You are on page 1of 128
29 PIN ‘AEconomia Industrial estuda ‘© comportamento das empresas ‘em mercados imperteltos: situagdes de _ ‘monopélio e, principalmente, situagées de concorréncia estratégica entre empresas. Neste livro, sao tratados conceitos-chave como: concentragao, oligopélio, lideranga, conluio, barreiras & entrada, fusdes e aquisi¢ao, discriminagao de pregos, diferenciagao do produto, publicidade, Investigagao e desenvolvimento, Luis Cabral obteve o seu doutoramento ‘em Economia (Ph.D.) pela Universidade de Stanford, em 1989, Foi investigador Visitante do'Santa Fe Institute, do Institut d'Analisi Econémica, e das Universidades de Boston Stanford. E actualmente Professor Associado da Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, E também Research Fellow do Centre for Economic Policy Research e membro dos consethos editoriais das revistas Investigaciones Econdmicas e International Journal of Industrial Organisation, Economia ‘Industrial LUVRARIA CIENTIFICA_ LTDA, Vie Modis Brteavee Economia Industrial PAT RAAT AR AT DADRARAAANAANDNADRAANRARAAY | Economia | | Industrial Luis Cabral Faculdade de Economia > Universidade Nova de Lisboa , : McGRAW-HILL LISBOA + SAO PAULO + BOGOTA * BUENOS AIRES + GUATEMALA ‘MADRID + MEXICO = NOVA IORQUE + PANAMA + SAN JUAN « SANTIAGO - AUCKLAND * HAMBURG * KUALA LUMPUR * LONDON ) MILAN * MONTREAL * NEW DELHI + PARIS + SINGAPURE » SYDNEY - . TOKYO * TORONTO ECONOMIA INDUSTRI lat (Copsint © 1994 ds Estos McGRAWAILL de Porta. Li “ds 0 dieitonrexevadn ela Elva AcGRAW-HILL Be Portugal. [ds de Alas, Loe 107, Blo At 2720 Aifagice, PORTUGAL “Tele (01) 4725.00 — Fax 1 471 9981 Nenhums pte dest pubicagio pedert Siena renevals oa tries por tepredania, guatdea pelo iter modo por qualner ‘tre mei, sen eletnice, mecinico de Toca, de gravagin 9 otro, fem psa suorapi, por ect, da Ear Denso legal 9872794 9b: 9729241570 lerroioesorTo eaPDADKiMsoTS espoworiMosTs Inpresso: Tioga Lovsanese. LA Leask Inpro em Portegal — Printed in Ponta Indice Preficio 1 Introdugio ui 12 13 14 15 Retrutu 21 22 23 24 25 Dois exemplos sees ‘Trés questdes contrais < - . - Duas posigies radicais Um paredigma .. . . Plano do tivro de mereado Introdugio. ... - Definigdo de mereado - Medlidas de concentragiio. Medidas de volatilidade - Exercicios Modelos de oligopélio 31 32 33 34 35 36 ar Introdugio. 6 eee eee ee 3.1 O modelo de emprese dominant 3.1.2 O modelo da concorréncia Innes 313) Teeia doe Jogos: breve introdgto 0 modeto de Cournot. 3.2.1 Derivagio geométrica 3.2.2 Derivagio algébrica......- « 32.3 Propriedades do equlorio .. 3.24 Oligopslio assimétrico 32.5 Relacdo entre estrutura e resultados O modelo de Bertrand . . . dilema Cournot-Bertrand O modelo de Stackelberg. . Modeles dindmicos: um ere : Exercicios . : 41 42 43. Estrutura de mereado e conluio 44 4.5 Estimacio do poder de mercado . 46 Bxercicios .. 2.00. c ese 5 Barreiras & entrada 5A : 52 5.2.1 Defnigio de economins de ceca... 5.2.2 Economias de escala e estrutura de mercado . . 5.23 Economias de escala ¢ rentabilidade . 5.24 Custos fixos e custos irreversiveis 5.3 Comportamento estratégico . 53.1 Progo limite . . . 532. Proliferagio de produtos ... 5.8.3 Entrada em pequena escala ..... . 54 Entrada e bem-estar* cee 55 Bridéncia empitica . . : 56 Entrada e said em mercados concorrenciais 57 Bxeticios .. 2.2.06... 6 Fusdes ¢ aquisigies 61 Introdugio. 62. Fustes horizontals . . 63 Integragio vertical... . 64 A ier de masiizago d uso 65 Exercicios .... . bese 7 Discrlninage de progos 71 Introdugio. 7.2, ‘Taxinomia da disriminagio de pregos. 7.3. Exemplos* . 73:1 Tarifas de duns partes... 732. Disriminago temporal com bes ‘duréveis 783 Sales... . 14 Exereicios . . - 107 Indice 101 101 105 ~ 109 2 4 ng 129 129 131 ML uq 151 151 - 11 +155 155 2158 164 166 tndice 8 Diferenciagio do produto Bl Introdugio. . . . faeces 82. Informagio imperfotla |. 2... 83. Custos de mudanca . a : 8.4 Diferenciagio do produto. . oe 84.1. Diferenciagia horizontal ¢ diferenciagio vertical 84.2 O modelo de Hotelling 85 Publicidade ... . . 8.5.1 Nivel dptimo de publicidade . os : 85.2 Estrutura de mercado e publicidsde ss... |. 85.3 Publicidade e bem-estar . a 86 Exoreicios 6.0... eee 9 Investigagio e Desenvolvimento 9.1 Introdugdo. . . . ee 9.2 Estrutura de mercado e incentives para ID... 93 Dindmica concorrencial* : seat 9.4 Incentives privados e bem-estar social... ss... 9.5 Exereicios . . 10 Politica industrial, polities de concorténcia¢ regulon 10.1 Introducio 1022 Politica industrial . 10.2.1 Politica comercial: O Estado como agente extratégico 10.2.2 Sectores estraiégicas ou prioritérios . 103 Politiea de concorréncia. 10.3.1. Acordos horizontals 103.2 Relagies verticals. 10.3.3 Abuso de posiglo dominate 10.3.4 Politica de fuses... . 10.4 Regulagho de mereados mnt 104.1 Regulagio de progor soe sens 10.4.2 Rogulagio da entrada 10.43 Informacio imperfeita 105 Regulagio de empresas... 0... 10.6 Epilogo fe indice remissivo Prefacio ESTE LIVRO baseia-se em notas de aula da disciplina de Economia Industral, Teccionada pelo autor naz Universidades de Stanford e Nova de Lisboa. Ao procurar uma justificacio para o trabalho de escrever um livro de texto, nao consige melhor que o lugar comum de nao ter encontrado nenkium texto satis- fatério, Parece-me que os textos existentes out sio demasiado avangados para senciatura (v.g., 0 livro de Jean Tirole); ot. demasiado voltados para exemplos © aplicagies expecificos dos Estados Unidos (v.g., 08 livros de Frederic Scherer e Thomas Ross, Stephen Martin, Dennis Carlton e Jeffrey Perloff); ou demacindo “sécos” do exemplos ¢ aplicagées (v.g., 0 livro ‘de Michael Waterson). Acresce ainda © facta, de que —com a excepgio do algo desactualizado manual de Alexis Jacquemin— néo existe nenhum manual de ectudo escrito ‘em portugués. Embora seja partidério da opinitio de que 0 uso de linguas ‘estrangeiras ¢ muito itil na formago do universitério (em particalar, do ec0- nomista), também reconhego que’ 0 aproveitamento médio dos estudantes & significativamente inferior quando estudam com textos em inglés ou francés. Espero assim que a elaboracao de um livro de texto ditigido 20 aluno de Ii. cenciatura e escrito em portugués venha preencher uma lacuna que me parece relevante. Os destinatérios principals deste livro so os alunos de Economia Indus- trial, dos doi itimos anos da Liconintura de Beonomia. No entento, parece me que este texto poderé também ser siti em cadelras de Beonoria (nomea- ddamente Microeconomin © Marketing) do outros cursos que nio Economia; e rontres disciplinas da Licenciatura em Economia que nio Boonomia Indus- trial. RRR RRA RATAN ANN AIF ¢ ” Proficio Metodologia Comparando a filosofia Pragmatista com a filosofia Tomista, Chesterton es cereveu the Pragmatist sets out to be practical, but his practicality turns ‘out to be entirely theoretical. The Thomist begins by being theo- retical, but his theory turns out to be entirely practical." Este livro nio trata de Filosofia, No entanto, parte tambim do principio de que “a melhor ajuda para a vida prética ¢ uma boa teoria” (teoria. no sentido correcto da palavra, no no sentido —infeliamente comum— de um “conjunto de ideias totalmente irrelevantes"). Além de ser baseado em ideins, © livro segue uma andlise formal, baseada em modelos simplificades. Tal como ‘arguinenta H. Varian, um bom modelo 6 tao itil camo um bom mapa. Um born apa niio & “realista” no sentido em que no descreve todos 08 pormenores do espago que retrata; pelo contrério, um bor mapa é um retrato simples € implista da realidade. Mas é justamente por este motive que & iti: apenas 6 retrato eatilizndo permite evidenciar os aspectos essencinis. Para que fosse went realista, um mapa teria de ser desenhado & escala 1:1—-o que 0 tornaria totalmente instil Em paralelo com a anilise teériea, procurei acompanhar o texto com exem- plos prticas e referencias & bibliografia empirica relevante. O expago dedicado 4 andlise empirica é, contudo, relativamente reduzido, No entanto, a forma ‘como as referéncias bibliogréfias se encontram d'stribuidas ao longo do texto permite, assim se espera, que cada docente (¢ cada leitor, em geral) adapte 0 ‘gran do profimdidade na anélise empirica aos seus préprios interessese dispo- niilidade de tempo. Relativamente aos modelos tedricos uilizados, procurei seguir @ estratésia, ne Frie Rasmmsen descreve como “evitar gorduras desnecessirias". A andlive 6 apenas levuda até ao nivel de generalidade estrtamente necessério para de- var as idoins © as intuigéos relevantes. No entanto, com vista a facilitar 0 ‘profundamento em cada assimto, s80 feitas ao longo do texto referéncins ts ‘contribuigies fundamentais —no jufeo do autor— para a Teoria da Economia Industrial (especialmente as mais recentes). TER. Chesterton, St Thomas Aquinas, New York: Image Books, p15 Preficio x Requisitos Apesar da estratégia indicada no parégrafo anterior, & importante notar que 0 livro pressupde do leitor uma boa preparagio em Mieroeconomia — correspon dente ao nfvel do Intermediate Microeconomics de Hal Varian, por exemplo —, ¢ uma familiariedade minima com Algebra Linear e Cilculo. Na Uni- versidade Nova, por exemplo, a disciplina de Eeonomia Industrial T tem como pré-requisito o aproveitamento em Microeconomia I, que por sia vez tem cone prérequisito 0 aproveitamento em Introdugio & Mieroeconomia (tudo disci plinas semestrais). Algumas seecaes do livro, assinaladas com um *, sio reletivamente mais cexigentes de um ponto de vista matemético e analftico. A continuidade do texto ndo é, no entanto, seriamente afectada pela omissio destas seccies. Critério wemelhante & também aplicével acs exercicios incluidos no final de cada capitulo. Aliés, alguns destes exercicios tém como fungéo o aprofunda- mento de temas referidos de passagem no texto principal, Estrutura ‘A organizacio do texto segue, em grandes linhas, o paradigma da estrutura- -conduta-resultados de Mason-Bain-Scherer. Assim, depois de um capitulo de introdugio e um outro sobre problemas de definigio e medigae (“Estrutura de mercado”), eucontran-se quatro capiulos que constituem o nécleo da andlise: (8 dois primeiras ("Modelos de oligopdlio, “Poder de mercao) descrevern ‘© sentido de causalidade “directo” dentro do exquema do paradigma; o3 dois “ttimos (*Barreiras & entrada”, “Fusses e aquisigées") debrugamese sobre ox chamados efeitos retroactivos dentro do mesmo esquema. ‘Os Capitules 7 & 9 podem ser interpretudos como refinameatos da andlise dos Capitulos 3 a 6. Sio considerados tépicos sobre discriminagao de pregos (7), diferenciagio do produto (8), investigagio ¢ desenvolvimento (9). Final- © Capitulo 10 debrugavse sobre 0 papel da intervengio do Estado no contexto da Beonomia Industrial. © aspecto mais inovador do livro consiste na incorporagio, em quase to- dos os capitulos, de material de investigacdo relativamente recente e como tal ‘ausente de muitos outros livros de texto. Coneretamente, sto aualisados os mo- delos de Kreps e Sheinkman (Auopélio com restriges de eapacidadey; Gelman ¢ Salop (entrada em pequena escala); Jovanovie (entrada ¢ sata em merendos concorrencias); Grossman ¢ Hart (integragio vertical); Gilbert e Newbery sil Preticio (inémica concorrencial com investigagiio ¢ desenvolvimento); e varios ou tron, Estes trabalhos representa marens importantes no entendimento de fenémenos centrais da Economia Industrial; © a forma complicada como foram originalmente apresentaslos nao deve ser dbice a que sejam incorporados numa livro de texto — desde que devidamente adaptados e simplificados. Agradecimentos Antes de mais, devo agradecer ao Conselho Cientiico da Faculdade de Eeono- tia da Universidade Nova de Lisboa todo o apoio prestado, sem 0 qual este livro nio teria sido escrito (pelo menos nio em tao pouco tempo) ‘A Donald E. Knuth ¢ Leslie Lamport agradego 0 trax batho de elaboragéo dos programas ‘TeXe IMTRX, rogratnas utlizados na composicio deste liv. Como o presente parigrafo demonstra, trate-se ‘de progtamas com una qualidade e versnilidade notaves, © que me lito eit a tae de orgs zagboe design erfcn. O meu sgn tanbtn “Apron Alc inprador dat br lx A tentaet in Wonderland Through the ones Clas «rr Num nivel mais stro ¢ profundo, gostaria de agradecer sos vitios profes: sores que despertaram 0 meu interesse pela Economia Industrial: na Universi dado Catslica, os Profezores Amado da Silvae Antbal Santos; na Universidade de Stanford, os Professores Timothy Bresnahan, Poul Milgrom, Roger Noll, William Novshek e Robert Wilson. Um agradecimento especial é devido « Mi cael Riordan, que, nfo tendo sido mou professor no sentide formal da palavra, me ensinou muito do que hoje sei sobre Eeonomia Industial Na claboragio do texto do livro, foram viios os colegns que me ajudaram ‘com comentarios © sugestées titeis: Fernando Branco (U Catdlica), Anténio Brando (U Porto), J. Pedro Pontes (ISEG) e J. Miguel Villas Boas (Ber. ‘ecley). ‘Um agradecimento especial 6 devido Pedro P, Barros (UNL), Jeaé Mata (Banco de Portugal e UNL) e Vasco Santos (UNL) que leram, releram e ‘comentaram varias versées anteriores do livro. Algumas partes do texto bene. Preficio xi ficiaram, directa ou indirectamente, de conversss com Anténio Leite e Diogo Lucena (UNL). Agradego ainda a todos os alunos de Economia Industrial na ‘UNL que, com divides e sugesties diversas, contribufram para a melhoria da apresentacéo, Obviamente, nenhum dos aqui mencionsdes pode ser torado como responsivel quer pelas opiniGes quer pelas deficiéncias do Lvro. Finalmente, agradego a todos os meus professores no ensine pré-univer- sitario, Embora o seu contributo no soja evidente das péginas deste texto, cercio que merecem um crédito que vai muito para além do que rormalmente recebem. A todos eles, como forma de agradecimento justo se bern que tardio, 6 dodicado este livro. PESIFITIFIIISNG Capitulo 1 Introdugao “There's gory for you! I don't know what you mean by “lor"Alice said meant, “there's a nice knockdown argument for you" * “But “alory” doesnt mean *a nice knock-down argument",” Alice objected, ‘When Ise 9 word’ Humpty Dumpty su in a rather scornful tone, “it means just what I choose fo mean-neither more nor les Lewis Carroll, Through the Leobing Glas CCORRENDO 0 ISCO de cair em preciosismos linguistcos, comegamos este texto com uum eslarecimento sobre o significado da expresso “ecoiomia industrial Embora o nome desta drea da economia seja aparentemente niteeselarecedor, a verdade 6 que leva facimente & confusio. ‘A expresséo “economia industrial”, pelo menos quando assoriada ao raino 44a economia de que este livo trata, deriva de uma tradugéo mais ou menos directa do inglés industrial economics ou industrial organization, Ora o termo industry tem er inglés dois seis distintos. Segundo o, Webster's New World Dictionary, industry definese como qualquer actividade econémica, cpecialmente de manufacturaéo (v.g., the paper industry); neste sentido, falamos de industry por oposigéo a services ou agriculture. Eu: sentido mais lato, industry significa também qualquer actividade econémica de grande es- cala (v.g, the tourism industry). Ein portugués, no entanto, apenas encontramoe o primeire sentido para 4 palavra “indistria”. Segundo o dicionsrio da Porto Editor, indistria & a “aetividade econémice.que se utiliza de um técnica, dominada, »m geral, pela presenga de ma 0s, para transformar matées-primas em artefactos acabadlos'. Daf que o termo “economia industrial” «steja normal- mente associado & ideia da “economia da ferrugem” 1 2 Capitulo 1. Inteodgiio ae “intitria” subjncente a este texto correspende ao segs sentido da palavea industry acima roferide; isto 6, consideramos economia wlnstrial © esturdo cle actividades econémiens de eseala conserved (mais cocretanente, mercados),independente dese tratarem de actividades indus- rin, agricola, on de servigas. Neste sentido, n designngio mais correcta parn a disciplina de economnin industrial seria “Economia dos Mereads' ou, dala 8 hordagem expecifca da diseiplinn, Economia dos Mercados Imperfeitos. Mas 0 estudo do comportamento dox mercaéos é, afinsl, 0 objecto dn Microcconomnin. Por este motivo, G. Stiglor defend que “there is no such Subject. as industrial organization"! Em defosa dx independéncia da disci plina de Economia Industrial, devemos invocar que a analise mierocconstnien tradicional trata principnlmente das estruturas de mercado simples © extromas (monopslio “puro” e concorréncia perfeita), enquanto que a Economia Indis- trial se preoenpa princfpalmente com todas as estruturas de mercado que se ‘encontram entire estes dois extremos. Além disso, oestido das politieas gover- nameniais no sent de mclhorar eficiéncia do feacionamento dos mercades, uum t6pico poco aprofundado em Mierocconomia, assume wim papel canta ‘in Beonomia Industrial. 1.1 Dois exemplos "What isthe nee of » bao Lewis Carroll, Through the Looking Glass thonght Alice, ‘without pictures oF conver- Nesto momento, alguns exemplos serio porventura mais éteis que definigies aicionais. Por este motivo, antes «lc discutie em pormenor algumas das ‘auesties contrais da Economia Industrial (Secgie 1.2), apresentamos agora alguns casos concretos em que questoes de Economia Industrial assumem um. papel principal 1 Indiistria farmacdutica, Um dos primeiras problemas que se péem xo procurar analisar a indistria farmacéutica é 9 da definigdo de mercado. Considerar torla a indhistrin como vim mercado tinico é certamente potica rea- lista, pois incinir-s-iam no mesmo “saco" produtos que téim mnite pouco a ver tins com os outros. Por outro Indo, uma definigio demasiado restrita (v-, "George F. Slige, The Organizaion of industry, Homewood, Minois: R.D. Irwin, 1968, pl L1- Dois exemplos : 3 por sub-sub-aplicagéo terapéutica) também tem os sens problemas: concre- tamente, éfrequente a sitiagéo em que um mesmo medicamento tom vérias aplicagées terapénticas. Se adoptarmos uina definigio Iata de merendo, entio n concentracéo das empresas parecer-nos-& mito baixa:_mundinlmenta, exisiom bastantes arandes empresas, do dimensio relativamente semelhante. Se, plo coniratio, ‘vloptarmos uma visio mais retrta,entao o sector farmacbatico saecer-nos como umn série de monopstios © duopslos. ‘Seja como for, 0 sector farmacéutico tem sido um alvo preferencial de acusagies de poder de mercado exagerado, De facto, on preqos dos medi- camentes so Vpicamente fixados em valores bastante superiors 60 custo de produgéo. As margens, medidas como (P-C")/P, onde P representa o prego. © C’ o custo marginal, sio frequentemente proximas de 100%." Em sua defesa, as empresas farmacéuticas apresentam vite tipos de at- gumentos, Em primeiro lugar, é preciso notar que as empresas gastam um montante bastante clovado cm investigagio © desenvolvimento (1D). Ora estes custos tém de ser recuporados de alguma forma; daf, as margens clovadins que se praticam na venda de medicamentos. Em segundo lugar, a Afirmagio de que as empresas detém posigdes dominantes (por vezes sia 0 tinico produtor) em determinadas aplicagdes terapéuticas deve ser vista numa perspectiva dinamics, pois posiglo dominante 6, om goral, meramonte tem- Pordria: 0 aparecimento de um novo medicamento de qualidade superior, des- coberto e patenteaco por outra empresa, destréi parcial ou otalmente o poder de mercado detido pela primeira empresa, Finalmente —e este é porventura 0 argumento mais forte—, as empresas farmacduticas argumentam que o énfase nas acusagies de poder'de mercado consttui um forte envesamento a favor da eficiéncia estdtica ¢ em desfavor da eficiéncia dindmica, entendendo-se esta itima como o ritmo de apatecimento de novos medicaments © melhore- mento dos i existentes. : govern dispiie de_divmrens increments porn bolancenr a cficiéncia cctition com a oficéncia dinimicn. O direito de patente ¢ porentura 0 ‘mais importante. “Trata-se de uma forma directa de atr poder de mer- carlo empresa inventora. No easo esprofco do sector farmactxtico, também assumem grande importincia 0 processo de aprovagio de novos meicamentos 7Outro argument, cate bastante mals diseuivel 6 que & taxa de rentable do sector ‘6 auperior& dos restates sectors. Note que se trata de ume afirmagie diferente da anterior (a dliferenca est no valor dos custos foe). A identifencio deetac de aimee tem sido ‘um dos princpaisfectores de confusio ~aio npenae neste rector sabre a naturezn do poder cle merento 4 Capitulo 1. Introdugéo (por vezes mais importante que o proprio direito de patente) e o tratamento legal dado aos genéricos, medicamentos quimica e/ou terapeuticamente equi- valentes aos medicamentos patenteados e vendidos a precos substancialmente inforiores (os produtores de genéricos nao tém de incorrer nos elevados custos de investigacio das grandes empresas). mais que 0 dobro). Nao é raro que o ratio publicidade/receitas excedn os 20%. Coloca-se aqui o problema que se ple em muitos outros sectores: ser& que as despesas de publicidade tém um carscter informativo (logo itil), ou serdo estas apenas um meio de persuasio do cliente, seja ele © médico ou 0 paciente? 'A resposte mais correcta parece ser “um poxco dos dois”. Por um lado, 6 evidente que hé um mfnimo de propaganda médica que & estritamente ne- cessirio, Pot outro lado, encontram-se exemplos de medicamentes que devem ‘0 seu sucesso no tanto is suas qualidades terapéutieas, mas principalmente 1 engenhosas eampanhas publictériss. Vejé-se, por exemplo, a quota de mer- cado conquistada pelo Zantac da Glaxo & custa do Tagamet da SmithKline {ambos so medicamentos contra ilceras). 1 ‘Transporte aéreo. Desde o acordo das Bermudas (146), © com a ex- ceepgio dos Estados Unidas desde 1979, 0 mercado do transporte aéreo it temacional tem sido organizado segundo wn modelo de acordos bilaterais. Dados quaisquer dois paises, apenas as companhias nacionais de cada pais tém utorizagio, em principio, para estabelecer as ligngbes aéreas respectivas. Por exemplo, em principio, apenas a TAP e a Iberia estio autorizadas a voar entre Lisboa e Barcelona. Além disso, os acordos tipicamente prevém a repartigao cquitativa das quotas de mercado (niiinero de woos) ¢ a fixagio de tarifas Descontentes com 4 ineficéneins provocadas por esta situagio de poder de mercado, os Estados Unidos decidiram em 1979 liberalizar a entrada no ‘mercado interno de transporte aéreo, seguindo aquilo que se veio a designar por open skies policy. Tal como o nome indica, a ideia principal da nova politica comsiste em permitir a qualquer companhia americana o estabelecimento de ualquerligagio aérea dentro dos Estados Unides. Durante os primeiras anos, apés 1979, verifcou-se um scréscimo muito siiificativo no mimero de companhins de aviagio, nomeadamente através da entrada de muitas pequenas empresas regionals. Por outro lado, as grandes LL. Dois exemplos 5 companhias aumentaram 0 mimero de ligagées oferecidas. Como resultado, (© mimero de concorrentes em cada mereario aumentou muito, 0 que $2 reflectiu num acréscimo de concorréncia e deeréscimo de proyos. Se 0 primeiro choque no processo de liberalizagéo norts-americana foi entrada em massa, 0 segundo choque, sentido a partir de meades dos anos 80, foi de certa forma inverso. Com o acréscimo dle conorrincia, muitas ‘empresas foram levadas a situagGes finaneciras precérias que acaberam na faléncia ¢/ou aquisi¢do por outras empresas. Como resulta deste processo, de consolidagio, o nimero de empresas tem diminuido progressivamente, sendo actualmente jé inferior ao de 1979! ‘A comparacio entre os Estados Unidos (pés-liberalizagio) e & Europa per- rite ter uma ideia sobre os custos de um mereado demasiado regulamentado. As tarifas europeias so tipicamente 50 2 100% mais elevadas que as ame- ricanas, © que naturalmente ce relecte em ineficiéneia na afectagio dos recursos nos mercados europeus. No que respeita A eficténcta produtiva mais dificil obter estimativas exactas, mas as diferencas pareoem significativas. Em 1986, a produtividade das seis maiores companhias europeiss encontrave- -se entre 20% (Alitalia) e 70% (British Airways) da prodwsividade das oito rmaiores empresas americanas.> ‘O estudo do caso americano 6 importante na medida em que nos encontra- mos no comeco do proceso de liberalizagéo do transporte aéreo europeu. Nao querendo repeti alguns dos erros do processo americano — nomeadamente a ‘enorme turbuléncia decorrente de uma liberalizagio radicel quase imediata —; optou-se na Burops pela remogio progressive das medidas restritivas de- ‘correntes do acordo das Bermudas. Por exemplo, as quotas de mereado das dduas transportadoras nacionais entre dois paises jé no tém de ser 50%, sendo tolerada uma margem de variagéo; j4 se permite actualmente que uma compa- nihia do pais A faca a ligagio entre as cidades x e y do pals B (nslguns casos, setualmente; em todos os casos, dentro de algum tempo); et. Eapera-se que o impacte da liberalizacio seja bastante significative, devido ‘20 facto de 0 clasticidade prego da procura ser muito elevado. Por exem- plo, em Maio de 1986, 0 Departamento de Turismo Irlaids designow uma nova companhia privada para estabelecer o servigo Dublin/Londres. A nova companhia estabeleceu una tarifa bastante mais baixa que a praticada pela ‘empresa instalada, tendo a slima respondido com um decréscimo da tarifa. i David H. Good, M. hag Nadi, Lars HendikRilere Robin C. Sickles, “PMielency and Productivity Growth Comparisons of Buropesn and US. Air Camas: A Fast Look wt ‘the Data’, Universidades de Indian, Rice e Nova Torque, ¢ INSEAD, 1092. 6 Capitulo 1, Introdugion ‘Como resultado, o tréfego aumentou cercn dle 30% entre Maio e Dezembro de 1986.4 1.2 Trés questées centrais “Thave answered three questions, and that is enough,” Lowis Carrol, Alice's Adventures in Wonderland id hi father Os excmplos acima discutidos sio sugestivos no que respeita ts quests cen- trais da Economia Industrial. Vérias sistematizagbes sio posstveis, tendo-se aqui optado por considerar as seguintes trés questoes: (i) Existe poder de mercado? (fi) Quais as consequéncias do poder de mercado? (ii) Que pode o Estado fazer para evitar as consequéncias negativas do poder de mercado? Existe poder de mercado? Esta é compreensiveliente, uma questo importante, Pelo Primetre Teo- rema Fundamental da Economia do Bem-Eatar sahemos quo, nio ezis- tindo poder de mercado (e ver‘fieando-se outras condigées), a solucéa de emui- rio & eficiente, nfo havendo lugar, por conseguinte, a qualquer tipo de in- tervengiio estatal (para além da distribuigio do rendimento e outras medidas de melhoria da equidade). Muitos estudas tém sido elaborados com o objetivo de madiro gran de poder de tiereado na economia em geral © nalguas mereados ern particular. Gitar agit dom Ge io pecan riguieaiver, qu pelos roel tados algo extromos a que chegaram, quer pela simplicidade da metodologia nilznda, Uma aproximagio de primeira ordem a perda deeficiéncin devida so poder dle mereado-consite om namimir qne o cto marginal € constants edit a stad triamgulo de Ineficiéncia, ato ¢, «ren somproondidn entra curva de custo marginal ¢ @ curva da procira, © entre 9 quantidade de equiltirio © ‘a quantidade de concorréncia perfeita.> Mostra-se que esta area é aproxima- slamente dada por A= trPQe, onde r = £9708 6 taxa de rentable © 98.5 a clasticidade procura prego. iF. Michel Brier ( ), The Beonomics of 1998, Oxford: Oxford Unversity Pres, 1998, “bate iculo permite responder A primeira questo (Existe poder de mercado?) bem ‘como, em pact, segunda questo (Chins afconseqancins do ple de mere) 1.2, Trés questoas contrais 1 Baseado em davios sobre re PQ, ¢ inzendo bipsteses sobre o valor de ¢ A. Hearbergereatimon que o valor de A, para a economia americana ¢ ex 1924-28, ‘era de apenas 0.1% do PNB. ‘Uma ver que o poder de mercado se manifesta numa diferenga entre prego © custo marginal, uma alternative A-motodologia do Hacherest consisie. em robabilidade de conseguir a situagao privilegiada: subornos a governantes, despesas de publi- le exageradas e de cardcter principalmente “persuasivo", etc. Em sitima ‘nalise, os potenciais monopolistas estario dispostos a dispender recursos até ‘a0 montante dos lucros de monopdlio, pelo que o limite supetior dos custos de eficiéncia 6 dado nao pela érea C’ mas sim pela soma das dreas B @ C.! Uma situagio “eldssica” em que se verifieam custos de monopolizagio 6 a de limitagies quantitativas & importacéo (quotas). Outro exemplo, muito importante no caso portugués, é 0 de licengas de entrada em determinados sectores produtives, Uma das principais criticas apontadas & Lei do Condi- cionamento Industrial (que consistia basicamente rum sistema de licengas de entrada e expansiio de capacidade) prende-se justamente 20m o8 custos de monopotizagio quo esta implicava. 1 Eficiéncia produtiva. A rea C na Figura 1.1 corresponde. na afeetacio dos recursos. No entanio, a passagem de um Feuck igo de poder de mercado impli 20 Tonga daw cirvas de proct ustos, moe também, uma variagéo ix propria funcio_eustos Esta varlagio corresponde ao conceito de eficiéncin produtiva.”® A ideia é que os gestores de uma empresa monopalista, owde uma ‘inpresa Tum oligopslio pouco competitive, esto sujeitos a menores presses para a mivimizacéo dos custos. Este facto parece especialmente marcante 20 comparar empresas ptiblicas com empresas privadas (cfr. Capitulo 6). No en- tanto, encontra-se também evidéneia empirca de uma relagio postiva entre ‘ prossio competitiva e a produtividade das empresas, considerando apenas fenupresas privadas. Vejase, por exemmplo, a comparagéo entre as companhias de transporte aéreo europeias ¢ americanas (Seogio 1.1). Citando J. Hicks, “the best of all monopoly profits is the quiet life.” 1 ‘Monopélio natural. Muitos sectores sio carneterizados por tecnologias "Gtr. Richard A. Poorer, “The Social Casts of Monopoly and Regulation", Journal of Pelieal Beonomy 83 (3975), 807-827. Concrta semethante ¢0 eonceito de efckéneia-X. Cf. Harvey Leitenstehn “Allocative [ficiency and X-Elelency”, The Armercan Beonomde Kevnew 86 (1966), 302-415 John Hicks, "Anoual Survey of Economie ‘Theory: The Theory of Monopoly”, Beono- smetrica 3 (1985), 1-20. I 10 Capitulo 1. Introdugio {de procugio com fortes economias de eseala. Fila-se de economins le excala ‘quando 0 custo inédio de produgio € cecrescente com a quantal prot ‘Um caso paradiginitieo — de que as telecomunicagies 0 uma born exemaplo — consiste num ensto fixo clevaclo e win custo marginal constante. Nestes ensos, poder cle mercado inerente & estrutura monopolista love see consirderado wm mal menor relativamente & ineficiéncia produtiva que resulta da multiplicidacle de empresas. A comparagio entre os prés © os contras dn monopolizagio de mercado conde a tecnologia se encontra sujeita a economins de escala 6 por vezes conhe- cida como 0 balango de Williamson (Williamson's trade-off)" Volteinos ‘a considerar a Figura 1.1, onde se comparam 0s equilibrios de concorréncin perfeita e com poiler de mercado, Suponhanos que inicialmente existe apenas "uma empresa e que o seu dptimo se encontra no ponto E, O excedente total 6 neste caso dado pelo excerlente do consumidor (a dren do trifngulo acina do rectingulo B) mais 0 luero variével do predutor (a sea do rectingulo 3) ‘menos 0 custo fixo, que designames por F. Suponhamos agora que uma segunda empresa entra no merenda © que m ‘concorréncia entre as empresas é de modo a que o novo progo de equilfbrio scjn. ‘gual ao custo marginal. O excedente total é agora dado pelo excedente do ‘consumidor (0 valor anterior mais as éreas B eC) menos duns vezes o valor das custo fizo FP. Qual a variagio do excedente total em relagio & sitninglo inicial? Por um Indo, o excedente aumenta no valor da area C (ineficiéucia que deixa de se verificar); mas, por outro, diminui no montaate do custo fixo F da nova ‘empresa entrante. O argumento de Williaunson ¢ justamente que, em sectores com fortes economias de escala (neste caso, F maior que a area C), entio, mesmo na mellior das hipdteses no que respeita 20 efeito concorrencial da contrada de tina nova etprosa (prego igual ao custo marginal), esta entrada provoca tum decréscimo do bem-estar. Por outess palavras, a poupanga de ‘custos fixos mais que compensa o poder de mercado inerente & situagio de maonopsiio. ‘Em Portugal, discutin-se recentemente esta questo a propésito da estr- tuura do sector cimentciro. Apesar des arguimentos dos emprestrios de que a dimensio & um factor muito importante (também para a concorréncia in ternacional), decidi o Governo que os heneficios da concorréncia entre duas ‘empresas serio maiores que os custos do ndo aproweitamonto cle economins de cesealn, iver E. Wilson, "Baonoraie as an Antitrust Defensa”, American Economie Review 158 (1008), 18 1.2, Trés questées contrais ul @ Eficiéncia dindmica. JA teferimos 0 enviezamento, comum em Econo- ‘mia Incistrinl, de considetar uma andlise simplesmente parcial. Um segundo enviezamento, porventira mais grave, cousiste em ignorar, ou pele menos dar ‘menor importancia, a aspectos dinimicos. Ora os aspectos dinimicas so essenciais, nomeadamente em sectores intensivos em investigngio e desenvol- nto (veja-se o exemplo da indiistria farmacéutica apresentado na socgio anterior). O motivo por que as empresas dispendem recursos prdprios tia pes quis de novos produtos e/ou processos de fabrico é justamento a expectativa de vir a auferir lucros futuros, lucros esses que esto normalmente associndos ‘certo grau de poder de mercado. Neste sentido, pode argumentar-se que 0 porter de mercado € néo s6 um mal necessério (caso das economias de escala), mas até um mal desejével. Em geral, assim como se verifica um belanco entre eficiéncia estética na afectacio dos recursos e eficiéncia produtiva (cfr. Wil- Jiamson), vorifica-se também um balanco entre eficiéncia estdtica e eficiéncia dindmi Nao é fécit definir rigorosamente eficiéncia dintimiea, sabend»-se apenas ‘que corresponde ao ritmo de introdugio de novos produtos, melhoramento de processes de fabrico, etc. Aliés, wm dos motivos por que se tem prestado tio pouca atencao a estes aspectos prende-se justamente com o facto ce ser muito dificil definir, e ainda mais medir, a eficiéncia dinamica. Que pode fazer'o Estado para remediar situagies de ineficiéncia? ‘Tal como noutras éreas da Economia, questées de earscter posit.vo dio na- ‘turalmente origein a questies de cardcter normative, E opiniée comum da wioria dos economistas que existem morcados em que 6 poder de mercado ¢ umn realidade, ¢ que esta realidade tem consequénciag negatives para a eficiincia econdmica. Nestes casos, o Estado pode ter tin papel importante a desemponhar. A maiorin dos instrumentos de intervengéo podem classificar-se como po- itica de concorréncia ou como politien industrial, No prineiro grupo incluem-se a proibigio do abuso de poder de mercado por parte de empresas ‘monopolistas ou dominantes,.a apreciagao de pedidos de fusio/squisigao, 0 ficcaliangiio de acordos entre empresas, etc. O segundo grupo, por set turno, lui apoio governamental a empresas (nomenciamente atravix-desubsidios), ‘65 exquemas de incentivos a0 investimento em determinados sectores e tecno- logies, 0 controlo da entrada ¢ expansio de capacidade, ete. © controlo cle propriedade de grandes empresas (nacionaliangio, privatiza io, controlo via accoes preferenciais de empresas mistas) e a regulsmentagio _ 2 Capitulo 1. Introdugio (também dita regulagao) de emprsas privadss, outros instrumentos impor- tantes de economia industrial, incluem elementos de politica de concorréncia, ede politica industrial. Bstas e outras formas de politica governamental sero discutidas no dltimo capitulo deste texto. 1.3 Duas posigées radicais ‘The Queen was in a furious passion, and vent stomping about, and shouting, ‘Off with his head!" ‘or “OMf with her head!" about once in a ‘minute. Lewis Carroll, Alice's Adventures in Wonderland. Como é natural, as posigées radicais relativamente As questes centrais discu- ‘das acima no sio posigies generalizades. No entanto, constituem pontos de referéncia Gteis. E este o motivo por que faremos aqui referéncia as denomi- nadas Escolas de Chicago e Austriaca. ‘MA Escola de Chicago. A tradigao liberal ds Universidade de Chicago tem tido um impacte significativo no pensamento econdmico. No caso especifico da Economia Industrial, haveria que referir os nomes de George Stigler, Richard Posner e Sam Peltzman. Tal como noutras dress, a sun influéncia extende-se bem além dos confins da. respectiva niversidade, devendo tamisim inclir-se nomes como o de Harold Demsatz de U.C.1.A. A ideiabisica presente no corréneia perfeitn constitul uma imagio da forma como os mereads fugcinam op, (nos easos em que o Estado ivervém), funcinariam nio se vee interven sata, O pode de temy entrada isciplinadora suficignte.!> sina na perspectiva da Escola de Chicago, so jstameate aquelas em que se veri fo, nomeadamente através do raatrigbes & entrada, ‘Além disso, como vimos anteriorinente, estas sio situagdes que dio natural- ‘mente origem a custos de monopolizagio. Loge, o Estado deve evitar, tanto quanto possivel, a regulamentagio dos mereados. Neste sentido, os estudos de .que.0 medtelp de con- "A endlise fonnal do efato da concorréncia potencil fol substancaimente melhorada ‘com a recente Teoria dos Mercados Contestavels de Baumol-Panar-Wilig: Willard ‘Baum, Jolin C. Panaat e Robert D- Wiig, Contestable Markets and the Theory of Industry Structare, New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1082. 1.4. Um paradigma 8 Chicago tém tido um papel muito importante 20 mostrar que a vernamental pode em muitas situagdes levar a um “terceiro dgtimo” em lugar de um “segundo éptimo”, isto , a intervengio governamental pode implicar ‘um perda Iiquida de bem estar. MA Escola Austriaca. Seguindo a tradiglo de J. Schumpeter, « Bscola ‘Austriaca pe um eepecialénfase nos aspectos dindmicos da economia: eoo- roma é um proceso, estado; a8 varidveisrelovantes ntrodugio de novos produles, elhoria de ; a8 medidas de eficiencia estatice sio de importéncia secundéria relativamente &s medidas de eficiéncia dindmica, ‘A escola austriaca no nega que 0 poder de mercado existe, No entanto, ‘muma economia em constante progresso, o poder de mereado é nevessariamente temporétio. Nas palavras de J. Schumpeter, a economia é 1m processo de destruigéo criativa: novas empresas, com riovos produtas ounovas processos de fabrico, suplantam ¢ levam & faléacia as anteriores empresas, ganhando ‘assim uma posigio dominante no mercado; aliés, 6 justamente a expectativa desta posiglo dominante que serve de incentivo para que as empresas procurem novos produtos e novos processos de fabrico."® 1.4 Um paradigma esas largo life and ice as natural Lewis Carrol, Through the Looking Glos Hoje em dia fala-se menos de escolas radicais e mais naquily que se velo a designar como « Nova Economia Industrial. Em certa mecida, trata-se da confluéncia na corrente central da Economia Industral de algumas das ideias das Escolas de Chicago e Ausirfaca (especialmente o valor da concorréneia po- ‘encial ea importancia dos aspecios dinamicos). No entanto, Nova Economia Industral representa prineipalmente uma evolugio da metodologia: por un lado, 0 9 ‘exaustiva da Teorla dos Jogos ao estudo da eoncorréncia centée empresas; por outro, a introdugio de téenicas econométricas sofis- tleadas no estudo da concorréncia em mercades individuais. ‘Apesar desta evolucio recente, o instrumento fundamental da metodologia a Beonomia Industrial continua sendo o chamado Paradigna Estrutura- -Conduta-Resultados (B-C-R). O paradigma néo é mais do que um esqueina "Joseph A. Schuropeter, Capitalism, Sociatom ond Democracy, Nex York: Harper & Brothers, 1942 4 Capitulo 1. Introdugho ESTRUTURA Aspectos estéticas Aspeetos dinmicos CONDUTA ‘COND. EXOGENAS Prego ‘Tecnologia Publicidade Procura I 1&D Intervengio govern RESULTADOS Eficiéncia Eficiéncia dindmaica Equidade Figura 1.2: Paradigma Estrntura-conduta-resultados. de anilise de mercades, permitindo uma sistematizagio e articulagio dos di versos aspectos relevantes para ax questies refericns na Secciio 1.2. A ideia ‘que cada scetor soja caracterizado pela sua estrutara, pola conduta (ou come portamento) das empresas que o constituem, e por uma série de indicadores ue merlern os resnltados — ou a prestaglo, on o desempenho (performance) — do mercado, Todos estes aspectos estio ligados entre si, e, por sua vez, sfo fungio de um certo mimero de condigdes exégenas ao fincionamento do ‘mercado, como sejam a tecnologia ot a intervencio governamental, A Figura 1.2 representa 0 esqnema do paradigma. No conceito de “esteu- tra" encontram-se elementos como o nimero edimensio relativa cas empre- +18, 0 prau cle diferencingio do produto © as condigGes de entrada; no cox de “conta”, podem considerar-se a concorréacia em progos, ‘tc, bem como as despesas em investigagio e desenvolvntento; como meas de resultados, temos o gra de eficiéncia estitien, a forma como 0 excedente {otal & dividido entre consumidores e produtores ¢ a taxa de introdugio de novos produtos. Finalmente, no eonjunto de comligées exégrnns incluem-se ‘os determinantes da procura (v-., elasticidado da procura), tecnologia (¥., 1.5. Plano do fivro 6 rau do economias de escala),€ as polticas de regulamentacho. Como iustragio do fumeionamento do mecanismo, consideremes 0 caso de ‘um monopslio, A enracterizacio da estrutura é neste caso muito simples, pois existe apenas uma empresa. Supostamente, as barreiras & entrada (Iogais o1 ‘cencligiens) sto suficientes para que nfo se dé a entrada ce mas nenhuma empresa. No que respeita & conduta, ¢ natural supor que a empresa monopo- lista pretonda maximizar © iuero. E um resultado conlecido que a cond) necesséria para a maximizagio do luero 6 daca por f’ = C', onde Fi a receta marginale C* o custo marginal, ou simplormente P(1 ~1/¢) = C%,onde P 60 prego e¢ aclasticidade procura-prego. Note-se aqui a influéncia des condigies exdgenas de tecnologia (C") € procura (c}. Finalmente, « equagio antarior pode ser reeserita como (P~C')/P = 1/e, ou simplesmente £ = 1/e, onde L£=(P—O/P, 0 indice de Lerner, é um indice de prestagto cemummente utilizado (qanto maior foro valor de maior &@ gran de poder de mercado). Um exemplo mais conereto do funcionamento elo mecanismo é dado pela ‘ovolugio recente das sociedadies de corretagom em Portugai. O Governo de- terminon que as corretoras tenham uma dimenséo minima como condicao ne- cessirin para a passagem n sociedades financeiras de cocretagem; variagio de uma condigdo exégena. Como resultado desta alteracfio legislativa, tem-se verficado uma auténtica guerra de progos entre as corretoras com vista ‘a obtengio de quota de mercado, cheganddo mesmo a praticar-se texas zero de corretagem. Esta mudanga de condula Lem naturalmente 1mm efeito negativo na reutebilidede das empresas (efoto nos resultados). “E neste quadro que se encaea ja como inevitével a ruptura financeira de algumas das 18 socieda- des que aciuam no mercado, natucalmente selectivo. (...) A grande solugio apontada para as corretoras serd a sua fusio (efeito relroactivo ns estrutura), ‘como tinica forma de conseguirem sobreviver.” (Didrio de Noticias, 10 Agosto 1992.) 1.5. Plano do livro “Where sball T begin, please your Majesty?” he asked. “Bogin at the boginning,” the King said, gravely, ‘and go on tll you come to the end: then stop. Lewis Carroll, Alee's Adventures in Wonderland. Os restantes capitulos deste livro constituem, de alguma forma, o desenvolyi- mento de diversos aspectos do paradigma E-C-R. Comegamos com um oxpitulo preliminar sobre problemas de definigio © medigao (“Estrutura de mercado”). SII. SIIGS 16 Capituls 1, Inteodugio. ‘Um mercado com duas empresas sle igual dimensio 6 diferente de um outro mercado em que as quotas de cada empresa sio 80 ¢ 20%, Como medic a diferenga entre estes dois mereados? Esta é uma das questoes abordadas neste capitulo. Seguidamente, encontram-se quatro capitulos que constituem 0 nicleo da andlise: os dois primeiros ("Modelos de oligopilio”, “Poder de mercado”) des- crevem 0 sentido de causalidade “directo” dentro do esquema do paradigma; 0 dois times (‘Barreiras & entrada", “Fusses e aquisigGas") debrugam-se sobte 06 efeitos retroactivos dentro do mesmo esquems. Coneretamente, 0 Capitulo 3 introduz 0s modelos clissicos de oligopslio, Estes modelos procuram explicar a concorréncia entre as empresas dada wma doterminada estrutura de mereado. Esta anélise 6 continuada no Capitulo 4, onde se considera @ possibilidade de comportamento néo concorrencial (con lujo) entre as empresas. Este capitulo inclui também um resumo da evidéncia ‘empitica sobre 0 grau de poder de mercado (ou sobre a concorrencialidede) dos mercados cligopolistas. No Capitulo 5 sio estudados diversos efeitas que determinam a esteutura ‘de mercado, nomeadamente as condigSes tecncligicas'exdgenas (cconomias de ‘excala) e © comportamento estratégico das empresas. Esta anélise & conti- ruada no Capitulo 6, onde se considera um aspecto especifico da conduta das ‘empresis: as operagies de aquisicio de empresas, Os Copitulos 7 a 9 podem ser interpretades como refinamentos da andlise dos Capitulos 3 « 6, So considerados topicos sobre diseriminagao de progas (2), diferencingio do produto (8), investigagie e desenvolvimento (9). Final mente, 0 Capitulo 10 debruga-so sobre a intervengio do Estado no contexto ‘da Economia Industrial Capitulo 2 Estrutura de mercado 2.1 Introdugao A ABORDAGEM deste capitulo & principalmente descritiva: como caracterizar lum meresdo e/ou sector industrial? Urn mercado é composto por um conjunto, de empresas que produzem um mesmo produto ou um conjunto de produtos relacionados entre si, Por conseguinte, um primeiro passo consiste justamente ‘em definir este conjunto de produtos (Secgio 2.2) Uma ver definido o mercado, estaremos normalmente interessados ém obter ‘medidas que, de uma forma suméria, descrevam o nimero e diménséo relativa ‘das empresas que 0 constituem, as chamadas medidas de concentracao (Geegio 2.3). Por outro lado, estaremos tarabém interessados em caracterkaar a evolugdo da concentragio, o que é feito com base em indices de volatilidade (Becgéo 2.4). 2.2 Definigao de mercado A situagio ideal para a definigéo de um mereado é a de am conjunto de rodutos com elasticidades prego eruzadas muito elevadas entre si e muito baixas relativamente a outros produtos; e um conjunto de produtores tal que nenhum outro produtor tenba capacidade tecnolégica semelhante. Esta ideia, pode ser sintetianda na seguinte regra das elasticidades: deis produtos com elasticidades prego cruzadas muito elevadas (em valor absoluto) devem fazer parte do mesmo mercado. A regra refere-se principalinente a clasticidades da Procura, mas também, secundariamente, a clasticidades da oferta. ‘Vejamos alguns exemplos de aplicagio da regra: (i) A clasticidade eru- wv 18 Capitulo 2. Estrutnrn de mercado aria entre as aguas Luso e Fastio 6 muito clevada; trata-se de dois substitutos préximos; logo, devem fazer parte do mesmo mercado, (ii) A elasticidade ‘eruzacia entre bolachas ‘Triunfo e pneus Firestone é muito baixa; trata-se de dois produtos independentes; logo, nao devem fazer parte do mesino mer- ‘ado. (iil) A elasticidade cruzada entre sapatos do pé esquerdo e sapatos do 6 dircito ¢ muito clovada (em valor absoluto); trata-se de dois produtos (per- foitamonte) complementares; logo, devem fazer parte do mesmo “mercada”’ ‘concretamente, neste easo 0 mercado deve ser definide em termos de pares de sapatos. Mt Dificuldades na definicéo de mercado. _Infelizmente, nem sempre é fil aplicar a rogra das elasticidades. Em primeito lugar, quando a diferen- iagio do produto se dié de uma forma gradual, nio é facil decidir qual o valor critico relevante. Por exemplo, dever-se-4 definir 0 mereado de colas de baixo tear calético (diet), 0 mercado de colas, ou, de uma forma ainda mais lata, 0 ‘maoreado de relrigerantes? ‘Um segundo problema resulta da substituiilidade em endeia, fonémeno muito frequente, por exemplo, com produtos facmacéuticos: 0 Produto 1 é ‘itil para os usos terapéutices Ae B; 0 Produto 2, para os usos terapéuticos Be C; 0 Produto 3, para os usos terapéuticas Ae C. Quer a detinigio do mereado ao nfvel da aplicagio terapéutics mais elementar (A,B,C), quer a definigio mais lata (A-+ B+-C) 6 inconsistente com a regra das elasticidades, Finalmente, a definigio geogeéfica de nm mercado levanta os mesmos pro- blemas que a dofinigéo do valor eritico da clasticidade de substituigao. Por exemplo, qual o mercado de cimento relevante: 0 mundo, a Europa, Portugal, zona sul, 0 Algarve, ou o concelho de Faro? i Classificagées estatisticas. Tendo em vista a elaboragio de quadros entradas-saidas, ou com outros objectivos estatisticos, 0 LN.E., bem como ‘outrasinstituigdes, procede i classificagho das actividades econdmicas segundo sectores de actividade. Assim, temos a Nomenclatura de Produtas das Con- tax Nacionais Portuiguesas (NCN), a Classificaglo das Actividades Reonémicas (CAB), etc. © Quadro 2.1 apresenta o primeiro nivel de classficagio da CAE." (Cada Divisio encontra-se dividida e subdividida. Coneretamente, como exem- plo, 0 Quairo 2.2 mostra a partigéo da Divisio 15 (Indistrias alimentares & "Tratace da nova GAB, adoptnda em 1992, que vem substitu a anterior casifeacio do 1073. A nova CA 6 muito seman A clasiiengoaoptada polo Enrol (NACE), Now BUA, a clasiliensio corespondente & CAE @ a SIC. 22 Definigio de mercado 19 Quadro 2.1: Clasificagéo das Actividades Econémicas Portuguesas (extracto). Divisto | Designagio OL | Agriculture, produgao animal, caga e actividades dos sefvigos relsclonads “s 02 | Silvieniturs, exploragio florestele actividades dos Servigos reliionadlos 05 | Pesca, squaclturs¢ actividades dos 10 | Extracedo de hulha, linhite e turfa 1L_| Exteacgio de petnsleo bruto, gés natural e actividades cos sorvigos rolacibnatlos, exeepto'a prospeccao, 12 | Extracsio de minérios de urdnio e de trio 13 _ | Extracgéo e preparagéo de minérios metéticos 14 | Outras indistrins extractivas 15 | Indiistriasalimentares e das bebidas 16 | Industria do tabaco 17 | Fabricagio de téxteis 18 | Intstria do vesturio; peparagio, singimento e fabricagao de artigos e peles cot pel ‘Saneamento, higiene piblica e actividades similares Actividades associations diversas, n.e. Actividades recreativas, culturals e desportivas 90 OL 9 93 | Outras actividades de servigos 95 99 Familias com empregados domésticos ‘Organismos internacionais e outras institui exe lerrkoriais “ dias bebidas) em grupos; ¢ o Quadro 2.3 a pastigéo do grupo 159 (Indstrias ‘das bebidas) em classes. Finalmente, a Classe 1598, por exenplo, divide-se nas sub-lasses sepuintes: 15981 Engarrafamento de Aguas minerals naturals e de nascente 15982 Fabr. de reftigerantes e de outras bebidas niio alcodlicas, Assim, & costume falar de classificagéo a trés digits, quairo digitos ou inco digitos. Eimbora as classificagées em sectores de nctividade sejam frequentemente 20 Capitulo 2. Bstrutura de mercado Quadro 2.2: Divisio 15 da Nova C.A.B. (Indistrias alimentares ¢ das bebidas). (Grupo [Dasignagio OY | APearne ede prodhins & base de carne ssa | Inde ratrmars dn ene de mpc 153__| Indistria de conservacao de frutos 2 de produtos horticalas 18 | Prod deco grrr anime sa 185 | Ins Se nie 186 | Ronee rca guna 157 _| Fabricagdo de alimentos compestés para animais: 1st | ube de oto rots aimntore 19_| Inde da tte Quadro 2.3: Grupo 159 da Nova C.A.E. (Indistrias das bebidas). Chasse | Designagio ] VEGI | Fubricagso de bebidas alcodicas destiladas 1502 | Pabricagio de éleoo! etic efermentagéo 1593 | Indiistria do vinho 1594 | Fabricagip da cisra de outras bebidas 1505, | Pabicagio de vermutes ¢ de outras bebidas fermentadas nao destiladas 1596. | Fabricagio de corveja + | 1607 | Fabricagio de malte 1508. | Produgao de éguas minerais e de bebidas Telrestantes nao alcolieas 2.2, Definigdo de mercado a tomadas como definigies aproximadas de mercados, deve referr-se que o crite rio utilizado no ageupamento de empresas em sectores reflecte principalmente aspectos relacionados com a oferta (semelhanga entre a tecnoiogia das empre- sas), enquanto que a definicio de mercado pie maior énfase em aspectos da procura. Por exemplo, o agicar de beterraba e 0 agicar de cana sio clasifes- ‘dos em sectores diferentes (tecnologia diferente), embora, aterdendo & elevada substituibilidade da procura, devam ser considerados como parte do mesmo mereado. Um problems adicional com as classificagies sectoriais wlaciona-se com as empresas multiproduto (v.g., Unilever). Normalmente, estas empresas so ‘lassificadas no sector da sua actividade principal, ficando 03 valores totais ‘da empresa incluidos nesse sector, mesmo as parcslas que r&o ge referem a ‘see sector. Por exemplo, se uma empresa vende principalmente bebidas, mas também filmes (caso da Coca-cola até hf poueo tempo), entio as receitas da actividade cinematogréfica sio contabilizadas no sector “alimentagéo, bebidas, ee” O enviesamento a favor de critérios de tecnologia tambim tem as suas vantagens do ponto de vista da Economia Industrial. Por exemplo, em 1964, ' Forga Aérea norte-americana abriu concurso para o fornecimento de um determinado tipo de radar. O concurs foi ganho pela Bencix, empresa que ‘se manteve na posicio de fornecedor tinico (monopolist) durante vérics anos. Esta situagio levon uma segunda empresa, a Wilcox, a colocar um processo em tribunal contra a Bendix, A decisio foi favordvel & Bendix. De facto, se ‘definirmos mercado com base na elasticidade da procura, entao a Bendix pode ser considerada como monopolista. No entanto, atendendo & clussificagio das actividades industriais, conchuimas que existe um niimero elevado de empresas (cerca de 20) com eapacidade Leenoldgicn semelhante & da Bendix, e que a Poderiam substituirem qualquer momento em que se verifcasve novo concurso Pilblico. De facto, assim aconteceu em 1968, tendo a Honeywll ganho 0 novo concurso.> nivel do estabolcimento« nio ao nivel da empresa. Him Portugal e até 1D8D, as Betatinticas Tndustrais apenas rocolhiam informagio ao uivel do etabelecimento. Actualment, parte 4s informasio cortinua sendo rcolhida a ete ail. 3am. James W. Mie, “Market Defsition and the SIC Approach”, in F. Fisher (Bd), Antitrust and Regulation, Boston, Mas: MIT Pree, 1985. 2 Capitulo 2. Kstrutura de mereado 2.3 Medidas de concentragao ‘A grautle maioria dos mercados encontra-se entre os extremes dle concorréneia perieita e monopétio. Como dizer se esto mais proximes de um extremo ou de outro? Se as empresas fossem todas da mesma dimensio, a resposta seria ficil: bastaria considerar o némero de empresas. No entanto, encontram-se ‘empresas de dimensio muito variada. As medidas de concentragio tém entio © objectivo de medir, de uma forma sumétia, a proximidade da estrutura de ‘mercado relativamente & situago de monopélio ox concorréncin perfeita. A idoin-base subjacente a este exercicio é que, quanto mais préxima for a estrutura (concentracio) de um mercado relalivanente a situagio extrema de monopélio (ou concorréncia perfeta), mais préxinos serio também o compor- tamento ¢ os resultados desse mercado relativamente ao extremo considerado. [Nos préximos dois capitulos veremos em que situagdes, e em que medida, wma relagio deste tipo se verifca. Dois indices de concentrac&o. Encontram-se na literatura indices de concentragio muito vatiados. Apresentames aqui os que so mais Frequente- ‘mente utilizados (vd. também 0 Exercicio 2.4). Em primeiro lugar, temos 0 indice de concentracao Ci, ou melhor, a famfia de fndices C,, definidos (a) onde: 6 a quota de mercado da empresa i, sand ns empresas numeradas por ordem decrescente de quota de mercado. Assim, Cay por exemplo, representa a quota de mereado das quatro maiores empress, O valor de C, varia entre k/n, onde n é 0 ntimero total de empresas (con- 90 Fonte: William G. Shepherd, The Economies of Industrial Orgexization, London: Brentice-Hall, 1985, p. 49 ‘A terceita limitagéo dos indices de concentragiio deriva do facto de se tratarom de medidas estéticas, nao fornceendo qualquer informacio sobre a evolugio no tempo das quotas de cada empresa, Por este motivo, itil cou- siderat também medidas de volatilidade. + 2.4 Medidas de volatilidade © grau de concorréncis de um mercado esté relacionadg inéo s6 com a con ccentracdo das quotas de mereado, mas também com a forme como a posigao relativa das empresas evolu ao longo do tempo. Suponhamos que determinado ‘mercado & composto, em qualquer momento do tempo, por uma empresa do- ‘minante; mas que a empresa que é dominante varia com frequéncia no longo do tempo. E bem possivel que este mereado tenbs uma prestagio mais préxima de wn meen concorenial que outzo mercado com mend concentragio maa posigdes estveis go longo do tempo, Com 0 objectivo de medir a intensidade da concorrénela ac longo do tempo, foram propostas diversas medidas de volatilidade, ou instablidade, das quo tas de mercado, Uma das mais conbecidas ¢ 0 tndice de instabilidade 1, definido como Le 1350 Isa- onde sig ¢ 51 sio as quotas de mercado da empresa i no pétfedo 2 1, respec- tivamente, e n & 0 miimero total de empresas em qualquer perfodo (isto &, 0 (23) 6 Capitulo 2. Estrutura de mercado imezo de empresas activas em pelo menos il vorifiear que valor de J varia entre 0 (instabilidade mi ladle maxima), © valor de 0 corresponde 2 situaglo em que todas as quotas de mereado se mantém constantes. O valor de 1, pelo conteétio, corresponcle & sitnagio em que todas as empresas presontes no mercado no period inicial tém quota de mercado nula no segundo perfodo (naturalmente, por terem safdo do mercado) ‘Tal como as medidas de concentracao, o indice ce instabilidade tern alguns problemas de medigéo e interpretagao. Um valor elevado cle F pode ser mais 0 reflexo cle um artefacto dos ntimeros que de um slevado gran de concorréncia, no mercado em questo. Tal pode resultar de uma definicéo incorrecta do mercado (v.g., automévels de cilindrada entre 1,300 e 1,350 em) on de um intervalo do tempo demasiado eurto entre periodos (v.g., umm ano no mercado de construcgdo naval, er que ss encomendas sic tipicamente plurianttas) ‘Como utilizat as medidas de instabilidade em conjungio com as medidas de concentragio? Varios autores defendem quo as medidas de concentracao sia uma estatistica suficiente, pois os mercados em que a concentracio é maior so normalmente os mesmos ein que as quotas de mercado sio mais estévecis,” De facto, a correlacio entre H e 16 tipicamente negative. Para o Canadé, por exemplo, estimou-se uma correlagio p(H,1) = -.3, No entanto, embora este valor seja significativamente diferente ce zero, é também significativamente diferente de 1, peto que parece haver algun valor acrescentadio na utilizagio de 1. Por exemplo, J. Baldwin e P. Gorecki seleocionaram 0 grupo dos 35 sectores ccanadiancs com mais elevado fndice de concentragio. Deste grupo, apenas 12 Sectores se encontram entre os 35 com menor indice de instabilidade, Logo, 1 selec gio dos sectores potencialmente probleméticos seria muito diferente Consoante se tomassem medidas de concentracio ou medidas de instabilidade.® 2.5 Exercicios 2.1 Considere os seguintes produtos: cimenio, cortiga, Aguas minerals, antoméveis, servicos bancérios para pequenos dpositantes, Em cada caso, determine o Ambito do mercado respective ¢ apresente una estimativa do ‘ran de concenteagio, "Gli: reevie M. Scherer, Tadhatrial Market Structure and Beonomic Performaner, Bes ton: Hlonghtes Miflin, 1980p. 74 “Joh Baldwin e Paul K. Goreek, “Menwuring the Dynamics of Market Structure”, ‘Annotesd'Bcomomie of de Statitigne, No. 15/16 (1980). 25. Exercicios ” Quadro 2.6: Empresas seguracdoras com quota de mercado superior 1 2% em 1987. Notas: P = empresa publica; SA = sociedade andnima, [Empresa Quota] 1 [ império (PY 14.19 | Mundial Confiange (P) [12-71 3 | Fidelidade (P) 11.02, 4 | Tranguilidade (PY 10.56 5 | Bonanga (PY 9.50 6 | Alianga Seguradora (P) | 7.92 7 | Portugal Providente (SA) | 5.00 | Metrépote (SA) 2.00 9 | Europeia (SA) 25| 10_| Trabalho (SA) 2.50 [11 | Social (SA) 2.14, 12 | Soc-Port. Soares (GA)__ | 2.10, 13 [ Garantia (SA) 2.03 2.2, Com base nos valores do Quadro 2.5, ealcule o intervalo de valores do {nice de Herfindah! paraso sector dos seguros em Portugal em 1991. 2.3" A. Jacquemin propés os seguintes requisitos para uma boa medida de concentragao:? 1, Carécter nao ambiguo. Dados dois mereados, deve.er ossivel dizer inequivocamente qual deles se encontra mais concentrado. 2. Invaridncia & escala. A medida deve depender apenas da dimensio rela- tiva de cada empresa. 3. ‘Transferéncias, A medida deve aumentar quando se diminsi a quota de mercado de uma pequena empresa & custa de uma grande emprese, 4. Monotonicidade no niimero de empresas. Se as n erapresas tiverer quo- tas de mercado idénticas, entaio a medida deve ser decrescente em n. 5. Cardinalidade. Dividindo cada empresa em k empresisiguais, a medida deve docrescor na mesma proporgiio, Alexis Jaequemin, Beonomda Futsal Keropeta, Ushox: Edigis 70, 1979 PPD A PID DD DFS 2B Capitulo 2. Bstrutura de mercado Veifique se os indices Cz, He ainda o indice “desvio padriio das quotes de mercado” (4) verificam estas condigies. 2.4" Mostre que H = 1/n +n V(s), onde H é o indice de Herfindabl, 10 nimero de empresas © V(s) & variincia das quotas de mercado. Com base nesta equagéo, interprete o sentido da medida “niimero equivalente” de Adelman, definido como NE'= 1/H. He sat 6 2% vmts)e E(x 3% monte) s ECS. 2&E 484) Val Tut. awtFk + nse wef) 2H ET ZSw tate min es We 2B aR . wave Woo aE We aun) a BE 2 we wont (EE) Be ave wa ue a vate) a ded pes dc Veg 6 Hed ™ Capitulo 3 Modelos de oligopélio 3.1 Introdugao NOS CURSOS introdutérios de Microeconomia, ao falar sobre edrutura de mer- cado, é costume estudar os asos extremos de monopélio ¢ concorréncia perfeita. Exemplos priticos de monopélios (em Portugal) séo a produgio distribuigio de energia eléctrica e os transportes piblicos urtanos; exemplos priticos de mereados que se aproximam do modelo de concerréncia perfeita so a generalidade dos mereados agricolas — por exemplo, o mercado do trigo — bem como diversos mercados finaneeiros e de cambios. ‘Apesar destes exemplos, constata-se que a grande maipfia dos mercados 9 encontra numa situagéo intermédia entre monopélio e concorréncia perfeita. De facto, mesmo que se encontre apenas um fabricante de determinaclo pro- Netomadsa,omimar dampens Sami grands plo qu arate de cada empresa tem um impacte negligenclével nas restantes empresas. No entanto, vide & diencingio-do-orodula_a curve de_procura enfientade por cada em jm dos resultados da teotia de Chamberlin é que o abandono da Titian de hhomogeneidade do produto nfo implica necessariamente o abandono de um dos resultados fundamentais do modelo de concorréncia perfeita, nomeadamente ‘que a livre entrada implica lucrus mulos uo longo prazo, Implica, sim, que este equilibrio deixe de ser eficiente Estas ideias so ilustrades pela Figura 3.1, que representa 0 problema de ‘uma empresa-tipo no modelo de Chamberlin. Porque existe diferenciagio do produto, a curva de procura enfrentada por cada empresa, d, & negativamente “Richard Chamberlin, The Theory of Monopole Competition, Cambridge: Harvard Univesity Pres, 1983. Deve também referr-se 2 contebuto anterior de Joan Robinson para ‘estudo da concorrénein imperteita 31 Introdugio 3 inclinada. No entanto, porque livre, no longo prauo eifica-se entrada até que a curva de procura enfrentada por cada eupresa seja tangente 4 curva de custos médios totals. Neste ponto, o Iuero de cada empresa activa ¢ indximo e nul, atin ‘A Figura 3.1 ilustra também o segundo ponto referido acta: ao contrétio do que aconteve em concorréncia pereita, 6 equilib de in mono. palistoa éineficente quauto ao custo de producag. De fac, cada empresa roduz uma quantidade menor que a que ia os custos médios, tanto ‘menor quanto maior for o graw de diferenci idut> (isto 6, quanto ‘maior for a inclinagao de d). Por ontro lado, cm equilfbrio, o prego fixedo por cada empresa 6 superior ao custo marginal (eft. Exereicio 3.3)? No entanto, isto no implica necessariamente ilfprio seta social- i 0 porque, para alémn dos eustos de producéo e quantidades totais, ha também que ter em conta os beneficios inerentes 8 variedade, q ‘dependem do mimero de empresas e nao somente das quantidades totais. te ‘é um ponto controverso, néo sendo possivel de momento apresentar resultados gerais satisfatérios, isto 6, resultados que indiquem qual dos efeitos — mini- anizagio dos custos ou criacao de variedade — ¢ daminante do ponto de vista, do bem-estar social. 3.1.3. Teoria dos Jogos: breve introdugao ‘Uma caracterfstica comum dos modelos acima apresentades 6 a auséncia de comportamento estratégico. A empresa dominante do primeiro modelo com- Porta-se efectivamente como monopolista, com a tiniea nuance de que @ curva, de procura efectiva € funcao da oferta da faixa concorrencial. No segundo modelo, cada empresa € suficientemente pequena para que posta ignorar o impacte da sua estratégia na estratégia dos rivas, oligopétio, objecto central da Economia Industrial, easo intermédio en- tre monopolio e concorréneia perfeite, distingue-se justamenie pela interde- Pendéncia entre as acgies das diferentes empresas. Por este motivo, a Teoria dos Jogos, entenida como o estudo formal do relacionamentoestratégico entre “0 método de ands utllando por Chamberlin € algo informal; existéncia de am ‘ule com as earacterbticas propoalas por este ator conlinua vend> vm ponto conte, vere, © leitr interasado e com fclidade matemitia devers consulta Oliver Hors, "Mor ‘opoistic Competition inthe Spirit of Charnberin: A General Model, Review of Beonomiec ‘Studies 52 (1035), 520-546, e Mcio Piscoa, “Noncooperative Equiibtam and Chasnberi ‘sian Monopolistic Competition’, Journal of Beonore Theory 60 (1999), 395-953. "Recordese que a curva de custo marginal iolerecta n curva de ko midio nO seu ‘minim, sendo inferior & curva do custo médio quando esta &dectesents. 34 Capitulo 3. Morelos de oligopélio aeonte (oxen, pes empress ete), assume um papel mito importante ‘em Boonomin Industri A anilise formal de uma situagao de comportamento estratégico comeca pela formulagio de um jogo. Umm jogo constituido por um eonjunto de Jogndores, um conjunto de estratézis possiveis para cada jogndor, um con- junto de fungées nidade também para cada jogador, eum conjunto de rogras (vem pode faze o qué e quand). Por exemple, o Quadro 3.1 representa um jogo com dois jogadores (1: linha e 2: coluna), cada um com das estrateias possiveis (a & para o primeitojogador, ced para.o segundo). Os valores em cada cela correspondem as lades dos jogadores 1 ¢ 2, respectivamente, em. fungio das estratégas escolhidas. Assim, e por exemple o Jogador 1 eecather a estratiga be 0 Jogedor 2 a estratégiac,entao es utilidades recebidas io 4 © 2, respectivamente. As regras do jogo sfio muito simples: cada jogador es- colhe, independentemente do outro, a sua estratigia. Note-se que a utilidade do Jogador 1, por exemplo, é fungio da sua excolha ¢ também da escolha da escolhis do “iva” — encontrames aqua interdependéncia de estratépias que 6 caracteristicn fundamental da Teoria dos Jogos. © objectivo da Teoria dos Jogos é principalmente de caréeter positive (por ‘peso a normativo): dado tim conjmto de agentes racionas quo interagem entre si, que tipo de comportamento devemos eperar de cada uns? A respesta ‘esta questéo ¢ dada pelo coneeita de solugio, um método de, partindo e frmulagn de um fog, chara un pul. fess. tua. paca e Nath(ou Nash-Cournot ou equilrio estratégico): um vector de ‘sis (om strata por cada joendor) constitu um ealtio Nish sé ienlum jogador puder melhorar (estritamerte) a sua utllidade através de ‘uma mudanga unilateral da suacstratégia. No jogo considerado no Quadro3.1, apenas o vector de estratégias (b,c) constitu tim equilorio de Nash, De facto, 0 0 primeiro jogaor eseolhosse a sua estratéyia alternativn a, ontio « sum uulidade seria 3 em lugar de 4; por outro lado, se 0 segundo jogador escolher 70 desenvolvimento inci da Teoria doe Jogos, no sentido aqui apontado, &atsbulde ‘4 Joh von Neumann e Oskar Morgenstern, Theory af Games and Economie Behavior, Princeton: Princeton University Press, 1044. Por vezes,oocmo “ori don jog & tam, taco com referncia& teora combinatdra de eertor "jogoe de mesa”, como o Kaden, ‘Othello, te. Dois bons textes introdtétion de Teoria dea Jogos aio Brie Rasta, Games ‘nd Information, Oxford: Bast Blackwell, 1980; ¢ Rober! Gibbons, Came Theory for Applied ‘Bronomiss, Preston: Princeton University Pres, 1982, Para un extdo mals aprofindudo, Drew Pudenberg e Jean Tirole, Geme Theory. Cambro, Mase: MIT Press, 191, 3.2. O modelo de Cournot 35 Quadro 3.1: Jogo com dois jogadlores. Jogador 2 0 =I Jogedor {a} 3 | 1 1 7 T olay 1 sua estratégia alternativa, d, entdo a sua utilidade seria 1 om lugar de 2, {Verifique que nenhum outro perfil de estratégias constitni um equilforio de Nash.) Boa parte da teotia do oligopélio, de que este capitulo constitui uma in- trodugéo, baseia-se na aplicacéo da Teoria dos Jogos e do conceito de equilibrio de Nash a modelos que procuram aproximar a realidade de um mercado oli- opolista. Neste caso, os jogadores sio empresas; as utilidades, Jucros (nor ‘malmente). O conjunto de estratégias pode ser muito variado; neste capftulo, consideramos principalmente a quantidade produzida, mas tarabém o prego & ‘a capacidade produtiva. Finalmente, as regras de jogo normalmente conside- ‘adas ofo simplesmente “todas as empresas escolhem simultareamente a sia estratégia”, embora outras variantes scjam também admitidas. 3.2 O modelo de Cournot © primeiro modelo formal de oligopétio a considerar & o modelo de Cournot.? Comegaremos com o caso de um duopéiio, generalizando depois para 0 caso den > 2 empresas. ns haste fundamentals ebjaceies ao odeln hiro de Counc sie ue (i) 0 pr sas, © (iii) a6 empresas coterminam, cida. De um ponto de vista da Teoria, dos mente; o Tucro de cada empresa (a utili ‘ada jogador) € funcéo da nate produidn po esa empresa edo prego de meresdo, que que por sus "Aguotin Cournot, Recherches sur les Principes Mathematiques de la Tori dee Riches sa (1838). Traducio inglesaeditada por N. Baron, New York: Macmillan, 1607. 36 Capitulo 3. Modelos de oligopstio i(a2) vex é fungio da quant lzida por_ambas as empreses;fnalmente, ° la mere 0 ealibrio de Nash deste jogo, tarbéin conhecido por equilfrio de Nash-Cournot. 3.2.1 Derivacdo geométrica Comecemos por derivar o equilibrio de uma forma geométrica, considerando ivoladamente o problema de meximizagéo de una dada empresa, seja a Ert- presa 1. Suponhamos que esta empresa tem a expoctativa de que a Empresa 2 produsiré ao nivel gy. Entéo, o problema de maximizagio da Empresa 1 ¢ so relhante ao de um monopotista que enfrenta a procure sesidual di(ga) = D=a2 (Gle. Figura 3.2). Dada wma ceria curva do custo marginal (para simplificar, constante), basta derivar a curva de receita marginal e resolver FU = C* para eteriinar 0 éptinw da Emprese 1, g(a). [Notewe que este Sptimo é condicional num determinado valor de qu; isto 6, para cada diferente expectativa que a Empresa 1 possa ter relativamente & producio da Empresa 2, a Empresa 1 faré uma escolha Sptima diferente. A fumSo qf (42), que relaciona estas escolhas éptinas com as diferentes expec: totivas relativamente & quantidede da empresa rival, designa-se por fungio melhor resposta ou fungio reaegio da Empresa 1 relativamente & Em 3.2. O modelo do Cournot a7 Pi a?) GO) =O" Qe Figura 3.3: Dois casos extremos. presa 2. Para derivar a fungio reaccéo da Empresa 1, ¢ fitil considerar dois casos ‘extremos relativamente a gz, ambos retratados na Figura 3.3, Suponhamos ‘quege= 0, Fntio, a procura residual enfrentads pela Empresa L coincide com a procura de mercado, A reacgio éptima desta empress corisiste em produzir quantidade de monopdlio, isto 6, qf(0) = Q™. Suponhamos agora que a ‘Empresa 2 produz a0 nivel de. um mercado concorrencial, isto €, ¢ = Q, onde Qf 6 tal que D-(Q”) = C" =e. Neste caso, a procura residual (e Fespectiva receita marginal) so sempre infetiowes ao valor do custo. Binpresa 0 nula, sto 6, gf(Q°) ~ 0 Mostra-se que se as curvas de procura custos forem lineares, entao tatne bém 0 & a fungio reacgio. Sendo assim, com base nestes pontos agora deter- iaales, podewos Ueduzir « fungan ceucyan da Empresa 1, u que 6 feito ms Figura 34. ‘Admitindo que a Empresa 2 dispée de uma tecnologia idéaticn & da Bmn- presa 1, isto 6, a mesma fungio custos, entio tudo 0 que se disse a respeito da Empresa 1.6 também aplicével & Empresa 2. Assim, tenes uma fungio reaegdo f(q1) que é simétrica de 4f(qz) rolativamente & diagonal principal (cfe. Figura 3.5). © equilibrio de Nash-Cournot € entio dado pelo ponto de intefsecgio entre as duas fungées reacgio, o ponte B. Este 6 0 tinico ponto 38 Capitula 3. Modelos de oligopétio ct QM il) ay a(n) cM . gla) a es Figura 3.5: Equilfoio de Cournot, ‘al que ambas as empresas escolhem una quantidade que é éptima dada a ‘quantidade da empresa rival. I Interpretagio dinimica do modelo de Cournot. Embora o modelo de Cournot seja um modelo estitico, o equilfbrio derivado pode ser inverpre- tado como o resultado de um proceso de ajustamento dindmico. Suponkamos 3.2. O modelo de Cournot 29 an a3(a1) gi(m) é @ Figura 3.6: Convergéncia para o equilfbrio de Cournot. ‘que em cada period fmpar a Empresa 1 escothe a quantidade 7f = 93(¢f-"), isto é, a reacgio Gptima relativamente & quantidade produzida pelo rival no periodo anterior, Suponhamos ainda que © mesmo se passa nos periodos pares com a Empresa 2. A Figura 3.6 mostra alguns passos deste proceso de ajus- ‘tamento. E'fécil verificar que, qualquer que seja o ponto de partida (q2 = 49, na Figura 3.6), as quantidades convergem para o equiltrio de Nash-Cournot, © Comparacio entre Cournot, monopélio ¢ concorréncia perfeita. Muitas das propriedades do equilfbrio de Nash-Cournot si mais facilmente c, confirma-se que PM > pN > pe, (3.13) ‘0 mesmo se verificando com a derivada do prego em relagio ao cnsto marginal Caso de n> 2. A generalizagio para o caso de um cligepél com n empresas relativamente simples, Neste caso, temos simétrico TI (91.-+ 44) = (~ bn = 2 = bon = 2) G4) sendo a fungio reacgio dada por 2 Capitulo 3. Modelos de oligopétio Alta.) = SE" = Fant st an) (3.15) Resolvendo para a solugio simétrica q: = ¢", e simplificando, obtém-se Vies™e ye tet pate . wy. are a palenve : T= iimey (316) HRN ete te Oe ee (a7) . we tg wee Pe > peat nee (3.18) 3.2.3. Propriedades do equilibrio Com base na Equagéo (3.18) podemos formular a seguinte importante pro- Posigio a respeito do equilfbrio de Cournot:!" & medida que o ntimero de ‘empresas aumenta, o prego de equilthrio aprosima-se do preco de equitibrio de ‘concorréncia perfeita, isto & liz, PM(n) = PO. (2.19) Eate resiltado & importante porque formaliza a ideia de que o modelo de concorréncia perfeita deve ser entendide como um ponto de referéncia que aproxima melhor on pior os mercados reais. De facto, uma forma de ler a Equagio (3.19) consiste om afirmar que mercadhs com estrutura (nimero cle empresas) prdxima da de concorréncia petfeta (nero i Sapiias) ‘4mm tum prego de equilfbrio também préximo do de eonoorréncia perfeit ‘Algo de semelhiante se verifca t relagio a eficiéncia do equilforio de Cournot, como veremos de seguida. A Figura 3.8 representa cficiéncia (PE) do equilfbrio de Cournot relativamente to, Sptimo soci A. Algebricamente, temos A Algebricamente, temos_ PE 1 3 5(P" — PPV(Qe —Q”) 17a in nave walmietane) (Si -anF). 62 Bho @ reat sj wt deindo com basen modelo near, «su vada & ‘em mae gil O kit iteresdo om fechade matin dover cout Wich Novshok e Hugo Sonnensnein, “Cournot and Wale Equlibrvin’, Journal of Bememic ‘Theory 19 (1978), 22826. 3.2. O modelo de Cournot 43 Py we Figura 3.8: Perda de eficiéncia da solugao de Cournot relativamente a con- comin perf, ou, simplificando, 7 1 a-c\* pe- 3 ($4). (3.21) interessante verificar que, tal como o prego, a perda de eficiéncia converge lor de concorréncia perfeita(rer0) A medida que n> oe. No entanto, ‘ium oligopélio com n empresas como percentagem da perda de eficéncia em monopélio. (Para obter a perda de eficiéncia em monopélio, basta substitu n ppor 1 em (3.20); logo, orécio ver igual a 4/(re+1)2,) Verifica-se, por exemplo, que bastam 7 empresas (de igual dimensn) para que a perda decficiéncia eoja de apenas 6%, 3.2.4 Oligopélio assimétrico ‘Come vimos anteriormente, no caso de procura e custos lineares, a fungio reacgio dla empresa i é dada por cr Capitulo 3. Modelos de oligopélio Quadro 3.2: Perda de eficiéncia no equiibrio de Cournot como percentagem da perda de eficigncia de monopslio. mE Tot 2) ao 3} a4 4] 4/25 “Z| ayetx 6% 15 | 4/256~1.5% svete te . ala) = "FS - do. (322) Até aqui, tratdmos do caso simétricn, isto é « ©. Suponbamos ‘gora que uma das empresas, sja.a Empresa 1, consegne uma descoberta tec- noldgica que Ihe permite reduzieo eusto de produgia de e para ¢,enquanto que 1 Empresa 2-9e mantém com cz = ¢. Que acontoce aos valores de equilibrio? Como se pode verifcar pela Equagio (3.23), um decréscimo de cy implica um ‘fastamento da funedo reacgao gf (2) (cf. Figura 3.9). Consequentemtente, 0 ‘de equilfbrio desfoca-ss para Noroeste em relagéo ao equlibro simeétri isto 6 a Empresa 1 aumenta a quantidade enquanto que a Empresa 2 di ‘.guantidade produzida — Este resultado ¢ importante porquanto permite complementar 0 que jé se dlove ein relagio & eficéncia do equilbrio de Nash-Cournot. Por um lado, ‘como $6 vimos, a perda de eficiéncia num oligopéto simétrico tende para zero, rapidamente, & medida que © niimero de empresas aumenta. Por outro lado, no caso de um oligopélio assimétrico, 0 equilibro reafecta as quantidades pro- dluiidas por cada empresa no sentido eicente, bio é, aumento da quantidade produzida pels empresa com menor custo e vice-versa. No entanto, esta rea- foctagio € apenas parcial em relagio ao Optio, que seria a especializagio da produgéo na empresa com custo marginol inferior. 3.2. O modelo de Cournot 45 Figura 3.9: Equilibrio de Cournot assimétrico, 3.2.6 Relagéo entre estrutura e resultados Como é sabido, numa situagio de monopélio, o indice de Lerner, medida de restagio de um mercado, dado por 1 (3.23) onde € 6a clasticidade da procura, Esta formula pode ser genecalizada para o caso de um oligopélio.!” ‘A fungéo Inero da emprese i & dada por Ty(ay,---14n) = Pa Cis (324) onde P € a inversa da fangio procura, e C, a Fangio custo da empresa i. A condigéo de primeira ordem para max Th é por sua vez dada por Pat P-C=0, (3.25) ou simplesmente ‘andise qu a amgue # adapta de Keith Cowling ¢ Michael Waterion, “Price-oat ‘Margins and Market Structure", Beonomaica 43 (1976), 257-274 6 Capitulo 3. Modelos de oligopstio P-C=-P'q (3.26) onde P’ = dP/d@. Definindo o indice de Lerner da empresa i como (a27) tomos, a partir de (9.26), (3.28) onde (329) a2 (3:30) Definamos agora o indice de Lerner do mereado como a média ponderada Dae (a1) Entao, a partir de (3.28), temos e-Datat (3.32) onde H = S Pa, entio Ty = 0. Se py = pa, entio My = (p — c)D(p1)/2. Finalmente, 23, Bertand, “Théorie Mathématique de I Riches Saiae”, Journal de Sovants (1883), 499-508. 3 as 48 Capitulo 3. Modelos de oligopétio 0 p, Pr Se p2 for superior ao prego de monopélio,entdo a solugdo dptima da Fine presa 1 eonsiste om fixar o prego de monopélio, assim recebendo o lucro de rmonopalio. Finalmente, e pz for inferior a ¢, o custo marginal ( médio) da Empresa 1, entéo o melhor que a Empresa 1 pode fazer &fixar pi =e, senco 6 lero igual a zero. Resumindo, a fungéo reacgéo da Emprose 1 6 dada por M se > pit Pilea) ={ pe—e se e< p< ph (3.33) cm mm vender mais ‘que ki, a procura dirigida empresa com preco superior, digamoe a empresa 4, néo ¢ necessariamente nula, antes seré dada por max{0, D(p,) — ky}. Isto 6, 98 a empress j, que fixa um prego inferior, puder satisfazer toda a procura (Dip) < kj), entéo a procurs dirigida & empresa i é nula. Se, pelo contrétio, empresa j no puslersatisfazer toda a procura (D(p,) > kj), sntéo a procure dirigida & empresa i 6 dada pela procura de mercado menos o valor dey. O.resultado da andlise deste modelo, inclufda em apénidice, é que os pregos fxaddos no segundo perfodo sio iguais ¢ tois que_a.eapagidade de produgaa de ‘mbas as empreaad é total » sto &, ps = pj = Pk + ka), onde P() 6 a inversa da fungéo procura. Logo, 0 equilforio do joro considerando 0s dois estos, ¢ equivalente an de um jogo em que as empresas fam cape. Cidades hy © vendem q = by @ um prego dado por P(ky + kr} = P(g +m). Isto 6, © equilbrio do jogo de dois extédios & como o equilfvio de Cournot, ‘inerpretndo a ides Ses pt cans om eles a capacities de produ Que nconteceria se a ondem de fixacio das varidveis {ums des regras do ogo) Tose al é sem so ect deni capacidades do produgio? Suponhamos que Ci(ki) = ck. E Wtico que, sendo 4 2 ¢, a empress + instale a capacidade ky necessstin para satisfazer (exac- HS ID 2 Capitulo 3. Modelos de oligopétio tamente) a procura que Ihe é dirigida. nto 0 resultado deste modelo seria cquivalente ao do modelo de Bertrand, reinterpretando as quantidades vendi- ‘das pelas empresas Coimo correspondendo a capecidades de producio instaladas no segundo extidio. Commo se vé, a ordem de movimentos nao indiferente. Para que 0 modelo (necesariamenteestilizado) posse fazer sentido, hd que considerar como pri- i 0 decisio de longo prezo, squela que as empress mudam com ‘modelo, um jogo de dois estédios, 6 necessério que a decisio de curto prazo vvenha depois da decisio de longo prazo. Sendo assim, a discussio acima apresentada leyacnios ao seguinte sumAric a comparagio entre os modelos de Cournot ¢ Bertrand: mercados em que 08 pregos st ajusiam mais rapidamente que as quantidades aproximam-se mais do modelo de Cournot; pelo contrério, mercados em que as quantidades se justo mois rapidamente que o8 precos aprosimasn-se_mais do modelo de Bertrand. Dito de outra forma, ¢ varisvel ostratégica relevante é aquela que se ajuste mais Tenant — 3.5 O modelo de Stackelberg ‘Uma das hipéteses do modelo de Cournot é a da simultaneidade das escolhas de capacidade por todas as empresas. Este hipdtese correspond a uma boa ‘proximagéo da roalidade em muitas situagoes. Notese, em particular, que 3 hipéese nao significa que as decisbes das empresas se dem simultaneamente no tempo; 0 que é relevante € que cada empresa desconheca a deciséo des ‘empresas rivals no momento em que toma a sta prépria decisio. ‘Mesno assim, encontramos muitas situagées ein que a hipétese de sequen- cialidade na tomada de decisées 6 a mais realsta. Isto pode resultar de que ‘uma das empresas se destaque como “lider” natural do mercado, ou simples- rmente do facto de uma das empresas se instalar no mercado suficientemente antes da(s) outra(s) (eft. Capitulo 5). no snallneas. Nesta secgao de Stackalberg: duas empresas, procura linear e custos lineaes. 3.5. O modelo do Stackelberg 3 Figura 3.13; Fungdes isolucro. Sendo as empresas jogadores racionais, a Empresa 1 (a empresa lider) escotheré a sua quantidade tendo em conta a escolha da Erapresa 2, que por ‘sua vez é uma fungdo de quantidade escolhida pela Empresa 1. Concretamente, ‘escola tina da Emprena 2, no sogundo eatdio & dada pla angio regio L no primeiro estédio. ©” jim sendo, a escolha éptima da Empresa 1 consiste n> pont 3(a) a que correspon 8 seomélrics dese ponto éfacilitada pele utlicagio das carms de ioluro da Empresa 1. As curvas de isolucro da Empresa 1, tal como o nome sugere, ‘séo © lugar geométrico dos pontos que, no mapa das quantidades (qi, 92), correspondem so mesmo nivel de cto da Empresa 1. Por outras palavras, ‘so as curvas de nivel da funco lucro da Empresa 1, Comecemos por considerar o caso em gue g = 0: Neste caso, 0 lucro snéximo da Empresa I ¢ obtido com qi = @™, sends o hue correspondents dado por 11 (efr. Figura 3.13), Como IT, 0 nero de monopélio, 60 maximo que a Empresa 1 pode obter, e apenas quando q = 9” a ‘assim uma_primeira “curva” de isolucro, correspandente 90 ponto (g™ 0). ‘Consideremos agora um nivel inferior do lucro da Empresa L, soja IT’. ‘a funcao Iuero de um monopolista 6 céncava, existiréo pontos (q1,0), (df, tais que Il, = [I/. Estes pontos fazem parte de uma segunda curva de isolucro, ‘Suponhamos agora que ¢z > 0. Como o lucro da Empires 1 é decrescente em. gq. (un aeréacimo de q implica um decréscimo do prey), para que se imantenha 0 Iuero da Empresa 1 a partir de (¢,,0) ou (¢f,0)€ necessrio que Capitulo 3. Modelos de oligopélio a Figura 3.14: Equilibrio de Stackelberg, se vorifique uma aproximagio de g1 em relagio ag™ que compense 0 acréscimo de qa, Por outras palavras, 8 curva de isoluero Ih, = Il’ deve ser negativamente inclinada em (qf,0) e positivamente inclinada em (q{,0). (© mesmo raciocinio se aplicaria a valores diferentes de Tl, dando-se asim ‘origem so mapa de curvas de isolucro representado na Figura 3.13. Notese ‘que quanto mais préxima estiver a curva de isaluero do ponto (qM,0), maior ‘lucto correspondente. Logo, o éptimo da empresa lider seré dado pelo ponto de targets de una Cade olecro.som ange ronr da Expres Io onto $.na Figuia 3.14. ‘Quois as diferencas entre_os_equiltbrios de Cournot e de Stackelberg? A Figura 3.15 representa, ag quantidades produzidas por cada empresa em cada xi dos equi al como verificimos anteriormente, o equilforio de Cour- not corresponde & intersocgdo das fungées de rencedo. As fungdes de reacgéo, por seu turn, dio os valores qi que maximizam o Iuero da empresa i dado valor de qj. Coneretamente, o valor 4f(q) conesponde & tangéncia da recta 42 = com wma curva de itolucro da Empresa 1 Assim, no equilorio de Cournot a Empresa | escolhe a quantidede éptima dd fade eacolhida pela Empresa 2, enquanto que no equilrio de press 1 escolhe a quantidade éptima dada a fungéo reacea0 da Empresa 2. Isto resulta em que, no equiltbric de Stackelberg, a quantidade escolhida pela Empresa 1 soja superior ao valor 6ptimo dada a quantidade cscolhida pela Empresa 2 (isto &, 0 ponto S encontra-se & direita de qj (af")). A ideia é que a Empresa 1, aproveitando a. vantage da lideranca, esolhe tima ‘quantidade propositadamente clovada com o intuito de induzir © Empresa 2 a 3.6. Modelos dinimicos: um exemplot 55 a Figura 3.15: Equilfbrio de Cournot e equilfbrio de Stackelberg, ‘escolher uma quantidade inferior (o que de facto acontece, em equilforic). ~ Una: segunda concluséo que se pode tirar da Figura 3.15 é que a quanti- dade total 6 superior no equilfbrio de Stackelberg em relagio.an equilibrio de ‘Cournot. De facto, uma recta de declive —1 passando por $ deixaria 0 ponto Ca Sudeste (recotde-se que o declive da fungio reaogéo é igual a -1/2). No equilfbrio de Stackelberg, a Empresa 1 produz mais e a Empresa 2 produz ‘menos do que no equilibrio de Cournot, mas 0 aeréscimo de produgéo da Em- presa 1 mais que compeiisa o decréscimo por parte da Empresh 2. 3.6 Modelos dinémicos: um exemplo* Os modetos apresentados nas sltimas duas sooges podem ser vistos como casos particulares de um mais geral em que a concorréacia se veifien em dois eatidios. A forma do modelo geral é a seguinte: no primeiro estédio, ‘ambas_as empresas procedem a.m investimento_K. Este investimento pode corresponder @ capacidade, publicidade, investigagao e desenvolvimento, etc. 0 importante 6 que se trata de um investimento que afecta nio a5 os luctos ‘no primsito_perfodo como também os “dados" para a concorrinda no segundo fodo. Coneretamente, no segundo periodo, oe emprosas concorrem entre si ‘omando como dads os investimentos do primeiro periodo. Neste contexto, tem interesse a anilise, dos efeitos da conesrréncia inter- temporal nia determinagio do investimento éptimo de cada empresa. A condi- ‘0 de primeira ordem para a maximizagéo do luero intertemporal da empresa 4 6 dadla‘por (asttmindo uma taxa de desconto mula) The = MCT Me) Cee, ae Cke, =), ay (ee, =) ance git 4 oat 4 OM ont. One ont ae aA ne 7 ee wamtrion 4 56 Capitulo 3. Modelos de oligopélio a, OU UE Buf om Beh aK, * Oke * Bek AK, * DF OK, iatégica (prego, quantidade) escolhida pela empress i no 4 investimento K,). O primeiro termo do lado esquerdo to nos lueros da empresa no primero periodo; néo se tratando de um investimento intertemporal, este teria o tinico ‘feito ‘a considerar. O segundo termo corresponde 1o efeto directo do inves- timento sobre os lucros no segundo periodo; este eftito verifica-se mesmo que no exsta.concorréncia entre emprosss._O terclno termo tet o valor zero (8.34) 0}. Finalmente, o-iltimo termo representa o eleito estratégica imento pela empresa i hoje (I) afc. expectativas da empresa 4 quan‘ ao comportamento da empresa san oh ue Por sua afecta o lucro de equilibria dla, empresa i n0. “Gomo exemplo, consideremos un modelo simples da curva de experién- cia. ® Designa-se por curva de experiéncia a relacio negativa entze 0 custo e & produgéo passada acumiilada. A evidéncia empiriea este fenémeno encontra- -se em muitos sectores produtivos, como sejam a construgio serondutica ¢ 0s semicondutores. Neste caso, o investimento K consiste na produgio do. primeiro periodo; 0 efito do investimento nos lucros verifca-se através da varlagao_do custo no segundo periada, isto é,o custo da empresa {no segundo PETGdD nis fungi dacesents da ou produio no primero periods sina! do efeito estratégico (0 dihimo termo na Equacdo 3.34) é, neste aso particular, dado pelo sinal de BMT Oa} Be? Gad ae (338) nde ce of si, rspectivamente, o curto marginal ¢ qualidade da cmpresn {ino peridot. Ora, (i) 0 lucro da empresa i 6 uma fungéo decrescente da quantidade produzida pela empresa, i) a quantidade produzida pela empresa j é, em ‘equilibrio, fungo erescente do custo da empresa i (efr. Exercicio 3.14); fi- nalmente, pela hipétese da curva de experiéncia, (iii) o custo da empresa i Para ume ands mals complet, vd. Drow Fudenberg¢ Jean Tirole, “Learning by Doing sand Market Performance”, Bell Journal of Economies 14 (193), 522-89, 3.6. Modelos dindmicos: um exemplo* 8T no segundo perfodo 6 uma Fangio decrescente da quantidade produzids pela mesma empresa no primeito periodo. Concluimos assim que 0 feito estratégica.&,.no.caso.da. curva. dex periéncia, positive, Isto significa que a empresa escolhe um nfvel de “investi- ‘mento” (neste caso, a quantidade do primeiro periodo) superior so que decor- reria de uma situacio sem comportamento estratégico. De facto, a8 noticias sobre os sectores em que a curva de experiéncia é importante (os semicondu- tores, por exermplo) incluem frequentemente a referéncia a ntveis de produgéo ‘e de capscidade exagerados, cujo principal objectivo é a obtencio de una vantagem estratégica através da curva de experiéncia.!” "Bia 1600, na altura em que as memérias de 4 Megabits te proparavam para subst ‘de 1 Mezabit, a eotratgia dos fabricantes Japoneaes era deserita com 1 fase “Japan's lant chip makers are rushing into Wat looks Uke & aueidal expansion of “megabit chip Production” (The Bamomist, 13 Outubro 1990). Os beneicioe eatratagioa da eorva do ‘experéncla eran apontades como o motivo para a expansio de eapacdade. Of. Exerciio 319, 58 Apéndice a Figura 3.16: Equilfbrio de Cournot. Apéndice* Neste apéndice, apresentames um esquema de demonstragéo formal do resul tado do modelo de dois estédios considerado na Secgao 3.4.'* Suponhamos ‘que custo de capacidade 6 dado por ¢ (vaior “elevado”) por unidade de capacidade e que o custo de produgéo é nulo, Por momentos, consideremos 0 caso em que as capacidades instaladas sin muito elevadas (néo restritivas) ¢ as empresas fixam quantidades a vender, nio pregos (sto 6, o modelo de Cournot). Esta situacio vem desctita na Fi Bura 3.16, onde se representam, para além das fungdes reacgio, as curvas de isolucro da Empresa 1 ¢ os valores de equilfbrio (a) , gf"). Facto: Se c for suficientemente elevado, entiia a capacidade de produgio f- xada por cada empresa é inferior a 4%, isto 6, hr, k2) encontra-se em A. Demonstragéo: Veja-se a Figura 3.17, onde se representa 0 Iuero bruto de ‘um monopolista.em funcéo da quantidade vendida, R bem como o custo da «Para uma demonstragio completa, vd. David Kreps e José Sheinkian, “Capacity Pre- commitment and Price Competition Yield Cournot Outcomes", Bell Journal of Ezonomies 14 (1989), 326-337. 3.7. Bxereicios 59 ‘capscidade instalada, CA). & fécl verfiar que o monopolista nunca escothe > E. Logo, se ¢ for suficientemente elevado, entdo k < a, isto &, pode ‘encontrar-se c suficientemente elevado tal que isto acontega. Mas se k 70), onde 60 prego fxado pela empresa dominante, sendo a retante probura satisfeita pola empresa dominante. Determine a solucio dptima da empresa dominante ‘quando 0 sen custo marginal é constante e dado por (i) ¢ = 70, (i) ¢ = 45 ¢ (ii) e=20, 3.2" Considere um mercado constituldo por uma empresa dominante ¢ 10 ‘outras empresas que constituem uma faixe concorrencial. A empresa domi- JSIF YSIS my ) 60 Apéndice RC, Figura 3.17: Luero em fungio da capacidade instalada, nante tem um custo marginal constante e igual a. A fungio custo marginal de cada empresa da faixa concorrencial & por seu turnadada por O"(@) = B+79, ‘onde todos os parmetros so positivos e a < 8. 4) Determine a solugéio de equilibrio segundo as hipéteses do modelo da empresa dominante. 'b) Considere as duas hipSteses seguintes sobre a evolugio futura deste mercado: ( Anualmente, uma nova empresa entra para a faixa concorrencial, endo a sua Fangio custos idéntica A das restantes empresas (Gi) Amualmente, o custo de cada empresa da faixa concorrencial de- eresce 10%, ~~. Qual des hipsteses the parece mais consistente com o facto estado do Aeclinio das empresas dominantes? Comente. Como alteraria a resposta se a>pe 3.3 Muitos livros so frequentemente vendicos a am prego igual ao eusto rmédio mais uma taxa normal de lucro, No entanto, a tecnologia de publicagio 4de umn livro 6 earacterizada por um custo fixo clevado e um custo marginal bastante baixo e constante. Como conciliar estes factos com 0 comportamento +acional dos editores? Que tipo de modelo se adapta melhor a estes mercados? Tustre graicamente. 13.4 Tres criticas frequentemente apontadas ao modelo de Cournot sio que, na realidade, as empresas (i) no utilizam como variével estratégica a quan- 3.7. Bxercfeios a tidade produzida, mas sitn 0 prego; (i) no tomam as suas decisées simulta neamente; (ii) desconhecem a fungio custos das empresas rivais ¢, mais do que isso, desconhecem nose de equilibrio de Nash (iato é, xs empresas no determinam o equlibrio de Nash para escolher a sua estratégia). presente argumentos que defendam o modelo de Cournot » 0 equilibrio de NNast-Couraot como forma de estudar 0 comportamento de certos oligopélis. Qual o tipo de situagdes em que estes arguments se aplicam! 93.5 Considere o mercado de um determinade produto homogéneo com pro- cura dada por P = 150 —4Q. Bxistem duas empresas, ambas com custo ‘marginal constante ¢ igual a 40. 1) Determine o8 valores da situagio de equilbrio de Cournot (prego, quan- tdades, lcros). ») Caleule a perda de eficiéncia como percentagem da perda de eficiéncia ‘em situcgdo de monopélio. : 19.3.6. Refaca o exercicio anterior assumindo que existem oito empresas em lugar de duas, 9.3.7 Considere um duopélio com procura dada por Q = 10~1/2P. A fungao custo total de cada empresa é dada por C = 10-+ 9(q+ 1). Determine (0s valores de equilibrio de Cournot. 3.8. Refaca o exereicio anterior assumindo que as funges custo sio dadas por C) = 10+ 291 € C= 10+ L.bqa- 113.9" Considere um duopélio de Cournot com procura dada por Q = 500— SOP. A primeira empresa tem um custo marginal constante e igual a 8 A ‘segunda empresa tem um custo marginal igual a 6 e capacidade limitads a 25 unidades. Calcule os valores de equilibrio. (Exereicio elaborado por T. Bresnahan) 3.10 A indisiria de calgado em determinado pais é constituida por oto empresas. Cinco destas oito empresas utilizam uma tecnologia antiga com produtividade de 0.25 unidades por hora de trabalho. As restantes empresas utilizam uma tecnologia moderna com produtividade de 0.45 unidades por hora de trabalho. A procura de mercado ¢ dada por Q = 500000 ~ 10P eo salério horétio é w = 500 (prego e salério em escudas). 8) Determine o equilibrio de Cournot neste mercado. +b) Qual o impacte nas quotas de mereado de uma subida de 50% no salétio hhorério? ©) Caleule o valor méximo que uma empresa estaria disposta a pagar pela e Apéndice Quadro 3.3: Empresas de vidro de embalagem Vol Neg. Firma 1987 [1986] vB] AL.| si. [wr] RL | Pp. B. & Almeida | 4329 | Soai | 2304 | 3601 | 2780 | 607 | Banded [78 Santos Barosa | 3563 | 3174 | 1739 | 2aa1 | 1200 | 630] 137246 | 57 Sotancro ‘2043 | 2606 | 1341 | 1996 | 595 | 600 | Sis7i [49 Ricardo Gallo |'2900 | 2526 | 1426 | 4404 | 919 | 473 | 42181 | 61 ‘CIVE ‘2re2 | 1899 | 1569 | 4077 | (aia7) | ava | ias75 [59 Notas Volume de negécos (VolINeg.), VAB, Activo liquide (ALL) e Situnggo qa (8.1) erm wie de conto; Realises (Fs) mares de ‘quidos contos. NT Mime de trabalbadorg. Pr Proditivdade nova tecnologia, assumindo que as restantes empresas continvariam a utilizar ‘4 mesma tecnologia. Repita o célculo, considerando uma subida salacial de 50%. Comente. 3.11" Verifique o formula de Cowling-Waterson nos equilfbrios dos exere!- ios anteriores. 3.12 Comente a seguinteafirmagio: “A relsgdo tipi entre progone cus- ‘tos sob condigdes de oligopélio no é muito diferente da que prevaleceria sob condigies de monopdtio". (J. Dussenberry, Business Cycles and Beonomie Grow, 1958, p. 113) 193.13" Considere os dados respeitantes a empresas de vidro de embalagem, em 1987, constantes no Quadro 3.3. Fazendo as hipéteses que achar conve nientes, determine o indice de Lerner desta indtstria. 3.14 Mostre que, num duopélio de Cournot, a quantidade e 0 lucro de equilforio da empresa é sto fangdes decrescontes do custo marginal (constante, por hipétese) da empresa i e crescentes do custo marginal da empresa j 3.15 A procura de automéveis em Franca € dada por Q = 2000000 — 17P (prego em Francos). O custo marginal de produgéo é 59000. Suponha que os produtores franceses se comportam como um cartel, 0 mesmo acontecendo com 08 alemies (0 tinico exportador para Franca, por hipétese). 9 custo marginal dos alemies (incluindo custos de transporte) 6 70000 FF, & taxa de cémbio 3.7. Bxerefcios 63 actual. ‘) Determine a solucio de equilforio de Cournot no mercado Francés. }) Qual o montante de desvalorizagio cambial do FF que leva os alemées ss exportar zero pare Franca. ©) Qual omontante de desvalorizagio cambial do DM que levaré os alemies 2 deter uma quota de 100% no mercado francés? (Exercicio elaborado por T. Bresnahan) 93.16" Nos modelos apresentados neste capitulo foi sempre posta a hipétese If e Tl, = 0 < 112. Logo, o uero da empresa menos eficiente é menor no cartel eficiente do que na situagio de equiltirio nao cooperative. (Gi) O cartel equitativo dptimo 6 agora dado pelo ponto Q % B, sendo os lucros das empresas dados por I? < If e fl? > IY. De facto, o ponto Q encontra-se a Este de LIf'¢ @ Sul de TIP. Logo, o luero da empresa mais fciente € menor no cartel equitativo do que na situagio de equilibria néo cooperativo. Coneluindo, num duopélio suficientemente aasimétrico, nem o cartel efi P. Suponhamos que os clubes apresentam as suas ofertas’ simultaneamente "Existem outren equllforos (quals?), mas este faz mais wentido gor divemas raxdes que ig serdo equ diecutidn. "Na pedtien,w regre 6 de facto invocad. oom alguma frequénca..Nentaxto, em muitos on casos (40% nos Estados Unides) 0 drelto alfandegrio nfo chegn bar alicado pore ‘ empresa exportadora *volunteriamente”sobe o prego pura alia eemelhante no das em ‘bres rivals. Cie. Thomas J. Prusa. “Why Are So Many Antidumping Caace Withdrawn’, ‘Journal of International Feonomice 38 (1902), 1-20 6 Capitulo 4. Poder de mercado 0 jogudor. Na auséncia de prémios de transferéncia, © equilbio de Nash corresponde a py = p2 =v (concorréncia @ ia Bertrand). Mas suponhamos ‘ue, devido a0 novo rerulamento, o F.C. Porto se vé obrigado ao pagamento de £ ao Sporting, Entao, o méximo quo o F.C-Porto estaré disposto a pagar co jogador & epenas v — t, Bastard ao Sporting pagar v — t+ € (e pequeno) para garantir 0 concurso do jogador. ‘Resultado: em equilfbrio, nao se verificam transferéncias ¢ o jogador recebe apens v — + ¢ em lugar de v. Os prémios de transferéncia constituem uum travio & concorréncia entre os elubes, pdo que o seu poder de mercado aumenta, 4.5 Estimagao do poder de mercado Da anzlise deste capitulo e do anterior, pide conchuirse que a solugio de ‘equiltorio em oligopélio pode, em principio, vata desde a slug mais concor- seucial (Bertrand) até & solugdo mais monopolistica (conluio perfeto), Como identiticar a solugdo de cada mercado em-conexeto? No que respeita 8 metodo- logia utilizada, é possivel distinguir duas aboréagens diferentes a esta questi: © estudo de casos ¢ a estimagéo economética. Abordagem qualitativa/estude de casos. 0 estudo de casos coniste ‘numa anélise essencialmente qualitativa do mercado e das empresas que 0 nstituem. Especial importancia ¢ dada a aspectos institucionais especiticos do cada sector, Entrevistas a executivos, especialistas, etc., constitwem a principal (oa uma das principais) fontes de informagio, Dentro desta primeira abordagem, o esquema de Porter merece especial Gestaque, quanto mais nao seja devido A sua populatidade." Ein certo ven- tid, 0 cléssico Competitive Strategy nio 6 mais do que a tradugéo qualitativa ‘dos modelos formais diseutides em Economia Industrial — o que tem grande ‘mézito, diga-se."® Por outro lado, em certos aspectos, o esquema de Porter val mals longe do que abordagem tipica em Economia Industral. Porter classifica os factores que inffuenciam © grau de concorrencialidade om cinco ‘grupos: a concorréncia entre as empresas no mercado (a questéo central dos Capitulos 3 4 do presente texto); a ameaga dos concorrentes potenciais; "fiche B Porter, Competitive Strut: Techniques for Analysing Industries and Com- Pitre, New York: Free Pest, 1980. "0 caquema de Porter deve mito A sndliveprneira de Joe Bln, Industrial Organization, Now York: Jolin Wikey, 1809 (2a Fa, 1968). 4.5, Bstimagio do poder de mercado n ameaga dos produtos e servigos eubstitutos; © poder de megociagio dos for- necedares; 0 poder de negociagio dos clientes. Alguns destes aspectos sero ‘abordados noutros eapitules do presente texto, mas certamerte nao com a ‘mesma profundidade que no esquema de Porter. @ Estudos econométricos inter-sectoriais. Um dos temas “cléssicas” da, andlise empirica em Beonomia Industrial 6 0 da rolagao entre concentragéo fe rentabilidade. Como vimos na Introdugao, 0 ponto centra. da escola do paradigma estrutura-comportamento-resultados é a hipétese de uma relagio de causalidade entre 0s elementos de estrutura, comportaments e resultados, Goneretamente, dado um certo padrio de comportamento, seria de esperar ‘uma relagéo positiva entre a concentragio (medida de estrutura) e a rentabi- lidade (medida de resultados). ‘Muitos autores, comegando por Joe Bain, procuraram estimar equagies relacionando indices de rentabilidade com indices de concentrazao, utillzando para este efeito amostras seccionais ¢ cronolégicas.!® O resultado destes estu- dos — virias décadas de trabalho intenso — 6 pouco animadot. Em pri ugar, encontraram-se problemas de medicio estatistica de dificil resolugio. Em particular, os dados contabilisticos nao reflectem correctamente a rentabl- lidade econémica das empresas, quer porque nio controlam 0 risco especifico de cada sector e de cada empresa, quer porque a depreciagio contabilistica dos ‘activos no corresponde & depreciagio econémica, quer porque muitas empre- ‘sas pertencem efectivamente @ vérios sectores, sendo dificil dvidir os lucros totais por cada negécio, quer ainda por outros motives. Em segundo lugar —e em boa parte como resultado do primeiro —, os resultados obtidos so, no seu conjunto, pouco conclusivos: por vezes a relagio entre concentragio rentabilidade é positiva, mas por veues 6 insignificativamence diferente de ‘ero, © algumas vezes ainda é nogativa. ‘Mesmo que se concorde em que se verifica uma relagio positiva entre con- centragio e rentabilidade, surgem problemas de identificagéo que dificultam interpretacio dos resultados. Bain e outros autores da sua escola defendem {que o poder de mercado 6 tanto maior quanto maior for a concentragéo; veja- 2, por exemplo, a anslise do principio da Seegio 4.3. No entano, Detnsetz — }em como outros autores normalmente associados com a escola de Chicago — apresentam de uma forma convincente uma explicagdo alternative: nos sec- ‘ores onde existam algumas empresas muito eficientes, as quotas de mercado ‘joo Bala, “Relation of Profit Rate to Industzy Concentration; American Manufacturing, 1936-1940", Quertery Journal of Bemornics 88 (1951), 209-224 78 Capttnlo 4. Poder de mercado cestardo mais concentradas, independentemente de a solugio de mereado nes- ses sectores apontar para um grau superior ou inferior de conto; 0 que se passa é simplesmente que as empresas mais eficientes detém quotas de mer- cado superiores, o que alids até 6 benéfico de um ponto de vista de bem-estar social — veja-se a andlise de um duopélio de Cournot assimétrico no capitulo anterior.” Aliés, a interpretagao de Demsets mostra que o indice de Lerner, medida do grau de poder de mercado, néo 6 em geral um bom indice do gra de conluio; frequentemente, os conceitas de conluio ¢ de poder de mercado so (crradamente) identificados. Em princfpio, uma forma de testar a hipétese do conluto (Bain ¢ ou tros) contra a hipétese da eficiéncia (Demsetz e outres) seria estimar uma, equagio para a rentabilidade de cada empresa (no do sector) em fungio da concentragéo do mercado bem como da quota de mereado da empresa. A hipétese do conluio levaria a que o primoiro coeficiente fasse positive, enquanto ‘ane a hipdtese da eficiéncia levaria a que o segundo coeficiente fosse positivo Infelizmente, os resultados desta estimagio sio também pouco conchusivos.!® ‘Uma explicagio para a dficuldade de identifcacio destes estudos economé- tricos é 0 problema da simultancidade. A relagio entre estrutura, comporta, mento ¢ resultados néo se verifica apenas num sentido, como foi originalmente proposto por Bain; comportamento ¢ resultados influenciam por sua vea a es trutura de mercado, quer através da entrada/saida de empresas, quer através da expansio/contraccio de empresas instaladas. Para ilustrar este problema, consideremos duas possbilidades extremas. ‘Suponhamos primeiro que a estrutura 6 realmente uma varidvel exdgena € ‘que quer a clasticidade da procura quer a solurio de mercado sio iguais em todos 0s sectores industrials (por solucio de mercado entendemos 0 modelo cexplicativo, Cournot, por exemplo). Entio, a equagéo a estimar ¢ algo se- ‘melhante A frmula de Cowling-Waterson, apresentada no eapitulo anterior. Ora, como entiio foi dito, verifica-se efectivameate uma relacio positive entre ‘concentraciio (medida pelo indice de Herfindahl) e rentabilidade (medida pelo {indice de Lerner). Consideremos agora outra possibilidade extrema. Suponhamos que a va- sidvel exdgena & agora o indice de Lerner, 0 que pode resultar, por exemplo, da fixasio administrativa de pregos por parte do governo. Suponhamos ainda rs Harold Demet, “Tivioiay Structure, Market Rivalry, and Public Policy”, Journal of Low and Beonomics 18 (1973), 1-9. "Para ina recensio detes atu, wd. Richard Sckmalensee, “Inter Industry Studies of Structure and Performance", Capttlo 16 de R. Schmalensee e R. Willig, Handivot of Industrial Organization, Arsterdi North-Holland, 108, 4.5, Estimacae do poder de mereado 2 «que ve verifin vee entrada, de forma que os lucros das empreses actives so préximos de zero. Finalmente, suponhamos que a tecnologia de cada empresa € dada por um custo fixo, F, ¢ um custo marginal igual a zero 0 indice de Lerner 6, portanto, dado por £ Verificando-se livre entrada, o nimero de empresas, n,sord tal que pD(p)/2 ~ F = 0. Sendo o oligopélio simétrico, 0 indice de Herfindak! é dado por H=1/n, Logo, temos ° ~ De isto é, uma relagéo negativa entre concentracio e rentabilidade iquando esta, 4 medida pelo indice de Lerner; se considerarmos lucros totais. relagéo & istente, pois os lucros sio sempre préximos de zero). ara que oe possa resolver o problema da simultaneidade, 6 nécesséio uti- lizar varidvels verdadeiramente exégenas, como sejaim as condigies bésicas da tecnologia e procura do sector. No entanto, estas varidveis nao séo normal- ‘mente em mimero e qualidade suficientes para tornar a andlise inter-sectorial dda relagio entre concentragio ¢ rentabilidade suficientemente conclusiva. pD(p)/n— F (43) i Extimacio econométrica, Nos éitimos anos, ¢ como resuitado de uma 0 6 um factor multiplies tivo qualquer.® Para que se verifiquem rendiraentos constantes A escala, é necessirio que @ = 1: duplicando (1 = 2) a quantidade do factor produtiva, a sada. No entanto, verfien-se em mm qe. valor de 0 6 superiot a 1. Estamos entfo perante uma situagia de ren dimentos crescentes & escala: duplicando (A = 2) a quantidade do factor produtivo, a produgio ver mais que duplicada, concretamente multiplicada por 2 > 2, Esta situagio é também designada por economias de escala. O. valor de 4, por sen turno, é designaclo por gran de economias de escal Frequuentemente, a sittagao de economias de cecala 6 investigada em relagio 4 fungio custo da empresa. Verificando-se coonomias de exeala, 0 ensto de duplicar a produgio & menos que duplicada, ito &, « elasticidade do ensto em relagio ao nivel da produgao 6 inferior a 1. De facto, escolhende A = x02 = 1 em (6.1), tomos g=a8f(l), (62) donde A hipitee de homageneidade sinpliica a andliseconslraveimente; note-se no entanto ave 8 fngio de pronugio mio tem de ser Homoxgnen para of efeitos consderados nesta esi, 5.2, Teenologin m Ing= ine +Inf(l) (63) tog = EZ (64) ing Seo custo do factor produtivo, 1, for constante, entio a elasticidade do custo total C= we em ordem ao nivel da produsio seré também dada por 1/6 _ Bln(we) 1 “r= Ong 8 Assim, concluimos que se verificam rendimentos crescontes & escala se @ sé se a clasticidade do custo em relagao ao nivel da produgio for inferor a 1. Logo, as duas nogdes do economias de escala sio idénticas. Para finalizar, recordemos que a elasticidade da fungéo exsto pode ser interptetada como a razéo entre o custo marginal ¢ 0 custo mécio: ace ac € Desta forma, encontramos as seguintcs proposigées equivalentes: (5.5) “cx (6) ‘© Vorificam-so rendimentos crescentes i escale; ‘© Verificam-se eustos decrescentes & escala; © grau de homogeneidade da fungio produgio 6 superior a 1; A clasticidade da fungio custo em relagio & produgio é inferior a 1; A fungi custo médio 6 decresconte; ‘© © custo marginal ¢ inferior ao custo médio. Por outro lado, as proposigdes acima ndo séo equivalentes as seguintes proposicdes (enibora se encontrem proximamente relacionadas): ‘A fungio ensto marginal 6 decrescente; * A fungéo custo & sub-aditiva, propriedade que se verifca cnsto de produair a quantidade q com tuma empresa apenas é erusto de produzir a mesma quantidade com duas ou mais empresas. Ho dbe sew meme thes ane dt, ae aad ze we ae vee ORE BL 2 Capitulo 5. Barreiras a entrada ‘Tal como referimes ne introdugio desta secgio, a ideia de que “quanto maior melhor” 6 earacterizada por outros coneeios que nido as economias de escala em sentido estrito. F este o caso da sub-aditividade, propriedade muito importante para a definigdo de um monopélio natural. Concretainente, a sub- auitvidade da fungio enstos 6 condiclo necesiria iderado monopélio natural.” [Na literati empiica, € muito comum caracterizar as economias de es ‘ala com base 10 conceito de escala minima eflciente. A escala minima eficiente (EME) é atingida quando 0 custo médio se aproxima do minimo do ‘custo médio. Como se pode ver, trata-se de um conceito pouco preciso de ‘um ponto de vista tedrico. A popularidade do conceito para efeitos de andlise ‘cwupitica deriva, entre outros factores, do facto de as curva de eusto médio terem frequentemente a forma de um U achalado, isto 6, decrescentes até un certo valor (a EME), aproximadamente constantes até um segundo valor, © crescentes partir dat. ‘As formas de determinar o valor da EME sio diversas, Uma possibilidate consiste em estimar econometricamente a fuagdo eustos. Alternativamente, «8 Fangio eustas pode ser derivada directamente a partir de estudas de enge. nharia e contabilidade.* G. Stigler sugeriu o denominado teste de sobre- vvivénela: num mereado relativamente concorencial,o prego seré fixado num ‘ivel préximo do minimo do custo médio. Ax empresas com custo médio st perior ao prego no conseguirdo sobreviver em tal mercado, A EME é entao ‘ura limite inferior da dimenséo das empresas que sobrevivem.? Outros dois conceitos muito importantes so as economias de gama e as economias de experiéncia. Diz-se que se verificam economias de gama") quando © custo de produzir as quantidades 4, o q de dois produtos deter- ‘minados 6 inferior ao custo de produziressas cuantidades separadamente, isto Claisae) < Clan, 0) + (0,42). 67) ‘Um exemplo trivial de economias de gama 6 dado pelos servigos de transporte: Cre. William J. Baumol, “On the Proper Test fr Natural Monopoly in & Multiprodict Industry”, American Beonomie Review 67 (1977), 43-57. “ta 6, cota em que se determinam os factoresprodutivos ecewshtioa para a produgio de uma crits quanta, sendo pasterionnenteadiclenados oe ents com cada wm des Factores protivas "ott. Geone Stigler, *Beonomies of Seale", Journal of Law and Beenomics 1 (1958), 54-11, Relmpreso em The Organiation of Industry, Chicago: Univesity of Chicago Pres, 183, 5.2, Tecnologia 9% © custo de transportar passageiros entre Lisboa ¢ 0 Porto (de autocarro, por exemple) ¢ inferior 20 custo de os transportar de Lisboa para 9 Porto (oum ‘autocarro) ins 0 custo de os transportar do Porto para Lisboa (aun outro te tocarro). Um exemple mais importante, em que a exisiéncia de economias de {gama 6 menos evidente, corresponde & oferta de servigos de Lelecomunicagoes locais e interurbanas. Esta questdo teve um papel central na discussio ena decisio sobre a manutengéo do monopélio da ATT no mercado americano das tolocomunicagées; alts, o conceit de economias de gama fo desenvolvido ‘em grande medida mnotivado por esta diseussio.! As economias de experiéneia, tltino conceito referido nesta seccio, correspondent situagio ein que o custo médio de produgio ¢ decreseente com ‘ experigncia da empresa. Os indices de experiéneia podem ser varios, como por exeinplo a idade da empresa. O mals comum é, sem dévida, a quantidade produzida ao longo do tempo. Por este motivo, muitos autores referem-se ss cconomias de experiéncia como economias de escala dindmicas.'! Sio :muitos os sectores em que o evidéncia empirica aponta pata fortes economias de experigncia. Dois sectores que merecem especial realce sho a eonstrugio aerondiutica & 0s semicondutores 5.2.2 Economias de escala e estrutura de mercado Suponhamos que a fungio custo total 6 dada por C= F +eq, onde F € 0 custo fxo, €0 custo marginal, e q a quantidade produsida. Este é porventura 1 forma funcional mais simples evidenciando economias de escali. De facto, © custo médio 6 dado por C = F/q: + ¢, valor decroscente com qi. A curva de procura 6 dada por Q = S(a~ P) (on P = a~Q/5), ondeQ = Dai éa 4quantidade total. $6 uma medida da dimenséo do mercado: quanto maior for o valor de $ maior € & procura; duplicando o velor de S, a procura de mercado, para cada prego, duplica também. Relativamente ao comportamnento das empresas, vamos supor que se veri- fica livre entrada no mercado e que as empresas activas (Isto é, as empresas {quo entram no mereado) se comportam como oligopolistas de Courtot. O tucro total de cada empresa é dado por N= (a-Q/S-oa-F. 68) “PGi John Panza e Robart Wiig, “Beonomis of Scope”, Arericen Beam Review 17 (avr, 258-272 ‘Mom. Michael Spence, “The Learuing Curveand Compatiion®, Ball Jura of zonomica 12 1981), 9-70. 4 Capitulo 5. Barreiras & entrada PPor seu turno, « condicio de primeira ordetn para a maximizagio do Iucro & dada por a-Q/S—c~q/S=0. (5.9) Nur equiltbri \étrieo (4; = 9), * (5.10) Sustains an (95 eae nie) = (2-9/8 -o98z8—P ~ (c-nstgi16-) 9855 —F = 9(38)'-r (say Enquanto 0 Inero de equilfbrio para uma etapresa activa for positivo, mais empresas entrario no mercado. O equilihrio de longo prazo sera atingido ‘quando 0 mitnero de empresas activas, fi, for tal que MA) >0 © MA+1)<0. (5.2) Igualando o lado diteito de (5.11) a zero e resolvendo em ordem a 1, con- claimos que II(n) = 0 implica «off (6:3) Logo, 0 valor de i serd dao por . (5d) conde {2 significa 0 maior inteiro menor que = (fngio caracteristicn). ‘Com base em (5.14), concluimos que f &crescente em $ e a, e decrescente em ce F: quanto maior for © mercado (e,$), ou quanto menores forem os caustos (oF), maior &0 mimero de empresas acivas que é possivel “acomodat” ‘em equilibrio. Nada disto é surprecndente. Deve notar-se, no entanto, que & rolagio entre fe $ ni é proporcional. De facto, para valores eleuados de BR qye Sle @ a tow Bye BLO MT Bayt BE ee aye le 5.2. Tecnologia 95 fi, a velagho entre $ e A & quadrétien: para duplicar © niimero de erapresas cm cqulfbro, 6 necesatio quadruplicar a dimensio do mercado. ou, visto de outa forma: se a dimensio do mereado duplicar, o mimero de empresas em equilfbrio apenas aumenta em cerca de 40% (v2 ~ 1, mais especificamente). orqué esta relagio nio 1? Se-o prego de meroaco forse cons- tante (em relagao ao niimero de empresas), entio a rlagio entre dimensio do ireado e nimero de empress seria hootética, No entanto, ao aumentar 0 niimoro de empresas, 9 mereado torna-se mais competitiva isto é, a, margem paedectesen, Sendo assim, 0 Iucro variével por unidade de diimensio do mercado decresce também, o que limita o mimero de empresas que o mercado pode sustentar. ‘Um segundo aspecto derivado deste modeto ¢.a ideia de que cs custos fixos (as economias de escala, em geral) funcionarn como uma barreira 4 entrada, Esta ideia nfo 6, no entanto,inteiramente Gbvin: se é verdade que o miimero de cpresas decresce com ura aumento de F (aumento a que esté associado um maior gran de economias de escala), nio € menos verdade que um aumento de © (a que esté associado um menor grau de economias de escala) implica também um decréscimo do mimero de empresas. O que é importante & que 6 ritimero de empresas diminui quando se aumenta o grau de economias de cscala,controlando 0 valor do custo lata, Para vorificar este facto, consideremos primeiro o casoem que F = 0, isto: 6, a8 cconomins de escale io praticamente inexistentes. -Sojam p, q 6m © prego, a quantidade e o miimero de empresas de equlfbrio neste caso. Dado F'~0,e verificando-se livre entrada, tems p % « (caso contréro, 0 lero de cada empresa seria positivo). Consideremos agora o extremo ofosto, ¢ = Oe F > 0, caso cm que o grande economias de eseala é méximo. Ceneretamento, suponliamos que o valor de F'6tal que o custo total &0 mesmo, dado o nimero de empress e quantidate de equlfbrio do caso inicial: ni P= acn. 6.18) Sera esta uma situagio sustentive, isto é, poderé o mesmo meteado com ‘nova tecnologia suportar n empresas? A resposta é negaiiva. Como se pode verfiear em (5.10), © peogo de equilorio nio depende do custefixo, apenas epende do custo varkvel (e de outeasvariéveis e parametrés nac relacionados com a Fangio custo). Ora, na nova situagio o custo marginal ¢ inferior. Logo, dado 0 mesmo nimero de empresns, 0 prego de equilfoio, p, seria inferior a i. Mas entto 0 lucro de cada empresa seria dato por 98 Cepitulo 5. Barreiras & entrads P(g/n) — F = 9(a/n) ~ ac/n =H - (ain) < (P—cila/n) 0, (5.16) onde a primeira igualdade ¢ implicada por (5.18). Isto é, 0 Iuero de cada ‘empresa seria negativo, o que contradiz a hipétese de que o mercado sustenta ‘m empresas. uigdo para este resultado é a seguinte: quanto maior 0 grat de eco- nomias de escala, menor o valor do custo marginal. Quanto menor 0 custo ‘marginal, menor 0 prego de equilforio. Quanto menor prego de equilibrio, menor a receita total do mercado (para a mesma quantidade), Finalmente, quanto menor a receita total, menor o mimero de empresas que o mercado pode suportar, para uma dada tecnologia, Para considerar um caso ainda mais extremo, suponhamos que @ varidvel estratégica eacolhida pelas empresas activas é 0 prego ¢ no a quantidade; e mantenhamos a hipétese de que a fungio custo tem a forma C = F + cq. Como vimos no Capitulo 3, 0 equilforio de mercado 6 tal que, existindo mais do que uma empresa activa, p= c. Logo, se mais do que uma empresa entrar no mereado, = (p ~ c)q— F = —F, valor negativo se F > 0. Logo, basta F > 0 para que em equilibrio apenas uma empresa entre no mercado! 5.2.3 Economias de escala e rentabilidade ‘Uma das ideias prineipais da andlise “estrutura-comportamento-esultados? & 1 da relagio postiva entre as bareiras entrada (nomeadamente economias e escala) © a rentabilidade das empresas. No entanto, se admitirmos que a entrada ¢ livre, torna-se diffi justfiar esta relagio, Para qualquer valor de F (ou para qualquer grau de economias dle escala), © luero de cada empresa, ‘em equitvrio com livre entrada, é aproximadamente igual a zero. f claro que, «quanto maior foro custo fixo de entrada, maior sero luero varigvel; mas, Inchirmos os eustos fixes de entrada no cdmputo da rentabilidade da empresa — c outa coisa nao faria sentido —, enti o luer total seré aproximadamnente rulo devido & livre entrada, A Figura 5.1 oferece uma primeira explicagio para este paradoxo", Nesta figura eucontram-se representades o luero de manopélio e @ lucro de duopalio. & Cournot) em fungio do eusto marginal, constante por hipétese. (Tal como vimos no Capitulo 3, o luo de equilibrio € dado por (a—«)?/(b(w-+1)?),) A questo @ que se pretende respénder com esta figura é a seguinte: qual olucro :néximo que uma empresa pode obter numa situagio de live entrada, e como 5.2. Tecnologia 7 FT My Figura 5.1: Eeonomias de eseala, livre entrada, ¢ lucros. varia este valor em fungio do grau de economias de escala? 'E fécil verificar ‘que as situagoes de Iucro maximo correspondem ao caso de monopétio. Ora, Para que exista um monopslio numa situaglo de livre entrada, é necessério ‘que o custo fixo seja pelo menos igual ao lucro varidvel de uim duopolista, Tp. Assim, se marcarmos 0 valor de F no eixo vertical da Figura 5.1, temas que todos 0s pontos ao longo da curva I correspondem a um Iyero liquide nulo em sitnagao de duopélio; ou seja, as combinagies de F e ¢ dadss pela curva Th, correspondem a situagées em que a estrutura de monopélio € consistente com a livre entrada. Ao longo desta curva, & medida que nos Aproximamos do eixo vertical (v.g., 0 ponto B rel ), © gran de economia de escala aumenta (note-se que tanto F aumenta como ¢ diminni). Por outro lado, o luero da empress monopolista (a diferenca Th ~ F,, que por construcéo 6 igual a Th ~ Mla) aumenta também (b > a). Assim, conclui-s: que quanto ‘maior for 0 grau de economias de escala, maior é 0 lucro niéimo possivel ‘numa situagio de livre entrada, Encontramos assim uma primeira justificagio para a ideia.de que as econo- ‘mins de escala constituem uma barreira & entrada, barreira eisa que permite sustentar lucros superiores mesmo numa situagio de livre entrada. Esta jus tificngio niio explica, no entanto, a vasta e si ‘feito das economias de escala sobre a rentabilidade das empresas; explicagiess 98 Capitulo 5, Barroiras & entrada aiternativas sio portanto requoridas, ‘Um segundo argumento aponta para o facto de as condigies do mercado {procura, nrimero de empresas concorrentes, ete.) serem froquentemente des conbecidas pelas emprosas entrantes. Sendo assim, a decisio de entrar 6 tio mais arriscada quanto maiores forem os custes cle entrada (e cuanto menos re- versivel for a decisio de entrar, cfr. Secgio 5.2.4). Por ontro Indo, um aspecto associado ao risco de entrada é 0 custo (ea probabilidacle) de financiamento, Quanto maiores forem as economias de escala, maiores so os custor de en- trada, ¢ maior é. dificuldade ele obter o financiamento nocessirio. Em ambos 05 casos, © “primio” do risco da decisio de entrar corresponde justamente a ior rentabilidacle esperada das empresas que efectivamente entrar, ;lmente, uma terccira explicagio é queas empresas jé instaladas empre- ‘gam estratégias especialmente destinadas a evitar a entrada de novas empress no mercado, Esta possibilidade seré considerada mais & frente neste eapftlo. Ai veremos que a estratégia de criar barrciras & entrada 6 mais fécil quando as cconomias de escala forem superiores. 5.2.4 Custos fixos e custos irreversiveis ‘Uma forma semelhante de barreira tecnoligice A entrada é dada pelos chama- dos “custos irreversiveis” ou “custos irrecuperiveis” (ou “custos afundados", traduzindo literalmente sunk costs). Um exemplo clisrico de custes irreverstveis so os carris uilizados no trans- porte ferrovitrio. Depois dle eolocacios no cho, o valor deste investimento em ‘qualquer aplicacio diferente do, transporte ferroviério para que foi destinado & cessoncialmente nuilo: 0 custo de extraccao dos carris é provavelmente superior 0 valor de sicata do metal. Por outro lado, o custo de instalagio dos earris| @ indlependente quer do nimero de anos que venham a eer utilizados quer do ‘volume de trafego durante esse perfodo. Em contraste, uum exemplo clissico de custo fixos mas no irreversivets 6 © cquipamento de transporte aéreo. © caso em que que as companhias obi ‘8 sous avides por leasing é especialmente elicidative, Por cada period de ‘operacio, a companhia tem de pagar um valor equivalente & amortizagio do aviiio durante esse periodo. O contrato de leasing pode ser terminado ao fim de qualquer ano. Logo, o custo do equipamento nao ¢ irreversivel; antes, 6 (apro- ximadamente) proporcional no period de duragio do “projecto”. ‘Trata-se, no entanto, de um custo fixo, pois, om cada perfedo, o custo de equipamento no depende do miimero de passageiros transportados (odo indice da produgio, ‘ja cle qual for). (Esta anilise ¢ obviamente algo simplista. A amortizagio 5.2. Tecnologia ) de um avo depende do volume de trifego, nomeadaménte horas de voo, pelo ‘que o custo de equipamento nao é exactamente um custo fixo) Qual a diforenca entre custos fixos e custos irreversiveis? Em ambos 0s «casos, trata-se de custos que no dependem do volume de produgio. Mas ‘no caso dos eusios ireversiveistrata-se do custos que tambeén no dependem dla duragso do perfodo de produséo (a vida Gti de uim pronto ou de uma empresa). Deve dizer-se, no entanto, que a diferenca entre custas fie © custo ire- versiveis € apenas uma diferenga de grau. Os eustes fos si independents do volume de produgio em cada periode. Mas enti, se adoptarmoe tm “period” suficiontemente longo, os eustosirreversveis passam também a ci tos fixos. Questo semelhante se pie, aliés, com a definigao de eurto prazo. E costume consicerar os custos de capital como custos fixos ne curto prazo; e «8 eustos com trabalho e outros factores de produgéo como castos varie, também no curto prazo, Mas, se considerarmos um perfodo suficientemente curto (um més, por exemple), ent&o os custos de trabatho devem também considerar-se como custos fixos. Uma vex pagos os saliries do més, o volume total de saldrios nao depende do volume de produgéo dese més (contando que ‘© volume de produgao nao seja muito elevado). Ein iiltima andlise, é tudo uma questo de bom senso. Normalmente, considera‘se como periodo o ano. Os custos que se podem variar 80 longo do ‘ano sio tomades como custos varidveis. Os custos que se podem variar de ano Para ano mas, dentro de cada ano, nao variam com a quantidade produzida, 0 tomas como cusies fixes. Finalmente, 0s custos qe so fixes por um periodo de vétios anos so tomados como custos ierevrsiveis, ‘Qual a importéncia da distinc entre custos fixos.¢ custos irreversives, lo ponto de vista da determinagio da estrutura de mercado? Consideremas 0 «nso de um mercado em que o huto de equilfrio com sna e duas empresas € dado por It e TIP, respectivamente, sondo por hipétese TI > 1? > 0, Suponhamos que o custo fixo de entrada, F, é tal que IM > F > 112, nia se vorifcando quaisquor eustos vacidves; isto 6, 0 mercado 6 euficientemente Juerativo para utna empresa mas néo para duas empresa (ci mais). Ora, dada ‘falta de coordenagio entre as decisies de entrada das empress — o mundo “real” encontrase muito longe da hipétese de informagio perkitaidenlizada Pela teorin —, € de esperar que, com alguma probabilidade, mats do que uma ‘empresa decida entrar no mercado em determinado periode. No entanto, wma situagio de lucros negativos seria neste caso necessariamente temporaria: mais. tarde ou mais cedo, uma das empresas sairia do mercado, deixando a outra

You might also like