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Marinha do
Brasil na Rio+20
Editorial
ções Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20, reali-
zada na cidade do Rio de Janeiro, no período de 13 a 22 de junho.
O evento contou com a participação de diversos meios navais e de
fuzileiros navais, que realizaram ações terrestres e marítimas com a
finalidade de proporcionar maior segurança ao evento.
Outras matérias destacadas nesta edição são: na editoria Opera-
ções, mostramos como foi a “Tropicalex 2012”, exercício militar que
demonstra o grau de adestramento de nossos marinheiros; na edi-
toria Reportagem, mostramos um pouco da vida dos militares que
servem no Arquipélago de Abrolhos, responsáveis pela manutenção
de um dos mais importantes faróis brasileiros; e na editoria Tarefas
Especiais, acompanhamos o andamento das obras de construção do
Estaleiro e da Base Naval, em Itaguaí, no estado do Rio de Janeiro.
Nessa última, é apresentado um balanço de sua execução que, como
demonstrado na reportagem, andam a passos largos.
Abordamos, ainda, a incorporação do Aviso Hidroceanográfi-
co Fluvial “Rio Tocantins”; a inauguração da Rádio Marinha em
Manaus (AM); e uma matéria sobre o Centro de Instrução Almi-
rante Wandenkolk (CIAW). Na coluna Gente de Bordo destaca-
mos o Segundo-Sargento (FR) Kássio Sampaio de Oliveira. Em
meu artigo, discorro sobre a importância do Brasil ter sediado o
III Simpósio das Marinhas da Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa. Apresentamos, também, o interessante artigo do Co-
mandante Lynch sobre os primórdios da Helibras e o seu relacio-
namento com a Força. Por último, temos, na editoria de História
Naval, um curioso texto sobre Jerônimo de Albuquerque, o pri-
meiro natural do Brasil a comandar uma Força Naval, em artigo
escrito pelo Vice-Almirante (EN) Armando de Senna Bittencourt.
Dessa forma, é com satisfação que convido todos a conhecerem um
pouco mais sobre a Marinha do Brasil e desejo-lhes uma boa leitura.
Comandante da Marinha
Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto MARINHA Revista
Ano 03 • Número 08 • 2012 www.mar.mil.br
em
Marinha do
Diretor do Centro de Comunicação Social da Marinha Brasil na Rio+20
Vice-Almirante Paulo Mauricio Farias Alves
22 9
O futuro está chegando Artigo
Diálogo e cooperação:
Ciência e Tecnologia
maturidade nas relações
Pesquisando o mar,
entre as Marinhas e Guardas
rumo ao futuro 14
Costeiras da CPLP 41
Cultura
A Marinha e os 35 anos
No ar... a Rádio Marinha
da helibras 43
em Manaus 18
História Naval
Carreira Naval
CIAW – formando O Filho da Índia
profissionais do mar 29 que comandou uma
Força Naval 47
Reportagem
Guardiões de Abrolhos 34
“Tropicalex 2012”
Operações
Navio-Tanque “Almirante Gastão Motta” realiza transferência de óleo para a Fragata “Greenhalgh”
A
adversos às unidades do GT man-
Segunda-feira, 23 de julho de pesar da aparente tranquilidade
daquele cenário, as tripulações teve todas as tripulações extrema-
2012. O Grupo-Tarefa (GT) mente ocupadas. Para fazer frente
das Fragatas “Greenhalgh”
707.1 singra as tranquilas águas da (F46), “Bosísio” (F48) e “Niterói” àquela ameaça assimétrica, os navios
Baía de Guanabara, demandando a (F40); Corveta “Barroso” (V34); e efetuaram a desatracação em uma
Navio-Tanque “Almirante Gastão condição especial de prontidão e
saída da boca da barra, afastando- guarnecimento, de modo a neutrali-
Motta” (G23) trabalham arduamen-
se da cidade do Rio de Janeiro, te. A possibilidade de ocorrência zar qualquer ato hostil que pudesse
sede da Esquadra brasileira. de um ataque desferido por grupos ser praticado.
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exercício previsto para a Operação Motta”, após ter sido observado que
“Tropicalex 2012”, conduzida anual- essa embarcação estava causando polui-
mente pela Marinha do Brasil, que ção hídrica. A solicitação de inspeção ao
este ano teve como destino a cidade de navio, de início, foi aceita, mas quando o
Salvador (BA). “Essas operações são Grupo de Visita e Inspeção (GVI) apro-
fundamentais para o preparo do Po- ximou-se, a escada foi retirada do cos-
der Naval. Na ‘Tropicalex’, realizamos tado pela tripulação do navio suspeito.
uma série de exercícios específicos Na evolução do exercício, foi dissemi-
com navios, submarinos e aeronaves, nado que se tratava de um navio seques-
que caracterizam uma Força Naval trado e a fragata recebeu a determinação
operando no máximo de sua capaci- de conduzir a abordagem e retomada da
dade”, explica o Comandante-em- embarcação, empregando Mergulhado-
-Chefe da Esquadra, Vice-Almirante res de Combate, infiltrados no G23 por
Eduardo Bacellar Leal Ferreira, que meio de um helicóptero, utilizando o
acompanhou a operação a bordo da método fast rope. Nesse evento, denomi-
Corveta “Barroso”. nado exercício de Incidente de Proteção
Apesar de se tratar de uma simu- Marítima, pôde ser comprovado o alto
lação, as ações são executadas com o grau de profissionalismo e a complexi-
máximo de realismo. Esse é o espí- dade de procedimentos exigidos dos mi-
rito da comissão: proporcionar aos litares da Marinha.
militares a oportunidade de trei-
nar, exaustivamente, procedimentos
operativos, a fim de elevar o apres-
tamento da Esquadra. Para isso, foi
planejado um extenso programa de
exercícios que visam a contribuir
para a manutenção do nível de ades-
tramento das tripulações dos navios e
aeronaves participantes da operação,
assim como avaliar a performance
dessas unidades em diferentes condi-
ções de emprego.
A contextualização das atividades
propostas possibilita que as tripulações
compreendam e preparem-se para si-
tuações reais. Assim, na terça-feira
(24), a Fragata “Greenhalgh” abor-
Esse relato poderia descrever uma dou um navio mercante, representado
situação real, mas era o primeiro pelo Navio-Tanque “Almirante Gastão
6
“Barroso”. O navio lançou três grana-
das, que foram identificadas nos rada-
res das fragatas como falsos contatos.
Esse exercício serviu para confirmar a
efetividade desse dispositivo utilizado
para confundir unidades inimigas em
caso real de ataque à corveta. À tarde
desse mesmo dia, foi realizado exer-
cício de manobras táticas, durante o
qual foi alterada a posição dos navios
em diversas formaturas estabelecidas,
Navios em operação durante a “TROPICALEX 2012”
o que exige habilidade, principalmen-
te, dos militares que guarnecem a esta-
ção de manobra, no Passadiço. mobilizando os COC das unidades par- em coluna, sendo sobrevoados por
No fim da noite e durante a ma- ticipantes da operação. “Esses exercícios duas aeronaves UH-12/13 “Esquilo”
drugada, foi realizado um exercício de são uma excelente oportunidade para e uma aeronave P-3AM “Orion” da
trânsito com oposição de superfície, verificar a capacidade dos nossos senso- Força Aérea Brasileira. “É motivo de
res e reduzir o tempo de resposta dos muita satisfação ver como, a cada dia, a
navios e aeronaves da Esquadra contra nossa Marinha prepara-se melhor para
possíveis ameaças. Isso exige uma contí- eventuais necessidades de proteção da
nua e atualizada compilação do quadro nossa costa e de defesa do território
tático, a fim de permitir rápida identi- nacional, oferecendo o melhor serviço
ficação de contatos hostis”, afirmou o ao povo brasileiro”, ressaltou o Gover-
Comandante da 1ª Divisão da Esquadra nador Jaques Wagner.
e Comandante do GT, Contra-Almi- No Porto de Salvador, as Fragatas
rante Marcio Ferreira de Mello. “Greenhalgh” e “Niterói” e a Corve-
ta “Barroso” foram abertas à visitação
Abençoados pelo pública, que contou com cerca de 11
Senhor do Bonfim mil visitantes de todas as faixas etárias.
Na sexta-feira (27), a Fragata Os navios exibiram à população sote-
“Greenhalgh” recebeu a bordo o Go- ropolitana as aeronaves embarcadas,
vernador do Estado da Bahia, Jaques os armamentos e o material utilizado
Wagner, acompanhado do Coman- em diversas tarefas a bordo, como no
dante do 2º Distrito Naval, Vice-Al- Controle de Avarias, por exemplo.
mirante Antônio Fernando Monteiro
Dias, e outras autoridades. Nessa oca- Voltando para casa
sião, os navios do GT realizavam um Após a desatracação de Salvador, na
Desfile Naval na orla marítima de Sal- terça-feira (31), a composição do GT
vador, em homenagem à cidade. foi alterada. Foram incorporados o
Os navios do GT e navios subor- Navio de Desembarque de Carros de
dinados ao Comando do 2º Distri- Combate “Almirante Saboia” e a Fra-
to Naval - a Corveta “Caboclo”; os gata “Independência”, e desincorpora-
Navios-Varredores “Anhatomirim”, dos o Navio-Tanque “Almirante Gas-
“Araçatuba” e “Albardão”; e o Navio- tão Motta” e a Fragata “Niterói”. Na
Patrulha “Gravataí” – foram dispostos segunda etapa da operação, iniciada
Além das atividades operativas, os navios da “TROPICALEX” ficaram abertos à visitação pública nos portos
“O êxito da operação traduziu-se na realização, com sendo utilizado. Existe munição, pólvo-
ra e explosivos envolvidos. Temos que
sucesso, de exercícios básicos e avançados nos dez dias cumprir diversos procedimentos de se-
em que os navios estiveram no mar, aumentando o nível de gurança para que não ocorra acidente”,
adestramento de 1700 militares da Marinha do Brasil”. afirma o Chefe do Departamento de
Armamento da F46, Capitão-Tenente
naquele dia, foram executados, nova- a precisão de tiro dos sistemas de armas André Tripoli.
mente, diversos exercícios. No entanto, das unidades do GT. Foram efetuados Para o Contra-Almirante Ferreira de
a partir daquele momento, os níveis de disparos contra alvos aéreos, simula- Mello, “o êxito da operação traduziu-se
exigência e complexidade foram ele- dos por granadas iluminativas e um na realização, com sucesso, de exercícios
vados, tendo em vista a evolução, em drone, e contra alvo de superfície, rebo- básicos e avançados nos dez dias em que
termos de adestramento, apresentada cado pelo Rebocador de Alto-Mar “Al- os navios estiveram no mar, aumentan-
pelos navios ao longo da comissão. mirante Guillobel” (R25). “Basicamen- do o nível de adestramento de 1700 mi-
A novidade ficou por conta dos exer- te, são verificadas a eficácia das armas litares da Marinha do Brasil”. E, assim,
cícios de tiro real com os canhões e me- e da tripulação no seu guarnecimento. no dia 4 de agosto, o GT adentrou à
tralhadoras dos navios-escoltas, a fim de São exercícios que envolvem riscos, Baía de Guanabara, no Rio de janeiro,
verificar as condições dos armamentos e afinal de contas, é um canhão que está encerrando a “Tropicalex 2012”
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Tarefas Especiais
O futuro
está chegando
Passos largos na construção do Estaleiro e da Base
Naval de Submarinos em Itaguaí
Por Primeiro-Tenente (RM2-T) Juliana Leonel Vargas
Fotos: Bruno Galba (aéreas), Segundo-Sargento (CI) Rafael Santa Cruz
Ferreira e Marinheiro (RM2) Jonathan Nascimento Reis
Tarefas MeiosEspeciais
MeiosEspeciais
Tarefas
Navais Navais
Imagine uma área de 750 mil metros quadrados – equivalente a 105 campos de
futebol. Uma equipe com 9 mil trabalhadores – suficiente para construir dois
Maracanãs. E 22 mil toneladas de estruturas metálicas – que poderiam erguer duas
Torres Eiffel. Esses são os números que mostram a grandiosidade das obras do novo
Complexo Militar-Naval, em Itaguaí (RJ): o Estaleiro e a Base Naval de Submarinos,
que integra o Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB).
O
novo complexo Militar-Naval oficinas, laboratórios, ambulatórios, cozi- propulsão nuclear, além de quatro sub-
em Itaguaí (RJ) compreenderá nha industrial, alojamentos, entre outras. marinos convencionais.
três áreas distintas: a Unidade O PROSUB, resultado do acordo Para tornar possível o desenvolvi-
de Fabricação de Estruturas Metálicas firmado entre o Brasil e a França em mento do programa, a Marinha do Bra-
(UFEM), a Área Norte e a Área Sul, setembro de 2008, viabilizará, por meio sil contratou a empresa estatal francesa
estas últimas ligadas por um túnel de da transferência de tecnologia fran- Direction des Constructions Navales et
700 metros de extensão. cesa, o projeto e a construção do pri- Services (DCNS), uma das principais
As frentes de serviço em andamento, meiro submarino brasileiro movido à do mundo na área de construção naval
atualmente, geram 6 mil empregos di-
retos e 21 mil indiretos que, no pico da O PROSUB, resultado do acordo firmado entre o Brasil
obra, atingirá números ainda mais signi-
ficativos: 9 mil empregos diretos e 32 mil
e a França em setembro de 2008, viabilizará, por meio
indiretos. Para isso, uma completa estru-
da transferência de tecnologia francesa, o projeto e a
tura de apoio foi montada a fim de dar construção do primeiro submarino brasileiro movido à
suporte às obras composta por escritórios, propulsão nuclear, além de quatro submarinos convencionais.
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Entrada do túnel que liga as
Áreas Sul e Norte
Área Sul
A Área Sul abrange o Estaleiro e a
Base Naval de Submarinos (EBN) e
comporta a parte marítima das obras.
A construção, montagem final, união
das seções e manutenção dos submari-
nos serão feitos nesse local. Dez cais e
duas docas permitirão a atracação e a
manutenção dos submarinos e uma ilha
nuclear viabilizará o abastecimento e a
remoção dos combustíveis do subma-
rino com propulsão nuclear. O EBN
ocupará uma área total de 320 mil me-
tros quadrados e inclui uma bacia para a
evolução das embarcações, com 12 me-
tros de profundidade.
Os trabalhos na Área Sul incluem
dragagem do material contaminado e
não contaminado da Baía de Sepetiba
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Vista aérea da UFEM
conhecida como Rainbowning, utilizou Início projeto do Submarino com Segundo o Almirante-de-Esquadra
jatos de areia colhida de uma jazida lo- Propulsão Nuclear José Alberto Accioly Fragelli, Coorde-
calizada a 65 milhas de distância para No dia 6 de julho, foi realizada no nador-Geral do Programa de Desen-
aterrar a área. Centro Tecnológico da Marinha em São volvimento de Submarino com Propul-
Paulo (CTMSP), a cerimônia de início são Nuclear, “as obras atingirão as metas
Túnel do projeto do Submarino com Propulsão de tempo e recursos dados pela nação.
Nuclear Brasileiro (SN-BR), quando foi O Brasil se igualará às cinco grandes
O túnel, que liga as Áreas Norte e
inaugurado o Escritório Técnico de Pro- potências que desenvolvem seus subma-
Sul, possui 700 metros de extensão e
jetos em São Paulo. rinos com propulsão nuclear e que são
14 metros de altura. “Os materiais fa-
O local, especialmente equipado com membros do Conselho de Segurança da
bricados na Área Norte que atualmente
avançados recursos de Tecnologia da Infor- Organização das Nações Unidas”.
são transportados por rebocadores para
mação, é destinado a atender as necessida-
a Área Sul, serão escoados pelo túnel”,
des que um empreendimento dessa magni- VANTAGENS DO SN-BR
informou José Luis Ramos.
tude requer. Desse modo, os engenheiros O Submarino com Propulsão Nucle-
navais brasileiros, recém chegados da École ar é um dos meios navais mais comple-
Vantagem da obra para região de Conception des Sous-Marins, em Lorient, xos idealizados pelo homem, possuindo
Diversos trabalhadores daquela
na França, poderão projetar o Submarino significativas vantagens táticas e estra-
área foram contratados para as obras- com Propulsão Nuclear, utilizando os mes- tégicas. Seu reator nuclear permite-lhe
por meio do programa “Acreditar”,que mos métodos, técnicas e processos de cons- enorme autonomia, podendo desen-
também capacita o pessoal da região trução desenvolvidos pelos franceses. volver velocidades elevadas por longos
com os programas “Caia na rede” e O PROSUB não prevê a transferên- períodos de navegação, ampliando sua
“Inglês num clique”, ensinando in- cia de tecnologia no que tange à planta de mobilidade e permitindo-lhe patrulhar
formática e inglês. A meta é contratar propulsão nuclear, que será desenvolvida no áreas mais extensas nos oceanos. Além
2 mil pessoas. O apoio à comunida- Brasil. Entre os benefícios para o País, estão disso, a discrição da presença dessa arma
de também foi dado com a criação de o fortalecimento da indústria nacional e o é garantida pelo fato do Submarino com
uma cooperativa agropecuária onde são aprimoramento da qualificação técnica de Propulsão Nuclear poder operar inin-
adquiridos alimentos produzidos local- profissionais brasileiros que trabalharão no terruptamente mergulhado, em com-
mente para serem consumidos pelos PROSUB, garantindo ao Brasil a capacida- pleta independência do ar atmosférico,
operários das obras, além de parceria de de desenvolver e construir seus próprios sendo praticamente indetectável, inclu-
com a Associação Comercial de Itaguaí. submarinos, no futuro, com total autonomia. sive por satélites
rumo ao futuro
Por Capitão-Tenente (T) Felipe Picco Paes Leme
Fotos: Segundo-Sargento (CI) Rafael Santa Cruz Ferreira / acervo IEAPM
R
essurgência é um fenômeno cidade da costa fluminense, distante onde se localiza o Instituto de Estu-
natural muito conhecido no 13km de Cabo Frio, ocorre o mes- dos do Mar Almirante Paulo Moreira
litoral do Estado do Rio de mo fenômeno. (IEAPM), Organização Militar da
Janeiro, na Região dos Lagos. Ele Outra característica marcante da Marinha do Brasil, é considerado um
ocorre pela ação dos ventos que, Ressurgência é que ela arrasta os nu- dos principais destinos para os pesqui-
juntamente com o movimento de trientes que repousam no fundo até as sadores do ambiente marinho e para
rotação da Terra e o favorecimen- faixas mais iluminadas do mar, sendo os apaixonados por mergulho.
to do relevo submarino, ocasiona o utilizados como alimento para as al-
afastamento das águas quentes da gas microscópicas – mais conhecidas O início de tudo
costa, permitindo o afloramento de como fitoplancton – que são o início O IEAPM tem origem no Projeto
águas profundas para a superfície, da cadeia alimentar, possibilitando a Cabo Frio, idealizado pelo Almirante
tornando as águas litorâneas mais abundância de vida marinha na região. Paulo de Castro Moreira da Silva, en-
frias. Em Arraial do Cabo, também Por esse motivo, Arraial do Cabo, tão Diretor do Instituto de Pesquisas
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da Marinha (IPqM), cuja vida foi de- gerada, principalmente, pelo vento mar em benefício dos interesses da
dicada profundamente ao estudo do na região de Cabo Frio. Marinha do Brasil sem, porém, dei-
oceano. A origem mais remota do A região foi submetida a intensos xar de contribuir para as questões
projeto remete ao ano de 1956, quan- estudos entre 1965 e 1970 e deu ori- ambientais ligadas às necessidades
do foi estabelecido o projeto global gem ao Projeto Cabo Frio, em 1971, brasileiras no oceano.
de pesquisas denominado Ano Geo- instalado efetivamente em Arraial do A proximidade de Arraial do Cabo
físico Internacional. Cabo, em 1974. O projeto durou dez ao Rio de Janeiro é um facilitador para
A participação da Marinha do anos e deu origem ao Instituto Nacio- o acesso de pesquisadores e alunos de
Brasil nesse esforço ocorreu através nal de Estudos do Mar (INEM), des- graduação e pós-graduação de todo o
da Diretoria de Hidrografia e Na- tinado a apoiar a Comissão Interminis- País ao complexo de pesquisa disponí-
vegação (DHN), quando o Capitão- terial para os Recursos do Mar (CIRM) vel no instituto, indo ao encontro do
-de-Corveta Paulo de Castro Mo- na execução dos grandes projetos na- ideal do Almirante Paulo Moreira: “fer-
reira da Silva montou um projeto cionais no mar, decorrentes das obriga- tilizar a juventude para os problemas do
de reconhecimento das condições ções assumidas pelo Brasil ao assinar a oceano, para a vida e para o futuro”.
de fertilização das águas ao largo Convenção das Nações Unidas para o
da costa do Brasil. O projeto reco- Direito do Mar (CNUDM), em 1982. Pesquisas de excelência
nheceu três grandes áreas férteis nas Criado em 26 de abril de 1984, o Também pensando no futuro, mas com
águas brasileiras, destacando-se a INEM, agora com a denominação muita história de vida no IEAPM, está a
área sob influência da ressurgência IEAPM, voltou-se para estudo do doutora Eliane Gonzalez Rodriguez,
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Lançamento de equipamento
oceonográfico para medição de
temperatura e salinidade, durante
monitoramento ambiental na Baía
de Sepetiba
aos empresários e à sociedade, visan-
do a formular políticas públicas para
Ciência e Tecnologia
a preservação e uso sustentável de
recursos naturais das áreas oceânicas.
“Estamos sempre preocupados
em buscar a qualidade do trabalho,
dos laboratórios e dos pesquisadores,
que estão em contínuo processo de
reciclagem, participando de cursos
de pós-graduação, mestrado e douto-
a participação de mais pesquisadores, tarefas do IEAPM, está o diagnóstico
rado”, afirma o Diretor do IEAPM,
o que possibilitará a renovação de seus da qualidade do ambiente marinho na
Contra-Almirante José Luiz Ribeiro
quadros. Dessa forma, pretende-se que região adjacente ao empreendimento,
Filho. “Nossos laboratórios são cer-
o IEAPM torne-se, até 2020, um centro por meio de um amplo Programa de
tificados pelo Instituto Nacional de
de excelência em pesquisas relaciona- Monitoramento Ambiental.
Metrologia, Qualidade e Tecnologia
das às ciências do mar. “Focaremos as A Baía de Sepetiba possui 520 km2
(INMETRO) e estamos com a pro-
pesquisas principalmente nas áreas de de área e 170,5 km de perímetro e está
posta, que será submetida à Coorde-
biotecnologia marinha e acústica sub- localizada a cerca 60 km da cidade do
nação de Aperfeiçoamento de Pessoal
marina, sempre com a preocupação de Rio de Janeiro, abrangendo 12 muni-
de Nível Superior (CAPES), para a
realizarmos pesquisas capazes de aten- cípios fluminenses, entre eles Itaguaí.
criação de cursos de pós-graduação
der aos interesses da Marinha do Brasil, “Fazemos coletas para o monitora-
aqui, nas áreas de Biotecnologia Ma-
à comunidade científica como um todo mento da biota aquática quadrimes-
rinha e Acústica Submarina, com
e à sociedade”, afirma o Almirante. tralmente e da qualidade da água se-
perspectiva de início no segundo se-
manal e mensalmente, com amostras
mestre de 2013”, acrescenta.
Monitoramento ambiental distintas, desde 2011, com previsão de
Em complemento a essas atividades
São muitos os projetos e pesqui- término em 2015. Trimestralmente,
que visam ao futuro, foi realizado, em
sas coordenados e executados pelo fazemos campanhas para verificar os
2010, um amplo estudo estratégico com
IEAPM. Um de grande destaque é o metais pesados no ambiente marinho,
a finalidade de aperfeiçoamento do ins-
monitoramento ambiental da Baía de onde coletamos amostras de peixes
tituto, para sua reestruturação física e
Sepetiba, em que são realizados mo- e algas. Após análise no IEAPM, em
nitoramentos de biota aquática e de seus modernos laboratórios, os resul-
metais pesados. Isso porque as obras tados são encaminhados à Odebrecht
de construção do Estaleiro e da Base (responsável pela obra) e ao IBAMA
Naval de Submarinos, que estão sendo (Instituto Brasileiro do Meio Ambien-
realizadas em Itaguaí (RJ) e que darão te e dos Recursos Renováveis)”, explica
origem ao novo Complexo Militar- o doutor Luiz Ricardo Gaelzer, biólo-
-Naval, geraram uma série de compro- go e coordenador do monitoramento
missos e ações para atender à legislação ambiental. Além de licenciar a obra, o
ambiental. Assim, entre as diferentes IBAMA fiscaliza a sua execução
a Rádio Marinha
em Manaus
Por Segundo-Tenente (RM2-T) Fernanda Mendes Medeiros de Oliveira
Fotos: Suboficial (ET) Marcelo Faria Porto
Na manhã do dia 12 de julho de 2012, a população
manauara passou a contar com mais um veículo de
comunicação. Ao acenderem as luzes vermelhas do alerta
“no ar”, a Rádio Marinha FM em Manaus deixou de
ser uma idealização e transformou-se em comunicação
plena e absoluta, com diversidade musical para todos
os públicos. Na frequência modulada de 99,9 MHz,
a cidade de Manaus, capital do Estado do Amazonas, Comandante da Marinha (à esq) descerra a placa
de inauguração
passou a navegar nas ondas da Rádio Marinha FM.
F
oram, aproximadamente, seis me- Ministério da Defesa. Teremos notícias comunicação para a sociedade brasilei-
ses em caráter experimental e com de interesse regional, nacional e inter- ra: “É fundamental destacarmos que a
aceitação positiva da população lo- nacional. Portanto, quem ligar a Rádio Rádio Marinha está presente em todo
cal. A rádio vem incrementar uma roti- Marinha FM saberá o que está se passan- o País. Seja em radiodifusão, seja pela
na diária de informações, apresentando do no Brasil e no mundo”, afirmou. internet, nosso objetivo é levar notícias
programação diversificada, que inclui O interesse não é somente pelas no- de relevância nacional para toda a po-
músicas e notícias diárias. Em suas trans- tícias diárias, mas pela diversidade mu- pulação. Com a inauguração em Ma-
missões, os ouvintes podem conhecer o sical, que abrange os melhores estilos, naus, conseguimos demonstrar como
trabalho que a Marinha desenvolve no sendo essencialmente nacionais. “Para nos preocupamos e cuidamos em levar e
Brasil e no exterior e obter informações nós, jornalistas locais, é uma ótima op- divulgar, com qualidade, nossa Marinha
sobre o conceito da “Amazônia Azul” e ção por ter um conteúdo atualizado e para todo o Brasil”, destaca.
de soberania nas Águas Jurisdicionais nacional. Com certeza ouvirei”, conta Atualmente, a Rádio Marinha pode
Brasileiras (AJB). Além disso, busca vo- a jornalista da TV Amazonas, Jackeline ser ouvida pela internet no endereço
luntários para a carreira naval, divulgan- Farah, ao cobrir a inauguração do novo eletrônico www.mar.mil.br e em FM
do os concursos e as formas de ingresso veículo de comunicação social. nas cidades de Corumbá-MS (105,9
para a Marinha do Brasil. O Diretor do Centro de Comu- MHz), São Pedro da Aldeia-RJ (99,1
Com o propósito de veicular infor- nicação Social da Marinha, Vice-Al- MHz) e em Manaus-AM (99,9 MHz).
mações de utilidade pública e ampliar mirante Paulo Mauricio Farias Alves,
a divulgação das atividades da Marinha enfatiza a importância desse meio de Opiniões que agregam
do Brasil na região e, ainda, difundir O Comandante do 9º Distrito Na-
notícias do Ministério da Defesa, do val, com sede em Manaus, Vice-Almi-
Exército Brasileiro e da Força Aérea rante Antonio Carlos Frade Carneiro,
Brasileira, a Rádio Marinha evidencia destaca que sua maior expectativa é
a importância dessas Instituições. com a receptividade do público. Ele
O Comandante da Marinha, Almi- conta que a rádio trará informações
rante-de-Esquadra Julio Soares de Mou- fundamentais para os navegantes,
ra Neto, presidiu a cerimônia de inaugu- bem como para os que desejarem co-
ração da Rádio no estúdio em Manaus, nhecer melhor as Forças Armadas:
na área de jurisdição do Comando do 9º “A rádio não tem apenas o propósito de
Distrito Naval, e falou da importância informar a sociedade, mas também de
social e educativa da rádio: “Vamos levar produzir notícias que possam aumen-
notícias não só da Marinha, mas, tam- tar a segurança da navegação aqui da
Estúdio da Rádio Marinha em Manaus
bém, do Exército, da Força Aérea e do região”, afirma.
Admirador dos trabalhos desenvol- a Rádio Marinha no carro, não ficar ouvindo propa-
vidos pela Marinha na Região Amazô- Gerente comercial de uma empre- gandas o tempo todo. Gosto da rádio
nica, o Diretor-Presidente da Amazon sa de aluguel de veículos na cidade de da Marinha porque dá tranquilidade
Sat (canal de TV Digital em Manaus Manaus, Eduardo Morais conta sua para conduzir e tudo soa bem para os
e empresa do Grupo Rede Amazôni- história pessoal com a Rádio Marinha. clientes”, destaca.
ca), Phelippe Daou Júnior, fala com Morador da cidade de Manaus há Questionado se o meio militar lhe
entusiasmo do novo meio de comu- pouco mais de um ano, o paulista fala causava interesse, Eduardo foi obje-
nicação da cidade. “A Rádio Marinha da dificuldade em agradar seus dis- tivo. “A rádio não é só para militar.
chega como uma prestação de serviço, tintos clientes durante seus traslados: Tem área de saúde, política, cultura,
extremamente importante para a so- “Tinha dificuldades em agradar a todos entretenimento. Eu sei do papel so-
ciedade, do ponto de vista do traba- os clientes. Sentia falta de uma rádio cial da Marinha aqui na região e sei
lho que as Forças Armadas vêm rea- que abordasse todos os gêneros, o que como isso é importante, mas o canal,
lizando, particularmente a Marinha. agora é possível com a Rádio Marinha”, como um todo, conquista a gente e,
E nós, como parceiros da Marinha de conta o gerente e motorista. como diz na locução, eu navego mes-
mo nas ondas da Rádio Marinha”,
finaliza o motorista, que segue para
buscar mais um cliente, sintonizado
em 99,9 MHz, na movimentada cida-
de de Manaus.
Programação diversificada
Em sua grade de programação são
veiculados spots especiais produzidos
pela Rádio Verde Oliva, do Exército
Brasileiro, e pela Rádio Força Aérea,
além de campanhas de utilidade pú-
blica, de outros órgãos federais, além
Estúdio da Rádio marinha em Ladário
de outros programas
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SISTEMA RÁDIO MARINHA
Belém
Fortaleza
Natal
Manaus
Em implantação:
São Pedro da Aldeia Natal-RN: 100,1 Mhz
Possibilidades futuras
Rio Grande
Marinha do
Brasil na Rio+20
Marinha do Brasil participou intensamente das operações de
segurança durante a Conferência das Nações Unidas sobre
Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20
Por Segundo-Tenente (RM2-T) Daniella Guedes Rocha Malito
Fotos: Segundo-Sargento (AR) Alexander Viera e Segundo-Sargento (CI)
Rafael Santa Cruz Ferreira
Navios de guerra no horizonte, lanchas patrulhando a orla, helicópteros sobrevoando
a cidade, batedores militares nas principais vias de acesso, policiamento ostensivo em
áreas específicas. Durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento
Capa
Sustentável, a Rio+20, a Marinha do Brasil marcou sua presença no mar, em terra e no ar.
O
cenário acima descrito ocorreu Para cumprir as tarefas atribuídas As ações terrestres e marítimas exe-
no período de 5 a 29 de junho à Força, foi designado, como Coor- cutadas pela Marinha foram planeja-
de 2012, quando Marinha, Exér- denador das Atividades da Marinha das de modo a causar a menor interfe-
cito, Força Aérea e outros órgãos de do Brasil na Rio+20, o Vice-Almirante rência possível na rotina dos cariocas,
segurança pública federais, estaduais e Elis Treidler Öberg, Comandante do conforme explica o Vice-Almirante
municipais, atuaram, em estreita coor- 1º Distrito Naval. Os meios operati- Öberg. “Nas vias públicas, procura-
denação, na cidade do Rio de Janeiro vos e os contingentes de tropa adjudi- mos trabalhar de uma forma bastante
(RJ) e respectiva região metropolitana, cados para a operação foram organiza- discreta e minimizar os transtornos à
a fim de prover a segurança dos Chefes dos em uma Força-Tarefa (FT-100), à população causados pelo trânsito das
de Estado e de Governo e das delega- qual foram subordinados Grupamen- mais de cem delegações que nos visi-
ções que participaram da conferência. tos Operativos e um Estado-Maior. taram. Na parte marítima, buscamos
Fragata “Niterói”
24
Além de desempenharem
atividades relacionadas à
segurança da conferência,
os navios e embarcações da
Marinha realizaram Inspeção
Naval, a fim de verificar o
cumprimento das normas da
Autoridade Marítima afetas
à segurança da navegação,
salvaguarda da vida humana
no mar e prevenção da
Fuzileiros navais patrulham vias urbanas no Rio de Janeiro
poluição hídrica.
o mesmo conceito de minimizar os à segurança da navegação, salvaguarda Rio de Janeiro (RJ) em diversos even-
efeitos da operação aos navegantes, da vida humana no mar e prevenção tos passados, entre eles a Rio-92.
tanto para a comunidade pesqueira da poluição hídrica. Ainda sob a subordinação da
como para as embarcações de esporte FT-100, foi ativado um Grupamento
e recreio”, afirmou. Em terra de Operações Especiais para execu-
Em terra, o Grupamento Operati- tar tarefas específicas. Teve atuação
No mar vo de Fuzileiros Navais “Rio+20”, su- destacada a equipe de 45 militares
Para ações executadas no mar, foi bordinado à FT-100, empregou cerca especialistas em Defesa NBQR (Nu-
formado o Grupamento de Seguran- de 1.500 homens, 38 viaturas e cinco clear, Biológica, Química e Radioló-
ça Marítima da FT-100, composto embarcações no entorno marítimo do gica) desse Grupamento Operativo,
por três fragatas, uma corveta, cinco Aeroporto Internacional Tom Jobim e que foi empregada na realização de
navios-patrulha, dois avisos de instru- nas vias que faziam parte do itinerário varreduras diárias nos pavilhões do
ção, dois avisos de patrulha, quatro das delegações, entre esse terminal e o Riocentro e nas viaturas dos Chefes
lanchas de apoio ao ensino e patrulha Aeroporto Santos Dumont, incluindo de Estado e de Governo, em con-
e 14 embarcações pneumáticas. Es- a Estrada do Galeão, Linha Verme- junto com militares do Exército e da
ses meios navais ficaram responsáveis lha, Viaduto do Gasômetro e Elevado Força Aérea. Para desempenhar essa
pelo controle da área marítima que da Perimetral, além da região do Píer atividade, os militares foram treina-
abrangia a orla portuária, da Rodo- Mauá e do Galpão da Cidadania, centro dos para operar equipamentos que
viária Novo Rio até o Píer Mauá; da cultural instalado no bairro da Saúde. monitoram e indicam a presença de
Marina da Glória até a enseada de O Pelotão de Motociclistas da agentes NBQR e estavam prepara-
Botafogo; e as praias de Copacabana, Companhia de Polícia do Batalhão dos para, caso necessário, efetuar o
Ipanema, Leblon, São Conrado e Bar- Naval (CiaPolBtlNav) participou da isolamento e a descontaminação de
ra da Tijuca. escolta de Chefes de Estado e de Go- pessoas e locais. Foi também mobi-
Além de desempenharem ativida- verno, com quatro equipes de seis ba- lizado um Destacamento de Mer-
des relacionadas à segurança da con- tedores conduzindo suas tradicionais e gulhadores de Combate para, entre
ferência, os navios e embarcações da famosas Harley-Davidson Road King outras atribuições, efetuar, caso fosse
Marinha realizaram Inspeção Naval, Police. Cabe destacar que essa conhe- necessário, abordagens em navios e
a fim de verificar o cumprimento das cida escolta de batedores dos fuzileiros embarcações, a fim de garantir a se-
normas da Autoridade Marítima afetas navais marcou presença na cidade do gurança do evento.
de vital importância. Esse componen- contravam na orla marítima da cidade, temente, em estreita ligação com o
te da FT-100, composto, basicamente sendo empregados para a realização de Centro de Coordenação de Opera-
por militares do Batalhão Logístico escolta de delegações, patrulha aérea, ções de Segurança da Rio+20, insta-
de Fuzileiros Navais, foi o responsável reconhecimento e transporte de tro- lado no Comando Militar do Leste.
pelo fornecimento de suprimentos, pas. Durante todo o período da ope- “A função primordial do CCSeg-MB
manutenção de equipamentos e pelo ração, o componente aéreo da FT-100 é fazer a coordenação, que inclui o mo-
transporte de pessoal e material ne- esteve pronto para efetuar evacuação nitoramento, controle e acompanha-
cessários aos militares envolvidos nas aeromédica, caso fosse acionado. mento, de todas as tarefas realizadas
ações planejadas em proveito da segu- pela Marinha durante a Rio+20, desti-
rança da Rio+20. Para atender, con- Operações coordenadas nadas a garantir a segurança marítima
tinuamente, às demandas das tropas e planejadas e terrestre de itinerários sob a respon-
dispostas em diferentes áreas do Rio Foi instalado, no Comando do 1º sabilidade da Força. O Centro tam-
de Janeiro, foram estabelecidas três Distrito Naval, o Centro de Coor- bém monitorou o emprego dos nossos
bases de apoio, localizadas na Escola denação de Segurança da Marinha militares que atuaram com as equipes
Naval, próxima ao centro da cidade; (CCSeg-MB), a partir do qual todas das outras Forças Armadas e agências
na Base Aérea do Galeão, na Ilha do as ações executadas foram monitora- envolvidas em operações especiais,
Governador; e no Depósito de Aero- das, diuturnamente. negociação e defesa contra artefatos
náutica do Rio de Janeiro, sediado no Nesse local, foram disponibiliza- explosivos. Nós temos equipamentos
bairro de Bonsucesso. As bases foram dos modernos sistemas informacio- que permitem o acompanhamento,
providas com instalações para descan- nais para atender aos requisitos de em tempo real, das operações no mar,
so, alimentação e atendimento médico em terra e no ar”, afirmou o Capitão-
comando e controle necessários para
das tropas acampadas e acantonadas. -de-Mar-e-Guerra (FN) Júlio César
a tomada de decisão, com recursos
Franco da Costa, Oficial de Operações
tecnológicos e pessoal guarnecido,
do Estado-Maior da FT-100.
No ar em regime integral, a fim de acom-
Seis aeronaves da Marinha foram panhar as ações em curso, executadas
mobilizadas para a conferência - dois pelos Grupamento Operativos da Preparação e aprendizado
helicópteros UH-14 “Super Puma”, Força-Tarefa. A preparação das ações planejadas
em proveito da segurança da Rio+20
foi iniciada em maio de 2012, com a
realização de treinamentos e palestras
específicas para os militares envolvidos
na operação. No Comando da Força
de Fuzileiros da Esquadra, as tropas de
fuzileiros navais que atuariam nas ruas
da cidade receberam instruções sobre
os procedimentos de conduta e as me-
didas de segurança necessárias para ga-
rantir a eficiência da operação.
Os comandantes e as tripulações dos
navios e embarcações do Grupamento
de Segurança Marítima da FT-100
Centro de Coordenação de Segurança da Marinha
receberam informações detalhadas
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Motociclistas da Companhia de Polícia do Batalhão Naval
sobre as tarefas atribuídas a seus as normas do tráfego aquaviário esta- e um helicóptero do Departamento
meios operativos. Foram ministradas, belecidas na orla marítima da cidade, da Polícia Federal.
também, palestras explicativas sobre durante a conferência. As diretrizes para o planejamento
Ainda no período de preparação, das ações de segurança da Rio+20 fo-
Com o propósito de militares do Batalhão de Opera- ram emanadas do Ministério da Defe-
ções Especiais de Fuzileiros Na- sa, por meio do Estado-Maior Con-
integrar plenamente os vais (Batalhão “Tonelero”) e um junto das Forças Armadas (EMCFA).
esforços da Marinha com as helicóptero UH-14 “Super Puma”, Ao todo, foram empregados 24.833
demais Forças e agências pertencente ao 2o Esquadrão de militares e civis, entre efetivos da Ma-
Helicópteros de Emprego Geral, rinha do Brasil (3.200), Exército Bra-
envolvidas, o CCSeg-MB realizaram treinamento de pouso sileiro (7.491) e Força Aérea Brasileira
esteve, permanentemente, visual noturno, simulando situações (5.170), além de 8.972 integrantes de
em estreita ligação com o em que esse contingente poderia órgãos de segurança pública federais,
Centro de Coordenação de ser empregado durante a confe- estaduais e municipais. Foram em-
rência. Já o Destacamento de Mer- pregados 1.698 viaturas, 31 navios e
Operações de Segurança gulhadores de Combate realizou embarcações, 27 helicópteros, oito
da Rio+20, instalado no adestramento real de abordagem, aeronaves e um Veículo Aéreo Não
Comando Militar do Leste. em coordenação com uma equipe Tripulado (VANT).
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Carreira Naval
CIAW – formando
profissionais do mar
Por Segundo-Tenente (RM2-T) Daniella Guedes Rocha Malito
Fotos: Segundo-Sargento (AR) Alexander Vieira
A
quela ilha branca, no meio da hierarquia e a disciplina são conceitos naval, complementadas com as ativida-
Baía de Guanabara, é um objeto fundamentais. Além das atividades em des esportivas e militares, para melhorar
de desejo para muitos dos que sala de aula, os Oficiais-alunos realizam a sua formação e vigor físico e mental”,
Carreira Naval
tentam ingressar na Marinha do Brasil. ordem unida (onde aprendem a mar- ressalta o Contra-Almirante Paulo Ri-
Sabem que, se aprovados, lá será o pri- char) todos os dias e praticam exercícios cardo Médici, Comandante do CIAW.
meiro lugar pelo qual passarão na nova físicos, utilizando as instalações esporti- Ao ser perguntado sobre que aspec-
vida profissional que escolheram. Che- vas do centro – piscina olímpica, quadra to destacaria no Curso de Formação de
gam com o sentimento de um sonho re- poliesportiva e campo de esportes. Oficiais (CFO), o Guarda-Marinha (T)
alizado, de um esforço concretizado, e “Assim, o Centro de Instrução Almi- Júlio César Corrêa de Oliveira, bacha-
saem militares, prontos para exercerem rante Wandenkolk consegue fazer com rel em Administração, indicou os con-
suas funções como Oficiais da Marinha. que um grande número de futuros Ofi- ceitos de liderança ensinados dentro e
Entre a chegada e a partida, os ciais, provenientes das universidades, já fora das salas de aula. “Aqui nós somos
Oficiais-alunos, nomeados Guardas- ingresse na Marinha do Brasil com a for- preparados para sermos líderes, chefes
-Marinha (GM) após o período de mação militar-naval e acadêmica com- de departamento, encarregados de di-
adaptação, são submetidos a um intenso pleta, com os hábitos e atitudes desejadas visão, e isto está sendo muito provei-
período de atividades acadêmicas pre- para um Oficial de Marinha, além de toso. A questão da liderança está sendo
paratórias para o serviço militar-naval, conhecimentos sobre a administração muito bem focada no curso”, afirmou.
aliadas a exercícios de liderança, onde a naval, liderança, peculiaridades da vida Fundado em 1945, o CIAW firmou-se
30
Alunos do CFO com o uniforme 5.5
nas últimas décadas como um impor- do Brasil e contará com a participação militares oriundos dos Corpos de Pra-
tante centro de formação e aperfeiço- de 12 Primeiros-Tenentes da Marinha ças que passaram em concurso interno
amento de Oficiais. Em 2012, além de de Angola e de 18 Guardas-Marinha da para serem Oficiais.
690 alunos em Cursos de Formação – Marinha da Namíbia. Há, também, uma diferença rela-
entre Oficiais da Reserva de 2ª Classe cionada com a origem desses alunos.
(291) e de carreira (399) –, o CIAW Quando as diferenças unem A maioria vem das universidades dire-
receberá 236 Oficiais em Cursos de As turmas de formação são marcadas tamente para a vida militar, tendo pas-
Aperfeiçoamento e Especialização pela heterogeneidade entre os alunos. sado apenas por empregos civis. Mas há
(oriundos da Escola Naval e do pró- Em primeiro lugar, destaca-se a diver- aqueles que já eram militares e fazem
prio CIAW) e 122 Guardas-Marinha sidade de áreas e carreiras – a Turma o concurso para se tornar Oficiais. É o
da Escola Naval para a 2ª fase do ciclo CFO 2012 tem 115 engenheiros, 42 caso do GM (T) Júlio César, que entrou
pós-escolar. Para efeito de compara- médicos, 41 profissionais do Quadro na Faculdade de Administração já vi-
ção, neste mesmo ano, a Escola Na- Técnico (de diversas especialidades), 17 sando ao CFO. “Fui Marinheiro, Cabo,
val nomeará 204 Guardas-Marinha, da área de apoio à saúde e 15 cirurgi- Sargento, e sempre fui motivado a fazer
que se tornarão Oficiais dos Corpos ões-dentistas. Além deles, existem ain- a prova para Oficial. Na vida, temos que
da Armada, de Fuzileiros Navais e de da 56 do Quadro Complementar (QC) pensar em crescer. Não é demérito ser
Intendentes da Marinha. de Intendentes da Marinha, 16 do QC Praça, ao contrário, mas temos que pen-
Ampliando sua atuação, no segundo Fuzileiros Navais, 50 do QC do Corpo sar em nossos objetivos. Um dos meus
semestre de 2012, o CIAW ministrará da Armada, dois Capelães Navais, 33 objetivos na vida era fazer esta prova e
o Curso de Formação de Oficiais das do Quadro Auxiliar da Armada, 12 do estar aqui hoje”, destacou.
Marinhas Amigas (CFOMA), que será Quadro Auxiliar de Fuzileiros Navais, A vivência no militarismo, assim
realizado pela primeira vez na Marinha sendo os dois últimos compostos por como os conhecimentos sobre ordem
“Assim, o CIAW consegue fazer com que um grande número de futuros Oficiais, provenientes
das universidades, já ingresse na Marinha do Brasil com a formação militar-naval e acadêmica
completa, com os hábitos e atitudes desejadas para um Oficial de Marinha, além de conhecimentos
sobre a administração naval, liderança, peculiaridades da vida naval, complementadas com as
atividades esportivas e militares, para melhorar a sua formação e vigor físico e mental”.
Contra-Almirante Paulo Ricardo Médici
Comandante do CIAW
32
Guardiões
Reportagem
de Abrolhos
A vida dos militares no arquipélago protegido
pela Marinha do Brasil
Primeiro-Tenente (T) Ellen Franciana Vieira Silva
Fotos: Segundo-Sargento (AR) Alexander Vieira
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“Deus ao mar o perigo e o abismo deu, mas nele é
que espelhou o céu”. Fernando Pessoa já chamava a
atenção para as belezas e tormentas presenciadas pelos
navegantes que se lançavam ao mar. No Brasil, aqueles que
rumavam para a costa sul da Bahia, repleta de altosfundos,
recebiam o aviso: “abra os olhos”. A advertência acabou
batizando o arquipélago ali localizado. Abrolhos encanta
com a riqueza da fauna e flora submersas e a presença de
um verdadeiro ‘rei de ferro’, um radiofarol
de 22 metros de altura, o Farol de Abrolhos.
O
conjunto de cinco ilhas de forma- município de Caravelas, localizado no
ção vulcânica tornou-se o primei- litoral sul do Estado da Bahia, a 261
ro Parque Nacional Marinho da km de distância de Porto Seguro (BA).
América do Sul, em 1983. Quatro delas, A travessia é de cerca de 40 milhas náu-
Guarita, Redonda, Siriba e Sueste, estão ticas (aproximadamente 75 km).
sob a responsabilidade do Instituto Chi- Para o Primeiro-Sargento (FR)
co Mendes de Biodiversidade (ICMBio), Admilson Neves dos Santos, casado
órgão vinculado ao Ministério do Meio e pai de duas filhas, a primeira noi-
Ambiente. Santa Bárbara, a maior e mais te na ilha é inesquecível. “Subi os 82
alta, está sob jurisdição da Marinha do degraus que levam à torre e sabia que
Brasil. Foi nela que, em 1861, D. Pedro naquele momento éramos nós dois
II mandou instalar o farol. ali. Fui tomado pela emoção. As em-
Para garantir a conservação e o fun- barcações dependem do farol. Se não
cionamento desse monumental sinal houvesse um faroleiro para acendê-
náutico, a Marinha do Brasil mantém, -lo, talvez muitas não chegassem aos
permanentemente, uma guarnição ha- seus destinos”, acredita Neves, que
bitando a ilha. Cabe a essas Praças vo- mantém a família em Salvador (BA).
luntárias a nobre missão de contribuir Insegurança foi o que sentiu a
para a salvaguarda da vida humana Cabo (EF) Nicinea Gomes da Silva
no mar, preservando, também, todo o logo na chegada. “Quando me vi no
ecossistema do local. Normalmente, o meio do nada, cercada por um mar
período da comissão dos militares que sem fim, me perguntei se tinha feito
servem em Abrolhos é de dois anos, uma boa escolha. Mas, com o tempo,
com licença de 10 dias, a cada três me-
ses, sendo permitido levar a família.
Para garantir a conservação
A chegada e o funcionamento desse
Movidos pelo espírito aventurei- monumental sinal náutico, a
ro, pelo cumprimento da missão, ou
pela magia que cerca Abrolhos, eles
Marinha do Brasil mantém,
deixam suas casas, famílias, rotinas e permanentemente, uma
partem para o arquipélago, a partir do guarnição habitando a ilha.
MARINHA em Revista Ano 03 • Número 08 • 2012 35
nos acostumamos. É um exercício de
“Quando acendi o farol pela
desapego. Passamos a valorizar coisas
muito maiores, como o companhei-
primeira vez, olhei para o céu e
agradeci a Deus por estar ali,
Reportagem
36
monumentos de rara beleza e ines- pintura, carpintaria, limpeza, capinação, Longe de casa
timável valor histórico. Elos entre a entre outras. A cada 15 dias, as lâminas Os militares são unânimes ao
terra e o mar. Colocá-los em funcio- do farol são limpas para evitar que a sa- apontar a saudade como a maior di-
namento é um verdadeiro ritual, cum- linidade as danifique. Nesses momen- ficuldade do período de isolamento.
prido religiosamente pela guarnição da tos, é possível ver o mais intenso brilho “Quando a tristeza bate, lembro que
ilha de Santa Bárbara. A cada cair da dos cristais seculares. “Ninguém traba- tenho a família Abrolhos, porque é
tarde, as cortinas abrem-se e o farol é lha sozinho. Assim, descobrimos par- isso que somos aqui. Nunca me sin-
ligado, reinando, absoluto, a noite in- cerias, amizades e o espírito de corpo, to só”, garante a Cabo Nicinea. Já
teira. Mas, aos primeiros indícios do tão essencial ao nosso trabalho”, diz o o Primeiro-Sargento Neves gosta-
amanhecer, o faroleiro fecha as corti- Primeiro-Sargento Luciano. ria de poder dividir com a esposa e
nas, e o majestoso guardião de ferro é Praticamente todo o alimento con-
as filhas a beleza do lugar. “Queria
desligado, cedendo lugar a outro rei, o sumido pela guarnição vem do con-
que elas contemplassem esse pôr do
Sol. É por isso que, quando questiona- tinente. A pesca não é permitida nos
Sol. Estar aqui, em contato com a
dos sobre qual a melhor hora do dia na limites do Parque Nacional Marinho
natureza, acalma o coração”. Segun-
ilha, a resposta desses militares é sem- dos Abrolhos. A cada dois meses, é rea-
do o Primeiro-Sargento Luciano,
pre a mesma: o pôr do Sol. “Fico na lizado o reabastecimento de combustí-
a riqueza marinha da região ajuda
expectativa de ver o farol reinar”, conta vel, por navios do Serviço de Sinaliza-
o Primeiro-Sargento Neves. Acender a aplacar a saudade dos familiares
ção Náutica do Leste (SSN-2), sediado
o equipamento suscita nos corações em Salvador (BA). Quando há previsão que não puderam acompanhá-lo.
daqueles militares a sensação do dever de mau tempo, as lanchas que levam os “A prática de mergulho me renova.
cumprido e dá sentido à permanência alimentos de Caravelas para Abrolhos O universo submarino é lindo. Uma
na ilha, apesar da saudade de casa. não se aventuram na travessia. “Já ha- terapia”, confessa.
via se passado mais de 15 dias sem que Do alto do farol, é possível en-
Rotina ninguém se aproximasse da ilha. Es- tender o fascínio que esses militares
O dia começa às oito da manhã, távamos quase sem comida, quando o têm pela paisagem e pela função que
quando os militares reúnem-se junto à Navio-Balizador ‘Tenente Boanerges’, exercem. As belezas de Abrolhos en-
estação rádio e o mais antigo define a da Marinha do Brasil, chegou para fa- chem os olhos e alimentam a alma
rotina a ser cumprida. As tarefas reali- zer transferência de óleo e nos forne- dos habitantes da ilha, tornando os
zadas em grupo são encaradas como te- cer alimento para mais uma semana”, dias mais leves e a distância de casa
rapia ocupacional. Elas compreendem relembra o Primeiro-Sargento Neves. menos sofrida
Paraíso Ecológico
As águas quentes, rasas e cristalinas do Arquipélago de Santa Bárbara tem cerca de 1,5 km de extensão. Nela
Abrolhos servem de berçário às baleias Jubarte, que mi- foram construídas oito casas para moradia dos milita-
gram da Antártida para procriar e amamentar seus filhotes, res sendo uma delas habitada pelo pessoal do ICMBio e
entre os meses de julho e novembro. Cenário ideal para a pesquisadores. Há, ainda, heliponto, capela (erguida em
prática de mergulho, a região abriga grande variedade de homenagem a Santa Bárbara), estação rádio, secretaria,
peixes e outros animais marinhos, além de imensos recifes paiol de material, enfermaria e uma sala com equipamen-
de corais coloridos. tos de ginástica. O acesso à ilha somente é possível com
A fauna e a flora são um prato cheio para a alimentação autorização do Comando 2º Distrito Naval, em Salvador.
das aves migratórias. Lá é possível encontrar atobás, fraga- A presença da Marinha do Brasil em Abrolhos contribui
tas, rabos-de-palha, entre outras. Desde as primeiras horas para a preservação de todo o ecossistema desse verdadeiro
da manhã, essas aves já estão a emitir sons por toda a parte. paraíso ecológico.
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Gente
Gente de Bordo
de Bordo
Segundo-Sargento (FR) Kássio Sampaio
de Oliveira
Seja nas histórias que se con- O que o levou a entrar para a (RJ), soube que havia uma vaga para
tam na infância, nas gravuras dos Marinha do Brasil? a Bahia. Em Salvador (BA), integrei
livros, ou mesmo na imaginação Venho de uma família de milita- um grupo que realizaria a refor-
popular, a figura do faroleiro é res. Meu pai foi fuzileiro naval. Além ma de duas casas no arquipélago.
quase sempre associada a algo re- disso, em São Félix (BA), onde nasci Como bom baiano, a primeira coisa
pleto de magia. Mas o certo é que e cresci, eu não tinha muita perspec- que fiz quando cheguei lá foi tirar
esses profissionais têm como mis- tiva profissional. Então, resolvi fazer meu calçado, colocar os pés no chão
são assegurar que nunca se apague o concurso para ingresso na Marinha e jurar a mim mesmo que eu servi-
a luz dos faróis que iluminam a rota do Brasil. Em 1994, após ter sido ria ali. Na primeira oportunidade,
dos navegantes. aprovado no concurso de admissão, seria voluntário para a comissão.
E foi assim que, ao longo de me formei na Escola de Aprendizes- E ela veio rápida e certeira, pois
quase quatro anos, o Segundo- -Marinheiros do Ceará (EAMCE), o faroleiro que servia lá estava de-
-Sargento (FR) Kássio Sampaio de em Fortaleza. sembarcando. Por se tratar de área
Oliveira viveu o que, segundo ele, Por que decidiu ser faroleiro? com condições de habitabilidade
foi a experiência mais marcante de Eu sempre escutei os mais velhos. restritas, a seleção dos militares que
sua vida militar. Do alto do Farol Isso vem de criação. Já era Mari- servem em Abrolhos requer exames
de Abrolhos, sentia-se um verda- nheiro havia cinco anos, precisando clínicos e psicológicos detalhados.
deiro guardião. Para ele, mais que escolher uma especialização para E eu fui aprovado.
o símbolo de sua profissão, o farol cursar quando um Primeiro-Sar- Como foi a primeira noite no farol?
é um amigo, um confidente. A re- gento me sugeriu essa opção. Eu Para qualquer faroleiro, guarne-
lação entre os dois é tão forte que, pensava em ser maquinista, mas ele cer um farol é o momento máximo
ao partir para uma nova comissão, me disse para ser faroleiro porque de realização profissional. Quando o
o Sargento prometeu voltar. Aos eu iria gostar, pois seria uma ativi- acendi, pensei que, a partir daquele
35 anos, casado com Edna Ferrei- dade muito peculiar e instigante. Na momento, ele era o meu farol. E foi
ra, grávida de uma menina, o fa- época, eu não sabia nem o que era. assim o tempo todo em que estive lá,
roleiro sonha em novamente subir Decidi tentar e me apaixonei pela junto a ele.
os 82 degraus da torre para, lá do profissão. Hoje, tenho certeza que E para que serve um farol?
alto, iluminar o destino dos que na- fiz a escolha certa. É raro alguém ver um farol ser ace-
vegam pela costa sul da Bahia. E é Como foi parar em Abrolhos? so e não se emocionar. Tem esse lado
essa história que ele conta, a partir Ao final do Curso de Formação romântico. Mas, como todo sinal náu-
de agora, no Gente de Bordo. de Sargentos, já no Rio de Janeiro tico, serve para orientar o navegante.
Mesmo com toda a tecnologia e o companheiro, amigo, confidente. Há último dia, o abracei. Chorei muito.
desenvolvimento dos aparelhos de dias, porém, em que a melancolia bate. Não tenho vergonha de contar.
navegação, ele continua com sua filo- Como você conseguiu se casar Limpei as vigias. Conversamos.
sofia viva: salvaguardar a vida huma- morando na ilha? Eu sempre conversava com ele
na no mar. Para as grandes embarca- Eu e a Edna, minha esposa, estuda- quando estávamos a sós. Tenho cer-
ções, serve como apoio. Mas para os mos juntos durante a adolescência, no teza que me escutava. Prometi que
pesqueiros, em muitos casos, é fun- Recôncavo Baiano. Em 1995, depois voltaria e que traria minha filha para
damental. O Farol de Abrolhos, por de concluir a EAMCE, fui para o Rio abraçá-lo. Agradeço à Marinha por
exemplo, é um radiofarol, emitindo de Janeiro. Na mesma época, ela foi tudo o que passei ali. O Farol de
luz e sinais de rádio. para São Paulo. Depois de mais de dez Abrolhos foi minha maior e melhor
Como são as noites para um anos sem contato, nos reencontramos escola de vida e de profissão. A bordo
faroleiro? na internet e passamos a conversar por de um bote, me despedi de todas as
O cair da tarde é sempre a melhor essa rede. Em outubro de 2010, fui vê- outras quatro ilhas, minhas parcei-
hora. Percorria a ilha durante a ma- -la pessoalmente na capital paulista. ras, e parti, chorando
drugada. Todo o tempo em que esti- E como foi o reencontro?
ve lá, dormi em um colchão, no chão Surpresa, ela me abraçou chorando
da sala da casa, de onde era possível muito. Passamos três dias juntos, por-
ver, pela janela, se o farol estava ace- que eu tinha que voltar para o meu fa-
so. Nunca fui de me levantar à noite, rol. Levei fotos de Abrolhos, expliquei
mas em Abrolhos eu acordava para me como era a vida na ilha e perguntei se
certificar de que ele estava funcionan- ela queria vir comigo. Menos de dois
do. Era como um filho. meses depois, ela estava em Caravelas
A região é rota de navios mercan- (BA), pronta para fazer a travessia.
tes, pesqueiros, e outras embarcações. Depois disso, a vida que já era boa
A responsabilidade era maior por eu ficou perfeita. Foram 17 meses de fe-
ser o profissional faroleiro da ilha. Se licidade. Tudo ia bem até que meus
desse uma avaria, de madrugada, eu pais adoeceram. E, logo em seguida,
estaria pronto. Mas nunca aconteceu, descobri que a Edna estava grávida
graças a Deus e à manutenção diária de dois meses, com muitos enjoos e
que nós fazemos. necessitando fazer exames pré-natais.
Você se sente um guardião dos Por tudo isso, fui obrigado a pedir
mares, então? transferência. Em abril de 2012, ela
Sem dúvida. Estar ali, de prontidão, ficou com a mãe e eu voltei para a ilha,
é saber que se algum navegador preci- onde fiquei até o meu desembarque.
sar se orientar, ele será atendido. Em Como foi a partida?
Abrolhos, isso vai além, pois ajudamos Amo aquilo tudo. Com 151 anos,
de outras formas. Eu não sou solda- o farol tem alma. Imagina o que ele
dor, mas já soldei o leme quebrado de já viu? Muita coisa passou por ali e
um pesqueiro, por exemplo. Sinto-me tantas tragédias ele evitou que acon-
um verdadeiro guardião. tecessem. Sinto uma energia, uma paz
40
Artigo
Diálogo e cooperação: maturidade nas relações
entre as Marinhas e Guardas Costeiras da CPLP
Almirante-de-Esquadra Julio Soares de Moura Neto – Comandante da Marinha
No período de 8 a 10 de maio foi possível atingir um consenso so- agricultura, administração pública,
de 2012, a Escola de Guerra Naval, bre a forma de incrementar o mo- comunicações, justiça, segurança
Organização Militar da Marinha nitoramento e o controle do tráfego pública, cultura, desporto e comu-
do Brasil, sediada no Rio de Janei- marítimo nas águas jurisdicionais nicação social; e a materialização de
ro (RJ), recebeu o III Simpósio das dos países da CPLP. projetos de promoção e difusão da
Marinhas da Comunidade dos Países O marco da criação da CPLP é língua portuguesa.
de Língua Portuguesa (CPLP), que a Cimeira de Chefes de Estado e É natural e imprescindível que,
reuniu representantes de Angola, de Governo, realizada em 1996, em entre os países que adotam a língua
Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Lisboa (Portugal), reunindo Angola, portuguesa como idioma oficial e
Portugal, São Tomé e Príncipe e Ti- Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, que tenham no mar um importan-
mor Leste. Moçambique, Portugal e São Tomé te fator determinante da estratégia
O evento, que contou com a e Príncipe. Em 2002, com a con- nacional, tanto no passado como
presença do Ministro da Defesa do quista de sua independência, Timor no futuro, exista um diálogo aber-
Brasil, Embaixador Celso Amorim, Leste tornou-se o oitavo integrante to, como esse que ocorreu, no ano
teve como propósito aproximar as a compor essa Comunidade. de 2012, na cidade do Rio de Ja-
Marinhas de Guerra e Guardas Cos- A CPLP tem como objetivos o neiro – o III Simpósio de Marinhas
teiras dos países da comunidade, acordo político-diplomático en- da CPLP.
fortalecendo os laços de amizade tre seus Estados Membros, no-
e solidariedade entre elas, além da meadamente para o reforço da sua Cooperação
promoção do intercâmbio de infor- presença no cenário internacio- Nesse simpósio, foi estabelecido
mações. Por meio de palestras, apre- nal; a cooperação em todos os do- o seguinte tema central: “Garantia
sentadas pelos chefes de cada delega- mínios, inclusive os da educação, da defesa e segurança marítimas, em
ção, e debates entre os participantes, saúde, ciência e tecnologia, defesa, âmbito nacional, regional e global.
proposta, relacionada com a segu- rias questões relativas ao mar, sendo que integra os sistemas coordena-
rança marítima, permitiu um amplo que algumas estão diretamente rela- dos por Itália, Índia e Cingapura.
debate, que incluiu as possibilidades cionadas às atividades das Marinhas O SISTRAM também está interli-
de colaboração entre as Marinhas e e Guardas Costeiras: proteção do gado ao sistema dos Estados Unidos
Guardas Costeiras, visando ao ge- meio ambiente marinho; ordena- da América por outra rede indepen-
renciamento, monitoramento e con- mento do espaço marítimo; extensão dente. Essas iniciativas cresceram
trole do tráfego marítimo nas áreas da plataforma continental; pesca; através de um processo multilateral
de responsabilidade de cada Estado atividades portuárias; transportes; e são um sucesso por si só, sem a
Membro da CPLP. construção naval; e segurança e vi- preponderância de qualquer país.
Os assuntos discutidos pelos re- gilância marítima. A tendência é que esse compar-
presentantes dos países participan- Particularmente, destaca-se no ci- tilhamento avance, cada vez mais,
tes têm inegável relevância, pois, de tado documento, o item “segurança e para áreas marítimas ainda não in-
fato, vivemos hoje em um mundo vigilância marítima” que estabelece, cluídas. Nesse aspecto, cabe salien-
conturbado, fruto dos conflitos ét- como objetivo essencial, a interliga- tar que nem todos os espaços marí-
nicos, religiosos, políticos e econô- ção de sistemas de controle, de acom- timos sob a jurisdição de Estados da
micos que, em diferentes gradações, panhamento e de informação. Com a CPLP contam com sistema eficiente
influenciam e repercutem em todos finalidade de promover a luta contra de monitoramento.
os continentes. É importante notar a pesca ilegal, o tráfico de seres hu- Enfatiza-se, assim, a importância
que as questões relativas ao mar e ao manos, o contrabando, o tráfico de do fórum realizado no Rio de Janei-
seu uso são essenciais, pois os oce- estupefacientes; e o combate contra ro, no qual se discutiu o conjunto
anos, desde que tratados de forma o crime organizado em geral, para os de desafios imposto às Marinhas e
sustentável, constituem uma fonte quais é necessário procurar soluções Guardas Costeiras, que será superado
inesgotável de recursos para o de- em conjunto. A partilha de informa- pela adoção de políticas, estratégias
senvolvimento e para a economia ções e dados, nesse contexto, revela-se e ações práticas, pensadas e imple-
dos Estados, particularmente para de crucial importância. mentadas pelas nações participantes.
as comunidades costeiras, que deles É sobre esse tópico que se faz ne- E, levando-se em consideração a con-
dependem diretamente. cessária uma reflexão: é praticamen- tribuição do fator amalgamador da
Assim, é fundamental que as te inviável um único país ou uma língua portuguesa nessa comunhão
Marinhas e Guardas Costeiras da única Marinha ou Guarda Costeira de esforços em torno de propósitos
CPLP, responsáveis por vastas fron- ter capacidade para obter e proces- comuns, a frase do escritor moçam-
teiras no Atlântico, Índico e Pacífico, sar a imensa quantidade de infor- bicano contemporâneo Mia Couto
aprimorem o mútuo entendimen- mações de todos os oceanos. Sendo bem sintetiza o pensamento que vi-
to e ampliem a cooperação naval, assim, várias Marinhas estão inter- gorou no III Simpósio das Marinhas
contribuindo para a preservação de ligando os seus sistemas nacionais da CPLP: “O mar foi ontem o que o
nossa unidade marítima, imprescin- com outros de diferentes regiões. idioma pode ser hoje, falta vencer al-
dível à defesa de cada nação. Nesse O Sistema de Informações Sobre o guns Adamastores1”
1 Adamastor - figura mitológica presente na obra “Os Lusíadas”, de Luís de Camões, que representa as forças da natureza que ameaçavam os
navegantes que intencionavam dobrar o Cabo da Boa Esperança.
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A Marinha e os 35 anos da helibras
Marinha N-7050, primeiro “Esquilo” fornecido pela Helibras, continua operacional
1972 – Embraer, Coronel Ozires e o e atender às missões de instrução e pediu a palavra e, com muita facilidade
“Gazelle”, O Projeto Que Não Deu Certo emprego geral da Marinha e da Força de expressão e inteligência, fez um re-
A primeira vez que ouvi falar em Aérea Brasileira (FAB). De repente, o sumo das necessidades da Marinha em
nacionalização, indústria aeronáutica Comandante Pessoa surpreendeu a to- número de aeronaves, requisitos opera-
e fabricação de helicópteros no Brasil dos nós, dirigindo-se a mim e dizendo: cionais etc.
foi na sala de briefing do 1º Esquadrão “Imediato! Vamos a São José dos Cam- Em sua exposição clara e objetiva, fi-
de Helicópteros de Instrução, o HI-1. pos falar com o Coronel Ozires Silva, cou patente ao Coronel Ozires o gran-
Estávamos no ano de 1971 e eu era o Presidente da Embraer”. de cliente que a Marinha representava
Imediato daquele Esquadrão, coman- Dois dias depois decolamos de São para qualquer indústria de helicópteros
dado na época pelo então Capitão-de- Pedro da Aldeia (RJ) para São José dos No decorrer do almoço, o Coronel
-Fragata Júlio Pessoa. Campos com cinco helicópteros. Em Ozires explicou, de forma clara, que
O Comandante Pessoa e os Oficiais três horas estávamos na Embraer sendo seria imprescindível a participação da
do Esquadrão (Capitão-de-Corveta recebidos pelo Coronel Ozires. Depois Força Aérea em um projeto de criação
Senna e Capitães-Tenentes Herialdo, do tradicional cafezinho, fomos para a de uma indústria nacional de helicóp-
Cândido, Rangel, Fonseca, Ney e Alen- sala de reuniões da empresa para um teros. A FAB também teria que figurar
car) discutiam sobre a necessidade da briefing sobre as suas atividades. Após a como cliente para, conjuntamente com
Marinha ter um helicóptero leve, fabri- apresentação dos programas de fabrica- a Marinha, assegurar a escala econômi-
cado no Brasil. Achavam que esta aero- ção de aeronaves para atender às neces- co-financeira requerida para viabilizar
nave deveria ser fabricada pela Embraer sidades da FAB, o Comandante Pessoa o empreendimento.
Brasil e se associar à Embraer. Contou- avaliar, voar e testar os dois protótipos comissão, um helicóptero de nova gera-
-me que a Aerospatialle estava testando do helicóptero “Gazelle”. ção, compatível com a missão de instrução
um helicóptero, chamado “Gazelle”, es- Pouco tempo depois da visita inopi- básica e avançada, uma vez que estava sen-
tado da arte da asa rotativa e com várias nada e oportuna do Comandante Pessoa, do homologado para voo em condições de
novidades tecnológicas. Disse, também, o Coronel Ozires reuniu-se com os dois instrumento (IFR), e compatível também
que os franceses estavam dispostos a Ministros e conseguiu, de ambos, a indi- com as missões de emprego geral.
transferir essa tecnologia para a Embraer cação de seus pilotos para compor duas Entre os pontos positivos conside-
e que os havia convidado a testar os dois comissões de Avaliação e Teste de Voo. A rados de maior importância para sua
protótipos do “Gazelle” em operação Marinha indicou para chefiar sua comis- fabricação no Brasil, estavam o seu es-
na fábrica em Mariagne, na França. são o então Capitão-de-Corveta Lynch, tado da arte, a boa performance, novas
Incentivado pelo Comandante Pes- e os Capitães-de-Corveta Senna e Paulo tecnologias e o fato de ele ter sido es-
soa, o Coronel Ozires nos disse que iria Cesar. A FAB indicou o Tenente-Coro- colhido pelas Forças Armadas francesas
avistar-se com os Ministros da Marinha, nel-Aviador Dagoberto e o Capitão Ono. e inglesas como o seu helicóptero leve,
Almirante Adalberto Nunes, e da Força Assim, fomos para a fábrica em Ma- para instrução, missões armadas e de
Aérea, Brigadeiro-do-Ar Araripe Mace- riagne, onde passamos quatro semanas emprego geral.
do (pai do meu colega e amigo Mauro voando e testando o “Gazelle”. A per- A Diretoria de Aeronáutica estava
Araripe), a fim de discutir o interesse formance da aeronave nos impressionou confiante na possibilidade de viabilização
preliminar da Embraer em fabricar no desde o primeiro voo. Sua velocidade do projeto, uma vez que a Marinha ne-
Brasil o helicóptero “Gazelle”, para atingia fácil os 150 nós e no mergulho cessitava adquirir esta quantidade de he-
atender aos requisitos operacionais das chegamos, por diversas vezes, a alcançar licópteros para reequipar seu Esquadrão
duas Forças. Disse, ainda, que iria pe- 175 nós. O “Gazelle” voava como um de Instrução e, ainda, porque se sabia que
dir a cada Ministro que colocasse à dis- avião, não tinha rotor de cauda e em seu a Força Aérea também estava pensando
posição da Embraer um grupo de seus em substituir seus velhos “Bell HTL”
lugar apresentava uma turbina com várias
usados na instrução de seus pilotos. Por
mais experientes pilotos para testarem pás chamada “fenestron”, que substituía
que não? Faltava apenas um pequeno
o “Gazelle”. Esses pilotos viajariam o rotor de cauda com maior segurança e
empurrão para que o Brasil tivesse, final-
para a França, com despesas pagas pela outras muitas vantagens. Depois de quase
mente, a sua indústria de helicópteros.
No entanto, o projeto não pros-
Linha de montagem do “Esquilo” em 1983 perou, em decorrência da ausência de
escala de produção que amparasse a
Embraer a seguir com o mesmo, uma
vez que a Força Aérea se absteve em par-
ticipar da empreitada. Tal medida adiou
em sete anos a implementação da indús-
tria de helicópteros no País, contribuin-
do, entretanto, para a criação da Helibras.
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a Marinha exercia seu papel pioneiro
como incentivadora e mola mestra da
indústria de helicópteros no país.
Em abril de 1979, cheguei a São José
dos Campos para assumir as funções de
Chefe da Comissão de Recebimento,
Delegado e Piloto de Teste e receber os
seis Esquilos contratados pela Marinha.
Estava acompanhado de seis subalter-
Primeira operação do “Esquilo” no antigo Navio-Aeródromo Ligeiro “Minas Gerais” nos especialistas em motores, aviônica e
estrutura. Para exercer minhas funções
eu tinha que ser o primeiro piloto a ser
se associando à Aerospatialle para fabri- geração, muito mais barata, projetada qualificado no Esquilo. Naquela oca-
car no país, em joint venture, o helicóp- para missões de emprego geral e com sião, a Helibras usava, provisoriamente,
tero “Esquilo HB-350”. A fundação da capacidade para transportar quatro o hangar X-10, enquanto aguardava a
Helibras, feita com a participação acio- passageiros confortavelmente. Com al- construção de suas instalações definiti-
nária do governo do Estado de Minas gumas modificações de instrumentos, vas em Itajubá. O hangar X-10 transmi-
Gerais a partir da desistência da Em- com armamento de foguetes, metra- tia uma influência positiva a todos nós,
braer de fabricar helicópteros, passou a lhadoras e outras coisas mais poderia, por ter sido o local onde nasceu o pro-
contar com o apoio declarado e firme da perfeitamente, suprir as necessidades e jeto do avião Bandeirante da Embraer e
Marinha, interessada em que o país ti- requisitos operacionais para missões de a própria empresa.
vesse sua Indústria de Asa Rotativa. emprego militar armado, com a van- Sentíamos como se fôssemos a
Em fevereiro de 1979, a Marinha as- tagem de ser vendido, também, para o Embraer de asa rotativa, e o Esquilo,
sinou um contrato com a recém-criada mercado privado. o Bandeirante. Dentro desse espírito
Helibras para a aquisição de seis helicóp- Assim, um grupo de técnicos fran- de pioneirismo e com muito desejo de
teros “Esquilo HB-350”. Assim, a Força ceses da Aerospatialle começou a mon- dar certo, nós, Marinha e Helibras de-
repetiu, com confiança, sua atuação de tagem dos primeiros helicópteros e em mos as mãos nos primeiros momentos
1914, na qual, de forma pioneira, foi res- dois meses já tínhamos o primeiro he- para que tudo funcionasse a contento.
ponsável pela criação da Indústria Ae- licóptero “Esquilo HB-350”, matrícula Em uma sala modestamente mobiliada
ronáutica do Brasil, instalando a fábrica Marinha 7050, pronto para qualificar o iniciamos o primeiro “ground school”
de aviões do Galeão, no Rio de Janeiro primeiro piloto da Força. Mais uma vez sobre o “Esquilo”. Seis semanas depois,
(RJ). Dessa vez, por meio desse contra- iniciei os primeiros voos de qualifica-
to, a Marinha alavancou a produção da ção, tendo o Capitão-de-Mar-e-Guerra
Helibras, contribuindo de forma deci- Nogueira como meu instrutor. Desde o
siva para a viabilização da Indústria de primeiro voo com o Esquilo, eu experi-
Asa Rotativa no País. Mas, minha maior mentei a sensação de amor à primeira
satisfação foi receber a notícia – quando vista. O Esquilo era tudo o que eu ha-
servia como Chefe do Departamento de via sonhado como helicóptero. Muita
Projetos da Diretoria de Aeronáutica da potência, excelente manobrabilidade,
Marinha – de que eu havia sido nomea- resposta pronta de comandos e veloci-
do Fiscal e Delegado, junto à Helibras, dade! À medida que ia voando e toman-
para receber e avaliar os seis primeiros do mais intimidade com o helicóptero,
Esquilos encomendados pela Marinha. nossa relação se tornava mais permissi-
O “Esquilo HB-350”, embora sem va e prazerosa.
ter a mesma performance do “Gazelle”, De abril a outubro de 1979, fiquei
N-7050 em operação
era uma excelente aeronave, de última na Helibras, em São José dos Campos,
bida. Foi um período muito dinâmico, Hoje, vejo com muita satisfação rio. Revendo o processo de criação da
em que eu tinha total independência e orgulho de brasileiro o sucesso da Helibras, aflora, de forma indiscutível, o
para tomar minhas decisões e exercer Helibras, uma empresa que se estabe- papel decisivo que a Marinha teve em
minha criatividade. As relações com a leceu com muito esforço, persistência e sua viabilização.
Helibras eram ótimas e eu me sentia trabalho profissional e que, atualmente,
como se estivesse comandando um Es- conta com um amplo mercado no Exér- Pedro Augusto Lynch , Capitão-de-
quadrão de seis helicópteros sediado em cito Brasileiro, na Força Aérea Brasilei- -Mar-e-Guerra ( Refº )
São José. Em fins de outubro de 1979, a ra, na Marinha do Brasil e, especialmen- Aviador Naval pela Marinha do
Helibras mudou-se para Itajubá, tendo, te, na área civil, particularmente para Brasil e US Navy, instrutor de voo, co-
em consequência, transferido os seis he- operações de apoio “offshore”. Ao pre- mandou o HU-1 e possui 3500 horas
licópteros recebidos para aquela cidade. senciarmos o sucesso da Helibras, de- de voo. Delegado e Chefe da Comis-
Em dezembro de 1979, em cerimô- vemos rever o seu passado, entender o são de Recebimento dos seis primei-
nia realizada na Escola Naval e presidida seu presente e, principalmente, analisar ros helicópteros “Esquilo 350 HB”
pelo então Diretor-Geral do Material da o seu futuro, procurando levar em con- na Helibras, autor do livro “O Voo do
Marinha, Almirante Carneiro Ribeiro, ta o quanto ainda falta para a sua plena Falcão Cinza”, premiado pela Revista
como Delegado e Chefe da Comissão de consolidação e para o atendimento dos Marítima Brasileira de 2004. Na inicia-
Recebimento de Helicópteros, orgulhei- requisitos das nossas Forças Armadas e tiva privada, preside o Grupo Simtech
-me de receber as chaves do Marinha do mercado como um todo. desde 1985, que representa no Brasil a
N-7050, primeiro Esquilo fornecido A política de preferência pela indús- Lockheed Martin, a ITT, a Barco e a
pela Helibras, e da certeza de ser par- tria nacional, se adotada de forma mais MBDA, entre outras empresas interna-
tícipe de um momento histórico. Vale incisiva e normatizada pelo Ministério cionais de Defesa
Vista aérea do hangar X-10 em 1983 e atual sede da Helibras, em Itajubá (MG)
Foto: Helibras
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História Naval
O Filho da Índia
que comandou uma
Força Naval
Por: Vice-Almirante (EN) Armando de Senna Bittencourt
O
donatário da Capitania de Per- Olinda; assumiu a administração da em 1593, deixando dezenas de filhos,
nambuco, Duarte Coelho, Capitania, como Capitão-Mor, após a de muitas mulheres, inclusive alguns
pouco esteve no Brasil. Dei- morte de Duarte Coelho, até a chega- com a portuguesa que, 25 anos de-
xou, cuidando de sua propriedade no da do herdeiro, seu sobrinho. Depois, pois dele ter chegado ao Brasil,
Novo Mundo, a esposa, auxiliada pelo ajudou também o terceiro donatário. veio para se tornar sua legítima es-
irmão, Jerônimo de Albuquerque. Seu trabalho foi fundamental para o posa; dizem que, por determinação
Chegaram em 1535 e enfrentaram bom êxito alcançado em Pernambuco. da Rainha de Portugal. Tornou-se,
muitas dificuldades: índios sempre Ficou famoso como um dos conquis- portanto, um importante povoador,
aguerridos, pois a guerra estava na tadores da terra e seus feitos foram o “Adão Pernambucano”, como se
essência de sua cultura; terras selva- exaltados em versos pelo primeiro constata pela frequência do sobre-
gens a desbravar; e colonos portugue- poeta barroco da língua portuguesa, nome Albuquerque no País.
ses raramente altruístas, nem sempre Bento Teixeira, na “Prosopopéia”. Dos muitos filhos de Jerônimo,
bem comportados e cooperativos, que Ele sabia muito bem como conse- o que mais se destacou foi seu ho-
vieram esperando alcançar um futuro guir a cooperação dos indígenas; sua mônimo, Jerônimo de Albuquerque
próspero para eles próprios. estratégia para obter aliados foi a de (1548-1618) que, depois da luta com
Jerônimo permaneceu o resto de casar-se com as filhas dos “principais os invasores franceses, juntou Ma-
sua vida no Brasil. Fundou Igaraçu e da terra”, quantos houvesse. Faleceu ranhão ao seu nome. Era o filho da
índia tupi Maria do Espírito Santo Durante sua existência, Jerônimo são construídos em alguns pequenos
Arcoverde e, portanto, compreen- filho combateu índios inimigos e estaleiros, sem desenhos e por mé-
dia muito bem as culturas indígena e franceses invasores, liderando in- todos de alguma forma semelhantes
portuguesa. Sua infância foi influen- dígenas e portugueses e realizou aos empregados pelos construtores
ciada pela língua e hábitos da mãe muitos feitos de importância, como navais dos séculos XVI e XVII.
e, devidamente perfilhado pelo pai, a fundação da cidade de Natal e o Nessa luta vitoriosa contra os
que, mais tarde, o levou a seu lado, cargo de Capitão-Mor do Rio Gran- franceses, da qual Jerônimo justa-
quando chegou à idade de entrar em de do Norte. Desses feitos, porém, o mente orgulhava-se, combateram
combates, aportuguesou-se e tinha o que aqui mais nos interessa é o fato portugueses e seus aliados índios.
respeito dos colonos europeus. de ter comandado uma flotilha de Ele conseguiu ser líder em dois uni-
navios, que partiu de Pernambuco versos culturais e ser um dos forma-
para expulsar os franceses do Mara- dores do atual território brasileiro.
Caravela em miniatura
nhão, em 1613. Pode-se dizer, por- Foi, também, pioneiro, como “filho
tanto, que foi o primeiro natural da da terra”, na aplicação de um Po-
terra a comandar uma Força Naval. der Naval português que, séculos
Essa Força era constituída por pou- depois, originou a Marinha do Bra-
cos navios de madeira, chamados de sil. Na Independência, em 1822, a
“caravelões”, nome genérico que ca- Marinha do Brasil formou-se da
racterizava embarcações a vela, cons- parcela da Marinha de Portugal que
truídas no Brasil, talvez algo seme- apoiou a causa do Príncipe D. Pedro
lhante a grandes saveiros, que ainda contra as Cortes portuguesas
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Centro de Comunicação Social da Marinha
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