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Cruzamento
Cruzamento
Universidade de Lisboa
Nº: 52197
Estes resultados são ainda reforçados por recentes descobertas de restos esqueléticos de
populações anatomicamente modernas em diferentes áreas. Descobertas em Herto na
Etiópia relataram há pouco mais de um ano confirmar a presença de formas primitivas de
seres humanos anatomicamente modernos em África por cerca de 160.000 anos BP, onde
como as primeiras descobertas de populações distintamente modernas na Europa e na
maior parte da Ásia pode ser datada não Antes de 40.000-45.000 anos BP.
Na Europa, o suporte mais dramático para esses padrões veio da recuperação de um número
de sequências relativamente bem preservadas de DNA mitocondrial de um número de
achados esqueléticos reais de Neanderthals e humanos anatômicos modernos. As análises
de sete espécimes de Neanderthal (incluindo os do próprio tipo de Neanderthal) produziram
segmentos de DNA mitocondrial que são radicalmente diferentes daqueles de todas as
populações atuais conhecidas na Europa ou em outras partes do mundo e que são
igualmente diferentes daqueles recuperados de cinco espécimes iniciais de populações
anatomicamente modernas de sítios europeus. A conclusão é clara de que havia muito
pouco - se houver - cruzamento entre os neandertais locais e as populações intrusivas
modernas na Europa, ou que, se tal mestiçagem tivesse lugar, todos os vestígios genéticos
desta mestiçagem foram subsequentemente eliminados do conjunto genético europeu. A
evidência de DNA mitocondrial recuperada dos espécimes de Neanderthal sugere ainda
que a separação evolutiva inicial dos neandertais das populações que eventualmente deram
origem a populações geneticamente modernas deve atingir pelo menos 300.000 anos (ver
9) - achado que está em bom acordo com a evidência fóssil sobrevivente da África e da
Europa.
Sapiens Neanderthalensis
O homem Neandertal viveu principalmente na Europa. Há
numerosos vestígios da sua presença na Inglaterra,
Espanha, França, Europa Central e até no Cáucaso. Mas é
na França que é situada a maior concertação de jazidas
deste povo. Os primeiros fósseis neandertais foram
descobertos há 150 anos no vale de Neander (Alemanha) e
rapidamente percebeu-se que se tratava de um grupo
“primo” do Homo sapiens (espécie à qual nós
pertencemos). Eles viveram na Europa e no Oriente Médio
entre 200 e 30 mil anos atrás, quando desaparecem do
registro fóssil. Na mesma época, os primeiros fósseis de Figura 1 Primeira reconstituição de um neandertal
macho, por Schaaffhausen, 1888
humanos modernos surgiram no registro da Europa. A sua
localização geográfica estendeu-se desde a Europa até África e Próximo Oriente.
Em relação aos Sapiens Sapiens, a sua chegada à Europa já terá ocorrido no Paleolítico
Superior, uma época de melhoria climática que tornaram o continente Europeu
perfeitamente habitável, em contraste com o que ocorreu com os seus habitats em África,
que, de Sul para Norte, foram tornando-se cada vez mais áridos. Através dos utensílios do
tipo Aurinhacense, típicos do Paleolítico Superior, é possível acompanhar a propagação
dos homens modernos até à Europa, tendo sido encontrados vestígios destes utensílios já
na Bulgária, em Bacho Kiro, datados de há 43 mil anos.
A teoria dominante aponta que a chegada dos Sapiens Sapiens à Europa há perto de 40 mil
anos levou a um crescimento de vários tipos de concorrência entre estes e os Neanderthais,
tanto na captação de recursos, mas também uma concorrência cognitiva, linguística e
demográfica, que resultou na extinção dos Neanderthais. Análises estatísticas realizadas na
região Sudoeste de França, onde se encontram os sítios mais bem conservados de
Neanderthais e de homens modernos na Europa, têm servido para provar que estes últimos
instalaram-se naquela região com uma população até 10 vezes maior que aquelas de
habitantes locais de Neanderthais ali estabelecidos, o que se refletiu num aumento de sítios
ocupados, com maiores densidades populacionais, áreas de ocupação mais alargadas e mais
integrados entre si – com trocas comerciais por exemplo. Este súbito aumento populacional
na região terá reduzido a capacidade dos Neanderthais em competir por recursos, o que
levou a um aumento de tensões e de confrontos entre os dois ramos evolutivos. A “guerra”
com um grupo mais coordenado, em maior número e com melhores tecnologias de caça e
equipamento, e mesmo capacidades cerebrais mais desenvolvidas, algo que se suspeita
devido ao surgimento das pinturas rupestres e de novas ferramentas em osso ou marfim
entre os Sapiens Sapiens, terá levado os Neanderthais para a extinção, depois de
inicialmente terem sido obrigados a instalarem-se em habitats menos ricos e vantajosos.
Havia dietas distintas entre os Neanderthais e o homem moderno, tanto ao nível das
proporções de recursos vegetais e animais, como também nos próprios meios de captura e
presas privilegiadas, minimizando já no final do seu trabalho o impacto de uma eventual
sobreposição de dietas entre Sapiens Sapiens e Sapiens Neanderthalensis. A dieta seguida
pelos Neanderthais era especialmente baseada na fauna encontrada nos habitats mais
fechados e ligeiramente mais quentes, sítios na altura que se encontravam especialmente
na Europa do Sul, ou seja, a sua dieta era a sua preferência climática e geográfica.
Em relação aos sítios do homem moderno, estes davam preferência às faunas de habitats
abertos, de relva, registando-se também alguns mamíferos típicos de vegetações fechadas.
A dieta dos homens modernos fica também associada a um equilíbrio entre carnívoros e
herbívoros, a que se juntavam alguns elementos de omnívoros.
Extinção
A quase extinção dos Neanderthais há sensivelmente 50 mil anos, antes da chegada dos
Sapiens Sapiens à Europa, numa ocorrência a que alguns terão sobrevivido recolonizando
a Europa Ocidental, mas sobrevivendo por apenas mais 10 mil anos. Investigadores
espanhóis e suecos, de Uppsala, Estocolmo e Madrid, analisaram os fósseis mais recentes
de Neanderthais do Norte de Espanha, chegando à conclusão que as variações genéticas
entre os Neanderthais Europeus foram extremamente limitadas nos últimos dez mil anos
da sua existência, ao invés do que ocorreu com outros fósseis mais antigos do Neanderthal,
tanto europeu como asiático. Tais conclusões sugerem que as populações mais recentes de
Neanderthais passaram por uma grave crise demográfica que levou a uma acentuada
redução no total de espécies que quase esvaziou por completo a Europa Ocidental de
humanos por um largo período. A crise demográfica, como os autores destes estudos lhe
chamam, parece coincidir com um período de frio extremo na Europa. Estas linhas de
investigação colocam assim em causa a coexistência entre os Sapiens Sapiens e os
Neanderthais na Europa, já que os autores consideram que as bolsas de sobreviventes de
Neanderthais após a crise demográfica poderão não ter resistido até à chegada do homem
moderno à Europa. A descoberta em 1999 de um esqueleto de um adolescente em Lapedo,
Portugal, com 24 mil anos com características de Neanderthal e de Sapiens Sapiens, facto
que deixa em aberto a hipótese destas bolsas de sobreviventes Neanderthais terem sido
simplesmente absorvidas pelos homens modernos, tal a sua dimensão reduzida. Estes
últimos passos de investigação à vida do Neanderthal na Europa levam-nos assim de
regresso à frase inicial deste trabalho, de que a eventual responsabilização do Homo
Sapiens Sapiens pela extinção do Homo Sapiens Neanderthalensis é ainda hoje palco de
uma enorme discussão, discussão essa que não pára de conhecer novas frentes, já que a
própria coexistência entre os dois ramos evolutivos ou a data de extinção dos Neanderthais
são tópicos cuja discussão pode estar em vias de ser reaberta.
Conclusão
Que os neandertais fossem substituídos por populações que haviam evoluído
biologicamente e, sem dúvida, comportamentalmente, nos ambientes muito diferentes da
África Austral fez com que a rápida cessão dos neandertais seja ainda mais notável e nos
obriga a perguntar o que outros desenvolvimentos culturais ou cognitivos podem ter feito
esta substituição possível. A acumulação de evidências arqueológicas de padrões altamente
simbólicos de cultura e tecnologia dentro das populações africanas que remontam a pelo
menos 70.000 anos BP (marcado pelo aparecimento de complexa tecnologia óssea, cabeças
de mísseis de múltiplos componentes, ornamentos perfurados de conchas marinhas,
Desenhos e uso abundante de ocre vermelho - recentemente registrado na Caverna de
Blombos e em outros locais no sul da África50-53) pode fornecer a pista crítica para novos
padrões de cognição e, provavelmente, complexa comunicação lingüística, diretamente
ligada à evolução biológica anatômica e geneticamente das Populações modernas. Talvez
tenha sido o surgimento de uma linguagem mais complexa e de outras formas de
comunicação simbólica que deram a vantagem adaptativa crucial para a modernidade
inteiramente moderna e levaram à sua subsequente dispersão na Ásia e Europa e ao fim
dos neandertais europeus. Os mecanismos precisos e o calendário desta dramática
dispersão da população da África do Sul para o resto do mundo continuam a ser
investigados.
Bibliografia
STEWART, J. R., Neanderthal-Modern Human Competition? A Comparision between the Mammals
Associated with the Middle and Upper Palaeolithic Industries in Europe during OIS3, International
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Sérgio de Almeida Rodrigues, A aurora do Homo Sapiens, Revista de Ensino de Ciências nº22, Julho
1989;
Zilhão, J. J Archaeol Res(2007) The Emergence of Ornaments and Art: An Archaeological Perspective
on the Origins of “Behavioral Modernity”