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Conceitos Basicos de SOCIOLOGIA aulo Gai Prod Editoragio: Conexdo Editorial Produgdo Editorial: Adalmrir Caparrds Fogd 5° Edigho— Revist Tradugdo: Rubens Eduardo Ferreira Frias rard Gi laura Dados Internacionais de Catalogago na Publicagio (CIP) a Brasileira do Livro, SP, Brasil) Weber, Ma, 1864-1920 | Concsitos bisicos de socio ttadugto de Rubens Eduardo Pet « Gerard Georges Delaunay ‘io Paulo : Centauro, 2002 ISBN 978-85-88208-26-1 Cincias sociais ~ Discursos,ensais, conferéncias 2. Weber, Max, 1864-1920 I. Titulo. cpp. indices para catalogo sistematico Weber, Max : Teorias : Sociologia 301 2008 CENTAURO EDITORA Travessa Roberto Santa Rosa, 30 02804-010 So Paulo - SP el 1] ~ 3976-2399 Tel Fax 11 ~ 3975-2203 E-mail: editoracentauro@terra.com br www centauroeditora.com.br SUMARIO Prefiicio Prefiicio da Editora Sobre o Conceito de Sociolo; “Sentido da Conduta Social Formas Caracteristicas de Ago Social OConceito de Relagao Social Tipos de Acao Social: Usos, Costumes O Conceito de Autoridade Legitima Tipos de Autoridade Legitima: Convengio, Lei A Validade da Autoridade Legitima: Tradigao, Fé, Lei OConceito de Luta Comunidade ¢ Sociedade das Relagdes Sociais Relagdes Sociais Abertas e Fechadas Responsabilidade pela Conduta Social Representacao O Conceito de Associacao e Seus Tipos Tipos de Autoridade Numa Associagio A Natureza da Autoridade Administrativa e Regulamentadora nas Associagdes A Natureza da Associagio: Associagiio de Empresa, Associagtio Voluntéria e Compulséria Os Conceitos de Poder e Dominagio Tipos de Associacies Politicas e Religiosas PREFACIO. A metodologia sobre a qual se baseiam estes conceitos introdut6rios pode parecer abstrata e, portanto, algo distante da realidade. Contudo, nao se pode dispensar a esmo estas ‘considerages metodolégicas, embora nio exista nenhuma reivindicacZo quanto & sua originalidade; em vez. disso, sua meta ¢ formular uma terminologia mais utilizdvel, bem como mais correta, para conduzir claramente o verdadeiro signifi- ado de qualquer ciéncia social empitica em sua preocupa ‘eo com conceitos semelhantes. Isto sera verdadeiro mesmo ‘onde termos novos e niio-familiares forem empregados. Por esta razdo, poder’, ocasionalmente, soar como algo pedante. No en‘anto, comparado ao ensaio Logos IV (1913, pags. 253 € segs, reimpresso em Ges. Aufs. z Wissenschafislehre, 2° igs. 427 e segs.) a terminologia tem sido simplificada Guando possivel e tem sofrido, portanto, freqtientes mudan- 8, de modo a torné-la mais facilmente compreensivel. Co- Mo a exigéncia de maior simplicidade nem sempre pode Coneiliar-se com a de conceituagdo mais precisa, esta tiltima deve, ocasionalmente, se submeter & primeira. No que concerne ao conceito de “compreensiio”, com- Pare-o A Allgemeine Psychopathologie, de K. Jaspers, bem Como a algumas observagdes de H. Rickert na 2 ed. de Grenzen der Naturwissenschafilichen Begriffsbildung (1913, Pigs. 514-523) e, especialmente, aos Problemen der Geschi- ehtsphilosophie, de Simmel, Como em algumas ocasiées anteriores, encaminho, metodologicamente, ao exemplo de MAX W F, Gottl, cujo livro Die Herrschaft des Wortes é, com certeza extremamente dif en. volvido plenamente; também pertinente, em substancia, é o excelente trabalho de F. Toennies, Gemeinschafi und Gesells: chaft. Além disso, existe 0 enganoso trabalho de R. Staem: mler, Wirtschaft und Recht nach der Materialistischen Geschichtsauffassung, juntamente com minha andlise critica XXIV, 1907 (reimpresso Wissenschaftslehre, 2 ed., pa il de entender e parece nio ter sido de dele em Archiv f. Sozialwissensc em Ges. Auf Esta andlise critica j4 continha algo do que vem a se s. 192 € segs.) tir. Eu me distancio da metodologia de Simmel (em sua Soziologia e em sua Philos. d. Geldes), distinguindo quando possivel o significado essencialmente subjetivo do objetivamente vali do; estes dois termos nao foram suficientemente diferencia- dos por Simmel, mas so usados por ele de modo deliberado © com freqiiéncia como sugerindo sua permutabilidade. Max Weber PREFACIO DA EDITORA ‘Ao morrer, em julho de 1920, Max Weber deixou uma grande quantidade de estudos incompletos. O Wirtschaft und Gesellschaft (Economia e Sociedade) que Weber comecou a eserever em 1907 constitui-se na obra que mostra a amplitu- de do seu conhecimento e do seu pensamento. Para servir de introdugio aos seus trabalhos, Weber preocupou-se em ofe- Teeer uma série de definigdes baseadas nas suas pesquisas empiricas. Portanto, essas definigdes jit haviam sido testadas € podiam ser consideradas como formulagdes preliminares Para uma ciéncia geral da aciio social. A primeira versio desses conceitos foi apresentada na Fevista Logos, Vol. IV, em 1913. Mais tarde ela foi reelabo- fada por Weber pouco antes de sua morte ¢ publicada pos: {imamente como o capitulo primeiro de Wirtschaft und Gesellschaft (em Gundriss der Sozialekonomik, parte III. Tiibingem, 1925), que a Centauro Editora traduz agora para © piiblico de lingua portuguesa. f A influéncia de Weber sobre 0 desenvolvimento das H€Neias sociais ¢ evidente nos trabalhos cientificos de autores “ome Talcott Parsons, Hans Morgenthau, C. Wright Mills, R H- Tawney, Vance Packard, entre tantos outros. O trabalho de Weber permaneceri memorivel pelas suas exploracaes de Pioneiro nas éreas da Sociolo; Contribuicio geral para o alargamento dos horizontes dos Estudos modernos. Weber elevou a Ci ncia Social do mundo Seidental p; Hist6ria, Politica e pela sua ara o nivel da verdadeira pesquisa e erudigao. Ele ~~ 10 MAX WEBER, reclamava amargamente que, ao menos durante a sua vida, ‘a maior parte do que passa hoje sob 0 nome de sociologia é fraude”. Que isto nio seja mais verdade se deve principal mente a Max Weber e seus discipulos. Karl Jaspers in Max Weber, Deutches Wesen, na pagi- na 70, menciona “a depreciagdo de Weber pelo seu papel de sdbio e filésofo através da sua linguagem. No primeiro con- tato com o texto de Weber, o leitor é surpreendido com o contraste entre o seu pensamento penetrante, sua conceituali- zagio incisiva, seu raciocinio cuidadoso © sua indiferenga com 0 seu trabalho expressada através da forma, da compo: sigdo, dimensio e proporgio da sua linguagem. Weber nunca trabalhou seu estilo. Ele escreveu demonstrando intensa ati vidade cerebral ¢ poder de imaginagdo e nunca poliu esse material. Portanto, o estilo é freqtientemente incolor, mas, mesmo assim, as caracteristicas weberianas esto sempre presentes”. Eric Voegelin, cuja posigao teérica é diametral- mente oposta a de Weber (ndo se pode encontrar uma critica mais mordaz a Weber do que a que esta em The New Science of Politics, Chicago, 1952, de Voegelin), chama-o, mesm¢ assim, de “um pensador que queria clareza sobre 0 mundo do qual apaixonadamente participava; que estava novamente na estrada em diregio a esséncia”. Outro grande oponente de Weber, 0 Professor Leo Strauss, da Universidade de Chica- g0, afirmou: “Quaisquer que possam ter sido seus erros, ele & © maior cientista social do nosso século”” SOBRE O CONCEITO DE SOCIOLOGIA EO “SENTIDO DA CONDUTA SOCIAL” © termo “sociologia” esta aberto a muitas interpreta- ges diferentes. No contexto usado aqui significaré aquela Gigncia que tem como meta a compreensio interpretativa da agio social de maneira a obter uma explicago de suas cau: Sis, de seu curso e dos seus efeitos. Por “ago” se designard foda a conduta humana, cujos sujeitos vinculem a esta ago lum sentido subjetivo. Tal comportamento pode ser mental ou exterior; poderd consistir de ago ou de omissio no agir. O termo “aco social” sera reservado 3 aciio cuja intengo fo- Menlada pelos individuos envolvidos se refere & conduta de ules, orientando-se de acordo com ela. Fundamentos Metodolégicos 1. A palavra “sentido” & usada aqui em duas ocasides diferentes. Primeiro, existe a conduta r fico em uma dada situacio histérica ou a aproximacio gros- Seira baseada numa dada quantidade de casos, envolvendo Militos atores; e, em segundo lugar, hd o “tipo ideal” concei- {ual de sentido subjetivo, atribufdo a um ator hipotético num ado tipo de conduta. Em nenhum dos dois casos pode ser lusado como um sentido objetivamente “vélido”, ou um sen- lido *Verdadeiro”, estabelecido metafisicamente. Reside aqui A distinedo entre as ciéncias empiticas da ago, tais como a Sociologia e a Historia e as disciplinas ortodoxas, tais como Turisprudéncia, a Logica, a Etica ou a Estética, cujo propé de um ator especi- ~~, MAX WEBER sito € determinar o significado “verdadeiro” e “valid” dos objetos de sua anilise, 2. A fronteira entre uma ago com sentido ¢ uma agio meramente reativa (isto &, sem um sentido subjetivo elabora ificativa de toda a conduta sociologicamente relevante, principalmente a agic abaixo), flutua entre os dois Uma ago com sentido, isto é, subjetivamente compreensi- do) € extremamente ténue, Uma parte si puramente tradicional (veja vel, ndo se dé em muitos casos de processos psicofisicos, ¢ em outros, s6 € reconhecida pelo especialista; experiéncias misticas que niio podem ser comunicadas adequadamente em palavras nunca so inteiramente compreensfveis para alguém nao suscetivel a tais experiéncia Por outro lado, a capacidade de realizar uma agiio seme Thante nao é uma condigao prévia para a sua compreensio: “ésar a fim de compreender César”. Ser nilo € necessério “ser capaz de colocar-se no lugar do ator & importante para a clare- za da compreensio, mas nao é uma condigdo prévia absoluta para a interpretagdo do sentido. As partes compreensiveis & nio-compreensiveis de um proceso freqiientemente esto inextricavelmente interligadas. 3. Toda interpretagaio, como a ciéncia em geral, luta pela clareza e provas verificéveis. Uma tal prova de compre ensio serd ou de um carter racional, isto 6, 16 gico ou mate- mético, ou de um cariter emocionalmente empético. artisticamente aprecis na esfera da ago por um claro dominio intelectual de tudo 0 que esté dentro de seu pretendido contexto de sentido. A prova empatica na esfera da ago sera suprida por uma com- pleta participacao na conexdo de sentimentos nela vivida. el. Pode-se suprir uma prova racional Inteligibilidade direta © nao ambigua é compreensio racional da mais alta ordem, especialmente em proposigdes matemé ticas ou logicamente relacionadas. Entendemos claramente quando alguém usa a proposigio 2+2: ou 0 teorema pita CONCEITOS BASICOS DE SOCIOLOGIA jocinio ou argumento, ou quando uma cadeia de gorico no aciocinio 6 executada logicamente, de acordo com maneiras goeitas de pensar. [gualmente entendemos as agdes de uma pessoa que tenta alcangar determinada meta escolhendo os tmeios apropriados, se os fatos da situagdo em que se baseia para fazer sua escolhia nos sio familiares. Qualquer interpre {ago de uma aco com tal propésito racional possui — para tum entendimento dos meios empregados — o mais alto grau de prova. Nio com a mesma exatidiio, mas com exatidio Sifficiente para a maioria dos propésitos da explicagio, é possivel entender erros (incluindo problemas intrincados) 0s cuais nds prdprios somos suscetiveis ou cuja origem po- de ser detectada por auto-andlise simpitica, Por outro lado, MWitas metas ou valores iltimos para os quais a experiéncia demonstra que a agio humana pode ser orientada, freqtien femeate, nao podem ser entendidos como tais, embora seja Possivel dominé-los intelectualmente. Quanto mais radical- Mente se diferenciam de nossos préprios valores tiltimos, mais dificil se torna para nés entendé-los por participagio empatica. Dependendo das circunstincias de um caso parti: Cilla, deve ser suficiente conseguir apenas uma compreensio Plramente intelectual de tais valores, ou na auséncia disto, uma simples aceitacio deles como dados. Até onde for pos- Sivel, a conduta motivada por estes valores deve ser entendi- da ‘com base em quaisquer possibilidades de uma interpretagao simpética emocional e/ou intelectual dos dife- Fenles estdgios de seu desenvolvimento. Deste tipo sio mui- 108 alos virtuosos de religidio ou piedade que Incompreensiveis aqueles no suscetiveis a tais valores, bem £oM0 0 fanatismo racional extremo, tipico dos expoentes das teorias. dos sio totalmente “direitos humanos”, repugnantes aqueles que €nfaticamente os repudiam. fora ttt? mais cresce nossa suscetibilidade, mais fécil se Fain “*Petimentarmos paixdes to verdadeiras como medo, MA; AmbicIo, inveja, citimes, amor, entusiasmo, orgulho, _, 14 MAX WEBER ving nga, compaixio, devogiio e outros desejos de todo tipo, m. Mesmo quando 0 grau de intensidade em que estas emogdes siio encontradas ultrapassa em muito nossas prdprias poten de compreenstio experiencial, podemos ainda compreendé-las em seu sentido e calcular intelectualmente bem como © comportamento irracional que deles prov Jo € os meios da agdo. Para fins de a, serd conveniente represen- tar todas as conexdes de sentido irracionais e emocionalmen te condicionadas como desvios de um tipo de conceitualmente puro, orientado para fins. Por exemplo, uma andlise de uma crise na bolsa de valores seria tentada da forma mais conveniente, da seguinte maneira: primeiro, a determinagao de como teria sido seu curso na auséneia de seus efeitos sobre a dire uma anilise cientifica sistema agao fatores irracionais; segundo, usando 0 antecedente como premissa hipotética; os componentes so entiio isolados co- mo um “desvio” da norma, Da mesma maneira, a determina ¢o do curso racional de uma campanha politica ow militar precisa primeiro efetuar-se & luz de todas as circunst metas conhecidas dos participantes. Somente entio ser4 pos- sivel dar conta do significado causal de fatores irracionais Ancias e como desvios do tipo ideal, A construgio de uma agdo rigorosamente racional, de acordo a afins, por causa da sua clara inteligibilidade e falta de ambigtlidade racional, serve & sociologia como um “tipo ideal”. Assim somos auxiliados em nossa compreensio da maneira pela qual a ago real orientada de acordos afins é influenciada por fatores irracionais de todo tipo (tais como emogio, erros) € que podem entio ser classificados como desvios da ligao original hipotética Somente neste aspecto e por causa da eficiéncia meto- dolégica pode 0 método da sociologia ser considerado “ra: cionalista”, Naturalmente, este procedimento nao pode ser interpretado como um preconceito racionalista por parte d sociolog i0 metodoldgico. mas simplesmente como um m CONCEITOS BASICOS DE SOCIOLOGIA Is >_, INao pode também ser considerado como evidéncia do pre- dominio do racionalismo na existéncia humana. A extensio fem que a realidade do racionalismo determina de fato a con iduta nao ser considerada aqui. Nao se nega o perigo de in- ferpretagdes racionalistas nos lugares errados. Infelizmente. toda a experiéncia confirma a existéncia de um tal perig 4, Por outro lado, certos processos e fendmenos “sem Sentido” (isto ¢, desprovidos de significado subjetivo) exis fem em todas as ciéncias da ago humana. mulos, ou efeitos, e promovem ou inibem a conduta humana, Uma aco “sem sentido” nao deve ser confundida com um comportamento inanimado ou ndo-humano. Todo artefato {por exemplo, uma maquina) adquire o sentido que the foi Wado pela sua produgdo e uso, por parte da ago humana; um fal seatido poderd ser perfeitamente variado em seus propési 0s. Mas, se no se referir a um tal sentido, o objeto perma iece completamente ininteligivel. O que faz este objeto ininteligivel 6 sua rela Gio humana em seu papel de meio ou finalidade. E deste felacionamento que o individuo pode reivindicar ter consci- @neia € ao qual sua conduta tem sido orientada. Somente nos fermos de tais categorias é que surge uma compreensio de Objetos deste tipo Agem como esti Jo. com a Por outro lado, todos os processos ou condigdes per- manecem “sem sentido” se nao podem ser relacionados a um Proposito significativo; quer sejam inanimados, humanos ou Mio-humanos, Em outras palavras, sao vazios de sentido se HAO podem ser relacionados & ago em seu papel de meio ou inalidade, mas operam simplesmente como estimulos, seja Tiberaado ou inibindo tal acai E possfvel, por exemplo, considerar 0 rompimento do Rio Dollart, em 1227, como um poderoso estimulo aos mo- MmMentos migratsrios subsequientes. O processo da decompo- SISO, na verdade o ciclo orginico da vida por completo da incapacidade da crianga & do velho — obtém seu momen to sociolégico primdrio das diversas maneiras pelas quais o comportamento humano se tem condicionado a estes fatos Certos fendmenos psfquicos ou psicofisicos, tais como o cansago, a disciplina ea meméria, devem ser vistos como mais uma categoria de fatos vazios de significado, bem como estados tipicos de euforia causados por certas condigdes de autopunigio, ou variagdes tipicas nas reagdes de individuos dependendo do tempo, precistio e natureza. Em diltima andli se, o principio a ser observado € o mesmo de outros fendme- nos ininteligiveis: prové observador eo participante. E totalmente possivel que no futuro a pesquisa possa ma fonte de “dados” para ambos, descobrir uniformidades nao-inteligiveis sob aquilo que pa- recia ser, até entdo, agdo com sentido, embora isto nao tenha ocorrido até agora, Por exemplo, diferengas em caracteristi cas biolégicas h erdadas (raciais) devem ser aceitas pela so- ciologia da mesma maneira como os fatos fisiolégicos da necessidade da nutrig&o ou os efeitos da senescéncia sobre comportamento humano. Tais dados deveriam ser aceitos apenas, € claro, até 0 ponto em que provas estatisticas con clusivas pudessem ser supridas sobre a sua influéncia na ago sociologicamente relevante. O reconhecimento de tal significancia causal ndo mu- daria nem um pouco a tarefa da sociol preta mer a, que é a de inter a conduta humana inteligivel. O resultado seria mente introduzir em certos pontos das suas conexdes de motivos ininteligiveis e interpretiveis, fatos no compreen: siveis como, por exemplo, as relagdes tipicas existentes entre a freqtiéncia de certa agio orientada afins ou o grau da sua racionalidade e o indice encefalic quer outta caracteristica fisiolégica herdada. ou cor de pele, ou qual A compreensiio pode compreensio direta empirica do significado de um dado ato de dois tipos: primeirc CONCEITOS BASICOS DESOCIOLOGIA 17 {inclusive um pronunciamento verbal). E neste sentido que Seompreendemos” (isto é, diretamente) o significado da pro. posigio de que 2x2=4, quando o ouvimos ou lemos. Experi- mentamos aqui a compreensao direta, acional de uma idéia, Da mesma maneira, compreendemos um acesso de raiva o facial ou movimen- lexpressada por exclamacSes, expressi fos irracionais. Trata-se de compreensiio direta empirica de Teagdes emocionais irracionais e pertence & mesma categoria ue a observacio da agio de um cortador de madeira, ou alguém que estende a mao para uma maganeta para fechar a porta, ou que aponta uma arma a um animal. Trata-se de ob- Sservacdo empirica racional do comportamento. ‘A compreensiio pode também ser de uma segunda es- pécie, ¢ esta ¢ conhecida como compreensao explicativa. Somos capazes de entend firma que 2x2=4 (oralmente ou por escrito) precisamente Him momento particular e sob uma série determinada de Gireunstancias. Tal compreensao pode ser obtida se a pessoa Sob observacio esté empenhada em alguma tarefa de conta Bilidade ou alguma demonstracio cientifica ou algum outro Pfojeto do qual esta tarefa é uma parte essencial. Trata-se de Compreensio racionalmente baseada da motivagio, isto é, 0 tO € Visto como parte de uma situagao intel PFeensio motivacional adiciona-se 4 observacional, se sabe- MOS que o apontar de uma arma se faz por diversiio e o corte 4 madeira por motivos econémicos. Ou, no caso anterior, 0 lo pode ser realizado para liberar certas emogdes contidas, ¢ Meste caso a conduta assume um carter irracional, ou porque @ Pessoa que aponta a arma recebeu ordem pra fazé-lo como Membro de um pelotio de fuzilamento, ou por estar atirando Sobre um inimigo (em quaisquer destes casos seu comporta- Mento € novamente racional), ou ainda porque est exerci- Hindo seu desejo de vinganca (caso em que reverte ao SOmportamento irraciona Malmente um os motivos de qualquer um que ivel. A com ). Por fim, entendemos motivacio- icesso de raiva se sabemos que sua causa ime- >_>, 18 MAX WEBER diata pode ser encontrada em citimes, orgulho ferido ou vai- dade magoada, todas causadas emocionalmente e, portanto, relacionadas a motivos irracionais. Em todas as situagdes acima, a agiio em questo pode ser designada como parte de uma seqiiéncia compreensivel de emogdes. Tal compreensdo pode set aceita como uma xplicagdo verdadeira do curso real da agiio. Para uma cién- cia que trata do verdadeiro significado da agio, a explicagao requer uma apreensio da conexao de sentido dentro do qual ocorre 0 curso da agao real, Em todos estes casos, mesmo os que envolvem processos emocionais, 0 sentido subjetivo dentro do contexto relevante de seu significado ser designa do como sentido “pretendido”; assim vamos além do uso comum, que considera intencional somente 0 comportamen- to (de propésito racional) orientado a meta. 6. Compreender significa, pois, em todos estes casos, compreensio interpretativa de: a) casos concretos individu- ais, como, por exemplo, na andlise hist6rica; b) casos mi dios, isto €, estimativas aproximadas, como na anélise sociolégica de massa; c) um tipo de construco cientifica- mente formulado de ocorréncia freqtiente. Construcdes tipi- cas ideais so, por exemplo, os conceitos e axiomas da teoria econémica pura. Demonstram como um dado tipo de ago humana ocorreria numa base estritamente racional, sem ser afetada por erros ou fatores emocionais e sendo, além disso, dirigida apenas a um fim tinico. A aco real s6 raramente toma este curso (por exemplo, na bolsa de valores) e mesmo assim aproximadamente, em sua correspondéncia a um tipo ideal (Sobre o propésito de tais construgdes, ver o que formu- lo em Archiv f. Sozialwissenschaft, vol. XIX, pigs. 64 e segs.; reimpresso em Ges. Aufs. z. Wissenschafislehere, pags. 190 segs.; ver também a parte 11 que vem a seguir neste livro). Certamente, toda interpretagdo esforga-se para conse- 2uir o maximo de verificabilidade. Contudo, nem mesmo a ‘CONCEITOS BASICOS DE-SOC 19 {nterpretagao mais verificdvel pode reclamar o carditer de ser casualmente vélida, Permaneceré apenas como uma hipétese particularmente plausivel. Assim, o que parece ser motivacio eonsciente para o individuo envolvido pode to somente ser- vir para esconder os motivos © represses mais profundas gue esto realmente na raiz da sua acio, invalidando desta maneira mesmo as tentativas mais sinceras de auto-anilise Num tal caso, torna-se tarefa da sociologia investigar o sen- tido mais profundo de uma tal motivagio e interpreté-la de modo correto, mesmo se esta motivagao nao tiver feito parte da agio consciente do individuo em questo: torna-se, por- {anto, um caso limite da interpretago de sentido, De novo, formas de agao que aos olhos do observador parecem compartilhar as mesmas caracteristicas ou caracte- risticas semelhantes podem basear-se numa variedade de motivos por parte do ator individual. Situagdes deste tipo, que parecem compartilhar algumas caracteristicas superfici- ais, devem ser interpretadas de forma bem diferente, mesmo Que isto leve a uma andlise conflitante. Por fim, os indivé duos envolvidos em qualquer situagao dada freqtientemente Tespondem a impulsos opostos, os quais podem ser todos Entendidos. Sabemos por experiéncia que nfo é possivel ava- liar sempre, mesmo aproximadamente, a forga relativa dos Motivos © muito freqientemente no podemos sequer estar €ertos de nossas préprias interpretagdes. Somente o resultado final do conflito nos prové uma base sélida de julgamento. A Verificagao da interpretagdio por seus resultados, ou seja, a decisio final do curso real dos eventos é, como na verdade €m todas as hip6teses, indispensdvel. Infelizmente, tais in terpretacdes verificdveis s6 podem ser obtidas com exatidio Telativa apenas em alguns poucos casos especiais, do tipo adequado a experimentacdo psicolégica, ou tendo como meta Um grau diferente de aproximagio, através dos dados estatis: ticamente quantificaveis dos fendmenos em massa. Quanto Ao restante, permanece apenas a possibilidade de comparar 21 20 MAX WEBER ata cONCEITOS uma quantidade maxima de processos hist6ricos ou fendme- dos profetas entre os persas) nfo se submete facilmente a tal nos rotineiros da experiéncia cotidiana e de aparéncia seme- prova. A verificagao pode ser obtida somente quanto con- Ihante, mas diferindo substancialmente em relagio ao fator duta dos persas em casos de vit6ria, como por exemplo em motivacional sob investigagéo, Esta é a tarefa fundamental Jerusalém, no Egito e na Asia Menor, e mesmo esta verifica- da sociologia comparativa. Infelizmente, permanece com Jo deve necessariamente permanecer incompleta em muitos freqiiéncia apenas 0 instrumento incerto de experimentos aspectos, O que prové a esta hipétese apoio tio forte é a sua Puramente hipotéticos, que desprezam certos elementos na marcante plausibilidade racional. Porém, o que falta a muitos cadeia de motivagio ¢ levam, ao invés, & construgdo de um de tais casos de interpretagées histéricas altamente plausiveis curso de eventos meramente provavel, que poderia empres- a possibilidade de que o tipo de prova adequado a este caso tar-se a uma atribuigdo causal seja ainda possivel. Sob tais circunstancias a interpretagao Por exemplo, 0 postulado conhecido como Lei de Gre- deve permanecer puramente hipotética. sham é uma interpretagao racional da conduta humana dentro de um dado contexto ¢ com base em uma hipdtese ideal de lum curso puramente racional. Em que extensiio a ago real segue realmente a Lei de Gresham podemos certificar-nos apenas com base em informagdes estatisticas concernentes a0 desaparecimento da moeda subvalorizada e de modo geral nossa experiéncia tem demonstrado a validade desta lei. Nes- te caso os dados foram primeiramente acumulados e segui dos da formulagio de uma generalizagao adequada. Mas sem ‘uma tal interpretagiio de sucesso nao poderiamos ter obtido 0 necessfirio para a compreensio causal verdadeira. Por outro lado, a auséneia de provas de que a aco inferida deste com- portamento ocorre com alguma regularidade faria com que uma lei, ndio importa quantas provas tedricas pudessem ser obtidas, fosse completamente sem valor para fins de andlise conereta. Neste caso a interpretagio teérica da motivagao © de sua verificagZio empirica demonstram considerdvel con- formidade e ha uma quantidade suficiente de casos para que se considere a prova satisfatoriamente estabelecida, Mas para usar outra ilustracio, a engenhosa teoria de~ senvolvida por Eduard Meyers quanto & significagio causal das batalhas de Salamina e Platéia na evolugao tini tura grega e ocidental em geral (Ele se baseia em fatos si tomaticos concernentes a atitude dos oriculos helénicos 7. A palavra “motivacZo”, tal como se usa aqui, refere~ se a uma conexilo de sentido que parece ser, para 0 individuo envolvido ou para 0 observador, 0 fundamento da sua condu- ta, Dizemos que uma conduta que se desenvolve como um todo coerente € adequada de sentido, na medida em que suas partes componentes articulam-se entre si, dentro do contexto de nossos modos costumeiros de pensamento e sentimentos, a ponto de constituir uma conexiio de sentido “tipica”. Ge- ralmente, a chamamos de “correta”, ao invés de tipica. Em contraste, consideraremos uma interpretagéo de uma sequ cia de eventos como casualmente adequada se, com base na experiéncia passada, parecer provavel que tomnaré a ocorrer sempre da mesma maneira. Um exemplo de adequagio de sentido pode ser encon- trado na soluco correta de um problema aritmético, se esti- ver de acordo com as normas aceitas de célculo e raciocinio. Por outro lado, uma interpretagzio causalmente adequada do mesmo fendmeno concerniria & probabilidade estatistica de que, alinhada com generalizagdes empfricas testadas, haveria ‘uma soluedo correta ou incorreta do mesmo problema, Em- bora aceitasse padres normativos vigentes, levaria em con- ta, também, erros ou confusdes tipicas. Explicagdes causais postulam, portanto, uma probabilidade raramente quantifies IAX WEI vel, mas sempre de alguma maneira calculvel, de que qual- quer evento observavel, manifesto ou subjetivo, vem seguido ou acompanhado de outro evento. Consegue-se uma interpretagdo causal correta de uma ago concreta, quando tal agiio manifesta e seus motivos fo- ram ambos corretamente estabelecidos ¢ se, ao mesmo tem- po, © relacionamento entre eles tornou-se inteligivel, de acordo ao seu sentido, Uma interpretagiio causal correta de uma ago tipica pode ser obtida quando este processo, desig- nado como tipico, demonstra oferecer uma adequagio de sentido e também pode ser demonstrada tanto significativa como causalmente adequado. Se nenhum sentido se liga a uma tal ago tipica, entiio, independentemente do grau de uniformidade ou de precisao estatistica da probabilidade, ela ainda permanece uma probabilidade estatistica incompreen- sivel, embora lide com um proceso manifesto ou subjetivo. Por outro lado, mesmo a adequagao de sentido a mais evi dente s6 sera causalmente significativa, de um ponto de vista sociolégico, se tivermos prova de que, com toda a probabili- dade, a conduta em questo tomard, de fato, a forma que foi considerada como adequada de sentido. Para que isto ocorra deve-se determinar algum grau de freqiiéneia de aproxima- Go de um tipo médio ou ideal. No presente contexto, uniformidades estatisticas cons tituem tipos inteligiveis de acio, isto é, generalizagdes socio- I6gicas, apenas quando manifestam o sentido subjetivo compreensivel de um curso da agio social. Novamente, s6 podem ser consideradas tipos sociolégicos de um proceso empitico aquelas construgdes racionais de conduta subjeti amente inteligivel que podem ser empiricamente observa das com ao menos uma certa aproximagio. Nao se trata, quase nunca, de que a probabilidade real de ocorréncia de um dado curso de comportamento seja sempre proporcional a clareza da interpretacao subjetiva. De qualquer forma, so- mente a experiéneia poderd dizer se isto seré sempre verda- TOS BASICOS DESOCIOLOGIA 3 de. E possivel, afinal, obter informagdes estatisticas sobre processos que so vazios de sentido, bem como daqueles que © tém: a quantidade de chuva, os indices de mortalidade, os fendmenos de fadiga e a produtividade das méquinas so bons exemplos dos primeiros, enquanto indices de criminali- dade, distribuigdes ocupacionais, estatisticas de pr tatisticas de produgao agricola so exemplos dos tiltimos; e somente nestes tltimos casos mostra-se possivel falar de estatisticas sociolégicas. Esta claro que ha muitos casos, co- mo as estatfsticas agricolas, que contém ambos os tipos de significado. 8. Processos ¢ regularidades que, por causa de sua inin- teligibilidade, nao so designados aqui como fendmenos Sociolégicos ou leis sociolégicas nio so necessariamente menos importantes por causa disto. Isto € verdadeiro também Para a sociologia em nosso contexto presente, implicando numa restri¢do a fendmenos subjetivamente compreensiveis que ninguém tem a obrigagio de aceitar. Eles sio simples- mente corsiderados numa categoria diferente da do compor- tamento significativo, o que é metodologicamente inevitivel, Assim tornam-se condig6es € estimulos, inibindo ou encora- Jando o ambiente em que a ago ocorre. 9. A “ago” no sentido da orientagio subjetivamente inteligivel da conduta existe somente como a conduta ‘de uma ou mais pessoas individuais. Para outros propésitos ana- liticos podera ser itil e mesmo necessério ver o individuo como um conjunto de células, ou um conjunto de reagdes bioguimicas, ou conceber a sua psique como composta por luma quantidade de clementos definidos de forma variavel. Certamente isto forneceria um discernimento precioso dos Telacionamentos causais. No entanto, nao compreendemos ealmente de forma subjetiva o comportamento destes ele- Mentos, como se expressa nestas regularidades. Nem sequer o caso de se tratarem de elementos psiquicos: quanto mais 24 MAX WEBER, cientificamente exatas sejam suas definigSes, menos 0s com: preendemos; eles jamais nos levam a uma interpretacdo nos termos de um sentido subjetivo, Mas para ambas, a sociolo- gia e a hist6ria, o objeto real de andlise deveria ser 0 sentido mais profundo de uma certa acio, © comportamento de eer- tas entidades fisioldgicas, como, por exemplo, as eélulas, ou de quaisquer tipos de elementos psiquicos pode, ao menos, ser observado em principio de tal maneira a conduzir & eria- lo de certos postulados aplicéveis a fendmenos individuais uniformes. Contudo, a compreensio subjetiva da agio sé aceita tais fatos e regularidades tanto quanto. reconhece quaisquer outros incapazes de interpretagio subjetiva, como, por exemplo, dados fisicos, astrondmicos, geoldgicos, mete- oroldgicos, geogrificos, botinicos, zool6gicos, anatOmicos, bem como tais dados relativos a psicopatologia, que estio sem significado subjetivo ou os das condigdes cientificas que possibilitam o progresso tecnol6gico. : ‘Ainda para outros propésitos de andlise, por exemplo, finalidades legais ou priticas, pode ser conveniente ¢ mesmo inevitavel tratar grupos sociais tais como o Estado, associa~ gies corporativas, coporagdes de negécios, e fundagdes co- mo se fossem pessoas individuais com direitos ¢ deveres ¢ como os executores de uma conduta legalmente significativa. Mas para interpretagdes. sociologicamente compreensivas tais organizagées si meramente o resultado da ago distinta de pessoas individuais, j4 que somente estas podem empe- nhar-se como agentes em qualquer espécie de agiio orientada por um sentido. Mesmo assim, 0 socidlogo, para seus props- sitos, no pode desprezar tais conceitos de coletividade que derivam de diferentes pontos de vista, pois a interpretagao subjetiva da ago estd relacionada a tais conecitos ao menos de trés maneiras diferentes. a) Uma tal interpretagao freqtientemente € forgada a trabathar com conceitos semelhantes (¢ mesmo idénticos) de forma a estabelecer uma terminologia inteligivel. Ambas, 10S BASICOS DE SOCIOLOGIA tanto a terminologia legal quanto a leiga, definem o Estado como um conceito legal ¢ um fendmeno de ago social no qual as suas regras legais séo relevantes. Entretanto, para finalidades sociolégicas 0 termo “Estado” nao consiste ne- ¢essariamente ou mesmo primariamente de componentes legalmente relevantes. De qualquer modo, a sociologia nao feconhece uma personalidade coletiva em aco. Quando a sociologia usa os termos “Estado”, “nado”, “corporagio”, “familia”, “divisio do exército” ou conceitos coletivos seme- Ihantes, 0 faz apenas para por em foco um certo tipo de de- senvolvimento de modos alternatives de ago social para pessoas individuais. Assim a terminologia legal, que é em- pregada aqui por causa de sua precisdo e uso comum, recebe um significado completamente diferente. 4) A interpretagio da ag3o também precisa levar em Conta um fato vital muito importante: estes conceitos coleti vos derivados de idéias legais, do sentido comum, ou de quaisquer oulras idéias técnicas, sao significativos para os individuos ou porque existem ao menos parcialmente ou Porque representam algo como uma autoridade normativa Isto no é verdade apenas para juizes e burocratas, mas para © piblico como um todo também. Os individuos orientam sua conduta em fungao daqueles conceitos que, desta manei- Ta, exercem com freqiéncia uma influéncia causal muito Teal, dominadora, sobre a ago destes individuos. Isto é ver- dade especialmente quando estes conceitos fazem parte de um padrao reconhecido, positivo ou negativo. O Estado mo- demo representa num grau consideravel um complexo de gtio harmoniosa por parte de pessoas individuais, porque Muitas pessoas agem na crenga de que ele existe ou deveria existir precisamente desta maneira, para promover validade legal A emisséo de suas ordens. Discutiremos isto a seguir. Embora fosse possivel para a terminologia sociolégica eli- minar estes conceitos de uso comum, nio sem certo pedan- 26 MAX WEBER tismo, ¢ substitui-los por novos termos mais indusivos, isto a fora de questo, a0 menos no presente contexto. . c) HA, finalmente, 0 método da assim chamada pene orginica de sociologia, da qual o brilhante wabalho de Schitle, Baw und Leben des Socialen Koerpers, representa um exemplo clissico. Esta escola tenta explicar a interagio social usando como sua premissa 0 “todo” (por exemplo, a economia) ao qual a agio do individuo é relacionada ¢ pois intrpretada, Este proceso ¢semelhante& maneira pela qual um fisiologista analisaria o papel de um érgio do art dentro da comunidade do organism, ou seja, como este 6 go contribui para a sobrevivéncia do restante do organismo. Néste’cotitexto pode’ ser lemibrada al famosa ‘rase'de ai fis ologisa durante um eminio: “Parigrafo X", disse ele, “0 Bago”. “Senhores, nio sabemos nada sobre o bago. Aper 2 isto para o bago”. Es elaro que se “conheciam” muita e sas sobre 0 bago, tais como posigdo, tamanho, forma etc.; somente suas “fungdes” nao podiam ser asseguradas e ele caracterizou esta auséncia de conhecimento como ignor cia. A extensiio em que outras disciplinas consideram esta forma de andlise funcional das partes de um todo como defi- nitiva no precisa ser discutida aqui; mas sabemos bem que formas de anilise bioquimicas e biofisicas nio se esgotam em uma abordagem funcional Para fins de andlise sociolégica uma tal abot importancia porque serve primeiro como um ponto de part- da conveniente para propésitos de demonstragio, bem como de orientaco proviséria. Desta maneira pode ser muito titil e mesmo necessaria — mas ao mesmo tempo, se 0 seu valor empitico for superestimado ou excessivamente concetualiza- do, as vantagens de uma abordagem assim estario perdidas. Em segundo lugar, pode ser a tinica maneira, sob certas cir- Cunstincias, de determinar exatamente que processos de agio Social so necessarios para a nossa compreensao de forma a =e explicar um fendmeno particular. I neste estigio que a tarefa real da sociologia, como nés a entendemos, comeca, Especialmente no caso das coletividades sociais, esta- ‘mos numa posic¢do de criar algo que vai além da demonstra. $20 dos relacionamentos. funcionais ¢ das regularidades Beralmente encontradas em organismos fisicos ou biolégi- ©os. Ao contrério do processo nas ciéncias naturais, pedemos obter aqui uma interpretagio subjetiva da agio dos indi duos diretamente envolvidos. Isto & assim porque as ciéncias haturais estdo limitadas & formulagiio de regularidades cau. Sais em objetos ¢ eventos e a explicacio de fatos individuais Por sua aplicagio. N6s realmente ndo “compreendemos” Comportamento das células, mas simplesmente reconhece. mos 0 seu relacionamento funcional, ¢ baseados nele intro. Guzimos uma generalizagdo. Este sucesso adicional. da explicacdo pela compreensio interpretativa, ao invés da mera Observacao empirica, € naturalmente obtido por um prego, ue ¢ 0 cariter essencialmente hipotético e fragmentirio dog Fesultados obtidos desta maneira, Mesmo assim, precisamen. fe esta espécie de compreensio subjetiva prové a andlise so- Giolégica de seu cardter diferenciado, Este nao ¢ também o lugar para discutir a extensiio em Gue © comportamento dos animais torna-se subjetivamente Compreensfvel para nés, ou o nosso para eles; uma tal com. Preensio ¢ altamente incerta, ¢ sua aplicagaio muito problema. fica. Mas até onde tal compreensio existe, seria concebivel formular uma sociologia das relagdes clo homem com os animais, quer domésticos ou selvagens. £ verdade, afinal, ave muitos animais “compreendem” ordens, raiva, amor, Agressividade, € nao reagem apenas instintiva e mecani frente, mas de modo conscientemente significativo e com base em experiéncias prévias, Nossa propria capacidade de \dentificar-nos com © comportamento de povos primitivos ficilmente é melhor. Mas no temos meios confiaveis de

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