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IVEDO AS ELITES DE ‘COR, PREFACIO pe PROF. CH (Catombia. Un Exemplar Ny 986 63537 COMPANHIA EDITORA NACIONAL sko PAULO pasta:_2. comas:_F a PREFACIO A Bahia, velha-e histrica cidade brasileira, ainda preserva muito de suas antigas tradicées. ‘Suas igrejas, suas ruas estreitas, suas casas de estilo colonial, o aspeto dos seus mercados, a in- dumentdria das “bahianas” vendedoras de déces ou acarajés, a hospitalidade com que acothe a fa- milia bahiana, 0 ar simpdtico e as maneiras finas de sua gente na rua e outros’aspetos dessa bela cidade iém atraido numerosos escritores tanto na- cionais como estrangeiros. Jornalistas a tém des- crito, historiadores estudam-na hd muito ¢ antro- pologistas, interessados especialmente pela persis- téncia de padrées culturais africanos, a escolheram como centro para as suas pesquisas. Entre o9 iltimos, Nina Rodrigues, Artur Ramos, Edison Carneiro, Ruth Landis, Melville J. Herskovits, Ro- ger Bastide, Donald Pierson e outros estudaram os “candomblés” da Bahia e a contribuigéo do ne- gro & vida bahiana, Eniretarito, um dos aspetos mais interessantes dessa cidade & a composicéo multi-racial da sua populacdo ¢ o fato de que, num meio tradicional, individuos de diversas racas ¢ de variegados tipos fisicos vivem essencialmente em harmonia, sem muttas das discérdias e frustracées que caracteri- zam as relacées inter-raciais em outras partes do mundo, Parece até que o ideal brasileiro de de- mocracia racial em nenhuma parle se realiza como 8 THALES DE AZEVEDO ali. Por conseguinte, é de surpreender que an- tropologistas e sociélogos pouca atengdéo tenham prestado a éste assunto. Que tratem desse lado da vida bahiana pelos modernos métodos das ciéncias sociais, existem apenas o excelente livro de Donald Pierson, Brancos ¢ pretos na Bahia, ¢ alguns arli- gos esparsos de Franklin Frazier e outros. Sabemos, em suma, muito mais sobre o ritual do “candomblé” do que sobre os padres de re= lacées inter-raciais na Bahia. Apesar do exotismo edo colorido que aquele apresenta, parece-me nao haver divida de que 0 conhecimento dos atuais padrées de relacées inter-raciais é de maior. ini- portancia para a sociedade bahiana ¢ de mais in- lerésse para o mundo-em geral. O estudo de Thales de Azevedo vem justamente contribuir para ésse campo de estudos téo importante e relativamente desconhecido. A Bahia, pela sua importancia como centro de estudos, tem produzido grande ritmero de es- tudiosos no campo da antropologia. Thales de Azevedo, Professor de Antropologia na Faculdade de Filosofia da Universidade da Bahia, mantém c tradicdo de Nina Rodrigues, de Artur Ramos e outros que ndo esperaram por pesquisadores do estrangeiro ou de outras partes do Brasil para in= vestigar e analizar a sociedade bahiana, Eles estu- dram a sua prépria sociedade com objetividadé cientifica e competéncia, Neste livro, 0 Autor uti- lizou-se de inquéritos pessoais, de dados biogrdfi- cos ¢ material estatistico e, como participante da sociedade local, nos deu um excelente estudo sobre a dindmica da ascengéo social das pesséas de cor ~ AS ELITES DE COR 9 num centro urbano ‘como é a cidade em apreco. Além disto, ajuntou perspectiva histdrica aos seus conhecimentos de antropologia social moderna co- mo jd demonstrara em seu trabatho anterior, Povoamento da Cidade do Salvador, obra que leve tao béa aceitagéo. O quadro que Thales de Azevedo pinton sobre as relacées inter-raciais ¢ a sua andlise do proces so de mobilidade social da parte da populacdo da Bahia denominada “de. cor”, é essencialmente otimista, Como Donald Pierson, éle chega é con- clusdo de que a sociedade bahiana é uma socie~ dade multi-racial de classes e ndo de castas; de que existem, relativamente falando, relacées pa- cificas entre os individuos descendentes de vérios estoques raciais; de que néo existem barreiras intransponiveis que impecam a ascenséo social de individuos por causa de sua cér; e, finalmente, de que as facilidades para a ascensdo das pesséas de cér de uma classe para outra mais elevada estao aumentando. Como Donald Pierson, concorda em que existem preconeeitos e diseriminagées basea- dos na cor ¢ traz a isto uma contribuicdo inteira- mente nova com os dados que colheu na sua pes- quisa de campo. Nas biografias dos individuos de cér, que analisou, ¢ nas atitudes reveladas em muitas das entrevistas realizadas, encontraram-se manifestacdes que indicam frustracées ¢ diseri- minagdo. Essas manifestacées aparecem, porém, em forma branda, principalmente se comparadas ds existentes noutras partes do: mundo. Mas, mes mo na Bahia ndo deivam de eaistir numerosas desvantagens para o individuo de cér interessado em melhorar a sua posi¢éo sociat, educacional e ‘econémica por seus préprios esforcos. As barrei- ras que dificultam a ascenséo social em tais casos, mesmo sob circunstancias relativamente favora~ veis como as da Bahia, inevitavelmente nos fazem refletir sobre a situacdo das populagdes de cér na Ajrica do Sul, nos Estados Unidos, nas colénias européias e em outras partes do mundo onde as barreiras so mais numerosas e mais resistentes. Nao resta diivida, lendo 0 trabalho de Thales de Azevedo, que na Bahia o tipo racial de um in- dividuo, ou melhor a sua aparéncia fisica, cons- titi apenas um dos critérios na avaliacéo das qualidades ¢ merecimentos dé homem de cér pelo seu conterrdneo, A profissdo, 0 padrao de vida, Ya educacdo, a familia e a participacdo na socie- |dade constituem, com o tipo racial, os fatores que wSefdeterminam a classificacao na hierarquia social \bakiana, Apesar das desvantagens do seu tipo ‘racial, é perfeitamente possivel ao homem de cér subir de posigao social se modificar a sua situa- ¢do econdmica, a sua educacdo, a sua profissao, e ainda através 0 matriménio ou pelo mecanismo do sistema de padrinkos ¢ madrinhas, muitas ve- res escolhidos entre pessoas pertencentes as clas ses mais altas. A ascensao social dos individuos de cér é portanto, realizavel e, como nos mostra éste trabalho, um fenémeno que jd teve logar no passado ¢ contintia a ocorrer com maior frequén- cia nos dias presentes. O atwal sistema social da Bahia nos faz acreditar que naquela sociedade foi encontrada uma solugao praticavel para o pro- blema que assola grandes regides do mundo mo- AS ELITES DE COR li derno, Na Bahia, o process de integragao, numa sociedade multi-racial, de uma massa de ex-es- cravos de tipos raciais variados e diferentes de seus antigos senhores, esté bem adentado. Resta saber, porém, se a Bahia, ¢ tambem o resto do Brasil, conseguirdo manter esta inestima- vel heranea, isto & 0, seu sistema de relagées raci- ais, deante das novas condicées sociais que inevita- velmente serdo criadas pela industrializacao ¢ pelo desenvolvimento do pais, A industrializagao €, ao mesmo tempo, inovagdes no sistema educa- cional certamente modificardo a sociedade bahia- na, Nao concordo com a opinido de que mudan- ¢as dessa ordem inevitavelmente acarretem com- peticao ¢ tensdes entre os varios grupos raciais, simplesmente porque a tensdo racial tem sido muitas vezes observada em paises grandemente industrializados. Os bahianos, todavia, devem es- tar prevenidos dos perigos que- podem acompa- nhar a mudanga de uma sociedade semi-fendal ¢ patriarcal, cujo sistema de relagdes humanas é mantido em bases pessoais ¢ na qual as classes vi- vem conscientes de suas obrigacdes, para uma so- ciedade industrializada na qual as relacées huma- nas se lornam impessoais e séo determinadas por motivagies econémicas. Tanto a Bahia, como oy Brasil em geral, terdo de adquirir novos conke- cimeritos de outras regides do mundo para eslimu- lar 0 seu progresso material e hé muito, no campo das relagées humanas, 0 que aprender de outros povos, mas ao mesmo tempo devem procurar pre- servar as suas tradigdes earacteristicamente bra- sileiras, das quais o resto do mundo terd bastante| 12 THALES DE AZEVEDO | que aprender, especialmente as de relagées inter= perimentam ditvidas e dificuldades quanto 4 sua situacho, como so alvo de ressentimento por par- | te de muitos que permanecem nos estratos infe- riores da sociedade. Uma vez que, para adquirir | stalus, 0 escuro necessita assimilar-se cultural ¢ | socialmente ao branco adotando a sua “epiderme \ social”, éle é muitas vezes censurado por ser. my a branco” ou por “n&o querer ser de! Vv cér./ Varios informantes apontaram alguns indi- vidios de cdr que sao assim julgados e que cer- tamente se recusariam a ser entrevistados para esta pesquisa, Alguns, realmente, esquivam-se de _ falar sobre os problemas raciais, desviando poli- damente a conversa para outros temas sob a ale~ gacio de que nunca repararam no assunto e de que 0 mesmo nio tem importancia entre nés. O ‘Autor, com a sua experiéncia de vida no meio (4D op. eit, p. 408. (48) Sobre as vicissitudes do “passing”, cfr. Wirth e Goldhamer in 0. Klineberg, Characteristics of the American Negro, N.Y. and London’ (1944), p. 801. be 78 THALES DE AZEVEDO bahiano, teve mesmo certa yacilacéio em aproxi- mar-se dalgumas das mencionadas pessdas, Nal- guns casos verificou que as referidas imputagoes sio apenas atitudes de ressentimento dos infor- mantes contra individuos que subiram muito ou que, n&o conhecendo de perto, julgam ter os de- feitos referidos. Varios desses entrevistados re- velaram, entretanto, um interésse muito parti- cular pelas relagGes inter-raciais, mostrando que Jeem livros brasileiros e estrangeiros sobre 0 as- sunto, que procuram assistir os filmes cinemato- gréficos com temas daquela nalureza, que discu- tem a matéria entre os do seu tipo e slatus pro- fissional e social; houve dois que declararam que ha muito pensam em eserever as suas observacoes sobre o problema, Num caso, porém, uma fun- cionaria publica mulata respondeu com certa ir ritago que o problema nao é importante e que 0s pretos bahianos nao sobem socialmente porque sio muito “atrazados se ousados”. OS CASAMENTOS INTER-RACIAIS O casamento inter-racial é‘um dos canais de acesso e de integracio da gente de cor nas classes mais altas. Uma vez que os individuos mais cla- ros tém maiores possibilidades de se tornarem socialmente brancos, 0 casamento entre escuros e brancos confere prestigio aos primeiros e ofe- rece a espectativa de filhos mais préximos do tipo preferido, No Brasil nenhuma lei_proibe 0 casamento entre pesséas de racas ou fipos diferentes. Os candidatos ao casamento civil ou religioso habi- litam-se perante as autoridades do Estado ou da Igreja_apresentando documentos, como as certi- does de registro de nascimento ou de batismo, em que o tipo ou a “edr” € mencionado apenas para fins de identificagao. ia muito elevado na Bahia o mimero de casa- mentos entre pessoas que diferem quanto 4 in- tensidade de sua pigmentacao ¢ quanto a fre- quéncia de outros tracos étnicos, Em 222 pares observados ha pocos anos, 34 por cento eram da mesma cér, em 43 por cento 0 homem era mais escuro que a mulher e em 22 por cenlo esta era mais escura (49). Mas a frequéncia dos verda- deiros inter-casamentos, i. e, entre pessdas prove- (49) ‘Thales de Azevedo, “Um aspeto da mesticagem na Bahia", Rev. do Arquivo, a. XI, vol. CI, S. Paulo 1945, p. 45, 80 THALES DE AZEVEDO nientes de stocks raciais diferentes, é dificil de determinar com 0s métodos usuais de classificagio étnica, Para consegui-lo seria preciso classificar geneticamente os participantes das unides ou es- tudar as genealogias de muitas familias. Uma vez que individuos de fenotipo “branco” sio, por vezes, mesticos branqueados e que, por outro la- do, ha “pretos” que sio mesticos (50), torna-se extremamente dificultoso afirmar quando um ca- samento é de fato inter-racial, O que importa, porém, neste estudo, siio os casamentos entre pes- soas de cor e pessoas “socialmente brancas”. Es- tes sio, indubitavelmente, muito frequentes, Em 1,269 casamentos, Pierson encontrou 3.3 por cen= to inter-raciais, cifra realmente baixa para uma regifio em que as barreiras de cér sao tho tenues. Estas cifras foram, certamente, tomadas de um conjunto de casamentos de pessdas de todas as classes (51), Se, porém examinarmos a situagao nos estratos intermédio ¢ inferior, como sucede com a outra amostra, aquela proporeio pode atin- gir a 20 por cento ou mais. Contudo, nao foi sempre assim. As leis portuguésas proibiam, no periodo colonial, os casamentos de brancos com indigenas e com negros. Extinta a escravatura dos aborigenes, logo foi permitido 0 casamento dos brancos com indios, Mas jA antes disso 0 clero (50) Paul Rivet chama atenc&o para a facilidade com ‘que 0 negro africano 6 absorvido na_mestigagem com bran- eos € com indigenas da América do Sul, efr. As origens do Iomem. americano, §. Paulo (1948), p. 80. Ver tambem M. J. Herskovits, ‘The anthropometry of the American Ne- gro, N. ¥. 1930. (61) op. ei oy Bs 209, | As ELITES DE COR BL eatélico regulaitizava, por meio do casamento re- ligioso, os numerosos concubinatos entre colones porluguéses ¢ mulheres indigenas. Os casamentos Me prancos ¢ de indigenas com negros continua- Sam proibidos durante muito tempo. A medida que a mesticagem entre europeus € afrieanos au- mentava pelas unides livres, paralelamente cres- ja o nimero de casameltos inter-raciais porque Cealmente sé néo eram permitidos os casamentos Guire pessdas livres e escravos. Afinal, com a abolicio definitiva da escravatura negra, caltt a ‘itima barreira aos inter-casamentos, Punidos ainda durante bastante tempo por severas san- goes sociais (52), esses inter-casamentos, vinham Srescendo desde a Independencia, em 1822, com f ascensio social dos mulatos militares, burocra- tas, advogados diplomados pelas Universidades porluguésas ¢ francésas, processo que fot intenso Turante o regimem monarquico brasileiro para fo qual_a Bahia contribuiu com muites estadistas ¢ politicos saidos daqueles grupos (53). Gy Bapilly exeroveu em 1868: A’ Constitlgfo pro- tan geeR ees cdadtos. "0. preconelto, mais fort clan ile dee ume, banroirainsuperavel — até que, a Gonstitlelo, Cxrm, oo indviguos que se dgereniam hoje peo menoy a le, Dose cragonas, condseorages, pai tnalidads Ge PoSigor, ates mnguem fam Tin omy Mae eta" eg brance_ azn com Um ala Aus ae oussees fe sera repel, no meso fnstante ear cntames de Ben pura Seria dexpresada, apon. yor tndas as pessbas Om ward da woledade em ave ee f- fad 8 dodo, eee tmpos, como omnnmente, © orguTho’s Gea em out o'Bran S- Palo 1995, P. 219. ($3) G. Freyre, op. eit., TIT, p. 951. \ 84 THALES DE AZEVEDO A. pressio social contra os inter-cdsamentos parece diminuir-com o passar do tempo, de ma- neira que aqueles sio cada dia mais numerosos. Uma informante recorda que antigamente, nas familias da alta ¢ média sociedade, apurava-se com extraordinario rigor a origem dos noivos. Muitos casamentos deixam de ser feitos porque um dos pretendentes tinha “casta”. E os que se realizavam custavam a rntura de relagdes dos novos casais com seus pais. Eram verdadeiras tragédias, Havia pais que amaldicoavam as filhas e as desherdavam quando persistiam em casar com um jovem de “qualidade inferior”, sobretudo se este, além de mestico, era bastardo. Hoje, acrescenta a informante, ha muito mais facilidade. Essa é, aliés, uma impressao geral. Esses casamentos sfio muito desejados porque conferem prestigio ao conjuge mais escuro. Um professor preto diz que poucos sio os homens escuros que esposam mulheres claras pensando em melhorar a raca, “mas para facilitar a sua prépria ascensio social”, Uma evidéncia disto esti na frequente manifestagao, expressa ou dissi- mulada, daquele desejo, Uma funcionaria mulata tem namorado “por brineadeira” com rapazes brancos, como quem langa a sorte para ver se aleanga o seu desiderato, mas assevera que nao se casaria com um homem escuro ainda que fosse rico e bem colocado; a sta mie Ihe da todo apoio nessa atitude e a exproba quando ela anuncia que est4 aceitando a corte dalgum escuro. As suas trés irmfs casaram-se com brancos e uma delas tem orgulho dos filhos por serem alourados. Tambem uma estudante do mesmo tipo “prefere” AS ELITES DE COR 83 namorados morenos mas confessa que nao teria Fonstrangimento em casar-se com um branco. Gaba-se um jovem estudante mulato de que ja teve oito namoradas mais claras do que éle, & excegdo de uma, 0 que documenta mostrando os retratos de trés daquelas, Ha mesmo quem diga que certa preta tem uma grande quantia reser~ Yada “para comprar um maride alvo”. Ela mes- ina declara que “nao faz forca para o casamento”; casar-se-a se este for o seu destino, e afirma que tem recebido declaragées de pretos e de brancos, mas que as rejeitou indistintamente, “Nao tenho preferéncia de tipo; apenas exijo-que seja homem de cultura é que corresponda ao meu ideal”, E, como que traida pelo inconsciente, conta que du- rante uma viagem encontrou um alemio, — 0 tipo ‘mais caracteristico de “branco fino” para os bahianos, 0 qual Ihe fez a corte e depois The escreveu varias cartas. “# também muito expres~ sivo o que disse uma jévem mulata: “As mocas escuras preferem rapazes mais claros. Eu mes- jna, se chegar a me casar...” Nao’ concliti a frase mas, depois de uma pausa, acrescenta: “Depende, porque se eu gostar de um rapaz no you olhar a cor”, E, como que fazendo uma queixa, diz ainda que “os rapazes de edr prefe- vem as ¢laras, embora tenham pouca educagio, mas basta serem claras...” O ressentimento que isso causa entre as mo- gas é dissimulado, quasi sempre, em desinterésse pelo casamento, Uma profissional mestia afir- ma que nfo se preocupa em casar porque tem um temperamento irrequieto, “Além disto, os homens de cér procuram esposas brancas & os 84 THALES DE AZEVEDO pretos que Ihe tém aparecido sio mentalmente inferiores a ela, o que pode ser perfeitamente yerdadeiro. As mesmas frustagdes encontram-se entre os horiens que nao conseguem noivas bran- cas, Um deles vive com uma mulata mas diz sabe de brancas e morenas que o aceitariam como esposas ou mesmo como amantes. Dois pretos retintos declaram que nio desejam casar- sc mas que ja acharam mogas brancas que os quizessem. Outro queixa-se de que as mulheres de cdr nao querem homem escuros, mesmo edu- eados, dando preferéncia a um branco ainda que seja um pobre-diabo engravatado; nas ruas r cusam. 0s galanteios dos escuros mas cedem 4s investidas desrespeitosas dos brancos. E é por isto, explica, que se fazem concubinas dos ulti mos ou nunca se casam, A mulher alya ¢ loura 6, por outro lado, re- presentada como fortemente inclinada para os homens pigmentados. Certo mulato claro, muito bem sucedido na sua profissio, nao tem atragio pelas escuras, conquanto reconheca que sao vis- tosas e bonitas; prefere “as brancas, bem bran- cas”. Segundo afirma, muitos da sua qualidade tém aquela inclinag%o independente da idéia de “Jimpar a raca”. Acrescenta que as brancas finas tém verdadeira atragio pelos escuros e os con- sideram particularmente viris e fortes, tanto que nao gostam dos que tém maneiras muito deli- cadas. Outros informantes, no entanto, falam sem entusiasmo sobre ésse tipo de mulheres, por- que as consideram frias e frageis. “A cor da satide”, diz um deles, esclarecendo que mesmo os brancos sentem assim. As mulheres muito AS ELITES DE COR 85 @laras causam. repugnancia a qualquer homem, firma um mestico; “sei até de um europeu que vente yontade de cuspir quando vé uma delas”. Hosa concepgoes da mulher muito branca sio @a mesma ordem daquelas que no sul dos Es- tados Unidos, de acordo com Dollard (54), ser- jvem para protegé-la contra os homens de cbr e jalvex mesmo contra os brancos, A morena, por outro lado, 6 considerada como o tipo feminino Cinis ardente e mesmo mais accessivel sexual- mente, Varios dos informantes que mostram de- sejo de easar-se com brancas explicam ou deixam cutender que se referem as mestigas claras, so- cialmente brancas. ‘Outra razo pela qual os inter-casamentos suo desejados é que por meio deles muitos podem “mnelhorar a sua raca”, Os casamentos de preto com preta s6 seryem para perpetuar a situagao, opina um profissional preto que ¢ tide, pelos da sua qualidade, como racista; “o filho mulato tem mais aceitacdo e ndo sofre o que a gente sofre”. Os tracos “mais finos” dos filhos mesticos, ex- plica outro infotmante, facilitam a integracio Focial destes. Ter pai branco ¢, além disso, uma ‘antagem em si mesma, — acrescenta. Refere tim mulato escuro que comecou a trabalhar em profissées muito humildes e penosas mas que a (Ba) It seems possible that the image of the white soinan is in part conserved against sexual thought and allu- ‘siots, whereas the Negro woman tends to draw the full Jarden of unsublimated sexual fecling... If Negro women fare represented as sexually desirable in the folk imagina- tion ‘of the whites, Negro men are viewed as especially Virile and capable in this sphere”, John Dollard, Caste and Glass in @ Southern town, N. York 1949, p. 187 ss 86° THALES DE AZEVEDO * sua situagio veiu a melhorar quando um politico influente soube que éle era filho de um seu ami- go, branco; logo passou para um servigo de es- critério, que Ihe deixava tempo para estudar, até que se diplomou pela Universidade. Outro pro- fissional considera que uma das vantagens de que gozou desde menino foi o fato de seu pai ser branco, apesar de modesto, porém muito amigo dos politicos da pequena localidade em que vivia. No que se refere aos casos especificos de informantes que casaram com mulheres alyas ou pelo menos mais claras do que éles, é curioso mencionar que nenhum invocou, para justificar essa preferéncia, qualquer das razdes alraz apon- tadas, Alguns dizem que tiveram uma primeira noiva escura, que faleceu ou que desmanchou o noivado; 86 por isto vieram a casar com uma esposa clara. Outros ndo tentam nenhuma racio- nalizaco. Diz um destes: “Ha muito branco que eu néo quero em minha porta, Entretanto casei-me com uma branca descendente de portu- guéses”. Outra explicacio apresentada por al- guns informantes ¢ que as mocas escuras se re- cusam aos jévens da sua “qualidade”, mesmo quando éstes sio diplomados e bem colocados. Nas casas de familias brancas, em que muitas daquelas mogas séo criadas, ajuntam os infor- mantes, elas ouvem dizer que devem evitar “esses pretos ousados, ignorantes”, Mas isso refere-se aos pretos de condicéo humilde, nao aos de status social e profissional elevado, Os rapazes escuros, diz um preto, quando chegam aos vinte anos de idade: mais ou menos, comegam a sentir essa di- ficuldade: “6 por isto que procuram as mocas, | AS ELITES DE COR 87 claras”, Evidentemente, o assunto é dos que nio fe esclatecem apenas com o material deste es. fudo, mas parece fora de diivida que tudo {ise sfo outras tantas racionalizagdes barat dl ia br 0 desejo de unido com brancas. Este desejo, por outro Iado, necessitaria ser interpretado com, @ ajuda da psicandlise e de outras téenicas de yestigagdo dos problemas de personalidade, Sao conhecidos na Bahia alguns pretos dé destaque, especialmente nas profissdes tberais, {que se casaram com braneas ou com mulheres mite mais claras do que éles mesmos, | Isso, & meneionado com certa énfase e mal disfareado orgulho por algumas pessdas escuras, earhore tam. em provoque criticas. Em muitos desses casos as esposas sito de stalus mais baixo porque “na classe mais elevada, embora sejam frequentes os jnter-casamentos de que participam mulatos = ros € morenos, ha uma decidida oposigio ao ca- samento com pesséas do extremo oposto da es tala de céres” (55). Quanto mais baisa, porém, 2 posicio do homem menos dificil ¢ 0 inter-ca; famento em sua propria classe, Quer dizer: miuit mais facil a um preto dos grupos, inter médio ¢ inferior cxsar com uma branca da sua propria posicdio. Por outro lado, quanto menor Paldiferenca entre 0s tipos. fisteos do homem € da mulher, menores so as resistincias a veneer em qualquer dos estratos socjals. Sead de tomem claro com mulher, escura, sobretudo quando esta é muito mais pigmentada, sofre oe Sicko forte em todas as camadas, muito embora (65) Pierson, op. cit., ibid. 88 THALES DB AzevEDO as concepedes sobre a morena de tragos finos e cér de jambo tornem éste tipo desejado por al. guns. brancos, particularmente pelos imigrantes portuguéses e um pouco pelos alemies, A mulher esciira que casa com um branco esti muito mais exposta ‘ hostilidade da familia do esposo do que © escuro que casa com mulher clara ou branca, Uma das explicagdes para isso deve estar no fate de que, tendo a familia bahiana como centro do- tminante a esposa, o marido é atraido para a fa. milia daquela; os filhos, da mesma maneira, li, gamt-se afetivamente e seguem mais os padroes da familia materna do que da paterna (56). Desse modo o branco que se casa com escura ‘desce” de classificacdo, porque, de acordo com lum refrdo muito conhecido, “quando uma moga se casa a sua familia ganha um filho”, Ele passa para ‘o mundo das pesséas de cor de que se ori, gina a sua esposa. Ao passo que o homem escuro sobe” ao integrar-se na familia da"tsposa clara ou alva, Esse é 0 sentimento dos bahianos, que © Autor, como participante da vida local, conhece © observa. Isso é de outro lado confirmado ana. logicamente pelo que acorre com os casamentos entre pesséas de status e fortuna diferentes, Na Bahia, como de modo geral em todo o Brasil sio. muito mais aprovados os casamentos de” (56) Para verificar osta hipétese o Autor fi Soe censinm, sobre mecha eit ave dk eonhecem seus ascendentes. : a en ee ae AS ELITES DE COR 89 rapaz “formado e bom”, ainda que pobre, com moga rica, de alta sociedade, do que os de homem rico com mulher de “classe inferior”, No caso do jévem “formado e bom”, que sfo duas con- dicdes muito exigidas para ésse tipo de casamen- to, porém pobre ou de cér, a familia da noiva capitaliza aqueles titulos como uma compens para-a roca que faz da sua fortuna ou bran- quidade; na situacdo oposta, os tituios que a moga pobre ou escura possa trazer nio tém, or- dinariamente, o mesmo poder de compensacio para a familia do seu esposo. Os brancos justifieam a sua oposicao ao ca- samento com pretos, além das ideologias relati- vas 4 inferioridade mental e moral do negro, com a repulsa “instintiva” por certas caracteristicas orgdnicas dos africanos e seus descendentes mais préximos, Certo mulato, educado entre europeus, expressa essa alilude dizendo que “o preconceito de'cér nfo é forte na Bahia mas a instintiva repulsio da raga branca deantes das deficiéncias da raca irma, quando pura ou quasi pura, — mau cheiro, coloragio etc., ndo deixa de provocar um que outro ‘comentirio desagradavel sobre os descendentes de Cam”, Vale anotar que, enquan= to o “miu cheiro” dos pretos é considerado al- guma!coisa de inerente 4 sua natureza e portanto inganavel, 0 desagradavel oddr corpéreo de por- tuguéses e outros imigrantes 6 atribuido unica- mehte a falta de asseio dessas pessoas, 0 que revela uma diferente concepeao do preto. E esta concepeio coloca o preto numa categoria fisio- légica particular ¢ inferior, mal sabendo muitos 90 ‘THALES DE AZEVEDO | brancos que éles préprios emitem um odér into- leravel para os asiaticos e pretos (57). — Funcionando a cér e os tracos somaticos, em grande parte, como simbolos de status, a resis- téncia aos inter-casamentos traduz ao mesmo tempo preconceito de classe ¢ de raga ou, melhor, de “cr”, E ¢ interessante reparar que muitos informantes dizem que praticamente sé existe preconceito de cor na Bahia quando se trata de ‘casamento. Muitos brancos tambem pensam desse modo, | Os inter-casamentos sio realmente o ponto jeritico das relagdes raciais na cidade. Nesse ter- reno 0 comporlamento se caracteriza por mais distanciamento e intolerAncia dos brancos, mesmo dos que séo apenas “socialmente brancos”, para com os de cér, 0 que exige um maximo de esforco para a acomodagio reciproca dos dois grupos ¢ para o ajustamento das personalidades aos pa- drées em vigor, (57) EB? interessante 0 que se passa com as transfu- sées de sangue. Quando estas se faziam diretamente do doador para o reeebedor, muitas vezes os pacientes brancos fou suas familias preferiam doadores também brancos, mos- trando-se constrangidos quando 0 doador era um mulato ou preto. Atualmente, com o sistema de sangue conservado, Quase ninguém pergunta pela “qualidade” do doador, a nfo Ser os judeus e alguns estrangeiros, especialmente europeus, jedem sangue de pessas de suas familias ow de sua “yaga”. No primeizo caso 0 que motivava a atitude dos brancos era provavelmente o fato de quo o doador deitava-se numa cama paralela ao doente, situago que figurava a in- timidade de duas pessdas que dormem juntas. | CANAIS DE ASCENSAO SOCIAL 0 COMERCIO Os comerciantes ¢ fazendeiros tém na socie~ dade bahiana um prestigio proporcional & impor- tancia econdmica de suas atividades; as familias mais ricas so constituidas por éles ¢ a sua influ- bneia € notéria em toda a vida social, Atravez - Gases dois géneros de atividades a maioria dos bahianos obtem a sua subsisténcia, adquirindo status ¢ exercendo controle sobre outros setores da estrutura social (58). © Os grupos nacionais e raciais, de que se com- poe a populacio da Bahia, participam diversa- Mente do comércio e da agricultura, Enquanto que entre os mais importantes criadores de gado Hreponderam os braneos e morenos, hé entre os proprietirios das plantagées de caciu uma alte Droporcio de pessoas de cdr que comegaram como pequenos plantadores e alargaram as/suas fazen- ividades econdmicas que ccupam maior né- “sa steate mtg ee ema 2 mere ia (61 por eento doo individdog do sexo masculine) + eguemte. em, importinca a pequena, inddstrlaastenene mmgreio de mereadorias, de acordo econ wcrc de mene sen Ba ara) mico nacionsimesro lugar as profissdes liberals e © ensino Seiticular, que as estatisticas registram englobadsment®, parieeundo lugar o comércio e muito abaixo as indiistrias om tine e toda a inddstria do transformacao em grande e3- Tala, a qual € relativamente pouco importante, CONCLUSOES f somente em parte verdadeira a idéia de que na Bahia nao existem preconceitos ¢ discrimina- gGes por motivo de cdr, A gente de cor ainda é colocada por muitas pess6as em uma categoria biolégica e social com caracteristicas inferiores 4s dos brancos. Acreditam essas pessdas que a capacidade intelectual, os tragos de personalida- de, a moralidade, as possibilidades de progredir socialmente ¢ de enculturar-se na civilizacao do- minante diferem dos individuos de cér para os brancos, dizendo que a Bahia nao progride mais “por causa dos pretos”. Por essa razio muitos mesticos claros escondem ou negam a sua “casta”, sentindo-se mal quando alguem alude a mesma ow a revela indiseretamente. Tudo isto resulta da crenca de que todos os membros de determinado grupo étnico ou social tém as caracteristicas men- fais e 0s comportamentos atribuidos ao seu gru- po segundo a simpalia ou antipatia com que 0 mesmo é encarado por outro. Em virtude desses sentimentos, que sio alias muito ténues, verificam-se discriminacbes contra os escuros em alguns setores da organizagiio so- cial, E° evidente, todavia, que tais discriminagoes so muito brandas ¢ que dificilmente se podem distinguir dos antagonismos de classes, uma vez que a cor da pele é historicamente considerada no Brasil um simbolo de status: os brancos lem- AS BLITES DE cOf 195 bram os antigos colonos portuguéses que domi- navam a economia, a politica, a administracao pi- blica e cujos descendentes sio, ainda hoje, a maio- ria das classes altas, enquanto os de cor lembram ‘os escravos africanos, importados para trabalhar nas lavouras, nas atividades bragais, nos oficios manuais, nos servicos domésticos, constituindo até agora as camadas mais pobres e menos instruidas do povo. Mas, como a sociedade bahiana é uma socic- dade multi-racial de classes, em que realmente néio ha castas, isto é grupos fechados, cujos com- ponentes so hereditariamente classificados ¢ nfo tém possibilidades de mudar a sua localizagio so- cial ow de passar para outros grupos, as pessdas de cér tém o seu status condicionado por suas qualidades e aptidées individuais, competindo em igualdade de condicées com os brancos. Em principio. qualquer individuo tem a pos- sibilidade de ascender socialmente por sua fortu- na, por seus méritos intelectuais, por seus titulos profissionais, por suas qualidades morais, ou pe- Ja combinagio desses elementos, de acordo con os sistemas de valores de uma sociedade de tipo capitalista, Contudo, no processo de peneiramen- to para classificagio nos estratos: mais clevados da sociedade, os individuos de cér experimentam certas' resistencias, em parte por influéncia dos mencidnados preconceitos e doutra parte por pro- virem Was classes sécio-econdmicas’ mais baixas, ‘A ‘ascensio social dos escuros como indivi- duos é frequente e facil de verificar. Como grupo no entanto, as pessoas de cor yém ascendendo mais dificultosamente. Basta comparar as pro 108 THALES DE AZEVEDO porgdes em que os diversos tipos fisicos se encon- tram na populacio total da Bahia e nos grupos © organizagées que simbolizam a “classe alla”: ORCENTAGENS E INDIOHS APROXIMADOS DR PREQUENGIAS DOS DIVEREOS T1PO8 FISICOS a a | 100 100 18 | 38 0 Nas profissies Hiberais (*) 230 | 22 | a6 10 Nuta clube recreativo 2 33 | 70 0 Nenhum dos grup tildi uma amostra representativa da populacio total, 0 que, de logo, mostra que os diversos tipos ainda nao tiveram oportunidade de ascender aos cstratos superiores da estrutura de classes. Se, A base das descrigdes da sociedade baiana no passado, pudessemos organizar um quadro da mesma natureza, veriamos que a “alta sociedade” e as profissées de prestigio de ha cincoenta ou oilenta anos alrits cram muito menos misturadas, de que a parlicipagao de individuos mes- grupos é uma velha tradicio brasi- se avaliar quanto se tem modificado, para melhor, a situacto dos grupos de eér, men- cione-se que por ocasigo do censo. nacional de 1872 u lolalidade dos escravos existentes na ci- dade eram analfabetos., Desde a-abolicdo da es- ‘alura em 1888, apesar de pouco se haver feito mente em benefieio dos libertos, estes pro- grediram a tal ponto que hoje mais de 50 por cen: (®) Média de diversas profissies ‘liberais. oe [oon] Poe [nee AS REITES DE COR 197 to dos pretos ¢ mais de 60 por cento des. pardos acima dos 5 anos de idade estio. alfabetizados, ¢ ‘© miunero dos mesmos cresce anualmente nos cur- sos secundiiios e superiores, abrindo caminho para as profissdes liberais, em que j se contam em proporedes varidveis. Ha que csclarecer ainda que entre os chama- dos “brancos” existem muitos mestigos claros que so considerados socialmente braneos e que as pessdas de cér, mesmo as mais escuras e de tragos negroides mais evidentes, so tratados co- mo quaisquer outras da sua posicao social. As relagdes inter is so, ademais, reguladas por cert8 fair play; em outros termos os mores bahia- nos reprovam as discriminagées confessadamente motivadas por intolerancia racial ou preconceito de cor, Um outro aspeto da dinamica e da psico- logia social bahiana é que tanto os antagonismos de classe, quanto os de cor, sdo atenuados por processos de acomodacio reciproca entre os gru- pos ¢ pelo desenvolvimento, entre brancos e es- euros, do tipo de personalidade “cordial” e “ma- cia”, que alguns autores consideram caracteristi- ca do povo brasileiro e cujo prototipo seria o bahiano, AS facilidades para a ascensig social das pes- sdas de cor esto aumentando na Bahia; segundo a opiniao de muitos informantes, continuarao au- mentando, a menos que a mudanca cultural, sob a influ das ndustrializac: (ho das jazidas de pe imento de encrgia cl ica das usinas hidrau- 198 ‘THALES DE AZEVEDO licas em construgio, produza uma sensiyel modi- fieagdo do ethos bahiano. ¥ importante registrar que, até éste momento, « principal canal de ascensio social, através 0 qual grande numero de pretos e mesticos tém ad- guirido’ status elevado, é a educacio no duplo sen- tido de boas maneiras ¢ de uma instrugio de ele- yado nivel, além da adesao aos mores © concep- ¢Ges da cultura dominante, o que, em iltima ana- lise, é um problema de aculturagio ou de mais completa integragio das massas de cér na socie- dade dominante, Um dos mecanismos que faci- litam essa integracdo é a protegio e a ajuda que muitos padrinhos e madrinhas proporcionam aos seus afilhados de cér, educando-os em suas pré- prias casas ou pelo menos obtendo-Ihes empregos ou encaminhando-03 aos estudos secundirios e superiores e, muitas vezes, continuando a orienti- los ¢ a protegé-los. Essa é mesmo uma das prin- cipais fungées de tal sistema de parentésco espi- ritual. Os grupos dominantes que constintuem os estratos superiores da sociedade bahiana nfo o- pom resisténcia organizada Aquelas tendéncias ¢, em coeréncia com o fundo liberal da sua mentali- dade, consideram-na_uma evidéncia de progresso moral ¢ de “civilizacio”, de que em geral os baia- ‘aos de todos os tipos tém muito orgulho, ANEXOS

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