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com
Somos arte
Manifestações culturais ornamentam a sociedade e expressam
a identidade do ser humano e dos grupos sociais

Uma indústria de ritmos e cores

Carnaval: como a maior festa popular brasileira
se tornou um negócio lucrativo

Expressar-se nas cidades

Edição Afinal, quais são os significados e

01
desdobramentos da arte urbana?

Carreira: Design de Moda

As possibilidades de atuação do profissional que
transforma criatividade em novos visuais
Fev–2017
 Nesta edição

ENTRELINHAS

E x p e d i e n t e
7 UMA INDÚSTRIA DE RITMOS E CORES
Carnaval: como a maior festa popular brasileira
se tornou um negócio lucrativo

CONTEXTO
Direção geral 9 EXPRESSAR-SE NAS CIDADES
Afinal, quais são os significados e
Roger Trimer
desdobramentos da arte urbana?

Gerência editorial ENTREVISTA

João Carlos Puglisi 12 CARREIRA: DESIGN DE MODA
As possibilidades de atuação do profissional que
Coord. de projetos editoriais transforma criatividade em novos visuais
Marília L. dos Santos G. Ribeiro

Editorial
Coord. de produção editorial
Lívia Scherrer dos Santos Somos arte

A
lguns milhões de anos atrás, nossos ancestrais, involuntariamente,
Edição / Texto perceberam algo que viria a permear nosso cotidiano até os dias atuais:
Anaiza Castellani Selingardi a necessidade de se expressar. Observando a natureza, aprenderam
a desenhar nas paredes suas atividades diárias, converteram seus grunhidos
Bruno Freitas
em palavras para melhor comunicar o que sentiam, aprimoraram os gestos
Cláudio Leyria para dar diferentes ênfases.
Érica Mitico Bettoni Hayashibara Essa vontade de comunicar, de ver e ser visto, está muito intrínseca
Thaís Inocêncio a nós e não pôde ser ignorada. Assim, desenvolvemos meios para passar
as mensagens que gostaríamos, e um dos caminhos que se provou mais
poderoso e abrangente foi a arte. O que vem à cabeça quando pensamos
Projeto gráfico em arte? Músicas com crítica social, quadros representando o dia a dia de
Willyam Gonçalves épocas que já foram esquecidas, diferentes arquiteturas? Mas seria apenas
isso?
A arte é mais comum e mais profusa do que muitas vezes imaginamos.
Revisão Portanto, não entremos no mérito do que “é” ou “deixa de ser” arte, para
Carla Vieira Cardoso Egídio podermos mergulhar em toda a intencionalidade que ela carrega.
Kemi Tanisho O Leia Agora deste mês convida você, leitor, a pensar na arte como
expressão cultural. Se você se expressa a todo momento (na roupa que
decide vestir para cada ocasião, nos seus gestos e nas palavras que escolhe
Diagramação usar em determinada situação), não seria você também uma expressão
Willyam Gonçalves artística? Todas essas escolhas e particularidades refletem muito sobre a
maneira de ser de cada indivíduo e exprimem tanto sua identidade quanto
suas preferências. Afinal, (também) somos arte.
Licenciamento
Então, para inaugurar nosso ano de 2017, esta edição traz, pela
Jade Cristina Bernardino primeira vez, a seção “Parêntese”, pensada para aprofundar um conteúdo
importante e interessante, que agregue ao seu conhecimento e contribua na
sua jornada. Quem nunca ouviu a expressão “Deixa eu fazer um parêntese
aqui”? É justamente essa a nova ideia, um enfoque especial em um assunto
que merece atenção. Além disso, você notará alguns acréscimos na seção
“Notícias em Foco”, que têm o objetivo de melhor contextualizar as notícias
apresentadas.
Venha se expressar com a gente.
Boa leitura!
Equipe Leia Agora

2
// NOTÍCIAS EM FOCO Justiça proíbe Doria de apagar
grafite sem aval de conselho
Uma decisão judicial proíbe que a Prefeitura de São
Paulo apague grafites espalhados pela cidade sem a
autorização do Conselho Municipal de Preservação
do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental de São
Paulo (Conpresp). Em caso de descumprimento, a
Prefeitura será multada em R$ 500 mil diários, além
de outras sanções. A Prefeitura de São Paulo já foi
notificada e informou que vai recorrer da decisão e que
não cabe ao Conpresp definir diretrizes sobre o grafite,
mas a definição deve ser da Comissão de Proteção à
Paisagem Urbana (CPPU), conforme ocorreu.
14 fev. 2017 – G1
Vale lembrar!
Campanha de Doria contra pichação reacende
“guerra do spray” em SP
Leia em: <www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/01/1850437-
campanha-de-doria-contra-pichacao-reacende-guerra-do-spray-
em-sp.shtml>.
Senado aprova medida provisória
que reforma o Ensino Médio
O Senado aprovou na noite desta quarta-feira (8)
a medida provisória da reforma do Ensino Médio.
Com placar folgado de 43 a 13, a proposta sofreu
resistência apenas da oposição, que voltou a criticar
as mudanças. A versão voltou a tornar obrigatória a
oferta de conteúdos de Filosofia e Sociologia. Artes
e Educação Física, que também não estavam na
proposta inicial, serão ofertadas. Até 60% da carga
horária será destinada ao ensino de disciplinas
comuns a todos os alunos. O restante será destinado
ao aprofundamento em áreas específicas.
8 fev. 2017 – Folha
Fachin é sorteado novo relator da Lava
Jato no STF
O Supremo Tribunal Federal (STF) definiu nesta quinta-
-feira (2), por sorteio eletrônico, que o ministro Luiz
Edson Fachin vai ser o novo relator da Lava Jato na
Corte. Ele vai suceder Teori Zavascki, que morreu
em um acidente aéreo no dia 19 de janeiro. No STF
tramitam, atualmente, cerca de 40 inquéritos e quase
100 delações premiadas relacionadas à Lava Jato.
No período em que a operação ficou sem relator,
Brasil Cármen Lúcia assinou a homologação das 77 delações
premiadas de executivos e ex-dirigentes da empreiteira
Educação
Odebrecht.
Internacional 2 fev. 2017 – G1
Vale lembrar!
Saúde
Filho confirma morte de Teori Zavascki em acidente
de avião
Política
Leia em: <http://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2017-01/
filho-confirma-morte-de-teori-zavascki-em-acidente-de-aviao>.
Cultura
Piores acidentes em 33 anos põem em
xeque desfiles do Sambódromo do Rio
Uma série de acidentes por dois dias seguidos
envolvendo carros alegóricos de escolas de samba
deixaram ao menos 30 feridos no Sambódromo do
Rio, expondo fragilidades e colocando em xeque a
segurança e a grandiosidade de um dos principais
eventos turísticos do país. Após os acidentes, o Inmetro
(Instituto de Metrologia) anunciou a criação para 2018
de regras de certificação e fiscalização dos carros
alegóricos —válidas não só no Rio, mas no país todo.
1 mar. 2017 – Folha
Juiz suspende medidas anti-
-imigração de Trump
O Departamento de Segurança Interna dos
Estados Unidos suspendeu as ações para
implementação do veto do presidente Donald
Trump para que refugiados e cidadãos de sete
nações predominantemente muçulmanas entrem
nos Estados Unidos. O Departamento acatou a
decisão do juiz federal James Robart, do estado
de Washington. Robart determinou a suspensão
temporária da ordem de Trump, que levaria à
revogação de 60 mil a 100 mil vistos, segundo
funcionários dos departamentos de Justiça e do
Estado. A ordem de Trump abrange Síria, Líbia,
Sudão, Irã, Somália, Iêmen e Iraque.
4 fev. 2017 – Agência Brasil
Vale lembrar!
A proposta de Trump para fazer com que o México
pague por muro em fronteira
Leia em: <www.bbc.com/portuguese/internacional-38766193>.
Marisa Letícia Lula da Silva morre aos
66 anos
A ex-primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, 66,
teve morte confirmada na noite desta sexta-feira (03).
Após realizarem exames protocolares pela manhã,
os médicos submeteram a mulher do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva a uma bateria derradeira
que comprovou a morte. Marisa Letícia foi internada
em estado grave no hospital Sírio-Libanês no dia
24 de janeiro, após sofrer um AVC (acidente vascular
cerebral) hemorrágico.
3 fev. 2017 – UOL
Febre amarela já matou 70 pessoas
em três Estados
A febre amarela já provocou a morte de 70 pessoas
nos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo e São
Paulo. Minas Gerais é o estado com maior número de
registros de febre amarela, com 903 notificações, 191
delas confirmadas.
9 fev. 2017 – Terra
3
// NOTÍCIAS EM FOCO Moonlight é escolhido melhor filme
do Oscar 2017
Moonlight foi escolhido melhor filme do Oscar após
confusão com os apresentadores Faye Dunaway e
Warren Beatty, que anunciaram o vencedor errado. Os
atores apresentavam a categoria final, neste domingo
(26), e disseram que La La Land havia levado a estatueta,
após erro da organização do evento. Moonlight: Sob a
luz do luar se tornou o Melhor Filme do Oscar neste ano
ao narrar o crescimento de um garoto negro na periferia
de Miami, nos Estados Unidos, que enfrenta desafios
relacionados a sua raça e sexualidade. Mesmo sem
estrelas e com uma narrativa simples e direta, o filme
independente escrito e dirigido por Barry Jenkins foi
colecionando prêmios e elogios.
27 fev. 2017 – G1
Sem polícia nas ruas, ES tem dia
de roubos, saques e mortes
Sem policiais nas ruas da Grande Vitória e de alguns
municípios do interior do Espírito Santo, os criminosos
estão aproveitando para saquear lojas, cometer
assaltos e roubar carros. Diversos vídeos que mostram
a ação dos criminosos circulam nas redes sociais.
Desde sábado (4), familiares bloqueiam a porta dos
Batalhões e não deixam os policiais militares saírem
para fazer o policiamento. [A onda de violência deixou
mais de 140 mortos até dia 13].
8 fev. 2017 – G1
Previdência Social
Pesquisa aponta que mais da metade da população se interessa pela reforma da Previdência
56%
19 %
Brasil
Educação
Internacional
Saúde
16 % ...não sabem o que fazer para
se aposentar.
Política
Cultura
Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 1 mar. 2017.
Um mês do massacre em Alcaçuz
Corpos ainda sem identificação, novo
muro, superlotação e promessa de desativação,
comunidade assustada e famílias em busca de
justiça. A rebelião mais violenta da história do Rio
Grande do Norte completa um mês nesta terça-
-feira (14) com muitas perguntas sem respostas.
O governo ainda não sabe quantos morreram ou
fugiram, mas foram pelo menos 26 assassinatos
e 56 fugas.
14 fev. 2017 – G1
Vale lembrar!
Mortes em rebeliões de presídios chegam a 119 no
ano; PCC mata 26 no RN
Leia em: <http://istoe.com.br/pcc-decapita-26-presos-rivais-em-
motim-de-14h-na-maior-prisao-do-rn/>.
Juiz nega pedido de prisão domiciliar
a Eike Batista
O juiz federal Marcelo da Costa Bretas negou nesta
quinta-feira [9] o pedido da defesa do empresário Eike
Batista para que ele fosse mandado à prisão domiciliar.
Acusado de pagar 16,5 milhões de reais em propina
ao ex-governador Sérgio Cabral, Eike está preso em
uma cela comum de Bangu 9.
9 fev. 2017 – Veja
Vale lembrar!
Preso ao chegar ao Rio, Eike Batista é levado ao
presídio Ary Franco
Leia em: <http://oglobo.globo.com/brasil/preso-ao-chegar-ao-rio-
eike-batista-elevado-ao-presidio-ary-franco-20842032>.
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80% ...daqueles com 55 anos ou
mais mostram-se mais
interessados na reforma.
63% ...dos consultados pela pesquisa
são do sexo masculino.
...dos entrevistados têm acom-
panhado de alguma maneira a
discussão sobre a reforma da
Previdência.
...afirmam estar por dentro de
todo o processo e das alterações
em debate.
Fonte: Portal Brasil, com informações do SPC Brasil.
4
 “Unbelievable Turmoil”: Trump’s first month
leaves Washington reeling

The resignation of Michael T. Flynn as national security adviser caps a remarkably tumultuous first month for
President Trump’s White House that has burdened the early days of his presidency with scandal, legal challenges,
personnel drama and questions about his temperament during interactions with world leaders.
Mr. Flynn, a retired Army lieutenant general, lasted only 24 days before his tenure was cut short by an admission
that he had misled the vice president and other White House colleagues about the contents of a phone call with the
Russian ambassador to the United States.
14 fev. 2017 – The New York Times

The New York Times El país

NEW YORK MADRID

¿Por qué varan las ballenas?

El varamiento de los cetáceos es un suceso bastante común, y miles de estos mamíferos acuáticos mueren
cada año alrededor del mundo. Por ejemplo, la semana pasada, 300 ballenas murieron en Nueva Zelanda.
Varias causas conducen a los cetáceos a una muerte agónica en las playas, pero el suicidio no es una de
ellas. La culpa es directa o indirectamente de los humanos. El uso de sonares en diferentes ejercicios navales
interviene en la comunicación de los cetáceos confundiéndolos, estresándolos o hiriéndoles.

15 fev. 2017 – El País

Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 15 fev. 2017.

5
 Ônibus incendiado no Rio de Janeiro, em protesto contra medidas de

Fernando Frazão/ Agência Brasil

austeridade do Governo Estadual, após manifestantes enfrentarem
a Polícia Militar por mais de três horas em vários pontos do centro.
Muita gente procurou abrigo nos prédios comerciais e trabalhadores
não puderam deixar os escritórios devido ao forte cheiro de gás
lacrimogêneo e bombas de efeito moral usados pela Polícia Militar para
dispersar a multidão.
1 fev. 2017 – Agência Brasil

// IMAGEM EM FOCO
6
 ENTRELINHAS
Carnaval: uma indústria lucrativa de ritmos e cores
A maior festa popular do Brasil evidencia o contraste entre a multiculturalidade do nosso
país e os interesses financeiros em torno da comemoração

TEXTO 01
O Carnaval é uma festa universal. Nasceu na Europa
durante a Idade Média, segundo alguns pesquisadores, por
volta de 1091. Tratava-se na verdade de um subproduto
da Igreja. Quando o clero decretou a Quaresma, quarenta
dias de penitência antes da chegada da Semana Santa,
para que as pessoas se livrassem dos prazeres da carne
(tanto nutricional quanto física), o povo logo encontrou uma
forma de se divertir e se entregar aos prazeres da vida até
o começo da mais absoluta abstinência.
[...] Carnaval se espalhou pelo mundo como uma
festa eminentemente popular e alegre, e, apesar da
origem europeia, foi no Brasil que ele ganhou raízes mais
profundas. [...]
Brincado espontaneamente nas ruas pela população
desde que foi trazido pelos portugueses, no Brasil, entre
as várias maneiras de festejo, o Carnaval se desenvolveu
fortemente, sob o prisma financeiro e midiático, de duas
maneiras: o desfile das escolas de samba no Sudeste,
principalmente no Rio de Janeiro, e os trios elétricos no
Nordeste.
Israel Antônio Sequeira Pegado. A evolução do Carnaval carioca:
a festa popular que virou produto. 61 p. Trabalho de Conclusão de
Curso (Graduação) – Universidade Federal do Pará. Belém, 2005.
02TEXTO
Trecho da entrevista com o carnavalesco Leandro Vieira
sobre o samba-enredo da Mangueira para o Carnaval 2017,
no programa Ponto do Samba, da Rádio Nacional do Rio,
em 04 de janeiro de 2017.
“...é um enredo que se debruça na religiosidade
brasileira. Essa religiosidade mestiça, essa religiosidade
cheia de superstições. Essa religiosidade que pede ao
santo, que pede ao Orixá. Essa religiosidade que dá às
entidades de umbanda nomes de santos também. Essa
entidade que cultua São Jorge, São Sebastião, São Pedro,
Preto Velho, Preta Velha, Marinheiros, Caboclos. Essa
religiosidade que desconhece limites muitos sérios [...].
Essa religiosidade que é muito a cara da gente, entendeu?
Esse cristianismo de caráter popular, esse é o enredo da
Mangueira.”
Leandro Vieira. “Leandro Vieira fala sobre o enredo da Mangueira
para 2017”. Rádio Nacional do Rio de Janeiro. 4 jan. 2017. Entrevista
concedida a Rubem Confete. Disponível em: <http://radios.ebc.com.br/
ponto-do-samba/edicao/2017-01/leandro-vieira-fala-sobre-o-enredo-da-
mangueira-para-2017>. Acesso em: 16 fev. 2017.

TEXTO 03
E essa longa jornada começa agora, no embalo da maior festa da cidade, que atrai gente de todo o mundo para
o Rio: o Carnaval. “Além de ser o momento em que deixamos o estresse de fora, Carnaval, para nós, é um negócio
inquestionável”, garante Alves, que destaca a importância da folia para o Rio. “A cidade precisa do Carnaval como
receita, geração de emprego, visibilidade para o mundo. Então, nosso papel é dar mais apoio e projeção, para que quem
não veio agora, venha no próximo ano. Ou em outras épocas”, explica ele, prevendo que o Carnaval deste ano, cujo
orçamento foi de R$ 56,5 milhões, gere receita superior a R$ 3 bilhões.
Wilson Aquino. “Presidente da Riotur quer clima de Carnaval o ano todo para atrair mais turistas”. Último Segundo. 23 jan. 2017. Disponível em:
<http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2017-01-23/carnaval-no-rio.html>. Acesso em: 20 fev. 2017.

7
 ENTRELINHAS
ANÁLISE
O
Brasil apresenta características marcantes
em cada uma de suas regiões, tendo diversas
expressões artísticas e diferentes maneiras
de celebrar festas populares. O Carnaval, por
exemplo, é uma grande mistura de cores e ritmos nos
quatro cantos do país, e cada região conta com suas
particularidades e costumes. Assim, durante os dias de
folia, milhares de pessoas saem às ruas e vão a clubes
para aproveitar a festa, na que talvez seja a forma mais
expressiva de representação da multiculturalidade
que há em nosso país. Entretanto, com o passar dos
anos, o Carnaval começou a ir além de uma simples
manifestação cultural e passou a atender também aos
interesses de grupos midiáticos e de investidores, que
influenciam o modo do brasileiro de curtir a folia. Mas
até que ponto o Carnaval e os interesses particulares
de determinados grupos podem andar juntos?
A festa, que é tipicamente brasileira, tem suas raízes
na Europa, como é apresentado no texto 1, trecho de
uma dissertação. O que hoje conhecemos como Carnaval
surgiu na Idade Média, foi reconhecido pela Igreja Católica
e, desde então, passou a ser oficialmente realizado antes da
Quaresma. Dessa forma, os fiéis tinham esse período para
poderem “se livrar dos prazeres da carne”, preparando-se
para os quarenta dias de reflexão espiritual que estavam por
vir. Ainda segundo o autor do primeiro trecho, o Carnaval, até
então uma festa pagã, chegou ao Brasil e sofreu influências
do entrudo português, ganhando contornos diferentes
em cada região do país. Além disso, segundo o texto, em
suas maiores comemorações, Rio de Janeiro e Nordeste,
a festa também sofreu influências da mídia e de grupos de
investidores.
O texto 2 traz o trecho de uma entrevista com Leandro
Arquivo/Agência Brasil
Vieira, carnavalesco da escola de samba Estação Primeira de
Mangueira, campeã do Carnaval carioca de 2016, que este
ano levou para a avenida o tema “Só com a ajuda do Santo”.
Na parte selecionada, Leandro fala sobre a sua inspiração
para a escolha do samba-enredo da escola e mostra a ideia
de levar para a avenida a devoção do povo brasileiro aos
santos e orixás, a qual sofreu influências do catolicismo e das
religiões de matriz africana. Assim como a Mangueira, desde
1930, as agremiações carnavalescas apresentam em seu
samba-enredo a história de personagens, fatos históricos
e temas sociais e culturais, dando uma verdadeira aula de
História, Geografia, Artes e Sociologia na avenida.
No entanto, a festa popular ultrapassa os desfiles
culturais das escolas de samba. O texto 3 traz o trecho de
uma entrevista com Marcelo Alves, presidente da Riotur, que
ressalta a importância do Carnaval como produto para a
capital carioca, destacando a festa como uma indústria que
gera postos de trabalho e lucratividade. A expectativa é de
que o Carnaval do Rio arrecade neste ano seis vezes mais
do que seu investimento, o que traria retornos imediatos
para dezenas de pessoas que são influenciadas diretamente
pela celebração.
Assim, após ler os textos, cada qual com suas
características, podemos perceber a origem do Carnaval, o
início da festa do Brasil, e seu significado artístico e religioso,
que também passou a contar com os interesses de grupos de
investidores e da mídia, dando um tom mais “comercial” ao
evento. Mas é necessário refletir sobre até que ponto esses
interesses financeiros respeitam ou ultrapassam o caráter
cultural dessa festa tão importante para a expressão do povo
brasileiro. Qual é o papel da mídia em torno disso? Como o
Carnaval pode continuar sendo uma maneira de expressão
cultural ao mesmo tempo que atende aos interesses desses
grupos? A mídia e os investidores contribuem para a
descaracterização da festa? E em tempos de crise, sem a
interferência de apoiadores financeiros, a festa popular ainda
continuaria acontecendo?
Para concluir a reflexão sobre as questões apresentadas
nesta análise, desenvolva um texto sobre essa grande
festa popular brasileira, considerando o poder midiático
e financeiro, bem como as características que fazem do
Carnaval a maior expressão cultural e representação da
história do nosso povo.
Editorial
8
Arte urbana: da
cidade que
temos à que
queremos
Afinal, essa forma tão popular de expressão é um problema para a
sociedade ou uma forma de evidenciar obstáculos já existentes?
POR EDUARDO BRUNO E MARCELO DENNY
A
cidade. O que seria “a cidade”? Podemos
defini-la como um amontoado de prédios,
ruas, carros e casas? Ou esse conceito não
é o suficiente? Para começar, partamos do
princípio de que a cidade – seja ela grande, média
ou pequena – é o local onde habita grande parte da
atual população mundial. Claro, cada cidade tem sua
constituição histórica diferente e os seus modos de
organização não são homogêneos. Todavia, para o
que pretendemos debater agora, não é necessário
distinguir se falamos dos grandes centros urbanos ou
de vilas menores e, ainda, se os bairros são ricos ou
pobres. Basta apenas que tenhamos a consciência de
que cada um desses espaços estabelece suas próprias
identidades e particularidades.
No entanto, mesmo que não saibamos definir
muito bem o conceito de cidade, certamente podemos
perceber que, na grande maioria dos conglomerados
urbanos, há um fenômeno possível de ser observado: a
arte urbana. Grafite, estêncil, lambe-lambe, performance
urbana, instalação urbana, festas e outras manifestações
são apenas alguns dos acontecimentos que, quando
se misturam com a paisagem da cidade, criam uma
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reconfiguração estética do lugar. Esses
eventos, nem sempre autorizados pelo poder
público, formam uma Zona Autônoma Temporária (TAZ).
“TAZ é uma espécie de rebelião [...] uma operação de
guerrilha que libera uma área (de terra, de tempo, de
imaginação) e se dissolve para se refazer em outro lugar
e outro momento, antes que o Estado possa esmagá-la”
(BEY, 2011, p. 6).
Contudo, é pertinente destacarmos que, mesmo que
cada uma das formas de criação e produção de arte urbana
tenha suas próprias características e grupos diferentes
que as produzem, elas ressoam uma ideologia política
semelhante. Então, o que todas essas manifestações têm
em comum? Talvez o desejo, consciente ou inconsciente,
dos realizadores e participantes das artes urbanas seja o
de poder dizer: eu/nós também sou/somos a cidade!
Ser cidade significa afirmar que nós também queremos
fazer parte das escolhas e dos planejamentos acerca
do modo como as pessoas devem/podem vivenciar o
espaço urbano e público. Ao realizar uma arte em espaço
urbano, o sujeito – ou um artista? Não importa se damos
esse nome ou não – quer evidenciar e afirmar que ele
também constrói a cidade, assim como ela o constrói.
9
Nessa perspectiva, os realizadores e participantes Voz social
das artes urbanas estão indiretamente dizendo: “não Podemos partir do entendimento de que os
é apenas o plano diretor da cidade que diz como ela grupos sociais e artísticos que produzem arte ur-
deve ser”. A arte urbana expressa que não ficará a bana, ao realizarem suas intervenções, estão
cargo exclusivamente dos proprietários dos grandes produzindo formas e modos simbólicos de afirmação
imóveis colorir os muros que constituem a paisagem das de pertencimento à sociedade, muito mais do que
ruas. É por meio da arte que cidadãos podem afirmar: depredando o patrimônio público. Com suas criações
“nós também somos parte dessa cidade e podemos urbanas, grupos e segmentos sociais, que tradicional-
problematizar, subterfugiar e recriar seus códigos mente são apagados ou marginalizados, afirmam-se e
sonoros, visuais e de convivência”. tornam-se presentes. É comum observarmos, por meio
Acreditamos que, após essa breve caracterização de exemplos ocorridos em muitas cidades, que essa
da arte urbana como um fenômeno disruptivo1 e ativo manifestação não necessariamente se dá de forma
na formação da paisagem da cidade, uma pergunta pacífica. É o caso, por exemplo, dos grafites apagados
pode nos surgir: tais características, presentes na arte pela Prefeitura de São Paulo.
urbana, não produzem conflitos e problemas para a Temos em vista que os detentores da riqueza e do
própria cidade? Para respondermos a essa pergunta, poder podem se sentir ameaçados quando o oprimido
precisamos, primeiramente, pensar de quem é esse não segue as normas criadas pelo opressor. Nessa
discurso. Será que ele não é produzido exatamente relação de conflito, um jogo de poder e contrapoder,
pelos detentores da riqueza e do poder (seja econômico, os grafites vão sendo apagados, as intervenções
político ou midiático)? Será que os violentos contrastes destruídas, e as performances proibidas e interditadas
entre a riqueza e a pobreza, e a concepção que os pela polícia.
poderosos têm de que eles são os detentores das Porém, essa situação tende a ficar distante de um
escolhas, já não indicam para quem está sendo pensada arremate. Ou seja, assim como uma cabeça da Hidra,
a cidade? Postas essas questões, podemos agora refletir quanto mais o poder hegemônico insiste em desarticular
se realmente a arte urbana seria um problema para a a arte urbana, mais faz com que ela se recrie e seja
cidade ou se ela não é exatamente a evidenciação de mais urgente em acontecer. Devemos também ter
problemas já existentes. em conta que o desafio que a arte urbana criou para
si é exatamente o de transformar espaços públicos
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inóspitos em espaços de sociabilidade e visibilidade

civil. Dessa maneira, uma caixa de som, uma lata de
spray, vários corpos reunidos, entre outras matérias e
estruturas criam na cidade espaços de contrapoder.
São expressões estéticas que não precisam de grande
demanda de espaço e muito menos são permanentes,
mas que devem e serão criadas à medida que os
sujeitos que as produzem sentirem a necessidade de
se fazer presentes na cidade.

Além das galerias

Com todas essas considerações, podemos então
destituir a concepção que afirma que o local da arte
é apenas em galerias, museus e teatros. O local da
arte é onde ela quiser/precisar ser realizada. A arte
urbana é uma modalidade de expressão que não se
contenta com pensamentos hegemônicos, fechados
e inalteráveis de como deve ser uma cidade. A arte
urbana constrói e propõe uma forma de cidade que
se projeta à medida que os fenômenos artísticos

1
Disrupção: interrupção do curso normal de um processo. / 2 Devir: Conceito trazido pelo filósofo francês Gilles Deleuze (1925-1995) que diz respeito a algo que ainda não é, mas tem potencial
para ser. É uma ideia nova, um desejo que cedo ou tarde poderá se tornar algo concreto, e quando isso ocorrer, não será imitação de outra coisa que já existia.

10
 Ciências Humanas e suas Tecnologias
vão se constituindo. Nesse processo incessante, a
Filosofia

TOQUE DO
arte urbana cria realidades possíveis e traz outras
camadas para o visível, o dizível e o factível da cidade.
Na vida em sociedade, a arte urbana propõe, ao
virar pelo avesso a concepção de cidade, a criação de
outros espaços de convívio e sociabilidade. Com isso,
ao reconfigurar e recriar intercâmbios entre a realidade
ESPECIALISTA
POR RODRIGO MARCONDES
cotidiana e a estética, a arte urbana faz visível uma
possibilidade de sociedade que propõe uma devir2 Expressão como existência

cidade que nos catapulte dos atuais modelos urbanos
adotados.
Eduardo Bruno Fernandes Freitas é encenador,
performer, artista visual e urbano. Graduado em
Licenciatura em Teatro pelo IFCE, Especialista em
Semiótica pela UECE e atual aluno do mestrado
em Artes Cênicas da ECA-USP (Universidade de
São Paulo).
Arquivo pessoal/
Eduardo Bruno
Marcelo Denny de Toledo Leite é diretor teatral,
cenógrafo, arte educador, artista plástico, performer,
curador, diretor de arte. Tem mestrado e
doutorado em Artes pela ECA-USP (Universidade
de São Paulo). Atualmente é chefe do
Departamento de Artes Cênicas da ECA-USP.
Arquivo pessoal/
Marcelo Denny
O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) estabelece
competências e habilidades norteadoras do estudo
dos conteúdos exigidos para o Ensino Médio.
Por meio do texto “Arte urbana: da cidade que temos
à que queremos”, foram trabalhadas as seguintes
competências e habilidades da área de Ciências
Humanas e suas Tecnologias:
C2 – Compreender as transformações dos
espaços geográficos como produto das relações
socioeconômicas e culturais de poder.
H8 – Analisar a ação dos estados nacionais no que
se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no
enfrentamento de problemas de ordem econômico-
-social.
HA C6 – Compreender a sociedade e a natureza,
BILI reconhecendo suas interações no espaço em
diferentes contextos históricos e geográficos.
DA H26 – Identificar em fontes diversas o processo de
ocupação dos meios físicos e as relações da vida
DES humana com a paisagem.
Referências: BEY, Hakim. TAZ – Zona Autônoma Temporária. São Paulo: Conrad, 2011.
FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. 24 ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 2007. FREITAS,
Artur. Arte de guerrilha: vanguarda e conceitualismo no Brasil. São Paulo: Edusp, 2013.
LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, 2001.
A
arte, em suas diversas manifestações, é uma forma de
expressão, de trazer à tona, de comunicar, de tornar
público – diríamos mais –, de trazer à existência um
determinado mundo vivido, seja por um sujeito único, seja
pelo sujeito pertencente e representante de uma tribo, uma
comunidade, um grupo, uma classe social.
A necessidade de expressar-se tem a ver com adquirir
visibilidade, existência, sair do não ser para o “ser-aí”,
jogado no mundo entre outros “seres-aí” que estão existindo.
A própria existência vai se construindo nessa saída de
um mundo interno para o mundo externo e nos diálogos
(favoráveis ou contrários) que tal exposição possa criar.
A expressão, enquanto atitude de “colocar para fora”, não
aspira à verdade ou à beleza, ainda que se utilize da arte como
instrumento, mas quer tão somente narrar o vivido, deseja
simplesmente ser, mostrar-se, existir, interpretar-se e ressignificar-
-se. A experiência vivida, quando expressa e materializada, por
meio de imagens ou de palavras, torna-se mais humana, porque
possível de ser reconhecida e relida por si e pelos outros. É no
ato de exprimir-se e de comunicar-se que a identidade – social
e/ou individual – se constrói, porque capaz de entrar em diálogo.
Nesse sentido, como sustenta o existencialismo, cujos principais
representantes são Sartre e Heidegger, em tudo o que é humano
a existência precede a essência, e as identidades são construídas
social e historicamente.
Em meio a essa diversidade de vozes e discursos, sotaques
e tendências, gostos e colorações, algumas podem se destacar
e querer impor ao todo aquilo que eles valorizam como sendo o
melhor, sob o padrão do que seria considerado de bom gosto e do
que pertenceria ao bom senso, quebrando, assim, a harmonia da
convivência. Mas... bom gosto de quem? Bom senso para quem?
Aí é que entra o direito dos grupos que ficaram à margem
de existir e expressar-se, entrando em conflito com os que
acabam monopolizando a expressão e a existência na pólis
contemporânea. Um conflito marcado também pela posição
que cada grupo ocupa na sociedade.
E a expressão de quem não pertence ao grupo do “bom
gosto” assume o viés de contestação. Exprimir-se torna-se luta
pelo existir, pelo direito de ser uma voz não abafada e de deixar a
marca material de sua existência na sociedade, apesar de todos os
esforços contrários. Mas, como o desejo de ser e de expressar-se
é quase sempre dominante, essas vozes periféricas multiplicam-se
aqui e ali... em um poste, em um grafite, em uma ponte e até em
um “monumento”, resistindo e insistindo no seu direito de existir.

11
E N T R E V I S TA | Francine Mendes

Francine Mendes
Arquivo pessoal/
CARREIRA:
Design de Moda
Francine Mendes atua, desde 2007, na

concepção e produção de figurinos

para cinema, televisão e publicidade,

tendo realizado alguns trabalhos para

longas e curtas-metragens, séries de

TV e comerciais de diversas marcas.

Cursou Realização Audiovisual na

Universidade do Vale Rio dos Sinos

(Unisinos) e foi na graduação em

Moda, pela mesma instituição, que viu © ScytherS | Dreamstime.com

maiores possibilidades de aprimorar

e qualificar seu trabalho como

figurinista.

12
Equipe Leia Agora: Quais devem ser os interesses de
quem pensa em cursar Design de Moda? O que é
estudado no curso superior?
É interessante o aluno gostar de trabalhos manuais, artes,
história e comportamento. Mas o mais importante é que
Equipe LA: Além da graduação em Design de Moda,
oferecida por diversas universidades, vemos também
muitas opções de cursos técnicos na área. Quais as
principais diferenças entre o curso superior e o técnico?
Acredito que o curso técnico pode ser uma boa

?
ele seja criativo, empenhado e persistente. No curso,
aprendemos desde o processo de criação, baseado em
design thinking, passando pela pesquisa, até chegar à
parte de confecção das peças e divulgação. Participar
de todas as etapas do processo de desenvolvimento
de coleção dá ao aluno uma visão abrangente de como
funciona o mercado e onde ele poderá atuar, de acordo
com suas habilidades e aptidões. Algumas disciplinas
do curso são voltadas à gestão, contribuindo para que o
estudante entenda um pouco sobre pesquisa de mercado,
administração da produção, marketing, entre outras coisas.
oportunidade para quem quer se especializar em
uma habilidade específica. Já a graduação é mais
ampla, percorrendo diversas áreas do conhecimento e
exercitando diferentes possibilidades de carreira. Além
disso, a faculdade pode ser um ambiente proveitoso
para formar parcerias e até criar uma marca. É lá que
começamos a nutrir contatos que são importantíssimos
em nosso meio profissional.

Equipe LA: Quais são as áreas de atuação e as

© Natalia Guseva | Dreamstime.com

principais possibilidades de especialização para
quem opta por essa carreira?
Engana-se quem pensa que fazer Moda significa apenas
desenhar coleções e preparar desfiles. Isso é uma pequena
parte, à qual apenas algumas pessoas têm acesso, e
elas não vivem só de glamour, já que trabalham muito. O
profissional de Moda pode, é claro, trabalhar como estilista,
confeccionar suas próprias criações e ter sua marca, mas
pode também atuar como fotógrafo de moda e fazer
catálogos. Existem ainda várias outras possibilidades de
carreira, como: stylist, cuidando da escolha dos looks de
uma sessão de fotos, filme publicitário ou fashion film de
uma marca; produtor, atuando na organização de eventos
de moda; personal stylist, ajudando na descoberta do
estilo pessoal de seus clientes; modelista, criando moldes
das roupas concebidas pelos estilistas; ilustrador, fazendo
desenhos de moda que compõem uma coleção ou até
mesmo ilustram uma campanha publicitária; gestor de
marcas, gerenciando o posicionamento de uma marca
no mercado; ou, ainda, trabalhar como figurinista, como é
meu caso, criando o guarda-roupa de personagens de TV,
cinema, publicidade e teatro. Além de tudo isso, existem
outras demandas específicas, funções e posições dentro
das empresas do mercado da moda.

13
Equipe LA: A moda costuma ser muito associada à
criação de roupas e acessórios. Para fazer o curso,
é importante ter algum conhecimento prévio, como
saber desenhar ou costurar peças? Há aulas práticas
na faculdade?
Ao menos na faculdade em que eu estudo, não é
necessário nenhum conhecimento prévio. O aluno chega
desenhando bonequinho de palito e, logo no segundo
semestre, está desenhando croquis maravilhosos. A
mesma coisa acontece com a confecção. Já vi colegas
que não conseguiam fazer um pontinho à mão costurando
as peças de suas próprias coleções mais adiante.
Aprendemos tudo na faculdade. Tem muitas aulas
práticas, o que é ótimo! Além disso, é bem importante
termos as aulas teóricas, pois é daí que vem toda a base
do pensamento e método de trabalho, mas é nas práticas
que colocamos o conhecimento em uso, experenciando
situações de mercado que vão facilitar a comunicação
com outros profissionais no futuro.
Equipe LA: Um dos cargos com maior visibilidade no
mundo da moda é o de estilista, porém pouco se ouve
falar sobre o trabalho de um figurinista, que é a área
em que você atua. Qual é a função de cada um desses
profissionais?
O estilista ou designer de moda é responsável pela
criação e confecção de roupas e acessórios. As
criações acompanham o momento em que vivemos e
podem influenciar a vida das pessoas. O trabalho do
figurinista é criar personas para os personagens da
obra a ser trabalhada, seja ela audiovisual ou de outro
meio. Para essa concepção, levamos em consideração
fatores psicológicos e físicos dos atores e personagens.
Diferentemente do estilista, o figurinista busca o mais
expressivo e adequado à obra e ao contexto em que ela se
insere, independentemente de o look seguir tendências ou
ser completamente contrário a elas. Por exemplo, muitas
vezes, “mal vestimos” um personagem para ressaltar sua
individualidade e seu comportamento.
“Às vezes, acabamos mudando   roupas e shopping. Essa atitude passa uma imagem
alguma coisa da personalidade do
personagem por meio do figurino.
Ter esse poder de influência junto
às cabeças criativas do filme nos
faz perceber a importância do
figurinista.”
Equipe LA: Qual é a importância de um figurinista
nas produções audiovisuais? Como é o processo de
pesquisa dos figurinos para um personagem?
O figurinista tem um papel central na caracterização
dos personagens. É importante inclusive que tome
conhecimento antes de o projeto ter início, pois é necessário
ler atentamente o roteiro e fazer um levantamento de
referências e uma pesquisa preliminar. Quando o trabalho
é de época, por exemplo, tem muita pesquisa envolvida
para fazer o mais fiel possível ao momento histórico.
Quando a obra se passa nos dias atuais, a pesquisa é mais
voltada às últimas tendências de moda e comportamento
– nesses casos, gosto muito de colher ideias das ruas e
dos ambientes em que se passará o filme. Sempre que
entro em um trabalho e começo a mostrar o que pensei
para cada personagem, percebo que o diretor fica com
outro brilho nos olhos. O roteirista e o diretor têm uma
ideia do personagem, e eu chego para acrescentar uma
nova visão. Às vezes, acabamos mudando alguma coisa
da personalidade do personagem por meio do figurino,
e isso é muito legal. Ter esse poder de influência junto às
cabeças criativas do filme nos faz perceber a importância
do figurinista, o que muitas pessoas desconhecem.
Equipe LA: Nos últimos anos, a moda tem estado em
evidência, principalmente, por conta do grande número
de blogueiros de moda. Isso fez crescer o interesse das
pessoas por essa carreira? Aumentou a concorrência
no mercado de trabalho?
Com o surgimento das redes fast fashion, a moda ficou
muito mais acessível. Hoje em dia, qualquer pessoa
pode vestir as últimas tendências sem gastar absurdos.
E acredito que seja por isso que hoje se fala muito
mais em moda do que há 20 anos. Existem muitos
profissionais fazendo um trabalho sério e buscando
passar informações aos seus leitores. Por outro lado,
essa popularização da moda como carreira multiplicou
o número de blogueiros e interessados que acham que
trocar de guarda-roupa a cada 15 dias é uma qualificação
profissional. Não se interessam por moda, apenas por
errada do que é trabalhar com moda. Temos que pensar
na moda com responsabilidade. A questão do consumo
e das matérias-primas, por exemplo, é central hoje em
dia. Não estamos criando nada isolados da realidade. A
moda insere-se em um contexto. A moda não é fútil, a
moda sempre será social.
14
Equipe LA: Como ingressar no mercado de
trabalho? O curso exige que o estudante faça
estágios?
A partir do estágio obrigatório que o curso exige, o
aluno já tem um primeiro contato com o mercado.
É muito bom estar ao lado de profissionais que
exercem a carreira que você tem interesse em
seguir. Além disso, os próprios professores, que
normalmente estão inseridos no mercado da moda,
podem indicar os alunos para trabalhos. Por isso, é
muito importante estar bem focado durante o curso
para tentar se destacar. O curso nada mais é do que
uma extensão do mercado.

Equipe LA: Quais os desafios e as perspectivas

do mercado de trabalho para os profissionais de
Moda daqui para a frente?
As redes de fast fashion proporcionaram fácil
acesso à moda a preços baixíssimos nunca antes
vistos, fazendo com que qualquer classe social
possa se expressar por meio das roupas. E, para
atender a essa demanda de roupas baratas, os
grandes conglomerados têxteis foram buscar
mão de obra barata (análoga à escrava) em
Bangladesh, Vietnã, Camboja e demais regiões
com legislações trabalhistas mais frouxas. Além da
perspectiva humana, esse aumento do consumo
que vivemos hoje tem consequências ecológicas
bem sérias também. A fabricação dessas roupas
gera uma quantidade de lixo absurda, que acaba
se acumulando em aterros, verdadeiros cemitérios
têxteis. O grande desafio da moda agora é encontrar
um meio de reduzir essa produção de mais e mais
lixo. Uma das alternativas é reaproveitar. Outra é
reduzir a produção, buscando alternativas mais
artesanais, como a produção handmade, voltadas
à produção autoral com um número limitado de
© Slavenko Vukasovic | Dreamstime.com

peças, em vez da produção industrial em massa.

Essa é uma ótima notícia para os novos criadores,
pois várias marcas estão surgindo nesse movimento
que é conhecido como slow fashion.

“Temos que pensar na moda com

responsabilidade. A questão do
consumo e das matérias-primas,
por exemplo, é central hoje em dia.
A moda não é fútil, a moda sempre
será social.”
15
 PA R Ê N T E S E

© Denys Denysevych | Dreamstime.com

Arte e identidade:
a beleza de ser diferente
Po r T h a í s I n o c ê n c i o

Simetria, proporção, cores vibrantes em desenhos geométricos de bordas retas. Essas características poderiam estar
presentes em uma tela, exposta em algum museu de arte pelo mundo, mas estão estampadas na fachada das casas de
todos os membros da etnia Ndebele, localizada na África do Sul.
Embora seja uma das menores do país, essa tribo é responsável por uma das manifestações artísticas de maior destaque
em todo o continente africano. No entanto, mais do que um apelo estético, a pintura das casas tem um significado cultural: ela
revela a identidade desse povo. É por meio dessa expressão que eles são reconhecidos e, inclusive, que se comunicam, já que
a combinação de formas e tons pode indicar, até mesmo, se ali vive uma família feliz.
Mesmo se tratando de uma sociedade patriarcal, a função da figura feminina nessa tribo é muito importante: apenas as
mulheres se dedicam aos grafismos e são responsáveis por transmitir a herança artística de mãe para filha. Além das pinturas,
elas também confeccionam peças de artesanato e uma variedade de ornamentos, por isso andam tão enfeitadas quanto suas
casas, com colares, anéis, braceletes e tiaras, adornos que simbolizam sua arte e sua identidade.
Do mesmo modo, o vestuário e as marcas corporais, como tatuagens e piercings, dizem muito sobre a personalidade
de alguém. A arte tribal gravada na pele do povo Maori, originário da Nova Zelândia, é um dos exemplos mais claros de
expressão da identidade cultural de uma sociedade. Os símbolos simétricos e espirais com linhas pretas bem marcadas
refletem a ancestralidade e a história pessoal dos indivíduos. Antigamente, esses desenhos representavam a posição social,
as habilidades e as conquistas de um membro do grupo, sendo que o mais ilustre era também o mais tatuado.
Na sociedade contemporânea, a tatuagem pode ser vista tanto como uma forma de identificação quanto de
diferenciação. Embora também estejam atreladas a um desejo de embelezamento corporal, elas assumem, sobretudo,
uma função de distinção do outro, do comum, uma espécie de assinatura pela qual a pessoa se afirma em uma
identidade escolhida. E, embora os desenhos possam ter ou não algum significado, é por meio desse modo de uso do
corpo que o indivíduo se apresenta, estabelece contato com o mundo e se reconhece.
Contudo, as formas de expressão e caracterização corporal, apesar de demarcarem valores muito pessoais,
recebem também significados conferidos pela sociedade. Por isso, é comum surgirem julgamentos preconcebidos
sobre as pessoas e suas escolhas, o chamado estereótipo. Em geral, esse juízo de valor é atribuído pela falta de
conhecimento e por uma tendência de se proteger do que é diferente. No entanto, é preciso ter consciência de que
todos têm liberdades individuais e, principalmente, de que a beleza de cada identidade está em sua peculiaridade.
E se todos fôssemos iguais? A arte que cada um manifesta é única, própria e, por esse motivo, especial.

16
 Mosaico •

ASTRONOMIA
A G E N D A •

Cultural Milênios cósmicos

Até 7 de maio
ONDE: Rio de Janeiro (RJ).
O Museu do Amanhã apresenta a mostra
Milênios cósmicos: cartas celestes para os
próximos 100 mil anos, com trabalhos artísticos
que retratam mapas celestes atuais, na poética
© Hibrida13 | Dreamstime.com

intenção de que eles sejam guardados para

LA LA LAND É EXPRESSÃO
La La Land – Cantando estações (EUA, 2016), do
diretor Damien Chazelle, é uma grande homenagem
a renomados musicais do século 20. Mas essa nem
é a alma do filme. Todas as referências formam o
combustível para a obra vender sua verdadeira
mensagem: os sonhos são relevantes e devem
ser seguidos. La La Land conta a história de Mia
(Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling). Ela
é aspirante a atriz, e ele quer abrir um clube de
jazz, em uma Hollywood onde predominam as
decepções. Além de aplicar muita dedicação,
os personagens querem expressar seus ideais,
os povos que estarão na Terra daqui a cem
milênios. As estrelas mudam de posição, e, no
futuro, o céu que vemos hoje não mais existirá.
INFO: <museudoamanha.org.br>.
ARTE
Vanguarda brasileira dos anos 1960
Até agosto de 2019
ONDE: São Paulo (SP).
A Pinacoteca sedia por três anos a exposição
Arte no Brasil: Vanguarda brasileira dos anos
1960, com peças da coleção do empresário
Roger Wright (falecido em 2011), que, há cinco
décadas, reúne trabalhos produzidos por artistas
renomados.
INFO: <pinacoteca.org.br>.

bradar o que é mais importante em suas vidas. INSTALAÇÕES

A maneira mais eficaz de fazer isso é se valer das
infinitas possibilidades da linguagem corporal e
do ritmo eclético da música. Enfim, mais que uma
indústria, Hollywood é uma encruzilhada de artistas.
E o que é um artista senão alguém que expressa
sentimentos e que persegue seus sonhos?
Itinerância – 32ª Bienal de São Paulo
Até 30 de abril
ONDE: Campinas (SP).
O Sesc Campinas apresenta uma mostra com
uma seleção especial de instalações da 32ª Bienal
de São Paulo, realizada em 2016. Os trabalhos
artísticos escolhidos formam um novo tema:
Incerteza viva, que faz uma reflexão sobre aspectos
recentes da arte contemporânea.
INFO: <sescsp.org.br/unidades/16_Campinas>.

Licko Turle; Jussara Trindade.
Teatro(s) de rua do Brasil. São Paulo:
Perspectiva, 2016.
Os escritores percorreram todo o país
para observar as dificuldades que as
trupes, profissionais e informais, enfrentam
para conquistar espaço público para
suas apresentações. Os pesquisadores
constataram que a maioria dos conflitos
acontece justamente com o poder público.
Artistas de rua, muitas vezes, são expulsos
de praças e mercados por policiais e fiscais
de prefeituras.
Brasil Brasil – Episódio 1 – Do samba à
bossa. Produção: Robin Denselow. Reino
Unido, BBC, 2007. 59 min.
Em um documentário em série sobre a
música brasileira, a BBC promove uma
jornada histórica pelos ritmos do Brasil.
Neste primeiro episódio, o samba tem um
destaque como a origem da musicalidade
genuinamente brasileira, com base na
cultura africana trazida pelos escravos. São
abordados “deuses” do samba e chorinho,
como Donga, Pixinguinha e Carmen Miranda.
Disponível em: <www.youtube.com/
watch?v=9WOgH4gs0R8>.
História da dança social em 25 movimentos
A coreógrafa e professora de dança Camille
Brown apresenta um panorama sobre as
danças norte-americanas inspiradas na cultura
africana, desde quando eram praticadas
pelos escravos (como forma de preservar sua
cultura e suas tradições) até os dias de hoje,
com danças modernas, como o break, bop
e tone wop, e outras não tão novas, como o
twist e o charleston, todas de origem africana.
A minipalestra é ilustrada por dançarinos
demonstrando cada ritmo. O vídeo tem quatro
minutos e meio.
Acesse: <www.ted.com/talks/camille_a_brown_a_visual_
history_of_social_dance_in_25_moves>.

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EXTRA! Gentileza gera
gentileza

“Apagaram tudo, pintaram tudo de cinza”, canta Marisa Monte. A música

poderia ser sobre os muros grafitados da Avenida 23 de maio, em São
Paulo, que, recentemente, foram cobertos de tinta por ordem da prefeitura.
Mas a canção trata de outra arte apagada, a que foi escrita pelo Profeta
Gentileza em 56 pilastras do viaduto do Caju, no Rio de Janeiro.
Nascido José Datrino em 1917, na década de 1960, passou a ser
chamado de Profeta pela aparência e de Gentileza pelo conteúdo de sua
pregação. De túnica branca, barba e cabelos longos e grisalhos, era como
um Dom Quixote contemporâneo – um cavaleiro andante. Porém, em vez
de lutar contra moinhos de vento, enfrentava uma guerra pacífica contra o
individualismo e os valores de uma sociedade que chamava de “capetalista”.
Suas armas eram as palavras, ora faladas, ora escritas em letras garrafais e
cheias de consoantes: “AMORRR”, “VIVERRR”, “JESUSSS”.
A transição de homem – marido, pai e pequeno empresário do ramo de
transportes – para profeta decorreu de um episódio trágico. Em 1961, um
incêndio de grandes proporções atingiu o Gran Circus Norte-Americano, em
Niterói, resultando na morte de 500 pessoas, a maioria crianças. Gentileza
não estava lá, mas viu na queima do circo a destruição da humanidade e
resolveu fazer o que lhe pediam as “vozes astrais”: abandonar o mundo
material e se dedicar ao espiritual.
Em suas andanças pelas cinco regiões do Brasil, espalhou mensagens
de amor e solidariedade, consagrando a máxima “gentileza gera gentileza”.
Nos anos 1980, o Profeta transportou seus ensinamentos para as páginas
de concreto instaladas na entrada do Rio de Janeiro, tornando-as visíveis
a qualquer um que chegasse à cidade. Numerados um a um, tais como
Por Thaís Inocêncio

versículos, os pilares ganharam palavras que deram um colorido especial ao

viaduto cinza e à vida de quem aprendia com Gentileza.
Com a saúde debilitada, o Profeta morreu em 1996, aos 79 anos de
idade; no ano seguinte, sua arte também se foi. A Companhia de Limpeza
Urbana do Rio de Janeiro cobriu os manifestos de Gentileza com tinta
cinza, em uma ação que visava limpar a cidade de pichações. Mas uma
campanha pela recuperação das obras percorreu a cidade, e, por fim,
ao final na década de 1990, os murais foram restaurados. Em 2000, as
palavras de Gentileza tornaram-se patrimônio cultural carioca, mas onde
foram parar os reais ensinamentos do Profeta?
Embora estejam eternizadas nos muros, as mensagens de paz pregadas
por Gentileza parecem estar desaparecendo, dando lugar, cada dia mais,
à intolerância, ao preconceito e à injustiça. Portanto, é necessário restaurá-las,
dessa vez, no coração dos homens. Afinal, como também canta Marisa
Monte: “amor, palavra que liberta, já dizia o Profeta”.

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