Discentes de Geografia da modalidade EaD e sua relação com a
tecnologia digital: perfil inicial e plano geral.
Palavras-chave: Educação a Distância; Tecnologia; Discentes.
Introdução
A busca por novos caminhos para o desenvolvimento dos indivíduos e
da sociedade, como um todo, perpassam a Educação. Hoje um desses caminhos é, sem dúvida, a Educação a Distância (BELLONI, 2002). Em um contexto contemporâneo de instabilidades e incertezas, conforme nos adverte Lipovetsky (2009), conhecer as diferentes realidades e demandas dos discentes de uma instituição de ensino é primordial.
Assim, é corriqueiro ouvir que a Educação a Distância mediada pelas
Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação (TDIC) está transformando os processos de ensino mundo afora. A eliminação das restrições espaciais, em ambientes moldados e utilizados digitalmente, implica numa diversidade de perspectivas, perfis e demandas regionais que caracterizam os alunos dessa modalidade de ensino.
Primeiramente, conhecer a realidade do discente e sua relação com os
mecanismos tecnológicos de ensino faz emergir possibilidades adaptativas para a melhor formação dos profissionais e permite compreender as diferenças e vocações das diversas regiões atendidas pelas instituições de ensino do País.
Desse modo, o presente artigo se apresenta como parte da
disseminação de dados de projeto de pesquisa que visa o levantamento das demandas regionais específicas de tecnologia, em conformidade com a percepção dos alunos dos cursos de licenciatura representados. Do mesmo modo, abona a compatibilização das demandas evidenciadas com as competências típicas dos cursos de licenciatura e das demandas da comunicação digital. Assim, o presente trabalho atua na especificação do perfil dos alunos e das localidades/polos ligadas ao EaD de uma instituição privada, no curso de Licenciatura em Geografia, possibilitando a elaboração de perspectivas e metas adequadas às realidades regionais, com vistas à otimização da aprendizagem e à construção de competências profissionais relevantes localmente.
Além das questões que orbitam o acesso e o ingresso no ensino
superior, o aspecto da elegibilidade do ensino a distância atrai até mesmo estudantes adultos que enxergam, nessa modalidade, a chance de capacitação e aprimoramento profissional (LEMOS, 2002).
O avanço da tecnologia digital no cotidiano tem reforçado o espaço da
educação a distância, através de ações que visam ao atendimento das demandas locais, regionais e nacionais para a formação profissional (SILVA, 2011).
Esse cenário é resultado da crescente demanda por melhores
competências profissionais (DZIEKANIAK, ROVER, 2011). Nesse sentido, é mister apontar que algumas universidades também oferecem cursos de pós- graduação on-line que permitem aos alunos a especialização certificada em áreas específicas.
Há certo consenso de que as tecnologias instigam o aprendizado
através da hipertextualização da leitura, do acesso rápido a conteúdos multimidiáticos e pela capacidade interativa que proporcionam. Pierre Lévy (1993) diz que "Novas maneiras de pensar e de conviver estão sendo elaboradas no mundo das telecomunicações e da informática. [...] Escrita, leitura, visão, audição, criação, aprendizagem são capturados por uma informática cada vez mais avançada" (LÉVY, 1993, p.4). Por sua vez, José Manuel Moran (2000) ressalta as possibilidades que as redes digitais representam para o processo de ensino, sinalizando a dinamização das aulas, através da pesquisa e da interação. Desse modo, a tecnologia deve estabelecer uma "mediação facilitadora do processo de ensinar e aprender participativamente" (MORAN, 2000, p. 56). A Educação a Distância tem sido entendida como uma oportunidade para a melhoria dos indicadores da educação, brasileira e global, de modo a dar resposta às direções apontadas pelos órgãos internacionais ligados ao ensino.
No entanto, no intuito de responder aos dispositivos internacionais de
melhoria e ampliação dos indicadores de ensino, a tecnologia surge como qualquer tipo de panaceia, capaz de suprir boa parte das obrigações impostas aos administradores públicos, nos mais diversos contextos. Essa configuração implica numa dependência cada vez maior dos dispositivos tecnológicos que, paradoxalmente, dão maior liberdade ao aluno.
Objetivo
Como objetivo geral, o presente trabalho visa compreender as relações
entre os discentes, as tecnologias educacionais e as suas respectivas demandas regionais. Como objetivos específicos, pretende compreender as relações entre discentes e as tecnologias digitais voltadas para a educação e apresentar as dificuldades e oportunidades da relação entre os discentes e as tecnologias educacionais em face das realidades locais. Nesse sentido, essa apresentação se limita a traçar um perfil inicial e plano geral dos dados coletados.
Material e Métodos
Para atender ao assunto proposto realizou-se uma pesquisa descritiva
exploratória quantitativa analítica. Como instrumento específico de coleta, de modo a verificar as informações requeridas, foi utilizado um questionário composto por 20 questões sobre aspectos relacionados à utilização de dispositivos computacionais e a sua integração nos processos de aprendizado contíguos à formação no ensino superior, adaptados da pesquisa seriada TIC Educação, realizada pelo CETIC.Br (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação), órgão do CGI.Br (Comitê Gestor da Internet no Brasil). Além de dados indicativos do perfil dos respondentes, as perguntas trataram da utilização de dispositivos digitais de acesso à internet; da utilização de programas e aplicativos; das condições de acesso à rede mundial de computadores; da utilização de redes sociais digitais; do tempo gasto no acesso à internet; e das percepções acerca da oferta e demanda de tecnologia nas suas respectivas regiões. Para assegurar uma amostra probabilística aleatória simples da população alvo, que atribui a cada elemento da população igual chance de ser selecionado, elegeram-se acadêmicos dos sete semestres do curso de Geografia, na modalidade Educação a Distância (EaD), de uma instituição privada de alcance nacional. Os questionários foram organizados por meio eletrônico (Google Forms) e distribuídos, através de hyperlink, no período de setembro a novembro de 2017.
Resultados e Discussão
Entre 4 de setembro e 17 de novembro de 2017, foram aplicados 696
questionários. A aplicação eletrônica serviu como facilitador para a coleta e organizou a tabulação dos dados aqui apresentados. Excluindo-se os que não completaram as informações solicitadas, resultaram em 637 respostas. Em relação ao perfil dos respondentes, 63% são mulheres e 37% são homens. Perfazendo, respectivamente, 401 e 236 respondentes. Os dados corroboram a perspectiva de que, no caso brasileiro, “o lento processo de mudança dos padrões culturais de gênero diminuiu as tradicionais barreiras com a entrada das mulheres no mercado de trabalho, reduziu a taxa de fecundidade e elevou continuamente a escolaridade das mulheres nas últimas três décadas” (IBGE, 2014, p. 94). Quanto ao número de respondentes, 30% indicaram cursar os três primeiros semestres do curso de Geografia, enquanto 24% indicaram cursar o quarto semestre e os 46% restantes indicaram entre quinto e sétimo semestre. A amostra revela uma divisão equânime, todavia, se observados na especificidade de cada semestre, é destacar algumas disparidades, como a diferença entre os respondentes de sexto (29%) e sétimo semestres (2%), por exemplo. Uma vez que a participação na pesquisa é voluntária, essa diferença pode ser explicada em face dos interesses específicos dos discentes do ensino superior de acordo com o momento do curso em que estão. No caso específico do sétimo semestre, é notório que os alunos tendem a valorizar as atividades obrigatórias e que impactarão no seu objetivo imediato que é a conclusão do curso. Desse modo, os alunos entre o quarto e sexto semestres compõem parte significativa da amostra aqui apresentada, 68%, mais de dois terços dos respondentes.
Dados da pesquisa, 2018.
Quanto à localidade em que vivem, 80% dos entrevistados afirmaram
habitar em áreas urbanas. Inversalmente, um quinto dos respondentes declarou habitar em zonas rurais. Esse dado é bastante significativo quando constatada a continuidade do esvaziamento demográfico das áreas rurais. Essa tendência, ainda que mais lenta do que as décadas anteriores, continua. Enquanto a população urbana aumentou 2,5% por ano nos anos 1990 e 1,6% nos anos 2000, a população rural diminuiu de 35,7 milhões de pessoas em 1991 para 29,7 milhões em 2010. Desse modo, a hipótese geral que orbita o deslocamento das pessoas do campo para as cidades coloca em cena as transformações produtivas que impulsionam os deslocamentos dos trabalhadores. O desenvolvimento das habilidades e competências que projetam melhores condições de vida e trabalho está associado à capacidade de formação intelectual e profissional, proporcionada pelo contexto econômico e social. A concentração de instituições de ensino superior nas áreas urbanas, todavia, não impede o deslocamento semanal de alunos para os polos da instituição pesquisada, realidade comum aos alunos consultados. Destarte, a oportunidade que a Educação a Distância representa para a população rural é um indicativo de que a tecnologia digital já atua na transformação das realidades sociais e geográficas locais, favorecendo o acesso ao ensino superior, ao desenvolvimento pessoal e profissional. Se considerada a relação de respondentes nas cinco regiões do país, há predominância da região Sudeste (32%), enquanto Sul (25%), Nordeste (20%) e Norte (17%) representam, na média, um quinto dos respondentes cada um, a região Centro-oeste concentra apenas 6% dos discentes consultados.
Dados da pesquisa, 2018.
Se comparado à totalidade das instituições de ensino superior no
Brasil, a porcentagem de respondentes dessa destoa, contudo, pouco se altera na ordem das regiões em relação às porcentagens de alunos/IES. A região sudeste, por exemplo, tem 47% das IES nacionais e perfaz 32% dos respondentes. Se os valores se alteram, em qualquer um dos casos a região sudeste demonstra uma maior concentração de IES e, consequentemente, de discentes. Nesse caso, específico, é preciso considerar também que, no período entre 2012 e 2013, cresceu 3,9% a matrícula nos cursos presenciais e 3,6% nos cursos a distância. Assim, os cursos a distância já representariam, naquele período, 15% na matrícula de graduação do país. Quanto aos dispositivos utilizados no acesso à rede mundial de computadores, há notória predominância do uso de smartphones, corroborando as perspectivas que apontam para o crescimento expressivo número de dispositivos móveis, em detrimento de outros dispositivos. 62% dos respondentes afirmou utilizar o smarphone para acessar a internet, enquanto os tradicionais computadores de mesa representam apenas 19% das indicações, seguido do computador portátil (15%). Todos os outros dispositivos mencionados representam apenas 4% das respostas e abarcam desde tablets, e televisões digitais, até a indicação do uso de computadores do polo institucional em que os alunos estão matriculados. De acordo com pesquisa nacional recente realizada pela Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro, 69% dos internautas afirmaram utilizar o celular para acessar a internet. Se comparado ao ano anterior, houve um aumento de onze pontos percentuais na indicação dos celulares, bastante expressivo para o prazo de doze meses. Quanto à frequência de acesso, 82% dos alunos consultados afirmaram acessar a internet pelo menos uma vez por dia. Desses, 30% utilizam a internet o dia todo e 35% acessam mais de uma vez por dia.
Dados da pesquisa, 2018.
Esse cenário pode dar a impressão de que todo o mundo está
conectado à internet. Contudo, é preciso antes considerar que os alunos consultados estão matriculados em cursos distribuídos e organizados, esencialmente, através da internet. De fato, a conectividade com a internet está disponível para menos da metade da população global. Em todo o mundo, apenas 40% da população usa a internet. Nos países desenvolvidos, esse número atinge 78% e em países em desenvolvimento é de 32%.
Conclusão
Nas primeiras décadas do século XXI, a Educação a Distância mediada
pelas tecnologias digitais da informação e comunicação configura-se como oportunidade para o desenvolvimento dos indivíduos e da sociedade. A oferta de cursos de ensino superior na modalidade EaD oportuniza a formação de profissionais para demandas regionais específicas. Contudo, num país de proporções continentais como o Brasil, as diferentes realidades sociais e econômicas se traduzem em condições distintas para o acesso à tecnologia digital, desde a oferta de dispositivos até a velocidade de acesso à internet. É nesse sentido que é primordial conhecer essas diferentes realidades e demandas dos discentes de uma instituição de ensino superior, dependentes da estrutura, dos aparatos e dos sistemas que congregam as atividades acadêmicas. Por meio de questionário eletrônico, alunos do curso superior de Geografia foram consultados acerca da sua relação com as tecnologias digitais. Das 637 respostas validadas, quase dois terços (63%) são mulheres. Os alunos entre o quarto e sexto semestres compõem parte significativa da amostra aqui apresentada (68%), mais de dois terços dos respondentes. Quanto à localidade em que vivem, 80% dos entrevistados afirmaram habitar em áreas urbanas. Desse modo, um quinto dos respondentes declarou habitar em zonas rurais. Se considerada a relação de respondentes nas cinco regiões do país, há predominância da região Sudeste (32%), enquanto Sul (25%), Nordeste (20%) e Norte (17%) representam percentuais próximos de um quinto dos respondentes para cada uma, a região Centro-oeste concentra apenas 6% dos discentes consultados. 62% dos respondentes afirmou utilizar o smarphone para acessar a internet, enquanto os tradicionais computadores de mesa representam apenas 19% das indicações, seguido do computador portátil (15%). Todos os outros dispositivos mencionados representam apenas 4% das respostas e abarcam desde tablets, e televisões digitais, até a indicação do uso de computadores de outrem. Quanto à frequência de acesso, 82% dos alunos consultados afirmaram acessar a internet pelo menos uma vez por dia. Desses, 30% utilizam a internet o dia todo e 35% acessam mais de uma vez por dia. A amostra aleatória aqui apresentada corrobora outras pesquisas já publicadas. As mulheres são maioria no ensino superior brasileiro. A parcela da população que ingressa no ensino superior é majoritariamente urbana. Contudo, o índice de respondentes que vivem em zonas rurais é expressivo. O celular é o principal meio de acesso à internet, suplantando dispositivos mais tradicionais como o computador de mesa e, até mesmo, o computador portátil. Quatro de cada cinco alunos consultados acessam a internet pelo menos uma vez por dia. A relação dos discentes consultados com a tecnologia digital é bastante íntima, uma vez que o sistema que congrega as atividades acadêmicas depende das questões estruturais e do aparato técnico característico. Pelos dados relacionados aos dispositivos e frequência de acesso à internet, compreende-se, inicialmente, que os sistemas que permitem acesso por meio de dispositivos móveis são mais atrativos, pois oportunizam a realização das atividades acadêmicas em lugares e momentos diversos. O celular aparece como centralizador de acessos à internet e foco para novas propostas pedagógicas inovadoras do ensino superior na modalidade EaD.
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