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i ) Ca ee eenenieiin cee aa eu eect ee aan Se Lou isis © ~) =) o] ) COCCI Tee Trt te Mele) Py ““Gulturas do ~ passado-presente ~ modernismos, artes visuais, 5 ree Ra Au loLEL] ~ Ne eee eee ee eee eee eS See Fry Mares Antonio ‘W. Adoeno, “What des coming wo teen with the past mean?" Geoley Hartman (oe) Buburg m Moral end Political Perspect, Booming, Indiana Univers Bet, 1586 + TW Adome, Negote Disa, Nova Yerk, Consineum, 1999, p. 362 [Discs negtivg,rad snes E. Young, The Tete of Memon: Holo! Meme vers Press 1993 rd Meaning, New Have, Yale Acultura da meméria em um impasse: memoriais em Berlim e Nova York No decoreer das duas itimas décadas, a cultura da meméria c a politica da meméria tornaram-se verdadeiramente transnacionals, s¢ ndo globais. Da Afsica do Sul & Argent ia € do Kosovo a Ruanda, 0 tcaums histético © a8 anos despontaram como loci privilegiados da comemoragio péblica no trabalho de arquitetos, académicos, pintores e escritores. Csiaram-se Comissées da Verdade e, em pafses como ie 0s teibunais tornaram-se atuantes nos iltimos tempos, apés igado de silencio sobre o terrorismo de Estado do perfodo -quéncia, as nacées tém-se voltado para seu ppassado mais sombrio e amide reprimido. Algumas delas, como 0 Japio e 2 “Tarquia, deparam com pressies intemacionais cada vez. mais enfrencar sua histéra. Depois da queda dé Muro de Berlim, a pol talizou-se, na década de 1990, em torno de trés ‘sobre 0 Holocausto e debates piblicos mais int=nsos sobre 0 50° ¢ 0 60° ani- versirios de eventos relacionados com a Segunda Gaerra Mundial; as transi- _ ies pate a democracia, apés 0 colapso dos regimes de terorismo de Estado na América Latina e do apartheid na Africa do Sul; €@ recorréncia da limpeza Amica e do genocidio, na atualidade, nos Bélcase em Ruanda. Essa dimensio [Politica da comemotagio foi acompanhada, no Ocidente, por uma transigo ‘mais generelizada da crenca dominante no futuro da modernizagao para um investimento muito difundido no passado, através de ondas de no: “moda reid, Para alguns, essa obsessio recente com a meméria mar necessidade crescente de historicidade num mundo de obsolescéncia plane} da, bem como no presente em exerna expanséo da cultura de consumo. O1 remem que a ubiquidede do disease sobre a membria; no pablico e na m ameace o conhecimento histérico objetivo, eliminando as barreiras entre pas- sados inventados ¢ o presente vivido. Na verdade, a prOpria meméria pode -2 global dos memor: tornarse uma mercadoria 4 ser colocada em circulagio por uma indéstris vorez da cultura, sempre em basca de novos floreados. ‘Assim, muitos historiadores desconfiam desse surto de expansio da memé- tia, Mas a simples oposigio da boa histéria objetiva & meméria indigna de sas para - confianca no basta, como mostraram historiadores da meméria, come Pietse Nora ¢ Jan Assmann,’ Mais cecentememte, em seu incisivo ensaio inticulado “Martin Jay fécotteu a0 extenso, debate sobre a memétia eo teauma p nalar que as afirmacSes de desfecho implicitas na his ia obj sada em fatos, naufcagam ne prépria natureza da experincia aud irae 0 desfecho. A lembranga traumatica da violéncia passada, portanto, é ndo s6 indigna de confiancs, como toda lembranga, mas também cria problemas metodolégicos fundamentais paca os historiadores2 O discurso sobre « meméria veio para ficas. A compreensio ¢ a representacio e passados histicos trauméticos exige @ cooperacdo entre historiadores e aquilo que Carol Gluck, aum feliz neologismo, chamon de memoriadores* 10 que ainda precisamos, porém,-é.de uma reflexZo bistricz sobre essa hipertzofia da meméria em nossa época, algo a Nietzsche de compreender a hipertrofia da histé patente que 0 recente surto de expansio da meméria é o outzo lado da con- fanga decreseente no fusuro das sociedades ocidentais. Comparados &s pro- ressas de progresso de uma época anterios, 0s atuais imaginérios do futuro sofrem de uma confianga anémica. Sem ciivida, depois de 1989, alguns cele- braram o fim da uropia eda hist6ria, apenas para langar as fan nis de lokalicag da dada de 1990. Cinco anos depois do 11 de sxembro, porém, 0s horizontes excureceram ¢ as exuberantes promessas da globalizagio consistem, majoritatiamente, em mercadorits danificadas. Embora os discur- s0s sobre a meméria ainda estejam firmes e fortes, as vozes cétcas que duvi- dam da eficacia da meméria popular ém-se elevado. Porém, 2 relagio entre a praticas de memorializacio ¢ a re pomo da discésdia, © paradoxo € que as proprias priticas comemorativas podem patticipar dos processos destemporalizantes do consumo instantineo, da producto de lixo e do esquecimento, que marcam dossa cultura. iO debate sobre 0 memorial do 11 de setembro talvez seja o melhor-excmplo, até hoje, de como a mematializacdo ¢ 0 esquecimento podem entrar numa alianca es ealtura da meméria num impasse, Esse paradoxo da meméria e do esquecimento sempre seve su melhoren- _2estiou a0 sugerir que nada ¢ tao invisivel no meio urbano quanto um monu- ~ mento Além disso, bg uma longs historia de monumentos que sio vandal dos, dermbados.¢ ressuscitados, ¢ que toznam s-desaparcce:, Nada disso, é clato, inspira muita confianga na capacidade que alguns dos grandes memo- 140 pcan riais de hoje ~ digamos, 0 Monumento aos Judeus Assassinados da Europa, em Berlim, ¢ 0 planejado memorial do 11 de setembro, em Nova York ~ 10 passado na trama urbana. Durante al gum tempo, 0 monumento de Berlim ¢ 0 memorial de Nova York (uma vez construido) servirdo como grandes pontos taristcos. Mas quem pode garantir sua longevidade na mente popular, quando hower desaparecida o sarvo de expansio ds meméria? Talvex 2s dificuldades que cezcam 0 planejamento do iquetn que estamos nos aproximando desse onto, Num momento em que se levantou apenas cerca de 1/3 da verba neces: ia para construir um projeto jé muito reduzido em sua escala, alguns nova- 1 Por diversas razdes, as discussées sobre o memorial do 11 de setembro recorrido, vez por outra, 0 longo debate sobre 0 memorial de Betl ‘io figuei surpreso quando recentemente me pediram para comparar 0 local do World Trade Center e os projetos do seu memorial cora 0 Monumento aos Jadeus Assassinados da Europa, em Berlim, Minka primeira reagao foi negati- va. Comparar 0 monumento de Berlim ¢ o discurso de sua genealogia com 0 ebate sobre 0 memorial do 11 de setembro, em Nova York, parcceu-me 0 exemplo de uma comparacao flagrantemente inoporvuna, se €que comparacao pretende sugeric afinidade, semelhanca ¢ proximidade. Os eventos lembrados slo diferentes demais em termos de natureza, escala e imporeancia histérica. Mas, quando aceitei o desafio de relacionar o monumento acabado de Bee com os planos do memorial de Nova York, emergin uma perspectiva interes- sante, que talvez tenha uma significazéo maior. O memorial de Berlin, apesae do ceticismo inicial generalizado, foi abracado por seus crticos e pelo piblic. ‘© memorial de Nova York, apesar das esperancas exubsrantes de construgio de um grande monamento, jé parece um fracasso desolador. E também isto 4que pretendo dizer com a cultura da meméria num impasse © monumento berlinense foi erigido pelos Nachgeborenen [descendentes) ios perpetradores para comemorar as vitimas dos erimes dos nazist a humanidade, que deram origem & convencdo de 1948 sobre o genocidio e, mais tarde, impulsionaram grande parte do discurs0 transnacional,sobre.os direitos bumanos em nosse época. Foi por isso que o debate na Alemanha, # ‘parte sua importiicia nacional, reve uma poderosa repercussio internacional, ‘que também esté contida na dimenso europeiz do nome do monumento. ‘ut eo mamta emis: menarisem a

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