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BOAS, Franz. A mente do ser humano primitivo. Ed. Vozes, Petrópolis, 2010.

1 Fichamento do capítulo 10 – As interpretações da cultura

“São bem recentes os esforços para entender a cultura primitiva como um fenômeno que requer
uma análise meticulosa antes de aceitar uma teoria que tenha validade geral.” (p. 123)

“Devemos prestar atenção mais minuciosa às tentativas de considerar a vida cultural como
evoluindo de formas primitivas para a civilização moderna, seja como uma linha evolutiva
única, ou num pequeno número de linhas separadas.” (p. 124)

“O desenvolvimento deste aspecto da antropologia foi estimulado pela obra de Darwin e seus
sucessores, e as ideias subjacentes só podem se entendidas como uma aplicação da teoria da
evolução biológica aos fenômenos mentais.” (p. 124)

“Devemos procurar entender mais claramente o que implica a teoria de um


desenvolvimento cultural unilinear. Significa que diferentes grupos de seres
humanos partiram, em tempos muito remotos, de uma condição geral de falta
de cultura e, devido à unidade da mente humana e da consequente resposta
semelhante a estímulos externos e internos, evoluíram em toda parte
aproximadamente da mesma maneira, obtendo inventos semelhantes e
desenvolvendo costumes e crenças semelhantes. Também envolve uma
correlação entre desenvolvimento industrial e desenvolvimento social e,
portanto, uma sequência definida de invenções como também de formas de
organização e crença.” (p. 125)

“[...] os testemunhos contidos na história mais antiga dos povos civilizados do Velho Mundo,
as sobrevivências na civilização moderna e a arqueologia. Esta última é a única via pela qual
podemos abordar o problema a respeito dos povos que não têm história.” (p. 125)

“Os passos do desenvolvimento devem estar relacionados com um aspecto da cultura e que
esteja implicado o mesmo grupo de pessoas e em que persista o mesmo tipo de atividade.” (p.
127)

“A evidência arqueológica é a única base para conclusões fidedignas.” (p. 127)


‘Quanto mais diferentes forem os vários fenômenos, tanto menor será sua
correlação, de modo que finalmente, apesar da tendência ao desenvolvimento
histórico em determinadas fases da cultura, não se encontra um esquema
harmonioso para totalidade da cultura que seja válido em toda parte
(THOMAS, 1909)’ (p. 127)

“Assim, não se pode assegurar que todo povo altamente civilizado deva ter passado por todas
as etapas da evolução, o que é possível deduzir de uma investigação dos diversos tipos de
cultura que aparecem em todo o mundo.” (p. 127)

“Considerações teóricas sugerem que os costumes não se desenvolvem necessariamente de uma


única maneira.” (p. 128)

“Se, [...], é possível que de uma fonte única se desenvolvam costumes diferentes, não temos o
direito de supor que todo povo que alcançou um alto grau de evolução deva ter passado por
todas as etapas encontradas entre tribos de cultura primitiva.” (p. 128)

“Assim, a dedução de que as instituições maternas precedem as paternas, [...],


baseia-se na generalização de que, pelo fato de em diversos casos famílias
paternas terem-se desenvolvido a partir das maternas, todas as famílias
paternas devem ter-se desenvolvido da mesma forma. Não há prova
demonstrativa de que a história da organização familiar seja governada por
um conjunto único de condições específicas, de que a família do homem ou
da mulher ou qualquer outro grupo tenha exercido uma influência dominante,
nem de que haja alguma razão intrínseca para que um tipo deva ter precedido
o outro.” (p. 129)

“Uma séria objeção ao raciocínio daqueles que procuram estabelecer linhas


de evolução das culturas reside na frequente falta de comparabilidade dos
dados com os quais estamos lidando. A atenção é dirigida fundamentalmente
à semelhança dos fenômenos étnicos, enquanto negligenciamos as variações
individuais. Tão logo voltamos nossa atenção para estas, notamos que a
igualdade dos fenômenos étnicos é mais superficial que essencial, mais
aparente que real.” (pags. 129 – 130)

“Estes poucos dados serão suficientes para demonstrar que um mesmo fenômeno étnico pode
desenvolver-se a partir de fontes diferentes; e podemos inferir que, quanto mais simples o fato
observado, tanto mais provável é que se tenha desenvolvido de uma fonte aqui, de outra ali.”
(p. 131)
‘Quando fundamos nosso estudo nestas observações, verifica-se que graves
acusações podem ser levantadas contra hipótese da ocorrência de uma
sequência geral de etapas culturais em todas as raças humanas; que, ao
contrário, reconhecermos tanto uma tendência de diversos costumes e crenças
convergirem para formas semelhantes quanto uma evolução de costumes em
direções divergentes. Para interpretar corretamente estas semelhanças de
forma é necessário pesquisar seu desenvolvimento histórico; e só quando este
for idêntico em diferentes áreas será admissível considerar os fenômenos em
questão como equivalentes. Deste ponto de vista os fatos do contato cultural
assumem uma nova importância (cf. p. 120). ’ (p. 131)

“Não é difícil ilustrar a importante influência do ambiente geográfico. Toda a vida econômica
do ser humano está limitada pelos recursos do país em que habita.” (p. 132)

“No entanto, as condições geográficas têm apenas o poder de modificar a cultura. Por si mesmas
não são criadoras.” (p. 132)

“Outra questão é se as condições exteriores são a causa imediata de novos inventos. [...] por
mais rico que seja em animais suscetíveis de domesticação, isso não levará ao desenvolvimento
da pecuária se o povo for inteiramente alheio aos usos de animais domesticados.” (p. 132)

“Se afirmarmos que o ambiente geográfico é o único determinante a atuar sobre a mente
supostamente idêntica em todas as raças da humanidade, deveríamos necessariamente chegar à
conclusão de que um mesmo meio produzirá os mesmos resultados culturais em toda parte.”
(p. 132)

“Obviamente, isto não é verdade, pois muitas vezes as formas das culturas de povos que vivem
no mesmo tipo de ambiente mostram acentuadas diferenças.” (p. 132)

“Parece, pois, que o ambiente tem um efeito importante sobre os costumes e


as crenças do ser humano, mas só enquanto ajuda a determinar as formas
especiais de costumes e crenças. Estas, porém, se baseiam primordialmente
em condições culturais que, em si mesmas, se devem a outras causas.” (p. 133)

“A teoria do determinismo econômico da cultura não é mais adequada que a


do determinismo geográfico. É mais atraente porque a vida econômica é uma
parte integral da cultura e está intimamente relacionada com todas as suas
faces, enquanto as condições geográficas constituem sempre um elemento
externo. [...] A vida cultural está sempre condicionada pela economia e a
economia está sempre condicionada pela cultura.” (p. 134)

“A constituição biológica não faz a cultura. Ela influencia as reações do indivíduo à cultura.
Assim como o meio geográfico ou as condições econômicas não criam uma cultura, tampouco
o caráter biológico de uma raça cria uma cultura de um tipo definido.” (p. 135)

“A cultura é, assim, o resultado de inúmeros fatores que interagem entre si e


não existe evidência de que as diferenças entre as raças humanas,
particularmente não entre os membros da raça branca, tenham qualquer
influência diretiva sobre o curso do desenvolvimento da cultura.” (p. 135)

“A dificuldade quase insuperável radica no fato de que os processos


fisiológicos e psicológicos e especialmente a personalidade não podem ser
reduzidos a um padrão absoluto que esteja livre de elementos ambientais. É,
portanto, injustificado sustentar que uma raça tem uma personalidade
definida.” (p. 136)

2 Comentário crítico

Franz Boas começa o capítulo dez abordando a noção de cultura dentro das teorias
evolucionistas, para as quais a cultura estava ligada a um estágio de desenvolvimento do ser
humano. O autor também critica o determinismo geográfico e o determinismo biológico, que
fazem parte das teorias evolucionistas desenvolvidas no século XIX. Outro determinismo
criticado por Boas foi o econômico, que parece estar presente em áreas do conhecimento ainda
nos dias atuais.

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