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Universidade Federal do Pará - Belém

Disciplina de Direito Constitucional II


Resumo da Aula de 04 de Abril de 2018
Prof. Andressa do Socorro Smith

Tema – Tratados Internacionais

Noção Geral de Tratados Internacionais

➢ A origem do direito internacional é consuetudinária, formada pela evolução das


tradições e costumes desde as primeiras tratativas históricas. Porém depois alguns
acontecimentos fáticos o que se vê é a passagem desse período consuentudinário
para um período convencional e essa se dá através dos tratados internacionais.
➢ Os tratados são atos jurídicos utilizados pelos Estados ou por outros sujeitos do DI
para manifestação de suas vontades. A teoria clássica reconhece e expõe que só há
obrigatoriedade de cumprimento quando os Estados-Parte demonstram
concordância. Então essa concordância e essa manifestação, nesse momento de
positivação, se dá através dos tratados internacionais.
➢ Portanto, para que esses tratados possam ter exigibilidade é preciso que haja a
concordância das vontades dos participes nessa produção do tratado; Além disso, é
preciso haver o animus contrahendi, que se caracteriza por ser a manifestação livre
da vontade de contratar mas cuja característica principal é criar obrigações. Não
basta só uma manifestação, mas é necessário concordar com o conteúdo e se obrigar
a cumpri-lo.
➢ Tem-se um tratado que regulamenta a produção dos tratados que é a Convenção de
Viena de 1969 (CV 69) é a chamada convenção sobre o direito dos tratados. Ela
traz todas as noções sobre tal, incluindo o processo de elaboração dos tratados. O
nome Tratado é a terminologia geral (Nome “Guarda-Chuva).
➢ Os tratados por causa dessa regra do animus contrahendi eles vão enfrentar uma
prática do relacionamento internacional que são os acordos de tratamento. Que são
situações que são toleradas e ás vezes enfrentadas pelas sociedades, mas que não
são obrigações no âmbito internacional; E por mais que dentro dos tratados hajam
declarações, elas são diferentes de meras manifestações. Declarações, no contexto
dos tratados internacionais, são atos jurídicos, e não somente uma mera expressão.
➢ Um contrato não é um tratado. Um contrato estará em regra no âmbito do Direito
Internacional Privado, sendo um ato particular, portanto sendo regulado pelas
regras da LINDB. Porque em regra em um contrato as partes elegem um foro
interno para dirimir e solucionar qualquer forma de problema. É o que não acontece
no âmbito dos tratados.
Convenção de Viena de 1969

➢ A CV69 vem a ser um documento que regulamenta a produção dos tratados, mas
apesar de ser de 69, ela só começou a produzir os seus efeitos em 1980, porque foi
quando ela atingiu o número mínimo de assinaturas para produzir os seus efeitos,
diferentemente das normas internas, que passam a produzir efeitos após o período
de vacatio legis. Tal é feito para que tenha o mínimo de legitimidade os tratados,
por conta das relações horizontais entre os tratados. Mas existem tratados que não
precisam de assinaturas, são ius cogen, por exemplo, Declaração Universal de
Direitos Humanos (1948).
➢ Apesar da CV 69 ser muito importante, ela só regula a produção de tratados entre
Estados. Mas se uma Organização interestatal quiser fazer um tratado com outra do
mesmo tipo ou com Estados, não se pode fazer, porque conforme a Convenção de
Viena de 1986 ainda não está em vigor, que regula tais relações. O Brasil já fez todo
o procedimento internacional primário, esperando referendo do Congresso
Nacional. As relações então são reguladas pela regra clássica do DI: Costumes,
Boa-Fé e obrigação de cumprimento, essas práticas que vão se tornando
obrigatórias pela sua reiteração e pelo fato de que todos os membros da sociedade
internacional acham importante.
➢ Apesar do Brasil fazer parte da CV 69, ele realizou nesta duas reservas (Clausula
de Reserva: Em nome do respeito à soberania dos Estados, dentro das possibilidades
de assunção de compromissos. O pensamento no surgimento das organizações
internacionais era de que era melhor as nações aderirem mesmo que parcialmente
do que não participarem). A primeira reserva está no Artigo 65 e 69 que tratam da
implementação provisória, porque aqui no Brasil não se tem aplicação provisória
de norma que ainda não completou o seu processo de elaboração. Só se tem a
aplicação da lei depois que ela cumpre todo seu ciclo de formação. A segunda
reserva feita foi o Art. 66 que determina a submissão compulsória a corte
internacional de justiça, porque partimos do entendimento de que essa era uma
clausula muito importante que precisava de uma ratificação específica.
➢ O tratado internacional que mais recebeu clausula de reserva na história da ONU
foi a convenção que trata sobre todas as formas de discriminação e violência contra
a mulher. A clausula de igualdade entre homens e mulheres foi a que mais sofreu
reservas.

Os princípios basilares dos tratados internacionais

➢ Pacta sund servanda: Não é apenas a manifestação da vontade, é também a


obrigatoriedade de cumprimento do tratado e de boa-fé, porque a relação entre os
Estados vão se dar a partir desta base (Art. 26 da CV 69); O segundo princípio
basilar é o rebus sic stantibus, (Art. 62 da CV 69) Um tratado em regra não tem
prazo, vigendo sem limite de tempo e eles não são alterados com a agilidade que se
faz no âmbito do direito interno. Como se ajusta isso sem ter a necessidade de se
fazer a substituição de um tratado se ele não está mais em consonância com o
pensamento histórico e político? Através desse princípio, que significa haver a
possibilidade da suspensão ou de extinção de um tratado quando for observado que
as condições que geraram a manifestação das vontades dos Estados parte não
existem mais. (Por exemplo: Guerra) – Há limites para essa regra – Quando o
tratado estabelece limites fronteiriços e quando essa mudança no tratado altera
fundamentalmente essa manifestação de vontade e beneficia aquele que descumpriu
o tratado (Viola a boa-fé).

Condições de Validade dos Tratados

Capacidade das partes

➢ Além desses princípios basilares, é importante que se entenda quais as condições


de validade de um tratado. A primeira delas é a capacidade das partes. Esta é o
reconhecimento no âmbito da sociedade internacional de quem são os sujeitos que
podem assumir obrigações e que são dotados de direitos, que são os Estados
Nacionais, a partir da sua configuração, por serem dotados de soberania, podendo
assumir esses compromissos. Além desses, as Organizações interestatais e
internacionais (diferente das ONGS) que tem capacidade de contratar, por serem
sujeitos da sociedade internacional, mas indivíduos não tem essa capacidade, pois
se fala aqui de relações públicas e não privadas.
➢ A posição da Santa Sé: A Santa Sé é a entidade que administra o Estado Cidade do
Vaticano. O Vaticano é o nome do Estado em que está colocada a Santa Sé, que por
sua vez, é uma instituição reconhecida por meio de tratado, mas não é um Estado.
É reconhecida como um sujeito de direito internacional para fins de contrair
obrigações e direitos. Tem ainda a possibilidade de representação diplomática, nas
suas relações mundo a fora.
➢ Situações sui generis de grupos que tem capacidade para assumir tratados
(beligerantes e insurgentes): Os beligerantes são os grupos que discordam de quem
está no Poder, se armam e vão a guerra civil, buscando independência. Para
pacificar o DI constrói a possibilidade deles serem reconhecidos como beligerantes
no âmbito do DI, o que faz com que eles se tornem agentes de DI (Confederados na
História dos EUA). Mas eles não tem soberania, sendo reconhecidos somente para
fins de negociação para pacificar. Diferente deles são os insurgentes, que são grupos
revoltosos, mas que não chegam a se armar (Os varsovianos na II Guerra Mundial).
Direito que surge na Declaração Francesa do Homem e do Cidadão de não
concordar com o governo que o rege. Essa passou a ser uma regra standard do DI.
Dentro dessa situação o DI cria mecanismos para que a situação de beligerância
possa ser atravessada e se chegue em um momento de pacificação. Insurgentes não
são reconhecidos como pessoas de direito internacional para estes fins. No fim das
contas, somente os Beligerantes tem capacidade e podem ser considerados agentes
de DI. Os insurgentes não têm.
➢ Além destes, é necessário afirmar que os Estados membros da federação não têm
capacidade para assumir tratados internacionais, somente a federação representada,
que é a União.

Agentes Habilitados

➢ Esses sujeitos de DI estão previstos no Art. 7º da CV69 e lá está escrito que são
aqueles que irão representa-los – O representante mor dos Estados é o Chefe de
Estado ou de Governo, dependendo de cada nação. Ele é o detentor da
representatividade originária. Mas como ele não pode estar presente em todos os
países para negociações, sendo substituído de forma reconhecida pela sociedade
internacional. A primeira substituição possível é pelos Ministros das Relações
Exteriores, são eles na sequencia que fazem a representação internacional. Também
podem ser os embaixadores, no objeto de um tratado específico, porque eles fazem
parte desse serviço de relações internacionais. São estes agentes públicos que tem
essa função de representações não são eles que participam dessas negociações.
➢ Antigamente, para comprovar que uma pessoa era legitima representante de um
país, ela deveria comparecer ao local onde estariam reunidos os representantes de
outras nações com uma carta de plenos poderes, tal qual uma procuração. Só que a
sociedade se desenvolveu e isso foi abandonado com o tempo, principalmente
tecnologicamente. Hoje esse documento foi abandonado. Obviamente, quando
alguém assume um governo, se apresenta na secretaria dos órgãos internacionais
para demonstrar que está habilitado.
➢ Se um agente representante comparece a reunião para tratar de um tratado e não é
um desses tratados no Art. 7º e nem apresenta carta de plenos poderes, assinando
um documento de obrigações e direitos, esse documento é nulo porque ele não tem
capacidade para assumir tais compromissos, estando eivado de vicio (Art. 8º).

Consentimento Mútuo

➢ O terceiro requisito de validade é o consentimento: Só há assunção de um tratado


quando todas as partes consentem, mas na prática isso não é tão fácil. No âmbito
das relações internacionais entre estados se fala de relações político econômicas,
com vários impactos globais. Por vezes, alguns consentimentos podem vir viciados
de origem, por pressões, e esse consentimento, manifestado dessa forma, não tem
valor, devendo ser ele livre conforme o entendimento de soberania desta nação (Art.
51 CV 69) Coação do representante por atos ou ameaças.

Objeto lícito e possível

➢ O quarto requisito é que o objeto do tratado deve ser licito, de acordo com o DI e
deve ser possível de ser realizado. Não é possível que haja um pacto internacional
sobre o cometimento de um crime.
Terminologia dos tratados

➢ Tratado é a nomenclatura geral, expressão guarda chuva e genérica. Mas além dessa
expressão, podem se ter expressões mais específicas. A primeira delas é a
convenção: Esta é uma modalidade de tratado que formaliza uma acordo
previamente ajustado, solene e multilateral. A convenção também se caracteriza por
regular assuntos de interesse geral (Por exemplo, convenção da ONU contra o crime
organizado); pacto: restringe o objeto político de um tratado (Por exemplo, o pacto
dos direitos econômicos, sociais e culturais) a pesar de ser também documentos
multilaterais, tem assunto mais restrito do que os tratados. Acordos: que podem ser
multilaterais, mas que também podem ser bilaterais. Os acordos tem um menor
número de participes e os seus conteúdos são variados – subtipos de acordo (Acordo
por troca de notas são documento de DI de natureza administrativa, em que em
nome de uma das partes se faz uma alteração de uma clausula anterior existente.
Tal acordo se conclui com a troca das notas – Ex: Acordo de 25% sobre a
importação do aço/ Acordo executivo é concluído apenas pelo executivo, sem a
participação do legislativo, apesar da regra ter essa análise. Esses são documentos
de natureza diplomática.
➢ Também se tem as cartas, que são documentos que criam as organizações
internacionais (Ex: Carta da ONU). É como uma certidão de Nascimento. Se tem
também os protocolos que são também tratados de natureza multilateral, mas que
tem uma singularidade – O protocolo sempre vai ser resultado de uma conferência.
Também é possível que o protocolo seja um documento que venha a complementar
um tratado anteriormente existente, por exemplo, uma convenção, que tem um teor
mais geral. E se tem declarações que trazem todo o conteúdo principiológico do
direito internacional, mas se tem uma discussão acerca da obrigatoriedade do
cumprimento das declarações, porque em tese declarações não passam pelo
processo de aprovação que passam convenções e protocolos, em assembleia. Em
tese, elas não são obrigatórias. Mas se deve ter cuidado quando se fala no âmbito
do DI dos DH, porque não dá pra afirmar que a Declaração Universal dos Direitos
Humanos não é obrigatória.
➢ Tem-se também o compromisso que é um tratado observado dentro do
procedimento arbitral , que no DI arbitragem é bilateral e o documento que traz
expresso esse acordo é o compromisso entre ambos. Por fim, se tem o Estatuto que
estabelece as regras de criação, função e funcionamento dos tribunais internacionais
(Estatuto de Roma – Tribunal Penal Internacional) e os regulamentos que são os
documentos que determinam o funcionamento das organizações internacionais.
Essa classificação dessa terminologia não é estanque, podendo ser modificada ao
longo do tempo.

Classificação dos Tratados

➢ Classificação quanto ao número de partes: Multilateral e Bilateral. Mesmo uma


declaração modalidade tratado exige que hajam duas ou mais pessoas fazendo a
declaração. Sobre tratados multilaterais – Quando forem adotados, eles devem ser
produzidos após ampla discussão das vontades dos agentes de governo, sejam eles
Estados, sejam eles Organizações Internacionais. Alguns tratados restringem o
número de participantes e outros não. Alguns tratados podem trazer somente linhas
mestras da discussão que foi feita (Tratados Guarda Chuva – Ex: Da Antártida de
1959) o outro tipo é o tratado ou convenção quadro ou base que estabelece a
moldura do tema do tratado, emoldura as tratativas jurídicas estabelecidas por meio
deste tratado (Ex: Convenção sobre a ECO 92). Só estabelece as bases em que a
sociedade internacional tem que começar a pensar naquele tema.
➢ Quanto ao tipo de procedimento utilizado para sua conclusão: Pode-se ter
tratados que são concluídos em uma única fase ou aqueles que são concluídos em
duas fases. A regra geral são as duas fases, tendo-se a analise internacional e a
interna (Analise pelo Congresso Nacional).
➢ Quanto a possibilidade de adesão: Os tratados que são abertos a novas
ratificações após a data de sua adoção. Os tratados fechados são aqueles em que só
os que participaram dos debates podem assinar, somente os Estados originários.
➢ A quarta classificação – Quanto a natureza jurídica, se têm os tratados lei,
normativos, que criam regra geral de direito internacional público. E se tem os
tratados contratos, que são aqueles que tentam pôr fim a divergência de vontades
entre os seus entes e estabelecem prestação e contraprestação (EX: Cessão de um
território).
➢ Quanto a execução no tempo: Permanentes (Sem prazo de finalização) e os
transitórios (Que tem sua conclusão mediata – EX: Tratado que cede território, pois
não há mais nada a cumprir depois).
➢ Quanto a execução no espaço: Quando se tem colônias, os tratados nem sempre
são cumpridos nas colônias (De Paris, de 1815 que acabou com a escravidão
somente no Norte do Globo Terrestre). A regra da CV 69 no Art. 29 o Tratado
obrigatoriamente deve ser cumprido em todo o território nacional, sem exceção.
➢ Quanto a estrutura de execução: Os tratados multalizados e não multalizados. É
aquele cujo descumprimento por uma das partes não significa que o tratado em si
fica comprometido em algum ponto, deixando de valer para um dos estados parte
(Pacto dos Direitos Civis e Políticos, por exemplo). O não multalizado, que quando
uma das partes não cumpre, a outra vai sofrer impactos.

Observação sobre a CV 69

➢ Como a CV 69 define tratado: Art. 2º, §1º, alínea a (Tratado é um acordo


internacional regido por escrito e regulado pelo DI). A denominação em si não faz
tanta diferença, o que faz diferença para se saber se é ou não é um tratado é a
produção escrita desse acordo entre os sujeitos do direito internacional.
Estrutura dos Tratados

➢ Os tratados podem ter formas diferenciadas, mas vem sempre com uma certa
estrutura, chamada de mínima e primeiro ponto que se enxerga ao verificar um
tratado é o seu título. O Título de um tratado indica diretamente a matéria abordada
dentro de certo documento. Diferente das leis nacionais, os tratados internacionais
têm uma parte importante de compreensão e que serve para interpretação de seu
conteúdo normativo, chamado de preâmbulo, onde estão os considerandos, as
razões pelas quais aquele documento normativo foi produzido. Ele faz a
convocação das razões que levaram aquilo. Existem duas categorias de enunciados
que vem do preâmbulo: A primeira, é a apresentação dos Estados Parte (Os Estados-
Parte...) e o segundo são os motivos que levaram aquela definição e os tratados (Os
considerandos).
➢ Após vem o articulado ou dispositivo. É nessa parte especifica onde estão as regras
de direito internacional sobre aquele tema e diferente da legislação internacional,
não se vai ter artigos com incisos e parágrafos igual a legislação internacional, mas
eles são numerados. Aqui se estabelecem as cláusulas obrigatórias de cumprimento
para os Estados Parte. Após todo o Articulado, tem-se ao final as clausulas finais,
que são muito importantes, pois trazem as regras sobre ratificação, entrada em vigor
(número de assinaturas), troca de instrumentos, a previsão se é possível ou não fazer
denuncia (A partir daquela data o Estado não vai se obrigar a cumprir o tratado),
eventual prazo de vigência, possibilidade de novas adesões e de revisão. Essa parte
das cláusulas finais é importante porque ela tem um conjunto de conteúdos que
estão relacionados a operacionalização desse tratado.
➢ Depois das clausulas finais vem o chamado fecho, que é data, local e celebração do
tratado e o idioma em que foram produzidos e o número de exemplares originais.
Por fim, vem a assinatura do chefe de estado ou de seu representante legitimo. No
momento da assinatura, quando esse tratado é bilateral, ambas as partes assinam ao
mesmo tempo, com a posterior troca de instrumentos. Nas multilaterais, quem
assina primeiro é por ordem alfabética pelos nomes dos representantes que estão
presentes no momento da assinatura, e não dos países. Depois das assinaturas vem
o selo de lacre que é o aporte das armas, o brasão, das partes contratantes. Os
símbolos estão nesses documentos porque eles também vêm de longa história de
tradição, já que as pessoas não sabiam antigamente assinar. Os selos davam
efetivamente oficialidade aos documentos.

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