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extraordinérias manifestagdes de frescura ¢ Vigor juvenil por parte de um compositor de idade avangada Wolfgang Amadeus Mozart TvFANCIA B ADOLESCENCIA pe Mozat — Mozart (1756-1791) nasceu em Salisburgo, cidade que entio fazia parte do territério da Baviera (e que hoje fica na Austria), Salisburgo era sede de arcebispado, uma das numerosas unidades politicas quase independentes do Império Germanico; tinha longa tradig%0 musical, era um animado centro de provincia no dominio das artes. © pai de Mozart, Leopold, foi membro da capela do arcebispo e 1 s tarde seu segundo mestre de capela; era um compositor de algum talento ¢ renome e autor de um famoso tratado sobre a arte de tocar violino, Desde a mais t nra infaincia Wolfgang revelou um talento musical tao prodigioso que © pai abandonou todas as outras ambigdes ¢ dedicou-se a ensinar o rapaz e a exibir 0 seus dotes numa série de viagens que os levaram a Franga, a Inglaterra, & Holanda ea Itélia, bem como a Viena ¢ as principais cidades da Austria. Entre os 6 € 05 15 anos de idade, Mozart passou mais de metade do tempo em Viagem e em permanente exibigdo, Em 1762 era jé um virtuoso do teclado e em breve se tornou também um. bom organista e violinista, Em crianga, as exibigdes pibblicas inclufam nao apenas a execugdo de pegas estudadas, como também a leitura de concertos & primeira vista e a improvisagao de variagdes, fugas e fantasias. Entretan- to, também compunha; escreveu os primeiros minuetes aos 6 anos de idade, a pri- meira sinfonia pouco antes dos 9, a primeira orat6ria aos 11 anos e a primeira Gpera aos 12, As suas mais de 600 composigdes esto inventariadas © numeradas no eaté- logo tematico compilado em 1862 por L. von Kéchel e periodicamente actualizado em novas edigdes que vao incorporando os resultados da moderna investigagao; a numeragdo Kéchel, ou «K.», € universalmente utilizada para identificar as composi- goes de Mozart. Gragas aos excelentes ensinamentos do pai, e mais ainda as muitas viagens que fez durante os anos da sua formagio, o jovem Mozart familiarizou-se com todos 0s tipos de miisica que se escrevia ¢ se ouvia na Europa do seu tempo. Mozart absorvia tudo o que Ihe agradava com uma facilidade extraordindria. Imitava, mas, ao imitar, melhorava os seus modelos, ¢ as ideias que o influenciaram nao sé se repercutiram fds suas produgdes do momento, como continuaram a desenvolyer-se no seu espirito, vindo por vezes a dar fruto muitos anos mais tarde, A sua obra foi, assim, uma sintese de estilos nacionais, um espelho onde se reflectiu a musica de toda esta époc iluminada pelo seu génio excepcional. Mozart foi um compositor fluente, ou pelo menos ndo.deixou quaisquer indicios de que 0 proceso de composigiio fosse para ele uma luta. Recebera uma formacao completa e sistemitica desde os primeiros anos de vida e conseguia aprender instan- taneamente cada nova experiéncia musical. Compunha todos os dias a horas certas. Geralmente, comegava por desenvolver mentalmente as ideias, numa intensa ¢ alegre Soncentra¢ao, até aos mais {nfimos pormenores. Escrever as pegas era, pois, simples ‘mente, Passar ao papel de misica uma estrutura que tinha j4, por assim dizer, diante ‘dos olhos; por isso conseguia rir, brincar e conversar enquanto «compunha». Hé em ‘do isto qualquer coisa de milagroso, algo que é ao mesmo tempo infantil e divino, 528 em Mozart tocando eravo num chd em ca Michel-Barthélemy Ollivier, 1766 (Paris, Museu do Louvre) a do principe de Conti, em Paris. Oleo de e, embora a investigagdo recente tenha nalguns casos revelado haver mais trabalho € mais revisio do que se pensava no processo criador de Mozart, a aura de milagre permanece. Foi talvez essa aura que fez dele, e nao de Haydn, o herdi musical primeira geracdo romantica, As PriMeinas oBRAS — A primeira fase pode ser considerada como correspondendo aos anos de aprendizagem e viagens de Mozart. Durante todo esse tempo Mozart esteve sob a tutela do pai — completamente, no tocante as questdes praticas e, em grande medida também, no dominio musical. A relagdo entre pai e filho ¢ interessante. Leo- pold Mozart reconhecia e respeitava plenamente o génio do filho, orientando todos os esforgos no sentido de promover a carreira de Mozart e de the assegurar um cargo digno e seguro, objectivo que nunca veio a atingir; a sua atitude para com o filho era ade um mentor ¢ amigo dedicado, notavelmente isenta, no conjunto, de motivagdes egoistas. As viagens de infincia de Mozart foram muito ricas em experiéncias mu- sicais. Em Junho de 1763 a familia inteira — pai, mae, Wolfgang e a talentosa irma nais velha, Marianne («Nannerl») — partiu para uma viagem gue incluiu prolonga- das estadas em Paris e em Londres. Regressaram a Salisburgo em Novembro de 1766. Durante © tempo que passaram em Paris 0 jovem Mozart interessou-se pela miisica de Johann Schobert, que desenvolvera um estilo de escrita para cravo onde imitava © efeito de uma orquestra através de uma densa figuragdo harpejada, contrastando Som Passagens tranquilas de uma textura mais leve. Mozart arranjou um andamento 4a sua sonata Opus 17, n° 2, integrando-o num concerto para piano (K. 39) 529 Outra influéncia importante © duradoura foi a de Johann Christian Bach, que 0 rapaz conheceu pessoalmente em Londres. A obra de Bach abarcava os mais vy P pe ariados € da Opera, € 0 mesmo virig mais tarde a suceder com a obra de Mozart. Bach enriqueceu todos estes géneros com a variedade ritmica, melédica © harménica que caracterizava a Opera italian géneros dentro da masica de tecla, da misica sinfénica 1a da poca. Os seus constantes temas allegro, 0 bom gosto no uso das appoggiaturas e das tercinas, as ambiguidades harménicas geradoras de tensAo, os contrastes temAticos constantes, devem ter seduzido Mozart, porque todos estes aspectos vieram a tornar- se caracterfsticas permanentes da sua escrita‘. Em 1772 Mozart escreveu arranjos de tres sonatas de Bach — os concertos para piano K. 107, 1-3. $do bem significativos 0 paralelos entre a abordagem formal do concerto por Mozart ¢ por Bach, apontados mais adiante a propésito de NAWM 119 120. Uma visita a Viena, em 1768, levou o precoce Mozart, entio com 12 anos, a compor, entre outras coisas, uma épera bufa em italiano, La finta semplice (A Falsa Simpléria, estreada apenas no ano seguinte, em Salisburgo), e um cativante Singspiel alemao, Bastien und Bastienne. Os anos de 1770 a 1773 foram quase inteiramente preenchidos por viagens pela Itélia, donde Mozart voltou mais italianizado do que nunca e profundamente insatisfeito com a estreiteza das suas perspectivas de futuro em Salisburgo. Os principais acontecimentos destes anof foram a estreia de duas opere serie em Mildo, Mitridate (1770) e Ascanio in Alba (1772), € uma temporada de estudo do contraponto com o padre Martini em Bolonha. Os primeiros quartetos de cordas de Mozart datam também destes anos em Itélia. A influéncia dos sinfonistas italianos — Sammartini, por exemplo — sobre Mozart transparece nas sinfonias es- critas entre 1770 € 1773, especialmente as K. 81, 95, 112, 132, 162 e 182; mas uma nova forga, Joseph Haydn, marca j4 de forma evidente algumas outras sinfonias deste perfodo, em particular a K. 113 (composta em Julho de 1772) As primeiras obras-primas de Mozart Mocanr® Hayon — Uma estada em Viena no Verdo de 1773 proporcionou a Mozart um reatar do contacto com a miisica de Haydn, que a partir de entdo se tomou um factor cada vez mais importante na vida criadora de Mozart. Em duas sinfonias que Mozart compds no final de 1773 © no infcio de 1774, as suas primeiras obras-primas neste género, siio dignos de registo tanto os pontos de contacto com @ obra de Haydn como a sua independéncia em relagdo a este modelo. A sinfonia em Sol menor (K. 183) é um produto do movimento Sturm und Drang, que encon- tava lambém expressiio, nesses anos, nas sinfonias de Haydn. E uma pega notével, no $6 pelo seu cardcter intenso ¢ sério, como também pela unidade tematica e pelas Proporgées formais mais amplas, em comparagao com as anteriores sinfonias de Mozan.. Mozan foi muito menos ousado do que Haydn no dominio das concepgoes formais. Os seus temas, ao invés dos de Haydn, quase nunca dao a impressio de ‘erem sido inventados, tendo principalmente em vista as suas possibilidades de desen- Saupe, por exemplo, 0 intcio da sonata para teclan.° 1, Op. 2, de J. C. Bac, ilustrado see gam Newman, The Sonata in the Classic Era (Chapel Hill, 1963), ex. 116, p- 710, som 9 Inlehs be K. 315¢ de Moran, 530 yolvimento motivico; pelo contrdrio, um tema de Mozart é geralmente completo em ‘esmo, ¢ a capacidade inventiva deste compositor € to rica que ele, por vezes, sim dispensa pura e simplesmente a seegdo de desenvolvimento, escrevendo, em vez. dela, tum tema inteiramente novo (como acontece no primeiro andamento do quarteto de cordas K. 428). Ainda ao contrério de Haydn, Mozart inclui quase sempre um segundo tema (ou temas) contrastante, de cardter Iirico, nos andamentos allegro em forma sonata, embora muitas vezes conclua a exposi¢ao com uma reminiscéncia do primeiro tema; uma vez mais, ao invés de Haydn, raramente surpreende 9 ouvinte ices importantes na ordem ou no tratamento dos materiais na recapi- fazendo alter tulagao. SONATAS PARA PIANO E VIOLINO — Entre 1774 e 1781 Mozart viveu a maior parte do tempo em Salisburgo, onde a estreiteza da vida provinciana e a falta de oportunidades musicais o impacientavam cada vez mais. Numa tentativa infrut(fera para melhorar a sua situagdo profissional, partiu para uma nova viagem em Setembro de 1777, na companhia da mae, passando desta vez por Munique, Mannheim ¢ Paris. Todas as esperancas de obter um bom cargo na Alemanha foram frustradas, ¢ a perspectiva de uma carreira de sucesso em Paris também nao se concretizou. A estada em Paris foi, além disso, ensombrada pela morte da mae em Julho de 1778, tendo Mozart regres- sado a Salisburgo no infcio de 1779 mais descontente do que nunca. Nao obstante, ia fazendo progressos constantes enquanto compositor. Entre as obras importantes deste perfodo contam-se as sonatas para piano K. 279-284 (Salisburgo e Munique, 1774-1775), K. 309 e 311 (Mannheim, 1777-1778), K. 310 © 330-333 (Paris, 1778) ¢ varias séries de yariagdes para piano, incluindo as variagGes sobre a dria francesa Ah, vous dirais-je maman (K. 265, Paris, 1778). As variagoes destinavam-se certa- mente aos alunos de Mozart, mas as sonatas eram tocadas pelo proprio compositor como parte do seu reportério de concerto. Até esta data Mozart tinha por costume improvisar estas pegas sempre que necessério, de forma que s6 muito poucas das suas primeiras composigGes para piano solista chegaram até nés As sonatas K, 279-284 foram certamente concebidas para serem publicadas con- juntamente; cada uma foi escrita numa das tonalidades maiores do cfrculo de quintas. entre Ré e Mi, e as seis obras apresentam uma grande variedade de forma e conteido, ‘As duas sonatas de Mannheim tém allegros brilhantes € vistosos e andantes graciosos € ternos. As sonatas de Paris so das composigGes mais conhecidas de Mozart dentro deste género: a sonata trégica em Ld menor (K. 310), a sua contrapartida ligeira em D6 maior (K. 330), a sonata em Ld maior com as variagdes ¢ 0 rondo alla turca (K. 331) € duas das sonatas mais caracteristicamente mozartianas, as sonatas em Fa maior e em S# maior (K. 332 € 333) As sonatas para piano de Mozart estio estreitamente relacionadas com as sonatas Para piano ¢ violino; as primeiras que Mozart escreveu neste segundo género eram apenas, segundo a tradigao do século xvii, simples pegas para piano com um acom- Panhamento facultativo de violino. As primeiras obras de Mozart em que 0s dois instrumentos so tratados em pé de igualdade so as sonatas escritas em Mannheim € Paris em 1777 ¢ 1778 (K. 296, 301-306), entre as quais merecem especial destaque @ sonata em Mi menor (K. 304), pela intensidade emotiva excepcional do primeiro andamento, € a sonata em Ré maior (K. 306), pelo seu estilo bilhante, proximo do estilo dos concertos. A maior parte da mdsica de Mozart foi composta, quer por encomend: la, quer para uma ocasillo concreta; me: 10 nas obras que, aparentemente, nao se destinavam 4 execugio imediata, Mozart tinha em mente um tipo bem definido de intérprete ou de plblico potencial e levava em conta as respectivas preferéncias, Como todos os seus contemporiineos, era um «compositor comercial», na medida em que no se limitava 4 alimentar a esperanga de que a sua musica viesse um dia a ser interpretada: tomava como dado adquirido que seria executada, agradaria ao pUblico e Ihe daria dinheiro 4 ganhar. Hi, evidentemente, algumas composigdes que niio tém grande valor fora da ocasifio mundana ou comercial para que foram escritas — por exemplo, as muitas séries de dangas que produziu para os bailes de Viena nos quatro tiltimos anos de vida, Mas h4 também outras obras que, embora compostas apenas com 0 modesto objectivo de proporcionar misica ambiente ou um divertimento ligeiro para esta ov efémera, tém uma importancia musical que ti iquela ocasizio aanscende em muito o propésito original SenewaTas — Esto neste grupo as pegas, datando na sua maioria da década de 1770 e do inicio da década de 1780, que Mozart compés para festas ao ar livre, serenalas, casamentos, aniversérios ou concertos caseiros com 0s seus amigos ¢ protectores ¢ 4 . que, geralmente, deu o nome de «serenata» ou «divertimento». Algumas sio como peas de cimara para cordas, com dois ou mais instrumentos de sopro suplementares; outras, escritas para seis ou oito instrumentos de sopro agrupados aos pares, destina- HH yam-se @ ser executadas ao ar livre; outras ainda aproximam-se do estilo da sinfonia i parm pase meee Se age Pr para ccapanry Auidgrafo ‘a serenaia em SH para insrumentos de sopro K. 370a (361), de 1781-1784 ‘Washington. D. C,, Biblioteca da. Congresso) 532 ou do concerto, Todas 1ém em comum uma certa simplicidade despretensiosa do material ¢ do tratamento, um encanto formal adequado ao propésito para que eram ica de cémara so o divertimento em Fd sto em Salisburgo em Junho de 1776, os ¢ Ré(K. 334) € 0 septeto em Ré (K. 251). As pegas para s pelos breves divertimentos de Salisburgo (por escritas. Exemplos de peas andlogas a mi (K. 247) para cordas duas trompas comp divertimentos em Si(K. 28 ntos de sopro sio ilustrad exemplo, K. 252) ¢ por trés serenatas mais longas € mais sofisticadas escritas em Munique ¢ Viena em 1781 ¢ 1782: K. 361, em Sé, K, 375, em Mi, ¢ a enigmética serenata em Dé menor (K, 388) — enigmética porque tanto a tonalidade como 0 icler sério da misica (incluindo um minuete can6nico) parecem pouco apropriados 20 tipo de ocasifio para que este género de pegas era geralmente escrito. A mais conhecida das serenatas de Mozart Eine Kleine Nachtmusik (K. 525), uma obra em cinco andamentos originalmente escrita para quarteto de cordas, mas hoje ralmente executada por um pequeno conjunto de cordas; foi composta em 1787, mas nio sabemos para que casio (se ¢ que Mozart a escreveu para alguma ocasitio especial). Encontramos elementos concertisticos nas trés serenatas de Salisburgo em Ré (K. 203, 204, 320), cada uma das quais tem interpolados dois ou trés andamentos, onde se destaca 0 Violino solista, A Serenata Haffner, de 1776, é 0 exemplo mais nitido do estilo concentistico-sinf6nico, ¢ a Sinfonia Haffner (1782) foi originalmente escrita como uma serenata com uma marcha introdutéria ¢ final com um minuete suple- mentar entre 0 allegro ¢ 0 andante Concer Tos PARA VioLINo — Entre as composigbes notdveis da segunda fase de Mozart contam-se os concertos para violino K. 216, 218 ¢ 219, respectivamente em Sol, Ré € Lé, todos do ano de 1775, 0 concerto para piano em Mi, K. 271 (1777), com 0 roméntico andamento lento em Dé menor, ¢ a expressiva sinfonia concertante K. 364, em Mi, para violino ¢ viola solistas com orquestra, Estes trés concertos para violino so as ultimas obras de Mozart neste género, O concerto para piano K. 271, em con trapartida, 6 apenas 0 primeiro de uma longa série dentro das suas obras de maturi- je, uma série que atinge 0 ponto mais alto nos concertos do perfodo de Viena. Mosica sacks — Dado © cargo oficial do pai na capela do arcebispo © as proprias obrigagdes profissionais em Salisburgo — primeiro como primeiro violino € depois como organista—, era natural que Mozart escrevesse regularmente misica sacra desde tenra idade. Com raras excepgdes, no entanto, as missas, motetes © outras composigdes sobre textos sagrados niio se incluem entre as suas obras mais impor- tantes, As missas, tal como as de Haydn, so quase sempre na linguagem sinfénico- -operdtica entio em voga, entremeada, de acordo com a tradigao, de fugas mentos determinados, tudo isto para coro ¢ solistas em alterndncias livre acompanhamento orquestral. Exemplo desta formula ¢ a Missa da coroagdo em Dé (K. 317), composta em Salisburgo em 1779. A melhor das suas missas éa Missa em D6 menor (K. 427), que compos em cumprimento de uma promessa por altura do casamento, em 1782, embora 0 Credo ¢ o Agnus Dei nunca tenham sido terminados. E de sublinhar que Mozart nao a escreveu por encomenda, mas sim, aparentemente, Para responder a uma necessidade interior. Igualmente devota ¢ profunda, embora breve © num estilo homofénico simples, € outra composigdo sacra, © motete Ave verum (K. 618, 1791), 533 Ovrmas ounas pl SALISMURC A diitima composigho importante de Mozart antey dp va partida para Viena foi a Opera Idomeneo, estreada em Munique em Jancito de ymeneo & a melhor das opere serie de Mozart, A mis i, mau-grado umn, wistante Indbil, ¢ dramaticn ¢ de urna grande vivacidade descritiv ihren Os nume 1 recital vos acompanhados, © papel de destaque atribufde ao coro © n presenga de-cenas espectaculares atestam a influéneia de Gluck ¢ da tragédie lyrique francesa. O periodo vienense Quando, em 1781, Mozart decidiu, contra a opiniio do pai, deixar o servigo do arcebispo de Salisburgo ¢ instalar-se em Viena, estava optimista quanto hs perspectivas fimuras. Os primeiros anos que af passou foram, efectivamente, bastante présperos © seu Sinyspiel Die Enifuhrung aus dem Serail (O Rapto do Serratho, 1782) foi Jevado & cena intimeras vezes; Mozart tinha todos os alunos de amt distintas que dispusesse a aceitaryera o fdolo do pablico vienense, quer como pianista, quer como. ompositor, ¢ durante quatro ou cinco temporadas levou a vida agitada de um mésico independente de sucesso, Mas depols o paiblico volvel at ndonou-o, 08 alunos dess pareceram, as encomendas comegaram a rarear, as despesas farniliares aumen wide declinon ¢, pior do que tudo, nilo conseguiy obler um posto permanente com nento fino, excepto um in nificante cargo honordrio de compositor de musica de cimara do imperador, para que fol nomeado em 1787, com um saldrio inferior a Jo que auferia © seu predecessor, Gluck, As paginas mais patéticas da comes: pondéncia de Mozart slo as cartas suplicantes escritas ntre 1788 ¢ 1791 ao seu amigo © correligiondrio da magonaria, o comerciante Michael Puchberg, de Viena, Digse, m abono de Puchberg, que este sempre corespondeu aos apelos de Mozart A maior parte das obras que imortalizaram 0 nome de Mozart foram escritas durante os seus dez ditimos anos de vida, em Viena, quando, entre os 25 ¢ os 35 anos de idade, s¢ cumpriram as promessa: da sua inflincia e adolescéncia, A sintese perfelta entre a forma ¢-o conteddo, entre ox estilos galante ¢ erudito, entre o requinte canto, por ui lado, ¢ a profundidade da textura ¢ dos sentimentos, por outro, i, enfim, atingida ém todos os tipos de composigtio. As principals influéneias que 1 sofreu neste perfodo foram a de Haydn, cuja obra continuou a estudar ater famente, ¢ ade JS. Bach, caja musica s6 entho descobriu, Mozart ficou a dever esta Periéncia ao bario Gottfried van Swieten, que, nos anos que passira como lor da Austria em Berlim (1771-1778) se tornara um entusiasia da madsicn ps compositores da Alemanha do Norte, V » Swieten era bibliotecdrio da corte amador lento de mdyica e literatura; foi ele que mais tarde escreveu 06 libretis das duas dltimas o ras de Mozart. Bm casa de van Swieten, em sessdes hanais de leitura ao longo do ano de 1782, Mozart conbeceu a Arte da Muga, ave Hem Temperada, 0 iro sonatas ¢ outras obrax de Bach, Escreveu arranjos {gas de Bach para trio ou quarteto de vordas (K, 404a, 405); outro res 1a fuga em Dd menor para doix pianos de Bach foi profunda © duradoura; manifesta-s¢ no xlura contrypontistica’nas ditimas obr woman piano, K. 576) 6 1 426), A influenc 0 eres de Movant (por exemplo, na iliimna idamvente séria de A Flauta Magica aunosfera profy composigdes sol/sticus para plano do perfodo de Viena, as maix importantes asia 6 sonata em Dé menor (K. 475.¢ 457). A fantasia, pel «suas melodias fio a fa e modulagdes, anuncia 4a miivicn de Sch 1, enquanto « sonata é& Obras para teclado deste perfodo silo dois pianos (K. 448, 1781) ¢ perfeita de onatas de Mozart a quatro miios, a sonati’em Fd maior (K, 497, 1786), No dominio da misica de efimara para varios tipos de conjuntos hi umn ndmero impres jonante de obra prim guliites: a sonata n Ld maior (K, 526), 08 trios com piano em Si (K. 502) ¢ em Mi maior ‘om plano em Sof menor (K. 478) ¢ em Mi maior (K. 493), 0 53) © 0 quintet com clarinete (K, 581) ilidamente 0 modelo da sonate pathétique de Be também a sonata em Ré maior pai todas do que nilo podemos deixar de cit para yiolino (K. 542), 08 quarte trio de cordas (K. Osquannsros Havow —- Em 1785 Mozart publicou sets quartetos de cordas dedieadoy 141 gratidilo por tudo © que aprendera com o foram, como Mozart diz na carta dedicatéria, 4 Joseph Haydn como testemunho ¢ compositor mais velho. Estes quarteto fruto de um longo ¢ laborioso esforgo», ©, na realidade, 6 nimero invulgarmente grande de correcga 10 confirma esta afirmagin, Mozart 4 anteriormente tinha sido marcado pelos quartetos Opp. 17 € 20 de Haydn, que procurara imitar nos seis quartetos (K. 168-173) compostos em Vien 1773, Alguny anos mais tarde, os quartetos Opus 33 de Haydn (1781) deram plena » ¢ revises do manus 4 técnica do desenvolvimento temAtico ¢ ide dos quatro instrumentos. O; Quartetos Haydn, de 458, 464, 465), reveli idade amadurecida de ealizagOes de Haydn sem se transformar em mero imnitador consisténcia minado ao longo de toda a pega, com abgoluta igual Mozart (K, 387, 421, 42 1 sun cap éncia d Os trochos que mais se aproximam da atmosfera © dos temas haydnianos silo o primeiro ¢ o dltimo andamentos do quarteto em S# (K, 458), ¢ harmonias a que podemos dar o nome de romdnticas {exemply 14.2, a)}. O quarteto juanto 0 adagio tem Exemplo 14.2 Wolfaany Amadeus Mozart, temas de quartetos 4) Quarieto K. 458, adagio ») Quartetn K, 465, Introdugiio eee (6 Pi | ei logtepets cetrter trereriern aaa menor (K. 421) traduz um estado de espirito sombrio e fatalista em AS nold. vyeis falsas rela maior (K. 465) valeram a esta obra o nome de Quarteto das Dissonéincias {exemplo 14.2, bd) Ao contrdrio de Haydn e Beethoven, niio foi nos quartetos, mas nos « jes da introdugdo lenta ao primeiro andamento do quarteto em Dé e105, que Mozart revelou mais plenamente 0 seu génio de compositor de mdsica de cimara, Os guintetos em Dé maior (K. 515) ¢ em Sol menor (K. 516), ambos ¢ Mpostos na Primayera de 1787, so compardveis as dltimas duas sinfonias nestas mesmas tona- lidades. Outra obra-prima é 0 quinteto com clarinete em Ld (K. 581), composto aproximadamente na mesmna altura que a Gpera bufa Cost fan tutte e de atmosfera andloga & desta obra Entre as sinfonias vienenses de Mozart contam-se a Sinfonia Haffner (K. 385), a Sinfonia de Praga, em Ré maior (K. 504), a encantadora Sinfonia de Linz, em Dé or (K. 425), ¢€ as suas tiltimas e maiores obras deste género, as sinfonias em Mi ma (K. 543), Sol menor (K, 550) © Dé maior (a Jupiter, K. 551), Estas trés sinfonia s foram escritas num espago de seis semanas no Verdo de 1788. 05 CONCERTOS PARA PIANO E ORQUESTRA — Entre as produgdes dos anos vienenses de Mozart ha que reservar um lugar de destaque aos dezassete concertos para piano, Foram todos escritos com 0 objectivo de aumentar o reportorio de obras novas para concertos, ¢ a ascensio e declinio da popularidade de Mozart em Viena podem ser aproximativamente medidos a partir do ntimero de concertos novos que ele conside- rau necessirio forne em cada ano: trés em 1782-1783, quatro em cada uma das duas temporadas seguintes, de novo trés ¢m 1785-1786 e apenas um em cada uma das dluas temporadas seguintes; depois disso, mais nenhum até ao Ultimo ano da sua vida, quando tocou um concerto novo (K. 595) num especticulo organizado por outro miisico. Os trés primeiros concertos de Viena (K. 414, 413, 415) eram, conforme Mozart escreveu numa carta ao pai, «um meio-termo feliz entre o demasiado facil ¢ © demasiado dificil... muito brilhantes, agradé is ao ouyido, e naturais, sem serem insipidos. Aqui ¢ ali h4 passagens que s6 os conhecedores poderio saborear devida- menle; mas estas passagens esto escritas de tal forma que os menos doutos no poderio deixar de as apreciar, embora sem saberem porqué’.» O concerto seguinte (K. 449, em Mi), originalmente escrito para um aluno, veio mais tarde a ser tocado por Mozart com sinvulgar éxito», como ele proprio sublinhou. Seguem-se depois trés concertos magnificos, todos conclufdos, ao ritmo de um por més, na Primavera de 1784: K. 450, em S#, K. 451, em Ré (ambos, nas palavras do proprio Mozart, concertos para faz Suar 0 executante»), ¢ © mais intimista e cativante, K. 453, em Sol. Trés dos quatro concertos de 1784-1785 sio também obras de primeira grandeza ete K, 459, em Fd, K. 466, em Ré menor (0 mais dramético e 0 mais frequentei ‘xecutado dos concertos de Mozart), ¢ K. 467, em Dé, sinfénico e de amplas propor Hes. No Inverno de 1785-1786, enquanto trabalhava n’Ay Bodas de Figaro, Mozart eseTeveu mais trés concertos, sendo os dois primeiros (K. 482, em Mé, ¢ K. 488, em 14) comparativamente mais ligeiros na atmosfera, 10 oterceiro (K. 491,em Dé or de enqu dgicas, O gri tenor) € uma das suas grandes criagdes t nde concerto em Dé mi Corts datacta de 23 de Drozcrnibre de 1782. trad. ing. in Emily Anderson (dir.), The Letters of Ménaet and His Fe ee 5 Londie Mucrnitlan, Nova-torque, W. W, Norwon, 1986. Devembro de 1786 (K. 503) pode ser considerado como a contra concerto K artida triunfal do 491. Um dos dois restantes concertos ¢ 0 famoso Concerto da coroagdo, em Ré (K. 537), assim chamado porque Mozart 0 tocou num concerto em Frankfurt em 1790, durante as festividades da coroagao do imperador Leopoldo II. O ditimo to de Mozart, K, 595, em S?, ficou conclufdo em Janeiro de 1791 concer h (O concerto, em particular o concerto para piano, adquiriu na obra de Mozart uma relevancia que ndo teve na de nenhum outro compositor da segunda metade do século xv. No dominio da sinfonia e do qu concertos deste alti jueza inventiva, tamanho folego ¢ vigor de concepgio, igual subtileza ¢ engenhio no iteto Haydn esté A altura de Mozart, mas os (0 so incomparaveis, Nem mesmo as sinfonias revelam i éntica desenvolvimento das ideias musicais Naw 120 — WoLrcana AMADEUS MozARr, CONCERTO PARA PIANO EM Ld Matok, K. 488: allegra A primeira secgio orquestral de 66 compassos contém ao mesmo tempo os elementos de uma exposigiio da forma sonata ¢ do ritornelfo de um concerto barroco; te as para dos instnimentos de sopro — da exposigdo sinfénica, mas, tal como 0 ritornello variedade temética a cor orquestral — em particular nas belas passagens ape barroco, é numa tinica tonalidade e inclui um tutti de transigfo (comp, 18 a 30), que Jidades a0 longo do andamento, como 9 tutti do concerto. reaparece em diversas barroco, A manutengio do dispositivo do ritornello afecta nda a forma sonata noutro aspecto fundamental: em vex de uma Gnica exposigio, hé duas, uma orquestral € outra 1 cargo do solista, com acompanhamento da orquestra. {Encontrémos um dispositive a cravo ou claviedrdio de J, C. Bach (NAWM 119), p. 561} A primeira secglo orquesiral apresenta, tal como o allegro sinfénico, trés grupos | semelhante no concerto pa temiti 8, O primeiro € construido sobre uma melodia graciosa e simétrica de oito | ‘compassos. O juiti de transigiio acima referido serve depois de ponte para um segundo. tema fluente © um tanto lamentoso (comp. 30), Um animado rutti final (comp, 46) amento como segundo elemento do ritornello, regressurd também duas vezes no Esta exposisio orquestral € inteiramente na t6nica, Em seguida o pianista inicia a sua exposigdo do primeiro tema, delicadamente ornamentada e diser nente acompanha da pela orquestra. © tutti de transigfia do comp. 18 abre ent completada por figuragio modulante no piano, ¢ chega d tonalidade do segundo tema, ‘Mi maior (comp. 98), que © onquestral final é entio adaptado ao piano (comp. 114), € com uma repetigao a ponte modulante, aqui retomada pelo solista. O material da se xposigilo tern do tutti de transigo, agora na dominante habito nos andamentos deste tipo, a secgio que se segue & exposigdo & um didlogo, baseado em material novo, grupo de o escolhida para diversas incursbes em tonalidades | m ver de ser um desenvolvimento destas ideias, como entre © piano © os instrumentos dé sopro, funcionando as cordas como ripieno. Esta seeglo & a ocasi estranhas —Mi menor, Dé maior, Fd maior —, culminando com uma pedaleira de | Yinte compassos na dominante. Na recapitulagio o rufti de (ransiglo volta de novo a aparecer como ponto de jo dramatica pa mente interrompido pelo novo tema do «desenvolvimento» — quando a Orquestra ida da ponte modulante. E faz-se ouvir ainda mais uma yee — se atinge © momento mais tenso do concerto, um acorde de quarta € sexta, no qual se detém. Neste ponto, o solista deve improvisar uma longa cadenza, Canhecemos hoje, | cadenza autdgrafn de Moz; » némero de outras; a maioria dos | exccutantes actuais tocam esta ou aquela candenzas eseritas por varios compositores | um bo 537 ¢ intérpretes 10 longo dos anos, O andamento termina como mesmo tutti que rematou | 2 exposigdo orquestral. Podemos esquematiz4-lo da seguinte forma: Cpe tit 40 46 6 2 wi | P ‘Tramsigto fant’ SK (we aad) PP Tralgb sunt™ §—K | Ruomello A Riomello B Ritoaello A Tonalidade Téoica Téaica Pomianne | | ke yay wy ae 213 210 244 28h 207299 Nov mranaigbo 8° Ks Pinal” Cadenza Pld | Trunsigito tutti material Tutth Tutti Tutti | Ruomelio A Ritornello A Ruornello B Ritorneto Bb | Modulagto Tonica O concerto classico, nos moldes em que o ilustram os concertos de Mozart para piano ¢ orquestra, mantém alguns aspectos do concerto barroco. Tem a mesma se quéncia de trés andamentos rdpido-lento-rdpido. O primeiro andamento numa modificada de concerto-ritornello; na verdade, a forma do primeiro allegro ja foi definida como constando de «trés frases principais executadas pelo solista, que so enquadradas entre quatro frases subsididrias executadas pela orquestra como ritornellos’»» O segundo andamento é uma espécie de dria; 0 finale tem geralmente uma feigio popular ou de danga. Um exame atento de um dos primeiros andamentos de Mozart, 0 allegro do concerto K. 488 em 14 maior (NAWM 120), revelard até que ponto 0 ritornello do concerto barroco se entretece com a forma sonata. A estrutura deste allegro nio corresponde exactamente, é claro, & dos outros priméiros andamentos de Mozart. As exposigdes orquestrais € as recapitulagdes $30 particularmente variadas, omitindo um ou mais elementos do material temético ov final do solista; nalguns casos é o tutti da transigdo que perde importincia, noutros © 1utti final, mas, nas suas grandes linhas, o esquema indicado é geralmente yalido. segundo andamento de um concerto de Mozart 6 como uma 4ria lirica, com um andamento andante, larghetto ou allegretio; pode ser na subdominante da tonalidade Principal, ou (mais raramente) na dominante ou na relativa menor; a forma, embora extremamente Variada nos aspectos de pormenor, é na maioria dos casos uma variante da estrutura de sonata sem desenvolvimento, ou, menos frequentemente, uma forma iripartida (ABA), como sucede na Romanza do concerto K. 466. O finale tipico € um. Fond6 ou um rondé-sonata sobre temas de cardcter popular, que silo tratados num lurninoso estilo virtuos{stico, com oportunidade para uma ou mais cadenzas. Embora sles concertos fossem pecas espectaculares, destinadas a deslumbrar 0 publico, Mozart nunca permitiu que este elemento exibicionista adquirisse uma importincia ‘exazerada; salvaguardou sempre um equilibrio sauddvel entre os trechos orquestrais © solisticos, ¢ o seu ouvido era infal{vel quando se tratava de explorar as indmeras sombinagdes de colorido e textura possiveis a partir da interacgdo entre 0 piano € 0% instrumentos da orquesira, Além disso, a finalidade pdblica imediata dos concertos “H.C. Koch, Introductory Essay on Composition, New Maven, 1983, p: 210. 538 no impediu Mozart de utilizar este género musical para algumas as suas expresses mais profunda As ovexas pe Mozaxt — Depois de Idomeneo, Mozart no escreveu mais nenhuma » La clemenza di Tito (A Cleméncia de Tito), que the foi encomen: dada para a coroagio de Leopoldo II como rei da Boémia, em Praga, ¢ que Mozart com Os & pressa no Verio de 1791. As principais obras draméticas do perfodo de Viena foram o Singspiel Die Enifhrung aus dem Serail (O Rapto do Serralho, 1782), trés 6pe ras italianas, Le nozze di Figaro (As Bodas de Figaro, 1786), Don Gloavanni (Praga, 1787) e Cosi fan tutte (Assim Fazem Todas, 1790) —~ as tés sobre ibretos de Lorenzo da Ponte (1749-1838) — e a pera aleml Die Zauberfldte (A Flauta Magica, 1791) e as conveng6es da Opera cémica italiana setecentisia, que O Figaro se rica turava os defeitos de aristocratas € plebeus, senhoras vaidosas, velhos avarentos, criados ineptos ou astutos, maridos ¢ mulheres adilteros, notdrios ¢ advogados pe dantes, médicos incompetentes ¢ chefes militares arrogantes, recorrendo muitas vezes s personagens tradicionais da commedia dell'arte, a comédia popular improvisada que existia em Itdlia desde 0 século xvi. A estas personagens cOmicas acrescentava: se um certo niimero de personagens sérias, em tomo das quais gitava a intrig principal ¢ que contracenavam com as figuras eémicas, em particular nas intrigas amorosas, O didlogo era musicado num recitativo rapido acompanhado apenas pelo teclado, As rias, extremamente variadas, eram frequentemente caracterizadas através vam na cena final de cada acto vezes cémico, Mozart, alguns dos quais eram adaptagdes de libretos aram a opera buffa a um nivel literdrio mais alto do de ritmos de danga, Todas as personagens que ent participavam num conjunto vocal animado © mui Os libretos de Da Ponte f € pegas de outros autores, ele que © habitual, dando maior consisténcia as personagens, sublinhando as tenses socials entre as rias classes ¢ jogando com questOes de ordem moral, A finura psicoldgica de Mozart © seu génio para a caracterizagio musical elevaram igual mente 0 género a um novo grau de seriedade. E notavel como o retrato das persona: gens € tracado nao apenas nas drias solisticas, mas, muito especialmente, nos duetos, trios € conjuntos mais yastos, e os finais de conjunto combinam o realismo com 0 avango da acgio dramética e uma soberba unidade da forma musical, A orquestrago, €m particular através do recurso aos instrumentos de sopro, adquiriu um papel impor: ante no delinear das personagens ¢ das situagdes. Figaro s6 teve em Viena um éxito modesto, mas o acolhimento entusidstico de que foi alvo em Praga esteve na origem da encomenda de Don Giovanni, que foi estreado nessa cis ade no ano seguinte, Don Giovanni é um dramma giocoso de um tipo muito especial. A lenda medieval em que se baseia a intriga fora muitas vezes abordada na literatura e na miisica desde o infcio do século xvu, mas com Mozart, pela primeira vez na hist6ria da 6pera, Don Juan € levado a sério — niio como uma mistura incongruente de figura burlesca e de horrfvel blasfemo, mas como um herdi romintico, revoltando-se contra a autoridade ¢ desprezando a moral vulgar, exemplo acabado do individualismo, corajoso e impenitente até ao fim, Foi a musica de Mozart, € nao tanto © libreto de Da Ponte, que conferiu & personagem esta nova estatura e definiu 0 seu Perfil para todas as geragdes seguintes. O tom demonfaco dos primeiros compassos da abertura, sublinhado pelo som dos trombones na cena do cemitério e no momento em. ue surge « estétua, no finale, apelava de forma muito especial & imaginagdo romantica 539 Praga de S, Migue em Viena: em primeiro plano, o Burgtheater, onde Mozart apresentou a maior parte dos seus concertos para piano em meados da década de 1780 ¢ onde foram esireadas as jperas Le nozze di Figaro (1786) ¢ Cosi fan tutte (1790) do século xix. E também algumas das restantes person embora nfo deixem de ser subtilmente ridicularizadas ns devem ser levadas a sério, por exemplo, a trégica Donna Elvira, sempre a queixar-se de ter sido abandonada por Don Giovanni. Eo lacaio de Don Giovanni, Leporello, € mais do que um mero criado-buffio de commedia dell'art, pois revela uma profunda sensibilidade e intuicAo. | Nawst 124—Moranr, Don Giovanni, K. $27: | acto, CENA 5 | A grande amplitude da melodia de Elvira, com os grandes sall ma sua g que tradu: indignagio, sublinhada pelas escalas ¢ rremolos agitados nas cordas, contras Mente com 0 tom distante, despreocupado © esca iho de Don Giovanni € com a conversa finda de Leporelio, que assim desempenha,sub-repticiamente 0 papel do urandei das almas destrufdas das mulheres abandonadas A famosa dria do catdlogo», que Leporello canta a seguir (1240) ¢ na qual ‘chumera as conquistas de Don Giovanni nos diferentes pafses e as variedudes de came feminina que o atra | | As trés personagens so magnificamente esbogadis no trio desta cena (124a) m, revela outra faceta séria da arte cémica de Mozart. O ouvinte impressionado com os pormenores de caracterizagdo, animag3o do texto, inflexdes hharm@nicas € orquestragdo, yé-se compelido a levar a sério esta dria, a mais divertida de Woda a Opera. A dria divide-se em duas partes distintas, um allegro em comp: | quatemdrio © um andante com moto no compasso ¢ ritmo de um mi | Hcatalogo ¢ questo, € wma lista de nimeros, € u orquestra, com 08 seus staccalos se numa verdadeira miquina de fazer contas. Segue-se 0 minuete, onde $40 | deserts as caructersticasfisicas pessoas d A primeir jas vitimas. Para o verso «Na loura gaba a-distingon, ouvimos a melodia de um minuete de corte; para «na mor ‘aaj epte i¥ fe pausa, alguns compassos de uma impressiva sinfonia, com. | reminisce Jo 1 acto, onde Leporello se vangloriava da sua lealdade; «ni | te 1 com 0 motivo de semicoleheias da «conversa findas de | | gra abaixado € Leporello pronuncia solenemente as palavras em recitativo, Este Cosi fan tutte & uma opera buffa na melhor tradigio italiana, com um libreto inte abrilhantado por alguma da musica mais melodiosa de Mozart, A moda de excele submeter as obras de Mozart as mais yariadas leituras, vendo nelas quer uma auto: biografia, quer um clima de ironia romintica, examinando-as & luz da psicologia neofreudiana ou descortinando nelas sentimentos cripto-revolucionérios, no poupou sequer esta 6pera luminosa, relavitamente qual tais despropdsitos parecem absolu: tamente iniiteis. enredo de Die Entfihrung & uma histéria cémico-romiintica de aventuras ¢ m voga no século xvii; o mesmo te salvamento num desses cendrios orientais tio j4 fora abordado, antes de Mozart, por Rameau, Gluck, Haydn € muitos compositores. inenores, Com esta obra, Mozart clevou de uma vez s6 0 Singspiel alemio & categoria de grande arte, sem alterar qualquer das suas caracteristicas estabelecidas Die Zauberfléte (A Flauta Magica) é um caso a parte. Embora seja formalmente um Singspiel — com didlogo falado, em vez de recitativo, ¢ com algumas persona- gens e cenas proprias da comédia popular —, a acgdo est4 carregada de sentido simb6lico ¢ a misica ¢ to rica c profunda que Die Zauberflote deve ser considerada como a primeira e uma das maiores 6peras modernas alemis, © tom solene de uma grande propor¢o da sua musica deve-se provavelmente em parte ao facto de Mozart ter estabelecido uma relaciio entre a acgdo desta Gpera € os ensinamentos ceriménias da magonaria; a sua filiagdo magénica era para ele muito importante, Como o eviden- ciam as alusdes da sua correspondéncia © mais ainda a seriedade da miisica que escreveu para os cerimoniais da organizaglio em 1785 (K. 468, 471, 477, 483, 484) © para uma cantata de 1791 (K. 623), a sua dltima composigao completa, Die Zauberfléte transmite-nos a impressdo de que Mozart desejava entretecer num dese: nho novo os fios de todas as ideias musicais do século xvm: a opuléncia vocal aliana; © humor folcldrico do Singspiel aleméo; a dria solfstica; o conjunto da Opera bufa, a que € conferida uma nova relevancia musical; um novo tipo de recitativo acompanhado aplicdvel dueto dos dois homens armados, no 1 acto), uma recuperagdio da técnica do preliidio coral barroco, com acompanhamento contrapontistico, No Requiem — a tiltima obra de Mozart, que, a0 morrer, a deixou inacabada— 8 elementos barrocos so ainda mais evidentes. A dupla fuga do Kyrie ¢ construfda sobre um tema que jé fora usado por Bach e por Haendel —e também por Haydn, No quarteto Opus 20, n.° 5 — eo andamento tem um sabor nitidamente haendeliano; mais haendelianas ainda slo as draméticas irrupgdes corais do Dies irae ¢ do Rex tremendae majestatis. Mas 0 Recordare é Mozart puro, obra de um compositor lingua alema; as cenas corais mais solenes, € mesmo (no Sat alemio que compreendia © amava a tradigio musical ita sua maneira pessoal e perfeita na © Soube interpreté-ta a Bibliografia Obras gerais F. Blume, Classie and Romantic Music, Nova lorque, Norton, 1970, € um panorama de eonjunto de todos os aspectos musicais do perfodo ¢, 1770-1910. R. Pauly, Music in the Classic Period, 2 ed., Englewood Cliffs, N. J., Prentice-Hall, 1973, € uma resenha informa tiva, embors algumas partes estejam j4 desactualizadas, Chi les Rosen, The Classical Style Haydn, Mozart, Beethoven, Nova lorque, The Viking Press, 1971, 6 uma obra que recomen- damos vivamente, O seu livso mais recente, Sonata Forms, Nova Torque, Norton, 1980, fomece alguns pontos de vista estimulantes sobre a evolugio do género. O estudo de Leonard Ratner, Classic Music: Expression, Form and Style, Nova Torque, Schirmer Books, 1980, procede a uma andlise particularmente rica das priticas de composigflo se do as fontes originais da época. V entistas, recorren uum Begriff der Klassik in der sico na musica»), in Deutsches Jahrbuch der Musikwiy senschaft 1, 1966, 9-34, © H.C. Robbins Landon, Essays on the Viennese Classical Style: Gluck, Haydn, Mozart, Beethoven, Nova lorque, Macmillan, 1970. lambém L. Pinscher, « Musik» («Sobre o conceito do cl Haydn Est4 em curso a publicagio da edigto definitiva das obras completas de Haydn pelo Instituto Haydn de Colénia, sob a direceao de G, P. Larsen ¢ G. Feder, 59 vols., Munique- Duisburgo, G, Henle, 1958-; catdlogo temitico de A. van Hoboken, 3 vols., Mogincia, B Schott's Sohne, 1957-1978; v. §, C. Bryant € G. W. Chapman, A Melodic Index to Haydn's Instrumental Music, para identficar os titulos dé obras de que s6 se conhece a melodia ¢ part 1s localizar no catilogo temético de Hoboken AAs actas da Intemational Haydn Conference, realizada em Washington, D. C., em 1975, foram editadas sob a direogdo de J, P. Larsen et al, Nova lorque, Norton, 1981, aconselhando-se a va consulta, pois contém estudos relativamente uctualizados sobre a vida e obm de Haydn. Fontes documentais in H.C, Robbins Landon (ed.), The Collected Correspondence and London Notebooks of Joseph Haydn, Londres © Nova lorque, Barrie & Rockliff, 1959, H. P, Brown ¢ J, T. Berkenstock compil Hiteratura haydniana: Joseph Haydn in literatura: a bibliography Julho de 1974, 173-352 Sobre a vida e obra de Haydn, v, 0 estudo fundame Robbins London, Haydn's Chronicle and. Works, 1976-1980, The Ne As mel U laram. uma bibliografia que abarca dois séculos de in Haydn Studies, 1/304, de HC. Bloomington, Indiana University Press, lew Grove Haydn, de J, P, Larsen ¢ G. Feder, Nova lorque, Norton, 1983. ores biografias breves slo K. Geiringer, Haydn, a Creative Life in Music, Berkeley versity of California Press, 1968, 3 Londres, Dent, 1974 Torque, Rizzoli, 1981 ‘em cineo volume ed, rey., 1982, e Rosemary Hughes, Haydn, ed. 1eV., Y, ainda H.C, Robbins Landon, Haydn; a Documentary Study, Nove Leituras complementares Sobre as sinfonias, v. H.C. Robbins Universal Editio Analysis, v0, 1 Landon, The Symphonies of Joseph Haydn, Londres, 1985, com supl., Barrie & Rookliff, 1961, D. F. Tovey, Essay in Musical Londres, Oxford University ress, 1935, com reedighes posteriores, © K.

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