreito com seus asaocãados , O
•xviii.zyxwvutsrqponm
cãaãs na. área., levados por um técnico do JAA. Nesta ocasião, fui apresentado ao
rios ém Recife.
usina, onde ele tinha boas relações tanto com os operáriOS quanto com a admini!
também por eles aos operáriOS dentro da usina, enquanto trabalhavam. Nessa. a -
~ ~ ~
presentaçao, foi sugerido que eu seria enviado do proprio Presidente da Republ!
Ca' que estaria ali para observar as condições de vida dos operáriOS, relatan -
do-as nas es feras superiores para a tomada de provid~ncias. Embora eu tenha ten
sidade do Rio de Janeiro, e que meu objetivo era fazer um livro sobre a vida
, ., - , ,
dos operarios do açucar, tal sugestao ficou na memoria dos operarios, mesmo PO!
podia suscitar desconfiança da parte dos operáriOS em relação a mim~ foi-me re~
~ ~
pendido que, muito pelo contrario, era isso que os operarios queriam. Depois de
, , .
me outro dia a usina.para. entrevistar os operar~os.
,
No entanto, como este ultimo teve necessidade de viajar" por razoes - de
tempo decidi voltar por conta. prÓpria à. usina, juntamente com minha mulher, com
a.intenção de procurar o delegado sindi~l e tentar ficar algum tempo li, entr!
vistando os operáriOS. Pensávamos encontrar algum alojamento na pequena cidade
cipa.lmente porque não havia alojamento para casal. Fomos então procurar o del!
guido achar outra. solução (9), foi conosco ao gerente da usina pedir alojamento
, -.. ~
para. nos. Recebendo-nos friamente, estranha.ndo a apresentaçao fe~ta pelo oper~
rio desse peculiar pesquisador, o qual, tendo uma origem de classe aproximada à
mente ~s suas refeições. De fato, com isso podia exercer um certo controle so-
bre a nossa atuação dentro da usina embora ele tenha tido a dignidade de nun
maiores informações a ele sobre a usina para não dar pretexto a nenhuma pergun-
te se envolve com as relações entre classes --J por um lado, aloj9.-dona.rua dos
lugar onde comer regularmente), por outro lado, mediado pelo delegado sindical
, ,
em quem os operarios reconheciam seu representante, os operarios demonstravam
gum hóspede estranho a não ser pela própria direção, os operáriOS não possuindo
trazer-lhes alguma vantagem sensível, fazia com que fôssemos recebidos com sim-
patia. Alguns operários tinham, no entanto, clareza que a pesquisa não lhes
traria nenhum resultado, a não ser uma certa divulgação do seu sofrimento nas
.xxi.
usinas, o que lhes motivava contar pacientemente toda sua vida no trabalho (10!
Bar outro lado, ressenti que alguns ope~ios esquivavam-se de conceder entre -
vistas, o que foi confirmado através de outros operáriOS com quem freqflentemen-
te conversava7 que mencionaram o fato. Para aqueles, o meu aval sindical tal -zyxwvutsrqponm
presentassem uma oposição sindical difusa e latente, e poderiam ser dos operá -
rios mais interessantes a serem entrevistados pelo motivo mesmo de sua cautelazyxwvuts
_ A
(10) Al~ns operários faziam das entrevistas autênticos libelos contra c~rtas
pra.ticas das usinas, como se fizessem um relato livre de uma reclamaçao tra.
ba1hista. (sem estar preso a certas limitações jurídicas des~as queixas que
os advogados sindicais recebem, conduzindo o relato dos operáriOS dentro
dessas limitações). Assim, ruu operáriO fez um relato livre de seus proble-
mas na usina de uma hora de duração, Bem nenhuma pergunta minha (a não ser
de esclarecimento)7 como se estivesse gravando um depoimento. Sua confian-
; -
ça na materialização da ~,
divulgação de suas den~cias concretizava-se
propria evocaçao a um publico imaginario durante a gravaçao , como se a gra
IV , ,
na- _
dução, sem no entanto anular sua vigênCia. Sem contar com a boa vontade dos di
lado com a boa vontade do gerente da usina; sem contar com o clima de liberali-
dade relativa dessa usina e com relativamente boas relações entre sua adminis -
com duração média de hora e meia a duas horas, foram feitas nas casas dos oper~
rios e suas farrrl.lias, seja em casas da usina, seja em casas na cidade próxima à
uaâna . Algumas outras foram feitas nas proximidades do clube da usina, onde a1
desenvolvida, já que durante todo o tempo de nossa permanênCia na usina tudo que
ocorria era de alguma maneira informação. Assim, fomes levados para dentro dazyxwvutsrq
I' , ,
fabrica e oficinas varias vezes por operarios, que mostravam "in loco" seu tra-
balho. Realizei
""'"
tambem30 entrevistas nao-gravadas, alguma8 com operarlos
; . que
lhistas 7 a história da usina, sua visão (IO'J outros grupos soc íats da "planta
.-
(12) A usina produz aproximadamente 700.000 a 800.000 sacos de açúcar- por safra,
quarta maior produção de Pernembucona safra de 69/70-, aproximadamentezyxwvutsrqponmlkjihg
55%
de aJ~car cristal e 45% de açúcar demerara (dado.3para as safras de 69/70
e 71 72).
.xxiv.
melhor perm;..tiro aprofundamento da observação direta e do estudo do discurso
a respeito de sua prática econômica cotidiana, e a compreensão do
dos operáriOSzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
neste estudo de caso enquanto padrões para as usinas, visitando duas outras us!
nas, onde foram feitas entrevistas não-gravadas com OS operários e suas famili-
~ ,
as. Uma delas, a que fui com o usineiro, esta situada proximo ao Agreste e tem
operáriOS do resto da popUlação. Tal fato tende a confirmar esse traço caract~
ristico das usinas, a saber o de controlar mais diretamente a esfera doméstica
, ;
Além disso, contávamos com a visão mais geral que podiam fornecer os da -
à lista descri-
e com operários que iam apresentar queixas trabalhistasj acessozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR
raropor diversas outras ao longo de sua vida produtiva. Assim, como nosso uni-
N ~ , ~
frentar o vapor, com o qual não estamos habituados, entrando no laboratório se-
~ ~
ereto da produçao do açucaro
CAPÍTULO I
1. Introdução
Atra.vés da. pla.nta fabril de uma usina de aç~car pode~se inferir a exis -
ciais e temporais que se apresentam a uma percepçao mais imediata, de nada nos
A _
perários presentes em uma usina de aç~car. Mais al~m desses documentos escri-
/
ferenciaçao
- interna dos operarios,
/
tentando apreender
/
a sua logica.
Qual a importância dessa diferenciaqão interna? Por que não estudar 10-
go a concepçao
- que o conjunto dos operarios
/ ,
faz deles proprios e dos outros
usina, com sua divisão do trabalho interna rigidamente estabelecida, com dife~
rais.
gorias em que se subdividem, durante o seu ciclo de vida, contribui para for ••
mar uma ideologia comum. Além disso, sua submissão comum a urna administração
comum -•.•que pode transferi-Ias de uma categoria para outra -~ assim como a re
neo.
* *
,
Nas entrevistas com os operários, sua autoclassificação com relação a
sua ocupação podia se dar em um sentido mais restrito, mais "preciso" no senti
pende se esta ocupação tem suficientemente importânCia social para ser autode-
"
nominada enquanto tal.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Alguns operarios -
definem sua ocupaqao como uma profis-
"
dor que exerce um trabalho util "
especifico. (Ex.: "cozinhador", "evaporador ",
contrário, designam suas ocupações ou de uraa maneira vaga, que não define seu
uma profissão, seja de uma seçao da fábrica ou de uma máqUina especifica (Ex.:
dade e instabilidade dessas ocupações, assim como seu papel subordinado seja
categorias "
classificatorias utilizadas para essas ocupaçoes - -- "servente" e lia
Quando o operário designa sua ocupaçao como uma profissão especifica, e...
le em seguida passa a uma nova classificação e diz se essa ocupação é uma arte
~
ClassificaçaozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Atividade especifica
mais geral
CI.I
o ligado a um profissionista, a uma seçao ou
· ri
H .-
'ro Serv.mte a uma maquina j podendo variar muito quanto
rcJ
,
§
/
fIl
o ligado a um artista ou a um profissionista,
· ri
H zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Ajudante tarefas
J
'ri 'ri
0'+-1
r::1 o soldador, evaporador, motorista, etc.
· ri ~
H P.,
PJ
ro ,
fIlrcJ
o Artista denominações especificas, Exo: carpinteiro,
''''; ::
~ o
"rolro
H· ri
ou caldeireiro, torneiro , serralheiro.
Q.I b.O
Oficial Local de trabalho: oficinas.
0g:.
PJQ.I
dos. Por vezes ela se opõe à não profissão, isto é, ao serviço executado pe -
Ias ajudantes e serventes, e a categoria incluiria assim,à exceção destes últi
do, parece haver uma convergência das outras categorias cem relação à catego ~
ria arte: ela é ao mesmo tempo a categoria mais específica dentre as catego ~
rias mais gerais e a categoria "Lndependant.e" das cat egor í.as mais especificas,
no sentido de que não precisa ser especificada por oposição a outra categoria.
peclficas dos operários, no sentido que elas são cefinidas em primeiro lugar
~
pela propria administraçao - da usina e que remontam a uma classifica.çao funcio~ -
nal dos operários por parte de seus patrões. Evidentemente, a categoria ~ -
-" e especifica
vente nao " ~
ao discurso dos operarios do açucar, "
muito menos a pro-
/
, A
pria categoria de operario. Elas tem um sentido mais amplo. Se muitas vezes
/ A ~ {
os operarios tem uma denominaçao particular e especlfica p~ra algumas ocupa
••..••
tal, por exemplO, a denc!'1inação jocona do costurador de sacos no armaz~m da
usina: ft alfaiatei1 (1) _..•, o diGcurso dos operários se utiliza mais freqUente -
pitulo rrr.
(2) Bourdieu (1963: 314) utiliza a expr-es sao "reinvenção criativa" em um senti
" '" A -
do semelhante, porem no contexto diferente/da dcminaçao da ordem economica.
caPitalista sobre a "or-dem tradicionalll pre-capit"ü~3te, argelina., e a ada..E
taçao a essa nova ordem a que sao forçados 03 indlviducs dessa sociedade ,
adaptação esta que para realizar~se pressupõe at.í.tudca e comportamentos di
tados por tal "r eãnvençao". Verret (1972: 22), baaeando-s e em Bourdieu e
Passeron, fala na "reinterpretação cultural das mensagens da cultura domi-
nante nas categorias próprias da cultúra popular".
.7.
Se as classificações primitivas, que constituem g
como que uma "primeirazyxwvutsrqpo
rios pode se explicar pelo seu contexto de trabalho - ... o qual, no entanto, se~
,
do-Lhes imposto por uma outra classe que os domã.na , Ih011e em um certo sentido
exterior como uma !fsegunda natureza", Mas como penetrar nessa "segunda natur~
za ", que por ser dominada por uma classe ~ vista diferentemente pelas diferen ...
tro da us ina .
2 O Prcfissionista
,
Os profissionistas 10c2,]j..::,:e,m-sefora das oficinas J isto e, principalmen ••
te no processo ele fabricaç?:o propr lament.e dito e noo t.ranspor t.os (ferroviário
A descrição do processo produtivo que fazem C'''; pr of'Las Lcnf.s tas da fabri ...zyxwvutsrqpon
les tendem a começar sua descriçc,o exat.ament.e x;o lugar em que a cana entra na
/ ~ /
diversas "
maquinas parciais sucessivas (~
Cf, citaçces de entrevistas ~ de
na Geçao
.8.zyxwvutsrqpo
a.nexos, no final da tese). Fascinado pelo percurso da cana, com a atenção pr~
sa aos caprichos do seu aparelho e tomado pelo ritmo ensurdecedor do pleno fun
rem conta de seu trabalho, devem voltar-se para a matéria, e sair da socieda -
de" (Halbwachs, 1972: 60), sua descrição do processo produtivo denotando a sua
tração da relação dos operáriOS com os empregados, e dos operáriOS entre eles.
,
(cr. o artigo "Materia e Sociedade" em Ha'Ibwachs, 1972). Mencionando apenas
alguns operáriOS que manejam a cana antes da extração do caldo nos ternos da
nhador. Seja pela descrição direta do movimento do cozinhador nas suas tare
, ,
cia da fabricay a ponto de ser considerado por muitos operarias, principalmen~
te por eles pr6prios, como o único operária que tem uma profissão na fabrica -
ção do aç~car.
Essa descrição do oper~rio da fabricação não situa a hierarquia na
ca., não menciona a interrelação entre os operários nem as ordens dos emprega -
gilância dos empregados sobre a vigilância dos operários à maquinária não fos~
rio fala freqüentemente em seu discurso da responsabilidade que ele tem com r~
-, "
laçao a materia-prima e com o produto; responsabilidade esta que retrata, nos
rário está atento para sua relação com o patrão mediado pelo material: materi-
~
al do homem. A propria categoria de responsabilidade parece acarretar implic~
rio. É a partir desse limite, a acumulação da monotonia que resulta no cochi ..•
10, que interv~m a nao monotonia da reprimenda da investigação e da fiscaliza-
as quais esta o sono, que acarreta a referencia a investigação como seu opos -
que tende a ser continuo em uma jornada de trabalho "sem poros ". A hierarquia
ção, fazendo uma comparação entre a sua vida de privações e a vida de abund~n-
neira clara (para o observador), mas não explfcita, no seu discurso sobre ozyxwvuts
,
processo produtivo, e contrabalançada nesse mesmo discurso pela responsabilida
na, de um aparelho. Ele toma aquela responsabilidade, não pode deixar o apar!
como necessários para o seu trabalho ou são definidos por proposições de nega~
I1Quem tem profissão não tem e.rte, agora tem aquele entendimento c9.
mo ~ que faz certo pra não estar perturbando nem prejudicando, en-
tendeu. É preciso conhecer duma temperatura, conhecer de um monô-
metro, conhecer de um grau certo, conhecer de uma quantidade de va
por, dai por diante o Uma pessoa que não ~ já:, que não ~ tão tapa-
do, faltou uma pessoa ali: nva" chamar fulano) diga a ele que venha
-'
ajudar aqui", E ele vem e quando chega aqui ja faz certo e se
.12.zyxwvutsrqp
~
trouxer um, vamos dizer do campo, ele quando chegar ca dentro)co~
tado, não sabezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
J até pra pisar em cima daquelas tábuas pisa com me
do, pensa que cai com ele. E é MSimll.(cozinhador)
_ A
ria, que é a de saber exatamente o momento apropriado p:1ra executar suas oper~zyxwvuts
- " I' ,...,
çoes com um auxilio apenas subsidiaria das indicaçoes dos instrumentos de medi
ponsabilidade que tem o seu trabalho? Maneira possivel que tem a administra -zyxwvutsrqp
~ /
tração em uma situação de divida imaginária com o operário: o ganho não corres
,
ponde a responsabilidade.
muita atenção embora aparentemente o operário não esteja efetuando nenhuma op~
/ ~
fissionista e conhecido como um contador de horas: alem de vigia vigiado pelas
mais dif:Ícil. Preocupado em realizar o maior numer-o poae Íveã de horas de tra
balho para assim ver aumentado seu salário, o profissionista nao pensa por e ,..
bastante, em seu discurso e ob r e aeu ca'Lcul.o economrco , com o seu "t.empo livre";
ba.Lho com sa'Lar-í.o maí.s elevado, nao e f'ormul.a.do com tanta freqtiencia quanto o
,
calculo com elementos f'oz-a do t1'2,b,lho. Embora a oficina ~:eja um lugar desej~zyxwvutsrqpon
do para seus filhos, e f>:3ja um lugar para onde a Lguns r)rofissionista.1 foram
'"
transferidos, o prof'Lss í.onãsta não cxplicita c:::pontan:'3.""',:cntca transferencia
mente como uma época ruim devido à diminuição das horas de trabalho e? portan-
, .-
visto como um periodo dificil para os profissionistas da fabricação:
próxima safra suas foices, enquanto que a usina lança mão de sua gigantescaf~
,
ce imaginaria voltada para 03 homens e procede ao corte dos trabalhadores. Ba
; •. _ A
dos artistaD nas tarefas de reparação da usina. Nessas tarefas do apontamen ..•
to, os prof'í.as âonâs tas , geralmente cada qual em sua m;'quina parcelar, fazem o
mente os aparelhos a~s feitos os reparos, sempre sob a supervisão dos artis
.16•zyxwvutsrqponmlkjihg
.,
tas, Atroaves desse aproveitamento dos profissionistas, a imagem negativa que
mesmo em que ceasam suas funções principais. Além disso, o seu aproveitamento
meiro do corte, no entanto à primeira vista esse per!odo pode parecer atenuar
- Mas"
,., é arte?~zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLK ~
~
como cozinhador, fazendo açucar, ~
ne, a gra do açucar,~ -
___ E. E arte. E arte porque, a gente nesse tempo, a gente ta trabalhando
mas quando a usina
pára, a gente vai trabalhar na ferramenta. TrQbalha na ferramenta, a gen ...
te faz serviço como serralheiro, encanador, esses serviços que pertence a
essas artes. Qualquer serviço que pertence a caldeiraria, de montagem, es
,
sas coisas, a gente faz, ne. Serviço de braçal, que pertence ao apontamen
-
to da seção de fabricação, que é escalado pra gente fazer, a gente faz."-
(cozinhador)
pc" a uma "época ruim", parece reestabelecer aquela oposição; enquanto o pro •.•
fas gararrtIda durante todo o ano , como que invertem a interrupção sazonal da
rias. No apontamento, o prot'ãssí.onãata não tem lugar senão como ajudante, op~
., . ~ '"
rarlO secundaria, e parece ser uma propriedade deste periodo peculiar do trab~
(7) Durante a"moagem os p:rofissionistas trabalham 12 horas por dia, e no apon •..
tamento so trabalham 8. Os ar t.f.s'taa , que na moagem trabalham normalmente
8 horas, freqüentemente com 2 horas extra7 trab~lham muito mais no aponta-
mento .•12 horas por dia ou mais, sob o regime da empz-e í.t.adaou sob o regi-
por hora. Ver o ce,pitulo 11.
me do 1J!:,,:,_8.rio
discurso, essa pos:ição a,mb{guae de certa forma intermedjÉ,ria. de sua catego
:.,'';';'c_ vJ
...
O modelo meemo da
~ ~
ta acima, e a ~~!::.
O ~T2:?!2:'::.~:2~2:::Cj;_3:.
tcr::".c a C.P,I,3::?::-·,;:eY'.'1. clét:::;sifieaçao e se
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFE
radar servem, no entanto, pClr3. incrodr'.zil' com maior nit:~d"Oz a dlstinção entre
mente dos serventes e se aproxima dos artistas por seu períOdO de aprendizado
por outro lado, ele se distingue dos artistas por manipular aparelhos inseri ~
fissão na fabricação:
-
""
, ~
(8) O cozinhador
~
e sempre chamado pelos outros operarios de "cozinhador",
-
a.o
contra.rio dos outros profissionistas, que sao chamados pelo nome do indivi
;
duo: "O cozinhador a gente nunca chama pelo nome, só chama mais por cozi -:
nhador: 'Quem é o cozinhador que está no horáriO? I 11 (esquenta-caldo).
.20.zyxwvutsr
N """ , /\., ,..,
dos artista.s -- chame atenção para a categoria mais abrangente em que se ache.
nistas de trem -- os quais se distinguem mais claramente dos serventes que tr~
(A ~
ba,lham no carregamento dos ve~culos, tem sua profissao reconhecida de uma ma. -
neira mais imediata (9). Com relação aos profissionistas que trabalham, na. es-
prima durante a moagem, como também por sua maior importânCia, relativamente
Com efeito, muitas vezes são os próprios maquinista e foguista que asseguram,
(10)
sem a supervisão de um serralheiro, os reparos nas locomotivas
de aprender, ele pode não aprender logo a cozinhar mas aquele serviço de dosa-
cupação por ele desejada era a sua profissão na usina anterior, embora nunca
ce tem fisico, tem estampa, mas voce, tao novo.' -- 'Não; traba
lhei no armazém da Usina Y.' Ora, na Usina Y eu era guarda-freio.
;
Ai continuava a tra-
;
se que essa sua afirmação diante do patrão dá-se na passagem de uma ocupaçao
- ~
a outra e nao no proprio desenvolvimento da profissao - do operaria./
E essa a ~
·22.
_ , Â
firmaçao tem que se aproveitar das proprias carencias que tem a profissão do
servente, Com efeito, esse tipo de "malandragem" para entrar na usina em cer-.
tas ocupações não deixa de ser complementar a outra maneira mais freqüente de
de f avores, de re 1açoes
- de pro t eçao
'" e apadrlnhamento
. (11). Esse tipo de in
niPulação que têm os operáriOS nas suas relaç;;es com a admi.nistração da us ina.
(12) Logo no inicio da entrevista com esse turbineiro~ ele imediatamente decla
rou seu repúdio aos cortes a que foi submetido no inicio de sua vida de
trabalho nas usinas, mostrando assim não somente o caráter negativo e ver
gonhoso do corte dos serventes, visto retrospectivamente por um profissiõ
nista, mas tarribemsua vontade de tornar-se. um .profissionista a partir
, de
determinada fase de sua vida produtiva: "Com 9 meses, corte. Eu Ia tam .-zyxwv
; -I ~
bem nao vou mais. Se aquela usina me cortou e porque nao me quer mais."
.23·
Essas possbilidades de manipulação opçao -
se colocam para aqueles que têm porzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYX
tes, menos pelo tempo de aprendizado necessá.rio que pela estrat~gia de vidavol
çao, mas essa distinção aparece de maneira subjacente ao seu discurso, por e -
seção de fabricação.
3. O Artista
ra situar a profissão tem que referir~se a um outro contexto que não o da sua
usina.
a ferragem.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON
Chama aquele pessoal que ta ali pra fazer o serviço .
Né, Quer dizer que esse não vai fazer aquele serviço pequeno ,
; /-
quem faz e os pequenos mesmo, ne. Que nao tem classe. Aquele vai
manda.r somente. Fabricação: tem o chefe, pra olhar, mandar aquele
,
pessoal que ta ali, fazendo, um toma conta de uma seção de tanque
de mel, outro toma do, do vácuo, pra cozinhar o caldo, cozinhar o
mel, né. (SOldador)
-, / ~
Sua descriçao, ao contrario da dos profissionistas, nos da uma ideia da.zyxwvu
_ ~ _ J
deia de máqUinas que por sinal não existe nas oficina.s Com efeito, empora, o
ja. e profissao.
N
~ e" ar-
Profissão. E finalmente, o tratorista, nao
te, é profissão. Motorista é profissão. Tem muitas profissão. p~
que aquilo ali é feito pelos outros, né. A arte, a gente assume a
quela responsabilidade e faz aquele serviço. O planador, pega uma
,.., .I ./ ./
"p .
Coz~nhador
.-
e uma arte?
R - Não. Porque ele já vai pegar o material quase pronto. E se
trata da arte quando o camarada ele pega aquele material e
"
(13) Para. uma analise da categoria arte entre os artesaos do ouro, trabalha.ndo -
em pequenas manufaturas em Joazeiro do Norte, categoria esta que tem mui~
( , Â ,
dro d& organização do trab&lho n&s oficinas. Os operá.rios se organizam a.i, emzyxwvutsrqponmlk
ção completa de uma peça, o que aliás está contido na definição mesma do ~
~ ,
~ que e dada pelos operarios: saber fazer as peças. O fazer do artista res-
da usina não exija de seus operários nenhum aprendizado mais prolongado, como
'" , . . ,..,
seria o caso doS operarios das fabr~cas urbanas de mesma prof2ssao que os ar -
, ,
tis tas da oficina, ela se assemelha a fabrica urbana e se distingue da oficina
ria assim a desvalorização do trabalho manual por parte do usineiro e sua admi
.. ,
nistração. Assim, se a categoria de responsabilidade tambem e acionada pelos
"-
artistas, como nas palavras do serralheiro citado acima, essa categoria nao im
.29.
pLlca, nesse contexto, a dependência ao material do homem e, portanto, uma de •..
de sua arte, como indica o relato dos operarios sobre a existencia de um exame
,
formal no qual o operario provaria sua qualidade de artista.
"p - Para a usina fichar o operário como artista, tem que constar
o que na carteira profissional?
,-
R - Tem que fazer todo teste pra provar que e um artista mesmo.
P - Ai o documento ficaria com que nome?
R - É com serralheiro, ou encanador, ou caldeireiro. Tá vendo. É
,
um artista, nê, O camarada faz aquele teste, passou, ai tem
que botar no documento dele.
, ,
P •..Como e esse teste? Quem e que faz?
, A ,
R - Ah, e o mestre, o mecanico. Chama ele, da uma peça pra ele
virar, fazer aquela peça, traçar, nê. Montar ai essas chapas.
.30.zyxwv
,
•..
- "Faça. ai um ta.nque" Trace esse tanque, que eu quero com
tanto, com tanto", ne,.-
P - Ai dá as medidas.
R • Dá as medidas, né, ai ele pega. aquela escala, vai traçar, cor
ta a chapa, quando arma, o soldador solda, ai fica certo, né,
aquela peça. E se ele não souber ele mata a cha.pa, né. Cor-
tou a chapa e não fez a peça. Quer dizer que não é um artis-
ta., nê, (ri)", (soldador)
A descrição desse "teste" aponta para uma diferenciação interna entre oszyxwvutsrqpo
tam efetivamente tarefas de artista mas ou ainda são ajudantes, ou, tendo sido
transferidos da seção de fabricação para as oficinas, não t~m uma grande expe-
riência tal que possam assumir os reparos de execução mais difícil que os ar -
tistas mais antigos sabem fazer. O soldador, por exemplo, está colocado nessa
posição de "meio-oficial", executando tarefas tidas como por minha conta (14),
-" , zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIH
sem a supervisao de um operat'io principal como e o caso do ajudante, mas, devi
zer uma peça completa ou um reparo maior e assim não ser considerado um artis~
ta mesmo (15)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJ
Se este artista mesmo e reconhecido pelo codigo dos operarios
, J .-
aquela peça.
(-- Quer dizer que o sr. ~ um artista?) (continua)
.31.zyxwvutsrqpo
~
de oficinazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
~-
lise ele nao souber ele mata a chapa, ne, cortou e nao fez e. pe ••
nou~se artista, o que ocorre com o soldador citado na nota 15. outra forma. de
manifestaçao - -
dessa diferenciaçao - ,
imposta pele. adminis.traçao e~ o proprio "tes -
,
te", feito na presença do chefe de oficina. Embora esse teste se refira a de-
monstraçao - .-
que o operaria possa fazer de sua arte, pelo fato do teste ser san~
N
mal diante do chefe: o !iartista mesmo" é reconhecido por sua prática cotidiana.
Poder....
se-ia pensar no máximoem uma intercambic,lidade de tarefas restrita: os
fas entr~ eles, maS tà1 não deve neceSsariamente ocorrer entre os artistas, os
quais devem ter uma relação de ordem entre eles para a realização de suas di ~
..
versas tarefas. Isto e, um caldeireiro pode assumir tarefas de um encanador e
e ser auba tarrbdvada de maneira abc ol.uta : de qua.Lquer modo ela indica ummode-
intercambialidade de t3~re~3iél.
"
das artes ja imp11
/
cita no deaenro'Le.r do 11 exame " , do que para a necec2id2,de que tem a administra ...
,.. ; .
çao da usina de Legâ t âmar alC;l1D8
al,tist28 e €2te.';elsce::: entre os propr aos ope ...
.-
rários uma certa ordem hierárquica, CCCilO se vc~'a adf.ant.e ,
/ A
Em segundo lugar, os opere.r-í.os feIc.LU da md.ct~ncic), even+ua.L de uma com ,..
/ ,
p1ementariedade entre os traba!J10s ut.e'Ls de oparar-Los ou c1.e diferentes grupos
A
de operários, necesse,ria. para a fabricaçã:::>de determim,d2,s pecas . A existen ,..
cía dessa divisão do tr2,balho entre artes e entre tarefas, de certa forma im -
'lQ serr~üheiro tr:-t'balha na of'Lc í.na J E tsm uma lJB.,rtena usina que
.33.zyxwvutsrqponm
ele trabalha também na.usIna . @sina no sentido de seção de fabri-
caçã~ Reparando, reparando aqueles neg~cios, aquelas máquinas. D!
sarmar as máquinas e monta.r de novo. Faz limpeza.. Ai aqueLa peça
tá estragada, o serralheiro conhece que tá estragada., ele pede ao
A N , ,
mecanico. fBom, essa peça nao ta.mais prestando pra maquina. Man-
~
da o torneiro fazer'. Né? A:Í o torneiro faz. Às vezes ocupa.zyxwvutsrqponmlkjihgfedc
ate
o caldeireiro. O ca.ldeireiro vira aquela peça, o torneiro pega e -
~
la, com as medidas, no torno, que o serralheiro pediu, ne, quando
ti pronta entrega ao serra.lheiro, o serralheiro vai, monta aquela ~
quina. Quando bota a.quela peça, ela entra certa. Pra.fazer o mo-
vimento da máquina. Compreende? Às vezes uma peça ocupa 3 ofici -
a.lou quatro. 11 (soldador)
,
A complementariedade de tarefas ao se opor aparentemente a imagem da in
pIes que venha a ter a organização da produção na oficina, tal como a supusemos
final -- o qual apresenta uma certa exterioridade com relação às suas distin
tas partes. Ela. pode se dar ta.mbémde maneira conexa , isto é, há um encadeamen
to entre as etapas da produção de uma determinada peça tal que um grupo inicia
suas tarefas se e somente quando outro grupo finda as suas. No entanto, a com-
,
plementariedade dos diferentes trabalhos uteis -- tanto sob sua forma de produ-
ção de partes simultâneas para posterior montagem, Como sob sua forma de produ-
ção conexa -- nunca se torna rígida e ossificada como em uma divisão do traba -
nhecida.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
I'
prendizado múltiplo por um lado, do "ritual de passagem" para a arte assim co-
se à sua forma geral de cooperação. Assim, essas imagens n~o indicariam uma
• "'. ~ A
~ncoerencla na maneira em que o operario ve o procecso produtivo, mas, ao con-
/
trario, se refeririam a distintos aspectos desse processo. E esses distintos
aspectos se conj ugam pela flexibilidade mesma do eLemen to de 1 igação entre es-
, ,
ses grupos de operarios aparentemente distintos. A forma especifica sob a qu~
tualiza na. oficina nos daria a chave da conjugação desses distintos aspectos.
,
Com efeito, se a complementariedade entre os diversos grupos de opera
ligação entre esses grupos? Pois na oficina não existe um sistema de máqUinas
essa ligação é realiZada não pela sólida estrutura metálica da cadeia de máqu~
nas, mas pela intervenção direta e constante da não menos sólida estrutura hie
como uma produção descont1nua. Mas pode-se pensar tamb~m de maneira inversa :
o artista pode estar vendo tal seção como descontinua não por um desconhecimen
os operáriOS sem uma mediação que implique em uma cadeia de máqUinas cadeia
I I
visão dos artistas reside no fato de salientar que, mais além da presença da
à percepção!zyxwvutsrqpon
cadeia de máquinas na seção de fabricação, presença que se impoezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVU
~ ~
mediata de um observador exterior, esta presente a estrutura hierarquica em to
-
das as seçoes da usina.
lho feitas pelos artistas -- como nas citações acima. Ao descrever a aeção de
"Fabricação: tem o chefe pra olhar, mandar aquele pessoal que está ali". -- co
vel pelos reparos à. maquinária da seção, tem uma ascendência sobre seus opera-
faz qualquer coisa dentro da usina. O que ele mandar" < O 'ele
ti , sujeito inde-
dução habitual da oficina, através das ordens do chefe da oficina nesse con
/
texto de "ritual de passagem" para a arte ele e chamado de mestre que "enco
menda" uma peça ao operário: "Faça ai um tanque. Trace esse tanque com tan -
.37.
E, fit\ailri~t1te ~ hEI. tieâo:t'i~o Sbb:l'é e. complementariedade
to, com tanto."zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA de ta-
l"e!fa.l:1,
~,
O mecanaco , chefe da. oficina, aparece como uma medãaçao
-zyxwvutsrqponmlkj
;
necessaria en .....
têm a hierarquia da usina ~reBente como mediação para o~da operação de seu pr~
cesso de trabalho, mas t~m esse fato presente em suas representações sobre o
~ ~ ;
(16) Essa mediaçao da administraçao da usina para alocnr tarefas aos operarias
; ;
usina, que nao faltasse mais ninguem para ser substituido, e quando era
quatro e meia, cinco horas (da manhã), estava de volta. '"E muitas vezes
ocorria que havia um acidente na usina, quebrasse uma maquina, parasse u-
/ '" '"
ma maquina,. alguem ia Ia me chamar, para eu determinar quem ia ser chama-
~ '"
do, o operaria a ser chamado, para ir consertar a maquina. 0:: por outra,
eu tinha que descer para tomar as provid~ncias para a usina nao parar nem
perder tempo sem moer."
Esse relato nos indica como o exerc:Í.cioda direção da usina por parte da
administração difere segundo ele se aplica a profissionistas ou a artis ~
tas: enquanto com relação aos primeiros a administração tem que :çiscali -
zar estrategicamente a mudança de turno -- o funcionamentoautomatico das
máqUinas encarregando~se do desenrolar normal da produção -- com relação
I _
bre o trabalho e sobre o preço do trabalho se contabiliza por horas e não por
rio e o inicio de outra, do "que ter que fixar o preço de cada operação para a
tração da usina tem que redobrar sua vigilancia na oficina para fornecer um
,
fluxo continuo de tarefas ao conjunto dos operários. Ha normalmente um volume
nado tempo médio estipulado pela administração no qual têm que ser cumpridas ,
~
obrigando assim o operario a uma intensidade de trabalho para a qual ele -
nao
tempo para a sua execuçao, fato este que se sobressai da comparação com a fal-
fabricação.
,
"A gente tem que dar produção, n~. Fazer serviço. O mestre da um
bocado de serviço pra ele. 'Bom, eu quero isso de hoje pra ama
nhã', né. A gente tem que fazer, né. Também a gente não vai mor
rer no serviço, né? Tem que trabalhar pra dar produção, pra fazer
o serviço. Se hoje não der pra acabar aquele serviço mas amanhã a
~ ~ A
gente acaba, né? Tambem nao vai passar tres dias nem quatro nem
cinco com aquele serviço. Tem que trabalhar.!l (soldador)
,
Submetido, pelo regime do salario por tempo, a uma intensidade do traba-
.40.
lho sem contrapartida, o dpêr~rio de oficina nó entànto pode tirar proveito de
seu dealocamento eventuàl para outras tarefas que não as suas para aprender no
ve.s tarefas, ou para demonstrar, perante seu chefe, sua capacidade em assumir
ele deve se preparar para" quando houver um pedido eventual da hierarquia, de-
sim adquirir, isto é, melhorar sua posição com vistas a uma. designação para u••
"Eu não sei estudar, assino o nome. Mas, graças a Deus, que eu ve
jo fazer uma. coisa hoje, fico ali, e tal, com uma semana, já dá pra
,
gravar. Ai, os mestres, foi me tendo confiança. Mandava fazer e,
,
eu nunca dizia que ia fazer Ia e fazia. Porque eu não olho as
vezes o ordenado. Tou olhando aquilo que eu quero adquirir. Mes-
, ,
mo quando sacrificado Porque tem gente que as vezes ta sacrifica
do , no ordenado, e não quer pegar aquilo ali, aquela função, por-
que o ordenado não dá, ele não quer assumir. Não, vá assumir. Mos
tre boa vontade que o supervisor vai vendo, ai" chega o ponto que
a pessoa. quer, e depois o ordenado melhora. 11 (serralheiro de gara-
ge, ex-motorista)
.-
Tambem alguns profissionistas, com seu aproveitamento nas tarefas do a -
'"
ponta.mento, podem tentar mostrar habilidade nessas tarefas para uma transferen
.-
eis. posterior possivel para as oficinas:
tagem dos aparelhos sob a supervisão dos artistas, durante o apontamento, quan-
trimento da lógica da arte; tais operários são mal vistos pelos outros artis -
tas quando aqueles ascendem a cargos de mamo como "imediatos li ou "caboa ir dos
,-
supervisores nas seções da usina. Pois os operarios de oficina operam uma dis-
_ A A
tinçao entre os flartistas mesmo", que tem uma ascendencia sobre os outros ope -
tre os "imediatos 11 ou "cabos", aqueles que ascenderam pela confiança que a hie-
ritmo de produção da usina ao controle parcial que têm os artistas sobre o rit-
rio para tornar-se um artista legitimado pela administração da usina, exame e!zyxwv
;
dos a formar um elo acima dos outros operários na corrente hierárquica da usi-
uma seção de máquinas na fabricação, exerce também uma supervisão sobre os op~
bre seus ajudantes, seja sobre os profissionistas e serventes. "Quem tem arte
não vai fazer aquele serviço pequeno, quem faz é os pequenos mesmo. Aquele vai
ções dos "imedia.tosli ou "cabos" faz prevalecer suas tarefa.s relacionadas à. dia
E é nesse per:lodo que essa ascend~ncia dos artistas sobre os demais operá.rios
com esta quantia ele pagará aos operáriOS que ele recrutar e tirará também a
pode ser maior ou menor segundo as usinas, ou segundo o tipo de serviço a ser
,
executado Em alguns casos, o artista pode recrutar seus operarios na emprei-
, , -
tada a vontade, em outros casos estabelecem-se limites a designaçao pelo arti!
A ,
ta de seus subordinados: eles tem que ser fichados, sua escolha e feita de a -
cordo com o chefe da oficina. Em alguns casos, o artista recebe o pagamento da
de determinada tareta)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
mas ao c8ntra.rio esperaremoofe~ecimento pot parte dêzyxwvutsrqponm
Exfatê
tO) oU
~tlo
meSmo
um regateio
diretamênte
entre O dPet4rio é Ó chefe de
No oferecimento e no
-
... ,
proeesso de regateio existe uma afirmaçao dooperario e do seu poder de nege •
'c. recurso à. empreitada. por parte da usina. demonstra. que o cará.ter desc.oa.
tendo uma certa noção do quanto eles estão deixando de ganhar sob este regime .
tanto',
-
bakhar , ai eu digo: 'Faço ,por x I. Ai ele vai discutir. , 'Nao, eu se
e tal, 'Mas nao da, e tal, e fica naquilo, ate que chega um ponto
dou
que não fica nem comoa gente quer nem como ele quer, e fica. Então aqui.
10 a. gente pega a tra.ba.lhar mesmo. (caldeireiro) fi
·45.zyxwvutsrqponmlkjihgfed
sua organizaçao
- '" .
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
pela proprla equipe de operarios
~
e a organização da produ -
te imediato, o chefe da oficina. Por outro lado, a empreitada pode vir a soli
rios que a administração da usina tem que preservar a todo custo. Por isso, a.
viços para a realização de consertos em várias usinas. Parece haver uma ten ~
casa. Esse recurso aos empreiteiros de fora e" muito ressentido pelos artista~
(20) "O usineiro tem paixão mesmo de acolher mais bem aos empregados. Ele tem
paixão mesmo que os empregados sejam mais bem acolhidos, mais bem alimen-
tados, casa mais bem ajeitada, e assim por diante. E que o operáriO, ele
consider~ muito pouco. Por~ue vamos dizer que~um serralheiro, um caldei_.
reiro, sao uns homens que e a coluna de uma fabrica, de uma usina,mas nao
• _ N ~
tem tanta cons~deraçao. Aqui mesmo, tem um rapaz, Joao, aquele rapaz e
tão esforçado pelo trabalho que é uma coisa demais, trabalha coitado, mas
acontece q~e às vezes na pejada [guando acaba a moage~ vem oficiais de
fora que sao muito mais bem considerados do que ele, ganha bem, tem bons
lucros no fim, e ele ai só falta
I., morrer de trabalhar, trabalha muito.
, Des_zyxwvutsr
de menino que aquele rapaz, e outro que so conhece essa usina tambem. MUi
tos filhos, muito esforçado. (cozinhador) ti
.46.
manente e nunca cumprida que t~m os patrões para com os operários da casa, que
sao sempre prejudicados, enquanto os que vêm de fora tudo conseguem (21).
trabalho dos operários de oficina que trabalham mais de doze horas e chegam àszyxwvuts
,
vezes a dobrar, isto e a trabalhar dia e noite, com intervalos muito curtos
oficina têm que se conformar então com O pagamento de suas longas horas de tra
sa sao os operarias que geralmente fazem toda sua trajetoria social den -
(22) "Eu não conto as vezes de eu ir trabalhar de dia e de noite sem parar. Es
ses dias mesmo, a semana. passada mesmo, eu chegava em casa, saia de casã:
pela manhã, chegava no outro dia. Às vezes vinha, para eu comer, a mdher
me mandava o almoço, café, essas coisas, e eu comia na usina." (caldeire.!
ro) .
A zyxwvutsrqponmlk
a qualquer hora do dia ou da noite, em caso de quebra de maquinaria ou urgen .•
~ , ~
cia de serviço, para trabalhar" Essa invasao da area domestica do trabalhador
Atraídos pelo salário-hora mais elevado, pelo fazer do artista que indi-
como o ~nico lugar da usina que gostariam que seus filhos trabalhassem. Mas os
~ ,
operarias de oficina, em particular, por conhecerem estas caracteristicas fava
~ ,
raveis da qualidade de artista de perto, possuem ao contrario dos profissio
-
nistas de fabricaçao "'- um desejo remoto de passarem para a oficina,
que tem mas
A / A _
de fato tem um calculo economico voltado para o curto prazo: sao os "contado -
res de hora" ••- um cálculo econômico voltado para um horizonte de tempo maior,
ção de artista almejada por sua expsctativa. Eles conhecem o cativeiro de te-
rem de atender o chamado para o trabalho a qualquer hora, sabem que as emprei-
varrtagens
mais elevado não lhe traz tanto.;:; materiais a ponto de distanciarem -
, A
se do nivel de subsi8t~ncia dos demais operáriOS. Os operar Los de oficinazyxwvutsrqponmlk
ve-
em assim que a posição maxima poss Íve'Lde ser a'l.cancada por um operár í.o de usi
_-
A
4. O Servente e o Aju~~Ete
,-
A expectativa. de tornar-se um arfuta esta preGente Ç1.up,se
que por defini-
çao no ajudante, categoria que se refere com mais freqüência à oficina (23)
(23) ':Ja seçao de fe,bricação existe ('\,PC:1aG o aj udant,e de coz á.nhador, única pro-
fi8são cujo apr end.ízado neceznã+a de tm te:nro m8,:1.')}:.0.3 oubr os s&:oser ..•
ventes.
.49.
A zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR
~
mo, embora sob a aac endcnc âa do a,rtista, como tambem pode resultar em queixas
força de trabalho.
sim não'. E se eu fize8:Je bom ele dizia: 'IJã0, rt.ü eu que fiz, eu
mandei fazer asc ãm bom'. M~,8 sabe, quem era o serr::üheiro era e -
le, então ficava tudo por i880 mesmo, tá tudo certo, né. Depois
que eu cheguei aqui foi que o mecânico @hefe da oficin~ mandou eu
trabalhe,:::, por mânha corrba s " (8 erralhciro)
~ ~ ~
Sendo ou nao boa a r el.açao ontz e o operur ío pr inc í.pe.L e pr;u e,judante, no
entanto essa ~ uma re18,ção "forte", como denotam as expres::;oos trabalhar - por mi
ais, também a sua permanência como ajudante não é isenta de perigos. Conforme
suas relações com os empregados, ou mesmo com seu operáriO principal, o ajuda~
te pode ser eventualmente afastado para outras ocupações ou ser cortado. Por
exemplo, nas entrevistas, um rapaz conseguiu uma vaga como ajudante de tornei-
, ;,
ro, atraves de um pedido de seu pai, continuo de escritorio, dirigido ao gere~
te. Houve depois, no entanto, mudança de ger~ncia, cujas relações com o cont1
-
nuo nao eram as mesmas. O rapaz foi transferido para o lugar de ajudante de
-
serralheiro, o que nao era do seu desejo, e era cortado todo ano durante aI
gune meses. Além disso, o rapaz conta que sua relação com o serralheiro era
gerente que lhe rebaixou, e a c~nfiança no antigo gerente ~- tanto mais que o
- , ;
sindicato, que foi acionado, nao correspondeu as expectativas minimas que ti -
do ano. Então} dependendo de relações pessoais que tenham, podem arranjar al-
mas ).zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJI
Dentre a populaçao operaria fixa das usinas geralmente existem
- I
grupos
tes sem colocação, que vivem desses ganchos eventuais, ou em tr~nsito entre um
.51.zyxwv
,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZ
emprego e outro fora dali, aguardando o serviço militar ou recem-chegados de _
le. Eles constituem uma mão-de-obra excedente, gerada pelas famílias dos ope-
rários, pela própria reprodução de sua força de trabalho. Eles são conseqUên-
cina. justificam isso pela ideologia do fazer: "Ajudante tem que ganhar saláriozyxwv
I
,
minimo. Porque não faz nada pra usina. So faz ajudar compreende? E ganhando
mais que um salário-m:Ínimo quer dizer que já faz alguma coisa pra fábrica". Ga
retamente pelos operários para seus filhos, pois, próximos à usina, ao mesmo
tempo em que valorizam o lugar de ajudante, estão também mais aptos a Pleiteá~
ral e o trabalho na usina. Embora o servente possa ter outros destinos que
-
na.o o trabalho na. usina, podendo migrar para a "capital" ou passar a trabalhar
secundarias
/ ."-' ,
com relaçao a produçao,
- como tarefas de limpeza. Varrendo a esp~
·52.
nada, evitando o esborro do caldo em tanques, transportando material auxiliar,zyxwvutsrqp
~ ,
trabalhando nas caldeiras ou no ensacamento do açucar no armaZem, os serventes
ai então entope o ralo. Então fica um exclusivamente ali pra limpar aquilo ,
Á zyxwvutsrqponmlkjihgfedc N /
te é um serviço pesado. Não tem profissão nenhuma, não tem uma arte de nada,
,.., - I' ,
nao aprenderam nada coitados) entao diz que e serviço de curau, que o curau so
uma pessoa faz. Né, porque a gente tem essa prática na usina de dizer: 'Ah ,
/' , ~
isso e serviço de curauJ e bobagem, qualquer um faz rapaz, e muito pratico de
(24) Nas usinas pr-oxímas ao Agreste, a maioria ~dos serventes e realmente "cu-
,
z-au'' ou "cqrumba'"; , nas usinas mais proxãmas ao litoral a maioria. dos
mas
serventes e constituida de filhos de trabalhadores rurais dos engenhos.
As tarefas dessas turmas -- denominadas !1turma do embala", "turma auxiliar"zyxwvutsrqpon
J
compreendendo que a lógica do servente pode ser outra: muitos serventes privi-
vente, assumindo a visão depreciativa que OS outros operáriOS têm de suas tare
-" ,
fas. Para o servente em busca de uma colocaçao estavel na usina, a propr ta d~
sua descrição do processo produtivo, menciona os serventes mais que a sua pró~
do servente -- caráter este presente com maior ou menor freqÜ~ncia para todos
, '"
os operarias -- e a falta da profissao
- e da arte que o desvaloriza mais aos 0-
lhos dos operáriOS: "Então, esses outros que não sabem nada, então dá-se o no-
me de servente fi •
liA parte mais pior da usina, que puxa mais pelo trabalhador, ~ aquela pri
me ira seção daonde descarrega os caminhão, vasculhagor~ ali são as partes
que os cara trabalha mais,sabe. As caldeiras, tambem e um serviço que e-
-
les trabalha muito. E também tem uma atividade muito grande, ainda mais
da pessoa nao cair. E os serventes da caldeira tambem," eles trabalha mui
to porque trabalha com uns bangué de bagaço botando força. são umas se -:
!'w A ; ,
çao, duas, tres co~ o"turbinei~o, e ali onde eles turbina o açucar, aque-
le, movimento,
, tambem e uma seçao que eles trabalha muito e ganha pouco ,
ne. Ali e sem parar. / _...... camaradas que carrega aquela mochili-
Ele e aqueles
;
nha na cabeça, armazem, ne. Sao as quatro seçao dentro da usina que eles
trabalha mais. Puxa mais pelo corpo. (cozinhador) li
Se na êia~sificação dos operários a categoria servente refere-se às ca ~zyxwvut
/ ~
raeteristicas do trabalho util executado por essa categoria; no entanto os op~
/ ;
rarios reconhecem que esse termo assume um conteudo legal quando presente na
~
carteira de trabalho: muitos profissionistas da fabricação e muitos operarias
trabalho especifico do que em função do tipo de relação que cada categoria man
,
tem com a administraçao
- da usina} a ruptura entre servente e profissionistazyxwvutsrqponmlkji
a-
servente. Uma parte deles volta toda safra, regularmente, para a mesma usina.
as vezes com neve mes, corte. Eu 180 tambem nae vou mais. Se aqu!:
, •..
le. usina me cortou e porque nao me quer ma.:1a."(turbineiro)
,
No ent&nto, como para o atual profissionista & epOca, em que era servente
"Naquela. época. sempre tudo era mais favorável, a. gente saia. duma.
usina .•a gente sa.ie.de. usina: 'AhJ rapaz, tomara. que eu sa;Ísse no
corte, porque eu vou trabalhar no campo'. Eu digo! lEu não vou
pro campo, porque eu nada seio, mas vocês querem ir, vãol• Ai che
'"
gava.aqu~_les dez .•doze homens no engenho: •. t Meninos que que veces
..
querem? .'Nos queremos tra.balhar", O administrador dizia: ! Olhe
meninos, tem sulco, tem ruço, tem plantação, tem cana pra semente,
tem cambito, tem levada, o que vocês quizerem aí pegam'. Ai a tur
~a emburacava., não fa.1tava dinheiro, né. Era pouco mas se ganhava
bem, não faltava serviço." (turbineiro)
E a essa nostálgica imagem do passado se alia por vezes o sentimento de
,
que no ca.minho percorrido houve a troca. dessa mobilidade favoravel, dessa. fa.l"
••
"
tura. de serviço, por uma estabilidade ilusoria, escravizada pelas longas jor~
'" , ~
das de trabalho que mal equiva.lem a uma subsistencia precaria do operario e au
a fam:Ília.
5. ConclusãQ
I
I
_ A
Nao deixa de ser ironico e sugestivo que o operario socialmente
,
valori-
za.do esteja. exatamente na. seção oposta. à que é mostrada com orgulho pelo usi-
I neiro a visitantes eventuais: a seção de fabricação com sua maquinaria de alto
licadeza do produto que os visitantes todo dia vec~ em casa, dominado pelo fe~
tiche do produto,
~ .
fonte caãor í.ce da soberana doçura dos consumidores do mundo
,
inteiro, que, além de contribuir para a grandeza da Estatistica Nacional, e
também a. fonte imediata. e aparente de seus lucros; o usineiro não está preocu-
pado em mostrar sua força de trabalho, fonte de sua riqueza. De fato, na ofi-
~ " ~ A •
cina esta o artista, o proprio modelo dos operariaS, e a convergencla formal
II
;
das as coisas.
contemplar sua própria. obra acabada , o artista tem tamb~m uma asc ondencãa so -
; _ , A ~
bre os outros operarias, que nao e de pouca ãmpor-tanc ãa no, apr-ecde.çao de sua
condição _pelos seus companheiros não-s,rtistas: "O c~tista manda, não ~ nanda -
em que está inserido na oficina) que exige a Lnt.ervencao cons tarrte da hierar ••
. ".
quaa na pr opr aa corrtí.nuãdade norma'l, da produçao
,..,
, fazer.do···lheintercambiar cer
tas tarefas e at~ mesmo interl~.gar as seções da usína (serralheiro) ,faz do ar,..
tre eles, assim como operarios e empregadcs, mesmo em oeçoes da usina que nao
a sua.
Assim, enquanto o pr-of'Ls s ond sba da fabricaç2:o teria, uma v:Lsão "pos ãc í.o-
ã
nal" de seu próprio grupo) situando-se por refer2n~:La a do í.s outros grupos (os
I
l-
I
I
l
I
.59·
serventes e os artistas) e tendo por modelo de profissão, a arte; o artista
sive a projetar essa situação para outros grupos, como por exemplo quando des •..
"
veia para substitui~lo em seu lugar de trabalho e o artista que o dirige dura~
tes mas tendo a arte por modelo de profissão. Auto-excluindo-se como agente!
Essa relação politica dos operáriOS com os empregados, que está presente
permanece inaltera.da.
.,61.zyxwvutsrqponm
"
CAPITULO II
"zézyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFED
Amara na boca do fogo, traba-
lhou e não morreu."
, zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Com o vimos no capitulo anterior J os profissionistas, mais que os artia -
"-
tas, são caracterizados por serem os li contadores de horas". Eles tem
, A ,
numero este que indica para eles a contraçao ou a distensão de seu nivel de
se numero de horas tambem indica para eles o esforço a ser realizado pela uti-
lização de sua força de trabalho: justamente nos periodos em que o grande n~~
discurso dos artistas sobre o seu trabalho não está tão voltado para as horas
/'
·62.
lário associado ao tempo de trabalho e ao produto descrição esta que compl!
• t ( I
1. O Vapor do Dlabo, ou o Moto-Perpetuo da Maquinaria. Diante do Operario
,
Ao visitante eventual das usinas em epoca de moagem pode causar surpresa.
,
de meia-noite ate o meio-dia, e outro turno de meio-dia a meia-noite. Para o
seu tempo livre, momentos de seu precioso sono ou de seus afazeres domésticos?
construção civil do passado, tal como a construção de novas usinas, sao relata
, ,
das pelos velhos operarios -- que procuram mostrar a dureza do trabalho da ep~
-
trabalhava muito; virava.. Virava.. É dia e noite. Porque naquela
, ,
construçao, pra. fazer aquela chamine, aquela base de chamine, era
um serviço de cimento armado, pra não parar, n~o sabe? E eu ta.vazyxwvutsr
N _ ,
(ex.,.ferreirozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
e E'x•.•
vig:tn,;,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
3.jy:-;2 e::-."C,a:J.os)
'Eu que-
ro fo,zer 8. usina,
) cavando .P~
depc1s
v.í.m trn.bn.
/
,
, /
n e. rn2;.,~-_,;jse g;"'\<::ria'7a, ,1 ne ~ :2=-'2. o que se
/
M i13 tgmbc:m na -
.'
p egar a. f::,"e~ca Cl.a;~_G:f:'a -t?: '\:nrnc8 t:~~r:::.b8..~U~_:;~~,r:;
V2..:''l0':::- } s.,L a
rac8,vo .. li
.,.
caro certas caracte:r:Lst:i,r:'1S conatarrtcs do vamos enccn
alá e hblte ••• "). Tais trabalhos de construção civil ddnstituem.se em marcoszyxwvu
rão trabalhando na usina ap~s o t~rmino das construções (cf. capo IV). Esseszyxwvutsr
N 1'01 / '"
trabalhos sao portanto uma das transiçoes possíveis entre o trabalho agrícola
Ass im, esses trabalhos ocas ionais de construção civil, de dimensões 1Ifa._
A /
raonicas ll
pelo numero de trabalhadores empregados, pela precariedade dos ins -
trumentos de trabalho e pelo regime intensivo de trabalho, com sua grande jor-
nada de trabalho, paga sob a forma seja de uma diária com horário relativamen-
,
te fixo, seja por produção e então o horário ~ mais variável, tendendo a
cola -- tem por suporte o trabalho na seção de fabricaçeo com seu sistema de
I --
I
.66.zyxwv
, J
mo v1mótl no Ó!:l.p:Ítülo
anterior, os profissionistas descrevem o funcionamento i•..
,
rllhterrupto da seção de fabricação quase sem mencionar os atos dos operarios
que a.li trabalham: é como se, domin~dos por seu caráter de ajudantes das máqui
à revelia. dos operáriOS. Essa cooperação complexa das máquinas parcelares en-
lhos e transforma assim o conjunto de seus diversos trabalhos úteis em uma coo
peração simples cuja unida.de ~ dada.pelo sistema de máquinas. A cooperação ,
- ,
portanto, que existe primeiramente como cooperaçao complexa das maquinas de 0-
crição que um operário de oficina daria da seção de fabricação, como vimos an-
, ~
teriormente, fazendo abstração da cadeia de,maquinas -- cadeia esta incompati~
- - ~
(1) Para a compreensao das formas diversas em que a produçao na usina e organi
zada, cf'. os ca.pitulos XrTIJ. XIV e XV de "O Capital", OS quais foram utilI
zados tanto no presente capitulo quanto no capítUlO anterior (Marx, 1969)~
nos descreve a seção de fabricação a partir de uma unidade dessa cooperaçãos~
, , ,
tinuo, executado por uma cadeia de maquinas diferentes, combinadas umas as ou.
,
tras e funcionando ao mesmo tempo sobre a materia-prima, de tal forma que o
transição de uma fase a outra. Verdadeiro sangue que percorre todo o corpo da
da cana, tratado com tal perfeição tecnol~gica que faz da usina um lugar de
produção ininterrupta, esconde com exuberância, à sua revelia) tal como vere -
mos neste capitulo, o sangue verdadeiro que está sendo extraido durante todo o
como ele percebe essas condições de trabalho de forma oposta a ele (2), de pr~
(2) "Catende foi a primeira usina que eu trabalhei. Nunca tinha visto usinal:es
se informante estava chegando do{ Cearái.
:.J. Eu cheguei
/ l~, num hotel em ; Cat-en
_
de, tomando uma bebida assim, a~ chega os operarios" coisa e tal e Ia vai. '/
Um se deu comigo e disse assim: 'Rapaz, que que esta fazendo?' Eu disse:
'Procuro trabalho'.
,,... Ele disse: 'Quer trabalhar comigo?' Eu disse: .,'Mas ra-
paz como e que trabalho? Eu nao conheço usina'. Ele disse: 'Vamos Ia na u~
/ ;
po, turbina, o Sr. ve, aqui e muito moderno. Naquele tempo, a gente espia-
va assim, parecia que era um lugar que o diabo trabalhava dentro. O vapor
.68.
priedade alheia e personificadas no patrão ou na administração (3) .Ao
da usinazyxwvutsrqponmlkjihg
empre-
go, cada aparelho, assim como o conjunto das ferragens, tem um funcionamento
tivos ao usineiro para efetivamente produzir 24 horas por dia. Com o aumento
,
da jornada de trabalho, o valor da maquinaria se reproduz mais depressa e o u-
fixo.
, .
Alem d~sso, recuperando rapidamente esse valor, o usineiro pode se pre-
caver com mais facilidade do perigo de "obs ol.escencãa moral'; de suas máquinas
(perigo de que, enquanto ele ainda não amortizou suas máqUinas, seus concorren
era demais. Era 3, 4 vapor dentro de uma turbina. O camarada tava traba
lhando, tinha uma turbina aqui encostada, ele não via. Era 36 turbinas as
s ímyque trabalhava direto em Catende, a gente ~ão via quem tava dentro ,
.-
descarregando o açucar dentro da turbina. Era muito va~~r que tinha dentro.zyxwv
-
, I ,
Aqui tem agua, mas la era vapor. Ai ele disse: 'Eu trabalho aqui, quer tra
~ ~
balhar comigo?' Eu disse: 'Rapaz, aqui~nao trabalha gente nao, aqui so
trabalha diabo. 1 (risos). Ele disse: 'Nao rapnz, depois que tu acostumar,
fica tudo certo.' Eu disse: 'Certo I, ai fui trabalhar . Falemos com seu Jus
tino, que naquele tem~o não era gerente, era fiscal. Ai fiquei trabalhandõ
com ele. Depois de tres meses, acabou a moagem, fui cortado.\! (ex.•turbinei
ro, ex-cabo de turbina, e atualmente serralheiro de turbina) -
da usina -- ele pode então transferir esse valor recuperado com base na sobre-
gricola da usina, nos seus transportes, ou mesmo aumentar o seu consumo de usi
neiro
ç~car para produzir a todo vapor, A seção de fabricação trabalha sob os rigo-
I
I
tria rural. Não somente o usineiro utiliza, durante a moagem, a maquinária
usina 24 horas por dia -- realizando assim o prodigio de moer em oito meses um
da
rI ~
Com efeito,
(4 )
03 usineiros
co
preferem
aumentar o volume de canas esmagadas e assim dar V8Z';:O ;;. quarrt Ldad e de cana que
(4) Por acaso, o usineiro consegue realizar esse prodígio, invertendo os alga-
rismos dos meses e das hora.s de trabalho: ele consegue extrair em 8 meses
o trabalho normal de 12, já que ele extrai, durante esses 8 meses, 12 ho -
L (5)
ras de trabalho de um operáriO por dia, ao invés do trabalho normal de 8.
L
L
.70.zyxwvutsrq
çao .- mas lá estão os operários de oficina a postos p~ra qualquer emergênci&.zyxwvu
~
,
, .
que se realizam
i i
nbrm~lmente rt6 horário diUrno tl~~oficinas ~-, oS artistas es~
indústria. agrícola que ~ a usina, seja muito superior ao que geralmente se en-
,
contra na maioria das fabricas urbanas: o pessoal das oficinas representa de
(6) "Quando a usina peja, chega serviço de toda parte ali pra oficina. Quer di
zer que aumentou o serviço. Chega serviço de moenda, serviço de bomba, ser
viço de máqu;na, serviço de dique, e finalmente de;odo can~o v~m p~a afie!
na. Mas tambem nesse tempo, a parte de moagem tambem ninguem nao para, e
, -
desmontando e montando as ferragens. E na parte de oficina não falta servi
-
ço , O serviço e muito 1 f'abr-Lcaçao , moenda , bomba, todo canto tem muito ser
viço. E a maior parte tem que fazer acolá na oficina, a parte de caldeireI
.71.zyxwvutsrq
ráter de "urgência ll
e "emerg~nciaf! em que se processa a produção do aç~car, en
rio explicar ..se como as horas ininterruptas de operaçâo dos apar.elhos se repa!
Esta parece ser uma ques tào privilegiada para 89 obaervar como a consolizyxwvutsrqponm
- r-. '\ ."
daçao da tendencJaa grande jornada de trabalho a ser cumpr í.da pelos operar i os,zyxwv
.; • I _
tatais.
obra menor (dois turnos ao inv~s de três), evitando a. brusca flutuação da for:
A .•
,.
ça de trabalho -- tendo de mante.?a,"ocl.osa" em.algund devido as
mergêncis," que a administração imprime ao seu trabalho, este mesmo caráter sa-
tão inseridas, essa explicação,no entanto, não é suficiente -- a não ser que se
forjada em sua pratica economica e na luta cotidiana do operario por sua sub ~
nados limites, por parte dos operários, das condições de trabalho e de domina-
ção pela hierarquia da usina. Dessa forma, para efeitos de exposição, podere-
(8) Essa "imobilização de mão-de-obra", da qual at~ agora não hav'Íamoa feito re
 /" _
de operários somente nos capitulos III e IV, quando examinaremos a concepção dezyxwvuts
., .I " .,
los, podemos, no entanto, ilustrar aqui tal correlação de forças entre os ope~
vel entre o uso alheio de sua força de trabalho e a sua remuneraçao, que ocor-
da. de trabalho legaL Com Efeito, tal conjuntura decisiva, que constituiu-se em
lho pelas usinas, fez com que a luta surda e por vezes sutil travada pelos op~
., - I ~
rarios contra as condiçoes desfavoraveis de trabalho a que estao submetidos se
,-
tornasse, durante este periodo, mais manifesta aos olhos de um observador ex ...
tem menos por objetivo uma reconstituição hist~rica que o de ilustrar como a
.75· zyxwvutsrqp
perman~ncia da grande jornada de trabalho característica da usina, apesar da
versas com que podem contar nesta luta artistas e profissionistas. Conforme ve
remos a seguir, os operários travam uma luta muitas vezes sutil, surda, contra
tes de examinarmos a visao que tem os operarios de suas longas e penosas jorn~
vel entre o uso alheio de sua força de trabalho e a sua remuneraçao, - que ocor-
legal.
da Jornada de 12 Horas
rado por dois turnos de mão-de-obra, dois quartos de mu~~~, geralmente corres-
(9) "Algumas usinas moiam 24 horas, todas não [Eo ir;icio do s~cul<?I. Em aLgu
mas, as canas que chegavam diariamente, moia ate dez horas, onze horas ,
meia-noite, etc., liquidava a cana dos carros, pára. De madrugada, as má -
·76.zyxwvuts
do salário correspondente a um dia de trabalho (cem exceção das empreitadas
dos operários de oficina e do pagamento por produção por vez es existente nas o
.-
bras de construção E s s e d Ia d e trabalho, embora podendo ser variavel,
civil).zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
to para os operarlos
" . de oficina ou de contruçao
~
civil, que so trabalhavam du -
do dia normal de trabalho, a à:i.~rl.a se pr es ta- cem mo.í,s fe..cilidad2 ao deapot ãa-,
quinas saiam com os car-r ca vaz Los [l!:~1uin'1.0e carr oa CD, entrada de ferro]
para trazerem cana. A hora que chegavam começava o, mS2<:;C'm novamente e ia a
té a hora que t.ormtnass c a cana A[;ora, dc:I:'Cé'\'n u:: 82.16.:) d0 cana para come::
çar a ,moagem no dia seguinte [!:nqu2.nto os trens V2.0 -o'--,~carmaí.s can~.( ... )
O horario de trabalho, S8 era na moagem, V":tmC3 di:.:.er a.cs:m, er:;: de "quando
começava a moagem. Se fosse quat.ro horas , cí.nco e neia da manhu ate q1l.~n ...
do terminasse, o dia [isto é, a cana; D "dãa" 2:-::'C.:O :1,":.~ ate L)eia-noit~ .
. (, . 4 ' . ...zyxwvutsrqponmlkjihg
E nas U81.na8 que mexam 2 horas o hor ar-Lo era me:to~:l:;-'2'1 mCcc\-llO:Lt-e"me1.a-nol.
I' • • •
tistas dos demais operarios, por terem um salario superior, embora variavel em
~
função da maior ou menor imprescindibilidade de suas tarefas. Esse salario su
operarioszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
e nao em função do seu tempo de trabalho. Essa diferenciação se ma-
nifestará também com respeito à duração da jornada de trab~lho entre as dife -zyxwvu
J
lho legal.
quatro e meia da tarde com intervalo para almoço. Ju nos anos que antecederam
,
(10) "O sa'Lar í.o , como disse, f'Lcava a bel prazer dos :;:-atroe:::.
Por exempLo quan j
400 reis, mais 500 reis. E quando eGgotavam aCiucle serviço de que tinham
necessidade, então rebaixavam. Para muito menos do preço que o trabalha ~
dor vulgarmente ganhava. De formns que n;'o tinha um pre00 certo a não ser
.,I I - ~
pre embora com o salario maior. Porque n9s tinhamo3 cperario especializa-
do q~e sempre na ver-dade percebia um }'ls,lariosuperior. Mas mesmo assim, o
pa+rao , o usineiro, so pagava um salario maior quando pr ec írava do serviço
daquela especialidade. Depois de feito o serviço, então poderia rebaixar
e :ficava por isso me amo . Hoje a lei não permite rebaiy'l de ~a.lário~ mas
naquele tempo a lei era o patrão." (ex-presidente do sindicato;
.78.zyxwvutsrqp
a legislação trabalhista, parece ter havido uma melhor ia para os operários de
nas cidades, mas não nas usinas, os operários de oficina começaram a remanchar
e segundo a lógica da. nova jornada de trabalho, em horas, Não sem a relutân -
eia dos usineiros e a resistência ativa dos operáriOS, lutando para conseguir
ser pagas com uma taxa suplementar. Essa implementação, imposta de cima, co -
,
mandada pelo interesse do governo da epoca. em ditar medidas gerais que benefi-
esquema sindical, o qual agia na cúpula e separado das bases, não deixou de
, /
(11) "Bom, antes do sindicato nao havia o horario certo. O horario certo para
o operária especializado, era de 5 e 30, 6 horas, às 5 da tarde. Que era
/
um horar í,osuficiente, ou quase ~e1a~iv9' bom, por que "anteriormente tra.b!
1hava mais uma hora por dia. E nos ja tinhamos consciencia e conhecimento
que existia uma lei que tinha beneficiado os trabalhadores das usinas,per
mitindo trabalhar apenas 8 horas por dia. Mas não é ainda respeitado pe
1as usinas. Só depois desse contrato de trabalho firmado entre o sindica-
=
to dos usineiros e o doa empregados, ~ que então entrou em vigor as 8 ho-zyxwv
I
rã or , ~ que o trabalho dos oper[~ri03 de oficina tem um ca.ráter descorrt Ínuo , euzyxwvu
de um ~E~~'
l/A /
sindicato dos ue í.ne í.roc , para. convencermos aos u,:d.ne:L::'osque nao - havez-La
preju{zo nenhum em que o oper2rio tl"G,bo,lh8A;lce oito heras como era de lei.
E que eles almejavam aquilo e que elen estavam c,n::ioso::l por este norár í.o.
Tivemos que fazer demonGtraç3:o, dd.zor mecmo de viva vez, e pelo conhecimen
to que tinha, que o operária q'..I8io, r~rJ, o f!e:r'vj_(~O àG 6 h01'9,8 GD.. manhã -;
sabendo que tinha o direi to U<J pegar ao 7, d2 6 par a aD 7 hor-as não faz ia
nada. Ficava com o martelo na 1':::3,0, oIhando pé'.ra . \1'.1 canto, rara o outro ,
quando via um empregado, ou empregador , respon8~vcl} Glo/comGça,va a bater
aqui, ali e acolá, par-a +apea.r o fiscal, e o fiG~2.}_ t:lllbcm muitas ocas! -
ões já sabia/ ,
que ele tinha eque:'s mesmo cUrei to, 11;;,~ (' né~oliga importíin ...
cia. Tambemapos as 4 horas da tarde, ~ quando - o oper:\l":~o tinha que largar" ~
como era de direito e de lei, o opere.r í,o U.-inc1afiG!,v1'. mais uma hora, ate
às 5 horas, esse operár ío também não
",..,
/
üe,balhav8,. ( ... ) Isso •....•
n';s tinhamos
~
certeza,/ porque aneisti:3 ..mos 1 ',...,
e vie,rilcs, nao era, . rnJi'c3,8 ocae í.oss•....• , o opera ••zyxwvut
rio j a tomado de banho, j a de mace Limpes J cem o r;12,;C~81o na mo.o, depois
-
de 4 horas, com o martelo na mão e o olho no mundo, para ver quem vinha,
;
nao e, qual era o fiscal que vinha ou o [l,dminiptra· dGT que vinha, pD.ra en-
tão naquela ocas íuo bater, fazer um gento qu:õ>2..s.uer de serviço, mas que
não estava pr oduz lndc nada , (. o o) Isao , tivemos '11~!':l.9:J r eunãces para con-
v~ncê-los e que posteriormente, quando foi ID213mo errtrado em vigor esse h~
rario,
- muitos usineir ('3 ví.eram a. mim e d:tsneram de viva vez que o serví co
~ "..
nao diminuia como eles penaavam , ao cont.re.;- 5. o , a :p:'COd1.;'.çac
. . '-
aumerrbou•..•..
( ~
)
' "
trabalho de todos os operários de sua seção nas oito horas normais e selecion~
por outro lado, alguns operários para as horas extras, em função de determina-
~
das tarefas ocasionais. Alem disso, as horas extras agem como um estimulante
ciente.
ra a não interrupção -- não houve uma alteração fisiea de sua jornada de traba
ga'l , as quatro horas além das dto são consideradas horas "extra" -- r-esaa'Ivan-
tão passam o posto para o seu muda e descansam 24 horas, Esse sistema de reve
-'
zamento Singular, que implica em uma jornada de trabalho extraordinaria quatro
tem por justificativa administrativa o fato de que nas longas viagens a enge ~
.si.zyxwvutsrqp
~ , zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFED
nhos distantes "
feitas por esses veiculos nao e possível haver a troca dos mu -
, -
das em doze horas, ja que eles ainda nao estão de volta a" u~ina nesse prazo
- -
Então o l1evezamento se faz nas 24 horas} nao sem romper com o ritmo normal de
,
trabalho e descanso do trabalhador: se esSe revezamento da o mesmo tempo ao o-
"
perario para trabalhar quanto pa.ra descansar) semelhantemente aoS profiSSioni!
24 horas parece ser indiferente ao fato de que quanto maior o mimero de horas
/ ~
cons.ecutivas trabalhadas pelo operario mais dificuldades ele tera para l"ecupe.•
a" moagem, que continuou, antes como depois das leis trabalhistas, com a dura -
ção de dO,ze horas ou mais, os usineiros também não queriam, nessa conjuntura
do, a" força de trabalho na nova j ornada de trabalho corrtabf Lã.aada em horas , 1s-
to é, não queriam pagar as horas extras. S,em d~vida que os usíne fz-os alegavam
/ .-
que suas maquinas de valor inestimavel foram preparadas e acostumadas a s:ugaro
trabalho em doses de doze em doze horas e que, sendo o trabalho de doze horas
"
natural e eterno a fabricaçao
- , /
nas . A eS,sa,."
lógica da antiga diaria dos us Inef.ros , os operarios /
responderam
com a nova lógica dos seus direitos e fizeram, em massa, queixas ~ justiça a -
N ~
(12)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGF
HAs reclamaçoes eram mais por tempo de serviço, por operario ser acusado
-
de não querer, cumprir o regulamento da empresa ,e principalmente
, por dife-
rença de salarios. Entao, por dife~ença de salarioe nos tinhamos continu~
- ,/
rio e na operação do seu cálculo econômico (13), por suas próprias luta~
ria mais vantajosa para a usina que o pagamento das horas extras. Essa opera-
~ A ~ ~
Designamos aqui por "calculo economicoH as operaçoes mentais dos opera
, " A
rios, ligadas a sua pratica economica cotidiana, pelas quais eles se ori~
, -
entam para tomarem atitudes referentes a inter-relaçao entre o tempo de
=
trabalho e o esforço dispendido durante esse tempo, por um lado, e por ou
tI'O lado a sua renda e sua subsistência (as quais constituem-se do salá
rio do operário, mas também das tlconcessôes não monetárias" de que usufru
em, ou podem vir a usufruir). Assim, algumas estratégias possiveis podem
ser efetivamente realizadas pelos operários no que diz respeito a tal in~
ter-relação: po~ exemplo, ~a) maximiza~ o tempo de trabalho para ass~gu -
roar sua subsistencia atraves de um salario maior, devido ao grande numero
de horas trabalhadas, tomando implicitamente o preço da hora de trabalhozyxwvutsrqp .I .-
como fixa; (b) aumentar o preço da hora de trabalho com que o operario e
pago, geralmente fazendo valer a importância de sua profissão; (c) maximi
zar o esforço e a dedicação no trabalho, visando obter promoções dentrodã
usinaj ou, ao contrário, (d) procurar um serviço mais descansado e dedi -
car-se às concessões não monetárias fora do tempo de trabalho na usina de
que dispõe, tais como seu roçado, algum gancho, construção de sua casa
própria, etc. A implantação da legislaçao trabalhista nas usinas, e a con
seqUente contabilizaç~o da jornada de trabalho em horas, veio trazer modI
ficações no c~lculo econômico dos operários,
.I .I A
introduzindo as "horas exzyxwvuts
tras", Para uma analise do calculo economico dos trabalhadores argelinos,
envolvendo esforço no trabalho e renda, cf. P. Bourdieu (1963: 326-374).
.83.zyxwvutsrqponm
se executado pelos operários de oficina, os quais, com Seu trabalho especifico
sob seu controle; devido à natureza mesmo de seu trabalho, a arma sutil da di-
, ~
minuição da produção.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO
Alem disso, sua operaçao-tartaruga se estenderia a to -
,
dos os operarios durante o apontamento, quando comandam o processo de produçã~
gem do fUncionamento das máquinas, que não estariam no entanto ao seu alcance
dos a, intervençao
- "(14)
do operar í,o .. o Assim, tanto torna-se "
dificil ao operario
neiro aumenta-Ia, a nao ser dando mais uma maquina para o profissionista tomar
conta, ou dando-lhe uma tarefa diferente a ser executada nos tempos vagos da.
jornada (como, por exemplo, ir levar amostras do caldo que passa pelo seu apa.-
clamações à justiça por parte dos profis:Jionistas lesados pelo não pagamento
das horas extras dentre as horas que fazem parte de sua eterna jornada de tra-
balho de doze horas (15). Assim, essa segunda frente de reivindicações é leva
,
da, ao privilegiar o aumento de salarios independentement.e da possibilidade le
-
gal da diminuição da jornada de trabalho, a, deãxar :Lna.lterada a duração da jO!
/
nada ê a ver a poss ib ilidade de realizaçao dos direitos sob o aspecto unico do
ser ilustrativo das diferença.3 entro artistas e pr-of'Lac Lorrí.s t.as quant o à sua
minuiçao
- da jornada com salario
/
conAta.nte ou aumento do salaria
.. com a jornada
tempo de trabalho; é também um marco de transição pa~a uma nova forma de cálcu
A. ~ ./,
(15) "( ... ) Esaes operárj.cs l~a fa.bricaçã~ corrt â.nua.rama trabalhar 12 horas ,
mas ganhando um dia de é3 horas 2 maí.s 4 horas, q1.Jer d.lz er , t raba'Ihando por
hora ganhavam 12 horas e não apenas um dia, na bac e de 8 hON'tS. De qual -
quer maneira, foi benefÍcio para os trabalhadores. Os usineiros tiveram
mais despesas, porque estavam viciados J não era, a pelo menos durante o
tempo da moagem, fazer trabalhar l€ horas c pagar apenas um ~J.a, pelo pr~
ço que eles quizessem pagar , que nao havia 23.1~,"rio,· minimo,nao havia coi-
sa nenhuma." (ex-presiàent~ do Sindicato)
.85.zyxwvutsrqpo
(da diária para o salário-hora) no pr~prio conte~do da relação que os operários
co, pela simples subdivisão do tempo de trabalho diário em horas -- o que faz
dos operáriOS, como aparece para eles sua jornada de trabalho e St3S condições
dia que eu tou Ia, que eu tou todo cambada assim. Cambado de sonozyxwvutsrqpo
AAA
mesmo. Quando eu tou assim, o fiscal chega.: 'Ooo! I}mita o fiscal,
gritando e batendo palmas, para chamar atenção ao operário que es-
tá dormind~. É o fiscal. G-:D É a vida do trabalhador, que vive
todo tempo alombado, mesmo que assim (Elostra com o seu corpo azyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
Po!
tura curvada do t raba'lhador e ri, dá uma gargalhe.deJ. 11 (misturador
do ca.l)
(16) Como nao podia deixar de ser, se a caricatura do corpo serve para a auto-
~ ~ "
ironia do operaria, ela serve tambem para o exercicio da ironia localiza ••
da dos operários em cima dos empregados e dos chefen, disfarçando/reve1an
do, ambiguamente, seu antagonismo. --- --'-- -
!1Dejunho de 71, tinha um administrador aqui que assumiu o 1u~ar de
seu Fulano, era neu Luis, a turma chamava ele de Luis Rebolado. E porque
ele andava todo desengonçado, n~.n (pintor)
"Depois foi tempo que, em 39, eu já trabalhava numa. turma na esplana ...
da, .çnor nome de turma auxiliar" O chefe da turma era um senhor, por nome
A ,/ , A .,
de Ze Ioio, ne. O nome era Jose Amancio. Mas a gente conhecia ele por Ze
IOiô, porque ela andava assim, meio pulando, que nem ioiô." (caldeireiro)
"Uma vez
_ eu fui acidentado
~ na estrada de ferro, me ralei-me A todo, não
sei como nao morri. Ai uns companheiros me levaram pra gerencia, era um
tal de seu Augusto. Ai ele mandou me dar breu, disse que o remédio daqui
é breu. ~i o pessoal disse que não ia me dar breu, que não /queriam me ver
morto, ai ajuniaram um dinheiro e compraram uma garrafa d'agua inglesa na
rua. Ai depois eu fiquei bom. Mas ele queria me dar breu. Pois bem, esse
seu Augus to , chamavam ele seu Cuz cuz , seuzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
A ugusto Cuzcuz. Q,ua.ndochamavam
ele de cuzcuz ele ficava brabo.
-- Porque chamavam de Cuzcuz?
.87.zyxwvutsr
No entanto, a auto-ironia transforma-se na descrição sofrida da tragédia
be que é
a continua reprodução das condições de trabal~lo do profi.ssionista quezyxwv
, ~
o tornam cambado e sabe tambemque, nao conseguindo recuperar~·se, no seu tempo
livre de igual duração que sua jornada, do esforço d:i.3pcndido durante o traba-
lho, o operário inevitavalmente não somente leva para casa a f~diga crescente
- Era porque tinha a barriga muito 9rancle e era vermelho, nao -" e. A~
."
as mulheres faziam aquele cuzcuz de fuba e mandava os mení.nos vender. Ai
as mulheres diziam assim: 'Meu filho, você não g:~'its CU'3CUZ não, pr o mode
seu Augusto ". Mas, uns meninos daqucl.es , né, f2,;:;~? t§,.ritand~: 'Olha . o
cuzcuz : bem perto da casa dele, A~ ele vinha e I:,~mi
! , t.ando a voz som ral-
::1 : 'Venha cal
vª-t ,. Quan!o e"t que em,
?' A' :.i. 03 meru.nos
. ,..
G.l;Cla~ ln?o. ! A'l ele
IC •
:
°
M
ITome dinheiro, va s~ embora, nao chame Lsco aqu i nao ' ~ [ê;argalhad~. ~
se chamava CUZCU7" ne , era o ape Lãdo
Le ficava com raiva, ne , porque elezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFED
dele." (evaporador)
com muito menino em casa, uma coisa, menino, dá vontade at~ de ma-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
.
' pode matar menino. Nao
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO
t$.rménino. Mas nanguem ~
pode bobar menino
.. '
pra dêitar, pra chOrar. E mena.no e pra brincar mesmo. Ai o cama.••
~.- ~
rade. dessa maneira. não dorme. Pega naquela agonia.. Agora, muita.s
, , . .,.; .
do não.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJ
Chama uma terça parte, ne, nao chama todo mundo nao. En-
tão, aquele vai trabalhar.
zendo, que não dormiu.
Chega. lá.nessas cond1.ções que eu tou di
Chega na usina, chega Ia,, ele nao vai ElS ••• - -
tal' com o sentido para o trabalho. Quem trabalha muito, não tem
nada, acorda a. pul.s» ou desma ía [como, por exemplo J o turbineir€!.
/
que ali não e hora pra ninguem dormir, ai diz: HEi, rapaz, voce ta
dormindo;; rapa!Z!;' Comparihedr-o mesmo, e aquilo ali faz um bem a e-
~ ~
sa da minha saúde o Comecei a sofrel~ dos nervos e fiquei diabeti -
co. Ai o dr. ~édicQI me di.sse: 1!Vcc~ n3:o pode trs;balhar em moa ..•
A , •
no processo de produção que vimos no pr-ãme iz-o capitUlO: a monotonia do traba -zyxwvutsr
A • .; ... / ._ A
mo temporal normal das outras pessoas e que ele sente de perto ao nivel de sua
~ ~ , A
familia. A propria pratica administrativa da usina, que se ve obrigada a lan-
çar mão de uma figura como a do chamador -- esse agente especializado no auxí-
Com efeito, o chamador ~ como que o próprio s{mbolo corporificado dessa inter-
penetração.
ao seu operador. Sua mulher .•em casa , e seu companheãz-o , no trabalho., ajudan-
A
do-o em sua luta contra o tempo e em sua luta pela subnistcl1cia, tentam evitar
"Lar-ga de meia-noite":
"
ta, no local de tre,balho. E m c,::;:"b:)'1 C:J C'::.CCE', cr:tn::t;;"lÜ', ('3 ofe::2Tics de of'i-
 ,-
c Lna t.cm um horario certo r::-::,:"a o :"..:IJnol::'"l) :::alvo em E 1 "J m ? :;,:I,.) de "Lcr,r:.ço ur-gent.e",
., J em alguns
, /
uma maquí.na , Alg1J~nJ cp e ~ c(-L ]~ ic');= · }~.:.:cl'Jc:~L· v-c;, C!.)11fol\1113 l. ú ~l(:lcLi :~;~8 G"c·O}Gtrou,zyxwvutsrqponmlkjihgfe
mo ,.
/ /
quando a u s í.na e ;:;ta f'a b r L c a n d o 2,;ucsr demC::'Qloa, PCy::., '~~l ,'::,"cc,'?~":J c:;''';';;;J,r este
.t
interferem no pr opr âo pr occsac cu.: coisa
~
sua alimentação (18)zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Diz-se tambem na usina que os corumbas que trabalham cozyxwvutsr
J ~
com uma garapa , tomada no proprio trél.balho, fei t8. com algum açucar res idual.zyxwvutsrqponmlkjihgf
, ,/
certos "pr-áv í.Leg.í.os li devido ao seu car-a't ez- indispensave1.
cia" do apontamento cons trrange OS artist8,s a longas jorn2cd2.:; de; trabalho, como
Á
,-
a "emergencia" dos reparos para os quaí.szyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLK
sã a freqüentemente convocados e res -
sim, enquanto o profissionista tem sua força. de traOal.ho connumida por uma e -
expectativa de uma convocação abrupta, pare, o trJ,balho, rompendo com seu ritmo
•..." "
temporal normal. Esse tip o de ccnvocaçao abr upt.a e o cxempl,o ma::!.8freqÜente
que dá o operário de of'Lc Lna paro, Ll.us t re.r o cativeiro (', que estão submet dos í
~
os operarias.
I ;
(18) Os operarios molham o seu pao no do, de maneira sutil,
,....."
No entanto)' essa nao e c ons í.dez-ada uma falta
••
grave
--
rem o fiscal
I!
ver .
pelo, admã.nf.s tz-açao r
11 e.-
como o é o ';roubo" de aç~c2,r pe l.c operáriO (lev2.l~ aç~"car escondido para
casa), que e pund.do com a demí.saao , ~e que outrora era punido com castigos
corporais. Tambem o fe..to da popul.a ça.o trabalh9.dora ch1}po.r cana caiana ti-
rada dos partidos de cana era punido Com castigos, alem de ser visto pe -
Los operários como uma das Ca.USÇ',8 do plantio de outras var í.edades .
.94.
"Bom, quando eu deixei o ex~rcito [Eerviço milita:€] , nao quis mais
voltar pra ser operário de usina. Voltei para X ~idade do inte _
rior, na zona da mat~ para ver se encontrava emprego, não era ?
(... ) 'Não trabalho mais de operário de usina.' Isso porque eu
/
tal como ele é caracterizado pelos artistas, pode ser ilustrado por um episó -
dio ocorrido quando tentávamos entrevistar um caldeireiro. Ele havia nos con-
vidado para passar em sua casa na hora do almoço, quando então poderia conce -
der a entrevista. Quando nos encaminhávamos para a sua casa, na hora marcada,
tro homem, ambos apressados. Pediu desculpas, mas não podia conversar conosco
/ ,
conforme havia marcado e apontou para o seu acompanhante, dizendo para nos: !tE
, ; A ,.."
De qualquer forma, a calma do informante e Seu tom ironico com a policia apa -
caso a um operário conhecido: este nos explicou então ser o "agente policial "
rência de familiaridade com a prisao e seus agentes qu~ tinhn o oper~rio nada
mais erá que a familiaridade com o cativeiro da in í.na, com e. constância das con
também irrompe sobre o tempo livre do operar í.o e SUG. esfe:ta doméstica:
r
rado , um pouco mais ela fazia:zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZY
DaizyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
~arulho de ronc<?]". Ai
I eu
.!
Tendo sua j ornada de trabalho prolongada por tarefas cons ideradas "urge~
de, no final de carreira, computar os anos inteiros em que trabalhou dia e noi
Mas não é
somente o longo tempo de trabalho e a invasão das horas de 80-
, , ~
no que exaurem as forças do operario, mas tambem as condiçoes ambientais de
; ~-
(19) É interessante notar, nesse epis~dio tre.gic8mico contado por esse velho
operario, que fez todo serviço de armazem, construçao civil e oficina, co
mo ele reproduz em casa, com sua. mulher, a relação que ",ele tem com um com
panheiro durante o trabalho. "Se eu pegar no cono , voce me acorda, viu? 1T
-- como se ele ainda estivesse sob o efeito do olhar vigilante do fiscal.
L
,-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
bagaço, aquele caldo desce pra cair dentro dos tanques,
p o d e zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA pra
bomba tocar pra fabricação, É um strviço também do trabalhador J
ro o operário tem que gritar, poucas frases curtas onde a conversa é imposs{ -zyxwvutsrq
~
vel, o operaria destaca as causas, segundo ele, de suas doenças mais freqUen
maiszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHG
trabalhar, vivia doente, ne. Era os intestinos, ne, intesti-
no e figado, tudo entoxicado. Ai ele me transportou pra oficina,
,
ne. (Mulher do operário) -- Ele foi transferido, mandado pelo méd!
CO, já por causa dessa doença, Em 10 anos de moagem ele ficou as-
sim." (encanador, ex-maquinista de moenda)
Não somente a quentura, mas a sua combinação com a noite fria que o ope-
~ .
rar~o encontra ao sair de casa para entrar no vapor, nu inversamente quando
sai do trabalho para casa, debilitam a sa~de do operáriO. Assim, alguns oper~
rios associam o frio ao sono, provocando a doença, o que nao deixa de comple -
,
mentar, simetricamente, a associação da quentura com o sono. Tambem a a'l, ter -
zer", outras caracter:Í.sticas que, embora ext.ez-Lor es à arte, não são menos vivi
das pelos artistas: a per cul os ãdada
í do trabalho dos al~t:~sta8. Valorizando-se
dor)
tiNo laboratorio
; -
nao pegou essa taxa, porque, por aqui teve um medi
;
,
(20) Esse fato aqui relatado, com suas particulartdades,
, e evidentemente um fa-
to singular, ocorrido em uma usina especifica.
=
No entanto, com algumas va
riações, a mesma omissão da fiscalização trabalhista pode ocorrer em di
versas outras usinas.
.102.zyxwv
, ,
tro lado, a minha quentura e a mesma, ne. Aquele lado pegou, o l!
do de cá não pegou. Enrolação do homem. Quando vem esse pessoal
assim, advogado e tal, vai logo pra casa dele, n~ G?asa do geren -
ttD. É bom comer, e lá vai e
Ai o homem solta a mão dele pra lá.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
tal, e pronto. Ai essa pessoa já não vem se entender com a gente,
, , ,
pronto. Ele ai, o homem ai: 'Toma ai um milhão ou dois, deixa pra
lá.' O doutor diz: 'Tá. certo.' Mas que ele viesse se entender di
reitinho com os operários, a:Í ele ia ver. Mas não." (evaporador)
Sempre com uma remota esperança na ação do Governo, na ação das leis
segundo um cozinhador, "O pessoal diz que o operário nasce na caridade [!1J ,se
cria na fé e morre na esperança [ri solt~; e todo mundo tem essa esperança de
lI
melhorar e morre sem nada, com a esperança. --, imperativos externos sanciona
"
dos por uma força maior que o poder das usinas, os operarios se desiludem cona
não do ponto de vista do usineiro. Não passa desapercebido assim, aos operá
rios, toda a encenação feita pela administração da usina quando dessas visitas
diação para com os oper~rios e o mundo exterior, que têm os empregados, esten~
.103.zyxwvutsrqpo
"-
que tem poder legal, que passam alheios ao que ocorre com o objeto mesmo de su
nha saude na usina", liA usina come a carne dos opere.rí.ce e depois joga fora os
teriormente aos seus longos anos de trabalho em usina, em uma exterior idade
liA gente sofre muito com a quentura. (o •• ) Mas essa usina podia
ser di~erente, podia ser melhor para o
.
/
operar1o Podia ser, se e-
les, na parte de fabricação, naquelas partes, montasse um ventila-
dor pra correr mais ar, não é? Pra tirar mais aquela quentura Ouzyxwvutsrqponml
,
se mesmo alevantasse o prédiO, pra ficar mais amplo. O prédiO e
todo isolado, todo fechado, fica aquilo ali tudo preso, não é? E
muitas usinas, por aqui mesmo tem uma usina ai que trabalha um co-
lega meu, que faz até frio. Essa usina, meu Deus [procura lembra~
se do nom~ é a Usina X. X é uma usina toda descampada, não tem
.104.
ca, nem quando da fabricação das máquinas (processo este que escapa ao contro-
,
le da usina e depende das ãndust.rãas fornecedoras de equãpaaerrtos ) . Mls a ex-
maneira critica não somente por ocasião de cada acidente de trabalho, mas tam-
(22) Os acidentes de trabalho pela sua freqüencia tornam-se tema da glosa dos
repentistas em sua crônica do cotidiano. Assim, no dia em que fomos entre
vistar o foguista de locomotiva,
~
tQmbém repentista, apresentado
~
aos leitõ-
res na nota 10 do capí.t.ul.o r, um armazem contendo açucar estocado e situa
;
que o operáriO tem um tal elenco de privações e perigos a passar durante sua vi
da. a.tiva, que no final de f!ca.rreira"ele pode proclamar com orgulho: "Ij)raba
lheizyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ê não morri!"
nao seja própria aos profissionistas, adquire com essc:!' ~lti.mo3 caracter:Ísti -
1'0 orgulhosa de ludibriar sistematicamente o patrão ao entrar parI!!. uma. nova. u-zyxwvutsr
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTS
sina numa ocupaçao em que nao tinha êxperiencia previa. Essa. esperteza., que
- _A I
se manifesta. nozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
confz-ont,o inicial com a administração da usina por ocasião da
ta do operá.rio: ;.\ adminictrnção Lnt.er easa que o oper-ar í,o seja um v~:ia cont:Í ••
g;aç8::? sobre os operarias para fazer valer eSse seu interesae o Paz-a o operarl.q'
consumo produtivo LnbenaLvo de sua força pela us í.na representa o consumo ré.p:t. •.
u._,
~ A A.
do e premat.uro de SU''L vida seu urrí.co meto de auos âat.encâa e aobr eví.vencda '
(23 ) o oposto !:t, arte de r emanchar era incutido nos veLhos opez-ar í.os que, no en
tanto, tinblJ,m vantagens em troca do seu zelo e atuavam segundo a
,
log1ca
-
dos ve'Ihos moradores:
"Eas e pes aoe L VeUl;? era B/":c,,-tumado a fa.zer bem o ,.serviço ~em troco de na
da. Tem um velho que e do-:[vi.or, que toma conta do do, que nao sa.i um minü
t.o de per t.o do apar-e Lho , ESse pes soa.L era acostumado assim. lvlas eles eram
procurados pelo us Ine Ir-o , Antigamente J um coz-tador de sana era uma pessoa
resp~:'ta(:1. no engenno . O us incã.ro dava logo casa com sitio. Hoje cort.arse
os sitias, m;:o ,:':10 maí,s va l.or aos cor-tadones ôe cana." (enquenta-caldo)
·108.
:reflete na. queda. da. produtividê.de da sêção de fabri<la,çio a qual repeusa no ritzyxwvutsrqpon
-
sador-que-nunee.-trabalbou~em-fabrica como aguentava as lon~ horas de trace. ~
'Porque tem que ser desa.sso'brado. Ma.s não é'? Eu sei que eu Mda.
temo. Agora. mesmo, vou tre.ba.lhal' até daqui mais ou menos nove h~
ra.! da. noite Gra.ba.lha.:r na. fabric~.ção de ti,jolos que faz no fu..n.do
, t ~~ I
do seu quinta.l, por conta. pro.pria., como 'gancho'j. Sa.be como. e?
Nove nores tomo banho , lU" tomo cate novamente e vou pra usãna ~n
~ •.
h"a.ndo à. meia-no i tcB.
Chego lt1, fn,z lá a. traba.lhada., QuandO' é 4
horet.8 da. ma.nr.i, ti tudo pront.o, ali eu me escoro uma coisinha s
quando é 6 boras eu enrolo a. red,e. Quando é meio-d1a. eu ltl.l:go" '\(~zyxwvutsrqponmlkjihgfedc
·109.
sentido que tem para eles o trabalho, da confissão aberta de um código fechadozyxwvu
~ I •
de um grupo social para a pr-eaer vaçao dos seus interesses. Alem d ísao , essa
-
expressao metaforica,
~
ao "domesticar"
,
o proprio trabalho designando a leseira
no trabalho com atos tão domésticos como 03 de dormir, cozinhar e mesmo estu -
dar, denota tamb~m uma confiança e gegurança do operário no seu trabalho atra-
vés da transformação das condições de trabalho adv er-eas a seu próprio favor ,c~
não deixa de ser assim o inverso da penetração da esfera doméstica pela esfera
que pesam sobre ele e sua família das longas jornadas de trabalho.zyxwvutsrqponm
,
No entanto, para o pleno desenvolvimento da arte do remanchar, o opera _zyxwvutsrqponm
Ao
rio que opte por essa forma de resistencia como uma atitude constante, Hplane-
jade." por seu cálculo econômico dentro da fábrica, tem que escolher seções e
aparelhos mais propicios: aparelhos que exijam uma intensidade menor de traba-
lho, que tenham melhores condições de salubridade e que tenham menos investiga
-
9ao. Assim, faz parte da estrategia
,
de vida dentro da usina dos profissionia-
ta.s "espertos" a transferência para uma seção mais maneira, mais propicia à. ar
te do remanchar:
, ,
"( ..• ) Me botaram pra manobra de açucar que tem ai, pr-a descarre
,
gar do vacuo, pra turbina, pra arrear, pra amanobrar pra arrear
,
pra turbina. E ali perto do cozinhador. O cozinhador fica em
cima, né, e embaixo, onde tem aqueles, onde derruba o açúcar. Pois
fui pra. ali. Ai eu trabalhei um bocado de tempo ali. Ai quando
f~i depois, vi que não tava bom ali, que ali era uma quentura medo
nha, eu ficava todo escaldado, pedi pra sair, pra trabalhar na caia
,
deira.. Quer dizer, é da parte da fabricação, não sabe. Mas e um
,
serviço frio, mais descansado, não tem quentura. Quentura e muito
, , ,
pouca. Eu trabalho sozinho, la ninguem me manda, eu trabalho la ,
, ~ ,
faço meu serviço e tal e coisa Apois, chega la, quem vai la e o
, , ,
chefe, as vezes vai la, diz: 'Como vai, o serviço, ta tudo bom?'
'Tudo bom.! Volta. Também não me diz nada, não me diz nada. Até a
, '" ,
qui, graças a Deus, eu la vou bem, nao e. Pela parte do serviçozyxwvutsrqp
I ,
eu vou bem. Agora e uma coisa aqui, porque o ganho da gente e po~
co ." (operário do cal, na seção de fabricação)
da, à utilização produtiva (para eles pr~prios) de seu tempo livre com vistas
,
, A
outras atividades no seu tempo livre, como o seu roçado que era mais trabalha-
sao o proprio movel do tipo de estrategia de vida que nao ve como melhorar den
'"
tro do trabalho da usina e, portanto, o considera secundário nao independem
fissionista ter boas relações com os patrões. A arte do remanchar, por sua
vez, nao se torna incompatível com essas boas relações devido às suas caracte-
de, pedem transfer~ncia para as oficinas, porque não aguentam mais trabalhar na
.1 1 2 . zyxwvutsrqp
em caso extremo, esses operários são alocados em tarefas de ajudantes nas of!zyxwvut
pela esperança que ele tenha de conseguir a reclassificação almejada e não ser
rebaixado em outra usina onde for procurar emprego -- e nao equiparando seu
salário aos artistas mais antigos. P~r outro lado, o operário recém-transfe-
(24) "'fem muitos ali [nas oficina~ que já trabalhou na moagem. Muitos já es-
tao aposentados. Mas ainda tem um bocado que eu conheço que trabalharam
em moagem e hoje trabalham em oficina. Uns são oficial, serralheiro, sol
dador, mas que, já trabalharam também que nem a gente~~...
12 horas. O operá=
"
rio quando ta prejudicado, porque nosSo estado de saude as vezes ta doen
fazer o serviço
I
, -
te e tal, vai ao médiCO, o médico diz: 'Você trabalha de noite? Tem que
,
de dia. Ai, ele tambem, o usineiro nao faz questao nao,zyxwv
I
- -
sabe como e, bota o camarada pra trabalhar de dia, em outro serviço
;
ou
~arage. Tem um que mora na rua do Mane Isidro mesmo, ele adoeceu e hoje
e vi~ia. Ele trabalhava em caldeira, e foi prejugicado com a doença e ~
je ta fora da moagem. Ainda trabalha 12 horas, ne, como vigia. Mas o ser
,
viço que prejudica mais e com a quentura. Hoje ele trabalha em serviçofo
-
ra da moagem, mas trabalha 12 horas tamb~m." (cozinhador) -
.113.
não deseja ser ilexpropriadotle que se caracterizaria por uma concepção espec!
~
fica de sa1ario e tempo de trabalho.
~ ~ A ~
Alem disso, o calculo economico do profissionista, voltado para o sala -
sente no corpo todo o peso do absurdo do excesso de trabalho a que foi subme-
(25) Então, não som~nte o absurdo do excesso de trabalho que consumiu suas for
ças, como tambem o absurdo que ~epresenta a diferença entre os anos efe-
tivamente trabalhados pelo operario e os anos de trabalho registrados na
carteira, são fortemente ressentidos:
"Parece que há um problema do trabalhador. Quando o trabalhador apo -
senta, parece que já t~ perto de morrer, quatro, cinco anos é o mais que
dura l!iSO
pres~. Alias que nessa aposentadoria de 80%, a pessoa quere~
do, se aposenta um pouco mais moço, mas essa aposent~doria integral, de
trinta e cinco anos, e de sessenta e cinco ,anos de idade, para o op~rá -
rio que luta dentro do brabo, ele quando da sessenta e cinco, ele ta be~
bem acabado. Eu ainda, pelo menos, quando eu completar trinta e cinco a-
nos de trabalho, vou estar com cinquenta e dois anos de idade, ainda tô
mais ou menos, Porque fui logo fich~do com dezoito anos, mas quem come -
çou a se fichar com vinte e cinco, com trinta, ai, a idade fica muitop~
longada dentro do trabalho." (cozinhador)
.114.zyxwvu
, ,
veracidade implacavel do ditado antropofagico que corre desde geraçoes entre
, .. /
sua mente. E para que o observador externo perceba um pouco do peso desse ab
absurdo do seu trabalho, não deixa de ressaltar a sua própria dignidade. As-
CAPÍTULO 111
ção do salário por termos diferentes. Com efeito, se o termo ganho aparecem~
dos artistas é o termo ordenado que mais aparece. Também o termo salário é u-
tilizadoJ mas em alguns contextos ele tem um significado mais especifico que o
tis tas e profissionistas só poderá ganhar corpo através do exame dessas conceE
extensiva do pagamento de horas extras também para eles Assim, aos profissio
10s operáriOS das duras condições de trabalho, tais como a "arte do z-emanchar-",
a) O "Fetichismo" do Salário-Hora
ção do seu salário ao tempo de trabalho dispendido. Banhado pelO peso cotidi~
ta no seu trabalho. No entanto, essa. visao nao e homogenea mesmo entre os pr2,
bre o salario na moagem contrasta com o verdadeiro libelo que ele faz contrasuzyxwvutsrqpo
bre a dureza de suas condições de trabalho parece emudecer-se diante desta vin
lho. Todo esforço marginal é compensatório. Há assim, por outro lado, uma dia
que diaso ele se apercebesse: se a longa duração de sua jornada é uma causa de
seu sofrimento> porque então iludir-se diante de um salário-hora marginal que
(1) !IAgente deixa a sa~de na usina porque a gente trabalha muito, sempre os
serviços são mais de 12 horas. E o camarada s6 trabalhando 12 horas mesmo,
é melhor do que quem trabalha 80 Porque o ganho é maior." (esquenta-caldo)
.120
perde sua relação habitual com o tempo. Assim, a prática intencional da usina
por tempo, de tal forma que prefere recorrer a ficções do tipo aqui descrito~
bém para o pesquisador, quando perguntados sobre por que razao não reivindica-
vam a jornada de trabalho de oito horas com mais um turno de trabalho. Azyxwvutsrqponm
res-
posta dos profissionistas afirmava que assim seu salário seria inevitavelmente
-
"zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIH
diminuido, em decorrencia da diminuiçao das horas trabalhadas.
/\
O que deixava
em reivindicar uma jornada de trabalho menor com o mesmo salário, isto é, com
um aumento do salário-horário, já que ele não obtinha uma resposta dos operá -
rios que lhe parecesse explícita (4). E essa resposta dos profissionistas lhe
parecia tanto mais enigmática quanto o pesquisador a comparava com seu discur-
~ ~ ~ ~
pode ser encontrado na propria insistencia e enfase do discurso dos operarias
A ,
sobre a insuficiencia do seu salario, que os submete a um permanente estado de
privação, "Agora, hoje em dia, pra gente que e" pobre nada chega, nada da.
" Tu
(4)Ainda mais que nessa usina OS cozinhadores tendo reivindicado, durante uma
mudança de administração, aumento salarial, o gerente ao invés disso conce
deu que uma parte dos cozinhadores, que trabalham nos vácuos "de terceira~
-- existem os cozinhadores "de primeira"y que transformam o mel em xarope
pronto a. ser mandado para as t.urbí.naaj e os "de terceira" que recebem o xa
rope restante de volta das turbinas e dão um novo cozimento, só então envI
ando o novo xarope às turbinas -- trabalhassem em 3 turnos de 8 horas, sem
diminuição de sal~rio. Além disso, eles passariam a ser semanalistas e nao
mais horista.s. As condições de trabalho desses cozinhadores melhoraram sen
sivelmente, Assim, nessa usina existe o precedente concreto da. jornada de
8 horas para alguns profissionistas. Por que não reivindicar a extensãodes
#
se "privilegio"?
.122.zyxwvutsrqpon
lia ameaçada pelos baixos sal~rios que pe~cebeJ como pode o operQrio deixar de
A /
enfatizar em seu discurso a insuficiencia dozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFE
sa.Lar-Lo e 00 sua. disposição em tr~
ba Ihar mais e maís horas ex tz-as par a a.Lcança.r a subsistência que o pagamento da
Com efeito, o dd.s cuz-so dos oper-ar-Los sobre a sua aubc Lst enc La nos faz du
mos acima. Esse aparente fetichiemo ao nivel do discurso pede pa radoxa lment.e
vo, poderia estar pouco atento. Esse conhecimento int2~ic~izado, que se expr!
, ,
me nas atitudes e na pra t.Lca cot.Ld.í.ana dos opez-ar-Los mS,J5 do que na clareza e
subsistência.
Um primeiro con:::tr2.:1:;:'i.m:.:nto
envo.lvendo 03 p::~ofi38j_oniEta~: refere-se ao
uma det.ermânada concopçe.o que 212:3 t=:'] de 2eu trab2.lho. E~i82, concepção, por
,
sua vez, e ostroit~~2=te lj
A ,
se veem com relf',çe,o 2,0", a::'-c:l.E,tr·s -~. ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
p::- :::,1':5.0 modelo dos
0:3 qU?,Ü;zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFED
T:)::::"C ;-;"m to,m
operá:rioc (cf'. Cc.p. I). Cc:r.2fdto, desp~:'O'Jido 'la c.rt e '? c.:::''1 c[l,racteristicas
fi Olhe.. hOj e já tem muita gente qU8 va l em casa r:ó pra ir e voLta::, [para o
trabalho na, u8ina] CheGa em caca , beta aquele punhad Lnho da ferinhã na bo
o
ca , vira. ['virã.r~
!I :; "dobr'e.r " = c:;:J.tinuar t.raba'Lhando no hor~J~:Lado outrõ
turno, depof.s de ja t er cumpzLdo seu horário norma:g. (esquente,-caldo)
.123,zyxwvuts
J ,
tificar seu salário pelo grande n~mero de horas em que exerce o trato e a vig!
serem intensificadas pelo trabalhador a nao ser pela cadencia ma í.s rap'í.da da
/ " " ,
maquina -- essa responsabilidade 30 e compensada pelo salario que a extensivi-
,
dade do tempo em que ela atua dá. direito. Colocado diante do 2l"t:Lsta,o pr o -
prio modelo dos operáriOS, orgulhoso de sua arte e de sua produçso tangivel,ao
maneira pela qual garante de alguma forma o sustento da casa. Orgu~ho esse
que, ressaltando a dureza e a monotonia do seu trabalho, traz tr,mbém uma recla
o valor do seu trabalho para a usina atraves de sua produçao tl'mgivel,como faz
Consciente de seu lugar "pos í.c Lona.L" com relação ao articG2" o profissi~
balho como mal menor: a sua inserção nos ciclos sazonais de produção caracte~
8 horas "normais". Ele v~ seu salário diminuir, assim, de metade (além da di-
as horas "extras") e mesmo mais, pois em muitas ocasiõ'2s, por falta de muda ou
A ~ ,
urgencia da fabricaçao, o profissionista e levado a trabalhar mais de 12 horas
a maior parte do ano, a própria fixação das taxas salariais horárias tem por
base essa jornada de 12 horas, na qual o operáriO tem por contrapartida o salá
/'.
pre-fixada para uma jornada normal de 12, faz comprimir o nivel de subsisten _zyxwv
I
em valor, corporificado no produto, do que ele recebe como salário. Essa rela
ção entre o tempo que reproduz o valor equivalente ao salário e o tempo total
nivel de cada hora de trabalho, Com efeito, em cada hora de trabalho, uma pa!
diário diminua em 30% (e levando-se em conta que eG~as horas suprimidas eram
horas extras, essa diminuição atinge oS 50%). Essa redução da jornada, para
pela administração da us ina durante o aporrtamen to, quando então, cessada sua ~
trabalho normal). E::;sa fração deixa de ter senti0.-::J (~ut,ndoa jo:'nada de t.raba-
lho diminui, não contendo mais as hOI'8/jc.2. jcrn2.da de t:~::f:Jalhonormal, que sao
naia, ele não deixa de estar pagando abaixo do nível de subsistência normal
dos operários, levando-se em conta a própria fixação do salário normal dos pr2
lação às despesas de sa~de (8) Deve-se levar em conta aqui a tendência que
~ ,
tivemos oportunidade de observar no capitulo anterior, de que quanto maior e o
, ;
ou menor duração que seu tempo de trabalho. A queda do nível salarial para o
(7) Por outro lado, o fato de estar pagando as horas da jornada de trabalho le
gal ~ue, somando-se o repo~so remunerado às 4§ horas semanais,corresponde
ao pagamento de 56 horas' ~
nao atenua a afirmaçao deA; que OS salarios da en~
tre-safra comprimem , para baixo do normal a subsistencia dos operarios, vis
;
(8) "C}uando a gente tem uma necessidade de viajar, a gente vem aqui ,chorar no~
pes do gerente pra arrumar 10 contos ou 15, pra poder viajar. Ai quando e
• A
no f1m da semana, ele desconta. Desconta de duas vezes, desconta de tres •
E eu penso que mais ou menos uma média de 70 a 80% ai não tem que não deva
ai no escritório. Q,ue quando o camarada não tira dinheiro, mas ,reve remédio.
Porque aqui eles assinam a receita e a gente vai comprar o remedio na rua.
Ai quando a ~ente menos espera vem aquele desconto maior. É o remédiO, que
doença aqui e m'llita." (esquenta-caldo)
.128.
dos oper~rios.
"Q,uando bate a ~poca do apontamento (•.. ) a gente fica em cima de oito ho-
ras. Aquelas oito horas não dá p ra gente se manter. Quando a gente larga de
quatro e meia, se enfinca nas beiras do rio, plantar uma oacaxeira, plan -
tar uma batata
,,'
r ••• ) Outros vai pra mata
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
_, ,
ca~ar
'S
um bicho pra matar e comer
mais a familia. O ganho nao da. (... ) E aquelas oito horazinhas, lambendo,
aquelas oito horas. Aquela situação diffcil. Sabe como ~? Situação precá -
ria mesmo. Teve ocasião aqui de eu chegar em casa e ficar quase que nem doi
do. (••• ) Às vezes não tem nem quem dê café à garotada, eu chego ali na ven
da: 'Me de mil cruzeiros ge pao.' Fica Ia noNpendura, sabe com9 e? Aquela
A _" ~_
e? E quando chega a epoca de receber o decimo terceiro mes, nos ja tem co-
mido ele. Já tem comido ele e j~ tem pedido de adiantado." (turbineiro)
.129·zyxwvu
, "
como mal menor, pois pelo menos um nivel de subsistencia superior em termos ab
é mantido.
solutoszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
"
de sua subsistencia, " na ameaça de desem -
esse trabalho sazonal implica tambem
prego sazonal que ronda o profissionista. E é essa ameaça que está por detrás
dos profissionistas: o medo que uma redução de sua jornada de trabalho venha
lhe trazer preju{zos ainda maiores do que a atual dilapidação de suas forças~
ção vinha inserida, chegar aos constrangimentos objetivos que explicam aquela
jornada de trabalho menor com salário igual, os operáriOS respondiam que então
ganhariam menoS porque trabalhariam menos horas, sem deixar de ficarem intrig~
~ , A
ta. E assim, enquanto o pes quãeadoz- nao encontrou um operaria com paciencia e
clareza para explicitar todas as implicações que estavam por detrás da respos-
,
ta el1ptica ao nivel do discurso que faziam a maioria dos operarios, o pesqu!
~ ,
sador via reforçada sua propria crença no inesperado "fetichismo do salario-h!?
z-a ", Tal operar áo , após ter falado sobre os sofrimentos decorrentes da longa
parentemente
- , ,
nao e colocada para eles de maneira cotidiana. Então o operaria
ção de horas trabalhadas é vista com desconfiança pois o nÚmero de horas tor -
pida por uma determinação suprema, pelo Presidente, conforme a visão que t~mos
operáriOS da concessão dos direitos de_~eis dados por Getúlio Vargas e que gr~
frer isso. De nenhum de nos sofrer isso. Sao uns bons Presidente, todos e
les que entram. Não vou falar de Presidente porque eles são uns bons Pre=
sidente pra gente. E finalmente são eles que botam essas leis pra gente
viver. Viver. Porque antigamente aquelas leis cativas,, aquelas leis pre -,
sas, o camarada morria, o camarada apanhava, e Ia vai, e hoje a gente e
.132.zyxwvutsrqp
ra,", o operário associou a Única possibilidade de solução para ela, também pr2
mente para esse operár í.o sua crença no pesquisador enquarrto um enviado do Go -
da. intervenção do Presidente como uní.ca poss Ível., a "dcbzar-" a vontade da us í,-
na.
aI e quando a ua í.na parar , ai que é o coz-t.o Loní.to . " O;~C') o errp:rego de mais
~
N~ opaca da moagem
rio e dos encargcs trab:::;.J_n:tstas: ao inv83 do, "et.erna fi t:'cC!Oc d,: turnos ao meão-
, A .-
dia e a meãa-noãt.e , haveria t r cs :brosas pcr 24 horcc , crrn Cr::':l-C,:~':'.03 descansa -zyxwvu
I / zyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
liv r e . O camare ..d a ta aas ím , e d.iz:~ 'Ah , vou me err."'.:>cl 2J! f S:;~ C(~:~toJ sa i d i-
n
re l."t1."nh
o, faz'" U,-,u 1.,<::;,,_. e n Lng'CL'~
"'8 Cen "-~" rem ",-,,_.
r~';z nada
o ,Q ~ ..h ~rr"-"n-;'rr"'1"-,,,,
;:;., "'0' ,.,.",__ u~ ,","'" maí.s
c, catl.· -c.!. (,
veiro, antigamente o cati ve.Lr o era, ma í.cr , que ne.c ;c:'.'T._:'~ (;:23/, Le La, o Pr!:
sidente não tinha easas Le Ls. Hcj e , que te:~1eC,3as 2-03.::;tCC:"8;J ne, pra ele
fazer, e o Bre,si1 vai se a.Levando maIhor ;" (ee:'ralheiro) ?a.:::,2. ,uma análi-
se dos direi tos entre os ~;'s..~;;?~::::.. (trabalhador'cG da par+o agr í.co'La }, cf',
Sigaud, 1971.
.133· zyxwvutsrqpon
; ,
dos e de rendimento no traba.lho muito superior.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcba
No entanto, ai ja começam a.s
Sem dúvida que para cada profissionista não corresponde necessariamente uma ca
mento. Pois acontece que com o contingente atual de profissionistas, que tra-
,
balham em duas turmas de trabalho na moagem, ha uma proporcionalidade entre es
, -
se contingente e o numero de artistas que terao um papel prinCipal durante o
lham 8 horas por dia e a administração da usina, acostumada como está a ver os
, , ,
profisaionistas trabalharem 12 horas no minimo, por diaJ ja considera que ha
pontamento seria rompida. E então, além do corte dos serventes, a usina proce-
capitulo ela se reforça no apontamento justamente por não sofrer o corte a que
estão sujeitos os serventes. Com efeito, o "cor+e bonito" de que fala o infor-
em uma casa da usina" Como fazer a seleção entre os profissionistas, dos que
.. -
nao serao cortados? Assim, se os profissionistas ao responderem pela impossibi
mão-de-obra que mantém com a maior parte da sua força de trabalho. A própria.
nista ou artista, relação esta que tem por suporte as concessões extra-monetá -
luz -- se romperia com essa jornada hipotética de 8 horas na moagem e com elazyxwvutsrqpon
, .f ~ A ;
(11) Essa relação parece ser vista pela administração da usina de maneira con -
tradit~ria.. Por um lado a administração da usina, com suas dificuldades
financeiras, com a ideologia produtivista de seus novos gerentes, calcada
.135· zyxwvutsrq
Assim, vemos como por detrás do "fetichismo do salário-hora" dos profis-
entre-safra, quando então suas fungões não são imprescind1veis à usina. Umazyxwvutsrqpon
agem, mas que por outro lado afetasse a estabilidade dos profissionistas durag
te o apontamento, s~ pode ser vista por eles como representando uma expropria-
,* , ,
tadas" continua a ser o próprio trabalho sazonal, tal como ele é organizado p~
Ia administração da usina.
balho dos profissionistas. Vimos mais acima como o momento da moagem, momento
da produção normal da usina que tem por produto o aç~car, estabelece um deter-
pria.mente dita. Uma "natureza" r-epr es ent.ada pelos c LcLca agr{colas, apropria-
,
da pela organizaçao da produção da U8:i.nae que condi':!iona ora o carater de "ur
priado pela usina, ora pela "primeirB. natureza apropriada pela usina, apropr..!.
ll
,
açao esta cujos caprichos absorvem o trabalho do operario intensamente para de
to, ora faz esse discurso enfatizar o excesso de esforço de sua força de trab~
determinado pela inter-relação dos dois momentos do trabalho sazonal, tal como
,
ele e especificamente organizado pela administração da usina.
concepçao
- , ,
de salario por tempo, a qual mais do que contraditoria com a descri-
ção do sofrimento decorrente da longa jornada, faz sistema tanto com essa des-
criçao quanto com as outras dimensões das condições de trabalho dos profissio-
faz com que sua própria subsistência esteja ameaçada (14). Os baixos preços
"
re de ganhar sua subsistencia. E de fato que, ante a quase impossibilidade de
ra" dos profissionistas com o seu discurso sobre a longa jornada de trabalho,
nao deve ser visto como uma contradição entre a ilusão dos operáriOS, situada
ao contrário como uma contradição entre dois aspectos dessa própria "realidade':
trabalho (cr , Ranc Ler e , 1973). Ass Im, não é o operárdo que se ilude com a "re
rio sob uma forma dissimulada e invertida (cf. Godelier, 1973, partes IV, 2 e
, ,.
Faz parte dessa propria realidade social constitutiva do operario, na
(14) Cf. os desenvolvimentos que Bourdieu (1963: 326) faz a respeito do desco~
passo entre o esforço marginal dispendido em uma longa jornada de traba -
lho e a remuneração m~rginal co~esponden~e) devido às negessidades d~ se
assegurar uma subsistencia precaria atraves
, de meios palpaveis,.~ isto e ,
trabalhar mais horas, entre os proletarios argelinos. Cf. tambem Marx
(1969: capo XX).
.139.
~ A" " zyxwvutsrqponmlkjihgfedc
advem da necessidade que tem os operarios de justificarem o seu sa1ario atra -
o longo tempo de trabalho em que exercem essa vigilância? Tão adequada à rea-
,
lidade das condições de trabalho é a realidade dessa representação dozyxwvutsrqp
salario
que ela serve a esconder o que essas condições de trabalho encerram. Com efei
rários nada recebem em troca (15). Não que a percepção clara deste fen8menose
ja própria não dos agentes, mas de uma "Ciência" independente deles: ao contrá
tradições das justificações que são levados a formular por inculcação de suas
condições de vida, entre as quais sua subordinação ao patrão. E são essas con
Então como pensar em um sal~rio justo quando ele deveria garantir para o operf
rio
rico e analógico. A produção mercantil; que tem seu apogeu no modo de pro
dução capitalista, dissimula as _.relações sociais subjacentes à A troca de
mercadorias, fazendo tais relaçoes aparecerem aos agentes economicos como
relações entre coisas, as quais adqu~rem assim nas representaçõ~s desses
agentes uma autonomia e uma independencia paradoxais de seus propr.bs pro-
dutores (Marx, 1969: capo 1). Assim os homens passam de produtores de mel'
cadorias a objetos regidos por leis sobrenaturais da circul~ção mercantit
as quais se apresentam comO totalmente independentes dos proprios criado-
res das mercadorias. Essa reificação atinge todas as categorias mercantis
não somente da vida econômica cotidiana, como tamb~m da Economia Polfti -
ca: dinheiro, capital, lucro, juros, salário, renda da terra. Assim, Marx
inverte ironicamente o etnocentrismo do qual o termo "fetichismo" vinha im
pregnado ao aplicá-lo à sociedade atual, mostrando assim a "religião dã
vida cotidiana" desse modo de produção capitalista "leigo" e "materialis-
ta" e sua canonãzaçao nas categorias da Economia Polftica.
- "-
O fetichismo da mercadoria, que vem nutr~r a reificaçao espontanea das
relaçoes sociais por parte dos agentes economicos com base na esfera da
circulação, estende-se e tem novos desenvolvimentos com relação às catego
rias ligadas à produção, tais como o fetichismo relativo à categoria capIzyxwvutsrqpo
,I , __
s í.co da corveãa no modo de produção feudal, tal é o caso do "cambao" a que es -zyxw
, ,
tavam submetidos ate ha poucos anos os moradores-foreiros, eS;:';2.Jvizinhos dos
, / • A
operarios.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
O fato de que os operar10s para garantirem sua subsistencia -- que
,
deveria ser coberta pelo seu salario -- dedicam-se ainda a um trabalho por con
tação alimentar, assemelhando-se como que a um rrcani:,:~o" Lnver+Ldo , faz com que
ao " fe t; .•.
chãsmo d o sala'rio". Com e f e i. t o, o t ra b a lh o no l'cqac.o
't' 88 a aempr-e asso
,("17)
ciadozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
" A
Invezaamerrte , para o operar í,o a privação que ele e sua :"'amh,:h 'Cofreu durante
o apontamento está associada a esse trabalho, durante parte c> ;~8U "tempo li -
~
vre", noc roçados de subsistência que ele consegue como co'1.cc.'~ "0 ccaa Lona'L da
(17) n ~ ••• }
,
a epoca
ES:l agora meu salario "1--- e 80 contos E 2~Xr.:3,:~J·i JzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZY
90., 80, por
ai, X l8. Mar:! quando bate p~o apontamento, é 56 cr"l~'~eiro:J i>:~ remana, que eu
ganho I contc por hoza , ne . Cinquenta e seis horas , ne , qc:; é o d:Lreito
dp. le5.o, ~ 56 contes. Bruto, né. Agora, tira 8% de ~LN1.3: C:'.Y2, fünc.icato J ~
n~, qU8 6 1 conto e 680. Tira habitação que n~s pagamos l':.""J:L'l;2,Ç3:0J ne , e
3 Cl'c.'·::;e~L"O'03. Ai no fim da conta vai ficar parece que LI6 C:"ltCC . e pouco ,
no , l~ quase 10 cont.cs de desconto. Quer dizer que no 8'J::J.t:c,,":,"ntoeu vou
yc::;Cc,c;
.,'
46 cont.os . Não ,dá, ne .
"'"
Ai a gente tem qU'2 fE\Z::':::' C1],:t:::::) 12}.rO, p'Iari-
.,
tô,.r ai \1m2.batata. Eu e que nao sei bem de agric~Ü7tL8,) t"'2 t'-mte~ ne A <,
mul.hec
/ , o Dai
..... dela goata muito da agricultura, ,.! ne .• ag(':~,~a ·::;::f". (:0:,-::'\Jita:-:e
,
A:LpJ.e:lta Th'11a batata, uma macaxeira, um negOCio_ma:'.:::;mJ:!:~~':'o,~ne , Ai ... a
gerrto planta roçado, roça, farinha, tudo, mas nao t2:n 0:::1 ='· :o.t~,C3.? ai a
cho meIhor uma batattnha,
mel' uma coisa,
, ",...,'
uma macaxeirinha,
, , somen.e -Te::'. aj r
ne . Ja nao compra, ne , época de al2nnto,m8n"~:)ja. t::::n, ne . E
. )2,::;, pra co '" ~-
todSX3 por ai plantam" [!efer~ncia aos outros operá~"5.0:i"J.(a,::",.:,/:::Js'), de Labo-
ratorio) , ...,
O ca:catc::.' famiJ.iar def'Jo trabalho no roçado s ez-a eX8m:,:'~.':, 1:0 capitulo
IV.
.142.
é porque de fato este "trabalho camponês" é um expediente
usina (18),zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA pelozyxwvu
/ - .I .I
ca não é tão propicia quanto a época da moagem para o exercicio dessas ativida.
des subsidiárias, devido às chuvas e às enchentes nas beiras dos rios onde es-
, A ,
profissionistas são forçados a trabalhar ainda mais tempo nas suas roças, no
, ,
periodo da moagem, alem da jornada de 12 horas na usina, para poderem colher
:1
!,~.
,\
1.:-
i.;
t ."
.'i
.143.zyxwvutsrqponm
antes do período de enchentes (20). Esse trabalho durante o tempo livre do 0-
"A gente merecia ganhar mais, mas não ganha. A vida. da gente aqui
é um caso sério. Eu digo mesmo ao Sr., a gente se mantém penando
mesmo. Ali em baixo , olhe, aliem baixo naquele pé de jaca , até a
li é tudo um pedaço de roça meu. (••. ) Eu tenho um roçado lá den _
tro, que eu já fui hoje lá dentro. Tem que girar a vida com isso.
Se ~or ~icar parado~ acabou-se. (••• ) A vida da gente aqui é essa.
,
Eu, com a familia que tenho, se eu ~osse cuidar somente de chegar
em casa e ~icar assim descansando, não dá não. Eu trabalho lá 12
horas [Ea ue in~ • Largo lá, chego aqui, almoço. Pego a enxada ,
vou pra lá [para o roçadil. Quando é 6 horas, 6 e meia @a tard~
é que eu venho pra casa. Chego em casa, tomo um caf'ez inho e me dei
to. Durmo, me acordo às vezes as 11 horas, ai eles mandam me cha-
Às 11 horas @a noit~
marem.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA Ai eu me levanto
vem me chamarem.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
à.s 11 horas pra vim de novo. Pronto [!fj. A vida aqui é essa. É
12 horas na usina, 6 no serviço meu 12'0çad<?1
e 6 dormindo. ffifl Se
quiser viver, se não quiser fazer igual a isso) não vai não. Agora
tem dia que eu tou lá @a usin~ que eu tou todo cambado assim."
;
,,, ,
(20) O periodo de chuvas tambem impossibilita outras atividades subsidiarias ,
tais como as de um pro~issionista, por exemplo, que fazia tijolos no fun.
do do seu quintal. Ele se força, então, para exercer esse "gancho" com o
qual paga suas dividas e ainda arranja algum dinheiro para construir aos
poucos uma casa própria em um terreno na "rua", muitas vezes a traba.lhar
8 a 10 horas em casa além das 12 horas na usina no períOdO de moagem. Qua
se não lhe resta 'tempo livre" para comer e dormir. É claro que esse o1'e=
rário varia essas suas horas de trabalho em casa, que estão sob seu con -
trole, pois senão seria fisiologicamente im1'osslvel sobreviver nesse rit-
mo de trabalho.
.144.
IItrabalho" por conta própria no roçado. Diante desse cansaço acumulativo, nãozyxwvu
,
e por acaso que os profissionistas que desenvolvem uma atividade subsidi~ia.
~ , ~ ~ zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
por conta propria acima da media sao os operarios mais habilitados na !farte do
zemanchar " no trabalho da usina. ASSim, a "arte do remanchar", mais que uma
Embora a época em que os artistas t~m um "t empo livre" maior, a época da
·145.· zyxwvutsrqpon
,,, " zyxwvutsrqponmlkjihgfedc
meagem , coincida com ao epeee, mais propicie. ao- cultivo de subaistencia.,. pois e~
de
-
tra.balho na usina, dos profissionista.s, embora mais longo, deixa sempre "liVl."'é'
ou a manhã ou a tarde, o que lhe permite trabalhar uma parte maior do dia. em
suas ati.vidades
,
subsidiarias,
,
as custas da intensificaçao
- do seu esforço. Esse
,
hora.rio dos profissionistas da fabricaçao
- ,
de 12 as 12 permite assim um tra.ba •
do conjunto ~
dos operarias " roçado e, por
entre, por um lado, os que tem outro
',.;
Essa partição obedece a outros critérios, tais como o tamanho da família dozyxwvutsr
o.
, A _ Â
rua" que geralmente não tem nem "quintal", ou em casa própria que pode ter uma.
, , _ I'W
sim, os operários que têm um lugar na hierarquia da usina como cabos de seçao
,
ou "imediatos 11 do supervisor da seção, devido ao seu satarão mais elevado e
desde que o tamanho de sua fam1lia não seja muito grande, se permitem ver de
safra, aqueles tendo pouco tempo diurno para o trabalho agricola, e ambos lu -
tando contra o cansaço -- ressaltam o seu caráter subsidiário e de complement~
,. , , ~ zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTS
-'
ção de um salário insuficiente. Esse carater subsidiario tambem e visivel pe-
, _ J "
las proprias terras que sao concedidas aos operarios, terras imprestaveis para
,
a cana, cansadas ou sujeitas a enchentes e de um tamanho minimo. Assim, esses
, ,
roçados dos operarios pouco se assemelham aos sitios dos moradores tradicionãs
dos engenhos que possuiam terras boas para sua agricultura de subsist~ncia,nem
À •
mesmo aos roçados dos moradores atuais dos engenhos} qU3 tem mal.S tempo para
do centro de seus engenhos, podem se ver concedidos com mais um pouco de ter -
ra. Os operáriOS que moram colados à usina, circundados pelas melhores terras
trabalho, enfatizaria a distinção entre casa e roçado (cf. Gareia & Heredia ,
1971) •
dade precária, que resiste a várias limitações, está associada ao seu caráter
pela esfera do trabalho. Com efeitoJ esse trabalho adicional pode ser visto ,
.-
em um certo sentido, como ~~ prolongamento da propria jornada de trabalho da ~
rv • ,. •
sina -- efetuado pelo operário durante o seu tempo livre ou por sua família --
.... ,."
a qual deveria. ter o equivalente a sua reproduçao normal incluída ja. no sala. -
""
~.... A ,
ção de sua privação decorrente da insuficiência do seu salário. Mas por ser ~
~
própria. usina.. E entao o roçado, considerado pertencente a" esfera domestica.~i
por oposição aos operários que, não podendo dispor de um roçado, dependem para
lizar recursos que dependem da usina, faz com que a eliminação pura e simples
do recurso ao roçado por uma eventual proibição da usina seja vista pelos ope-
rários como uma expropriação. O roçado, esse "salário não-monetário", vai as-
, .
sim repercutir inesperadamente sobre var~os aspectos da vida dos profissionis-
~ ~"
tas e a consideraçao dessas repercussoes pode leva-los a pensar a impossibili.
sas concessões não monetárias que demonstram a consideração pela usina de sua
ASSim, as concessoes
- -
nao-monetarias
~
que os operarios
~
recebem da usina ,
se -- atrav~s do trabalho no roçado -- elas relativizam o "fetichismo do sa.lá-
do patrão quando ele cumpre a sua parte da relação pessoal que ele e sua admi-
horal! só será abalado quando a administração não cumpre o 'bontrato" nesmo que
produção imediato.
Se as concessoes
- extra-monetarias
.;
da usina aos profissionistas, in -
mão-de-obra que seria necessária para UUl turno adicional incompat1vel com o p~
1
.151.zyxwvutsrqp
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
I 1
lugar, em algumas usinas onde ha a utilização em grande escala de uma mão-de-ozyxwvutsrqp
, , ~ 1
bra temporaria, onde os operarias tem Q~ fraco poder de reivindicação, ondet~
1
to o sindicato hão se faz presente como ausente ~ a fiscalização trabalhista J
1
o pa.gamento das horas extrel é burlado pela administração, a qual como "prêmio
1
de consolação" d;'aos operários no final da semana uma gratificação muito inf!
1
rior ao que seria a soma do pagamento legal de suas horas extras. Mas a utili
N ~ 1
zaçao normal das horas extraordinarias apresenta uma flexibilidade providen
1
eial para a administração da usinazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
com relação às interrupções da produção du-
~, I 1
rante a propria moagem, devido a necessidade de reparos na maquinaria ou devi-
1
do a problemas com relação ao fornecimento da matéria-prima agrícola. Essa in
1
terrupção no fornecimento de cana à usina ocorre com mais freqüência perto do
1
fim da moagem, quando começam as primeiras chuvas mais fortes que, interditan-
I 1
do as estradas secundarias ou as ferrovias, impossibilitam o transporte da ca.
1
na. Então, muitas usinas antecipam O corte dos serventes, a maioria dos quais
~ " ., , 1
so sera re-absorvida na proxima safra. Alem disso .•algumas usinas deixam de
1
pagar um turno de profissionistas durante os dias em que o volume de cana dimi
muitas 1
nuâ , o que faz reduzir bruscamente seu salário semanal. Essa redução
~
vezes corresponde a um salario , 48 horas a serem pagas segun do a es
in~erior as 1
nos ainda, no meio mesmo dessa epoca em que seu nivel de subsistencia normal -
A
1
dias em que o volume de cana era regular. DD~ e~emF~Q, a usina começa a sema- 1
tes chuvas que fazem reduzir bruscamente o volume de cana que chega para a us! 1
na, parando-a até o sáb~do. No final da semana que faz a administração da usi 1
1
.152.zyxwvutsrqponml
dos dias em que não puderam trabãhar devido à falta de mat~ria-prima, a admi _
das para o lugar das horas não trabalhadas devidas legalmente. Nesse "tirana _
, ,
porte contabilrl, os operarias perdem o adicional sala.rial de 20% por hora,con!
ria da.s usinas nao paga o adicional devido pelas horas noturnas (24).
Outra flexibilidade para a administração da usina que a utilização exten
operáriOS devido à falta temporária de seu muda Ou devido ao corte de uma tur-
(23) I!Quando a usina tá parada [Ea moagem, por falta de cana] tem vezes que a
gente não ~anha não. Tem gerente que manda apontar as Ef,horas, mas tem ou
tros que nao botam. Assim, vai da bondade do gerente, ne ,ti (analista de
laboratório)
(24) Além das horas extra, a usina deveria pagar o adicional salarial corres -
pondente ao que a CLT denomina de horas noturnas. Essas horas, para e~ei-
to de contabilização salarial, têm uma duração menor que as goras comuns,
diurnas, admitindo-se implicitamente que o trabalho noturno e prejudicial
ao ritmo de vida normal do operáriO e necessita compensasões. As horas n~
tutnas comeXam a vigorar a partir das 22 horas e acabam aB 6 horas da ma-
nha. Elas tem 52 minutos, o que acrescenta alguns minutos adicionais ao
Balario do operario. Assim, com relaçao aos turnos dos proflsSlonlstas, o
" A,I • • •
turno que entra à meia-noite trabalha 6 horas noturnas por dia, enquantoo
turno que entra ao meio-dia trabalha 2 horas noturnas. Então a turma do
meio-dia deixa de ganhar mais 1 hora e 36 minutos no final da semana e a
turma da meia-noite deixa de ganhar mais 4 horas e 4ª minutos devido a es
se continuo e sutil "roubo" da usina sobre seus operarios.
.153.zyxwvuts
,
perarios dos transportes (nos trens e nos caminhões da usina), quando suas via
nos de 24 em 24 horas. Mas ela tambem e utilizada quando ha uma falha qual
"-
quer no sistema de mudas, conforme pudemos ver com freqüencia nos relatos dos
por falta de matéria-prima, quando então ela ~ um turno mas aumenta a jor-
~} atraídos por cada hora marginal com a finalidade de contribuírem com o seu
tida subsistência, e que estão assim sempre disponíveis para trabalhar para a
quanto mais contavam com as longas horas trabalhadas para aumentar o salário.
"Aqui, eu sempre estranho uma coisa aqui. É isso: elês tem vezes
,
que a usina se quebra, ou para por falta de cana, ai eles pegam a
,
hora-extra do povo, bota na hora comum. Pra inteirar, ne. Pra fa
zer o regulamento das 48 horas de trabalho na semana. Tem vezes
que eles tira, faz isso. Agora, lá pro Norte Rio Grande
[EozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO
do
Norte, de onde esse operáriO é originári~ eles não fazia isso. O
pessoal do Norte não tinha sindicato mas não aguentava uma coisa
dessas. Reclamava logo, dava logo conhecimento. Se a usina para!
;
zyxwvutsrqpo
so assim em começo de inverno, não é. Ai tava moendo, ai começou
A:Í o gerente chegou e cor-
a parar com o inverno, não ~, parando.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
tou uma turma, ficou s6 uma. Ele disse: "Agora vai moer 18 horas".
Moia o dia todo, de 6 da manhã até a meia-noite. Ai parava pra c~
meçar de manhã de novo. Ai foi quando o tempo mudou assim, a chu-
va passou, ai a entrada de cana, pegou a entrar muita cana, n~~ Ai
ele disse: "Hoje vai moer a noite toda, direto". Ai o pessoal di!
se: "Não. Vai parar agora à meia noite. Larga todo mundo" l3i,ga!.
galhad~. Ai houve esse movimento de greve assim, ne . Mas não
houve um movimento de greve, não chegou a parar a fábrica, porque
,
ele chamou o pessoal pro acordo, ne. Porque no dia seguinte ele
voltou logo a botar as 2 turmas, nao é.
Ai voltaram as duas tur -
,
mas e a gente voltou a trabalhar 12 horas. O pessoal Ia gostava
de servir e de ser servido. Mas, fazer de tolo, ai a gente dava.
duro também, né." (cozinhador)
rios percebem a utilização pela administração desse momento de crise como uma
tentamento acumulado maS sem uma justificativa tão clara quanto o de uma tran!
gressão legal evidente, nesses momentos de crise então ~ que a pr~pria domina-
, ,
ção legitima da administração é posta em causa. A propria crença dos operarhs
da usina e seus trabalhadores -- "o pessoal gosta de servir e ser servidoli --,
;
e abalada, poiS ao ter de ser invocada enquanto ideal a ser respeitado, colo
lência que ela procura inculcar? Essa transgressão continuada, embora interm!
nalizada que existe entre operáriO e chefes de seção dentro do trabalho para a
pela reclamação à transgressão por parte da usina à l~gica do dom. Vas a cren
A '
ça na equivalencia pode manifestar-se segundo a logica dos direitos que progre!
que a usina não utiliza a pleno a sua força de trabalho quando há diminui -
- - ~
çao na produçao, mas tambem ,
quando das ferias ou quando da aposentadoria dos o
, , A_
"Na moagem o camarada faz 12 horas. Mas essas horas que a gente
faz, essas horas que a gente faz, hora extra, isso não voga [yigo-
r~. Voga porque a gente recebe o dinheiro, mas não grava nos do-
cumentos. Mas não grava nos documentos. (•.. ) O pessoal na ofici
às vezes faz 10, faz 12 horas. Mas essas horas,
na,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA é o seguinte.
Isso é uma coisa por fora. Não tá nos documentos. Amanhã ou de -
pois quando precisa ir para o Instituto [INP.3], vai ser um ordena-
do desse tamaninho. p!!
Agora a gente paga, as noras extra a gentezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR
gà a eles,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
810. Qualquer hora que a gente fizer paga 810. Mas es -
, A
sas horas não consta na carteira. Nem ferias, nem 139 mes, nada
disso, eles não contam nada das horas que a gente faz. É um di
nheiro perdido da gente. Não é perdido porque a gente ganha com e
le, a gente come ele. Mas ele vogar Gigora~ para o documento ,
não voga. para o documento, porque a gente não recebe nada daquilo."
(serralheiro, ex-maquinista de moenda)
~ ,
"Hora-extra ganha, mas não sai nos documentos. Eu so sinto e isso,
porque se a gente trabalha 9 m~s, numa usina dessas, 9 mês. O se~
A
"É um tal que a gente não pode compreender"; acostumado a pensar nos ter
, A ~ ~
mos colocados pela logica da equivalencia, o operario sente toda a angustiap~
pensar a logica da equivalencia, seja pela propria forma monetaria de sua rela
,; , ';,
escondem.
rio, desejando passar de horista a semanalista. Sem dúvida porque, tendo mais
absorção de mais um turno que teria de ser todo cortado no apontamento ••• es _
[!~. Ganhar
"Como diz a história, que não há um bom sem falta, n~zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYX
,
por semana e bom, porque a, usina acontece vir moendo certo, mas
quando bate esse tempo chuvoso •.• Agora que ainda tá mais ou menos.
,
Quando chove muito ela para muito tambem. Tem vezes de passar o
horário todinho parado porque não tem cana pra moer. O trabalha
dor que ganha por semana, é bom, não perde nada. E o que ganha
por hora, só faz mesmo aquelas horas de trabalho ~s 48 horas le -
gai~. (••. ) Também, quando a usina tá moendo muito, as horas to-
das da semana, o semanalista só recebe aquela semanazinha, e o op~
,
rario que ganha por hora, ele fez setenta, noventa ou cem horas, ~
le então recebeu muito, recebeu mais que o semanalista, porque fez
muitas horas. Há essa bondade para o lado do semanalista de ga
- ~ ,
nhar certo quando a usina nao moeu, e tambem ha essa bondade para
o horista, que quanto mais hora raz , mais ganha." (cozinhador)
, ,,,
(26) Ao contrario
, do "horista", que tem um sa.Iar-í,o semanal variavel, dependen-
do do numero de horas efetivamente trabalhadas, o "aemana'l.âs t.a' tem um sa
lário semanal fixo qualquer que seja o n~ero de horas trabalhadas. As::
sim" se os "hor ãs taa " "fazem" um ganho semanal que desafia o desgaste de
sua força de trabalho" os "semanalis tas " t~m um ordenado correspondente à.s
suas 8 horas, de trabalho. O operáriO "semanalista", trabalhando 8 horas ,
tem um salario equivalente ao de um horista trabalhando 12 horas. O preço
de ~ trabalho é assim
, sua hora de ~ superior, e ser um -,operáriO "semanalista"
e uma promoçao, ou um artificio para que a usina nao pague salarios supe-
riores reivindicados compensando
~ tais demandas pela diminuição da jornada
,
de trabalho de alguns operarios. Apenas uma pequena minoria de operarios
são "semanalis tas "" que é um regime de pagamento de salário próprio dos
empregados.
.159.
por hora, tem que zelar pelas horas. Mas faz isso forçado. A gen-
te faz aquele esforço de ir nas horas certas pra não perder nada ,zyxwvutsrq
/
ne. Porque quem trabalha por hora, quanto mais zelar pelas horaszyxwvutsrqp
,,- ;,
melhor,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ne, pra nao faltar uma hora, ne. Mas pagando por semana e
/ ~
bom, ne. Porque pega de meio-dia, não pode, peguu de 1 hora, nao
tem problema. Faz uma viagem, avisou ao chefe, não tem problema ,
~
pode ir, ne. Por isso que eu digo eu tenho vontade de trabalhar
/ /,
por semana, ne. Embora com um salario menor, ne, mas que seja co~
tinuado, inverno, verão tudo. Apontamento e moagem, né." (analis-
ta de laboratório, horista, trabalha 12 horas)
um circulo vicioso envolvendo o seu deagas+e e seus baixos salários, tem sua
, ,
(27) Note-se que o analista de/labo~atcrio acima citado} conquistado pela log!
ca do ordenado contra a logico. do ganho , utiliza impropriamente a catego-
ria de ordenado em um l'acíoc:tniorê-ferIdo à lógica do ganho para depois
Concluir pela incoerência dessa ·,J.ltJ_ma lÓgicã":'~.
----
fazer ordenado, t.raba
",
., zyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
.....,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVU
lhar dia e noite pra rcz.er ordenado , assim eu acho que nao e ordenado,ne. ' ;
Ele assim nega o '(fazer" do pr-of'ãs sáonãs ta , o fazer-salario com que o pro
fissionista procura~ a8semelhar·,nG ao artista, detentor
; , do "f'az ez-" da arte
Alias a configuraqao do artista ccmo modelo de operario para o profissio-
nista manifesta-se muitas veZeS ao nivel terminol~gico. Assim, esse "mime
t ãsmo" do "fazer", que o prof5.ssionista transplanta da arte para o salá -:
rio, para o ganho que representa suas longas horas trabalhadas de onde ti
o ,,, " _
tichismo" acarreta entre duas ordens de discu:cso referentes a dois aspectos dazyxwv
" A A
vida dos operarias, seu trabalho e sua subc tat.enc ía , na convergencia entre ozyxw
/
discurso dos operarias contra 8. enorme jornada de trabalho e o seu discurso con
A (28)
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
tira a. insuficiencia do aa Laz-Lo . E então essa convez-genc ía , que finalmen-
F
protesto: quando do desapar ccãment.o das horas extras nas paradas da usina du -
"fetichismo "
do salad.o-ho::a li im:p-ed:La
de separar: a ho~ enquanto unidade do
zem os "contadores (Ie hO:"2~~1!t (ou C'ó "f'az edor ea " de sa.iar . , ou os
~" ao
"zeladores
xa1mente (porque re:í:'c;l"::'..ÔO 2', outza ca't egor La de operar Lon ) especificidade
, ..."'" ,'*.. _ •• .•• '"I......, .. ~
a des ãgnaçao dos op::;:ra~~lc3.LJ.g'3,do::l a s eçao de fa):'J..caçe,o. Aas ím, o cara-
ro;
r
Lcní.c t.2~j (com relaç2:o aos artistas)
ter pos ic ional dC3 I;é'Of'i.'1.':: parece fa. -
zer parte de sua propr:1'Cj e:.::pec:Lfic:i.cade.
~
(28) "O problema e que o que a gente come nao ccmponea o que a gente trabalha.
-
O pior não ~ as 12 h~,=-"8,Gque 8. gf':1te tra,bs,lha de domingo a domingo. O p:br
, -. "ft
e que a gente nao ccms o b2.r;t::m'eG para trabalhar tanto. Ai fica doente.
(esquenta-caldo)
.162.
das horas"), são elas que determinam seu nível de subsistência normal na moa -
discurso dos profissionistas contra a sua jornada e contra o seu salário repr~zyxwvutsrq
"
senta a revolta contra a sua propria condiçao. -
", ,
O "fetichismo", propr o a forma do salario, que envolve os seus recepto-
í
,
res, abala-se mais ainda no pensamento dos operarios quando estes comparam o
seu salário com o dos seus chefes, os empregados. É então que se contradizem
todas as justificações que t~m os operários sobre o salário: essas justifica P
pregados. Mas para avaliarmos os efeitos dessa analise comparativa que se co-
, _ , A
os artistas.
tistas não pode deixar de relacionar-se com a sua arte, com a cooperação sim -
produto sua participação individual pr6pria, tendo portanto que justificar suazyxwvutsrqponm
remuneraçao - ~
atraves do tempo em que dispendem o seu esforço no trabalho, os ar
tistas, inseridos na cooperação simples das oficinas, t~m o caminho aberto pa-
~ , A
ra relacionarem a sua remuneraçao ao proprio produto que criam. A importancia
a arte é tão presente em seu discurso, que muitas vezes se exprime através de
termos que usualmente correspondem a uma remuneração por produção, tal como a
rr ( ••• ) Ai, fui transferido. Fui pra oficina, fui trabalhar de aj~
dante de encanador. Com um rapaz que eu gosto muito dele. Hoje e~
, "
ta afastado do trabalho, esta doente. Ai trabalhei muitos tempos
de ajudante de encanador com ele, a gente sempre se entendia bem ,
eu com ele, na base do trabalho. DepoiS o mestre [2hefe de ofici-
n~ perguntou se eu tubava, se eu assumia aquela responsabilidade,
aquele trabalho @e encanadoJ] por minha conta. Eu disse: 'Assu-
mo'. Ai fiquei sozinho, ne . Sempre trabalhando ali, e tal e coi-
sa, passei a ter ajudante, e sempre fui entrosando em outras par -
,
tes, e chegou ao ponto dali eu passar pra parte de caldeiraria,ne.
E fiquei trabalhando. 11 (caldeireiro)
nna conta. Essa designação, como mostram as citações acima, refere-se à rela-
ção do artista com seu ajudante e à distinção entre os dois. Ela refere-setam
ção da usina (através do chefe de oficina) com relação não somente ao enquadr!
mento de ajudantes, mas também com relação à qualidade de suas tarefas de re~
da administração -- "Até
da ua1
-
que
, A
chegou num ponto final que o homem me deu uma maquina de oxigenio pra eu traba
, ~ ,
lhar por minha conta" --, o artista e levado a preocupar-se nao so com a qual!
~ ,
dade de sua produçao mas tambem com o funcionamento e o rendimento na moagem
zar! assim tanto pelo seu "trabalho vivo" durante o seu processo de produção ,
qua.nto pela qualidade deste seu trabalho anterior, agora "trabalho morto" in -
ção da arte implica, em uma de suas dimensões, essa sua qualidade de trabalho
tista, mas continua ligado a ele pela parte de responsabilidade que ele tem no
recompensa pelo trabalho por ele fornecido diretamente ao produto do seu traba
lho, por dois caminhos que se reforçam. Um deles é a valorização de sua arte,
de seu trabalho especifiCO, que não pode ficar indiferente ao resultado desse
produção ela mesma. sob a forma do conjunto dos meios de produção, o produto do
seu trabalho não se separa fisicamente deles" mas ao contrário os envolve cir-
ção do aç~car, que por sua vez se transformam novamente em objeto de trabalho
A
dos a.rtistas. Os artistas tem assim diante dos seus olhos constantemente o
seu próprio produto acabado, que voltará a ser em um periodo posterior seu ob.
jeto de trabalho.
-
Assim, essa dupla presença do produto nao pode deixar de afetar a concep-
ção que têm os artistas do seu salário. E a maneira que encontram os artistas
~, ~ ,
de justificarem seu salario-horario mais elevado e justamente atraves do seu
,
produto, ata-aves de sua qualidade de ~ peças acabadas com o controle que
do "fazer" do artista.
elevado pelo fato de produzirem peças para a usina, como se o preço horário do
seu trabalho fosse o preço da própria tarefa exercida durante esse tempo. É co
'" ~
mo se o artista, querendo ressaltar a importancia de sua participaçao individ~
tificação, por sua vez, remete, como já vimos anteriormente, ao 11 fetichismo "
próprio aos agentes do modo de produção capitalista a respeito do salário
,
que o trabalhador e pago pela totalidade do trabalho por ele fornecido -- "fe-
tichismo" este propiciado pela própria forma do salário que apaga qualquer in ••
peças" dos artistas, se efetivamente eles ganham por tempo? Pois o "fetichis-
mo do salário-hora" dos profissionistas tem por base o fato de que para cada!;.?
malmente o salário dos artistas e não o pagamento por peça acabada ou por tar!
ção entre a sua remuneração e a qualidade do produto fabricado, tendo uma. par-
salário efetivamente pago por tempo, só restaria ao artista acreditar que seu
salário-hora, comparativamente mais elevado, guardaria uma relação de grandezazyxwvutsrq
~
aproximada com O salario que poderia ser pago por peça ou por tarefa.. Esse "fe
artistas •
tinja não somente a todos os artistas -- seja como oper~rios principais da em-
,
preita.da, seja como seus auxiliares convocados por aqueles -- como tambem a t~
-
das as seçoes, aparelhos e toda a ferragem a serem trabalhados como objeto pe-
, ,
los artistas. E como faz parte da propria logica da empreitada o regateio do
refas em toda uma seção da usina, o operáriO principal, antes mesmo do proces-
so de regateio, tem que decompor todo o serviço proposto nas tarefas em que e-
le se constitui e assim planejar, com base no preço que ele se faz dessas tare
, ,
fas, o recrutamento dos outros operarios e o tempo necessario para a realiza -
produção, o que reforçaria mais ainda a ligação que fazem entre o salário que
usualmente recebem e o produto do seu trabalho. Essa ligação, tendo como que
pago por produção. Pois essa forma de pagamento, alem de propiciar uma remune
ração mais elevada -- que dá para "fazer uma camisa para quem está nu": a asso
sugere ~ue essas necessidades poderão ser satisfeitas nessa ocasião, pois o sa
art1sta conforme o modelo que ele se faz da arte: trabalhar por minha conta,i!
o modelo da arte que tem o artista, por outro lado, a empreitada instrumentali
.171.
za os artistas a calcularem efetivamente os preços de suas tarefas e das peças
a execução da tarefa -- não pode deixar de fazer ver ao artista que o seu salá
r-a" dos profissionistas, que justifica o salário recebido e o seu montante pe-zyxwv
, ~ / ,
10 tempo de trabalho, ja que o seu salario-hora e relativamente rigido, muito
próximo do salário mínimo, o tifetichismo do salário" dos artistas" que tem que
plicar o seu salário-hora, mas ele explica apenas que ele é maior do que o dos
rador da diferenciação que eles se fazem dos outros operáriOS pelos seus atri-
butos dados pela arte. Ela tem por preocupação legitimar essa diferenciação!!1
çao com a produçao ja que, segundo o modelo da arte dos artistas, o seu sala -
rio-hora deveria ser equivalente ao preço que seria pago por essa mesma produ-
da com a sua remuneração tempo faz ver ao artista que não há equiv~
normal porzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
lência entre o seu salário-hora e o que ele poderia receber por produção. Além
disso, as condições de seu trabalho normal, mesmo pagos segundo essa equivalê~
.172.zyxwvutsrqpon
les com relação aos outros operários, ele por outro lado exprime implicitamen-
I
e da produção que ela deveria recompensar.
ela não se exerce atrav~s da utilização normal do salário por produção quezyxwvutsrqp
li-
trabalhador pelo seu salário. Assim, essa cooperação se atualiza sem media
pIes.
Não é por acaso que o fato mais evocado pelos artistas como exemplo do
tribui para o seu caráter de ~~ti~i~, mas sim: 1) a invasão da esfera domés
,
tempo livre;
tica do operaria, tirando··o de seuzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
2) o fato de que essa longa
,
j ornada se faça sem uma recompensa adequada ao operar í,o submetido a esse "reg!
A ,
me de emergencia", isto e, sem a empreitada; e, conseqüentemente, 3) o fato de
que essa longa jornada se passa não sob a maior autonomia no trabalho decorren
sim, o trabalho nesse regime de emerg~ncia, sob a vig~ncia do salário por tem-
po, torna tanto mais insuportável a longa jornada de trabalho quanto o operá -
dos artistas, que propicia não somente a reprodução dos artistas e de suas ar-
.174.zyxwvutsrqp
da usina na medida que mant~m uma certa diferenciação que é suporte da ordem
(! " ela tem, para a consecução da forma de cooperação mais adequada a seu modo de
....."....,
~,
~
.. operaçao e a dominaçao
./
potencialidades da arte e dos artistas que ela mesma suscita -- esse conflito
~ ~
esta presente nao somente na forma do salario efetivamente pago aos artistas ,
como também está presente na luta que têm os artistas para seu reconhecimento
ção imediato, como tamb~m fora dele, pelo reconhecimento dos direitos que ele
teria uma vez adrrltida sua classificação como artista pela usina. Com efeito,
Essa pratica incide muito freqUentemente sobre os ajudantes que passam a oper~
rio principal, ocupando a vaga de um antigo artista. Então, a usina não reco-
nhece na carteira a arte que ela está atualmente utilizando daqueles operáriOS
,
e nao paga também um salário correspondente. Alem dos aj udantes formados des-
sa negação do reconhecimento de sua arte ~ vista pelos operários como uma tra-zyxwvutsr
~
paça da usina, que se junta com a trapaça das horas extras, as quais, nao senéb
"( •.• ) Eu conversei com o engenheiro., seu Fulano de Tal, pra ele
me aumentar o meu ordenado. Que eu não posso trabalhar satisfeito
assim. E depois disso nada. Adepois ele acertou mais o gerente ,
que era pra classificar minha carteira, mas nada. Pelejei, fui lá
e falei: 'Como é seu Fulano?' -- fÉ zé, depois a gente vai ver sua
, ;
te que têm os artista~ exercidas pela usina, porque atinge esse modelo na au-
to-definição mlnima do artista. Por outro lado, a não anotação correta da pr~
colocação em outra usina onde f8r procurar emprego, na mesma profissão em que
te e outro grupo sem isso, o que não deixa de se inserir na tática da adminis-
pos de operários de oficina, rebaixando um grupo de oper~rios que não tem sua
arte reconhecida é
legalmente pela empresa, um outro divisor entre os artistaszyxwvutsrqponmlkjihg
-
bos ou imediatos, do supervisor ou do chefe em uma determinada seção ou sub-sezyxwvu
-
-
çao,que
~
se constituem assim em um grupo simetrico ao grupo de artistas sem a
seus ocupantes geralmente não deixam a produção direta para serem especialia -
tanto, quando uma promoção desse tipo se faz sem que o oper~rio promovido seja
um artista reconhecido, um 'àrtista mesmo" (ct'. capo I), que atinja essa posi -
çao de mando devido à superioridade de sua arte especifica, então essa promo -
çao é mal vista pelos outros oper~rios, pois este oper~rio se aproximaria do
vido a cargo de mando que não corresponda a uma arte elevada tem que se auto -
justificar a sua opção. Pois então ele estará em uma posição melhor na hierar
passei a chefe. Passei a tomar conta, ne. Quer dizer que aumen -
tou o ordenado e pra mim foi melhor." (ex-serralheiro de garage, a
tualmente serralheiro-chefe da seção de implementos agr1colas)
sem uma divisão do trabalho rigida, de acordo com o modelo da arte que t~m os
no ordenado"), então a própria justificação que ele tem que dar para a explic!!
se mesmo "fetichismozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONML
tl
torna-se também um meio de proteger a própria arte das
cas que atualizam essa descaracterização são consideradas ilegítimas pelos OP!
,.
rarl.Os.
; , .
A ilegitimidade da usina tambem se manifesta para os operarl.OS quando da
conaessão de empreitadas grandes não para artistas da própria usina, mas para
empreiteiros de fora. Então a própria remuneração por produção COm que contam
te dos artistas. E então para esses artistas; que t~m suas antigas concessÕes
cotidiana da organizaçao
- ,..",
da produçao atraves do salario por tempo a qual
\,
ele
se submete.
ção imediato por ocasião de sua convocação ao trabalho fora do horário normal
de com que a usina se apresentou aos seus olhos nas confrontações dizendo res-
rio, segundo a qual esse salário tem relação com a sua arte e a qualidade dozyxwvu
,
produto, mas sim sobre a justificativa do salario de seus chefes, que formam
rio por peças, os quais exercem um certo controle sobre os lucros do patrão ~zyxwvut
ra a reivindicaçao N
do aumento do seu salario unitario por peça possibilitados
"
sendo que tal produto não é levado a mercado e sim corporificado nos próprios
meios de trabalho da usina, os artistas assim voltam a sua atenção para o con-
não somente contrasta com a remuneração dos oper~ios, tornando ainda mais in-
~ , A , ~
muneração desses chefes não tem ligação com a sua participação direta na prod~
ção e muito menos alguma ligação com a arte. A valorização da arte pelo artis
· 181.
-
çao da hierarquia da usina. Pois ce a justificativa dos profissionistas sobrezyxwvu
---
/ A
o seu salario, baseada no tempo de t.raba'Lho em qt::e tem a r.•.... ..osoonaab í.Lãdade zyxwvutsrqponml
.....,.,~--:..~~~_.
no -._
'N /
mentaliza a fundamentarem na pr-opr í.a pr oduçao a iIEgitira::'d.2.de dos salarios dos
/ ~
empregados cuja desproporc Iona.Lí.dade com o seu pr opr-Lo ele:] ví.sua'Lfzam ao ni -
,
vel do consumo, inversamente a cOYlcepçaodo aa Lar Io 'p9..:<:~zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVU
C ri artistas, ligada
, ,
salario dos empregados da a ChGNede sua -r] egi timido,de p,;_-a a f'undemerrtaçao do
;
remuneraçao junto
- -.,
a conc epcao do aa.Lar-Lodos profi8slon:1.8t2,n
"" ".
-- a escala de sa
~ """ ,
larios correspondendo a grada çao de :E:..?,~:i29E~.~,~gid.~~,
esca categoria da logica
, ,
da hierarquia da usina -- essa ju::tificativa e Lmpot.err':c é)J,Z'_Dte da logica. da ~
inculcadas "
nos oper'ar-aos .
, a ucLna }/'ga o que e' d~2~~_~-E>
o que; o governo manda,
, , / ,..,
isto e, o salario-minimo do qua L el2. nao pode f~e af2"sta:o. I~ 88S8,S justificat!zyxwvuts
vas a primeira vista sao acea t.aveãa para operar-íoa: o ;::alar:1.o de mercado dos
•• N. ' • ' ,
0'3
.182.zyxwvutsrqp
~ ,,/,.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCB
operarios efetivamente gira em torno do salario-minimo e eles so conseguem su-
ra um pouco superior que a posse da arte faz merecerj e a decretação dos aumen
;"
tos do salario-minimo
, .•. , - ,
esta presa a politica de contençao salarial rigida do g~
, "
verno, que e do conhecimento dos operarios. Alem disso, estando eles fartos
de saber que muitas usinas não cumprem as leis trabalhistas, diante do seu cum
, ,
primento efetivo quanto ao salario e quanto a regularidade do seu pagamento ,
esses argumentos da administraqão têm uma certa eficácia junto aos operários •
tas põe em evidência, que vêm minar no pensamento dos operários esses argumen-
"Há ai uma coisa que nós não podemos entender, é sobre o salário e
sobre o custo de vida, né. Isso ai nós sabemos que dá trabalho os
homens botar isso pelos eixos. Que não é lá tão fácil. Tem que ~
, ,
quiparar o salario com o custo de vida. O custo de vida aqui ta
muito alto. E podemos dizer que ela ~ usinãJ não tem nada com o
" ,
peixe, ne. O que e de leis ela da. (••• ) Mas assim mesmo, falta a
inda um pouquinho, que ninguém sabe onde está, né. (••• ) Porque o
, , , , d'f{ '1 ,;
salario dos empregados, ai e que e o ~ ~c~ de entender. E difi-
cil de entender e eu não sei porque é assim. Porque aquele que
trabalha, se desdobra, derrama o seu suor, faz isso com as suas
mãos, recebe um salário desse tamainho. E o outro que tá somente
-
, /" -
de olhar, ganha um morrtao , ne , Ai nos nao sabemos o porque." (ca!
deireiro)
ç&o para atentarem para esse relacionamento, os artistas ressaltam esse con
traste entre, por um lado, o trabalho do operário (o que "faz com as suas mã.oS;
o que "derrama o seu suor") e seu salário ("desse tamainho") e, por outro la -
("um montão"), não somente referindo-se à oficina, "Locus " do fazer do artis ••zyxwvutsrqpo
do açucar, e
;
tanto
-
mais estranha para os artista.s quanto eles a comparam com a remuneração ganha.
, ~ ,
por eles naa emprétadas: essa ultima remuneraçao e a contrapartida do pleno d z
senvolvimento de sua arte, do produto de sua inserção direta, com uma turma de
-
(-- Porque a seção dele produziu muito?)
- ~
Nao e porque ele produziu,
~
nao e dizer que ele trabalha,po!
que quem trabalha é o pessoal todo. Agora aquele acolá @ chefe
de fabricaçã~ ele entra bem cedo, sai de tarde, sua roupinha eng~
mada, e tudo mais, reparando a seção, e quem ganha por aquilo é e-
le. Mas quem faz é o pessoaL" (serralheiro)
pregados, além de ser imerecida pois quem realmente trabalhou foram os operá -
rios e não aqueles, ainda por cima volta-se contra os operários, ao incentivar
mentam faz com que os profissionistas, ao assumirem essa oposição entre eles e
os empregados com base no fazer, oposição esta que ~ corrente entre os artis -
tas, assumam tamb~m, por oc~sião de seu discurso sobre a oposição do operária
• A __
Então, diante da oposição dos operáriOS aos empregados, ocorre uma con -
A _ zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQ
J
concepções do salário especificas de 6,rtiDtas e pz-of'La aLon i.s baa para explica -
, ,
rem o salário dos empregados. Pots se o proprio montante do salario dos empr!:,
, ,
gados, manifestando-se de maneira contrastante para os operarios ao nivel da
os legitimadoras
, , zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
do Seu pr opr S.o o::.l8.1'io, pcem G;1 quaecac a. pr-opr La legitimaça.o
, - -
,
da dominação da admãní.o tra çf» da us :Lna • For oucr o LadozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR
J e.. tnjustiça do sala
,
rio e a dominação ileg{tims. que a E:,:.mini:3tr8.çao exerce :,êOt:.'(; os operarios, que
se manifestam na sua opcs Lçe,o com os em..:"regados" não s omant.e se estende, se~
do os operar-ãcs
.- , a todas ar, us Lnas ccmo servem mesmc de modelo para toda a ao-
ciedade.
A1.g1.::r,c.s
af.nda da, ao op~
conta
de décimo @écim.::,\tc::.':::eü·(') 28,lr~r~'-~21. Ainda a pessoa tem um certo
/
chismo do salário-hora lt
dO:;1
profi,s::lion:.'3-GcJ.'l
apar-enta uma re~ignação que refle-
~ , ~ ~
O codigo da. arte e da uma base solic.o.. 8. toio::: oc cp:::::::',l'5.c,s para perceberem a. !
lador de ilegitimidades à sua revel~, neSDe sentido ele deixa mais dúvidas no
, '...11 ,., zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSR
pensamento dos operarios que a propr1a just~f~caçao que ele deveria sustentar~zyxwv
, ,
E essas duvidas sobre a propria legitimidade que tem a administração dazyxwvutsrqponmlk
usina
a lhe impor todo um ritmo de vida, a lhes administrar nos minimos detalhes, a-
tormentam o pensamento dos operários e tornam sua pri va.ção ma. teria.l insuportá.-
trabalhou e não morreu" --, ele muitas vezes não escapa do seu próprio pensa -
;zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
,'t
,
r (32) Referências a
Pa.ra.:íso",
,
de
"Militina",
E. Petri
A
e a
personagem do filme liAClasse Operária vai
"zé Amaro", personagem do romance "Fogo
ao
Morte",
de Jose Lina do Rego.
.190.zyxwvutsrqp
-
salubridade, mas os home classifica eles na carteira de servente ,
, ,
ai nao da direito. Porque a gente passa o dia todo pintando, fica
com aquele sabor todinho da tinta. Aquele futum desce. Pelo di -
reito era pra eles tomar leite, que era pra cortar, tem que tornar
,
uma birita, ne. E todo mundo aqui toma, tem que se tomar muito ,
se não tomar, porque se não tomar, pensa muito na vida [!~. Fica
pensando em coisa que não dá jeito, termina fazendo besteira, nézyxwvutsrqponm
r.:n / ~ ~
LE~' Ele pode ate enlouquecer, ne. Fazer mal juizo. Por qual -
Â
CAPÍTULO DI
1. Introdução
usineiro para vender "livremente" sua força de trabalho, eis a questão que en-
frentaremos .-
neste capitulo para melhor esclarecer e sistematizar algumas car&~
teristicas relacionadas com este "mercado de trabalho" singular que foram apr,!
Através do relato dos o]erários sobre sua hist~ria de vida, podemos obse!
sua aposentadoria. Nesse relato aparece implicitamente a visão que têm os Op!
queles grupos.
.192.zyxwvutsrq
~ ,,.,,, "-
nao se da. de maneira brusca, mas apresenta algumas formas de transiçao do tra-
balho agricola para o trabalho fabril. Uma dessas formas de transição manifes
"Eu comecei logo trabalhando por conta do engenho, né, sem ter di
reito nenhum. Depois, trabalhei numa horta de verduras que tinha
por trás da casa grande do homem, né. Tinha uma horta grande, com
verduras de toda qualidade. E tinha três pessoas que tomava cont~
, ,
ne. Que zelava, cultivava aquele movimento todo, ne. Sei que tr~
balhei de um ano e pouco a dois anos e ai me dei a conhecer com o
chefe de fabricação, né. Que morava bem pertinho da horta. Ai co
mecei a conhecer com ele, e tudo, e se dar bem, e tudo. Ai ele
'Não se importe não, a situação de moagem, quando tiver de moer ,
eu arrumo uma colocação pra você. t Na usina, ne . Ai quando moeu
ele me chamou e disse: 'Voc~ vai trabalhar.' Fui trabalhar de aj~zyxwvutsrqponm
J
-- e dai entrar para uma profissão na fábrica. Outros operários podem começar
fissão da estrada-de-ferro.
,
"Eu comecei a trabalhar na usina, criança, ne, eu fui vender umas
bananas pra minha mãe, então o Sebastião, cabo de estrada de ferro,
pediu a mãe pra eu ir trabalhar com ele. Ai minha mãe disse: 'Eu
não posso dar ele, que ele ~ pequeno,
Dona Maria, ele pode trabalhar,
não pode trabalhar.
, -
'Não,
ele vem so cozinhar, nao traz de co
I --
mer, não traz nada, eu dou de comer a ele.' Justamente, assim acon
.194.
teceu, não é. Continuei a trabalhar, com a turma de cassaco, ga-
10 tostões por semana, na estrada de ferro. O casaaco traba.
nhandozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
lha.va na estrada de ferro, não é. Descampinava, mudava madeira J
peráriOS -- que entram de trem para a usina provenientes dos engenhos -- pare-
, ~
ce indicar um paralelismo entre a trajetoria da materia-prima, a cana, e o pe!
no descarregamento - .-
da cana~ ou na seçao de moenda, o operario segue o percurso
uma outra porta de entrada para as profissões da usina se abre através do arma
vezes ocorre, atingindo ao mesmo tempo varios individuos. Tal e o caso das 0-
, , ~
(1) Tal e o caso de um velho ~perario, que~entrou para a usina atraves do tra~
balho em obras de ampliaçao e instalaçao, em um novo local, de uma usina ja
existente, que por sua vez é filho de um operária que entrou para a usina a
través da obra de construção da antiga usina no velho local anterior. -
(2) Atualmente existem obras de construção de novas instalações nas usinas com
grande emprego de mão-de ..
obra, mas como elas visam consolidar em uma plan-
ta fabril ampliada as condições necessárias para substi~uir com uma produ-
ção maior o que antes era prOduzido em duas, o efeito liquido dessas "fu -
4196.zyxwvu
, , zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONM
to-rma. rl~ r~rutan1$nto de ope:ra.rios et:tta.veispara a usina cons.is
Uma.outra.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
trabalho a trabalhar sazonalmente nas usinas como meio de adquirir uma renda.zyxwv
I A
suplementar e assim permitir a propria continuidade de sua existencia oampone-
sa. Assim, embora passem grande parte do ano trabalhando como serventes nas u
dade econômica voltada para sua unidade familiar camponesa. Muitas vezes essa.
ação da posse da terra no Agreste: a usina apresenta-se então como uma alterna
mento na usina dos próprios filhos das familias operárias. Os aprendizes, que
sões" de usinas sobre o contingente de operér íos fixos, depois das obras ,
é ,
não somente o de não incorporar novos contingentes de operáriOS para o
funcionamento da usina, como o de despedir operarios que antes tinham seu
lugar em uma das duas usinas pré-existentes.
·197.zyxwvutsrqpon
- ,
zyxwvutsrqponmlkjih
trabalham como ajudantes nas oficinas, freqUentemente sao filhos de operarios.
No entanto a colocação dessa segunda geração operária é dificultada conforme
"
veremos mais adiante: as familias operarias engendram uma superpopulaçao - que
titutiva uma certa trajetória que destaca UL1 certo grupo de trabalhadores para
cial dos operários ilustram o caráter seletivo que preside a tal trajetória: a
entrada. social na.usina pela linha.de ferro leva ao extremo a imagem de afu
através da seletividade que ela implica, como eles estariam cercados e pressi~
gr1colas dos engenhos, que eventualmente chegam a trabalhar como serventes nas
usinas, procurando entrar para a usina pelos mesmos canais que os operáriOS de
tuir parte da mão-de-obra industrial atual através de sua passagem pela traje-zyxwvu
, , .-
toria social que leva a usina, os operarios denotam, seja explicitamente ao n1
seu discurso sobre as más condições de trabalho para melhor ressaltar a insuf!
ciência do salário e7 ainda mais, como a estranha preferência pela longa jorh!
ver que por trás do discurso sobre o salário, o qual parece ser a finalidade
e seguro do seu emprego, sem o qual todo seu sofrimento no trabalho não teria
,
sentido. o desemprego interiorizado desvenda para o observador externo que e
, ,
o pesquisador, o enigma do fetichismo do salario proprio aos profissionistas.
n1nguem nem pensar pode, a. gente nao pode falar de governo nenhum •
,
E eu penso que ninguém dárnais jeito neSSe Brasil não. Porque e
muita gente no meio do mundo. Eu penso que nao tQm um pa.is -
, pra. ter
mais gente que o Brasil, por causa, eu penso que as estatist1eas que
faz, não acerta não. t!j] 11 (esquenta-caldo)
Essa "explicação fi descri tiva e geral sobre liasi tuaçio do pa:Ís", apoiada
traba.lho na parte agr1cola. como na. parte industrial -- o que é quaae uma expli-zyxwvuts
-,I - , -
caça.o tautologica com relaçao a percepçao de qualquer agente ou observador da
área. --, do que sobre a atitude de um certo "fata.lismo pessimista" (or, Bour -
bre a. "Situação do pais" ou sobre a condição dos "pobres", que ilustra indire-
(3) "o senhor sabe que tudo pro pobre, o que der pra ele recompensa. Né. O ~o-
bre, tudo que der pra. ele, recompensa.
, Porque se ,ele ganhar 30 contos, e a
quele mesmo, se ganhar 20, e aquele mesmo"onde e ~ue ele vai ver ma~? A-
-
gora , dizer que hoje em dia. pz-a gente que e pobre, nada chega, nada da. Tu
do só dá mesmo pI'O rico e pronto."
.200.
é sintetizada e levada a termos simpleszyxwvutsrqponm
riorização do medo ao desemprego, quezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
" ,
e extremos na seguinte fabula, que alem de ironizar com apropria fatalidadedo
à. fatalida.de de suas conseqiiêndas, como também pelo fa.to de que nada é ma.is a..
dequ&do ao ambiente descrito na primeira citação "diante da situaçio do pa.-
{ ,
1.S, ninguem nem pensar pode" que a. forma. de expressão atra.vés de IIfá.bule.stl•
qua.nto à. forma. em que o produto obtido por elas é consumido socialmente ("fes•.
tas ", consumo com a. fa.m:Íliaextensa ou com a vizinhança). t19..s
se essas at1vi •.
- ,
dades Bao o la.~er dos operarios e trabalhadores rurais, elas transformam-se em
A N
meio de subsistencia dos mais importantes para os desempregados sazonais, nao-
sempregado sazonal é totalmente ameaçada, como ela aponta para as próprias ca~
ses de.qua.l ela é efeito: o aumento do numer-o de desempregados sazonais que não
- , .
çao de desemprego interiorizado em todos os operar10S, esse zoomorfismo das re
'" -,
laçoes sociais que contem o dialogo acima entre um foguista e um servente vem
-
mostrar que tal situaçao e, ressentida pelos operarios
,
e expressa por eles de u
,
ma. forma simbolica e geral, mesmo se as causas que engendram essa superpopula-
çâo própria à organização da produção das usinas são desconhecidas para oSzyxwvutsrqponmlkjihg
oP,!
.202.
çao entre homens e animais, esse operário consegue transmitir uma eXPlicação~
tro lado, essa transposição, para fins simbólicos, das relações sociais para. o
campo da relação entre o homem e a natureza, parece não estar desligada de uma
ta 13 do capitUlO III).zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO
Com efeito, essa aparencia de constrangimentos dita -
assim sua ordem interna, faz com que a própria simbolização irônica da situa _
çê:o de privação do operária se d~ no campo da relação do homem com essa "natu .••
reza!! repreaentade. no caso pelos animais. Mas se por um lado essa sinboliza ••
ção ir~nica. da. "fábula" rei:fica de forma. zoomórfica as relações socia.is - •• re ..•
na. usina. --, por outro lado, ela contraditoriamente, ao reagir a essa "Iegiti-
mação pela. nat.ureza" no campo mesmo em que se dá essa legitima.ção, "Gende a In-
ais, ao dotá-Ias de uma vontade maligna que tudo faz para prejudicar os operá-
ra ta.mbéma.i, no nivel concreto, apareça uma vontade ma.ligna dos "homens" (oa
patrões) a dar sentido a.esses diferentes aspectos, como podemos notar na.zyxwvutsrqponm
d e .-
foguista:
"Eu vivo aqui muito ruim. Eu vivo muito ruim. Eu vivo aqui com
qua.torze pessoas 80
" pra eu sustentar. E" quatorze pessoas. Olhe,~ ,
vendo essa miunçalha logo dai,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ói. ~ponta para alguns de seus fi ~
lho~ Emburacou por aqui dentro @a casa del~ o senhor só vai to-
,
pendo filho. E pra eu trabalhar sou eu se. Agora, tem um ra.pazi ••
nho que é esse que foi tirar os c8cos. [? entrevista.do ofereceu á "
gua de c8co do quintal aos peSqui3adore~ Esse tá com, completou !
gora. ao idade de 18 anos. Tenho um com 16, mas nenhum, não topa se!
viço pra me ajudar. Peleja, roda, mas não topa.. E eu rodo também
pra ver se eu arranjo um serviço pra eles porque me facilitava mai&
Mas não tem" de jeito nenhum, vai ai não tem, vai na usina não tem,
soa que, com quatorze pessoas, ganha 180 contos por mes .•• Fica 45
contos pra comer por semana. O senhor acha que dá? Uma. situação ~
mo essa? Não dá.
(vizinho): Só veve porque Deus consente.
(foguista): Só veve porque Deus consente. ~essa afirmação, po-
de-se inferir, "a contrário", que a depender dos "homens", o fogui!
ta não viveria.. Pois o complemento do adágio "vivo com o consenti-
mento de Deus" geralmente se acompanha. de ne dos homens" ~ A situa
ção minha é essa, Minha não, de todos, quase. Que a minha mais ,
,
porque pessoa com 14 pessoas pra mim 30 pra sustentar. .• AgQra, di
zer 'e os outros não ajudam não, você não tem quem ajude?' - 'Te -
nho, eu tenho. Mas não arrumo.' Vai ali, 'só amanhã'. Vai aC01a,"
'aqui não tem.' Acolá, 'venha daqui com dois meses', quando vai já
.204.
tem outro. Eu vivo nessa. situa.çãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
r t
ao "quase-sistematização
Assim,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
afetiva." rege desde a multiplicidade de a!!,
acima citados, fazem abstração da a.ção dos agentes sociais para melhor ressal-
A , ; A
t8.r a.a.mea.ça.
que paira sobre a subsistencia. dos operarios atraves da enfas. nl.
ficados como tonte de onde parece e:nanar a "vontade maligna" da ordem socia.l :
nifieação da. ordem social atrav~s de sua "vontade maligna" aparece como uma ta
za., como uma propriedade mesma dessa "natureza" hostil, nos relatos de experl-
A _,
encia vivida, tal personificaçao aparece ao contrario em carne, osso e alma na
justificações que têm os operários quanto aos seus salários encontram seus li-
mites quando confrontadas com o salário dos empre~ados: aparece então o cará -
como elo mediador e decis~rio no que diz respeito a todos os aspectos da vida
, ,
dos operarios em territorio da usina, fazem com que sua açao efetiva tenda a
coincidir com a visão dos operáriOS a respeito dos empregados como portadores
ra.o operário?
aua condição seja por ter trabalhado nos engenhos durante uma fase de sua vi -
-
da, seja por relaçoes de parentesco com muitos trabalhadores rurais, o opera -
,
lém disso, pode-se ter implicitamente a visão dos operários a respeito de sua
que tem para o operária sua trajetória social do campo para a fábrica,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW
O tra-
balho na usina então é visto positivamente, como está implicito na segunda ci-
quer, pra ter um certo direito (... ) e adepois começou a surgir que na usina.
e vim pra usina If A própria descrição dessa trajetória denota que tal operá -
A
muito tem a ver com suas próprias decisões: "eu resolvi", "eu imediatamente tam
bém deixei a estrada de ferro e vim pra usina". Do seu ponto de vista, tendo
"De fato que dos trabalhos (Eiso pres~ que existe pe Io interior a
usina é um do~ melhores, néo Tem um certo direito e tem um certo
~
conhecimento. Uma certa, vamos dizer, uma certa escola, ne, que em
tudo está aprendendo e desenvolvendo,!!
jetória ascendente vem mostrar que tal ascensão tem por obstáculo não sua pró-
pria vontade ou sua capacidade de trabalho mas os próprios limites do trabalho
"De maneira que nunca. fiz futuro nenhum na questão da vida. Essa. mi
nha. vida sempre foi de trabalhar,"
dor realça sua pr~pria vontade na sua colocação como operária de usina, em de-
dor, ocupaçao operaria de importancia, ele nao fez "futuro nenhum na questão
da.vida.". Então, chegando a.esse ponto de seu relato, isto é, sua situaçãozyxwvutsrqponmlkjihgfed
a.-
tual, o operário como que nega toda a parte inicial do relato, como se sua. atu
aI condição e seus problemas apagassem uma trajetória ascendente que não com.
trar, através das lacunas que deixa nessa sua afirmação, que o Hfuturo na vi -
da."pertence aos empregados e patrões e não a ele enquanto trabalha.dor, porque
Isso se sobressai não somente dos relatos sobre a trajet~ria social dos operá-
à
A
sina, submetidos mesma autoridade central que eles Com efeito, a experien-
,
ela passada de trabalho no campo do operaria, quando ela existiu, muitas vezes
alguns operários admitem que o trabalho no campo seja melhor que na fábrica.
res rurais dos engenhos para ver o que havia de mais representativo em termos
berto como o da planta fabril da usina. Esses operar ãos criticam assim certos
.. ,
elementos caracteristicos do trabalho agricola que para os trabalhadores ru -
res "natura.is" do trabalho no campo, tais como a ação dos "insetos maus", além
céu aberto. Esse tipo de argumento parece estar preso à própria concepção de
trabalho que têm os trabalhadores rurais, para os quais a atividade dos operá~
rios nao é trabalho, já que além de não ser trabalho na terra, essa atividade
é feita na "sombra". Em grande parte presos à ideologia dos trabalhadores z-u-
rais, os operáriOS fazem questão de responder a isso dizendo que sua atividade
não somente ~ trabalho, como é um trabalho melhor que o trabalho agr1cola, su-
jeito aos vários inconvenientes de sua relação direta com a "natureza". É in-
teressante notar-se como essa controvérsia, em que está em jogo não somente a
trões comuns, e mesmo a divisão entre esses grupos sociais estimulada pela ad-
ministração das usinas, como também os privil~gios relativos dos operáriOS que
trabalho que têm ambos os grupos sociais. Essa controvérsia, além disso, ate-
nua o antagonismo com a administração da usina que possam ter ambos os grupos
~
sociais, ao provocar uma certa rivalidade entre operarios e trabalhadores ru -
.210.
raia. Assim, alguns operários faziam questão de frisar -- sem nenhuma pergun-
feito pra comer" -- e que essas afirmações eram inver1dica.s e injustas. Está
certo, diziam eles, que os trabalhadores rurais trabalham muito e não são re _
, A _
ções" dos trabalhadores rurais nessa curiosa discussão social simulada sobre a
explorados.
,
"Eu nunca trabalhei no campoporque, e comose diz, o campo vive
morrendo de fome. As us Lnas d~ dois diô,rJdê serviço, três pro cam -
"
pones. Que quando ele [':'~:on-caum pau de roça, o gerente do campo,zyxwvutsrq
A •
o agronom~, mandapassar o trator, botar o gado dentro e passar o
trator. Arrasta tudo.
- @ mulher do oper-ar ão intervé~ Arrancou foi tudo. Ali em X
[pomedo engenh<B. Arrancou a roça do povo todínha.
- [Operári<il Eles quer-em plantar cana e nao querem que o trabalha
dor tenha nada, sabe como~? É doia dias de serviço. E quando a -
queles dois dias que ele trabalhe" pronto, aqueles dois dias :fica
na venda, o barraqueiro já comeu. Agora" ele3 vai passar quatro di
a.s plantando uma coi8inha, 8ab2 como ~, rlantando uma rocinha. Plan
ta.ndo uma macaxeâ.ra , umabate,ta. E a usina manda arrancar." (turb.,!
~?.:i::~:::'~
,. ? )
- e assim.
comprar alguma coãaa pro, dL:mtrode cP,ra, pros meninos. E no campo ,
nao /
No CE\mpO,
Q, gente vn.,j'J trabalhar no campo, por exem -
pl.o , eu corto cana, Sou ccr tadcr d.e cana. Vou cortar a cana. Che-
,
go lá, é como essa cana aqui. E::;Jo. C8Jna b o a , limpa, 3
e uma ce.nazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWV
pedaços. Ai chego lá, t:1,l'O a cam.aa , vou trabalhando sem camisa ,
pou, pou, pou, pou, pcu , pou [}mita o barulho do corte da can~. Ai
fa.ço minha média. Chega 4 horas da tarde ou 6 hora8, a hora que eu
quizer, fiz aquela média, eu paro naquf.Lo , Quando é no outro dia
.212.
eu vou trabaR1ar.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
na boa. É uma cana variada. Quer dizer, eu vou fazer ali o que ?
Naquele dia que eu fui, que eu corto 300 quilos de cana, no outro
eu só fiz 100 quilos. Ai perdi a cota. Ai não fiz nada. Quando ézyxwvutsrq
, A
, , "
o camarada pega a enxada e pa, pa, pa, pa.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON
Meio dia, umazyxwvutsrqponmlkjihgfed
~
If ~.- ~
mesma remuneração, contribuindo assim para que o trabalhador rural se veja im-
serralheiro citado logo acima, depois de falar da dificuldade que tem o traba-
lhador rural em terminar sua tarefa em um dia de trabalho como pressupõe a e -zyxwvutsr
A , ; ,
"Mas se todo dia a gente topasse aquela média boa @sto é, se todo
dia fosse poss1vel cobrir a cota de produção equivalente ao salário
mfnim~, todo dia, era bom porque nós tínhamos direito a descanso,
a noite toda pra descansar. Não é isso? Mesmo que a gente desseum
murro maior, mas tem o descanso pra noite. Qte r dizer J negócio de
usina é melhor por causa disso que a gente sempre ganha um dinheiri
nho certo. A gente veve ruim, mas o campo veve por duas vezes ouzyxwvutsrqponmlkjihgf
por três pior que a gente. Na usina a gente trabalha na sonbra.
Mas é mais cativo. Pornpótese, se acontece um acidente de máquina
agora, eles vem me chamar aqui ~a casa del~, e eu tenho que ir
A qualquer hora eu posso ser chamado. É assim de domingo a domin -
go. Esse domingo mesmo, vou fazer uns reparos, vou trabalhar umas
6 horas. E depois a gente sofre de sono. Agora, na oficina pelo ~
nos eu durmo a madrugada. Mas na moagem, a gente ver o sol nascer
,
e a gente trabalhando, é pra ficar doido. No campo a gente e mais
liberto. Trabalha de manhã, de tarde pode plantar a roça, pode ca-
çar, e de noite, dorme.!!
~
ASSim, as sutilezas porventura existentes na comparaçao entre as condi
,
ções de trabalho no campo e na usina, feitas pelos operários, assemelham-se a
 ,
A ,
mais garantido na usina do que no campo, a preferencia pelo trabalho na usina e
,
assim justificada. Vemos assim como o fetichismo do salario dos profissionis.
tas, se ele pode ser explicado em última instância pelo espectro do desemprego
.214.
ral seria. assim "maãa liberto", não só quanto à extensão de sua jornada. de tra.
balho, como devido ao menor controle que tem sobre ele a a.dministração da usi-
tagem relativa ao trabalho no campo que tem o trabalho fabril, alguns operári-
;",zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA ,..,
perario, ja que, ao contrario deste, aquele tem melhores condiçoes
de plantar
,
alguma coisa para sua fam1lia. A fartura parece estar ligada assim a conces -
raie sempre tiveram lotes maiores que os dos operários, além de disporem de
mais "tempo livre" para o seu cultivo. Admitindo que o campo seja melhor que
na, não através da ótica do salário monetário, mas através do ponto de vista da
feito, para esses operários a situação de privação dos dois grupos de trabalh!
dores é interligada: com o corte dos sitios e lotes de terra dos trabalhadores
existiam com a sua farta produção nos seus lotes de "subsistência". "-
A abundan
cia dessa produção fazendo baixar os preços dos bens de subsistência comprados
nessas feiras, tal seria a interligação entre a fartura dos moradores e a far-
-
;
nha nada, mas tinha dez, doze contas de roça, de terra, ne. Quer di
zyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
..
z~r que a gente ali o pouco que ganhasse, chegava na feira: -- 'eon
, ,
te essa palma de banana, conte quantas tem.' -- 'E duzentos reis ,
,
três tostões, um cruzado cada uma.' Hoje a gente da duzentos mil
réis numa banana, né. E não tem. E só dá mesmo praque Le que tem
dinheiro.
-- @ua mulher interrompe e diz J Quando tem pro campo tem pros op!:.
rários também, não é? Se tem no campo" tem pros operários." (turbl:,
neiro)
A expropriação dos sitios dos moradores e também de seus lotes de subsis.
"-
tencia, esta a causa do fim da fartura tanto para os trabalhadores rurais qua~
to para os operários. Essa expropriação, não mais quanto aos sitios, mas qua~
cidos e criados" na usina que são ameaçados de terem as casas de que usufruem
; Á Ã
(4) !~s usinas da dois dias de serviço, tres pro cam~nes. Que quando ele a -
pronta um pau de roça, o gerente do campo, o agronomi, manda passar o tra-
tor (•.•)" (turbineiro)
.217•zyxwvutsrqp
.I
deco~rer de sua historia de vida, piora esta expressa por uma idealização de
ção social da. "plantationl!, provocando alguns efeitos secundários sobre a con-
dição dos operários (5). Os operários então aasocãan a queda de seu sa.lário
perário, devido ao corte dos sitios e lotes de subsistência dos moradores, ou-
ros. Nao e por acaso que alguns operarios, ao referirem-se a essas transforma.
ções na parte agricola das usinas e suas conseqllências sobre os operários, ge-
leiros ".
,
'~ntigamente quem gostava de agricultura tinha o seu sitio. O camazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVU
r-:
radinha vivia assim, trabalhava. dois dias, tres na semana somente
pra compor, porque de tudo tinha no sitio, não é, naquela época. E
, ,
agora pronto, o usineiro agora ta acabando com o sitio de todo o
pessoal. Que querem moer mais, então compra s~ clandestino, né. É
,
o motivo que a fome do Brasil é asaím. Porque quer moer, compra so
- , ~
clandestino, nao tem mais sitio, a pessoa nao pode plantar uma bana
mindo assim uma parte de sua subsistência e forçando-os ao trabalho nas terras
de cana como ~ica forma de sobrevivência, por um lado, mas ao mesmo tempo es-
ciais cujo centro dinâmico é a expropriação dos moradores, o seu conteúdo esp!
cificado. Fazendo essas interligações entre a condição dos operários e a con-
dição dos trabalhadores rurais, os operários apontam para uma certa complemen-
lho na parte industrial da.usina -- e que é dos maiores problemas da. condição
operária, tanto que uma das qualidades do trabalho no campo apontada pelos OP!
te intensa, é tanto menor quanto considerada, mais do que através de sua. forma
,./ , ,
diaria, atraves de sua forma. semanal: alem de ocupar 08 traba.lhadores um numa
zes por semana apenas para cada trabalhador rural. Há, desta forma, um descom
passo completo entre o tempo de trabalho necessário, equivalente valor da sub-
"
sistencia da força de trabalho, e o tempo de tra.balho excedente apropriado pe-
,
los proprietarios de terra: ""
como o salario-mínimo -"
corresponde a repetiçao d~
ria. de determinadas tarefaS/dia, ele é burlado não somente pela. negação inter-
, ,
mitente de trabalho ao trabB:hador, como tambem pela pratica de fixaçao de uma
-
tarefa superior ao esforço correspondente a um dia de trabalho (6). Por outro
se a jornada de trabalho legal de oito horas com tres turnos. Portanto a com-
parte agríCOla, parece dar-se pelo racionamento das vagas operárias na fábric~
por um lado, e pelo racionamento de tarefas no campo, por outro lado. Haveria
(6) Para a aná.lise das formas de exploração dos trabalhadores rurais da tlplan-
tation", cf', Sigaud, 1971 e 1973, e Palmeira., 1974.
.220.
cola, e, por outro lado, uma forma de extração da mais-valia que distende o
à sua asso _
por efeito estanquizar os dois grupos sociais no que diz respeitozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXW
pUlação que disso fizeram os proprietários e o Estado, tem por base a própria
fabril para grande parte dos dois grupos sociais (7), garantem essa estanquis~
-
çao.
por outro, tais diferenças parecem maiores ainda entre os camponeses do agres-
/ /
te e os operarios. Mesmo quando bem sucedido enquanto operario, uma certa nos
(7) "Eles mesmos do campo não querem ir pra moagem e os da usina não querem
passar pro campo." (evaporador)
.221.zyxwv
,
n.a... Assim" u..'11
coz Inla dor môstra. como as SUpostM vantagens dos ope~1os _
que podem ser vistas, segundo ele, enquanto tais se comparadas com a condição
dos trabalhadores rurais da "plantation" ~~~são na realidade uma ilusão " qlla!!zyxwv
!i
f A
ce-rta propr í.a tt do campones e
tima versão completa. também o quadro das l~gicas distintas que presidem azyxwvutsrqponmlkjih
pró-
sa.- zyxwvutsrq
seu trabalho na.cana e o seu trabalho no lote de subsistencia, a logica dozyxwvutsrqponmlkjihgf
Á .-
~
laTio certo e constante do emprego do operar~o.
~ .
, . '
Entre os operarJ.os estaveis, profissionistas e artistas, e a massa de tra.
seu local de origem, considerado pouco dignificante (Cf. Garcia, 1974). Uma
parte desses "corumbas" trabalha algumas moagens e depois não volta mais, ten-
nal na moagem através do conhecimento com algum empregado (9) Geralmente sol
teiros, tendo muitas vezeszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
por estratégia a mobilidade de empregos, esses tra..
balhadores quando casam são os que mais exercem pressão sobre a administração
para a concessão do acesso a uma ocupação estável, buscando algura tipo de rel~
ção pessoal com algum empregado que possa recomendá-los na disputa por alguma.
vaga.
tente das áreas rurais (Cf. Marx, 1969:cap.XXV), representam o próprio contin.
(8) tlQuandoa usina peja , sai uma media mais ou menos de 200 pessoas.zyxwvutsrqponmlkjihgfedc
E al5M
pessoas fic~ tudo parado. Recebe l7que1es 8 meses ou 9 que trabalhou (fars,
parte das ferias, ~rte do 139 salari~, recebe aquela bes!elr~nha, ne, e
fica. No engenho nao trabalha, que o serviqo no engenho nao da nemzyxwvutsrqponmlkjih
p ro
essoal
P r- que tá no engenho. Ai o camarada fica esperando esses dois
~
meses,
tres. Outro fica pelo mangue. Outro plantou uma lavourinha, ta comendo.
Outro vai fazer uma beliscada de ajudante de pedreiro, ele vai trabalharum
dia, dois. E fica assim até a usina moer." (esquenta-caldo)
(9) "Esse pessoal que é cortado .•veve como a provid~nc:ia quer. E os homens
Um que saiu naquele corte, chega p~la rua, vai fazengo uma coisa, outra,c~
mendo uma coisa, comendo outra, ate quando a usina moi. Que quando a usi-
na vai começar a moer, ai ele encosta ali na portaria. Bassa um empregado
lá, antes da usina moer Jantes, -; 'Seu Fulano, um servicinho seu Fulano,
um servicinho.' Quando a usina moi, coloca ele de novo. E tem gente ai
que tem 10, 12 saldas na carteira, sai, entra, sai, entra, sai, entra.tt
(serralheiro) •
.224.zyxwvutsr
1 (10)
ve , o trabalho de servente representa tambémum período de socialização
plina regidas pela hierarquia daill ina. Durante este periodo, as relações com
os empregados, com os chefes de seção, relações muitas vezes mediadas pelo co-
nhecimento com algum operar í.o fixo que apoia a cooptaçao do servente., consti _
zonal.
,
dali. Ai quando tava perto da usina moer, eu falei pra ir pra moa-
,
gemo Ai o administrador, naquele tempo era Fulano de Tal. Ele dis
se: 'Tá certo, quando moer eu vou arranjar um lugar pra você no
parol' [Éerviço de servente que consiste em vigiar o esbarro do cal
do em sua passagem pelos t.er-nos de moend~. Ai fui pra moenda, né.
Ai fiquei pra lá, lá vai" trabal"ando, quando se dava, às vezes pr~zyxwvutsrqponm
i'
-
(10) Essa comurrí.caçaopede se d2:;~mesmono interior de uma safra, atraves da
,
substituição da mê:o-de-,obraque abandona o s ervâ co pouco compenaa.tcrí,o e
pesado do armaz~mou das caldeiras" Ã
A associaçã~ desses serventes com a /
mediatamente !1 cobram" dos operáriOS a suposta divida que eles teriam contra.ído
com a. usina por terem sido selecionados. Desta forma, muitas usinas demoram a
em que transformam essa punição em I!pr~mio" para os operáriOS que chegam ao fim
,
de um periodo de contrato, geralmente a moagem, e que nem pensam mais em rece-
ber a semana dentro. Al~m disso, a administração procura prolongar essas suas
práticas acima referidas quanto aos novos operáriOS, geralmente serventes --zyxwvutsrqp
a
dos para uma outra. ocupa.ção, não reclassificando sua nova profissão na carta!.
buindo para aumenta.r a raiva de classe que têm os operários dos empregados.
mediadores de todas as decisões que dizem respeito à vida dos operários: a on!
ce ser o ponto final de uma trajetória social que, além de ser geralmente acem
seu casamento ao emprego estavel em usina: alguns deles justificam ter ido pr~
,
curar um emprego operario em usina por terem casado, outros, inversamente, ca.-
(11) "~ oE nós 12 pai do ,inf'ormante e sua f'am11ia] estava ,nessa vida, tira.n
• ")
operário obter o usufruto de uma casa da usina~ nos arruados destinados às fa-
mílias operárias que circundam a usina, de forma tal que esse lugar seja hom~-
logo ao lugar dos operários na estrutura social da usina. Com efeito, contra!zyxwvut
/ ,
tando com as casas dos ~mprel:I~9-0~'casas espaçosas e confortaveis de classe me
dia abas tada , as pequenas cas as dos operários, uniformes e coladas umas às ou-
,
tras, situam-se nos lugares mais poluidos e insalubres das vizinhanças da usi-
do processo
- ,
de produçao do açucar--
"bueiro", a chaminé da usina que" levada pela direção do vento, inunda a casa
dos operar í.os : o barulho intermitente dos trens passam o pela estrada-de-ferro
ma das usinas visitadas, a rua dos empregados Loca Lí.aava-s e defronte à porta
casa cercada de vastos e bem tratados jardins, possuindo uma horta própria pa-
fora, então que eu vi que não dava certo t.rabs.Lhando fora, eu fui .•arru -
mei essa mulher, essa moça}zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
e fui me dando com ela. Adepois que me casei
com ela, depois de um ano mals ou menoszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFE
ai procurei a u;ina pra traba
J
lhar.1! (serralheiro)
"Eu cheguei nessa usina aqui em 43. E comecei a trabalhar) trabalhando em
seção de moenda, e depois subi pra fabricação, e fui_desenvolvendo a vi ~
da. De maneira que nunca fiz futuro nenhum na questao da vidao Essa mi-
nha vida sempre foi de trabalhar. Então me casei, ai foi que cerrou-se o
tempo mesmo. !}~ (cozinhador)
lf
.228.
bril vizinha.
(12) "Sempre foi difícil arrumar uma casa em usina Às vezes acontece, o cama
rada chegaJ.
.,.
topaài um empregado," um chefe daqueles, que é conhecido
;
dõ
camarada, e conhecido, ele se da com a pessoa, ne, porque tem gente que azyxwv
I I
gente olha pra ele, ele se da logo com ele, se da. E tem gente que a gen
te olha pra ele; e não se dá com ele, Às vezes acontece. O camarada che
ga, chega na boa"
/'..
Chega lá, faz um serviço, arruma .
um . com duas-
serviço, •....•
semanas, um mes, arruma casa, Outro bate aquelas USlnas todlnha e nao ar
ruma casa. Tem isso. A gente vive sacrificado. (serralheiro)
lI
· 229.zyxwvu
• Â • .,,, zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJI
m~nanc~a de uma das duas categorias nas vilas operarias em territorio da uai -
na: (a) os artist~s predominariam nessas vilas, ou pelo menos teriam priorid~
sar seu salário horário menor, minimizando suas despesas monetárias feitas com
A _
tivas simples não se realizam de forma ~ica, elas podem combinar-se com ou
que possam vir a ter com relação à moradia em casa da usina ou não, com as eon
tando a estabilidade que lhe vem consagrar a concessão de moradia com as difi-
procurando um tipo de aluguel mais barato e estável (por vezes pagando um foro
.230.
,I
outros procuram fugir de tal concessão, vendo que ela transforma-se eQ grave~
pecilho na hora de procurar outro emprego, hora esta que pode advir com grande
fissionistas (13).
por vezes difícil obtenção de uma casa pelo operário que a pediu: ela sezyxwvutsrqponmlkjihg
esten
letricidade, etco), como tamb~m aos pedidos de transfer~ncia de casa por parte
~
dos operarias.
(13) Muitas vezes a repartição dos opera rios entre os que ~oram em casa da usi
na ou não, pouco tem a ver de imediato com a repartiçao entre artistas e
profissionistas.
A ,
Por vezes os operários
A
"nascidos
,
e criados" no raio de
abrangencia geografica da usina tem por estrategia conseguirem sua casa
própria na rua, e assim verem-se com casa garantida quando da aposentado-
, ___, Â
to, pra apanhar uma conduçao, um onibus, e uma beleza, ne, daqui
mesmo da ponte é só esperar o 8nibus. E qualquer movimento quezyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
p~
ria, passa pelo exame detalhado das desvantagens relativas de cada arruado. E
res possibilidades de verem atendidas suas preferências quanto a casa de usi -zyxwvu
,
na, na medida em que algumas ca.sas se desocupam. Os operarios que passam a m.2
rar na vila operária da usina começam então a contar com uma série de recurso~
gões, e dependem da água e da luz fornecidas pela usina. Além disso, os oper!
rios residentes na vila podem se ver concedidos com pequenos lotes para um c~
A ,
tivo de subsistencia, lotes esses que podem ser fixos, em terras imprestaveis
à cana e portanto com solos totalmente esgotados servindo apenas para uma roça
depender de toda uma teia de "favores" por parte dos empregados para se verem
atendidos nos detalhes minimos de sua vida cotidiana doméstica (como, por exe~
eom recursos auxiliares a sua subsistenci~ como a permissao para plantar uma
roça. Essa teia de "ravor-es ", que se manifesta no que diz respeito à. esfera d~
te através das bandas de m~sica mantidas pelos usineiros que viam nelas ao mes
.233.zyxwvu
, , zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJ
mo tempo motivo de prestigio para efeitos externos a usina e instrumento de he
,
gemonia ideológica sobre os operários. A partir talvez do pos-guerra, as ba.n-
, A ,
das de musica vem sendo substituidas por clubes de futebol. Atualmente existe
A atividade dos operários neSSe lazer organizado abre para eles uma. área
das bandas) se vêem assegurados um emprego estável na usina Com algumas rega -
tlética declina com a idade ou por outro motivo, as repercussões sobre o seu
trabalho enquanto operar-ão se f'azem sentir, havendo uma retomada, por parte da
nar um pequeno grupo vivendo na vila da usina, muitas vezes habitam certos alo
jamentos dados pela usina, além de receberem um salário semanal superior à mé-
:fam:Íliade "classe média" das pequenas cidades vizinhas à usina e dominadas por
ela. Além disso, os clubes das usinas J mantidos por cotisações descontadas na
I - zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
.234.zyxwvutsrqpo
folha de salários dos operários e geridos por empregados (14), constituemzyxwvutsrqponm
-se
tes por um curto periodo e cortados em seguida. Muitas vezes surgem conflitos
moradia dos operáriOS na vila da usina, assim como, em boa medida, do próprio
, "
lazer operario, assemelhando-se assim as características formais da extensão
, ,
(cf. Goffman, 1971), no entanto o proprio carater familiar que possuem os ope-
rários estáveis e residentes no território da usina contraria a semelhança que
lia dos operários parece não poder ter sua força de traba.lho desenvolvida de a
(14) Em uma das usinas visitadas, o presidente do clube era o chefe da seçao -
de fabricação.
.235.zyxwvutsrqpon
corda com as potencialidades da. "administração;' dessa força de trabalho que
Com efeito, a mulher operária de família residente em vila da usina tem suas
perária, elas são mais limitadas ainda: a usina não lh$ oferece nenhum serviço
oferecem são bem maiores (1 5). Mas é principalmente com relação aos filhos h~
tárias -- através das quais ela se serviu para imobilizar o operária durante
sua vida ativa com relação às suas possibilidades no mercado de trabalho --zyxwvutsrqponmlk
p!
~
10 menos de uma geraçao para outra. A usina tenta evitar assim o desenvolvi -
(15) As mulheres dos operários que moram nas cidades maiores .•assim como as mu
lheres dos trabalhadores da rua .•ex-moradores expulsos, têm maiores opor-
tunidades de trabalho remunerado.
.236.
saria a existir por tradição, de certa forma independentemente da mediação da
fato: passando a cobrar aluguel pela casa sob a forma do desconto de uma peq~
dos pela usina e chamados por ela de outras usinas. Esse procediment~coeren.
subseqüentemente com a outra mão para mostrar aos produtores de todas as coi ~
sas que nada ali lhes pertence --, não deixa de aparecer como contradit~rio p~
Ias operários e fruto da "vontade maligna" dos homens, os patrões e prinCipal ...
Tomemos aqui o que os homens dão com "uma mão" aos operários, atrav~s
dessa teia de "ravor es rt. A administração provoca assim uma certa competição
,
entre os operarios pelos seus "ravores ", geralmente sob a forma personalisada
associatividade. E parazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
isso contribui enormemente a esfera do trabalho e a.
trário da hipótese acima que pressupõe um bairro operáriO não controlado dire-
,
tamente pelo patrão. Com efeito, a "comunidade'; de operarias representada pe-
Ias vilas operárias das usinas, se à primeira vista poderia indicar um fator
~ " I"<J , ,
sas, uma "união" análoga à cooperação imposta aos operár í.os pela organiza.ção ~
bril da produção nas usinas -- uma "união" imposta e controlada pelo patrão.
mobilidade dos operáriOS no mercado de trabalho. Pois sem d~vida que qualquer
jado. Com efeito, colocar-se na posição de quem procura emprego em nova usin~
leiras dos desempregados, com o agravante de ter que providenciar, nas piores
condições, um teto para sua familia. É essa instabilidade que se reflete dir~
têm que pensar duas vezes ao verem negadas pelos empregados suas reivindica
ções mínimas.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONM
,
"o problema da gente e esse, a gente vai sofrendo. De vez em qu~
,
do morre gente aqui de acidente, a gente faz o mais impossívelzyxwvutsrqponmlkjihgfedcb
pe-
, _ A
açao a ele. Ele diz: 'Vou ver esse assunto.! E se a gente insis-
tir, ele abusa, é pior. Pronto. E fica nisso. Ai vem o mecânico
e diz: 'Mas z~,você tá amarrado?' Eu digo: 'Não, não é amarrado,
é porque a gente sustenta essa familia toda, não tem que ficar pr~
ocupado? I Eu sei que eu de í.xando esse lugar aqui, eu acabo achan-
do outro lugar pra trabalhar em algum canto. Mas eu aqui, entre -
guei G? lugar de trabalho, a vag~, isso aqui não ~ meu, a casa e
da usina. Quando eu entrego, eu vou trabalhar fora, deixar a fam::Í
lia na casa, sem nada, como é qU'2 eu vou fazer? Ai a usina manda
, , A
qual são submetidos pela administração -- que mostra assim implicitamente como
sina ter de procurar novo emprego, sua familia nuclear poderá ter de passar pOr
uma fase de dispersão, tendo que recorrer à rede de Sua família extensa pela
va usina onde trabalhar ainda terá de passar pelo crivo seletivo de outras us!
nas, que não deixam de incluir em seus critérios de seleção informações e mes-
operáriOS que vão procurar um novo emprego em usina e operáriOS que são chama-
dos operários do açúcar. Recoloca~se então ai, através dessa distinção, o po-
(16) "( .. ,) Ai a gente entrega [p luga1J aqui ai aonde a gente c~egar, em al-
J
gum Lugar , o camarada diz: 'Eu quero uma ct;:rtade r-ecomendaçao da usina ~
de voce trabalhou.' Porque hoje, hoje estao exigindo isso, 'quero uma car
ta de recomengação pra você trabalhar aqui, I A gente vem pra usina~anti~
ga, a usina ta com raiva da gente porque a gente entregou o lugar,ai diz:
'Eu não posso;dar p~rque virou, porque me~eu, e coisa [!~fer~nci~ aos su-
postos "prejuizos a usina que deu o operario por ter saidi} .' As vezes
ti
bilidade dos trabalhadores: aos operários que sao procurados pela usina, tudo!;
ordenado, tem uma casa ai com luz, tem agua, o que voce quizer a -
qui, a gente raz pra você. I Porque se mandou chamar a gente, é p<?!
,
que ele precisou da gente. Precisou da gente, e a gente quando e
chamado, tudo tem por algum tempo. Quando for com um ano, dois, u
ma coisa, ele pode p8r a gente pra fora de novo. Mas aqueles tem-
, ,
pos, que a gente vive acola, e um conforto, porque a gente foi cha
A -
mado . Mas que a gente for procurar, nao se move. Mas a gente in-
do procurar nada disso eles não dão à gente. Tudo o que a gente~
, "
nha, tudo o que a gente quer, e no sacrifício. As vezes eles pre-
cisa da gente, mas sabe que a gente vai procurar, tem necessidade,
" ;
ai precisa, ai tudo ali pra gente e sacrificoso." (serralheiro)
L
.241.zyxwvutsrqpon
rá.:bio$ dós operá.rios residentes há mais tempo na usina, e que se v~em compara-
tivamente prejudicados. Assim a distinção entre os chamados e os que vão pro-
curar,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
opez-arrbe no "mez-cado de trabalho", se refra.taao n:Í.velda usina na dis-
tinção entre os de fora e 0.3 da ~G.3a, os nascidos e criados ali (17), Enquan-
to alguns operários da casa escolhidos têm que ser garantidos junto ao patrão
por seu chefe de seção para fazer face à. concorr~ncia dos de fora -- e assim
rário, ou vendo ser preenchida por esse novo operária uma vaga ocupacional que
res TI para a.Lguna dos da ~ ao mesmo tempo em que exprçprãa outros. Inversa-
mente, esse controle da administração d.a usina sobre a própria esfera domésti ..
(17) "o cozinhador foi se a.posentar, tecva velho, enfadado, então ele foi se a-
posentar. Ai, o chefe da fabricação perguntou se eu queria assumir ares
ponsabilidade. Não dava o ordenado logo. Mas futuramente ele ia dar por
que al"1uiloera uma coisa que ele ia pedir ao patrão. Quando ~ um of'iciaI
":1 r , "'" ,
filho ~a casa mesmo, n~ [Eiso curto, ir8nic~, tem que pri~eiro pedir, e
o patrao, o gerente, acha que deve chamar um de fora. Entao por interes-
se da~uela pessoa [9 chefe de fabricaç~o, no cas~: 'Não, mas esse rapaz,
ele da conta do trabalho. Os outros nao fazem mais do que ele. Eu conhe
ço o trabalho dele.! Então o indiv:Í.duofica creditado através daquele en
carregado da seção." (cozinhador)
.242.zyxwvutsrqpo
~zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ca dos opsrar í.os (moradia, "Laaer "}, esse poder onipresente de redistribuição,
partida para uma só usina como ponto de chegada. Isso se dá quando ocorremzyxwvutsrqponm
»:
as mudanças de gerencia que periodicamente agitam as hierarquias das usinas .
tradores gerais, e estes por sua vez estimulam também relações de 1ea1dadep~
soa1 com relação aos chefes de seção, há uma verdadeira migração por "cliques"
,
de uma usina para outra quando um gerente e demitido pelo usineiro, ou quando
um salário superior lhe é oferecido por outro usineiro (18) Nessa rotativi-
(18) "Quando sai gerente, sai gerente e sub-gerente, sai todos dois, Quando
chega, ,chega todos dois de novo Cada um traz o seu, sabe. Quando
/ ~ o ge - /
rente e dispensado, aquele sub-gerente e delei vem com ele, ne, ai passa
A A ~."
um mes, dois, tres, eles chamando de Ia pra ca, ou ele e dispensado tam-
bém, é assim. Quando entra um gerente aqui, ele traz o 29 gerente dele Jzyxwvutsr
, •.••• , I' /
n~dos artistas,
/
os operarios mais imprescindiveis
~ -
da seçao de fabricaçao tais
~
te recebem ofertas dos empregados que se deslocam para outra usina, pouco te~zyxwvutsrq
po depois que estes se instalam como os novos elementos que incarnam a hierar
quia superior na nova usina. Se tais operarios não são diretamente chamados,
usina que têm comparativamente os operáriOS que moram nas pequenas cidadesp~
rário, ele coloca, tem 3, 4 empregados, né. Quer diz~r que esse pessoal
empregado, ~ue já é dele ~erent~ assim, pra eles nao falta~nada. Pro
empregado nao falta nada, eles sendo dele assim, andando atras dele, e
tudo (analista de laboratf>:'io)
ti
.244
çao (19)
dutivo nas usinas são por vezes disputados no "mercado de trabalho" das usi -
a nova maquinária utilizada nas plantas que incorporam a cota de cana absorvi
, A
(19) Esses chamados podendo dar-se quase simultaneamente a mudança de geren -
cia e seus homens
, de confiança para outra usina, que chamam
,-
alguns operizyxwv
rios estrategicos; ou pode dar-se simplesmente devido a necessidade des-
te tipo de operário em uma usina que tenha uma vaga à sua disposição. u-
ma outra rotatividade de operários pode ocorrer em função de necessida -
des de apontamento nas usinas, uma turma de operários acompanhando um 0-
peririo principal chamado para empreitadas, Essa seria uma rotatividade
especifica de artistas e seus ajudantes.
(20) "Esses trabalhos que tem em usina, eu penso que a melhor profissão é me-
" , A
tas, devido ao fato de possuírem profissões que podem ser utilizadas em tipos
, -......", ,
diversos de industrias, sendo profissoes nao especificas as usinas de açucar,
administração que lhes tira com a outra mão o que a primeira lhes dera, expr~
bilizado" tais como as casas dos operáriOS -- onde eles são imobilizados --p~
isso: e que tinha uma usina grande e uma usina pequena Acontece que a-
o
quele usineiro era mais poderoso, então comprou aquela usina pequena, sa
bendo que a usina dele era grande e vencia a cana da outra usina. Entãõ
ele parou aquela, os operáriOS que servia a ele, trouxe pra grande, e a-
queles que não servia botou pra fora. No tempo que eu entrei pra usina
tinha muito mais gente dentro da usina. Tamb~m os maquin~rio era dife -
rente. Aqui tinha umas 15 ou 20 turbinas, e de duas em duas tinha um ho
mem. Então eles compraram três somente que resolvia todo o problema, en
tão aquele povo sobrou, foram tudo embora, e duas pessoas resolveu o ca~
so das turbinas Ai vai diminuindo, tem muita gente saindo com esses pro
o
.' ~.
expropriação que se pretende gradua11stica para evitar protestos, é, no entan
to, muito ressentida pelos operários: ela é tida como uma trapaça da adminis-
tração e uma burla ao "contrato" informal e costumeirJ no qual essas conces -
sões extra-monetárias, de caráter "grat.ut.to': , são "cont.ab í.Lãzadaa " como con ••
~ , /
mente feitas por administrações passadas, o que vem reforçar o fatalismo pea-
(22) !IAgente paga uma taxa de Cr$ 5,00 por semana pela casa, descontado em
folha. Eles começaram essas cobranças o ano passado, pedindo Cr$ 2,00 ,
depois foram aumentando até Cr$ 5,00. Desse jeito vamos acabar pagando
luz e água também.!1 (pintor)
, "
°
(23 ) "Pra empregado e melhor por tudo e em tudo, ne. Sobre o salario e tudo,
né. empregado já tem o nome, né, empregado, tem vantagem em tudo. Já.
a lenha
, para gente. A gente temos lenha aqui, temos isso tudo. Mas le- /
nha e uma dificuldade pra vir. Eu tou com uma lenha la pra vir desdesex
ta-feira, que eu juntei
,.. / a lenha lá"L!: ma esplanada
, da usinã1.
!l Já é terça:-
feira e a lenha ta la ainda. E e porque eu ja sou mais aproximado
, A
aos
empregados, ne. Quando eu falo uma coisa, com tres dias ou quatro arr~
jo ao menos a metade do que pedi. Se eu fosse um empregado~ um chefe,ja
vinha ela logo, e lascadinha. Ai quando eles dizem que tá em falta o ca
marada tem que se mover, ir buscar" um pau na beira-,do rio, ir ,buscar nã
;
mata, uma coisa. E muitos ai ja habituam com fogao de gas, ai preferepa
gar o bujão. (analista de laboratório).
iõ -
.247·
(24),
simiSta que preside a visão dos oper~rios quanto ao futurozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUT
Essa expe~
capitulo pode ser vista como uma forma de caricaturar o processo de expropri~
ção constante ressentido pelos operários. Por outro lado, essa expectativa de
dos moradores da parte agrícola da usina, sendo também um dos suportes da in-
terligação, que fazem alguns oper~rio3, da situação de privação dos dois gru-zyxwvutsrqp
~
pos sociais (cf. a seção 4 deste capitUlO). E se essa expropriaçao gradativa
a~, ~ue ele deu ai p~a plan~ar, no tempo de Dr. Fulano, dono da usina.
Ta ai, ainda ficou ai mas ja ouvi dizer que eles esse ano, a derradeira
vez é essa. vã9 tirar as roças do povo pra plantar cam z'
j~ a terra tá.
cansada, ele ja quer tirar 1 e falando que IV1ra o ano nao vai plantar mais,
vão s~ colher o que tem. (evaporador ) []rote.-seo emprego constante
fi do
ele, nas frases do evaporador, denotando a onipresença do homem, do dono
e/ou do gerent~.
!IAgente paga aluguel, eles descontam 5 cruzeiros por semana. Não pagava
não, mas de seu Fulano pra cá a gente começou a pagar.;Ele explicou que
a gente, sen~re pagou habitação, mas pagava enganado, ne, dizia
A
que paga-
va remedio, agora, a gente tava pagando casa. Agora a gerencia dizia que
era remédio, descontava e enganava ,a gente dizendo que era~ remédio.
A Ago-
_
ra, quando foi de seu Fulano pra ca, seu Fulano disse: 'Nao, voces nao
.248 e.zyxwvutsrqponm
ozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
processo de expr-opr-íaçaocontinuo a que estão submetidos os operários,
para todos os ocupantes da vila da usina. Mas se a teia de favores com que a
paga remédio não, voces paga casa, paga habitaç~o.! ~i a ~ente disse: :A
gente paga habita~ão?! Ele disse:
~ ..
Paga, o ,remedio e remedio que voces
!
tem de graça agora paga habitaçao. Mas remedio a gente paga. E antiga-
I
mente, mesmo quando a ~ente não tirava remé~io, vinha descontado. A gen-
te pensava que era remedio, mas era habitaçao, eles enganavam a gente."
(evaporador )
(26) '~ pessoa se aposenta, vamos dizer que somente aquela pessoa aposentada
trabalhava
, na usina, né. Então, eles dá um ,prazo assim, de 3 meses, 4 no ;
maximo, pra desocupar a casa. Agora, tem ai uma viuva, que mora numa ca-
,p ~ - ~
sa ai atras da usina, uma velha, que a usina botou pra pedir a casa. Ai
ela disse: 'Eu não vou não, eu daqui não saio, só saio quando morrer .Meu
marido nasceu, se criou e morreu dentro da empresa. Eu não saio. [E i I
so~ (pintor)
ff
80 sei que ele veio ai no escritorio pra fazer um acordo e tal, mas nao
.249.zyxwvutsrq
essa prática expropriativa da administração da usina, considerada pelos oper!
rios uma traição ao "contrato de trabalho!! costumeiro das usinas, vem somar -
se ao efeito ressentido por eles com relação ao "r-oubo das horas extras", com
(27) As suspensões são freqtlentemente t.omadas como ponto de honra dos oper~ -
'"
z-Los, a partir da ccor-rencia c~a8 qua í.s eles começam a procurar novo em -
prego. Elas são assim um elos métodos utiliZ2,dOG pela ad.t11inistraçãopara
irritar e forçar um op~~:;:,á,::é'ío
incle::;ejadopor ela a demitir-se: outros mé-
todos cons Iatdndo , por exemp'lo , em ped~ a casa da usina ~nde porventura
mora o operario ou em transferir o operario de sua ocupaçao para uma in-
ferior periodicamente.
"Eu tenho um tio que faz 6 meses que t~ aqut , e j~ entregou o serviço
que ele trabalhava. Ele é scne,lheiro e botaram _meu tio pra trabalhar noA
bagaço. Ele entregou e va.5_embor-a parece, pra Sao Paulo. Porque meu avo
adoeceu, no Recife. Ele foi lã: v~8itar ele. Quando chegou, deram uma sua
pensão nele. Ele disse que não i-;:.r;,:;itavasuspensão,que ia embora.
, Ai bo-=-
t.aram ele pra varrer ali a espl.anada déJ us í.na , Eu paas e La hoj~ e digo: í.
'Mas meu tio, o senhor, serrulnetro , ai lascado.' Ele disse: tJa entre-
guei! Já entreguei!' Gntonaçã~ ele indignaçã<?] [!.is0rU Eu disse: 'Certo.'
Entreg~u e,disse que vai pra Sao Pa~lo. ~le disne que vai mesmo, que por
aqui nao da. E eu as:.hocerto, o negocio e_esse. (servente) @otar
ti o
termo entregar, sinonimo de "pedir demissao", e que parece denotar um ca
, - ;I __
ria social de cada vez maior dependência à hierarquia da usina, tanto na esf~
pela administração são despejadas em bloco pela usina, tal como o bagaço e a
ga!
borra do caldo, quando a força de trabalho do operário está completamentezyxwvutsrqponml
rários do aç~car que encontramos no capitulo 2: "a usina come a carne doszyxwvutsrqponmlkjih
op!.
,
rar tos e depois joga fora os ossos. li
*
*
Se a administração da usina, através dos seus empregados, é onipresente
-
nas decisoes que concernem
,
o trabalho e a moradia dos operarios, como estra •
4, pg 135), abarcando não somente tudo que ocorre na sua usina, mas tambem
discurso, mesmo que implicitamente. E sem d~vida que a visão dos operáriOS a
rios defrontam-se com uma administração onipotente para a venda de sua força
de tra.balho.
Antes da implantação da legiSlação trabalhista na parte industrial das
como também favorecia a operação da ~nica lógica permitida pelo usineiro para
bém a algumas dessas concessões. O modelo do bom carreiro, com o qual QS Op!
, ,
rarios da epoca ironizavam aqueles que se excediam nessa dedicação patronal ,
ram formar arte têm que demonstrar dedicação ao trabalho e lealdade ao patrã~
(28) Esse 'regime antigo" das usinas incluia também castigos corporais nos op.!:
rárioa, como "sanção disciplinar":
"Antigamente a gente não tinha esses direitos, né, hoje em dia nós
tem
, um direito devido a Get~lio
, Vargas, que deu, os direitos da gente e
ai melhorou alguma coisa, ne. Porque naquela epoca, que eu mesmo, quan
do era megino, rapazinho, o camaradinha mode um tiquinho de açúcar ~ro~
bo" de açucaJj!J apanhava, outro vivia amarrado na frente do volante, ou •.
tro dentro daquela cuba de destilaria que nem barril, o camaradinha com
água faltando uma polegada pra entrar na boca. Eu perguntava a meu tio,
'Meu tio, aquele homem, porque tá ali?' -- 'Meu filho, é porque botou um
pouquinho de açúcar na boca. r Castigo, naquela época, compreendeu? Mo-
.253.zyxwvutsrqponml
ções com o patrão e os empregados e, por outro lado, o modelo do bom carreir~
ponto de honra o serviço bem feito e a disposiÇão para qualquer tarefa. Essa
"moraã " é encontra.da hoje em alguns velhos operários -- não em todos, muitos
Agora, e pra servir, ne, e pra servir. Porque a pessoa que tem
(29) "Os especializados sempre tinham mais uma regalia, ne , mais uma conside-
raçãozinha. Mas quando era pra botar pra fora~ acabou-se a considera
çâo.lf (ex-presidente do Sindicato)
.254.
brio, a pessoa que nasceu por 1909, a pessoa, cheia. de carrancis-zyxwvutsrqponmlkjihgfedcba
-
mo, nao quer ser reclamado, essas coisas todinhas. Agora, traba-
é reclamado) entendeu? Que a gente capricha,
lha, morre, mas nãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
eu mesmo tenho esse capricho. Eu saio daqui, tem um caminhão pra
transportar a gente pra usina às 11 horas, se eu souber que o car
ro quebrou e pode fazer eu chegar tarde da hora D?o trabalh~,que
eu vou azyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
pés, somente pra não ser reclamado. Porque uma reclama-
ção pra mim é uma bordoada, é uma foiçada que prende. Sou capaz
de morrer mesmo, sou capaz de dar um colapso e eu cair. Que eu
tou acostumado, eu fui habituado nisso, e nisso eu quero termina~
Por isso que a pessoa velha tem essa qualidade. Eu nasci em 190~
E vou com esse carrancismo morrer. Mas nao vou mudar de repente,
, ,
ne. Isso e prejudicial, que eu sei, mas que eu tenho que termi -
nar assim porque, eu tenho meu cará:ter mesmo.H (vigia, ex-cabo da
estrada de ferro)
o trá.gico é que seu "cará:ter" é assim, que ele está:condenado, pelo pertenci.
mento a uma geração que tem o "brio" do serviço bem feito, a morrer com o
"carrancismo" que lhe foi inculcado em sua socialização no trabalho. Imbuí.
dos tanto da disposição para o trabalho como da lealdade com O patrão e com a
empresa (30), como podem admitir esses operá:rios que venham a ser reclamados
(30) A disposição para qualquer tipo de tarefa associada à lealdade com o pa-
trão -- essas qualidades de um anti-artista -- encontram-se nos versos
de um ex-ferreiro que depois tornou-se vigia. Esse ex-repentista que ,
tendo se tornado "crente" e tendo deixado a "birita", esse material auxi
-
liar do repentista, com ela deixou também o improviso e agora escreve os
,
seus versos -- par~ d~cepçaodos demai~ operarios, saudosos do s~u pass!
do de glosador. Nao e somente quanto a forma que esse ex-vigia
, e o anti-
poda do foguista-repentista citado nos dois primeiros capitulos: enquan-
.255.zyxwvutsrqp
ou investigadoS? (31)
L
.256.zyxwvutsrqp
sua ádministr~ç~o, como vimos principalmente neste capitulo mas também nos ouzyxwvutsrqp
~ ~
tros, nao diminuiu o lugar dos empregados e do usineiro no discurso dos oper~
patrão e a administração se dá menos por sua recorrência que pelo próprio cen
rM-ios PAra. marcar etapas de sua história de vida individual.. Entrando para.
a.~iha como servente ou como ajudante, conseguindo ser transferido para uma
do uma casa da usina para morar, vendo-se concedido com um pedaço de terra 'p!
ocupaçâopior, ou também para uma casa da usina pior ,a referência aos empr-e-'
gados "ruins", de i1coração mau" é feita em tom de den~cia. Por outro lado,
 ~ / ;
a referencia fundamental para marcar as etapas da propria historia dos opera- :
'." ..-.J
rios da usina reduz-se, no discurso dos operar~os) a rotaçao de usineiros, g~
, , ,
rentes e chefes. Alem disso, a hioto:d.a dos operarios de uma us ina determina
ralou " .
dos oper-ar-aos em geral ,,~ o que acar-reba fatalmente a reduçao- de sua
.- I' , " /\.,_
nistração marcam a história dos operá:Cies da u,sina, como elas atuam de uma ma.
reflete-se
,
na propr!
.258.zyxwvutsrqp
a. maneira comque contam a história de seu grupo social.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWV
"
Essa. maneira. de ver, dos operardos , a historia de seu grupo social esta~
dos direitos para os operáriOS, não deixou marcos importantes na história que
,
os operários de fazem do seu grupo sc.cial (33). E interessante contrastar-se
A _ ~ , A
"Ha uns dez ou doze ou vinte ou trinta anos atras, ninguemnao se im-
porta.va com documento. A gente pensava q~e não ia chegar esse ponto que
ia. ter validade de nada 08 docum:::ntcs. Nos duvidava. O que ele pegasse
e botasse na carteira, 8, gente aceit'1"ya. É por isso que hoj~ tem muita
gente prejudicada sobre o 'iu8tituti L?~ISJ.
E o sindicato nao funciona-
va. Nuncaque a gente reclamava uma coisa para ser atendida. Quemgoza
va, na.quelaépoca, quemgozava mais do s :indicato, era os empregados. Ma.i
o trabalhador, não. (esquenta-caldo)
11
mal de seus direitos, com a ampla mobilização social dos trabalhadores ruraiszyxwvutsrqpon
~
no limiar de sua epoca dos direitos em outra conjuntura, e com as conseqüen _
pregados, quanto à posse de carrco do "liltimo tipoH por parte dos empregados,
(34) Cf. Sigaud, 1971, e Palmeira, 1974. Quanto à hist~ria do sindicato dos
trabalhadores indu,Striais do açuca> além de ter poUCO!3 elementos :eara
tentar ,reconstitui-la, não cabe ~aqui apresentá-Ia, por suas implicaçoes
de politica sindical mesmo ao nivel nacional.
, De qualquer forma, apri-
.
meira diretoria do sindicato era constituida predominantemente por empre
gados. Tendo sido sempre ligado politicamente a burocracia do Ministe -
~-
dos pelos operários para explicarem sua diferenciação interna, o saber fazer
os empregados não sabem fazer nada, eles não trabalham, mandam, e seu salário
e privilégios não t~m medida comum com sua atividade, seu não-trabalho (cf a
280 parte do capitulo 111), Ma.sJ quando querem, nem mandar os empregados ma!!,
, .
dam, principalmente quando a ordem pedida tem por solicitante um operar~0,8~a
rio para seu filho que lhe é negada sob alegação de inexistência pelo chefe
tre as mulheres dos empregados que têm emprego na usina como professoras ou
as
;
A
empregados sendo assim apropriazyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
inversão dos crit~rios que tem os
car a causa da própria diferença entre empregados e operários, assim como tO!
ta: "Porque os operar í.oe ganham tão pouco e os empregados ganham tanto? 11 1 fo!,
mulada como decorrência do discurso dos operáriOS sobre tal contraste salari-
al, a resposta recorrente remetia seja à d~vida, seja aos axiomas da ordem
, ~ ~ ,
(35) "Essa parte ai eu nem sei explicar porque e, ne. Eu sei que e por causa
do prestígiO do dono, que sempre
, preferiu mais aos empregados. Porque a
qui no nosso Estado, sempre e os empregados quem tira em linha de fren -
te. 11 (coz í.nhador)
"Isso ai, ninguém cabe lhe dizer porque" isso ai é questão dele, não é ?
Porque a um ele beneficia, faz o beneficio mesmo a uns Dá um ordenado
bom a uns, e a outros ele priva." (cozinhador 2)
"É, ninguém sabe entender o problema de eles não quererem pagar mais fãos
'~" , ,
operarios • Sem duvida porque acha que o grau so e aquele ~mesmo.
t.::
Eles
;
rigido aos empregados, com o "empregado bom'; e com o Tlbom patrão" de que fa -
deixam de ser uma arma do operário diante da vontade maligna da ordem social,
~
corporificada pelos empregados e patrões cons iderados gener ícamarrte , Sem du-
, "-
vida que, ao aceitarem essa arma de dois gumes, os operarios se veem ainda
mais presos a essa ordem social que os domina, os "favores" sendo não somente
"bom patrão" vem completar a visão das administrações sucessivas como "t.empo
estrutural" dos operários. Mas, por outro lado, essa mesma nosta.lgia aponta
A situação da gente que trabalha, sempre que o trabalhador não tem direi
to a nada. Quem vive malandrando, ainda tem uma liberdade, ainda tem
, , N
um
tempo de aproveitar uma estrela, ne. E o que ta trabalhando, nao
7' ".......
tem ~
e para eventuais fusões com outras usinas. Além disso~ essas administrações
netárias feitas no passado, pressionadas que estão por sua perda de poder re-
Pressionados, por um lado, por uma superpopulaçâo que rodeia por todos
os lados esses operários ilhados por uma massa de trabalhadores rurais exce -
os operários do aç~car não têm nem tempo de iludir-se com o "melhor emprego "
que oferece a "plantation" a seus trabalhadores, que eles já se sentem a.pris!
(36) Com efeito, tal "liberação", percebida por um observador externo para e-
:feitos anal:Í.ticosa respeito da tendência do "mercado de trabalho" das u
sinas, a transformar-se, no limite, em um mercado de trabalho proletáriõ
estrito senso, é um processo doloroso para os operáriOS concretos, dis -
tintos dessa entidade abstrata que é a categoria. "força.de trabalho", ,
- de imediato o desemprego e o ~"despejo"
pois representa ~
o Para uma ana.li-
se da_separaçao entre, por_um lad~a distinçao analitica en~re a~expro -
priaçao e a super-exploraçao e, por outro lado, ~ indistin~o pratica e~
tre estes dois mecanismos decorrentes da dominaçao dos patroes sobre seus
moradores operada pelos trabábadores, os quais tomam a ambos como uma
subtraçao do que é socialmente reconhecido como seu, cf. Palmeira, 1974.
.264.
, ,
Iado , pelo poder de redistribuição das usinas, que condicionazyxwvutsrqponmlkjih
o proprio car~
ter especifico de um "mer-cado ll
sua. mão ...
de traba.lho sem fluidez dezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPON
de-obra, ~
pulsos, por outro lado, para fora desse "mercado de trabalho" pelo movimento
, ".
expropriativo que ganha corpo progressivamente nas usinas, os operarios nao
mentada com a ilegitimidade da ordem social que os domina. Pois sem dúvida
comum" dos operários no seu a.tual "bom senso", ainda não produziu -- ao con -
caro
CONCLUSÃOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
Não é por acaso que o operaria iniciante, citado em epigrafe a este traba
do açúcar, esse corumba pode exprimir com mais clareza uma impressão de surpre-
ando com sua hostilidade patronal a hostilidade dos meios de produção; são ele
mentos compondo um quadro em que o vapor vem finalmente enfatizar seu aspecto
"sobre-natural", como que a sintetizar todo esse clima da fábrica: "o vapor do
oper~rios mais antigos têm dificuldade em exprimir. Sem dúvida que o corumba
distancia-se deste caráter: ele ainda não foi "enfeitiçado" pelo clima da usina.
fetichismo o fato de não ser reconhecido enquanto tal por seus ffpraticantes".
, ~ ~
Com efeito, os operarias do açucar) essa personificaçao do trabalho vivo,
.266.
estão na usina justamente para conservar e aumentar tal trabalho morto -- com -
pondo assim o quadro dessa inversão entre homem e coisa que caracteriza o modo
são, resultante não somente do fato que os meios de produção são independentes,zyxwvu
, ~ ,
estranhos e impostos aos operarias, como tambem do fato que as proprias combinazyxwvutsrqponmlkj
- ,
çoes sociais dos operarias entre eles no processo produtivo , as formas de sua
-,.." ,
cooperaçao, sao feitas a revelia dos operarias individuais; tal inversao faz
com que as condições objetivas de trabalho dos operários sejam como que dotadas
,
de vontade propria e faz com que as for~as produtivas sociais do trabalho sejam
,
vistas como transferidas do trabalho dos operarios ao capital corporificado nas
mesmo tempo em que quase não menciona nem a partiCipação dos operáriOS em todo
esse processo nem as ordens da hierarquia da usina Assim também esses mesmos
óper~rios que obscurece as relações sociais subjacentes à usina, mas também nas
próprias categorias mercantis que decorrem da produção tais como o salário que
lhes é pago. Com efeito, não somente os meios de produção que constituem a
; A ,
planta fabril da usina fazem face ao operaria como potencia hostil, mas tambem
rece como uma potência-fetiche a absorver o trabalho vivo dos operáriOS, homol~
rio-hora passa a ser visto como fixo, como uma categoria independente dos oper!
ras semanais variáveis de trabalho para garantir sua subsistência, como se cada
do salário, que tem por modelo a concepção do salário dos profissionistas, ser-
quezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
se efetua no processo de produção, entre um trabalho vivo dos operários ma!
d~stria "urbana". Com efeito" o caráter agrícola dessa grande indústria que e
dos quanto a indÚstria em seu território, não se pode pensar que a ênfase a ser
estrito, especifico (cf. Marx, 1957), no entanto no estudo de uma grande ind~-
naria, e emzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
11.'11 periodo referido a entre-safra agrícola" em que sao exclusivamen
diferenciaçao~ "
interna dos operarios. Com efeito" se durante a safra todos os
diferentes "
tipos de operarios estão pTesentes na usina funcionando a todo vapor,
te dos meios de produção, mas também das relações sociais -- aparece mais clara
desemprego sazonaL
gr!cola, a usina tem que situar-se em pleno meio rural, no centro mesmo do raio
seus operáriOS e suas famílias. Uma segunda caracter:Ística dessa grande ind~-
.270.
A interpenetraçãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
e dominação da esfera do trabalho sobre a esfera doméstica dos
mentares ao salario, tem como conseq~encia o controle que a usina exerce sobre
trabalhou dos operários do açúcar é primeiramente muito diverso para cada cate-
À
de sua atual usina. Grande parte dos operarias fixos, dessa forma, tem uma Ia!!,
'"
ga permanencia no seu emprego~ freqUentemente s6 tendo trabalhado para uma usi-
, -, ..
na. Essa inercia tende a inverter-se com relaçao aos operarias mais estrategi-
cos com relação ao processo produtivo, que são assim periodicamente chamados por
lo "trabalho morto"zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
refrata-se no próprio tempo dos operá.rios} que se vê trans
J
gens: o "tempo livre" dos operários, esse tempo minimo de descanso fisiológica.
tas trabalham tantas horas extras -- que para eles, enquanto "contadores de ho-
ras", têm a maior importância para a formação de seu salário semanal -- que se..•
ria poss:Ível a criação de mais um turno de operáriOS. E além das 12 horas de
trabalho habituais, alguns profissionistas ainda procuram "passar uma dobra" ,i!
,
to e, trabalhar mais horas no lugar de um colega ausente ou doente. No entan -
to, a tendência à. inversao entre a jornada de trabalho "extraordinária!; (const!
grante no que diz respeito à jornada de trabalho dos profissionistas ligados aos
ge. jornada de trabalho dos profissionistas, que vem tolher seu tempo dedicadozyxwvu
I
Estes, embora trabaJhem normalmente menos horas, e apenas durante o dia, duran-
maquinária.
direta com a "natureza" que lhe dão especificidade. As longas jornadas de tra-
lho. Pois embora o discurso dos operáriOS enfatize as duras condições de traba
lho a que são submetidos em suas longas jornadas, a ânsia, principalmente dos
mana 1 parece contradizer aquela enfase. O carater sazonal da usina vem assim
o zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
fetichismo do salário próprio aos profissionistas sustenta-se assim não
_ A
somente na visao posicional que tem os profissionistas dos artistas, tentandozyxwvutsrqpon
~ , ~
"fazer" um salario atraves da acumulaçao de horas trabalhadas que equivalha ao
nar a longa jornada de 12 horas durante a moagem; que no entanto eles sabem ser
trav~s do trabalho como servente, para então estar atenta e candidatar-se à me-
cado de trabalho" -- havendo uma divisão do trabalho r:Ígida entre parte agr:Íco-
da parte rural que chegam a serventes da usina -- no entanto sua presença coti-
, ~ '"
diana diante dos operarios no proprio territorio da usina e submetidos a mesma
/
autoridade central que eles faz com que sua maior privação relativa reflita-se
comparativamente, aos olhos dos operários, em uma atenuação por negação quanto
, , ,
às condições de vida dos operários. Essa caracteristica especifica aos opera -
ceção das usinas em crise, o que não deixa de ser freqUente -~ tendo concessões
I
os do açúcar são tidos como os ocupantes das melhores vagas de trabalho manual
usinas, fazem com que muitos operáibs do aç~car sejam dispensados e encontremca
da vez menos lugar em outras usinas. Embora unidade da grande ind~stria, o ca-
ráter rural das usinas de aç~car faz com que a introdução de novas máquinas ou
reorganizações da produçãopcupando mão-de-obra tenha nelas o mesmo efeito quezyxwvutsrqp
~ ,
na agricultura proprlamente dita: ao contrario das industrias urbanas que sofrem
nos novos ramos produtores das novas máquinas, havendo assim uma compensaçãop~
lar de expulsão -- não têm para onde deslocar-se quando aquelas modificações a-
~ A
tingem todas as usinas, senão migrar nas piores condiçoespara' a cidadeEles tem
que enfrentar então simultaneamente o desemprego e o despejo, e mesmo no novo
- - -
emprego eles nao terao as concessoes extra-monetarias a que estavam
/
habituados
na usina e que lhes diminuiam o custo de sua reprOdução -- embora uma reprodu -
ção sob o controle do patrão. Essa diminuição absoluta progressiva das vagas
para operáriOS nas usinas de aç~car) que recrudescem a cada ciclo de substitui-
.277.zyxwvutsrqpon
- de equipamentos nas usinas, ou a cada rearranjo entre unidades produtivas ,
çao
condiçao
-; -
dOQ operarios e da situaçao de seu mercado de trabalho. Taia conatran
traves do controle dos recursos estrategicos referentes a sua moradia, vem di!i
cultar enormemente as reivindicações coletivas com relação ao salário e às con-
dições de trabalho. As concessões extra-monetárias da usina -- que vão desde a
rários do aç~car parecem ter assim as piores condições poss1veis para o exerci-
ráter hostil da usina sobre o operáriO uma visão mais obscura do que a visão de
.278.zyxwvutsrqp
qua.lquer corumba iniciante que intuisse o "vapor do diabo" que ~ a usina.
No entanto deve-se levar em conta que o corumba iniciante formulador da
expressão intuitiva "vapor do diabo" é hoje em dia um operária antigo e que nar
maneira implicita e com o peso de toda sua experiência de trabalho, aquela sua
primeira impressão da usina. De fato, os operários do açúcar não são tão pris!
dustria inserida em meio rural, venha, por causa mesmo de suas caracteristicas
agr1colas, reunir em função de sua planta fabril uma grande variedade de tipos
de operários -- incluindo um contingente fixo apreciável de operários de manu -
tenção, essa "elite" operária que não é tão comum na maioria das fábricas lIurba
no da ideologia da fração que tem mais elementos para ilegitimar, aos olhos de
à
I
maiores contribuições para a formação dessa ideologia operária que tende a tor-
nar-se comum a todos os operáriOS de usina. Não que esses operáriOS de oficina
estejam isentos de qualquer "f'etiã.châsmo ": ao contrário, o "fetichismo" do satá-
rio desses operáriOS, tendo algumas semelhanças com o "fetichismo" pr~prio aos
seus operadores humanos, mas diretamente pela hierarquia da usina, ~ico meio
~ .
da usina impor seu controle sobre esses operarlos que a posse de sua arte habi-
~ ,
(2) Um codigo do trabalho e da arte semelhante e analisado 7 com urna abordagem
semelhante ao presente trabalho, em Alvim (1972).
.280.
sua qualidade de trabalhaCbres produtivos ao caráter improdutivo das atividades
_ , - A ,
da ldministração. Essa oposiçao e reforçada pela concepçao que tem do salariozyxwvutsrq
~
os operarios das oficinas, o qual, sendo justificado pelo fato de ser uma retri-
à produção de valores de uso tang:Í.veisincorporados ao próprio corpo
buiçãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA da
entais desfavoraveis a que estao submetidos uma estrategia que, valorizando suO,
ca ao nfvel da fábrica na procura por ocupações com ritmo de trabalho menos in-
(3) Tal ilegitimação ligada à con~epção do salário própria aos operáriOS d~ of!
cina, assim como a ilegitimaçao acarretada pelo ressentimento dos operarios
da seção de fabricação quanto à burla pela usina do pagamento de horas ex -
trasJ são elementos que transforma.m em "bom senso" critico o "senso comum "
dos operáriOS dominado pelo "fetichismo" do salário (cf. a nota 5 da.intro-
dução) .
.281.zyxwvutsrqpon
les pela usina, como essas categorias e práticas afirmam-se de maneira variada
usina, formas de oposição estas que não encontraram até agora condições prop1
pode aspirar a ser -- vem ter também um efeito de desilusão sobre os outros op!
,
rarios, -
tende a ver-se reforçada pela i1egitimaçao convergente provocada pelo
trabalhadores.
do trabalho e da moradia dos oper~rios que ela faz questão de dominar, que pro!
segue a resistência surda dos operáriOS do açúcar diante do despotismo da usi -zyxwvuts
I' • ." / /\.
na: banhados pelo "vapor do diabo", os operar-aos do açucar so tem por perspect.!
va exercer tal resistência nas piores condições, enquanto "a classe operária vai
ao inferno".
.282.zyxwvutsrqpon
ANEXO
"Então vamo começar dali pelo vascufhant.e, Ali pelo vasculhante tem obre ••
quista. Tem um rapaz que trabalha em cima do guindaste que chama operador.
Moião?
o moião é quando o caminhão chega, ele bota, a grade já é furada, eles colo.
ca aquela corrente, tem um varão, ele puxa a corrente, então ali já tem ou •
tro varão com gancho, ai ele levanta a corrente, o guindaste arreia e pega.
Ai eles dá o nome de moiao. Ai eles dá o nome de moião. Então dali, ele I!
va a ponte rolante e vira. Chega até a moenda . Então da moenda , a moenda ~
para aquele bagaço que é aquele que vai pra caldeira, e o caldo sobe pra fa-
bricação.
na cor que ele quizer, tem um papelzinho que chama o PH, ele tira um pedaci-
nho daquele papel e prova. Aí o quimico diz: "Eu quero com, tem uns numero-
·283 .zyxwvutsrqp
zinhos no PH, ele diz eu quero 6 e 8, eu quero 7 e 1211, depende da dosagem
que o quÍmico pediu o chefe. Então, ele ali controla. Então aquele caldo
de novo vai a bomba, toca, tem dois esquenta caldo daqueles que trabalha com
vapor.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA .
Um com 90 libras e outro com 105 libras, aquilo vai d~reto para o dn'
o que?
Para o d~. O dó é aquele, uma espécie de tanque bem grande, aquele volume
bem grande que acumula todo o caldo ali, todo o caldo é passado ali.
Pra pesar é?
-- Não, ali é onde ele vai separar aquela cachaça, que eu lhe mostrei, que ser-
ve de adubo de novo pra cana, e separa o caldo. Então o caldo vai às caixas
de tipo onde vai apurar, pra fazer o xarope, ele engrossar mais, então dali
já toca, tem uma bateria, que é uns tanque, toca praqueles tanque, é só pra
receber aquele material, então dali ° cozinhador vai controlar aquele mate -
rial. Quando chega lá no vácuo, o cuzinhador, ele trabalha, aquilo é uma ee
pécie de um vazio, faz um ar, e aquele ar puxa aquele material. Ai o cozi -
nhador vai controlando ali. Tem outro vácuo que a gente faz açúcar de te~
ceira. O aç~car de terceira é um açúcar que eles fazem, pra fazer uma espé-
cie de uma semente, uns chamam semente e outros de dapé, mas o mais prátiCO
, , ~ ", ,
pra gente e, pra dape pra o vacuo , ai ja sabe, o vacuo, ele arreia aquele
açúcar, numa turbina, turbina de novo, numa turbina que é de terceira, que
não é uma turbina que turbina o cristal que é a primeira, não turbina. Uma
turbina não turbina o outro. Ai dissolve aquele açúcar de novo, e t>ca, e
volta de novo pra fabricação. Quando chega ali, ai tem um vácuo exclusiva -
mente só pra puxar aquele açúcar. Ai o cozinhador controla ele de novo com
o xarope até certa altura. Então ali quando ele arreia o vácuo, dá aqueles
apitozinhos, cada um apito daqueles é um vácuo que arreia. Ali então em bai
xo, tem um ajudante, o serviço dele é só pra controlar, o cozinhador só faz
,
mesmo alimentar o vacuo. Ele pega naquelas volumezinhas ali, abre a quanti-
dade que ele v~ que o vácuo aguenta. Se o, tem vez que ele não pode abrir
nem meia volta. Depende do xarope, porque aquilO é pelo grau. Quando o ap~
relho tá bom, a cana tá apurando bem, dá 30 grau, dá 20, dá 15, dá 18, depe~
J ~ ,
de se pode ter algum vazamento, nos aparelho e cai água, ai cai. Ai, ai e
um desmantelo. Então quando ele chega ali, ai o ajudante do cozinhador vem,
fecha aquelas válvulas de vazio, fecha o vapor, e tem um válvula embaixo com
.284.
,
Embaixo tem o cristalizador. Arreia ali, ai
uma tampa, então ele abre ali.zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWV
, -
embaixo tem um ali naquela manobra,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPO
50 pra controlar entao quando chega ali
no cristalizador, o manobreiro desce, e faz a manobra pra descer pra turbi -
na. Dai pra turbina ele vai tubiná, ai chama o turbineiro. Turbineiro tubi
, IV / , , ,
0000000
BIBLIOGRAFIA
PALlBAR, Etienne
1971 - "Sur les Concepts Fondamentaux du Matérialisme Historique", in AL-
MasP!
THUSSER & BALIBAR: Lire 1e Capital. Paris: Petite Collectionzyxwvutsrqponml
ro.
BOURDIEU, Pierre
,
1963 - Travail et Travailleurs en Algerie. Paris, ta Haye: Mouton & Co.
1974 - "Condição de Classe e Posição de ClasseTl, in BOURDIEU, Pierre: A
Economia das Trocas Simbólicas. são Paulo: Editora perspectivaS.A~
COMI'E"Auguste
1973 - Discurso sobre o Espirito Positivo, in COMTE & DURKHEIM: Coleção
"
Os Pensador-es - Histor:!.a ,
das Grandes Ideias do Mundo Ocidental- ,
XXXIII. sãõ Paulo: Abril S.A. Cultural e Industrial.
EVANS-PRITCHARD, E.E.
1968 - Les Nuer, Description des modes de vie et des Institutions Politi-
ques d i"üu peuple nilote. Paris: Gallimard.
.286.zyxwvutsrqponml
F'ERNANDES, Hamilton
, "
1971 - Açucar e Alcoo1, Onte~ e Hoje. "Rio de Janeiro: coleção canavieira
4, Instituto do Açucar e do Alcool.
n9zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
FURTADO,
Celso
1964 - Dialética do Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Fundo de Cultura.
GARCIA
JR., Afrânio Raul
1974 - !IACategoria Trabalho entre os Pequenos Produtores: Exame da 'a.gri
cultura de subsistência' na região de transição entre a Zona da Mã
ta e o Agreste de Pernambuco" (manuscrito preparatório à tese de
mestrado: ~erra de Trabalho). Museu Nacional (ms.).
A
GARCIA
JR., Afranio Raul & HSREDIA,Beatriz
1971 - "Trabalho Familiar "
e Campesinato" J America Latina, n9 1, 1971.
GODELIER,
Maurice
,
1973 - Horizons, Trajets Ma::'xistes en Anth..ropologie. Paris: Maspero .
GOFFMAN,
Erving
1971 - "On the Characteristics of Total Institutions '", in Asylums, Essays
on the Social Situatí6n of Mental Batients and Other InmateB. Lon
don: penguin Bcoks.
GRA.MSC
I, Antonio
1966 - Concepção Dialética "
da Historia. Rio de Janeiro: Ed. Civilização
Brasileira.
HALBWl.CHS,
Maurice
1972 - Classes Sociales et Morphologie. Baris: Minuit.
HOGGART,
Richard
1970 - La CultUl"e du Pauvro , Paris: Minuit (tradução de "The Uses of
Literacj?ij.----· _.~..-
,
LEVI-STRAUSS,
Claude
1958 - Anthr0:r..910~~~._~_~..::ctl::::ale.
Paris; Plon.
LCCKWOOD,
David
1968 - "Sources or' Variat5.on in Working Class Images of Societyll, in
KAHL, Joseph (cd.): Ccmpar-at.Lve Perspectives tn Strattfication: Me
xico2._g:re~~ Brita.2-ny_~~ã~iin. Boston: Little, Brown and ce.
LOYOIA,Maria Anfu"~aRios
.•••.• ~ A _
Mi.RTINSRODRIGUES,Leôncio
1970 - Industria~z8.ção e Atitudes Operárias. são Paulo: Brasiliense.
MA.RX, Ka.r1
SMITH, Adam
1970 - The ~\Tealthof Nations. London: Penguin Books .
,
UNION mNAMERICANA
1964 - Sistemas de Plantaciones en el Nuevo Mundo. Estudios y ResÚmenes
de discusiones celebradas en el seminario de San Juan, Puerto Rico.
Washington.
VERRET, Michel
1972 - "Sur Ia Cul.ture Ouvr:Lere", in La Penaee , nv 163, juin 1972.
WAIl3EL, Leo
A ~
1954 - liA Forma Economica da rPlantage' Tropical", in Boletim Geogra.fico
n9 123.
WEIL, Simone
1969 - ta Condition Ouvriere. Paris: Col1ection Idées, GaDimard.
WOLF, Eric & MINTZ, Sidney
1957 - "Hacãendas and Plantations in Middle America and the Antillea" ,
Social and Economic Studies, VI (3).
0000000
JSLL!amrr.
À zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
ADSNDO BIBLIOGRAFIA
KAUTSKY,
Kar1
- ,
A Questao Agraria. Rio: Laemmert.
1968 -zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
MARX,Kar1
1957 - "Introduction à La Crit1q.ue de 1'Économie Poli tique "zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQP
s in Contribu-
tion à Ia Critique de 1 Economie Politique.
1
Paris: Editions Socia-
Les .
POUILLON, Jean
1970 - "Fétiches aana Fétichisme in Nouve11e Revue de Psychanalyge,
I!, ns
spécia1: "Objeta du. Fétichisme", n9 2, automne 1970.
0000000