You are on page 1of 30
SISTEMAS REGIONAIS DE INOVAGAO E CLUSTERS - INSTRUMENTOS DE DESENVOLVIMENTO EM REGIOES PERIFERICAS Por GEORGE M.A. RAMOS Economista, Assistente, Escola Superior de Gestao, Instituto Politécnica de Castelo Branco Castelo Branco - PORTUGAL. SUMARIO: 1. CLUSTERS E SISTEMAS REGIONAIS DE INOVACAO: UMA VISAO SINOPTICA.- 2.- OS CLUSTERS E OS SISTEMAS REGIONAIS DE INOVACAO COMO INSTRUMENTOS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL.- 3. AS REGIOES PERIFE- RICAS COM PROBLEMAS ESTRUTURAIS DE DESENVOLVIMENTO.- i. UMA LEITURA A PARTIR DA EXPERIENCIA DO PROGRAMA REGIONAL DE ACCOES INOVADORAS DO CENTRO DE PORTUGAL (PRAI).- 5. CONCLUSOES.- 6. BIBLIOGRAFIA. 47 RESUMO Abordagens recentes sobre o estudo de inovagées salientam alguns aspecto. convergentes relativos ao processo de inovac ) nas economias : por um lado, natureza s istémica ¢ interrelacional da inovagio ¢, por outro, a sua densidad reticular em termos geograficos ¢ inter-actividades econémicas Uma perspectiva esta relacionada com a abordagem pelos sistemas de inovacao ao nivel nacional, regional ¢ local. Hoje em dia as formas mais especializadas de conhecimento estao-se a tornar recursos escassos, devido ao aumento da velocidade das mudangas que ocorrem na economia global; a capacidade de aprendizagem continua ¢ de adaptagio a este cendrio de constante mudanca determina a performance das empresas, das regides ¢ dos paises. Outra das perspectivas reside nna pesquisa © no estudo do desenvolvimento de clusters, onde a proximidade ¢ a incerrelagao técnica/tecnolégica sao 0s principais aspectos a tomar em consideracao Embora as duas abordagens operem a um nivel diferente na escala espacial, uma c outra permitem identificar um conjunto de factores-chave que contribuem para a percepgao da forma como as instituigdes ¢ actores, considerando o sistema 0 de “clusterizacao”, participam na atmosfera inovadora ¢ mento economico, No entanto, ambas as abordagens apresentam uma limitacio semelhante: canto uma como a outra tendem a focalizar-se nos niveis descritivo e analitico a custa do nivel explanatério. O poder de decisio local e regional esta, prtincipalmente, interessado em processos de intensificacao de dusters, no contexto das economias locais ¢ regionais, Psta tendéncia € tio ou mais importante quanto se desea a regides mais destavorecidas, possuidoras de estrucuras socio-econémicas débeis ¢ em que qualquer investimento tende a provocar um impacto positivo ABSTRACT Recent approaches to the study of innovations enhance some similar aspects of the innovation’s process in the economies: (i) the systemic and interrelated nacure of innovation and (ii) its geographic and inter-economic activities density of networking One perspective is related to the innovation systems’ approach at the national, is alized forms regional and local level. What we know so far is chat the most sp. of knowledge are becoming short lived resources, in face of the (increasingly) fast changes that are occurring in the global economy; it’s the ability co learn permanently and to adape to this fast changing scenario chat instigate che innovative performance of firms, regions and countries. One other approach is to be found in the research on clusters development, where closeness and interrelaved echnical/technological linkage are the main features to take under consideration Although these two approaches operate at slighely different spatial scale of is, they both allow the identification of a set of key factors chat contribute counderstand the way in which institutions and actors, considering the innovation system or the cluster process, participate in the innovation atmosphere and in the economic growth Nevertheless, both approaches show che same limitation: they tend to focalise into the descriptive and analytical level, disregarding the explanatory level. Local and regional authorities are, mainly, inrerested in the process of cluscer intensification in the local and regional economies context ‘This propensity gains significance as we face less favoured regions, which have feeble socio-economic structures, and where every investment tends to stir up a strong positive impact. 1. CLUSTERS E SISTEMAS REGIONAIS DE INOVAGAO: UMA VISAO SINOPTICA O recente legado empirico 4 volta dos modelos analiticos dos clusters e dos cemas regionais de inovagao fornece um quadro geral explicativo das dindmicas regionais © adopta uma visio intervencionista (nerwork paradigm), procurando identificar ¢ compreender as dimensdes cognitiva, produtiva e tecnolégica que afectam actualmente os territ6rios. Na realidade, bibliografia centrada nas abordagens dos clusters e dos siste nas regionais de inovacao tem basicamente colocado 0 énfase na importincia que os mecanismos formais ¢ informais de producio, disseminagao ¢ consumo de informa 0 estratégica ¢ de conhecimento tém para o desempenho competitive desses sistemas. Essas abordagens apresentam o interesse desublinhara profunda interrelagio entreos mecanismos econémicos ¢as formas sociais extra-econémica Sy quando em jogo se enconeram processos fundamentais & qualificagio € a competitividade dos territ6rios, como a aprendizagem mutualista ¢ a inovacio. 49 Tais abordagens, edificadas com base em abundante producao cientifica, possuem actualmente um corpo tedrico € analitico eseabilizado, embora se apontar alguma ambiguidade e fluidez, nomeadamente porque nio criaram um espago de auconom ia suficientemente amplo que as permita distinguir com objectividade ¢ rigor entre si Possuindo uma filiagio industrial, a nocao de duster € um conjunto ricorializado de empresas inter-relacionadas, de fornecedoresespecializados, de prestadores de servicos, de empresas pertencentes a indiistrias relacionadas € de instieuigdes associadas que desenvolvem as suas actividades promovendo externalidades que se repercutem positivamente sobre os niveis de competitividade ¢ de inovagao do conjunto. Canonicamence, nos processos de clusterizagdo, 0 centro de gravidade das dinmicas de densificagao esta colocado nas relagdes estabelecidas ao longo das cadeias directas € indirectas de forns cimento. Em termos operativos, a nogio de duster revela grande interesse na estrita medida em que permite identificar caminhos criticos para a consolidacio de redes € de ligacdes-chave, visando a r acfio de mais valor acrescentado ¢ acelerar a transigao/aprofundamento para uma economia inovadora baseada no conhecimento. A ideia de sistem regional de inovago remete, inicialmente, para o ordenamento das dimensoes institucionat Defacto, a promogio de arquitecturas institucionais ajustadas ao respective sistema produtive constitui, neste modelo, a verdadeira alavanca da competitividade empresarial ¢ territorial, 0 que Ihe confere um marcado caracter operativo que nao é passivel de se encontrar na abordagem dos clusters. O conceito de sistema regional de inovagio assume, actualmente e crescentemente, um papel instrumental, nao raras vezes associado as politicas de novacio, diferenciando-se de modo vincado, por essa dimensio operativa, de oucras abordagens. O objectivo primeiro deste modelo passa por reforgar os pacamares terricoriais de competitividade, tornando os meios mais inovadores € as regides mais inteligentes — no ambito do classico trade-off entre a curiosity € a is mility, a abordagem dos sistemas regionais de inovagao pende nitidamente para «1 segunda opcao. As possibilidades de exisréncia de um sistema de inovacio dependem essencialmente de dois factores: a proximidade espacial ea proximidade tecnoldgica. A transformagio dessas duas formas de proximidade em sistema de inovacio territorializado pressupde que elas sejam organizadas institucionalmente. Por outras palavras, convém que a coesio de um sistema regional de inovacio seja 50 assegurado por logicas de acco colectivas e pela partilha de regras comuns. Em certos casos, como os distritos industriais, 0s meios inovadores ou as regides inteligentes, essa coesiio releva mais do dom io das instituigdes informal (regras e normas que prevalecem na cultura sécio-produtiva local ¢ reduzem os niveis de incerteza nos comportamentos reciprocos dos actores). Nos outros casos, a institucionalizacao do territ6rio assenta na criagdo de instituicbes formais que implica reorganizacdes no modus faciendi ea operacionalizacio de um quadro de accio politico ¢ administrative —como no caso dos sistemas regiona isde inovagio A ligagio entre os conceitos de caster e de sistema regional de inovagio radica nacompreensio da dinamica de inovagio de processos territorialmente ancorados, procurando analisara sua formagio ¢ os elementos que os estruturam e tipificam Ambas as abordagens pretendem responder ao objective de passar de um paradigma de vantagens comparativas (dotacao factorial) para um paradigma de vancagens competitivas (baseado na aprendizagem € no conhecimento). Aanilise comparativa entre os dois modelos, em varios pacamares de andlise, é apresentada no Quadro 1 seguinte. Os contributos destas duas abordagens, de caracteristicas complementares vieram enriquecer as leituras das dinamicas de desenvolvimento regional. A existéncia de competéncias especificas, a capacidade de cooperagio entre os actores, a solidariedade institucional, os processos colectivos de aprendizagem e ofomenco do potencial de inovacao constituem, afinal, ingredientes fundamentais do desenvolvimento empresarial ¢ territorial. 2.- OS CLUSTERS E OS SISTEMAS REGIONAIS DE INOVACAO COMO INSTRUMENTOS DE DESENVOLVIMENTO TERRITO- RIAL A actual politica de inovagio, acentuando a preméncia da adequagao as diferente: idiossincrasias territoriais, aproxima-se, cada vez mais, da abordagem caracteristica das modernas politicas regionais que colocam a ténica nos processos colectivos de aprendizagem ¢ na inovacao institucional em vez de apostarem quase exclusivamente na provisio de infra-estrucuras basicas (Henderson e Morgan, 2001) ¢ na captacio do investimento mével internacional! , atacando as causas, ¢ nao, como tradicionalmente ocorria, os sintomas do atraso estrutural de alguns espacos territoriais —naverdade, ocerne da problematica do desenvolvimento passa, em larga medida, por combater o défice de inovacdo que é caracteristico das 51 Quadro 1. Comparagao sindptica entre cluster e sistema regional de inovagado Surgimento (Clima predoninante Produtivo Relagies no mercantis | Retages das empresas | incom a envalvente ‘especalizde Relais com o exterior | Bstruturas reteutares Logica Formas dominant de ‘onhecimento ors do ‘pre ae agen Movdalidades dominates de inovagio seas poten Fonte: Ramos Cluster Espnntineo, parte do sistema proutivo lo Industrial e wren: especaizagio redutva numa ‘pica de divist sctoa do raha verticamente esitegrado ou integrago quar serial aberto Redes ine. pessoas infrmas de crulago informa: forte mobic rion e vertical "leva intensidad de contacto casi 0 Forte aber ao is de tansfernci de informa c ‘combocinento Compacts, com empresatider a cen sector pvt mocanismns cxectivs de ved era competi da ava: foment do poten Se novago iio of cficade aba 1 doing, by interacting, by nessorking Incremental, adaptive rata frat ofits ind do Preduto, do processoeerganizaionls ltcitos do ditto de inky econhecment Lock tengo rescimento dos Fendmenos de hieraruizaao empresarial 1c de pr ‘mpresrial bases na iis internacional do taba ;ncos(2004) istema Regional de Inovagio Induzide, cor entidade nganizaconal Cllrs empresria cient Industri diversiiagto priv nn pica de dvistointa-secterial do tral: grand “empress € PME; integra quis sertial a Invensidae das eg es ext pro impo ida ela smereants female (ede de cope pacerias estaegias ce) levad iacensidae de contacto estat Fore aber ao exterior: insre0 no cu Iiernacionais de wansfereocia de informa ‘ohocien Com erpresa- pivot ow instuigao-pvot {universidade, conto eenligin, te) De prceria araitecar nsitional como lvanca da empettivdadeemresral © terior foment do poten de nova firma de una esti regal de inavagto Catia lost By searching, by nenworking Incremental eal first ond do pd, do proceso e rgunizacionas, Fetlizagio era; fortement nda pelo Universo institucional de apoio justaneno. ‘indica etre a eaferas empresa e| insicion sco empresa smparado Lock: elacional e een: brie sds ‘eles isttuconl estatizag das odes de coopera regides periféricas ¢ estraruralmente debilitadas” . Ou seja, pode afirmar-se que a politica de inovacao se projecta numa cada vez mais importante dimensio regional ¢, convergentemente, a moderna politica regional envolve, também, uma dimensio afecta ao fomento d s dindmicas de inovagao de tal modo que, no plano operacional ¢ mesmo ao nivel do respectivo enquadramento conceptual, existe uma clara tendénc ia de aproximagao, ¢ até de fusao, entre estas duas politicas de animacao econémica que valorizam 0 software do desenvolvimento, clevando os intangiveis cognitivos, organizacionais € institucionais a eixos prioritarios de intervengio (Landabaso, 1997; Maillac, 1998; Sanchez, 2000; Santos, 2003). Repare-se que ambas, quer a politica de inovacio, historicamente tributaria 52 politicas de ciéncia e de tecnologia, quer a moderna politica regional, evoluiram em direcgao & resolugdo dos problemas de desenvolvimento sécio- econémico privilegiando accuagdes pelo lado da procura (demand-side problems) (Gregersen ¢ Johnson, 1997), € colocando especial énfase nas tecnol6gicas ¢ organizacionais das PME? Relembre-se que a propria Comissio necessidade: ropeia (1996) incorporou esta filosofia de acewagio mais tertitorializada estimuladora das dinamicas da procura, reconhecendo explicitamenteo importante papel que a renovacio dos factores de competitividade promotores da inovacio pode desempenhar nas PME, ja que so estas que vertebram o essencial da matriz econémica das regides periféricas e menos desenvolvidas. Alids, um dos objectivos da Comis » Europeia (1999) prende-se com a diminuicao do hiato teenolégico e inovador entre a idades s regides europeias, Conscience da concentracio de acti recnolégicas de base inovadora nas chamadas “dez ilhas de inovagio”', que representavam cerca de 80% das despesas ¢ das actividades de colaboracao em 1&D na Europa (op. cit.), a Comissio Europeia tem vindo a reforcar o seu apoio ao desenvolvimento do potencial inovador das regides mais desfavorecidas. Em definitivo, passa a entender-se que “(...) 08 bloqueios da dinamica de inovacao em regides periféricas estao, geralmente, menos associados & producao "Saliente-se que a moderna politica de inovagio niio renega, como um dos seus inserumentos de promogic do potencial compecitivo de um decerminado territério, o recurso a acracgao de formas selectivas de investimento exogeno, favorecendo o acolhimenco de projectos empresariais ¢ sectores que, “..) pelo seu contetido tecnol6gico, possam constituir um elemento adicional de qualificagio do cecido produtivo regional (...” (Pires et alii, 2000: 20), quer no sentido do aprofundamento de dominantes de especializacio, quer no sentido de concribuir para o desenvolvimento de novos padres cde especializagio sectoria ” A.essa convergéncia de politicas niio €alheio o facto de, crescentemente, haver evieéncia empirica que demonstra que as disparidades regionais de desenvolvimento resultam, funcamentalmente, de diferencas dos niveis de produtividade e competitividade das varias escruturas territoriais cle produgio ‘em quea inovagao, nao sendo o inico, é um factor crucial. 5 A percepgiio de queo apoio a inovagio nas regides periféricas mais deprimidas nao podia passar s6 por actuasdes do lado da oferta levou a DG XVI da Comissao Europeia a avangar com um outro conjunto de instrumentos, a partir de 1994, como 0s Planos ‘Tecnolégicos Regionais (que abrangeram cito regidxs europeias, incluindo a Regio Norte de Portugal), redenominados depois, a partirde 1996, Estratégias Regionais de Inovagao, que, basicamente, pretendiam criar os alicerces para implementar uma cultura de didlogo e de inovacao a partir da mobilizacao alargada (bottom-up) das diferentes competéncias do universo de actores ¢ do diagnéstico efectivo do perfil de procura empresarial nos campos tecnolégico ¢ organizacional. ‘ Grande Londres, Roterdio/ Amesterdao, ile de France/Paris, Rhur, Franktiire, Estugarda, Munique, Lyon, Turim ¢ Milao, de informagao ¢ conhecimento estratégicos ¢ mais ligados aos processos que condicionam a sua difusao € apropriagao pelos actores regionais” (Santos, 2000: 151), sendo crucial prover mecanismos de ajuda que alterem os bloqueios estruturais condicionantes ao nivel da absorcio € utilizagao de informagio estraré; da a necessidade de basearem as suas estratégia ade apoio’ inov: >. Esta nova geracio de politicas evoluiu para tencar rrespost: a esse espectto de empresas que ainda no perceberam adequadamente s competitivas na inovagdo como factor de difer aciagao ¢ afirmagdo nos mercados perante um cenario de crescente, c exacerbada, concorréncia ao nivel global; ceneram-se. estrategicamente, sobre as PME menos sensibilizadas para os factores de inovagio, tentando promover um conjunto deexternalidades recnolégicas organizacionais que possam ser absorvidas por essas empresas, partindo, numa abordagem from below, do diagndstico de potencialidades e caréncias da propria macriz produtiva regional. Nesse sentido, io utilizados como strumentos privilegiados a implementagao de redes de auditores tecnolégicos, a difusio de tecnologias adapradas aos sectores tradicionais de especializagao das regibes periféricas, a regionalizacio da politica de investigagao universitaria, no sentido de responder aos desafios de competitividade do tecido ptodutive local, o fomento de redes horizoncais de cooperagio empresarial, ete Henderson e Morgan (2001), que denominam esta nova geracio de politica cegional de experimentalismo regional, assim reunindo 2 s dimensoes exploratdria de oportunidade de aprendizagem (learning-by-experimenting), olham-nacomoum inscrumento de criagao de capital social entre os diversos actores envolvidos, a partir do estabelecimento de canais permanentes de didlogo, do langamento de projectos comuns que levem ao reforgo dos lacos de confianga € reciprocidade, da crescente interaccio entre as esferas publica e privada, da implementagio de insticuigdes com fungdes de incermediagdo®, nomeadamente no campo da transferéncia de informagao ¢ conhecimento empresarialmente relevance € da incubacao de empresas de caracter inovador, da promogio de uma rede de oferta de servicos estratégicos de apoio empresarial especialmente dirigidos as reais nec sidades do tecido produtivo, etc. — como acrescenta Maillat (1998: 16), essa estratégia nao € senao uma tentativa de jogar com 0 efeito de proximidade ¢ de associar territorialmente o saber-fazer industrial ¢ 0 saber-fazer terciario. E preciso ter clara nogio de que a politica de inovagao, assim entendida, deixa irreversivelmente de se constituir como uma tentativa, casuistica, de promover € potenciar os canais de transferéncia de tecnologia, mas visa a estimulagao do meio > As bridging initiatives, de que falarn Clack e Guy (1998). 54 regional. Registe-se que o que basicamente esta em causa € saber se estas regides menos prosperas dinmicas que, de um modo geral, possuem bases produtivas pouco inovadoras ¢ competitivas a escala internacional ¢ uma infra-estrutura institucional relativamente pouco densa ¢ articulada, reanem as condigdes necessarias pa 4 permitirem a gestacao favoravel destes processos de elevacio dos paramares de capital social ¢ cognitivo. Repare-se que o enquadramento analitico que subjaz a esta problemitica nio é senao © que € enunciado pelos modelos dos clusters ¢ dos sistemas regionais de inovagao: em termos de animagao sécio-econdmica, os tertitérios de maior sucesso siio aqueles que so caracterizados pela capacidade das firmas ¢ instituigdes em assumirem voluntariamente dinamicas de aprendizagem — nos produtos, nos processos € nas estruturas organizacionais — induzidas pelas constantes presses competitivas (Henderson, 2000). A tonicade e para se adaptarem as pressbes intervencao politica deve, em consonancia, passar do nivel daempresa parao nivel do proprio meio, jé que se assume que € precisamente © meio inovador, ¢ nao necessariamente cada firma comada individualmente, que é responsivel pela di mica de inovacao regional. Este figurino tem implicico 0 reconhecimento da importancia das externalidades nos processos de inovacao ¢ de difusio, 0 que parece justificativo suficienre para empreender a incervencao publica, sem a qual as firmas, especialmente as PME* , poderiam desenvolver um esforgo de inovagao aquém do desejavel Repare-se que 0s objectivos gerais das politicas de inovacio baseadas na abordagem dos clusters e dos sis de inovacio sao os de remover as emas region, falhas témicas ¢ de mercado que impossibilitam o funcionamento pleno ¢ articulado do universo empresarial ¢ institucional ¢ o seu consequente upgrading competitivo. Basicamente, aquelas abordagens tencam identifica colmatar erés tipos fundamentais de falhas (Proinov, 2002) - insuficiéncia ou inefi » de bens publicos; ia na provis: = falhas na coordenagao entre os actore - lacunas naconexdoas grandes redes mundiais de circulagao de informacio cconhecimento estratégico. Sea abordagem cencrada na andlise de clusters coloca mais a t6nica na criagio de vancajzens competitivas a partir de mecanismos radicados no aprofundamento da especializacio inter-empresarial ¢ da divisio do trabalho, 0 modelo dos sistemas regionais de inovagao, por seu turno, remete preferencialmente para a © Pequenas ¢ Médias Empresas. 5 énfase na resposta institucional & procura de servigos especializados de apoio a actividade produtiva eao correcto ajustamento dos interfaces entre os actores que fazem parce do sistema de inovagao. Sa0 modelos analiticos com. visdes complementares sobre a problematica do desenvolvimento regional Nesse sentido, no ambito da Ciencia Regional, essas abordagens apresentam a clara vantagem de oferecerem um modo de pensar a economia e de organiza osesforcos ded envolvimentoempri arial e territorial que permitem ulerapassat algumas limitacdes das abordagens sectoriais mais ortodoxas €canénicas. De um modo geral, possuem a vantagem operativa de permitirem melhor aprender o ntido das mudangas no qu adro da competicao a escala global, o papel dos sistemas de geragao de inovacio baseados no conhecimento os principais Factores que se encontram subjacentes & renovacio das vantagens competitivas. Essas abordagens permitem analisar ¢ construir 0s alicerces que devem sustentar a relagao dialégica entre os universos empresarial ¢ institucional e entre as esferas privada € pablica, gerando parcerias de valor acrescentado que melhorarem 0 networking social e colocé-lo ao servico de objectives partilhados de promogao da competitividade Seguindo nesta linha de raciocinio, advog: , comungando da opiniao de Pires et alii (2000: 1) que as politicas de inovagdo devem ter como missio fundamental “(...) promover a competitividade do sistema produtivo, num contexto de globalizagio das relagdes econdmicas ¢ de aquisicao de vantagens competitivas resultantes da capacidade de inovar (...)”. Nesta acep¢ao, a politica de inovagao debate-se, sobretudo em economias periféricas ¢ deprimidas, com o duplo de das empresas ¢ dos sectores mais representativos dos d fio de concorrer, por um lado, para o upgrading do perfil competitivo jerentes modelos de industrializacao vigentes nesses territérios €, por outro, de contribuir para o surgimenco de novos vectores de especializacio produtiva, “(...)tentando “linkages” para novas actividades mais exigentes em inputs tecnoldgicos mas também propiciadoras de uma efectiva acumulacao de conhecimentos técnicos (...)" (Mota Campos e Silva, 1996: 9). Cronicamente, um dos handicaps que se levancam igualmente as regides periféricas prende- ecom ofacto do seu perfil cecnolégico ser caracterizado por um sistema de C&T em que osector puilico (universidades, laboratérios) se encontra sobrerrepresentado em relagao ao esforco desenvolvido pelo sector privado. Esta situacao acarreta consequéncias sobre a orientacio das actividades de investigagio que sao levadas a cabo que, neste contexto, sio guiadas por logicas académicas 56 direccio: inrernas s para fases a montante, nosentidodasuaconcentracio nas modalidades de investigagio fundamental ¢ aplicada, afastando-se, assim, das necessidades do mercado (Koschatzky e Sternberg, 2000; Santos, 2002). As politicas pblicas de promocio do porencial regional de inovacao tém, também aqui, um espaco privilegiado de acgio, tentando dotar esses territérios de mecanismos que fomentem a endogeneizacao das actividades de 1&D pelos actores econdmicos, o que normalmente tem implicado quero estabelecimento de plataformas de aproximacao entre as esferas académica e empresarial, quer a progressiva incernalizagao da fungio de investigagio pelo meio empresarial regional mais estruturado, Trata-se de promover a regionalizagao da funcio de investigacao, impregnando-a de um perfil mais econémico ¢ redireccionando-a no sentido do ajustamento as dindmicas da procura empresarial desse espaco cettitoriel. ‘A aposta no reordenamento industrial de sectores tradicionais passa por ser, sobretudo em areas periféricas com estruturas econémicas fragilizadas, um dos principais desafios que a politica de inovagao precisa de equacionar. Neste caso, é forcoso ponderar a criago de mecanismos que levem a exteriorizagao das necessidades tecnologicas, organizacionais ¢ de mercado das empresas, muitas vezes inseridas em sectores tradicionais ¢/ow-ech, partindo dessa base-line referencial para esbogar as principais linhas fortes de intervencao e centrando sobre as firmas osinscramentos de politica, Um dos problemas nucleares que se torna fundamental atacar prende-se com 0 facto de estes espacos territoriais deprimidos serem tipicamente afectados por capacidades muito limitadas de aprendizagem que sao a verdadeira causa da stia anemia econdmica e, nesse sentido, o principal foco de incervengao publica deve basear-se na promogao de dinamicas alargadas, inclusivas c interactivas de aprendizagem colectiva’ ¢ de reorganizacio institucional Um dos aspectos que parece também absolutamente imprescindivel prende- se com reforco das capacidades ¢ das competéncias da propria administracio piiblica para adequar o seu modus faciendi a este novo quadro de accao que assenta Repare-s: que este novo conjunto de inserumeentos de politica, nao se baseando na grande escala nem, em projectos de natureza infra-estrutural, requer um elevado grau de desceneralizagao no seu design, na implementacio ¢ na gesto, bem como uma certa consensualizagao ¢ cooperagio entre os diversos actores envolvides, nao esquecendo um quad efectivo de lideranca institucional sem o qual parece dificil congregar as diversas racionalidades em jogo. Isto sugere, naturalmente, que um aumento na capacidad regional de inovagio implica inevitavelmente novas formas de organizacio e de parceria instieucional para ajudar a melhorar a competitividade estructural (Landabaso, 1997) das empresas clessas regibes economicamente mais debilitadas. 7 mais na catilise ¢ na fertilizagéo do potencial de inovagao dos diversos actores fixendo uma formulagio de politicas pablicas que privilegie “(.) a territoriais. construgio de politicas em colaboragio com o tecido empresarial e institucional, mais (Pires et alii, 2000: 4), ao de recursos locais, romper com as inércias institucionais do que uma construgio de politicas para a colaboracao (. Trabalhar com adota € empresariais, promover redes de cooperacao interempresarial, envolver actores (Morgan, 1997): este € grande desafio que se coloca a politica de inovacio enquanto instrumenco fundamental de promocao sustentada de desenvolvimento empr rial e territorial em teas periféricas. AS REGIOES PERIFERICAS COM PROBLEMAS ESTRUTURAIS DE DESENVOLVIMENTO. A literatura sobre 0 desenvolvimento das cconomias e do tetritério torna evidente as diferengas entre desenvolvimento rural ¢ urbano (Badouin, 1982 Costa, 2002), Essa distingao resulta das condig6es estrucurais que caracterizam os diferentes espacos. Os meios rurais apresentam um conjunto de caracteristicas que dificultam a criagao de uma actividade econémica, mormente: tendéncia para a desertificagao e envelhecimento da populagao, baixos niveis de formacao, falta de infra-estrucuras ede servigos de apoio ao cidadlao ¢s empresas, entre outras. Estas caracteristicas enformam oconceito de rerritivias de baixa densidade que traduz uma realidade de baixa densidade a trés niveis: demogréfico, institucional ¢ relacional (Magalhaes er a/., 2001). Os avangos tecnol6gicos verificados nas tiltimas décadas — que cornaram traduzem-se inadequadas as teorias de localizacao tal como foram formuladas io € de conhecimento na ctescente importancia da troca de dados, de informa para © funcionamento ¢ crescimento do sistema econémico — 0 advento da economia da informacao (ver Quadro 2). Quadro 2. Caracteristicas essenciais da sociedade do conbecimento Atributos Paradigma Industrial Paradigma do conhecimento Modelo de Producto Feonomia de escala Flexivel Pessoas Mao-de-obra especializada Polivalente e empreendedor ‘Tempo Grandes tempos de resposta ‘Tempo real Espaco Limitado e definido Uimitado e indefinido Massa Fangivel Intangivel Fonte: idaptado de Ramos eSantos(2004) 58 Em trabalhos anteriores, varios autores (Mackenzie, 1992; Dinis, 2000; Magalhaeser a/., 2001) procuraram evidenciar as caracteris ticas deste paradigma ea oportunidade que este constitui para as economias dos territérios de baixa densidade. Os progressos tecnolégicos representam normalmente menor necessidade de investimenco em muitas operacdes de produgio € nos custos de transporte, ao mesmo tempo que aumentam a flexibilidade € a qualidade do output; para além deste aspecto, os novos factores de producao - tecnologia, informacio € conhecimento - nao tém uma localizagao especifica e podem ser facilmente criados, eransferidos ¢ utilizados em regiGes remotas € com custos significativamente baixos. Por outro lado, 0 conhecimento ¢ a massificagao da informacio exigem mais criatividade para ir de encontro as necessidades de um consumidor cada vez mais informado, selectivo ¢ exigente. O resultado escala da lugar a uma produgao flexivel — porque permite uma resposta répida as to ea . specializacio flexivel, ou seja, a produgio em grande alteragGes vertiginosas da sociedade e das necessidades de mercado -epersonalizada — porque € dirigida para as necessidades especificas da cada consumidor/cliente. O novo paradigma econdmico traduz-se num novo paradigma de organizacao: 0s individuos e as pequenas empresas com acesso aos recursos informagio € conhecimento € com capacidade para os utilizar com criatividade ¢ inovacao, poderao substituir as grandes empresas. Este aovo modelo de produgao repres nta uma nova esperanca para os territories de baixa densidade, condenados pela logica industrial 4 manucengao do seu estatuto desfavorecido, As novas regras do jogo econdmico propiciam a melhoria da posicio destes territérios no tabuleiro da economia mundial, na medida em que revalorizaram um conjunto de elementos do mundo rural que podem constituir importantes activos econémicos € sobre os quais as suas empresas podem « global entarastia estratégia para obter uma maior competitividade As escratégias competitivas das empresas em territérios de baixa densidade deverao, pois, desenvolver-se com base em dois vectores fundamentais da economia de especia (0 flexivel: uma definigao precisa dos scus mercados € produtos ¢ a constituigao de redes de cooperagio que funcionem em perfeita coordenacao. A especializagio traduz-se no que Lane e Yoshinaga (1994) chamam as “eécnicas de marketing de nicho”, visando satisfazer necessidades especificas. Esta tendénciaabre todo um conjunto de mercados deespecialidade® para as empresas 2000, Simoes et a/. 2001, do mundo rural (Lane ¢ Yoshinaga 1994, Din 59 Magalhies fa/, 2001). E este tipo de producos/servigos, que representam o que € tinico em cada regio, que, quando direccionados para o segmento de mercadc adequado, permitem as empresas em territérios de baixa densidade obte, vantagens competitivas no mercado global Aflexibilidade, porseu lado, exige queseestabeleca uma perfeita coordenacs entre diferentes unidades organizacionais formando uma escrutura em rede ou “partenariado”, O “partenariado” mais habieual nas sociedades industriais ¢ auese estabelece encre clientes fornecedores. Noentanto, anovaeconomia, ecm Particular nos cericérios de baixa densidad, exige que esta colaboracioseamplie ® novos participantes incluindo também incermeditios, canais de diseribuis 0, Concorrentes ¢ outros facilitadores, gerando assim a flexibilidade que perme oferecer aos clientes individuais os productos e servigos & sua medida, mantendo nivelsclevados de qualidade (Pykee Sengenberger, 1990; Simmons Kalantaridis, 1996; Bucler er a/., 1990). Estas novas possibil idades nao devem, todavia, levar ao esquecimentoas sérias Timicagoes que estas regides ainda possuem. A auséncia de uma massa critica que permita 0 desenvolvimento de um conjunto de servigos especializados em diferentes areas (a satide, os transportes, o apoio tecnolégico), bem como a falta dle infra-estruturas electronicas essenciais © de pessoas com as competéncias necessérias para trabalhar com elas e gerit a informagio, consticuem séri obstaiculos ao desenvolvimento destas regides. Além disso, a visio dos territérios de baisa densidacle como periféricos pode constituir ouera limitagio, no $6 no acesso ao capital financeito humano, como também um entrave psicoldgico para as proprias populacdes. Ha, porcanto, um conjunto de forcas ¢ fraquezas nas economia periféricas em relacao 3 oportunidad de desenvolvimento econémico proporcionada pela nova economia. Como se: io superadas as fraquezas e potenciadas as forcas e qual sera ‘estratégia de desenvolvimento depende, em cada regiao, da sua historia, da sua cultura, dos seus recursos, bem como das escolhas politicas ¢ individuais Até recentemente, as condig6es do meio envolvente eram consideradas como constrangimentos ou encorajamentos ao comportamento empresarial nos paises/ tegioes em desenvolvimento. As regides que procurassem encorajar ocrescimento empresarial era-lhes aconselhado que se concentrassem nas suas infra-escruturas ——_—__—__ "Na terminologia de marketing, “bens de especialidade” sio bens com caractersticas singulares ou 'lentificagio de marca pelos quais um niimero suficiente de compradores esta dspostoa fazer win esforgo extra de compra (Kotler, 2000:4119). co de capitél, conforme veiculada pelas teorias de localizagio. Por isso, durante muitos anos as politicas piblicas foram dirigidas para a construgio de infra- escruturas que pudessem apoiar as iniciativas empresariais, para depois procurar incentivar 0 estabelecimento de relagdes comerciais através de apoios governarenta Cincentivos financeiros, pouca preocupacao de responsabilidade social, scnciio fiscal, subsidios directos para empresas ou sectores industriais espec s, ete.). Dois factos vicram questionar esta abordagem. Por um lado, a localizagao de actividades em territérios de baixa densidade motivada exclusivamente por baixos custos — A custa dos apoios governamentais — demonstraram ser uma estratégia incorrecta: sao conhecidos exemplo de deslocalizacio de actividades para outros pontos do “globo”. Por outro lado, sucesso de algumas economias a partir de empresas que emergem nacuralmence chamou a atengao para a importancia das redes € para o facto de que o que as pequenas empresas necessitam é uma rede informacional que complemente as suas vantagens de serem flexiveis ¢ rapidas nas respostas. Parece claro que tal como referem Pyke ¢ Sengenberger (1990: 4): “o problema chave para as pequenas empresas nao é 0 facto de serem pequenas, mas sim o de estarem isolad Actualmente, os factores dinamicos de competitividade possuem um papel cada vez mais importante na criagio de vantagens competitivas sustentadas, indispensaveis para assegurar uma adequada insergao nos circuitos comerciais. Sendo a inovagio um eixo incontornavel de afirmacao competitiva das empresas, interessa saber qual 0 posicionamento adoptado pelas empresas localizadas em espacos territoriais periféricos face a inovacio e, naturalmente, quais os caminhos de fucuro que nesse campo se abrem a sua reestrucuragao competitiva, Como é reconhecido, as regides periféricas portuguesas enfrentam o claro repto de terem forgosamente de proceder & remodelagao das suas bases produtivas pelo recurso as diferentes modalidades de inovacao, pelo que precisam de reequacionar ‘seu quadro actual de accao: a nio ser que seja efectivamente empreendida uma politica regional de vocagao inovadora ou uma politica de inovacao de base territorial, as regides mais deprimidas de Portugal podem enredar-se em trajectorias de duck-in tecnolégico © econdmico que acarretem a progressiva desvalorizagio do seu portfalio produtivo nos mercados internacionais. a a No actual contexto politico-administrativo, torna-se obvi inoperacionalidade da primeira opcao, a da prossecugao da inovagao através do planeamento regional A vie politico-adminiscrativa, a via da regionalizagao/territorializagao da 61 politica de inovagio, © que se pode dizer € que o processo se encontra ainda em fase muito embrionaria, havendo sinais de que a situacao se podera gradualmen ir alerando; esta via possui como principal objective 0 fomento do potencial territorial de inovacao através de uma abordagem multidisciplinar na promocao da 1&D e da inovagao para o desenvolvimento regional. E, seguramente, um excelente mecanismo para iniciar um caminho que leve a melhorar a capacidade dos diversos actores regionais na criagio de politicas que tenham em atencio as necessidades reais do sector produtivo, consensualizando opcies prospectivas estratégicas de actuagdo a médio/longo prazo que possam servir de contributo efectivo para alavancar a dindmica inovadora dessas regides. Em particular, deve estes processos servir para promover uma abordagem integrada onde as iniciativas convergentes da administracao publica, mas particularmente os instrumentos de politica de C&T € de politica industrial, com incidéncia na regio, possam ser enquadradas ¢ potenciadas de acordo com as necessidades concretas ¢ a dinimica do sector empresarial. Esta é uma oportunidade imperdivel para, em Portugal, se unir, de modo planeadb e articulado, ciéncia com tecnologia, politica cientifica com politica industrial, saber-fazer cere rio com saber-fazer industrial, conhecimento tacito com conhecimento formal, oferta qualificada com procura es truturada de servicos complexos de apoio & inovacio, inovagdes de Ambiro empresarial com inovagdes institucionais, fundindo num todo coerente instrumentos ¢ medidas que sio produzidas e implementadas de forma avulsa (IEFP ef alli, 2003). Por outro lado, existe hoje evidéncia empirica demonstrativa de que a competitividade dos sistemas produtivos nao resulta apenas da capacidade inovativa das empresas que os estruturam, mas depende também da existéncia de uma envolvente institucional de apoio, no quadro da prestacio de servigos complexos de fomento da inovacio, da espessura ¢ da qualidade do capital relacional que associa as empresas ¢ as instituicdes e da conectividade e fertilizagao esse sistema local/regional de inovagao com as redes associadas aos fluxos de informagao, Trata-se, na pratica, de concertar a uma escala territorial, uma estratégia que permita melhorar a eficién dinamica com que 0s varios actore produzem, difundem ¢ absorvem informacao, conhecimentos € competéncias especificas, construindo uma capacidade territorial de fomento do potencial de inovacao, Deste modo, pode constituir um contributo activo para o proceso de ajustamento estructural de regides colocadas perante um cendrio mais P et alli, 2003). agressivo de concorréncia externa (IEF! 62 De acordo com as conclusdes apontadas nalguns trabalhos de investigacio conduzidos recentemente em espacos territoriais portugueses com difer nes caracteristicas s6cio-econémicas [como a Peninsula de Settibal (Almeida, 1994), o distrito de Aveiro (Castro ef ali, 1997), a regiao Norte (incluindo 0 Grande Porto) (M 2001)€0 Arco Urbano do Centro Interior’ (Santo a Campos, 1997), o sistema produtivo de Alcanena (Nicolau, 1999 2002), s, esto geralmente vinculadas inovagdes seguem as trajectorias empresariais dominantes ¢ tradiciona a recriagio do saber-fazer acumulado e sao, fundamentalmente, de caracter incremental. Além disso, predomina, entre os empresarios dessas regides, um nogio muito enviesada € restritiva de inovagio, confundindo estratégias de modernizacio, baseadas na renovagio dos factores de capital fisico, com estratégias de inovacio, que apontam essencialmente para os factores de natureza imaterial O conhecimento tecnolégico € essencialmente socializado através de redes locais c informais por onde se processa a circulacao ¢ a partilha de informagao. De um modo geral, os parceiros das empresas ao longo da cadeia de valor nao se encontram localizados nesses mesmos espacos territoriais ¢, consequentemente, a dinamica de inovagao nao se encontra regionalmente enraizada. Além do mais, uma grande fatia do universo empresarial regional, nomeadamente 0 vasto contingente de PME que vertebra essas economias regionais, permanece alheio aos mecanismos de transferéncia de informacao ¢ conhecimento implantados, nao fazendo parte nem do sistema local/regional de inovagdo, porque sao praticamente inexistentes, nem do sistema nacional de inovagao, porque este se encontra demasiado afastado das reais necessidades desse vasto leque de empresas. O certo & que a fertilidade econémica destes territérios peri ricos de baixa densidade esta fortemente condicionada pela sua capacidade em incubar ¢ encorajar o crescimento de PME e micro > é canto mais Mpresas, € esse proc sustentivel a médio e longo prazo quanto essas empresas internalizam a inovagio como objectivo nuclear do seu posicionamento nos mercados. Este facto remete para um dos aspectos fundamentais ¢ que se prende com a desconexa capacidade empresarial de matriz local que filia num complexo maltiplo de causas, designadamente de indole cultural, no declinio populacional € no consequente despovoamento desses. espacos, € mesmo na inexisténcia de bacias de emprego de dimensio suficiente para permitir catalisar a gestagio de limiates minimos para suporte de projectos produtivos de base local. ” Englobanlo os concelhos de Castelo Branco, Fundao, Covilha ¢ Belmonte. 63 Em Portugal, em resumo, o que se verifica é que existe, sobreeudo nas regides periféricas, um conjunto de blogucios estrucurais que condicionam largamente as opcdes a tomar para encetar uma trajectoria competitiva guiada pela inovacio, alguns dos q ais derivam das politicas de C&T ¢ industrial que tém sido prosseguidas, nomeadamente: — como 0 sistema nacional de C&T é demasiado concentracionista ¢ abordagem seguida privilegia mecanismos lineares de producao da inovacio, assentando, ainda, no modelo funcionalisea do zeehnolygy-push ¢ numa implantacio top-down, tem existido um desajuste entre a oferta tecnolégica disponibilizada pelas infra-escruturas desse sub idades do mercado; istema ¢ as reais nec — tem sido colocada demasiada énfase no apoio a [&D fundamental em detrimento de projectos inovadores orientados para a transferéncia e difusio de tecnologia € para o mercado; — © sistema cientifico ¢ tecnolégico nacional tem vindo a negligenciar as empresa na suia capacidade aurénoma, ou em parceri , de prosseguir erajectérias de produgao de conhecimento apropridvel e validado pelo mercado; — irrelevance uma cultura de cooperacio alargada entre os sectores puiblico € privado no campo do fomento da inovagao; ~ as medidas politicas empreendidas de fomento da inovacao empresarial tém vindo a privilegiar empresas maiores ¢ determinados sectores de média/ clevada intensidade recnologica, acarretando a ssecundarizacao das economias regionais mais periféricas, cujo tecido produtivo assenca largamente em PME de sectores tradicionais. '® A este propésito, convira ntifico ¢ tecnolégico portugués é, em termos. pressio da percentagem do PIB afecta a essas actividades, e qualitativamente, na medida em que existe um dlesequilibrio na dstribuicio do financiamento e execuctio das despesas de I&D por agente incerveniente: tna maior parte dos paises da OCDE, 0 ;elembrar que o sistema cis comparativos com a OCDE, relativamente fragil quancicativamence, em cermos da sstacdo assume-se mais como financiador, canalizando verbas para as empresas executarem actividades de 1D. Em Porcugal, as empresas represencam, 20 nivel da execugio, uma fraccio relativamente pequena e este esforgo € quase totalmente financiado por fundos proprios; as actividades de [&D centram-se em fases do processo de inovacao relativamente remotas em relacio.a0 mercado, focalizando-se em investigagao fundamental e em actividades bastante afastadas clas aplicacdes —0 mediocre protagonismo desempenhado pelas empresas ¢ a falta de tradigives no relacionamento universidades-empresas contribui para esse desajustamento, parecendo claro que @ Ji industrial ainda nao assumiu a sua posigao motivadora do crescimento do conhecimenco de CST e das economias regionais e nacional. A par dessas caraceeristicas, sistema C8’ de igual modo, geograficamente muito desequilibrado, ja que ocorre um fe nacional é, yomeno de excessiva concentragao nas reas metropolitanas do pais, com particular incidéncia em Lisboa e Vale do Tejo (Ministério da Cigncia e ‘Tecnologia, 2001). 4 Em Areas periféricas, com problemases ruturais de desenvolvimento, ¢forcoso accuar pelo lado da densificagao e qualificacao da oferta, no sentido de estruturar aenvolvente institucional cempresarial para que possa ajudar a clevar e sustentar o padrao competitivo do universo de PME ailocalizadas, sobretudo nas vertentes da valorizacao dos recursos humanos, da provisdo de informacio relevante, da prestacio de servicos de elevado conteiido tecnol6gico ede gestiio, das actividades de I&D de suporte ¢ do capital de risco. Fundamental é igualmente, nestes espacos, implementar mecanismos subjacentes aestimulacéo da procura, criando meios que permitam as empresas objectivar as suas necessidades tecnologica € organizacionais ¢ extrovertendo-as, quer no sentido do fomento de relagoes de cooperacio inter-empr sarial, quer da ligacio a envolvente de prestagio de servigos complexos de apoio a inovacao. Napratica, as PME ¢ micro empresas localizadas em areas de baixa densidade devem, mais do que preocupar-se com 0 efeito dimensional sobre 0 padrao inovador das suas producées, combater, primeiro, a sindrome de not small but lonely - 0 grande problema de que enf ‘mam No que respeita ao seu posicionamento competicivo -, inserindo-se em redes de coopera o sectoriais € institucionais, a escalas locais, regionais, nacionais e/ou internaciona . que Ihes possibilicem garantir recursos complementares ¢ aceder em tempo dtil a informacao empresarialmente relevante. E imperioso abrir as empresas aos mercados extra- regionais, dotando-as da capacicade de desenvolver produtos eservigos exportaveis, ow adquiridos “in loco” por consumidores de outras regides, “o que torna critico o saber vender, ao lado do saber produzir” (Mendes Baptista, 1999: 17). Existe a plena percepgio de que, em espagos periféricos de matriz rural ¢ de baixa densidade, a excepgao é a existéncia de limiares minimos de unidades empresariais em sectores afins que permita o surgimento de ambiente de intercimbio, cooperagio € inovagio, pelo que existe um vacuo interactivo relacional que se torna imperioso colmatar, Esta problemiitica da endogencizacio da inovagio, enquanto vector primordial de afirmacao competitiva, se encontra ede baixa densidade, uma vez que os mecanismos que estao subjacentes a génese da inovagao relativarnente distance da realidade s6cio-econémica das zonas rurai: exigem uma série de condigdes que raramente se localizam nesses espacos territori . No entanto, este facto nao invalida que se considere que as empresas, quaisquer que sejam, necessitam de se adaptar as mudangas, ¢ para gerd-las precisam de uma politica agressiva de inovacao que converta esta numa fonte estrarégica de vantagem competitiva, Registe-se, a este propésito, que Keeble 65 (1993) e Corolleur ef alii (1996) concluiram, baseados em estudos empiricos, que as empresas no sao necessariamente mais inovadoras nas cidades do que em contextos nao urbanos, ressalvando, todavia, que desde que esses espacos estejam devidamente conectados com as cidades € os seus recursos materiais € imateriais. Os meios inovadores constituem precisamente um dispositive de produgio de fungdes urbanas, permitindo aos actores € as empresas co-produzir Fecursos ess enciais aos processos de inovacao. Em Portugal, 2 escala regional, pode afirmar-se que muitas das componente: que corporizam a nogao estrucural de sistema regional de inovacio ja existem Contudo, devido & manifesta auséncia de uma culeura de contacto ¢ a incipiéncia das estrururas reticulares dle cooperagao, os diferentes actores agem com base nas suas ra ionalidades proprias ¢ sectoriais, raramente estabelecendo pontes de convergéncia inter-actores, as parcerias de que fala Syrret (1997), 0 que constitui uma das maiores limitagdes do tecido institucional empresarial desses territérios. Parece evidence que o imperativo fundamental de politica para as regides periféricas de Portugal se relaciona com a promocao das estruturas reticulares inter-empresariais ¢ inter-insticucionais, publico-privado, que se repercutem favoravelmente sobre a dinamica de inovacao das empresas. Trata-se de equacionar as perspectivas de promogao e aplicagio de novos instrumentos de politica que privilegiem a relevancia dos servigos as empresas ¢ 0 fomento 2 inovacio como factor de desenvolvimento regional ¢ local de cariz © quadro apresentado vai no sentido de defender uma estratégi territorialista, favorecendo o desenvolvimento de uma abordagem que implique © reforgo dos mecanismos de networking entre 0 universo de actores regionais, fortalecendo as relacdes de aproximagao entre as esf ras institucional e empresarial. Neste ceniirio de acco, a racionalidade politica ¢ institucional deve prosseguir 0 objectivo estratégico de promover um proceso de aprendizagem por via da interaccao (/earning-by-interacting) e da colaboragao entre actores associados por efeitos de proximidade e de comunhao de interesses, assumindo uma filosofia que reforce a aproximagao ao universo de micro e PME, assegurando 0 reforco da dimensao territorial da inovagao. A viabilidade destes sistemas territoriais de inovagao embrionarios passa por estar mais centrada e dependente das capacidades locais de recriagao de recursos saberes, e, em consequencia, pode vir a diminuir sua dependéncia extrema dos impulsos externos para promover uma dinamica de inovagao com reflexos sobre a competitividade das empresas ¢ da regiio, Esta refle: o vai de encontro & opiniaio formulada por Pires ef alii (2000: 11), 66 que sustentam que a construgio de uma estratégia de inovagao dotada de uma forte componente territorial deve eer em conea quatro principios fundamentais que petmnicem estabelecer, desde logo, uma certa demarcagio de opgoes: “i) nao se pode esperar que uma estratégia regional de inovacao abranja todas as empresas e sectores da regio, sendo necessario, numa fase inicial, rescringir os seus campos de accio; ii) aestratégia de inovagao deve ser construida tendo por base as necessidades das empresas ¢ as caracteristicas do tecido produtivo existe te; iiiya existéncia de uma diversidade de mecanismos € fungdes que consubstanciam uma aproximagio efectiva encre as empresas € 0 s tema cientifico etecnologico; iv) anecessidade de preparar o futuro, qualificando o tecido produtivo através do langamento de novos produtos ¢ processos ¢ da criagao de empresas de base tecnolégica.” 4. UMALEITURA A PARTIR DA EXPERIENCIA DO PROGRAMA REGIONAL DE ACCOES INOVADORAS DO CENTRO DE POR- TUGAL (PRAT) Foi jé feita suficiente prova das acentuadas debilidades estrucurais que tipificam amatriz. empres rial das regides periféricas portuguesas, sendo certo que o gran- de problema que atravessa a quase totalidade das empresas releva da falta de enquadramento estratégico da funcao empresarial, designadamente no que respeita ao manifesto défice na renovacio dos factores de competitividade. A insercao competi a que prevalece na maioria dos sectores ¢ empresas decorre ainda largamente de apostas em estratégias produtivistas que visam a minimizacao dos custos dos factores produtivos, designadamente do trabalho. Se bem que os custos de producio sejam ainda relevantes, hoje em dia a competicao que assenta nos factores de inovacao esta norteada pela obrengao de rendas de escassez que resultam da producio de modalidades inovadoras, como sejam: novos produtos, novos processos, formas organizacionais mais eficientes, configuragdes renovadas dos circuitos de distribuigao ¢ comercializagio visando 4 aproximagao aos potenciais clientes. Eactualmente consensual entreos investigadores dachamada Economia Territoria da Inovegao que a implemencacao de estratégias de sucesso conducentes ao fomento do potencial empresarial de inovacio € a resultante de uma cripla condigao: -do fluxo continuo de conhecimentos (Avow-how) relevantes pela via do o7 mercado ¢ através das diferentes fileiras sectoriais; -do quadro territorial e organizacional de suporte na esfera do tercidrio superior, capaz de disponibilizar servigos de elevado contetido tecnolégico as empresas, bem como da teia de relagdes de cooperacdo estabelecidas inter- empresarialmente ¢ entre as empresas ¢ 0 universo institucional regional figurino do PRAL; -do perfil de qualificagbes académicas € profissionais dos recursos humanos ¢ fundamencalmente nesta perspectiva que assenta 0 la sua capacidade de renovacio de competéncias. Nessa medida, a promogao do potencial inovador regional deixou de ser en- tendido como um mero mecanismo de transferéncia de tecnologia e envolve hoje uma abrangéncia sectorial ¢ uma abordagem tertitorializada que fazem desta estratégia de politica um veiculo privilegiado de integragio de medidas de poli rica de diverso cariz sectorial, desde a investigacio e desenvolvimento (&D) até induscrial, passando pelo emprego € formacao ¢ a politica educativa. O PRAI tem implicita uma nogao de inovagao que remete para uma abordagem em que os mecanismos relacionados com a oferta de Ciéncia Tecnologia (C&T) assumem um papel destacado, remetendo para lugar acess6rio os desempenhos relativos ao perfil da procura ¢ a cliversos actores envolvidos nos processos inovatérios, pacidade de interaccao dos Paralelamente, o PRAI incorpora uma visio da criagdo inovadora essencialmente alimentada pelo lado da oferta (supply-side), numa visio linearizada im, no ambito do modelo linear (ou de los processos conducentes a inovagao: a pipe-line), a ciéncia sta na base da inova , sendo a criagao da oportunidade cientifica a decerminante do proceso de inovagao, Neste contexto, a forma de intervengao publica na promogio da inovacio procura sempre actuar pelo condicionamento da oferta. Aumentando o stock de conhecimento cientifico, estava-s : a fazer, paralelamente, com que a economia os assimilasse. Deum modo geral, pode afirmar-se que o modelo linear de inovacao evidencia «uma visio demasiado simplificada e reducora dos desafios organizacionais que se colocam a actividade inovadora. A fim de langar no mercado inovagoes que sejam bem sucedidas, as empresas necessitam de recolher ¢ processar uma larga variedade de informagao estratégica ¢ de conhecimento especializado. Este cruzamento de fontes cognitivas actua, frequentemente, de modo complementar © mesmo sinergético, 0 que porencia a dinamica inovadora. Enquanto 0 modelo linear de inovacio enfatiza a importancia do vinculo entre as actividade de 1&D © a insergao da inovagao no mercado, outros quadros analiticos vieram enfatizar 68 a importincia de diferentes factores no processo de fomento de inovacoes. O modelo interactivo agora prevalecente sustenta que 0s novos produtos € os novos processos resultam de um cmtinanm de interacgoes que nao ¢ redutivel a um simples modelo universal. Na visio actualmente mais aceite pelos académicos, 0 processo de inovagao € visto de modo interactivo, aleatorio, e dependendo de uma istema nao estructura plural de actores institucionais - a inovagao aparece num s linear, em que as necessidades de mercado (demand-pull) ¢ 0 empurrio cientifico tecnol6gico (svience/technology push) desempenham papel prioritario, A inovagio é entendida como um mecanismo interactivo complexo, enquadrando 0 processo inovador mais numa visio sistémica do que sequencial e univoca. Em suma, a inovacao € resultante de tipos de conhecimenco diversos mas complementares, nomeadamente da fertilizacio do conhecimento cientifico © técnico com oconhecimento empirico de mercado. O conhecimento técnico é quer parcialmente codificado ¢ formal, quer parcialmente técito ¢ informal, e pode permitira gestacao de uma nova invencao que, para obter sucesso comercial, cem deconjugaras informacdes que provém do mercado e da procura dos consumidores. AI&D académica e industrial, bem como a envolvente de prestadores de servigos recnolégicos de valor acrescentado, ¢ fornecedorade importances inputs que sao de grande utilidade para a validagao comercial de todo 0 processo. O caracter marcadamente interactivo € continuo da inovacao passa, pois, a implicar a definigao de quadros de organizagio e funcionamento que possam ser indutores da inovagao, quer ao nivel incra-empresarial (por exemplo, entre dife- rentes departamentos, alargando, permeabilizando ¢ fertilizando 0 processo de produgio de inovacao a todas as fases de produgao), quer ao nivel inter-empresa- rial e privilegiando, cambém, as ligacdes a envolvence do tercidrio especializado, Areas da engenharia do produto, do design, do soffware, do marketing, dos servigos financeiros avangados, do comércio internacional, etc. Ou seja, privile~ gia-se, neste tiltimo caso, um modelo que remete para uma rede cerricorial de actores que enquadra o conceito de sistema local/regional de inovacao. No caso do PRAT, de um modo geral, é que os esforcos de promogio do potencial regional de inovacio filiam ainda muito na producao de elementos de C&T que se concentram basicamente no sector piblico e, neste, nas universida- des, detendo, assim, um perfil pouco orientado para o mercado. Contrariamente visio contemplada no modelo linear de inovagdo, muico centrada nas actividades de [&D promovidas na academia, o modelo interactivo coloca a empresa € 0 seu quadro relacional com as envolventes empresariais € o institucionais como elementos nucleares da politica de inovagao, sublinhando a ida. as vertentes da fert crescente importancia atribu lizacao de saberes (codificado € tacito) © & valorizagao comercial dos esforcos investigativos desenvolvidos, aproximando os recursos de 1&D das necessidades de mercado. Alids, esta perspectiva perfilhaa visto de que um sistema cientifico de alco nivel e um elevado grau de originalidade cientifica naosto condigdes necessari nem suficientes para induzir dinamismo tecnolég coe econémico. As implicagies desta visio analitica réio sao despiciendas quando projectadas para 0 PRAI. E necessario tornar bem Claro se a orientacao dos projectos apoiados pelo PRAI vai no sentido, quase exclusive, de promover a oferta de elementos de C&T ou visa antes fomentar a procura implicita ou explicita de factores de renovagio competitiva por parte das empresas, promovendo 0 ajustamento entre 0 universo de produgio de conhecimento especializado ¢ 0 universo econdmico-produtivo, 5. CONCLUSOES ‘Tem-se observado que as politicas de inovagio tenderam a focar padroes de promogio do desenvolvimento tecnologico de empresas ou projectos pontuais ¢ individuais, Actualmente, surge a necessidade de se repensarem politicas que m o desenvolvimento individual de empresas, bem como de repensar as onganizacées ¢ instituigdes envolvidas no processo de formulacio de tais politicas, & luz das rapidas mudangas trazi s com o paradigma das tecnologias de informacao e comunicagao € reflectidas no proprio proceso de inovacio. No Ambito destas novas politicas que vém sendo formuladas, nota-se uma tendéncia para a mudanga em formatos e contetidos: observam-se novas formas de entender politicas cientificas, tecnolégicas ¢ industriais como fazendo parte de um mesmo conjunto, que privilegia o desenvolvimento, disseminagao ¢ uso de novos produtos, servicos ¢ processos; enfatiza-se o estimulo 4 formagao de redes de diferentes agentes para incensificar 0 processo de aprendizagem interactivo na pesquisa, desenvolvimento, producao e comercializagao destes bens. A ideia de incorporar factores competitivos intangiveis, que nao so muito valorizados pelo tecido produtivo, aparece na sequéncia da discussio actual sobre © que se torna mais importante ao nivel da atractividade do investimento: por um lado, 0s factores locacionais tradicionais (os hard location factors) ainda nao perderam toda a sua validade, mas exige-se uma reformulacao desta atractividade com a incorporacao de factores intangiveis ¢ qualitativos (0s soft location factors). Neste sentido, a esfera produtiva devera também incorporar esta visio latente e 70 os objectives do PRAI direccionam-se para este aspecto. ‘As politicas de desenvolvimento endégeno levaram a necessidade de reconsiderar a politica de desenvolvimento regional, emergindo a importancia da melhoria das capacidades auténomas de crescimento em direccao a criagao de vantagens competitivas. Este esforco é particularmente notado (também no PRAD) por intencionar o aumento do potencial inovador mediante o fortalecimento de economias externas a partir do encorajamento as transferéncias de L&D entre o saber ¢ 0 saber-fazer local. Esta abordagem potenciaré, ainda, a valorizagio efectiva estes Factores incorporando o potencial aparecimento de novos produtos s05 nas respectivas fileiras produtivas. efou proce Aenvolvente regional é fulcral para a forma de promover a reticularizacao do sistema de inovagio, uma vez que um dos grande desafios que actualmente se colocam as regides periféricas é 0 aproveitamento das vircudes dos actores, em cooperagio com 0 tecido produtivo, por forma a renovar factores competitivos Neste contexto, é importante que, no Ambito de esforgos direccionados para a comprecnsio da dimensiao regional em termos da inovacao, se reflicta sobre o processe de consolidagao do binémio coeréncia/diversidade, em conjugacio com outros dois atributos que se assumem como essenciais para a capacidade de inovacao regional: o equilibrio entre competicao e cooperagao € a acumulagio de conhecimento tecno-econdmico, codificado e tacito. Parece existir (ainda) um peso excessivo da carga investigativa relativamente a capacidade de inclusio em termos empresariais; s6 esta ligagao permitira comprovar, efectivamente, 0 potencial de inovagao ao nivel das regides menos desenvolvidas. Esta insuficiéncia é suscentada pela fraca cooperagéo (quantitat ¢ qualitativa) evidenciada em termos de relagao com 0 mundo empresarial; existe uma evidente caréncia de um melhor ajustamento entre quem procura obter inovagao € quem encontra preparado para a fornecer. As politicas de inovagdo tornam-se actualmente mais importantes do que no passado, cendo em vista o seu papel fundamental na intensificacao da competitividade, através do fortalecimento da capacidade de aprender dos individuos e das empresas. Neste sentido, um passo importante € a incorporacao do elemento “aprendizagem” como o proceso central para capacitar um pais ou uma regio. Ampli jase, também, a relevancia para as politicas de inovagao da focagem em sistemas nacionais, regionais ou locais, no qual é central a nocio de que © process inovativo € localizado e, portanto, depende dos seus contextos empresarial, 71 sectorial, organizacional ¢ insticucional especificos. Nestes casos, todo 0 conjunto de agentes que formatam um sistema sio considerados para o incentivo ao desenvolvimento do sistema local, regional ou nacional especifico. Observam-se, igualmente, tendéncias para se reduzir 0 papel de promotores de politicas cientifica, tecnolégica ¢ de inovagao de governos nacionais ou regionais. Neste sentido, destaca-se 0 conflito, por vezes existente, entre os formuladores de politicas influenciados por modelos neo-classicos — os quais desvalorizam o papel da tecnologia ¢ da inovagio para o desenvolvimento de m pa is ou regido — e aqueles que enfatizam a abordagem pela vertente da inovagiio. Nao raras vezes os primeiros tendem a negligenciar as politicas inovativas € reduzir o volume de recursos a serem aplicados nestas. Um modelo de desenvolvimento capaz de garantir a autonomia do proceso cetransformagao do sistema econémico local relativamente auco-sustentado deve ser baseado nas caracteris ica s locais € na capacidade de controlar algumas varidveis fundamentais. Em particular, deve ser baseado na utilizacao de recursos locais, na capacidade de verificar 0 processo de acumulagio localmente, na idade de inovar ¢ na existéncia (¢ capacidade de desenvolver) de capa interdependéncias produtivas, inera ¢ intersectoriais, ao nivel local 6. BIBLIOGRAFIA. ALMEIDA, A. J.8.(1994). Sistema Regional de Inovagao.e Competitividade Industrial ~ 0 Caso da Peninsula de Settibal, Dissertagao de Mestrado, Lisboa: ISCTE. BADOUIN, R. (1982). Sécio-Economia do Ordenamento Rural, Porto: Rés (eraducao portuguesa por A. Teixeira Fernandes do original Economie et aménagement de Pespace ruval), BUTLER, J. E., PHAN, P. ¢ HANSEN, G. S. (1990). “Strategic Alliances Through Interorganizational Newworks: A Path to Entrepreneurial Success?”, in Frontiers Of Entrepreneurship Research 1990, Babson College, Wellesley, pp.525- 538 CASTRO, E. A., NOGUEIRA, F. ¢ ESTEVES, C. (1997). “Report of face to face incerviews with regional firms— Aveiro Region” iv Regional Innovation Systems: Designing for the Future ~ Fourth Interim Report to BC-DG XI, Aveiro: Universidade de Aveiro. ne CLARK, J. ¢ GUY, K. (1998). “Innovation and competitiveness: a review”, Technology Analysis & Strategic Management, 10 (3), pp. 363-395. COMISSAO EUROPEIA (1996). Green Paper on Innovation. Luxembourg: CE COMISSAO EUROPEIA (1999). Sexto Relatério Periédico relativn & Sitnagao Socineconimnica e ao Desenvolvimento das Regides da Unido Enropeia. Luxemburg: CE COROLLEUR, F., BOULIANNE, L., CREVOISIER, O ¢ DECOUTERE, S. (1996). Ville et Innovation: le Cas de Trois Villes de Suisse Occidentale, Neuchatel: IRER-Université de Neuchatel COSTA, J.S. (Coord.) (2002). Compéndio de Economia Regional, Colecgio APDR, Coimbra. DINIS, A para as regi (2000). "Futuro e Tradigao: um novo paradigma de competitividade rurais e menos desenvolvidas”, Perspectivas de Desenvolvimento para as Regides Maritimas, Colecgio APDR, pp.545-556. GREGERSEN, B. e JOHNSON, B. (1997). “Learning economies, innovation systems and European Integration”, Regional Studies, 31 (5), 479-490. HENDERSON, D. (2000). “UE regional innovation strategies: regional experimentalism in practice”, European Urban and Regional Studies, 7 (A), 347-358. HENDERSON, D. e MORGAN, K. (2001). “Region: Laboratories: the Rise in GERTLER, M. e WOLFE, D.(eds.), Innovation and Social Learning, London: Macmillan. of Regional Experimencalism in Europe IEFP, Espago ¢ Desenvolvimento, CES e CEDER (2003). Empresarialidade em tervitbrios de baixa densidade, Lisboa: IEF KEEBLE, D. (1993). “Small firm creation, innovation and growth and the urban-rural shift”, in Curran, J. eStorey, D. (eds.), Small Firms in Urban and Rural Luations, London: Routledge, pp. 55-78. 73 KOSCHATZKY, K. eSTERNBERG, R. (2000). “R&D cooperation in innovation systems — some lessons from the European Innovation Survey (ERIS)", Evropean Planning Studies, 8 (A), pp. 487-502. KC Edigao. ER, P. (2000). Administracao de Marketing, S0 Paulo: Prentice Hall, 10* LANDABASO, M. (1997). “The promotion of innovation in regional policy: proposals fora regional innovation strategy”, Entrepreneurship & Regional Development, 9, pp. 1-24. LANE, B. e YOSHINAGA, K. (1994). “Niche markets for che Rural World”, The OECD Observer, n° 190, October/November, pp. 14-18. MACKENZIE, L. R. (1992). “Fostering Entrepreneurship as a Rural Economic Development Strategy”, Economic Development Review, Fall, pp. 38-44. MAGALHAES, A., NEVES, A. O.¢ RELVAS, S. (2001). “Competitividade das Areas rurais: uma abordagem na perspectivade marketing”, 1° Congresso de Estudos Rurais, UTAD, Vila Real, 16 a 18 Setembro. MAILLAT, D. (1998). “Innovative milieux and the new generations of regional policies”, Entrepreneurship & Regional Development, \O (1), pp- 1-16 MENDES BAPTISTA, A.J.(1999). Politicas para o Desenvolvimento do Interior—um Contributo para o Plano Nacional de Desenvolvimento Econémico e Social 2000-20006, CCRC. Coimbra: MINISTERIO DA CIENCIA E TECNOLOGIA (2001). Inguérito an Potencial Cientifico e Tecnoligico - 1997, Lisboa: MCT MORGAN, K. (1997). regional development”, Regional Studies, 31 (5), Pp. 491-503. “The learning region: institutions, innovation and MOTA CAMPOS, M. I. (1997). Sistemas Locais de Inovagao e Desenvolvinento Regional, Dissertagao de Mestrado, Porto: FEUP. 74 MOTA CAMPOS, M. L. € SILVA, M. (1996). “Politica de inovagao em regibes industrials atrasadas”, Actas do IV Encontro Nacional da APDR, Covilha: UBI. NICOLAU, Isabel (1999). Estriatégias Empresartats em Contexto de Mudanga: a Indiistria de Cartumes na Transigio para a Maturidade, Dissertagao de Doutoramento, Lisboa: ISCTE, NICOLA, Isabel (2001). “Alcanena: trajectorias de inovagao e ciclo de vida da industria de curtumes” iz Antonelli, C. ¢ Ferrao, J. (coords.), Comunicagao, Conhecinento Colectivo e Inovagao — as Vantagens da Aglomeragao Geografica, Lisboa: ICS, pp. 83-100. PIRES, A., RODRIGUES, C., CASTRO, E. € ESTEVES, C. (2000). Constragao de una Esivatégia de Inovagao para a Regiav Centro. Aveiro CEIDET-UA, PROINOV (2002). Clusters e Politica de Inovagao, Lisboa: PCM. PYKE F. e SENGENBERGER W. (1990). “Introduction” in Pyke, F. Becattini, G.a Italy, Genova, International Institute for Labour Studies, pp. 1-9. RAMOS, G. e SANTOS, D. (2004). “The innovation system vs. cluster process: common contributive elements towards regional development”, Proceedings 2004 European RSA Congress, Porto: FEUP. cd Sengenberger, W. (eds), Industrial Districts and Inter-Firm Co-operation in SANCHEZ, P. (2000). “The design of a European Innovation Policy: issues and problems”, comunicacao apresentada no coléquio novation and Diffusion in the Portuguese Economy. Lisboa: CISEP. SANTOS, D. (2000). “Innovationand territory: which strategies to promote regional European Urban and Regional Studies, 7 (2), pp. 147- innovation systems in Portugal 156. SANTOS, D. (2002). Dindmicas Territoriais de Inovagao no Areo Urbano do Centro Interior, Dissertacio de Douroramento, Aveiro: Universidade de Aveiro. i) SANTO: com as politicas de desenvolvimento territorial” , Estudos Regionais, 3, pp. 25-40. Domingos (2003). “Politica de inovagao: filiagao hist6rica e relagao SIMMONS, €. ¢ KALANTARIDIS, C. (1996). “Entrepreneurial strategies in southern Europe: Rural workers in garment industry of Greece”, Journal of Economic Issues, Vol. 30, n°, March , pp.121-142 SIMOES, M. J., CASTELA, P. e JACINTO, P. (2001). “Desafios e Oportunida- des da Empresarialidade em meio Rural: O caso da Serra de Estrela”, I” Congresso Estudos Rurais, UTAD, Vila Real, 16 a 18 Setembro. SYRRE local economic development in Portugal”, European Urban and Regional Studies, A (2), pp. 99-114 S. (1997), “The politics of partnership. The role of social partners in 76

You might also like