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(KL) Cmbyn 01 (KL)
(KL) Cmbyn 01 (KL)
Nota: Traduzido pelo Kokoro Lovers de fã para fãs, não temos a intenção
de infringir os direitos autorais. Apoie o escritor e compre sua cópia do
livro através do site: https://www.amazon.com.br/Call-Your-Name-Andre-
Aciman/dp/031242678X
Parte 01 – Se não mais tarde, quando?
1
Pequeno amuleto que contém o pergaminho de uma oração judaica, símbolo da fé judaica.
O que me intrigava era que ele não parecia notar ou se importar com o fato d’eu
também usar um colar assim. Assim como também não deve ter notado as vezes em que
meus olhos viajaram por seu traje de banho e tentaram identificar o que havia nos unido
no deserto.
Com exceção da minha família, aquele era provavelmente o único judeu a pisar
em B. mas diferente da gente, ele nunca escondeu. Nós não éramos judeus muito
chamativos. Vestíamos nosso judaísmo como as pessoas faziam pelo mundo: debaixo da
camisa, não escondido, aninhado. “Judeus discretos”, nas palavras de minha mãe. Ver
alguém proclamar seu judaísmo em seu pescoço, como Oliver fazia quando pegava uma
das bicicletas e ia para a cidade com sua camisa aberta, nos chocava o mesmo tanto quanto
ensinava que podíamos fazer o mesmo e ficarmos impunes. Tentei imitá-lo algumas
vezes, mas era muito autoconsciente, como alguém tentando parecer natural enquanto
anda nu em um quarto trancado e acaba ficando excitado com a própria nudez. Na cidade,
tentei ostentar meu colar com o silencioso barulho de quem o faz menos pela arrogância
e mais por vergonha reprimida. Oliver era diferente. Não é que ele não havia pensado
sobre ser judeu ou sobre a vida dos judeus em um país católico. As vezes conversávamos
sobre isso nas longas tardes em que colocava de lado o trabalho e aproveitávamos a
companhia enquanto os empregados, e os convidados, haviam entrado nos quartos para
descansar por algumas horas. Pelo que me disse, havia vivido muito tempo em
cidadezinhas da Nova Inglaterra para saber como era ser o estranho judeu. Mas o
judaísmo nunca o incomodou do jeito que fazia comigo, nem era o assunto de um
permanente, metafísico desconforto para ele com o mundo. Tampouco despertou a
mística, não dita promessa de uma redentora irmandade. Talvez por isso ele não se
incomodava ou tocava no assunto sobre ser judeu como crianças arrancam a casca da
ferida quando querem que esta suma. Estava bem com aquilo. Estava bem com si mesmo,
do mesmo jeito que se sentia sobre seu corpo, sua aparência, sua estranha raquetada, suas
escolhas de livros, músicas, filmes, amigos. Estava bem com perder sua caneta Mont
Blanc. “Posso comprar outra igualzinha aquela”. Estava bem com críticas. Uma vez
mostrou umas páginas das quais sentia orgulho de ter escrito ao meu pai, que disse que
seus insights sobre a hora de Heráclito eram brilhantes, mas precisavam firmar-se, que
deveria aceitar a natureza paradoxal do pensamento daquele filósofo, e não apenas
explicá-la. Ele sentia-se bem com firmar coisas. Com o paradoxo. De volta para a mesa
de rascunhos – com a qual também se sentia bem. Uma vez convidou minha tia mais nova
para uma conversa a sós durante uma volta em nosso barco, durante a meia-noite. Ela
recusou. Ficou de bem com aquilo. Tentou outra vez alguns dias depois e, após ter seu
convite recusado novamente, e continuou tentando. Ela também estava bem com aquilo
e se tivesse passado mais uma semana conosco, provavelmente teria aceitado dar uma
volta no mar, à meia-noite, que poderia muito bem durar até o sol nascer.
Continua...
Tradução: Snow
Revisão: Shizuo