You are on page 1of 15

FONTES DO DIREITO

De onde vem o direito? Aonde ele pode ser encontrado? Qual é a sua
matéria prima? São estes alguns dos questionamentos que nos remete à teoria
das fontes do Direito. Tal teoria desenvolveu-se a partir do instante que se criou
a consciência de que o direito não era algo que foi dado já pronto, finalizado,
mas sim, um trabalho de construção do homem influenciado por diversos fatores.

É exatamente devido a essa grande variedade de fatores que podemos


hoje apontar a complexidade dos ordenamentos jurídicos. Essa diversidade de
fontes é fruto da necessidade que o ordenamento possui de regular todas as
situações fáticas de uma sociedade. Tal amplitude seria impossível de ser
alcançada com apenas uma fonte isoladamente.

A expressão “fonte do direito”, com bem salienta Tercio Sampaio Ferraz


Jr., é uma metáfora que acaba causando várias interpretações, “posto que por
fonte quer-se significar simultaneamente e, às vezes confusamente, a origem
histórica, sociológica, psicológica, mas também a gênese analítica, os processos
de elaboração e dedução de regras obrigatórias, ou ainda a natureza filosófica
do direito, seu fundamento”.

Pode-se afirmar a existência de critérios para a organização das fontes


do direito, sendo eles principalmente a segurança e a certeza. Partindo dessa
caracterização, é dado às fontes estatais (leis) destaque maior, por possuírem
maior certeza e segurança. No entanto, encontra-se no art. 4º da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro a seguinte normatização:

“Art.4.º Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o


caso de acordo com a analogia, os costumes e os
princípios gerais de direito. ”

Constata-se assim, que embora a lei seja a fonte principal do direito


brasileiro, admite-se, todavia, outras fontes para regular o aparecimento de
novas normas, como a jurisprudência, doutrina, costumes e as fontes negociais,
que dentre estas, são as que possuem menor certeza e segurança jurídica. É
importante ressaltar que essa classificação não é unanimidade entre os juristas,
a citar o exemplo de Miguel Reale, que classificou as fontes do direito em lei,
jurisprudência, costume e ato negocial, excluindo a doutrina, que para ele, é
apenas um instrumento de complementação das fontes do direito.

1. CLASSIFICAÇÃO DAS FONTES


São múltiplos os critérios metodológicos para se estabelecer uma
classificação para as fontes do direito, mas de forma geral, pode-se classificar
em fontes materiais e fontes formais. Tal critério não é unanimidade entre os
juristas, a citar o Exemplo de Miguel Reale que critica tal classificação. Este
grande jurista brasileiro (Reale, 2003, p. 139) anuncia que os processos de
produção das normas pressupõem uma estrutura de poder para que assim fique
assegurado o seu cumprimento. Partindo dessa ideia, as chamadas fontes
materiais não possuem poder necessário às fontes do direito. Diz ele “fonte
material não outra coisa senão o estudo filosófico ou sociológico dos motivos
éticos ou dos fatos econômicos que condicionam o aparecimento e as
transformações das regras de direito”. Como dito anteriormente, essa
classificação não é uma unanimidade, varia conforme a metodologia adotada,
mas com a devida vênia ao professor Miguel Reale, adotar-se-á as fontes
materiais como um tipo de fonte do direito, por entender que ela seja uma
espécie de fonte inicial, inerente às leis, pois é a partir dela que se atribui o valor
a determinado fato social a ser legislado, especificando se tal fato será permitido,
proibido ou obrigatório.

É importante ainda ressaltar a existência das chamadas fontes históricas


do direito, que nas palavras de Pablo Stolze Gaglianno e Rodolfo Pamplona Filho
“não deixam de servir de subsídio ao jurista, a exemplo do Corpus Juris Civilis,
da Lei das XII Tábuas, da Magna Carta Inglesa etc., registrando-se que,
indiscutivelmente, o Direito Romano é a mais importante fonte histórica do
Direito Moderno”

1. FONTES MATERIAIS
Tem-se por fontes materiais a própria sociedade. São consideradas
fontes materiais “todas as autoridades, pessoas, grupos e situações que
influenciam a criação do direito em determinada sociedade”, segundo Dimitri
Dimoulis. Corresponde aquilo que está intrínseco na elaboração de uma lei, ao
valor que possui o fato social. Isso se dá de acordo com a interpretação da
sociedade para com o fato, seja ela com o intuído de obrigar, proibir ou permitir.
Da sociedade é que proveem os elementos históricos, racionais e ideais.

1. FONTES FORMAIS
As fontes formais do direito são aquelas tidas como primárias, diretas ou
imediatas. Cada ordenamento jurídico possui as suas fontes formais, no qual se
encontra o direito em vigor. Possui esse nome por atribuir forma ao tratamento
dado pela sociedade à determinado valor, em determinada época. São elas que
“formulam” as normas válidas. Tais fontes se apresentam de duas formas no
ordenamento jurídico, podem ser escritas ou orais.

5.1 FONTES ESCRITAS

São consideradas fontes escritas do direito, as Leis publicadas no Diário


Oficial da União, a jurisprudência e a doutrina. São estas fontes que são
consideradas as detentoras de uma maior segurança e certeza jurídica.

5.1.1 LEGISLAÇÃO

A fonte mais importante do nosso ordenamento jurídico é a Lei, pois é


ela que preenche a todos os requisitos de segurança e certeza do sistema, que
são: ser escrita; editadas por autoridades competentes; estabelecida consoante
os critérios fixados por normas superiores; objetiva regulamentar a sociedade
(grau de generalidade). A Lei é estrutura base do ordenamento jurídico e deve
estabelecer regras para o futuro, sendo: abstratas, garantindo dessa forma a
certeza do ordenamento, e gerais, devendo se dirigir à totalidade dos cidadãos,
garantindo assim a igualdade do sistema.
O ordenamento federal nacional caracteriza as leis em quatro categorias
quanto à hierarquia:

- Leis Constitucionais: São as normas mais importantes do ordenamento


jurídico nacional, é o seu fundamento. Um dos princípios pertinentes à
Constituição Federal é o princípio da supremacia Constitucional, tal princípio faz
com que as demais normas do ordenamento sejam materialmente e formalmente
compatíveis com a Constituição. Entende-se por validade formal a obediência às
regras que disciplina a criação de normas, e por validade material, a não
contradição entre o que determina a constituição e as demais normas do
sistema.

- Leis Infraconstitucionais: Nessa categoria incluem-se as leis ordinárias,


aprovada por maioria simples do congresso, regulamenta assuntos que não
estejam no rol de competências privativas de outras autoridades, as leis
complementares, que exigem um quórum mais significativo pela especificidade
de sua matéria, que é de maioria absoluta, e as leis delegadas, que são
elaboradas pelo Presidente da República, com a autorização do Congresso, mas
com restrições às matérias, no entanto encontra-se em desuso desde 1992 e as
medidas provisórias, que são de uso do poder executivo, sem a necessidade de
autorização do Congresso. Deve ser utilizado para casos urgentes, mas no
Brasil, seu uso é abusivo.

- Decretos regulamentares: São atos de competência do Poder


Executivo para concretizar as leis. Há ainda decretos legislativos, para
deliberação do Congresso e os decretos judiciários.

- Normas Internas: Assim como os decretos regulamentares, não são


leis no sentido estrito ou formal, ou seja, fruto de uma decisão majoritária do
legislativo, mas têm por finalidade regulamentar situações específicas da
administração pública.

Quanto aos tratados e convenções internacionais, o Supremo tribunal


Federal já se manifestou no sentido de considerar que tais documentos possuem
caráter supralegal, mas inferior à constituição. Os tratados provêm de acordos
firmados entre as vontades dos Estados, e as convenções através de
organismos internacionais, onde o que foi aprovado é posteriormente submetido
aos estados participantes e, se ratificados conforme procedimentos
estabelecidos constitucionalmente passam a ter força legal.

5.1.2 JURISPRUDÊNCIA

A jurisprudência é outra forma de fonte escrita do direito. Entende-se por


jurisprudência, nas palavras de Miguel Reale, “a forma de revelação do Direito
que se processa através do exercício da jurisdição, em virtude uma sucessão
harmônica de decisões dos tribunais”. É quando uma conduta é reconhecida
como obrigatória pelos tribunais.

A jurisprudência vê sua importância crescer cada dia mais no


ordenamento jurídico brasileiro. Ela é construída pelos operadores do direito em
seu dia-dia, quando a eles cabe o dever de aplicar o direito aos casos concretos
para solucionar os conflitos sociais. São quatro suas características
fundamentais, como ressalta Tércio Sampaio Ferraz Jr.:

“primeiro, os tribunais inferiores estão obrigados a


respeitar as decisões dos superiores, os quais se obrigam
por suas próprias decisões; segundo, toda decisão
relevante qualquer tribunal é um argumento forte para que
seja levada em consideração pelos juízes; terceiro, o que
vincula no precedente é sua ratio decidendi, isto é, o
princípio geral de direito que temos que colocar como
premissa par fundar a decisão, podendo o juiz que a invoca
interpretá-la conforme sua própria razão; quarto, um
precedente (sua ratio decidendi) nunca perde sua
vigência, ainda que os anos o tenham tornado inaplicáveis
às circunstâncias modernas: ele permanece válida, e pode
ser invocado desde que se demonstre sua utilidade para o
caso”.

Quando se fala em jurisprudência, não se está referindo a apenas duas


ou três decisões tomada por juízes, mas sim, a um conjunto de julgamentos que
contenham uma coerência entre si, que compartilhem de uma mesma ideia.
Doutrinadores defendem que o papel da jurisprudência é “adequar o sistema a
uma nova conjugação de forças” (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2012, p.66),
isso porque é exatamente a jurisprudência que proporciona uma maior
flexibilidade ao estático ordenamento jurídico. Ela, em algumas situações, acaba
por inovar a matéria não se limitando ao que está estritamente escrito nas leis,
mas sim, buscando uma melhor adequação das normas ao contexto
contemporâneo. São as mesmas palavras, mas com um sentido novo para a
sociedade.

Entretanto, pelo fato de a sentença judicial dar margem para a aplicação


da lei conforme o entendimento de cada juiz, pode ocorrer situações em que um
mesmo fato, tendo como base um mesmo texto legal, apresentar interpretações
diferenciadas, surgindo assim, evidente problema a compreensão do direito a
ser aplicado. Para solucionar tal problema, o Código de Processo Civil, traz
técnicas de unificação da jurisprudência, através de duas hipóteses de
julgamento prévio ou prejulgado, conforme consta no art. 476 do CPC:

Art. 476 - Compete a qualquer juiz, ao dar o voto


na turma, câmara, ou grupo de câmaras, solicitar o
pronunciamento prévio do tribunal acerca da interpretação
do direito quando:

I - Verificar que, a seu respeito, ocorre divergência;

II - No julgamento recorrido a interpretação for


diversa da que lhe haja dado outra turma, câmara, grupo
de câmaras ou câmaras cíveis reunidas.
Parágrafo único - A parte poderá, ao arrazoar o
recurso ou em petição avulsa, requerer,
fundamentadamente, que o julgamento obedeça ao
disposto neste artigo.

Com isso, primeiro resolve-se as divergências quanto à interpretação,


através de julgamentos prévios, reduzindo possíveis divergências de
interpretação, para posteriormente julgar a ação propriamente dita.

1. DOUTRINA
Entende-se por doutrina “o conjunto da produção intelectual dos juristas,
que se empenham no conhecimento teórico do direito”. É aquilo que é
transmitido pelos doutos, pessoas que se dedicam à interpretação do texto legal.

São muitos, aqueles que não aceitam a doutrina como uma fonte do
direito alegando que os ensinamentos dado pelos juristas, por mais sábio que
fossem, não teriam força para determinar a norma jurídica que deva ser cumprida
pelos juízes, pois tais argumentos podem sempre serem contrapostos com
argumentos contrários, não dando uma certeza jurídica.

A doutrina, de fato, não pode ser utilizada como uma fonte do direito a
ser aplicada nos tribunais, os juízes não são obrigados a levar em conta a opinião
dos doutrinadores, pois os textos doutrinários não possuem força jurídica. No
entanto, é inegável o relevante papel que a doutrina exerce no meio jurídico. É
graças a ela, por exemplo, que conceitos jurídicos são determinados, auxiliando
no entendimento do texto legal, ela inova as formas de interpretar, preenche
lacunas entre outras importantes funções.

Um ótimo exemplo dado para relatar a importância da doutrina e dado


por Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona quando “na construção pretoriana,
anteriormente à Constituição Federal de 1988, da reparabilidade do dano moral,
negada frontalmente no início pelo Supremo Tribunal Federal, mas admitida,
posteriormente, sem que houvesse qualquer modificação legislativa genérica,
em face da evolução dos estudos sobre responsabilidade civil” .

A doutrina mantem-se sempre atual, ela segue o curso do tempo, não


fica estático como a letra das leis, ela traz ideias novas pois está sempre em
mutação, ela organiza melhor o direito, para que com isso possa haver um
melhor entendimento dele, desenvolve um papel critico perante as normas,
essencial para se ter uma visão mais clara da norma a ser aplicada.

5.2 FONTES NÃO ESCRITAS

As fontes não escritas são aquelas que não se encontram assentados


um documento, são, ao contrário, presenciados, vividos em seu dia-dia do
cidadão, e por isso possuem menos certeza jurídica para alguns doutrinadores.
São eles:

5.2.1 Costumes
Tem-se por costume o hábito social constatado em uma sociedade. Para
ser classificado como tal, tem de haver o uso constante e notório. Diferencia-se
da jurisprudência pelo fato de esta ser de uso exclusivo dos operadores do
direito, enquanto os costumes são desenvolvidos pela sociedade como um todo
e sobre algo que ela considera como socialmente obrigatória.

Trata-se de uma fonte com menos certeza e segurança jurídica pelo fato
de, ao contrário do que ocorre no processo de elaboração das leis, sua
formulação não segue um rito formal, sua origem segue processos difusos, mas
há a exigência da observância de dois elementos, o relacional ou subjetivo, onde
se tem a certeza da necessidade social da prática, e o substancial, ou objetivo,
que é a sua prática permanente no decurso do tempo.

Contudo, uma importante questão é levanta quando se fala de costume:


de onde o costume retira a sua autoridade? Para tal questionamento, dois
caminhos podem ser tomados, ou essa fundamentação se dá através de uma
posterior fundamentação legislativa, ou se dá pela aceitação do juiz. O primeiro
caminho, o da confirmação através do legislativo, é intolerável, pois concede um
monopólio da produção normativa, descaracterizando o costume como fonte
formal. O costume nasce no seio da sociedade, sendo uma fonte espontânea do
direito, que se forma gradualmente, não se cria de modo imediato conforme a
vontade do legislativo. O segundo caminho, o da aceitação pelos juízes, é por
sua vez é aceitável. Para os defensores dessa teoria, o costume adquire sua
autoridade quando ele se torna reconhecido e aplicado pelos tribunais.

O costume pode ser classificado de três formas: praeter legem;


secundum legem; contra legem.

- Praeter legem: esse costume desempenha um papel de


complementação do ordenamento jurídico, disciplinando matéria desconhecida
pela lei, através de eventuais omissões do legislador.

- Secundum legem: tal costume é aquele que age conforme a lei, que a
concretiza sendo aplicado de modo subsidiário. A lei reconhece a eficácia
jurídica do costume.

- Contra legem: o costume contra legem é de grande impasse no meio


jurídico, pois se trata de uma prática contrária ao direito já codificado. De um
lado, encontram-se doutrinadores que discordam de tal costume, pois
consideram que sua aceitação seria uma afronta à constituição, admitindo a
possibilidade de revogação de normas que foram estabelecidas por autoridades
legislativas, seguindo os devidos critérios de validade formal e material. A outra
corrente de doutrinadores adota postura oposta, admitindo a possibilidade dos
costumes contra legem, afirmando que o real direito não é aquele que ninguém
mais segue e nem são mais aplicados pelos tribunais. Para eles, o real direito é
aquele que é vivido diariamente pelos membros da sociedade, tendo sim força
para suprir a lei que já se tornou letra morta.

5.2.2 PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO


Outra fonte do direito a ser recorrida quando a lei for omissa, são os
princípios gerais do direito, que foi mencionado no art. 4º da Lei de Introdução
do Direito Brasileiro. Tais princípios são o fundamento de todo o sistema jurídico.
No entanto, como bem salienta Orlando Gomes, eles “não devem ser entendidos
como princípios de validade geral [...] e absolutos, mas como princípios
históricos- concretos, pertencentes a determinada ordem jurídica”.

Tais princípios devem nortear a aplicação do direito ao fato. Mais uma


vez, tal assunto gera divergências doutrinárias, pois para alguns, abrir a
possibilidade para a tomada de decisões conforme o arbítrio de cada um gera
decisões subjetivas e não proporcionam segurança jurídica.

Para diminuir essa insegurança, quando a lei for omissa e o juiz tiver de
recorrer a tais princípios, deverá ele limitar ao máximo o subjetivismo,
fundamentando sua decisão de forma completa e detalhada, explicitando quais
foram os princípios adotados e por qual razão foram adotados ao caso.

5.2.3 FONTE NEGOCIAL

A experiência jurídica não é restrita apenas ao universo das leis de


caráter geral. Quando dois particulares firmam um contrato, importantes
alterações acontecem no sistema jurídico. Pelo fato de firmarem um contrato,
cria-se no ordenamento, direitos e obrigações que não existiam até então e o
Estado, por sua vez, se compromete a assegurar o cumprimento desses novos
direitos e obrigações contraídas. Isso se deu pelo reconhecimento da autonomia
da vontade pelo ordenamento jurídico, dando a possibilidade de cada um de agir
ou omitir nos limites da lei.

Para o jurista Miguel Reale, “o que caracteriza a fonte negocial é a


convergência dos seguintes elementos: manifestação da vontade de pessoas
legitimadas a fazê-lo; forma de querer que não contrarie a exigida em lei; objeto
lícito; quando não paridade, pelo menos uma devida proporção entre os
partícipes da relação jurídica”.

Para situações em que não sejam respeitados os elementos que


caracterizam a fonte negocial, e constata-se abuso do poder negocial, a relação
jurídica pode sofrer com anulabilidade ou ineficácia, pois o princípio da
legitimidade do poder é aplicado a todo ordenamento.

1. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ter conhecimento sobre o que são e quais são as fontes do ordenamento
jurídico é tarefa de profunda importância, tal como conhecer as próprias leis de
um sistema. Isso se dá pelo fato de qualquer sistema jurídico não ser uma
criação perfeita, detentora de uma completude onde não se encontra uma lacuna
sequer. Este sistema é utópico, por isso a grande importância das fontes do
direito, pois são elas que realizam o trabalho de encontrar uma solução aplicável
à situação ainda não prevista e garantir a justiça.
O estudo das fontes do direito é uma área tão vasta que não interessa
apenas aos operadores do direito, é também objeto de estudo de sociólogos,
filósofos e áreas extrajudiciais, principalmente as fontes materiais.
APLICAÇÃO TEMPORAL DAS NORMAS.

Para que uma norma seja aplicável, é preciso que esteja vigente. A
obrigatoriedade de uma lei começa a partir da publicação, não implicando,
necessariamente vigência e vigor imediatos.
Art. 1o Salvo disposição contrária, a lei começa a vigorar em todo o
país quarenta e cinco dias depois de oficialmente publicada.
§ 1o Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando
admitida, se inicia três meses depois de oficialmente publicada. (Vide Lei 2.145,
de 1953)
§ 3o Se, antes de entrar a lei em vigor, ocorrer nova publicação de seu texto,
destinada a correção, o prazo deste artigo e dos parágrafos anteriores começará
a correr da nova publicação.
§ 4o As correções a texto de lei já em vigor consideram-se lei nova.
Esse período é denominado vacatio legis, ou seja, período de vacância da
norma, cuja vigência e vigor aguardam por nascer.
Todas as normas jurídicas tendem a uma duração indeterminada, devendo as
normas temporárias serem consideradas exceções dentro do nosso
ordenamento.
Art. 2o Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a
modifique ou revogue.
Assim, a lei vigerá até que outra a revogue ou modifique. Pode haver duas
formas de revogação: expressa (quando a lei enuncia a revogação dos
dispositivos anteriores) ou tácita (não enuncia a revogação, mas disciplina a
mesma matéria de forma diferente, tornando ilógica a sua manutenção).
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando
seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que
tratava a lei anterior.
A revogação pode abranger toda a norma anterior (revogação total ou ab-
rogação), ou ainda somente revogar parte do texto normativo antecedente
(revogação parcial ou derrogação).
Estabelece-se, ainda, algumas regras reguladoras da revogação, a exemplo
da Lex superior (norma superior prevalece sobre a inferior), Lex
posterior (normas do mesmo escalão em conflito, prevalece a mais recente)
e Lex specialis (norma especial revoga norma geral no que está dispõe sobre o
tema).
A lei revogada por outra lei, em nosso ordenamento pátrio, não retoma a sua
vigência pela revogação da norma que a revogou, salvo expressa disposição
legal. Trata-se do fenômeno da repristinação, não admitido em nosso
ordenamento.
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei
revogadora perdido a vigência.
3.1. Conflito de normas no tempo (Direito Intertemporal)
Em prol da segurança jurídica, cuidou a LICC de estabelecer respeito ao ato
jurídico perfeito, ao direito adquirido e à coisa julgada, visando possíveis conflitos
de normas em seara temporal.
Art. 6º A Lei em vigor terá efeito imediato e geral, respeitados o ato jurídico
perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. (Redação dada pela Lei nº 3.238,
de 1º.8.1957)
§ 1º Reputa-se ato jurídico perfeito o já consumado segundo a lei vigente ao
tempo em que se efetuou. (Parágrafo incluído pela Lei nº 3.238, de 1º.8.1957)
§ 2º Consideram-se adquiridos assim os direitos que o seu titular, ou alguém por
ele, possa exercer, como aqueles cujo começo do exercício tenha termo pré-fixo,
ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. (Parágrafo
incluído pela Lei nº 3.238, de 1º.8.1957)
§ 3º Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não
caiba recurso. (Parágrafo incluído pela Lei nº 3.238, de 1º.8.1957)
A lei civil, portanto, como toda lei em geral, é irretroativa. Difere da lei penal, em
mandamento constitucional, que determina que a lei penal mais benéfica deverá
retroagir. Essa ordem justifica-se porque, em âmbito penal, a lide se dá entre o
Estado e o indivíduo. Assim, qualquer benefício que o próprio Estado admita,
através de sua legislação, deverá, por justiça, alcançar o acusado.
Em sede cível, litigam dois particulares, cada qual com seus interesses. Admitir
a retroatividade, certamente, seria preferir o direito de um ao de outro.
ATRIBUTOS DA NORMA JURÍDICA

Atributos: éticos, políticos, históricos, sociais e jurídicos

o Possibilitam: ler a norma em suas diversas dimensões;


o A partir de então, absorver um sentido da norma e seu papel, seja para os
debates, seja para a vida social;
o Atributos éticos: norma jurídica tem atributos éticos com papel de ajudar no
desenvolvimento moral da pessoa humana, especialmente numa compreensão
universalista das relações entre as pessoas;
o Desse ponto de vista, pode-se pensar que normas podem ser arbitrárias,
costumeiras ou universalistas;

• Atributos políticos: desenvolvimento da norma levando em consideraçao a


participação popular, debate público;

o Aqui, norma pode ser autoritária, ou democrática (xxx) ou democrática


participativa;

• Atributos históricos: tem a ver com a inovação histórica ou com a ruptura


conceitual promovida pela norma jurídica de acordo com a avaliação do tempo
pregresso. O que a norma inova? Que transformação faz?

o Conservadoras, estabilizadoras ou emancipadoras

• Atributos sociais: razção social da norma. O que iniciou o processo de criação


da norma e porque regular aquela matéria. Inúmeros fatores: inovação da
técnica, mudança das relações de trabalho, estado de violência, inclusão social,
clamor público em torno de uma determinada agenda

• Traços técnicos que qualificam a sua norma no pertencimento de um sistema


jurídico positivo;
• Atributos jurídicos: Traços técnicos: validade, vigência, vigor, eficácia e justiça.
Atributos são encadeados entre si, se correlacionando. Podem ser até vistos
como camada interna da estruturação da norma. Qualificam e singularizam a
norma jurídica como pertencentende de um geral;

3. TRAÇOS TÉCNICOS DOS ATRIBUTOS JURÍDICOS

Validade: após a sanção

“Toda norma jurídica deve existir perante um ornemento jurídico positivo e por
ele ser reconhecida como pertencente”. Pertencimento a uma determinada
ordem jurídica positiva.;

▪ Validade ou invalidade está relacionado a pertencer ou não a um;


▪ Se é válida, foi formalmente estatuída. Autoridade competentre a validou e ainda
não foi revogada;
▪ Qualidade formal da norma jurídica. Norma precisa observar exisgência do
ordenamento a sua criação e aplicação;
▪ Para ser válida, precisa respeitar:

1. Procedimento jurídico da sua criação;


2. Prazo legal dasua criação
3. Autoridade competente a sua criação;

▪ Norma só será válida a partir da sua promulgação: ato pelo qual o poder
executivo dá autenticidade a uma norma

PROJETO DE LEI

1. Iniciativa (Legislativo)
2. Comissões (Legislativo)
3. Votação (Legislativo)
4. Sanção/Veto (Executivo)

LEI

1. Promulgação (Executivo) (Tem mais a ver com conteúdo/Poderes)


2. Publicação (Executivo) (Validação oficial da norma frente o resto do
ordenamento jurídico);

Norma revogadora: Validade/Vigência

Decisão judicial: Validade/Vigência

Caducidade: Vigência

Desuso: Eficácia

Costume negativo: Eficácia

• Se existe vício ou erra na criação da norma (de procedimento, prazo), ela é


anulada;
• Erro ou vício, não importa em que fase de produção da norma, podem ser
corrigidos pelo próprio legislador (art. 1°, p. 4° LINDB)
• Possibilidade de inconstitucionalidades da norma, em cado dela entrar em atrito
com a norma (Constituição) vigente;
• Executivo também pode fazer correções – durante o processo legislativo ou
após. Durante o processo legislativo, hipótese de mandato de segurança
(judiciário deverá se manifestar sobre legalidade/constitucionalidade); após o fim
do procedimento legislativo, revaliação, por recurso (…), para o STF, ou recurso
especial, para o STJ. Controle da legalidade/Constitucionalidade da norma;

Vigência: após publicação

• “Toda norma jurídica deve agir circunscrita temporalmente”


• Permite a invocação da norma para seu uso e aplicação. É no período de
vigência que a norma é invocável
• Detalhes da vigência:
o Entre promulgação e publicação, norma só vale pro reo. Norma é invocável em
caso de benefício do réu. Invocação excepcional no campo do direito penal;
• Promulgação: declaração de que a norma entra para o sistema;
• Publicação: marco de publicização para amplo conhecimento da sociedade de
que a norma existe para o sistema e que pode ser invocada;
• Lindb diz que ninguém se excusa de obedecer a norma sob pretexto de
desconhecimento;
• Diário Oficial trabalho como separação entre o DEVER SER e o SER;

Vacatio Legis:

Há várias hipóteses:

1. Norma diz que sua vigência se dá no dia da sua publicação: vigência no dia da
publicação;
2. Norma não diz nada sobre inicio de sua vigência. Valerá Art. 1 da Lindb: 45 dias;
3. Norma declara prazo específico: vale o prazo específico. Ex: art. do Código Civil
que especifica entrada em vigor;

Como contar? Conta o dia de início E o último dia.

EX: Marco Civil da Internet. Art, 32: entra em vigor após 60 dias da publicação.
Publicada no dia 24 de abri. Conta o dia 24 como dia um. Dia 60 é o dia
22/06/2014. Dia 23, a lei é invocável.

Lei vigente perdura por tempo futuro indeterminado – até que outra lei a
modifique ou a revogue (art. 2° da Lindb) – ou no caso de uma lei temporária,
que desaparece ao alcançar seu próprio prazo de vigência;

Revogação pode ser tácita ou declarada

Nova regra inicia novo marco normativo. Isso não indica que tudo o que se
passou sobre a lei anterior tem que ser jogado fora. Art. 6° da Lindb: direito
adquirido, coisa julgada, ato jurídico perfeito – categorias que se deram sob a
vigência da lei anterior.

Direito adquirido É a preservação de um direito que entrou para o patrimônio

Coisa julgada Não cabe mais recurso;

OBS: há regimes autoritários que podem jogar direitos adquiridos na lata do lixo;

• Regulação do processo de transição entre lei antiga e nova. 2028-2046 + ADCT:


regulação de situações transitórias, entre elas, possibilidade de assembleia para
ampla revisão do texto constitucional a partir de 1993 (5 anos depois de 88);
• Lei nova, via de regra, se lança para situações futuras, não retrocedendo para
situações passadas. Irretroatividade das leis é uma regra geral (mas existem
situações anômalas, de regimes autoritários e graves violações de direitos
humanos);
• Direito Brasileiro não admite repristinação. Ex. Lei A revoga a lei B. Lei C
revogou a lei B. Lei C reestabelece a lei A? NÃO! Direito brasileiro não admite
esse tipo de mecanismo automático. Se se quiser que a lei A volte a ter vigência,
é necessária uma nova publicação no DO e todo o processo legislativo de
criação de novo;

Vigor

o Imperatividade sobre as situações sobre as quais incidiu, no tempo e na história;


o Toda norma que incidiu sobre fatos, a época da sua vigência, pode ser invocada
a época da sua decisão;

• EX. Lei vigora entre o ano 2 e 3, quando acontece um crime. Decisão judicial
ocorre durante o ano 7. Dizer que a norma tem vigor significa dizer que a norma
tem vigor, mesmo que não tenha mais vigência, nesse ano 7, já que na época
dos fatos, entre anos 2 e 3, a lei estava em vigência;;

• Imperatividade da lei valida e vigência aos fatos ocorridos a sua época, o que
leva a sua possibilidade do juiz invocar sua aplicação ao caso;

Eficácia

o Próxima da dimensão da faticidade da norma;


o Relação norma-sociedade;
o Relação da norma com o processo social, geração de aderência/adesão dos
comportamentos ao conteúdo dos dispositivos da norma;
o A norma produz efeitos? Gera adesão?
o Existem obstáculos culturais para a norma gerar adesão na prática. Uma série
de fatores históricos e culturais que incidirão sobre o efeito dessa lei, se ela vai
“pegar” ou não;

• EX: lei do cinto de segurança. Depois de muito tempo, foi uma lei que “pegou”!

• EX: lei do cigarro. Pegou porque o perigo da multa gera implicações enormes

o Norma precisa ser de fato compreendida, tem que ser possível de ser aplicada;
o Eficácia limitada: depende de investimento, uma política, um órgão, uma lei
posterior para que ela consiga ser aplicada;
o Eficácia contida: outra norma invade o seu âmbito;

• EX: atuação na área do jornalismo sem regulamentação específica (art. da


Constituição “toda atividade profissional é livre”);

o Situações de uso ou costume negativo / Contextação do conteúdo da norma;

• EX: É proibido fumar mas vou lá e fumo mesmo;

• Desuso / Escanteamento do texto formal;


• Negação do texto;
• Frente a uma crise de ineficácia para uma série de normas, podemos estar
vivendo uma crise profunda das instituições ou do próprio Estado Democrático
de Direito;

Justiça

• Fina relação entre legislador, sociedade e a vocação da norma;


• Toda norma jurídica deve traduzir anseios de justiça – e representar anseios
legitimos dos seus destinatários;
• Toda norma deve regular condutar e participar da vida social;
• Ainda que o debate sobre justiça seja complexo;
• Justiça leva a transitoriedade dos conteúdos legais – sistemas jurídicos
modernos permitem que o conteúdo das normas / de justiça seja transitivo e
passageiro, em direção a MAIS justiça, a um desenvolvimento humano e
tecnológico;
• Conteúdos de justiça são aqueles que respondem aos anseios de uma gênese
(…);
• Conteúdos justos: universal, válido para tempos e povos;

You might also like