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GRIVEL, C. Production de Vintérét romanesque. Patis/La Haye: Mouton, 1973. GUESPIN, L. smatique des travaux sur le discours politique. Langages. 23, sept. 1971 JENNY, L. Stratégie de la forme. Postique. (s1.J,n. 27, 1976. JAUSS, HR, Littrature médievale et théories des genres. Poétigue. [8.1], 1. 1, 1970. INTRODUCAO AOS PROBLEMAS DA COERENCIA DOS TEXTOS* (Abordagem te6rica e estudo das praticas pedagégicas) Michel Charolles “Anddvamos ¢ escapavam-the frases quase incoerentes. Apesar dos meus esforcos, mal acompanhava as suas palavras, limi- tando-me, enfim, em fixé-las. A incoeréncia do discurso depende de quem ouve. O espirito parece-me feito de tal forma le ndo pode ser incoerente para.si mesmo. Por isso néio me 4 classificar Teste como louco. Alids, percebia vaga- além do mais, eu teria wemido uma solugdo sim- (Paul Valéry, “Senhor Teste”) sob a + constituindo uma caso, essas desqualifi das avaliagdes lingifsticas pejorativas do tipo “fami gar”... que remetem a infragdes secundérias que no questio 0 sistema € que tém por efeito simples desclassificagoes Cinculto”, “provi Essa ordem normativa constitutiva implicita € explicitada pela gramética (de frase) que a reproduz teoricamente, consul do regras combinatérias sobre as quais repousa. A gram: substitui as discriminagdes ingénuas radicais por mateas apreci tivas teGricas (“gramatica/agramatical”), controlaveis ¢ eventual- mente apurdveis no interior do modelo is resultam. A sub- rogagio te6rica das avaliagdes pejorativas entra da mesma ‘maneira no campo da gramética, que troca as taxinomias ingénuas por taxinomias técnicas (“no padriio”, “semifrase”...) que so igualmente derivadas do modelo de base segundo procedimentos especiais apropriados. Tanto num caso como no outro, os julga- mentos de saida, engendrados pela gramética, tém (em princfpio ¢ idealmente) a mesma abrangéncia empitica que os julgamentos ingénuos de entrada. ‘As consideragdes que precedem foram introduzidas a parti da frase, mas tém 0 seu equivalente exato 20 nivel do texto. Da mesma maneira que um conjunto de palavras nfo produ una frase, um conjunto de frases nio produz um texto. Tanto ao nivel do texto como no plano das frases, existe, entdo, critérios efi- cientes de boa formagio que instituem uma norma minima de composic@o textual. O uso dessa norma conduz a desqualificagdes macigas ¢ ingémuas: “este texto nfo tem pé nem cabeca”, “esta historia nfo tem cabimento”. riorizadas igualmente disponiveis para todos os membros de uma comunidade lingiiistica, Esse sistema de regras de base constitu a competéncia textual dos sujcitos, competéncia que uma teoria — ou gramética — do texto se propoc a instituir como modelo. ‘Uma tal gramética (cujo projeto é, em todos os pontos, com- fel ao das gramiticas de frases evocadas acima) fornece, no interior de um quadro formal e problemstico determinado, 0 con- 40 junto (em principio exaustivo) das regras de boa formagiio textu- al, Dessas regras podem-se derivar julgamentos tedricos chama- © dos de coeréncia, abrangendo, se possivel, exatamente 0 campo das apreciagbes vernaculares de desqualificagao maxima e ‘gamentos de no padronizag3o” correspondendo as depreci de superficie.? ‘Numa comunidade linglfstica a maioria dos sujeitos tem um dominio perfeito das regras de boa formagho frdstica e textual; é, > portanto, muito raro que um individuo tenha que produzir julga- mentos de desqualificagio radical em relacdo as produgdes ver- bais dos seus semelhantes, E quase s6 nas obras lingtifsticas que = se encontram, a titulo de exemplos especulativos, conjuntos de -palavras ou de frases contrariando frontalmente o sistema consti- tutivo da lingua. A construgdo das gramaticas ¢, de modo mais geral, a elaboracio teérica obrigam a recorrer a (ais artificios heuristicos: para se descobrir uma regra fundamental, o meio mais seguro ainda & raciocinar sobre enunciados desviantes que repre~ sentam 0 avesso ( também o direilo) do mecanismo procu- ado. Estariamos, contudo, errados se pensfssemos que essas aberragdes s6 ocorrem no Taboratério do linguista; existem, com feito, situagdes bem reais em que um sujeito (ou um grupo) cchega a considerar tal ou tal desempenho verbal como fundamen- talmente paradoxal. Bssas situagdes sao facilmente localizaveis: zo interior de uma soviedade dada, é geralmente estabelecido que cessas manifestagdes de linguagem mais ou menos teratolégicas ‘emanam de catogorias determinadas (doentes mentais, criancas) ou referem a particulares (arte, — que de forma geral, 0s erros no estio exatamente loca- Jizados no texto, sio raramente grifados mas, em geral, esto arcades por indicagées graficas colocadas na margem, ou por rasuras que riscam de maneira aproximativa passagens de ddimensbes varidveis; — que 0 vocabulétio de dentincia nao apresenta, freqente- mente, nenhum carétcr leitura (incompreenst 0s de manipulagio (a ndo ser para “os erros de tempo”). Dessa comparagaio ressalta que os professores, confrontados com enunciados transfrésticos malformados, no passam geral- mente do nivel de apercep¢do imediata, da avaliaglo comum ¢ esto relativamente sem recursos para construir sequiéncias de aprendizagem apropriadas. Tudo se passa entao como se nao dis- situagio € pedagogicamente prejudicial: 0 professor que néo domina teoricamente um quadro normative é reduzido a fazer respeitar, a cada vez. quo surge um problema, uma ordem sobre & «qual nao tem dominio. Disso decorre uma menor eficécia didéti- a, 0 uso de priticas diretivas ¢ sobretudo uma auséncia de controle do que esté realmente em jogo sob a forma imposta ‘Quem se remete ao uso mais ou menos cego de uma ordem nnormativa no tem outro eaminho a nao set a censura, fica con- denado a “nfo compreender” e a rejeitar na a-normalidade, ou nia sub-normalidade, tudo 0 que nao esta de acordo, Sem querer dizer, em relagao & questo de coeréncia textual, que 0s profes- sores chegam a tais extremos, é bastante significative observar que quando perguntados sobre os alunos que cometem erros desse tipo, confess sobretudo desarmados, evocam facilmente das criangas. Quando se considera que 08 sores, quando falam de alunos que tém problemas com a sintaxe € com 0 léxieo, ao contrério, chegam muito rapida- 44 mente a “explicar” essas dificuldad ceriangas, é bastante tentador se de interpretagao e 0 dominio te6rico I das restrigBes que operam no plano da frase € do texto. 0 relato empirico que precede € talvez muito esquemético € © muito contestavel, mas, se Ihe for concedido algum valor repre- sentativo, parece que hé urgéncia em se desenvolver pesquisas (© informagio) na rea da teoria do texto, aprofundando particular- mente esta questi de coeréneia. E por essa razio que gostariamos agora de propor algumas orientagSes sobre esse ponto, inspirando-nos (bastante livremente, como se vera) em tra- bathos de gramaticas de texto nos quais se encontram, atualmente, 18 elementos de tearizagao, a nosso ver, mais avangados e mais conseqiientes. Claro, 08 esclacecimentos que se podem esperar desta orientagao teérica mio vio de maneira nenhuma trazer “solugdes” aos problemas pedagdgicos do texto escrito. Tudo que } se pode esperar, tum tal empreendimento, € nutrit ov provocar um movimento de reflexio que sirva para alimentar © didlogo entre, de um lado, a pesquisa fundamental e a pesquisa pedags- | gica e, de outro, os pesquisadores e os praticantes, { 2—PARA UMA ABORDAGEM TEORICA DO PROBLEMA DA ‘COERENCIA TEXTUAL E DISCURSIVA, ‘Nao se trata, no quadro deste artigo, de dar uma idéia precisa da forma de uma gramética de texto: Na introdugdo, lembramos ss do projeto que esté na origem de uma tal imitando-nos a uma visio geral da abrangéncia do im de concentrarmos toda a nossa atengto sobre 0 termos do modelo. Assim, limitar-nos-cmos a enunciar quatro metarregras de coeréncia vemetendo a uma apreensio | geral, aproximativa c, ainda, pré-te6rica da questdo. Essas quatro ‘metarregras serao chamadas: 13 Para waa tuiativa de sitese sobre o assuno ef: CHAROLLES, 1976. 4s — metarregra de repetigio; — metarregra de progressiio; — metarregra de niio contradigao; —metarregra de relacio. Para introduzi-las, apoiar-nos-emos em enuneiados fabrica- dos para esse fim ¢ apresentando malformagSes Upicas. No mais representatives de nosso conjunto de te acompanhados eventualmente das corregées do professor, 0 que nos permitiré: Por um lado, valer-nos das avalingBes aestadas; das quatro metarregras apro- sentadas (0 que-jé ser uma primeira maneira de provar a sua validade). Tres observagses, antes de examinarmos cada uma dessas metarregras. 1) Coeréncia ¢ linearidade textual Nio se pode refletir sobre a coeréncia de um texto em conta a ordem de aparicdo dos segmentos que 0 con: Isso significa que a gramética de base, & qual referem em profun idade as metarregras de cocréncia, integra relagdes de ordem: direta com os mecanismos de leitura coneretos nos qu: FOr esd uns on wechos oto como exepls seo agesntads com owiezo de ordem marcado por um circa, * 5 Cr BELEK. 70 pardmetros de desempenhos variados e complexos de analisar (movimentos e velocidades de percepcio, memorizagao...). 2) Coeréncia microestrutural e coeréncia macroestrutural Certo nimero de graméticos de texto’ estabelece uma dis- j0 a abrangéncia dessa distingdo seria necessério ‘no contexto do modelo que a sustenta. Sem chegar a iia da sua pertinéncia partindo: das seguintes constatagdes que so, aliés, relativamente triviais. Seja o texto seguinte: (1) Oscar partin para Sao Paulo. Deixou cedo seu escritério para tomar o trem das 16 horas, Seu carro ficou no estacionamento da estagao de Cs Em Sio Paulo, Oscar deve encontrar alguns amigos com os ‘quais tenciona preparar um nimero de uma revista de cinema. ‘Vai trabalhar com cles para organizar um sumério coerente. Esse texto compreende dois pardgrafos cujo recorte parece ‘corresponder, numa primeira aproximagéo, a uma mudanga de ‘perspectiva espago-temporal e tematica. Esses dois parégrafos ‘luidas na unidade supe ‘plano seqiiencial ou o textual, os problemas de cocréneia colo- ‘eam-sc em termos mais ou menos diferentes: — num nivel local ou microestrutural, a questio incide exclusi- vamente nas relagbes de coeréncia que se estabelecem, ou no, sucessivamente ordenadas) da seqiiéncia; ) que a coeréncia de um enunciado deve ser ct determinada de wm ponto de vista local e global, pode muito bem ser microestruturalmente coer: ‘macroestruturalmente; isso fica claro se substituirmos em 1, por exemplo, $2 por $3: (2) Como os tomat or concentrados que fardo a alegria dos s b) que nao hd diferenca fundamental entre as (meta)regras de macrocoeréncia e de microcoeréncia; ©) que certas restrigdes espectficas aparecem entretanio no nivel macroestrutural; 4) que uma condigdo necesséria para que um texto seja glo- balmente coerente é que se the possa associar, por construcdo, uma seqiiéncia de macroestruturas e microestruturas coerentes. Os pontos ¢ d merecem algumas explicagoes. Chama-se ‘macroestrutara (ME) de uma sequen ) de superficie obtid de redugao” (macrorregt mento, de integracao, de construc sobre a seqtiéncia de frases que a compée. Assim, se considerar- ‘mos que $1, $2 ¢ $3 admitem respectivamente para ME: MEI — “Oscar partir para Sao Paulo” ME2 — “Oscar vai preparar com outras pessoas o mimero de tum periédico” ME3 — “Aconsethamos as donas de casa a no comprarem tomate no inverno” jimplesmente que as regras que definem a (micro}coeréncia 32 e S3 sfio as mesmas que as que definem a coeréncia das ‘ias de ME formadas por MEI + ME2 e ME] + ME3; ed enuncia que os textos T(S] + $2) ¢ T’ (SI + $3) sf macroestru- turalmente cocrentes quando as seqléncias ME] +ME2.e ME] + ME3 so microestruturalmente coerentes; b e d tém consequen- 7 Pars esss regia f. VAN DIK, 19760 em paricalare CHAROLLES, 1976, ue wn versio um pace simpificada se-4, contudo, que ¢ proibe a homologagao pura ¢ simples dos ois niveis. :) Coeréncia e coesdo ‘Numa gramética de texto, a base do texto (sua representacio teutural profunda) é de natureza I6gico-semfntica: os constitu- es fristicos, seqiienciais ¢ textuais figuram sob forma de uma ja de representagdes semanticas ordenadas de tal maneira que 's conectivas. As regras de coerén- sa cadcia, sendo que as Jidem, portanto, sobre tacos final de contas, linguifsticos. Mostra~ dessas regras (e, portanto, também 0s aspectos das metarregras que so a Sua contrapartida geral) gem sobre a const jo ato de comunicagio texto ultrapassam o simy no deixa de aumentar seu podet. No estado tas (e teremos oportunidade de sentir isso) ndo mais parece ipsivel, tecnicamente, operar uma part npem com as fronteiras geralmente admi- ica © a pragmiatica, entre o imanente © 0 que alguns propdem, baseando-se, ‘ago precisa desses dois territérios. ssa questo est evident situa do mime 38 de Langue Francaise, 00 Segundo nos const maneira rigorosa essa restrigso. Em ence of texts", escreve (p. 336): para que uma seqiiénci ‘corresponde bem, a nosso ver, & ‘enunciado coerente, a saber: volvimento homoge: “alhos com bugalho: Para assegurar numerosos © v1 agbes, definitivagbes, referenciagdes contextuais, subst recuperages pressuposicionais, retomadas de dimentos permitem outra que se encontra cisamente tal ou tal con 4) As pronominalizagdes. Sabe-se que a utilizagio de um pronome toma possfvel a repeticao, & distancia, de um sintagma ou de uma frase inteita, No caso mais freqilente da andfora, a retomada se cfetua de frente para tris: (3) Uma vethinha foi assassinada na semana passada em ‘Campinas. (<=) Ela foi encontrada estrangulada na banheira No caso mais raro da catéfora 0 pronome antecipa (=>) sobre seu referente: 0 termo de retomada, primeiro vazio, s6 recebe interpretagio semaintica depois de um feedback de restabeleci- mento.10 (4) “Vou confessé-lo (=>): este crime me perturbou.” As pronominalizagées resultam da aplicagZo de processos iS sobre os quais pesam restrigdes. A mais conhecida € a proposta por Langacker'!, que estipula que um pronome niio pode, na representago sintagmitica intermediaria, a0 mesmo tempo preceder e comandar 0 grupo ao qual refere. Toda infragiio a essa regra conduz a enunciados aberrantes do géncro: (9) “Ble (1) (=>) sabe muito bem que Pedro (2) no estara de acordo com Mario (1 Num enunciado como (5) no € possivel interpre come representando “Mario”; diante de uma tal ocorrénci linica solugdo consiste entAo em recuperar o pronome da 3* soa como remetendo (exoforicamente) a um individuo dife ‘© qual deve-se supor que foi citado ante- receptor. Se tal interpretago nao for possivel, como um aférico puro cuja apari¢ao abre um vazio na seqiiéncia e quebra seu desenvolvimento continuo. ‘As falhas desse tipo no sio raras em textos escritos dos | alunos: @©)"~. Em seguida os palhagos entrou na cabine € os wes nilmeros reapareciam e 0s espectadores dizit bravo’. Em seguida © apresentador voltou e disse: ‘criangas vocés podem pegar eles, tem de todas as cores.” (sublinhado por ns no texto — anotagdes do profess: ‘margem) A mengio de palavras relatadas conduz. freqentemente @ empregos pscudocatafori como um exoférico sit um sistema de recuperagao com ingerés QA out muler the disse: pe ela no cho’ éa maleta que tem que por no cl As vezes a clucidagio do que veio antes é comprometida pelo afastamento. @ “Bu digo a Paulo ‘otha esse passa’. Ele me disse preste Thuita atengao pois se ela (=>) se agarra nos tus cabetos, preci~ sar cortar eles rene pa verra el, No dia seguinte, quando queria por um chapé ‘edo que a guandira se emaranhasse nos meus abe st alunos: as ambigitidades referenciais para ele.” Sem verdadsiramente romper a per a eontinuidade sequcne esses disfuncionamentos intoduzem “onas de incenoes texto; certs ambiglidades so recuperdvets contextual ou seamen (f, MR3), cars, o con, so supers jo um vazio inerpretaivo compardvel quel tue rea empregos aféricos, - “ausle gus b) As definitifigoes cferen € as referenciagoes deiticas contextuais Como as pronominalizaydes, as definitivagdes permite retomar declarada ou virtualmente!? um substantivo de uma frase para outra ou de uma sequiéncia para outra: " Minha ten dans aba. Toso da, get Jo in, get ia wo ) jardim a3 Km, As cabras (<=) passeiam em: ta Pesar sobre o emprego dos determinantes i jwando 0 nome repetido se encontra no contex- Hato que 0 precede, o emprego dos déiticos contextuais & naturs (11) “Serdnimo acaba de comprar uma casa. ans mprar uma casa. A casa é grande & ‘uma casa com celeiro.” fa pela definitivagao nao coloca nenhum problema: ‘ontinuagdo) “A casa é grande e tem estilo, Outra malformacao muito freqiiente nas redagbes dos Pedro inh em extvam naan no Ho, Ui da, um Rem estavatomandobanho; como ele aba naan, crcnee § de retomada que utilizam, alias, abundantemente, smpre contra a vontade dos professores que cagam repetighes. + Thinha foi estrangulada na banheira. Este assassinato é odioso.” sm nesse caso, certas restrigBes (seméinticas) regula- sorosamente o emprego das substituicdes!; por exem- jortugués, © termo mais genérico nao pode preceder seu representante: “Um homem desertou em Pogos de Caldas, em 1932. 0 refuugiou-se numa fazenda onde foi bem acott (16) “Um Paulista desertou em Pogos Caldas em 1932. O homem refugiou-se numa fazenda, onde foi bem acolhido." Por dificil que seja analisar essas restrigdes, elas nao colo- cam problemas maiores no quadro de uma gramética de textos ‘com base semantica. Mais problemitica é a questiio de saber se 0 jido com um lexe- é suficiente para estabelecer uma co-referéncia ic, enquanto se consideram exemplos como ), ndo ha nenhum problema: u faz. um ou dois anos. O artista deixou sua ‘© museu de Barcelona.” Pois imagina-se facilmente que © componente lexico-enci- clopédico da gramétical* fornece definigdes nas quais o termo de ja figura sob a entrada do seu referente. Entretanto, ao sobre (18): TW GF COMMETTES, 1975, ¢ MILNER, 1976 14 Sobre ese problema, cf. VAN DUK, 19726 sobretudo, PETOFA, 1873, 1876, 1976, (18) “Picasso morreu faz um ou dois anos. O autor das Demoiselles d'Avignon deixou sua colegio pessoal para 0 ‘museu de Barcelona.” Perguntamo-nos se € techicamente possivel supor que a descrigio definida “o autor das Demoiselles d’Avignon” seré incluida na definigao de Picasso, pois podemos questionar-nos sobre 0 nivel de preciso enciclopédico 20 qual 0 Iéxico deveria chegar. Néo hhaveria, claro, nenhum problema, se 0 emprego do determin: definido na descrigio fosse suficiente para estabelecer um: gagdo de retomada indiscutivel, mas ndo nos parece ser 0 caso (18). Alids, considerando (19): (19) “Picasso morreu faz um ou dois anos. O autor da Sagragao da Primavera dcixou sua cole¢do pessoal para o museu de Barcelona.” parece claro que a presenga do definido nio obriga a considerar que Picasso e 0 autor da Sagracdo designam uma s6 ¢ mesma pessoa. Para nés, que sabemos que nfo é Picasso, mas Stravinski, que comps essa obra, (19) parece, a0 menos & primeira vista, saltar inexplicavelmente de alhos para bugalhos. Esse ponto faz ressaltar claramente, em nossa opiniao, 0 quan- to S40 espinhosos os problemas que tocam ao Iéxico. ‘ago sobre exemplos como (19) mostra que é praticamente impossivel tragar uma fronteira nitida entre a semantica e a pragmitica,"S pois vé-se que as informacSes enciclopédicas (remetendo a um saber estabelecido) so finalmente menos importantes que 0 saber (ou convicgdes) que os participantes, no ato de comunicagao, partilham ou nao, Encontra-se um problema andlogo ao que acaba de ser evocado em relagao a (19) no texto citado em (8). Esse trecho fornece um bom exem- plo de substituigao semanticamente inaceitavel, j4 que parece estabelecer que “guandira” rctoma “esse passaro”. Rigorosamente falando, tal retomada € impossivel, ao menos fenquanto se fica numa apreensdo estritamente lexico-enci~ clopédica do problema, j4 que os morcegos nao so, “como todos sabem” (como $6 as enciclopédias dizem), passaros, mas TS" GF PETOR, 1978 e197 mam{feros, decorrendo desse ponto de vista uma impressdo de descontinuidade resultante de uma infrago A metarregra de repeticit. 4) As recuperagaes pressuposicionais ¢ as retomadas de inferén- cia. Nos procedimentos que acabamos de examinar, os mecanis- mos de repetigdo sd0 mais ou menos perceptiveis na superticie textual; no que diz respeito &s recuperagbes pressuposicionais, a retomada incide nos contetidos semanticos nao manifestos (ainda que fundamentais) que devem ser reconstruidos para que aparegam, explicitamente, as recorréncias.!® Seja, por exemplo, a pergunta segu (20) “Seré que Felipe vendeu seu carro?” © as respostas: (21) “Nao, ele vendeu a bi (22) “Nao, roubaram-the. (23) “Nao, ele emagreceu.” Parece que as seqiiéncias $1 ((20) + (21)) ¢ S2 ((20) + (22)) o igualmente coerentes comparadas & $3 ((20) + (23)), da qual “0 parece ser possivel reconstituir a continuidade. O fato que (22) € (23) retomam todas, gragas ao “ele”, 0 termo constando no (20) ¢ que, apesar disso, $3 seja julgado diferente de SI ¢ S2, faz ressaltar nitidamente que as de repeticio apresentadas até aqui sio insuficientes garantin, a0 entre S1, $2, $3 se explica se levarmos ‘eonta que (21) e (22) repetem no seu posto uma das pressu- Posiedes da pergunta ("Felipe vendeu alguma coisa” em (21), teceu alguma coisa com o carro de Felipe” em (22)), 0 (23) nfo retoma (recobre) nenhuma. ce Ser 0 caso mais frequente), ou, a0 contrério, porque nilo os Gi, RUWET, 1975, « sobretJo BERRENDONNER, 1976. impossfvel contestar esas informagies s 3 oportunidade mesma do ato de linguagem que as suporta, o que no € muito concebivel quando se trata, em situagio lum ato professoral, Eis um exemplo, entre outros: (24) “Trés criangas passeiam num bosque. Brincam de explo- adores. Chegam diante de um riacho muito largo e muito pro- fundo. O que € que vio fazer?” A interrogasdo final pressupdc que as tr8s criangas vao fazer alguma coisi is Voam com 0 vento e que os passaros cantam, lente punido por no ter respeitado 0 tema, isto or ter fornecido uma narraggo incoerente com relagio a questio colocada, Dado um enunciado, sabemos que se pode tirar dele um niimero bastante considerdvel PressuposigSes fazem parte consubstancialmente do enunciado, clas slo “inalicndveis” e resistem a provas lingiiisticas (negacio, interrogagio, encadeame! as inferéncias sao menos fortes (clas nio se mantém sob negagio), as vezes estdo ligadas ao Iéxico (ef. as implicagées em R. Martin), freqtientement ‘vos, percebemos que no nivel seqitencial as retomadas de inferéncia so, como as jue um aluno ignorando isso e contando, por » recuperagdes pressuposicionais, fortes fatores de coeréncia. Seja a seqiiéncia seguinte: -se na Universidade, Desde que terminow seus estudos secundarios, nao sabe mais para que profissiio ori- centar-se.” A primeira frase permite deduzir “Alice terminou seus undo que conhecemos ceu-se que “para que uma pessoa possa superior, & preciso (¢ em é pedir ao emissor de (25) que precisasse a ligagio (para ele ausente) entre as duas frases. No exercicio escolar, que consiste em imaginar a continua- ‘¢40 de um texto, os professores esperam dos alunos sobretudo que fornegam expansdes que sejam pelo menos coerentes com a seqiténcia introdut6ria, encontrando entio problemas de repetigaio em todos 4s niveis (retomada dos nomes préprios, definiti- vagGes...).2" A ativagdo das inferéncias tiradas do texto inicial coloca sempre problemas aos alunos ja que essa operagio envolve conhecimentos de mundo (ou de mundos) aos quais as criangas podem nfo ter acesso. Assim, supondo um trecho escolhido como Ponto de partida no qual seria dito que um personagem mora numa mansio, anda de Rolls-Royce tem muitos empregados, parece-nos normal inferir que um ‘duo € rico e, sem davi- toda protongac3o na qual MR3) ou doente (cf. MR4). A incoeréncia ou a esq tos de alunos provém, as vezes, do fato de que algumas que supomos poderem se efetuar legitimamente nao pior, acham-se contraditadas (cf. MR3) no E 0 que acontece no relato seguinte, que, comego oui ao final, parece autorizar duas b, 21 CHARROLES. 1977. opostas: “o cachorrinho morreu' (j4 que ele esté “no lugar” do coetho, “trazido” pelo cio de aga...) e “o cachorrinho esta vivo” (jd que 0s dois animais se tornam amigos) (@ "Pra. una vee um cagador qu anda na Noresta pan proce Tar'um coelho. Entio, © eagador atta no coelho, depois seu c80 vai buscar e, no Ingar dele, traz um cachorrinho. 0 eagador diz por que voc® trouxe o cachorrinho no lugar do meu coetho ‘0 clo diz para seu dono eu encontrei o cachorro no lugar dele entlo 0 dono diz a0 cio vai levar ele onde pegou e o cio nfo 4quer, quer ficar com ele e no final dois eachorinhas se tr- ‘tam amigos.” ‘As pronominalizagdes, as definitivagdes, as referéncias déiticas contextuais, a substituigdes lexicais, as recuperagies ressuposicionais © as retomadas de inferéncia contribue maneira determinante para o estabelecimento de uma coeréncia tanto microestrutural quanto macroestrutural. Esses mecanismos de repeticio favorecem o desenvolvimento temdtico continuo do enunciado, permitem um jogo, submetido a regras, de retomadas 4 partir do qual se enconira estabelecido “um fio textual condu- tor’, Quando um elemento de contetido ¢ introduzido de forma absoluta (no inicio do texto ou de uma seqiiéneia) ou em corre- Iago com us ado, 0 texto 0 reproduz regularmente, segundo vias diretas ou indiretas, ¢ constrsi, assim, um fundo de referéncia a continua (Cexto de progressio temética cconstante) ou derivado (texto de progressio linear, dissociado...).2? 2%) Metarregra de progressdo (MR2): Para que um texto seia ‘microestruturaimente ou macroestruturalmente coerente, iso que haja no seu desenvolvimento uma contribuigdo se ca constantemente renovada. Essa segunda metarregra completa a primeira, no sentido de que ela estipula que um enunciado, para ser coerente, nio pode simplesmente, como acontece no texto que segue, repetir indefinidamente seu préprio assunto: Sobre ese problema, ef; COMBETTES. 197 YAN DUK, 197. 7: DANES, 1974; PETOFI, 1976 M2. Ai (27) “As viivas s6 recebem a metade da aposentadoria de seus finados maridos. As mulheres nao casadas recebem uma pensio igual 2 metade daquela que recebia seu marido falecido. Blas ‘inquenta por cento das indenizagdes que recebiam ‘seus maridos quando estavam vivos. No tempo em que eles festavam aposentados, as esposas dos aposentados destru- tayam com seu marido a totalidade de sua pensiio.” A exigncia da progressdo semantica € evidentemente das mais elementares e, 4 medida que 0 préprio ato de comunicar supe “alguma coi ”, concebe-se que ela s6 muito rara- mente nio Acontece, entretanto, de se encontrar certos text ue transgridem com toda evidencia por exemplo, um trecho de uma redagio na qual o aluno deveria descrever uma fotografia representando um ferreiro trabalhando (Os textos dos alunos apresentavam as rasuras ¢ acréscimos feitos pelo professor, que nada assinalou na margem) @) 0 ferveiro esté vestido com uma calga preta ¢ um chapéu claro e com um palet6 cinza e marrom escuro. Tem na mio ponta da picareta ¢ bate em cima com um martelo, sobre a ponta da picareta. Os gestos que fez, tem a ponta da picareta ¢ com seu martelo bate sobre a ponta da picareta. A ponta desta fer- ramenta que se chama a ponta da picareta € pontuda e a outra ponta ¢ quadrada. Para tornar ela vermetha com a ponta da picareta colocou ela no fogo € as maos estio vermethas.” (texto originaly “O ferreiro esté vestido com uma calga preta, com um chapéw marrom clato € com um palet6 cinza escuro. Tem na mao a ponta da picareta € bate em cima com um marteto. ‘A ponta desta ferramenta pontuda ¢ a outra extremidade € quadrada. Para tomé-la vermelha, colocou-a no fogo ¢ as mos esttio vermelhas.” (texto corrigido) © que chama a atengao nessa redagio ¢ a flagrante circula- ridade do discurso, como se o aluno (sem divida pelo temor do vazio) acabasse produzindo uma lenga-lenga em que 0 discurso esta quase sempre voltado para si proprio, Existe nesse texto uma desproporgao muito grande entre a taxa de contribuigao informa- 59 five a taxa de repeigho,e como se v8, 0 profesor inter dlretmene na edepso, dmninuindo a primeira. st conto que (8) no 6 verdadeiramenteincocrent,narealade sera antes exe sivamente coerente (ao menos no sentido de MR1), mas esta claro que a redundancia exagerada que o caracteriza o torna fundamen- lalmente inaceluvel. A produgdo de um texto coerente supoe tentao que seja realizado um delicado equillri (oun natureea & sitet de avaliarexatamente) ene contimuldade emitica © pro- gressdo seméntica (ou rémica). Um tal desempenho exige que sejam conjuntamente dominadas as MRI e MR2. ‘Nam texto cocrent, a itroduglo de informagho nova nko se fax do. qualquer maneica e jé meneionemos a conctusto. de exposigto da MRI alguns esquemas de proressio. As peseuises fais sobre a aiclag to tema/rema fornecem muero plos de percursos progressivos © mestam como num formado a intrdugao dos elementos de “novidade semantica”™ obedece a regras ¢ faz-se de mancira programada na seqliéncia de elementos jd conhecidos, Nio podemos entretanto ignorar que, em certs momentos, surgem mum texto ocoréncias ttamnents inédits que nfo podem ser ligndas diretamente a nenbum tema precedente ou nfo extrafdos de um roma anterior A sparigho desces sepmentos coloca, (do ponto de vista da coetncia) inimeros problemas que sero examinados a pari da MIC, mas ftstarfamos, desde ja de chararaalengto param pono part ular, Eis um trho da redagto @)chege a cage ds eins & a mais bela de ods as CGfungens. Tem boecas Jee de pasts Ba fstase acsbe ‘Tema earungar da nna com floes ross «banca de papel crepon ox pagens que eto a fen pela regra MR3, ¢ na altura de “tem barracas d (que esté riscado) nota-se na margem “aqui no! anotagto € interessante porque mostra bem que o professor, sem, ccontestar 0 aluno quanto a0 direito de introduzir uma informagio nova Gulgada, sem dilvida, pertinente para o assunto, cf. MRA), 0 ccensura, entretanto, por t8-Ia colocado em lugar errado, quebran- 40 a continuidade temética estabelecida em volta de “carruagem 60. das rainhas”, Colocando-se de lado qualquer questao de oportu- nidade, a introdugao de uma informagao inédita apresenta, entio, tum problema de insergio na superficie. ‘A reflexdo sobre os esquemas de progressio temética nem sempre faz aparecer esse ponto que, no entanto, & i Suponhamos, com efeito, um texto que desenvolv mente” varias séries congruentes com hipertema constante do género “trabalho => diretor, crianga, escola..." “férias => sol, mar amor...”. Nao hé nenhuma ciivida de que um outro texto que ‘operasse uma “mistura topolégica” destes temas (“escola, amor, diretor, sol..”) seria percebido (salvo condigéo especial) como incoerente, ainda que, em teoria, esteja perfeitamente centrado em ‘toro dos dois hipertemas em questo. A partir dessa observacio, parece entdo necessirio acrescentar um coroldrio & MR2 especi- ficando que para que um texto que desenvolve varias séries ‘temdticas profundas seja macroestruturalmente coerente, é necessério que essas séries constituam, na superficie, conjuntos seqiienciais homogéneos. 3°) Metarregra de niio-contradigae (MR3): Para que um texto seja microestruturalmente ou macroestruturalmente coerente, é preciso que no seu desenvolvimento ndo se introduza nenhumn ele- mento semantico que contradiga um conteido posto ou ressuposto por uma ocorréncia anterior, ou deduzivel desta por inferéncia. Em l6gica, como se sabe, 0 principio da niio-contradigio profbe que se tenha, ao mesmo tempo, “p” e “no p” (~ p); como © cAleulo das proposigdes é fundamentalmente extensivo, “(p ~ p)” estipula simplesmente que é inadmissfvel que uma mesma proposigdo seja conjuntamente verdadeira ¢ nto verdadeira, ou falsa ¢ nfo falsa. Se deixarmos 0 dominio das proposicdes I6gicas para nos interrogar sobre as relagées que mantém, por exemplo, parametros temporais (exclufdos dos cal dade de considerar informagGes semant colocadas.., Os casos de contradigdo natural, que ser Préximos daquelestratados pelos Kégicos, sto muito raros nos dis- ursos ordindrios. E, com efeit, excepcional que uma sequéncia os mais. 6 de duas frases enuncie, por exemplo, que um mesmo objeto X goze, ao mesmo tempo, das propriedades “A” © "“~ &”. Certamente podemos citar aporias do género: (30) “A luz 6 de natureza ondulat6ria... A luz nfo é de natureza ondulatéria...” Todavia, em tais sequéncias, a contradicao € plenamente assumi- da e representada: © discurso contradiz-se com toda evidéncia para manifestar, retoricamente, para fins argumentativos, situagao cujo caréter (provisoriamente) problemitico se quer jus- tamente enfatizar. Se esses textos no so de nenhuma maneira incoerentes, outros séo, ao contririo, portadores de contradigSes ‘nao controladas que os tornam mais ou menos aberrantes, Estudaremos sucessivamente as contradigGes enunciativas, as contradigdes inferenciais © pressuposicionais e as contradig&es de mundo(s) ¢ de representagdes do(s) mundo(s). Esse recorte é bastante superficial, j4 que para antlise de cada um desses tipos seremos levados a fazer consideragOes que, de alguma maneira, remetem aos outros. a) Contradigdes enunciativas. Toda manifestagao frastica ou tex- tual fixa seu proprio quadro enunciativo pelo menos de duas maneiras: de um lado, produzindo seu sistema de referéncia tem- poral e, de outro, instaurando um modo de funcionamento discur- sivo determinado. Seja a sequléncia seguinte: GL) “Malko entrou sem bater no escritério do chefe da CIA. Vestia uma roupa escura e trazia na mio uma magaffica maleta de crocodilo.” (31) comporta um certo mémero de marcas linguisticamente identificéveis que fazem com que a seqiiéncia seja percebida globalmente: — como fazendo referéncia a um certo momento 20 momento “t,” do ato de comunicago); — como transparente do ponto de vista modal, isto &, virgem de todo indice formal significando a ingeréncia do sujeito da enun- cciagdo no enunciado. I” anterior 62 Essas caracteristicas definem um regime nao pode ser modificado, sem precaugdes especi acrescentarmos inopinadamente (32) ou (33) @ (3 jako senta e acende um havana.” resulta um efeito de contradigao tal que as sequiéncias compostas tornam-se incoerentes.79 'Nos textos escritos dos alunos das primeiras séries, encon- tram-se freqtientemente contradigOes desse tipo. Eis dois exem- plos escolhidos entre varios: @) “oniem, fomos ver 0 desfile da Gazeta de Pinheiros Sibimos a rua Teodoro Sampaio. Daf Ficamos na ealgada em frente loja do St. Barata. Passado algum tempo os cars pu- blicitarios chegaram, Eles jogam para a gente papéis de pro- paganda. Em baixo e em cima da avenida os pliciais dirigem No(@) 0 profesor restabeleen drctamens pasado nos © simples ponto de interrogag’o, Essa diferen¢a no todo de inter- Se en eae qa comalico ae eos medalidde dscns stat a a net ural To fv ie feat en er ares om o qe mgs) as a earns alse doom le 0 tengo) ou a um dominio imperfeito das formas de conjugagio, ® amas 56 excepcionalmente as interpretam como erros de coeréncia Inversamente as contradigGes de modo cnunciativo so, geral- 233 Bases dois pos de contmadigso no tém, centamente, a tesma origem € o mesmo (Os lemons de reflesdo aqu Ivanados so naurlmente bastante embtionéiose seria pris deseavolver as pesgusas ness nivel evando em conta. os nunersostabalosjé Fealzads sobre ese ante 63 mente, avaliadas como aberragbes de coeréncia. Elas sao desig- nadas em termos teéricos e raramente dio pretexto para exerci, cios complementares, 5) Contradicdes inferenciais e pressuposicionais. Existe uma con- adigdo inferencial quando, a pattir de uma proposigao, pode-se ir outra que contradiz um contetido semantico posto ou Pressuposto numa proposigao circundante. Em (36) ¢ (37), inha tia € vidva. Seu marido coleciona maquinas de ro no tem carro. Vai vender o dele para comprar um as inferéncias autorizadas por “‘vitiva” e “vender” no $6 nfo so Tetomadlas nas frases seguintes como também so expressaméente dar conta dest outros exemplos. A partir dessas observagdes € possivel, parece- nos, compreender melhor gual é a origem das contradigdes em ‘enunciados como: ‘Marcos procura uma casa antiga. Esta casa € do século “Marcos sonha ter um edo. Este cio gosta de criangas.” ‘A inconsisténcia de (48) ¢ (49) explica-se pelo fato de que io existe meio de predicar num mundo MO (onde Marcos *procura’” ou “sonha ter”) qualquer coisa de um individuo (“casa” ‘au “c8o") que 86 existe no M1 alternativo de MO. A restrigdo de ‘coeréncia que aparece aqui baseia-se em consideracoes propria- mente lingilfsicas, Tem a ver com 05 verbos empregados ¢ jmpoe-se a todos os nativos, quaisquer que sejam suas conviegoes sobre Marcos, as casas antigas, 0s ces... © que demonstra isso, aids, € que simples modificagGes linguisticas sfo suficientes para “nar toda contradigio em (48) € (49): modalizagao com “dever” do verbo da segunda frase: (50) “Marcos procura uma casa antiga, Esta casa deve ser do século XV" (51)“Marcos sonha ter um eo. Este cto deve gastar de criangas.” ou apagamento de “tex”, na primeira a frase de (48) (52) “Marcos sonha com um ciio. Este edo gosta de criangas.” ‘A atribuigdo de um ou vérios mundos de referéncia é uma ‘operacio cujos fundamentos repousam sobre tragos propriamente Iingifsticos. Qualquer enunciado apresenta marcas a partir das quais ¢ sempre posstvel reconstituir teoricamente © universo ou os universos aos quais cle se refere e que el ‘so. Quem quer que seja que escreva ou I (53) “Marx eta filho da burguesia alema. Viveu ao lado dos pro- letérios e sonhou para eles uma vida onde seus salirios © condigdes de vida seriam melhores.” pensa ou entende: — que existe um mundo atual MO no qual alguém comunica (53) a alguém; oases — que existe um mundo MI no qual existe um individuo que verifica os predicados “ser Marx”, “‘viver a0 lado dos proletirios”... individuos que verificam o predicado “ser pro- Tetério” e tais que “Marx sonhou qualquer coisa em relaco a S"; — que existe um sub-mundo M2 de MI no qual os individvos 0s individuos verificam ospredicados “ter uma vida melhor” Essa cadeia de mundos ¢ sub-mundos ¢ evidentemente difi- q 5 voltamos para textos que, ainda que minimamente desenvolvidos, nao impedem que (a tal cadeia) as que “tem sua logica”?8 e de onde ia29 - Contradigoes de representagaes do mundo ¢ dos mundos. As contradigdes de representagio do mundo ¢ dos mundos, por ‘eposi¢ao as que acabamos de estudar, so de natureza tipica- mente pragmética. Fungao das convicgdes dos participantes do ato de comunicacdo textual, elas dependem da imagem que eles “fazem do mundo ov dos mundos de referencia que 0 texto jn & seqlencia que consideramos (pessoalmente) como it6ria: (64) “Oscar saiu do metrd. Estava correndo de cabega ‘num corredor quando bateu com toda forca numa érvore.”” jative MO ¢ um mundo MI no qual ‘metr6”..., que verificam os pred ciagfio dos mundos remete a comegam a Limitado a esse plano, a nivel para interpretar M1 como idéntico ao mundo (Nt) ordi NO qual nio existe Arvore nos corredores do metr6. A ¢ lo ordinério [MiJbaseia-se nas 5 no enuinciado enquanto tal, mas ela ia, de um proceso de reconhecimen- 08 constr6i através de priticas sociais, recebe-os do seu meio. Como bem o Pesquisas atuais sobre a inteligéncia artifi discursos que nela circulam; ¢ € pr crengas sio estruturadas € que é poss do lingifstico (até mesmo desenv (55) “Oscar saiu do metrd. Os corredores pegajosos desen- volviam um intestino espléndido c exuberante. Como ele corria olhando para o chéo, numa passagem, bateu com toda forga ‘numa érvore em flores.” porque a maior parte dos individuos, numa cultura dada, dispde de referencias cognitivas que les permite interpretar o mundo de (55) ‘como um mundo, digamos, de fantasia oa surrealista no qual estio 530” Para todos esses problemas de epresenago, eros trabalhos de GRIZE, 1974, 19764 ¢ LCF. SKYVINGTON, 1976, pare ume inuoducto sugestiva, assim come DENHIERE, 1975, SCHANK, 1974 e VAN DUK, 19766, n dispostos a acreditar que “existem” meios de comunicagio dotados idade muito especiais. Quando se considera (56): scar saiu do metrd magnético. Mergulhou num médulo igo: (57) “Oscar sai do metro magnético, Mergulhou num médulo 4, aspirante ¢ encontrou-se logo num elevador de carga lotado.” ladas pelos professores fagam intervir suas ““préprias” repre- stages de mundos. Vejamos, por exemplo, © comego de uma iva na qual um aluno conta um programa de pesca realiza- ‘em companhia dos pais: ““.. Chegamos a beira do rio. Meu tio arruma as pontas das Varas de pescar, desenrola a linha que & fina, prende cla na sm uma béia quatro forme um leitor ache: — que a seqiiéncia refere ou nfo ao mundo ordindtio; — que neste mundo é verdadeiro ou falso que existam drvores no metr6, ilga o texto contradit6rio ou nao, Nessa ptica, as operacdes liagdo se desenvolvern em sentido nico, | seguindo um plano tedrico esquematizado pela figura: SUJEITO RECEPTOR (CONvICGOES SOBRE, OU IMAGENS DOS MUNDOS FOSSIVEIS) be} De] Ge} - De] (EXTRACAO) INTERPRETAGAO, RECONHECIMENTO ‘CONVICGOES SOBRE, (OU IMAGENS DE mt FIGURA | Essa maneira de encarar as coisas, por mais necessétia que seja, é evidentemente redutora na medida em que leva a negar 0 fato de que o sujeito-receplor sabe que o texto que esta interpre tando ¢ avaliando no € um objeto intangivel, mas resulta de um 80 processo de emissio especifica centrado num sujeito inscrito numa situagio precisa da qual ele pode reconhecer certos compo- nentes. Seja o texto seguinte: eu vou und cmp um ar de bats. A gems Cre nine Soest cade Quando se aplica mecanicamente a metarregra 1 nesse tre- cho, chega-se a um diagndstico de incoeréncia, j& que a cadeia das repetigdes pronominais comporta falhi “na I* pessoa do plu ‘a “eu”). Ora, € surpreendeate constatar que © professor, agi real de comunicagao, nao diria nunca que esse texto ente (mesmo relativamente) € ndo utiliza com relagio a ele nenhuma das expressées denunciativas habituais. Corrige diretamente a primeira frase: (74) “Eu vou a Jundiaf com minha mae comprar um par de bots.” “ Acrescenta no texto uma informagio que tira do conheci- ‘mento da situagao (familiar) do aluno. Em outros termos, ele tem facesso ao mundo a partir do qual o texto foi emitido, o que the permite, por um lado, aceitar o discurso como coerente (neste mundo) e, por oulzo, restitui-lo a uma sistema de coeréncia con- siderado como perfeito que € a0 mesmo tempo o seu, 0 do aluno © 0 de todos os receptores eventuais. ‘@ nos fomece um outro exemplo bastante tipico desse pro- ‘cedimento. Se supusermos um professor que interprete (®) como referindo a um Miordinério no qual ele acredita (sabe) que os morcegos sio mamiferos ¢ no pissaros, ele s6 poderd emitir sobre esse texto um julgamento de incoeréneia. Entretanto, nesse ‘caso também, quando se estuda as corregOes de um professor que, por outro lado, confessa acreditar (saber) que 0s motcegos no fo passaros e que reconhece que o texto fala do mundo ordinério, percebe-se que ele nfo “funciona” da maneira esperada, Para ele, © texto niio coloca nenhum problema de coeréncia, nao pula de alos para bugalhos e ¢ inteiramente consequente e I6gico, con- 81 tanto que se coloque na perspectiva do aluno que acredita (“como © texto prova” dixit) que os morcegos sto passaros. Em resumo, ssor, sendo capaz de aceitar © mundo de crengas do aluno, imediatamente avaliar nese quadro a coeréncia do seu representével pela FIG. 1 ¢ desembocando num julgamento de incoeréncia 0 sujeito-avaliador chegasse, estrategicamente, a calcular um outro julgamento, colocando-se no mundo ( interpre- tado) de onde o texto foi emitido. MUNDO DO RECEPTOR MUNDO DO EMISSOR [SuaTe-nEcEPTOR [SueroREROR [=] i) ve} [reer [A |) ~ [] Juugauenro 0€ ICOERENGA CALCULO ESTRATEGIOO Podemos verificar, entio, que um modelo que desse conta nente estratégico (efetivos ou event no aluno, se sente na obrigacZo, dada sua fungiio educativa, de essas convicgdes para o “verdadeiro saber". Mas passa forcosamente por conside- texto: “Segunda feira 2 de maio. ‘na casa do meu av6, Ajudei ele. Mcu avé plantou alface, batatas doce, cenouras, rabanetes, vagens cogumelos tigo arroz. Depois fui no carrossel subi em cima de um tangue. Procisava apertar 0 botdo esquerdo saia um boneco com uma metralhadora. tanque funcionou?” Numa primeira leitura, (73)parece realmente “no fazer sen- tido", visto que a interroga¢> final comporta uma pressuposigo de eventualidade (“é possivel que 0 tanque niio tenha funciona do”), contradizendo (MR4) uma inferéncia deduzivel das frases ver que O (© que, margem) ¢ ficassé, como nés, um nivel relativamepe insuperavel de ineompreensio. Para ‘quem avalia de fora, (75) ¢ na realidade muito dificil de resgatar e nfo se vé de que modo tecuperar a contcadigao final. Entretanto, 6 professor nfo sente as mesmas dificuldades. Ele nao esquece, por exemplo, que esse texto é uma carta enderegada a um aluno de uma outra escola, o que é fundamental, j4 que ele compreende, a partir da, que a questao final nao é colocada por ela mesma, ou aliés, faz com a ajuda de um 36 Conecben que a elaborago de um tal componente caloca enormes problemas ‘Procuramos num oie estado arin mais dahadurente of mecimismos rages 308 qua ‘um eee pode ou nto rcaperracoerénta de wn txt aps aceso ao mundo do enissox. 8

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