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PORQUE DESIGNERS DEVEM ESTUDAR HISTÓRIA DA ARTE

Autores: Aline Galdino, Amadeu Mariano, Artur Leovegildo, Cicero Samuel, Dara
Vieira, Elaine Pereira, Giovana Muniz, Orlano Pereira, Stefânia Helen

É axiomático que são muitos os questionamentos sobre a necessidade do


estudo da arte para o design e os designers. Para obter a resposta, faz-se necessário
ter conhecimento acerca das diferenças entre arte e design e quando elas se
entrelaçam. Arte é uma produção essencialmente humana, que desperta um
sentimento, bom ou ruim, em quem aprecia, além de gerar questões que, talvez, não
tenham respostas. Design, por sua vez, é uma atividade que se trata da criação de
projetos e produtos, por meio da junção de diferentes saberes, que possam solucionar
problemas e, ao mesmo tempo, transmitir uma mensagem visual, cumprindo uma
função com objetivos claros, ligados à comunicação. Apesar das diferenças e
semelhanças entre ambas - que nem sempre são muito claras -, a intensa relação
entre elas existe e é imprescindível que um designer as estude para entender melhor
o mundo a sua volta e a sua profissão.
“A arte desaparecerá na medida que a vida adquirir mais equilíbrio.”
(MONDRIAN apud FISCHER, 1983, p. 11), mas

desde que um permanente equilíbrio entre o homem e o mundo que o


circunda não pode ser previsto nem para a mais desenvolvida das
sociedades, trata-se de uma ideia que sugere, também, que a arte não só é
necessária e tem sido necessária, mas igualmente que a arte continuará
sendo sempre necessária. (FISCHER, 1983, p. 11)

Essa premissa é verdadeira, uma vez que o ser humano, por possuir
consciência de si e de seus problemas, além de estar sempre em um estado de
constante mudança e evolução, nunca alcançará tal estabilidade. O equilíbrio que
Fischer menciona, portanto, é provido pela arte, e o design - uma profissão que muitas
e muitas vezes usa e apoia-se na arte - estará, da mesma forma, também sempre
presente na vida das pessoas.
Porém, a definição e o papel do design não é uma convenção entre os
estudiosos e profissionais da área. Na verdade, é preciso tirar as próprias conclusões
acerca deste assunto. No entanto, uma coisa é certa: o design trabalha com emoções
e criatividade e ambas são também pilares da arte. É possível notar, através do estudo
da arte e da sua história, a criatividade intrínseca de todos os artistas de qualquer
época. E é por meio da emoção e das histórias transmitidas pela arte, seja ela de qual
período for, que consegue-se compreender o passado, o presente e saber de que
forma o ser humano foi influenciado na maneira como pensa, sente e vê todas as
coisas.
Contudo, designar apenas uma função para a arte torna-se incompatível. A arte
configura-se mutável ao decorrer do tempo, acometida por um processo de
inconstância, acompanhada da progressiva transformação do ser humano. Desse
modo, é possível inferir que está ligada à várias necessidades e ramificações e não
poderá ser limitada a um único fim. Logo, o designer precisa dominar o processo de
formação artístico-histórico para assimilar as mudanças e impactos no presente,
podendo, assim, agregar a sua profissão as influências da arte que, por conseguinte,
poderão contribuir para o desenvolvimento do indivíduo e da sociedade, operando
como ferramenta transformadora da realidade. Acerca da seguinte lógica fica evidente
a necessidade de tal mecanismo: "a arte é necessária para que o homem se torne
capaz de conhecer e mudar o mundo. Mas a arte também é necessária em virtude da
magia que lhe é inerente". (FISHER, 1983, p.20)
A percepção de grandes mentes da história, como o filósofo Vilém Flusser,
apontam o design como sendo o agente de ligação entre o controle das artes e o
mundo da técnica e das grandes máquinas, culminando em uma ampla variedade de
influências artísticas, políticas, tecnológicas e sociais. À vista disso, para a
compreensão do processo de constituição social aplicada no e pelo design, é
necessário perceber como a arte ajudou a transformar o mundo com estilos distintos
e métodos criativos de desenvolvimento sensorial e de pensamento crítico
globalizado. A afirmativa "não é possível conhecer o presente sem estudar o passado"
tem total sentido no ambiente de atuação profissional do designer, onde é de inteira
importância a obtenção de senso teórico, crítico, criativo e histórico para agir sobre o
mundo e seu formato de comunicação. Alcançar o entendimento de que a arte
modificou maneiras de pensar, ver e sentir durante séculos é adquirir visão sobre
características humanas capazes de evidenciar propósitos e sentimentos.
Esse entendimento é fundamental, uma vez que os designers precisam passar
uma mensagem direta e precisa, que passe exatamente a ideia pretendida. É aí que
entra a importância de estudar a história da arte, pois através da sua análise o
designer consegue entender os processos de criação baseados no contexto histórico
e suas consequências na vida das pessoas daquela época e dos tempos atuais – uma
vez que arte é cultura e cultura é “uma herança, mas também um reaprendizado das
relações profundas entre o homem e o seu meio” (SANTOS, 2002, p.326 apud
BELCHIOR; RIBEIRO, 2014, p.38) – e dessa forma, chegar ao design adequado para
determinado produto que tenha exatamente o significado desejado, sem brechas ou
inadequações. Além disso, compreendendo o processo criativo e o modo de pensar
do artista em reação aos eventos sociais, econômicos, culturais e, é claro, artísticos
do seu tempo, o designer obterá referências e inspirações que engrandecerão o seu
trabalho. O próprio surgimento da primeira escola de design da história, a escola
alemã Bauhaus, por exemplo, utilizou da análise de todo um contexto em que havia
um mundo devastado pela guerra e uma industrialização iminente para consolidar-se
e consolidar o design no mercado no início do século XX, focando suas aulas em
capacitar artesãos para a criação de produtos em massa, explorando a necessidade
da sociedade da época.
É importante destacar também que o estudo da história da arte (e da própria
história em geral) é um fator indispensável para a formação de criticidade nos
cidadãos, algo essencial para um bom designer. Em uma sociedade líquida, onde tudo
se adapta ao mercado, as relações são efêmeras e nada nunca é bom o suficiente, o
designer precisa ser cauteloso pois tudo que ele faz influenciará grandemente na vida
das pessoas e na forma como elas agem e pensam. É a análise mencionada no
parágrafo anterior que fará o designer ter um olhar crítico para as consequências do
que produz e não apenas passar as mensagens e as emoções desejadas, mas as
mensagens e as emoções adequadas.
Da mesma forma que artistas buscam gerar emoções variadas, mesmo que
nem sempre positivas, a tática de provocar emoções específicas através de seu
trabalho (proporcionam nostalgia, alegria, adoração, etc.) também é usada por
designers. Deste modo, podemos utilizar como exemplo os Designer Toys, que
possuem características similares à da arte, pois produzem peças principalmente com
a intenção de causar sentimentos ao público, não tem um objetivo comum de venda
em massa e a necessidade de uma utilidade prática.
Esse tipo de produto apresenta várias outras características típicas da arte
como o toque pessoal do criador; críticas; peças exclusivas, raras e de valores bem
elevados e, ainda como no caso dos Designer Toys podem chegar a criar um misto
entre loja e galeria:
Lojas do tipo butique que apenas oferecem Designer Toys desfocam a linha
entre galeria de arte e loja. Exibindo toys de edições limitadas junto a pinturas
e peças customizadas pelos artistas, essas lojas ajudam a criar uma cena em
torno de novos trabalhos. (PHOENIX, 2016, p. 49)

Esses aspectos ajudam a dar aos artefatos produzidos a capacidade de criar


vínculos entre ele e o usuário, construíndo significados simbólicos e únicos para o
objeto e seu uso com base na experiência emocional que esse uso e as condições
em que ele acontece geram.
A associação desses fatores faz de um produto algo marcante na vida de seu
usuário. Esse processo foi alvo da autora Vera Damazio no artigo “Design, memória,
emoção: uma investigação para o projeto de produtos memoráveis” (DAMAZIO,
2013), onde ela explora o sentido que evocam alguns objetos com os quais seus
donos ou usuários mantêm ou mantiveram uma relação muito forte.
Como uma peça de arte que demonstra características como o estilo de seu
autor, bens específicos podem se tornar a marca pessoal de um indivíduo. Tipos de
roupa que veste, um brinquedo ao qual a criança se apega, o barulho inconfundível
do carro de um colega. Esses atributos criam a identidade dessas pessoas não só no
imaginário de quem as rodeia, mas também são percebidas e comumente destacadas
por elas mesmas. Dessa forma uma pessoa pode associar sua personalidade ou
mesmo momentos e etapas de sua vida a produtos e objetos diversos que não teriam
tais significados e mesmo significância para outro indivíduo.
Adentrando nos campos afetivo e da memória encontramos o conceito de
memória coletiva levantado por Halbwachs, o qual nega a existência de uma memória
individual, sustentando uma ideia de dependência de um meio para a formação das
relações emocionais e de uso ainda que entre um único indivíduo e um objeto.
Assim pode-se voltar a relacionar a arte e o design pela forma como os dois
por um lado podem alimentar e ser alimentados pelas culturas de massa, seja por
questões de sensibilização, mobilização (ou alienação!), seja por interesses
comerciais ou de produção ou pela tentativa de reforçar a ideia de identidade
individual, muitas vezes ambos traçam fugas ao senso comum de modo que geram
inovações em seus respectivos meios.
É por isso que um pensamento crítico em relação ao produto deve estar sempre
presente também na mente de um designer, uma vez que o capitalismo, o
consumismo, as mídias, a política e todas as formas de cultura de massa apropriam-
se do design e é preciso precaver-se dos próprio “truques”. Exemplificando, ao
analisar-se a história da arte e também do design, um dos exemplos mais notáveis da
utilização destes para propósitos escusos é visto na Segunda Guerra Mundial, quando
Hitler, aficcionado por estética (é possível chegar a esta conclusão também através
do estudo das obras de arte adquiridas por ele) utiliza do design em suas campanhas
para alienar toda uma nação, gerar uma guerra e chegar à beira de um genocídio.
Portanto, considerando todas as características citadas, é visível a grande
dificuldade de definir os limites entre a arte e o design. Também não há nenhuma
convenção sobre se design é arte ou não. Cada designer e/ou artista tem seu
pensamento sobre a questão. E, apesar de que não deve-se esquecer que em casos
como o dos designers toys, ainda trabalham pensando em atingir seu público alvo e
se associam a formas de expressões do consumo buscando se expandir - atributos
estes pertencentes ao design -, é evidente que um está profundamente ligado ao outro
e ambos têm poderes inestimáveis, especialmente num mundo tão globalizado,
interferindo diretamente nas opiniões, ações, sentimentos, experiências e ideias. Por
isso, é imprescindível para um bom designer ter noções de conceitos há muito
utilizados pela arte: uso de cores, formas, métodos de criação, exploração de
emoções, criticidade, etc. E mais do que isso, é fundamental conhecer a construção
de tais tipos conceitos, suas aplicações e evolução e a forma como já foram úteis tanto
na arte como no design por meio do estudo da sua história.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BELCHIOR, Camilo; RIBEIRO, Rita A. C. Design & Arte: Entre os limites e as


interseções. São Paulo: Câmara Brasileira do Livro, 2014.

BELCHIOR, Camilo de Lelis. Reciclando os sentidos. 1. ed. Contagem. Ed. do Autor,


2014.

MORAES, Dijon de; DIAS, Regina Álvares (Org.). Cadernos de Estudos Avançados
em Design: Design e Emoção. Barbacena: EdUEMG, 2013.

FISCHER, Ernst. A necessidade da arte. (9ª ed.). Rio de Janeiro: Zahar Editores S.A,
1983.

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