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Editorial Uma revista de Arquitetura, que se discuta Arquite- tura, feita por estudantes de Arquitetura, referen- ciada na produgéo do estudante, dentro e fora da Universidade. Retomar a discusséo de Arquitetura sem receio de estar incorrendo em algum ato culposo ou reacio- nério, enxergando no nosso objeto de estudo ena nossa atuacéo profissional todes as brechas colo- ‘cadas para uma atuacéo ne reelidade. Retomar a discusséo de Arquitetura a pertir do produto, que jé contém em si o processo de pro- dugo, considerando toda a produgéo que houve durante os dltimos anos, A discussio aprofundava em direggo & "atuagao do arquiteto”, englobendo hoje © produto enquanto muito deste atuacdo, o produto enquanto processo de produgao e obra ‘construida. Esta retomada no é um ato isolado. Observando a Postura que os nossos Encontros Nacionais ten- dem a assumir, podemos compreendé-la em um ontexto mais amplo. Assim, por deliberagao do Conselho Nacional de Entidades de Arquitetura, 0 préximo Encontro Nacionel de Estudantes de Ar- quitetura cresce em seu carater politico- corganizatvo, englobendo a discussio de Arquite- tura. Em todo momento do trabalho, o produto se colocou mostrando sua importancia em qualquer proceso de discusséo ou de trabalho. A elabora- go do NUMERO ZERO 8, assim, 0 inicio de um tra- balho mais aberto, com a participagao de msior ndmero de pessoas interessadas, ‘A maneira mais eficiente que enxergamos para nos ‘organizarmos em tomo desta discussao foi através de nosses entidades representatives, 0 que viria ainda no sentido de fortelecs-las. Sendo assim, Propomos que a continuegéo do trabalho seja feito através da Regional dos Estudentes de Arquitetura do Estado de Sao Paulo, entendendo 0 NUMERO ZERO como um ponto de partida a diregao assu- mida deve ser reestruturade uma vez que, com novas contribuigdes, esta reestruturagdo é fato. Neste NUMERO ZERO, a concretizagao de uma pré- tica, @ revista conta com discussdes que nos tocam no momento: 0 aprofundamento da discus- so sobre nossa etividade profissionel; nosso aprendizado na Escola ¢ fora dela; nossa produgéo, 08 projetos que existem e que ficam nas gavetas; 4 pesquise; 0 ja feito; 0 profissional e sua contri- buigdo para as discusses que se travam na socie- dade. Trabalhanco estas variaveis, nossa produgéo, seu produto, 08 espacos, nossa orgenizagdo, a forma- 80, a profisso, percebemos que elas se inter gam e que as discussdes giram em tomo disto. A formagéo, assume ai uma dimenséo meis verde- deira, quando situada frente 8 nossa pritica do dia-e-dia. =. ESPAGO rata des erties de wes Etac de to Po farciarem Rea Sei, Pasts en Pow Vers ins Oasnt, 2 dno B,C, Si Roser Pate Raker, Atena Cea Fea, Cece M Ho eours Nat Niven Asse, Cun ea rm Naan Mae ‘citortam Rcbeto Abnrurun Le Gomes Macs, Veaie ames Ceo, Mar atu Cont. er Ka ler: Maris, Ma Ben Ca do A ‘Sits gu comprar tons Oreos GFAL genie 787, DAFANeno 8) Como Pann COP Eat Games de Ona Pk Mone, Bes tg F0 ‘icahee, Ses Noga, Cerne onze Foro Moral, Aer Svea ale Ho Cae tarot Zt, Eo Serves Tana uh B.S. Maran Bs ‘Srrem aga cn PAL corn ino etre, argo Ge coreeponainc Pur Morne arog, 77(Cntio 01909 So Pao 286472 Fetacompono Vantees Can, Fotos as Corchce Tagen 98 serps {tore at rt am Sb Paul mob a9 —) AA prética revela que a formacéo do arquiteto no tem se esgotado no simples cumprimento das te- refas exigidas pelas faculdades.Fatbres diversos, tais como a busca de novos caminhos para a for- magao, tentativa de aproximagao com a pratica, ou a necessidade de automanutengao faz com que 0s estudantes, frequentemente, desenvolvam atv dades extra-curticulares relacionadas, ou nao, com 2 futura profisséo Varias tentativas vam sendo feitas no sentido de identificar os envolvidos com 0 ensino e com o aprendizado da arquiteture. As discussbes sobre o curriculo minimo, integragao entre as cadeiras, sobre a fungéo do estégio vem sendo feitas a Jonge data, sem que se tenha conseguido chegar a um consenso, O fato & que enquanto essas dis- cussées se travam de forma mais, ou menos, acir- rada, de norte a sul do pais, 0 quadro geral de for- magéo se alterou. Qualitativa © quantitativamente. Se até 0 inicio da década de 70 éramos apenas duas Faculdades de Arquitetura no Estado de So Paulo, atingimos o final dessa mesma década com. 9 Escolas sendo que, entre elas, apenas uma 6 mantida pelo Estado; as demsis caracterizam-se como empresas. Para tal expanséo os quadros do- centes néo foram @ no sao suficientes denun- ciando enormes falhas. Do ponto de viste da qualidade de ensino, algumas experiéncias foram feitas mas por motivos conjun- turais imitaram-se a experiéncias restrites a algu- mas escolas e limitadas a um curto espaco de tempo Nesse contexto, a discussao sobre o nosso objeto de estudo - a Arquitetura também se rarefez. O aprendizado da Arquitetura depende de fatores ue exigem mais que a matricula renovada a cada period; & fundamental, para que se efetive, a dis- cusséo referenciade na produgao real, seja ela feita dentro da escola ou fora de seus “muros. Nao Seria 0 processo de discusséo um elemento im- ortante no sentido de agir com uma perspectiva de alteragéo deste quadro? Com esse objetivo pedimos @ alguns estudantes, de arquitetura que fizessem seus depoimentos & Tespeito de como viam as atividades por eles de- ‘sempenhadas durante o periodo de formagao. Ne- nhum questionério foi entregue. Apenas uma folha ‘em que colocdvamos nossas intengdes € @ exp cagdo da revista O levantamento e publicagéo desses depoimentos fomecem subsidios a uma viséo global na medida que diferentes experiéncias se contrapdem permi- tindo dimensionar e avaliar os reais vinculos entre ‘a nossa formagao e as atividades desempenhadas bem como a nossa propria interagao com a reali- dade. Estendendo a proposta enquanto proceso crescente que transpée os limites colocados pela estrutura universitéria, Os estagios em grandes e pequenos escritérios; a iniciativa de formagéo de grupos; os que traba- ham em casa; 0s bicos; as intervengdes na ci- dade; a criagdo dessa revista; o desenho; a foto- grafia; @ capa de livro; os pesquisadores esbogam um panorama que claramente néo se esgotaré nessa primeira etapa de discusso que pretende ultrapassar os limites restritos de cada escola. A parti da introdugao de parémetros diversos, que- remos chegar a um “estudo” mais proximo do real. atividade profissiona do estudante de arquitetura Experiéncia Profissional do Estudante de Arquitetura Relato pessoal Algumas consideragées: Até onde se pode considerar os “estdgios", normalmente vistos, ‘como uma efetiva experiéncia? O que posso notar é to somente uma exploraco do trabalho bragal de desenhista, com pouquissimos (ou nenhum vinculo com uma aplicagao ¢ desenvolvimento do aprendizado universitario. Portanto 0 termo profissional também no se aplica, em regra. A nivel de trabalho, produgao x ganho, considero a forga dispendida e a baixa compensagao financeira, que 6 aceita por falta de opcao. Fora 0 trabalho dito de projeto do edificio, surge eventual mente alguma coisa relacionada com o acompanhamento da construg&o, desenho da programagao visual (marca, logotipo e aplicagées}, desenho publicitério etc. Mas, via de regra, como “bico” e ainda muito mal remunerado, uma vez que concorremos com segundo time ou teserva de um mercado saturado de oferta de mao-de-obra. Neste quadro lastimavel, embora amplo de atribuigdes, tive alguma coisa que se convencionou chamar “‘experiéncia profissional” Trabalhei na pesquisa e prognéstico do projeto CURA (Centros Urbanos de Recuperagao Acelerada - BNH), desenho publicitario, como free-lancer e registrado - um Unico projeto para uma casa de praia (concepgao @ desenvolvimento a nivel de projeto, e agora, hd dois anos, aulas de Linguagem Arquitetdnica - Curso PREARQ - sem esquecer alguns tantos “bicos” tais como "‘chupar’ planta para prefeitura, normografar, diagramar alguns impressos, etc. etc. etc. Lementével perspectiva de encarar a "vida profissional” com a sempre exigida ““experiéncia anterior” de n anos. Reinaldo Cursino Negrini - Tgi - FAU-Santos estudante de arquitetura e sua viséo (ou miragem) da vida profissional: Penso que esté tudo errado. Do Jardim da Infancia & graduagao em Arquitetura. Na escola de arquitetura 0 estudante era plas mado, ao fim de 5 anos. de devotamento espiritual, social e estético, em um reformado ‘supremo do homem. E na escola de arquitetura que ensinargo ao estudante pensar nas grandes coisas, aqueles de grande porte fisico e grande dimensao social. “Think big" dizia desinteressadamente 0 americano, quando o estudante entrou na faculdadel ““Acquitetura ou Revolugéo ?"" Penso que esta tudo errado. E continuara assim na medida em que se perpetuar esta maldita idéia de dar ligdes de vida para todo mundo. O estudante é levado a pensar a habitagao e 0 centro cultural, a igreja e uma grande edificagao, @ cidade e a comunidade rural da mesma forma, Sempre que uma posicdo superior, impositiva e de verdades absolutas. ‘Apés 6 anos de tdo sublime educagao, sai 0 novo profissional & procura de seguidores, évido de idéias novas e salvadoras dos apocalipses quotidianos. Dai entéo, vern o tombo. E que tombo | Estéo na verdade a cata de mao de obra especializada, que responda as solicitagdes sem qualquer questionamento. Mas, onde ficam todas aquelas magnénimas idéias donde 0 espaco faria o homem ? Tudo duplamente errado | Duplamente porque se por um lado veda-se a viso geral da conjuntura politico-econémica-citatorial e repressiva ao estudante, por outro néo se Ihe apresentam caminhos de participagao social coerente; foi o estudante moldado para ser o grande resolvedor de problemas numa sociedade ideal. Nao Ihe deram o respaldo para uma articipacdo efetiva: formaram-Ihe um ideério que o fez um intelectual prepotente e distante. Contribui para este fenémeno nao sé a postura viciada @ caquética dos “experts” de arquitetura, mas também toda uma conjuntura politica de 15 anos de vida que funcionou como cera de ouvido numa terra onde no inventaram cotonete. Sergio Sandler - FAU-Mackenzie Por que Frank Sinatra ndo ver cantar na FAU? 1. A sobrevivencia do estudante de arquitetura. 2. Aatragao da arquitetura: uma formagao profissional voltada para a Beleza, 3. As falhas da arquitetura: histérica, de definicao. Por que Frank Sinatra Hoje estou com 29 anos. Comecei a estudar aos 7. Passei sete anos da minha infancia fazendo coisas que, se agrupadas em torno de um niicleo aglutinador, esse nticleo seria ser crianga. Ser. Profisséo, nenhuma; ocupagao, ser. Poucos objetos do nosso maquinério urbano podem ser manobrados por criangas. © que faz supor que elas precisem de estudo, preparo. Com 17 anos fechou o ciclo basico da minha educagao. Equagdes do 2° grau se aliaram a quimica organica para me convencer de que, jé nao tinha aprendido a manobrar os equipamentos e objetos do contexto urbano, deveria forgosamente chegar a um tipo de lideranga, onde a minha superioridade, o esmero da formacao escolar fosse a forca plasmadora na minha interacdo na. sociedade. no que tange a diregao na qual a sociedade absorveria meu talento, e também no proprio afloramento interior desse talento. Para seguir um caminho seguro optei em prosseguir no meu esmero, lapidando meus talentos no esmeril da engenharia civil Dois anos depois eu sentia estar rasgando @ minha carne, em mais um ciclo de exer ios destinados a provar ao aluno a sua superioridade e 0 seu destino de forga, plasmadora do progresso, agora em nivel universitario; intteis erudicées, exercicios numéricos. desprovidos de perspectiva humana. Quebrei. Fechei a loja. Tirei meus talentos da carteira, de aluno, ndo de bolso, e os pendurei no quintal, Agora me parece ter sido uma época em que o sol batia nas coisas, meio amalucado como o vento e particularmente, senti a origem dessa forga plasmadora, que antes acreditava ser eterna, direta € real; como um raio de sol envolver e revirar a mim e aos amigos daquele tempo, como um turbilhdo numa planicie. Conceitualmente, eu pretendia reformar a perspectiva na qual se apoiava esse lento aprendizado para uma vida profissional que eu aprendi naqueles dois anos a temer como necessériamente dolorosa por Ihe faltar padrdes genuinamente humanos, pessoais. Ande! um bocado s6. Comecei a cursar comunicacdo visual e, nese Ponto, a fora sentir 0 tal vento maluco corando a roupa da minha alma, eu tinha bom motivo para ser uma pessoa triste. Nao havia meios que me ajudassem nd estruturaco de uma proposta de desenvolvimento profissional coerente e criativo (no sentido de levar meus talentos & maturidade). Dai a virar artista 6 apenas um asso... A tentagao de em cada transformaggo de um quadro intuitivo, uma estrutura Ge linguagem artistica, um beijo arrepencido da serpente do comego, no sentido da volta. Mas antes da diregao eu me pergunto pelos meios. O que realmente nos transforma em profissionais? Existe nas escolas esse interesse basico de transformar um aluno num profissional coerente com sua época? ‘Acho que em geral ndo. Em particular do que vivi também no. Em relagdo 4 arquitetura acho que existe duas falhas graves. A primeira, e de ongem histérica, 0 profissional brasileiro nao tem lastro tradicional. A segunda. a arquitetura das profissées mais estabelecidas & uma das que mais se baseia na procura da beleza e su inevitével apoio na justiga néo se define como eu acho que deveria ser: a favor do homem. Quanto & primeira falha quero dizer, com isso, que ndo hé vinculo de ordem artesanal entre 0 arquiteto € os produtos que manipula, porque a histéria © a evolugao da cidade industrial impedem essa aproximacao, Um lastro dessa ordem, levaria o profissional a uma nova posig&o voltada mais para o fazer, um fazer mais solto, mais aberto, Viajei bastante, quantos modos diferentes o homem tem, para levar uma vide digna que Ihe permita trazer coisas suaves a cada momento como bolhas que sobem do fundo do mar, e explodem silenciosas a flor da 4gua! Num canto do Brasil, no fundo de um hotel na Bolivia, uma pequena cidade africana, uma lanchonete inglesa, so quadros des paisagens do meu passado que eu posso visitar, @ ver nos homens, apesar e talvez por causa do desespero da condi¢ao humana particular de cade um, da pesada trama cultural e civiizatoria que dificulta e esclarece os gestos, e além do ver me fazem crer nese afloramento sutil do que hé de individual nos individuos. © pomo da discérdia, a maga do desejo, a banana tropical que trava nossas bocas, éta processo duro esse de adequar um processo pedagégico realizado por tradig6es falsas e mercado profissional carente de oportunidades de revelar os talentos dos artesdes da arquitetura e do urbanismo aos ideais dos jovens estudantes. Quantos ndo quiseram ser médicos para aliviar o sofrimento humano, @ hoje doutores, se enriquecem nas clinicas de aborto? E nés, futuros profissionais escultores do espaco? Existe nas escolas um debate, uma postura que néo trava nossas perspectives de beleza e justiga? O impasse esta criado e rangerd nos nossos coragées como se féssemos galinha de grania Nao considero 0 problema profissional da estreiteza do mercado, da inadequagao e desespero dos futuros arquitetos como problema em si, mas apenas 0 nervo onde déi essa martelada, mais pelo vacuo que pelo esmagamento, implosao lenta que desmonta nossos componentes humanos para reestruturé-los a gosto de uma diregdo de progresso inconsequente, que obscurece nossa dignidade de pessoas simples com aspiragdes retas. Quais sdo as nossas perspectivas? Eu particularmente néo me sinto demais habituado a dar receitas, mas como parece que agora vai se poder até dirigir carros sem habilitacao, fica aqui minha receita 1. Desmistificagdo da escola - chega de inutilidades. 2. Asociedade para o homem, nao para os objetos ou para o Capital. 3. Viva a cidade viva! Gente nao ¢ para se matar de fome, raiva, envenenada ou atropelada. 4. Uma escola de arquitetura voltada para a pratica. Seré que 0 problema residencial ndo pode ser resolvido com a instituigao da residéncia arquiteténica, assim como a médica nos hospitais, por exemplo? 5. A fé no homem e a imaginagao no poder. 6. Polo tesao irrestrito e amplo na arquitetura e no urbanismo. Estdis ouvindo um sonzinho caipira em vossos coragées? E por isso que Frank Sinatra nao vern cantar na FAU... problemas dissonantes 20s quais no nos acostumamos... mas ele é puta-velha e nao é bobo. Diego Buzzer - FAU-USP Agente se vé frente a dilemas, alguns deles permanecem em nossas cabegas durante anos: a atividade profissional & para mim um deles. Trabalho & necessério, se nao para pagar a faculdade, ao menos para ajudar a manutengao. Isso nao 6 tudo, faz-se necessério aproximar-se e desvendar nosso campo de trabalho. Estagiei durante um ano na Prefeitura, Administragao Regional da Freguesia do 0, e embora a estagnacao que significa preencher papéis, dia apds dia, trouxe a mim um contato direto com essa populagao de periferia (Freguesia do © 6 um bairro que fica distante 13 Km do centro de Sao Paulo), de sua realidade e seus problemas. ‘Alem disso 0 estégio permitiu-me passar horas inteiras tentando ‘encontrar solugao para habitagdes de area minima, com as enormes restrigdes que significa a lei de zoneamento de Sao Paulo para a habitagao das camadas de baixa renda Isso tudo parece ter indicado meus passos seguintes: a confirmagao de minha total descrenca no arquiteto e alguna iluséo com 0 "mito" do planejamento (que ainda sobrevoa nossas cabecas). Objetivando planejamento urbano numa faculdade em que curso todo voltado para 0 edificio, ha necessidade de encontrar outros caminhos. Passei @ Coordenadoria Geral de Planejamento (érgaos publicos séo a minha paixdo) também na expectativa de que somente trabalhando dentro desses érgdos que teria um produto visando, no o lucro, mas 0 retorno para a coletividade, isto é, tentar afastar-se o mais possivel da empresa privada. Mas tenho a sensacao de que isso nao me isenta da colaboragao para a continuidade do sistema como um todo, pois num pais em que o Estado esté 2 servigo do Capital, ele néo cumpre verdadeiramente a sua fungao. ‘ANlém disso meu trabalho é extremamente mal remunerado, isto quartanista da faculdade, mao de obra especializada, recebo r$3.089,00 por 80 horas mensais. As dificuldades de se mudar essa situagao Sé0 muito grandes, visto a instabilidade empregaticia do estagiério e a crise no mercado profissional Esbogam-se as discussées € 0 inicio da organizagéo, mas os passos so lentos e ainda falta muito, porém provavelmente estaremos um pouco mais preparados para a luta quando formos despejados no mercado, agora, espero, jé reconhecidos como profissionais. Eduardo Toledo - FAU-Mackenzie Apés 3 anos desinteressados na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, houve um momento em que acreditei ter dado um fim a uma situagao pessoalmente tragica. Naquele instante, iniciei um longo processo de andlise em busca das causas que me haviam levado a assumir ura postura estéril dentro da Universidade. A primeira concluséo evidente a que cheguei fez-me ver que minha formagdo e vivéncia anteriores Universidade haviam me levado a um descompromisso de atuaco na nossa realidade. Esse despreparo também me impossibilitava de atuar politicamente em minha prépria escola e, mais especificamente néo me dava critérios para atuar criticamente dentro do meu particular objeto de estudo, a Arquitetura. A segunda constatagao, também evidente, foi que esse estado de coisas era também consequéncia da repressao politica posterior 2 1964, que nos contaminara como uma terrivel doenga dos trépicos. 10 Conelusées simples como essas levaram-me a uma répida redefinigéo dos meus objetivos no estudo da Arquitetura da minha Participacao politica dentro e fora da Universidade. Uma das minhas preocupacées era desenvolver um novo pensamento de agéo dentro da escola, algo que pudesse se opor a todos os obstaculos, um esforgo na procura de novas idéias sobre Arquitetura, na tentativa de romper a simples acumulagdo de informagées. Essa nova perspectiva inclufa a pesquisa, uma grande produgao intelectual, novas propostas no limite da utopia, reavaliagao da moderna Arquitetura @ teria, como estimulo de trabalho, a imagem de uma sociedade de igualitaria, na qual o povo faz 0 seu destino. Todo esse universo deveria ser sintetizado numa produgao arquitet6nica de fato, no exercicio do projeto. E'6 com idéias como essas que tenho tido minhas primeiras experiéncias no trabalho da Arquitetura fora da escola. E evidentemente sempre 6 um choque nosso primeiro contato com a realidade profissional, pelo simples fato de que a produgao profissional se desenvolve sob restricdes impostas pelo Sistema na sua totalidade. Mas isso vai novamente reforgar nossa luta nas escolas por umn curso critico, que nos permita criar critérios para uma situagao profissional renovada que acompanhe as transformagGes pelas quais gostariamos que toda a sociedade passasse. Assim, se fosse possivel nos orientarmos dessa maneira fora da escola ainda enquanto estudantes, talvez mais facilmente soubéssemos aonde bater na procura de trabalho e vivéncie. Heitor Madrigano Junior - FAU-USP O estégio deveria completar nossa formaco no sentido de nos ajudar a aprofundar aspectos interessantes do ensino e nos permitir 4 teoria que aprendemos na escola com a realidade que se passa la fora. O problema é que na maioria dos estagios nossos empregadores séo patrées, donos ou diretos de empresas privadas, que estéo meis interessados em que produzamos a beixo custo e que questionemos ouco 0 que estamos fazendo, com o que acabamos sendo reprodutores de “‘certas formas’ de fazer arquitetura, dentro de uma isdo técnica e pouco critica da realidade. Os patrdes ndo querem é que questionemos muito essa realidade do escritério, porque & uma realidade mesquinha, interessada unicamente no lucro. E nés, levados pela necessidade de ganhar uma grana, acabamos nos conformando e esquecendo justamente o mais importante, que nos levou a estagiar: a compreensao do que deve ser uma prética profissional, que junto a uma visao mais completa de ee ee a i Posicionarmo-nos como profissionais e como individuos frente & nossa tarefa. © que nés queremos & uma Universidade (e junto a ela um estagio} voltados para 0 interesse da maioria da populagdo, que seja um verdadeiro laboratério de critica 2 um status-quo que cada ver satisfaz menos e que inclusive vai nos formar num Brasil que nao tem condigdes de absorver nossos trabalhos que, paradoxalmente, padece de uma incrivel deficiéncia habitacional, de infre-estrutura, de servigos, etc. Pablo Slemenseir - FAU-Mackenzie Viver 6 inevitével. Recebi um telefonema pedindo que eu escrevesse um pequeno depoimento sobre minhas atividades “paralelas” & Arquitetura. Como muitas pessoas que lero esta revista ndo me conhecem, me apresenta como um aluno que abandonou a FAU no 3 ano e que resolveu encarar profissionalmente o que por ai se costuma rotular de “artista pléstico’’. Se alguns caminhos se abrem, Por sua prdpria dialética, outros caminhos se fecham. Deseculpem 8 repetigao, mas & que viver & inevitavel. Eu, pessoalmente, acredito na absoluta faléncia do ensino oficial, pelo Menos nos termos que ele se apresenta hoje, no Brasil. Devido & estrututa ditatorial que nos oprime nestes ultimas 15 anos, e que tem como consequéncia: a) 0 esvaziamento de todas as experiéncias que Poderiam resultar numa melhoria do ensino secundario (Colégio Voeacional, por exemplo); b) a prablematica do vestibular-funil; e, c) 0 afastamento ideolégico de toda uma ‘‘massa pensante" (e critica) do corpo docente; chegamos, depois desses 15 anos, a um estado Paralitico do ensino oficial, que quando nao se caracteriza pela falta de informago, caracteriza-se pela redundancia das coisas Obvias. E a FAU, como fica nisso? A FAU, bem a FAU... Eu sou daquelas pessoas que acreditam na FAU, apesar de minha opgao profissional nao ter sido @ de ser arquiteto. Nao esquecendo que a FAU também sofreu todos os itens acima relacionados, acredito que ai seja um dos ocais onde ainda se encontra uma certa liberdate de ago e é exatamente por onde se deva trabalhar para o alargamento de opgdes de algo completamente novo a ser construido. O que, exatamente, do me compete explicitar, mas acho que se eventos como 0 FORUM fossem levados mais a sério, teriamos um bom caminho andado, Acredito também que 0 corpo discente deveria unir-se a Parte mais progressista do corpo docente, e assim conseguir de ™aneira mais répida as mudancas necessérias: os alunos tém pressa, @ eles s6 ficam 5 anos na escola Uma coisa importante: acho que 0 papel atual da FAU nao é 0 de formar somente arquitetos, mas sim formar arquitetos e politicos, acho isso bom. Porém é necessério ressaltar que o aluno que tenha escolhido esta ou aquela profisséo 0 faga de maneira a tornar-se realmente um arquiteto ou um politico (ou ambos), endo de maneira a ser uma caricatura do que & um arquiteto ou a caricatura do que 2 vem a ser um politico. (Desculpem-se se nao escrevo sobre as outras escolas de arquitetura, mas & que eu s6 costumo escrever sobre as coisas que realmente conhe¢o) Oartista pléstico? Acredito que o trabalho de qualquer individuo deva estar vinculado & sociedade em que vive. O do artista deve refletir sobre esta sociedade, revelar seus anseios intimos e denunciar suas contradig6es, sem nunca, no entanto, perder de vista a poesia da vide, pois as premissas da nossa existéncia fazem parte das nossas construgées racionais, mas elas préprias nao podem ser construidas racionalmente. Condeno o realismo socialista e a estética da miséria, pois ambas sao atitudes paternalistas que se pretendem revolucionatias. O artista, por definigéo, é um inimigo do poder e, parafraseando a pintora Michele Bril, “Todo processo de criago é fruto de ume ruptura’" Alex Flemming - FAU-USP Qualquer atitude que se tem hoje de buscar o conhecimento fora da universidade é devido as deficiéncias das condigdes de ensino. A universidade, que hoje ndo consegue por si s6 suprir as nossas necessidades, fazendo com que busquemos fora dela algo que nos complemente. Vimos que néo era através do estagio que iriamos encontrar este estimulo, pois sendo mao de obra barata, acabamos nao exercendo fungées satisfatérias e novamente tornar-nos-Tamos seres alienados da profissao. Afinal vamos sair da universidade técnicos ou profissionais? Tendo em mente todos estes questionamentos, nossas ansiedades se voltaram para a montagem de um espaco que trousesse aquilo que tanto a Universidade como os estégios ndo conseguiram. Dai surgiu 0 atelier “jrau’" que 6 um produto de um grupo que se interessa pela arquitetura; nos mobilizamos nao sé & procura de trabalho, mas em torno também da discussao de projeto e formagao de arquivo, biblioteca, em torno de um avango na nossa produg3o em termos de arquitetura, enfim uma busca de um posicionamento frente & arquitetura, que obviamente esté ligado &s falhas da universidade. Frente a um problema de mercado, a absorcao dos pequenes ateliers pelos grandes escritérios, as solicitagées que nos aparecem sao geralmente detalhamento de projetos, trabalhos de escola de outros estudantes que nao tém tempo de fazé-los, enfim cabe-nos, quase sempre, 0 rabo das coisas, o fim dos processos, nunca sua elaboragao, como era de se esperar, trabalhos ndo muito satisfatorios. Atualmente numa época em que ser auténomo 6 dificil, permanecemos mobilizados pela oportunidade de discutir, aprofundar leituras e formar grupos de estudos que complementem a falha ‘educacional. Ate ee ee ee Te ee ee Em 1976 nés queriamos um espago. Com 20 anos, estudando numa faculdade de arquitetura, vocé pode querer um lugar pré varias coisas: morar, desenhar, trepar, trabalhar ou simplesmente encontrar pessoas. Se vocé tem dinheiro, ndo ha problemas; se nao, monta-se uma estrutura possivel de sustentar 0 luxo (necessidade} Nés fizemos um curso de desenho. O principio era simples: 0 desenho como forma de expresso to natural quanto a fala ou 0 gesto. Assim estivemos trabalhando (brincando) juntos pela primeira vez, e foi assim que nés sustentamos a “praca”. Lugar de encontro. Espaco da possibilidade de existir em grupo. Nunoa conseguimos (tentamos) elaborar propostas que fossem além disso" existir em grupo. E dificil delimitar 0 uso de uma praga. S40 miiltiplos. Nunca "fechamos"" um programa por pura e simples falta de organizagao. Rapidamente se estabeleceu uma ““ordem’. Uma ordem criativa Espago para criagdo. O desenho, os almogos, as passeatas em 77/78, © projeto de arquitetura, a pintura, programacgao visual, concurso, coral, muros, cidade, politica e magia, aquérios e delirios. Como estudantes de arquiteture estivemos iludidos com a passibilidede de transformar uma praga em escritério. Mas 0 projeto gorou Depois de trés anos, debatendo-se sobre casas alheias, estamos fazendo nossa propria. E ai 0 projeto no existe: um espago de cnagao Nos temos problemas: como “‘ganhar a vida"? O dinheiro parece « mais préximo dos escritérios do que das pragas. O prazer nao. Marcelo, pelo Mae Janaina’s - FAU-USP Quase nao posso dizer nada a respeito de atividades ligadas & Arquitetura, porque meu trabalho nao se relaciona em nada com ela. Dependo da “‘grana'’ para pagar a faculdade (que € cara “pacas”) € para viver, 6 que “filha de classe média” ndo teria condigées de aguentar a barra. Estégio é um sonho, porque no daria nem para pagar a escola, entéo optei (nao havia muito o que optar), por um trablho que pelo menos desse pra sobreviver, comprar meus livros, ir ao teatro, @ disso que tento acumular experiéncia, embora tebricas, mas j4 completam o que nao tenho na faculdade (que além de cara nem isso consegue preencher). As vezes, consigo com algum amigo, jé formado ou nao, fazer uns “'bicos” em projetos que eles conseguem, mas chega a ser minima a minha participagao, por falta de tempo, afinal trabalhar oito horas por “ dia e estudar, nem santo milagreiro ajuda E claro que se a faculdade fosse gratuita, estaria talvez, resolvida em parte, a situacdo, mas quem jé vern de um tipo de ensino falho néo conseguiria entrar numa USP, e precisaria mais uns vinte anos de escola para recuperar tudo; @ dai, sabe quando poria a casa em erdem ? Ja que a realidade do sistema é essa, néo encontrei outra saida e to ail Eliana estuda no periodo matutino da FAU - Bras Cubas, e trabalha das 16 4s 24 horas na Caixa Econémica Federal do CEASA. Eliana Severo da Costa - FAUBC Da atividade profissional do estudante de arquitetura @ urbanismo. Do trabalho do estudante de arquitetura e urbanismo. ‘Manutengao e militancia, Partido certo 6 que - jé que 0 Estado nao assume esse Gnus - deve 0 estudante prover sua manutenco: tomemos a escola publica, © alojamento, a alimentacdo e o transporte subsidiados, livros e discos, a diversao @ as viagens como formagao, e tudo dentro des amplas liberdades de opgdo € de ir e vir. Neste rol cabe incluir, sem sombra de duvidas, o trabalho remunerado e a militncia no grupo a que pertenca Tipos de emprego. Falando do trabalho do estudante de arquitetura @ urbanismo, no sentido de criar condig6es de interacao - dentro da rea de atuagao - mais que fragmentagdes - 0 panorama apresentado é do estagio nas empresas estatais ou particulares, as cooperativas com outros estudantes, a participagao como desenhista, fotdgrafo ou construtor de modelos em pequenos escritérios, colaboragdo em jornais ou revistas como redator, ou diagramador ou fotdgrafo; desenhista de perspectiva, vitrines ou pavilhdes de formas em feiras © exposigdes, ‘comunicador-programador visual desde a marca ou papel de carta ao aspetaculo musical ou comico, professor do 2° grau (jardins e 1° grau) ou dos desagradéveis “cursinhos” e, ultimamente, trabalhos nes préprias universidades como auxiliar de alguns setores de laborat6rios, oficinas ou pesquisas dos professores. Quase sempre sub-empreges sem nenhuma garantia social e trabalhista que @ Jegislagao garante a qualquer trabalhador. Sao profissdes passageiras fe temporarias que, nao raro, passam a ser a atividade central do individuo (tudo isso sem levar em conta uma outra série de sub-empregos. estes entao nada relacionados com a futura aaa, Mercado e carater. A Arquitetura tem hoje mais de 84 areas de atuagao codificadas, 0 que, em si, representa ampio mercado de trabalho que seria do estudante desde os primeiros anos da Universidade. Nao s6 pela mao-de-obra nao profissionalizada - mais barata, mas pelo caréter polémico e reivindicatério que desperta 0 “Professor” do 2° grau. Mais elaborada e “profissional” no sentido de sua autonomia esté o “professor” do 2° grau (au do cursinho) pelo fato do experimento da diregao sobre um contetido e sentido dados. Seja na formacao dos quadros de estudantes, seja no quadro de preparo ao vestibular (e no caso da FAU-USP sao mais de 5.000 candidatos as 150 vagas anuais) @ dinamica do fazer criticamente coloca o “professor’' frente a impasses e questionamentos constantes e muitas vezes profundos: uma outra didatica, a formagao versus s6-informagao, a construgao da Critica de observagao do mundo que nos cerca com suas limitagdes & nossas intengdes. A prética pela a¢do, o exercicio verdadeiro vinculando esse aluno do 2° grau aos problemas e solugdes que a sociedade a que pertence demands, 0 uso correto do tempo, questionando até os “minutos”, que o mecanismo tenta nos impor. As cidades e suas paisagens, os edificios @ o ser humano agindo e, como decorréncia, usufruindo desse trabalho, podem nos fazer pensar... e sentir. Este trabalho, no sentido amplo - sem confundir ‘com emprego, nem tarefa - nos da as dimensdes e as relagdes do social e da produgo. Roberto Albuquerque - FAU-USP Muito bem. Ento jé era o arquiteto profissional liberal criando solitrio em seu escritério, espago particular de realizacao, de designios. Quem chora esta morte? Provavelmente quem conseguia acreditar que seu proprio desenho era a expressao pura de um desejo social, quem imaginava a arquitetura como 0 Ultimo reduto de um humanismo perdido e portanto 0 arquiteto como um fantasma contemporaneo de uma era pré-capitalista (enquanto isso, a divisdo de trabalho na produggo de espago, tornou-se mais complexa, o desenho, a ordem de servigo no canteiro, etc, etc, etc.) A primeira operagao extirpa o fantasma: ja seremos todos proletérios {té legal: mesmo detalhando caixilhos oito horas por dia até o fim da vida, proletérios de luxo, a expectativa seré ento ocupar 0 lugar do barao do rei: 0 designio vai-se mas fica o lucro...) Mas isto néo basta: a folha brance de papel vegetal nao é transparente 0 suficiente para revelar @ paisagem escondida atrés das paredes de concreto da escola. Saimos a procura de janelas, @ ai surpresa! Paisagem cidade inexpugnavel (se o primeiro problema & encontrar as janelas, o seguinte € perceber que olho néo vé a tal da realidade, que ndo € uma, una, mas infinitas, tantas quantas forem as representagdes que dela fazem os individuos) Do ato de “projetar” ao ato de “pesquisar’. O caminho “pesquisa” era possibilidade de dar concregao & paisagem abstrata, do espago situado no plano da geomettia ao espago habitado. As pessoinhas letra-set que ja vem prontas fazendo tudo-0-que-seu-meste-mandar (senta, levanta, joga ténis, trepa, ete) poderiam ser substituidas por portadores de vontade? O segundo movimento: teoria 6 como 0 desenho, representacdo. As trilhas da Sociologia urbana (ou economia urbana? ou ciéncia do urbano?) ao pretenderem reconstruir o real destinam irremediavelmente 0 “teorizado” a objeto, separando-o e sobretudo surbordinando-o ao sujeito do conhecimento. (E isso sem falar nas vicissitudes da trajetéria cientifica’ apropriagao de trabalho alheio, mais valia, prestigio e que tais) Escapamos de um exercicio de autoridade @ caimos em outro, talvez ior exatamente por se auto-outorgar 0 estatuto de verdade. Pronto: Ié vem o Exu da critica - diabo que paraliza, inventando becos Sem saida... Mas Exu € diabo que também é 2 morada de energia vital, a esquerda do terreiro. Portanto: repensar 0 modo de produzir conhecimento cientifico. Beco sem saida se continuarmos discutindo a forma, abstrata ou as linhas, correntes, representagdes alternativas - Exu abre alas no terreiro se 0 desenho que nossos corpos delinearem na produgao mudar, @ ja. Neusinha de Luxemburgo {Texto recolhido por Raquel Roinik, arquiteta, urbandloga, formada pela FAU-USP, durante suas andangas por Super-Ego City) DESENHO EMPORIO ARTISTICO PINTURA “MNichelang ARQUITETURA COLASUONNO & CIA. LTDA. ENGENHARIA Lova 1 Loua 2 Rua Lfbero Bedard, 118 tones: 32-2292 35. 4257 Aus Martins Fontes 185 fone: 256-7120 32-0785 35-8803 ‘Alunos, ex-alunos, professores;’ funcionérios, pro- fissionais e representagdes (entidades, diretorias de outras escolas) em manifestagéo publica dia 14 de setembro passado, somando mais de mil pes- ‘soas, marcaram sua disposigao na batalha pela reintegragao imediata dos tres professores cassa- dos. Afastados da escola em 1969 quando da im- plantagdo arbitréria de politica educacional repre- sentante de interesses contrérios a0s da populagao Jon Maitrejean, Paulo Mendes da Rocha e Joao Batista Vilanova Artigas desenvolvia o magistério como professores de projeto ligedos a pratica de atelier. Politica Educacional Os esforgos, durante. todo este tempo, no sentido de manter viva a critica dentro da universidade (com dezenas de atingidos) foram muitos. Apesar dos entraves que tal politica educacional coloca, @ reorganizagao dos estudantes, dos funcionérios e dos professores vern mostrando conquistas. A oposigéo, 20s que dentro da Universidade im- plantaram esta politica, 6 formada por amplos seto- res da populagao e a Anistia Ampla Geral e lrres- trita neste contexto teve conquista, que ainda par- cial, abriu espaco para a retomada de parcela afas- ‘ada, concretizando etapa de um processo. Critic Reintegracao Imediata, A publicagdo do Livro Negro: da USP, num levantamento-deniincia dog atos de excegao atin- gindo @ Universidade, ganha forga, com 0 cons- tante posicionamento dos alunos através do Gré- ‘mio na conquista real de liberdade de manifestag3o expressio, desde a semana de trote de 79, que naquele momento mostrava em um de seus as- pectos a reintegracao imediata destes professores, Num trabelho conjunto, GFAU-ADUSP mais a dire- toria da Escola, concretizou-se a homenagem - na forma de uma exposicéo dos riscos originais © do ‘ante-projeto da FAU na Cidade Universitaria - que ‘rouxe, no dia 14 de setembro, os tr8s professores de novo a Faculdade. Mercado de Trabalho A pratica de atelier na FAUUSP abandonada e difi- cultada (por uma politica de ensino encarregada da formagao de técnicos reprodutores da ordem cons- tituida) redundou numa perda de qualidade na for- ago e dai o descrédito profissional Enquanto o problema habitacional, uma das 84 areas de atuacao do arquiteto identificadas pelo IAB, continua crescente (hoje séo 60 mithdes de brasileiros atingidos diretamente) 0 mercado de trabalho conta hoje com milhares de arquitetos de~ sempregados. —_——— Serdo muito mais um reforgo a faculdade, como um todo, ao Departamento de Pro- jeto e & seqiiéncia onde trabalhavam, do que tébua de salvago da Cultura Nacional, énus por demais grave, mesmo a personalidades de tal gabarito. Sao Professores de Projeto, ligados a prética de ateliej, que depois de dez anos atuando em seus escritérios e atividades coletivas, assumem finalmente as salas & estiidios, junto aos estudantes e colegas, prética da qual foram arrancados arbitraria~ mente. — 18 A falta de estimulo a discussées @ debates de pro- jetos levou-nos a criar um espago que motivasse 0 desenvolvimento destas atividades, Nossa proposta para 0 numero zero foi a de veicu- lar @ produgao de estudantes, quase nunca publi- cada, Tendo como premissa a apresentagao de projetos desenvolvidos por estudantes de arquitetura, sur- giu a idéia de expor alguns dos trabalhos enviados ‘20 México no Confronto Internacional de Estudan- tes, por motivo do XII Congresso da UIA (Unido um Internacional de Arquitetos) em 1.978. ‘A impossibilidade de travar contato com todos os ‘autores dos trabalhos enviados limitou os projetos 2 serem publicados Este concurso foi escolhido, pois preenchia um ‘equisito, para nds, fundamental: apresenta solu- des diversas, oriundas de diferentes escolas, 2 uma mesma problematica - 0 projeto de espagos administrativos destinados aos servigos de go- ‘verno municipal para uma comunidade de 10.000 a 50.000 habitantes, 0 tema proposto pelo Contronto in- ternacional de Estudantes de Arquite- tura estimula uma discussdo sempre presente na Faculdade de Arquitetura ® Urbanismo da Universidade de Séo Paulo - FAUUSP, que envolve as re- lagées entre 0 arquiteto © 0 poder Nestes Ultimos anos, quando 3 so- ciedade brasileira atravessa uma ‘aguda crise politica, © esté sujeita a ‘um aparato administrativo de carater tecnocrético e ditatorial, esta dscus- so assume uma dimensio mais pro- funda e delicada, as vezes dramatica Hoje se pergunta se a arquitetura pode prestar alguma contribuig&o numa socledade controlada para mundo atravesse, mas sim uma res-_plesmente mostrar qu {tuara favor dos interesses da classe posta clara de como este os visualiza tem um papel, também fundamental. ‘que detém 0 poder. A questio que e procura enfrenté-los. Nosso projeto de proporcionar espagos onde séo fos interessa, portanto, se refere 20 deveria ser, portanto ume conse- possiveis as mis ras © complexes papel do arguitete, a seu campo de quéncia natural do trabalho que vi formas de reladonernento humano Stuagto e suas possibildedes de con-hamos desenvolvendo na Univers- {ibuir para 0 progresso humano atre- dade, acreditendo que somente —Ampliago do Programe, Amplaca9 \vés basicamente do projeto. Alguns deste modo poderiemos representar do programa vern como ufn resuttado \véem 0 projeto arqutetbnico come uma des moltiplas posigbes que hoje natural desse desejo de intensfcar @ ‘go inct, manobrado dretamente @ se confrontam na FAUUSP Sproximagto entre os espero adm utlizado pelo aparato de dominacéo & nistratves © @ cdede, porque além consideram @ atividede diretamente disso, 0 coréter politico © de decisdo palce como a trie atemativa cow. ORE” oo Tt fone ~ a8 aministango no harmoniza.com tenon com pene urea rar ora poms Ov mn eect or it dade. Nés, por outro lado, acredita- P8V0S ceniflstiweyos eaten A comparecem, em nosso projeto, tos que 2 erquiteture bresicira ¢ Br@si, 8 ostrutura formal do poder de Como uma das ativdedes de um 8- onguistou um espago de atuagdo us dscordamos,e dante dso res; 5500 mai que concentra us08 Cee ee er eaevnatone, , Mostrar que existe sentido para o fUngbes tgades as formas de parc: loce nenhuma competiggo com a a- " pYoieto, nda que ne seio de ume PW? compete om ost readade, pare nbs, injusta © opras- ssa. oem ueoarquteto 82. Este segunde opgdo harmoniza Elelgo da cidade, Busce de outros ee Tetasa pronto cincubrann gxatemente com e itonglo do te. projets. & etape sequins fol can Se ae Pierre ocrnseettat, bao, Por Isso 0 programa com © clulda com 8 eleigdo do municipio Peeetede ce ttuar#e "* qual trabaharemos enlobe 28 fun- que serie de bese para nosso tre- Fe eee tga Proposto- E30% obs adminstatvas previstas pela bah. Salto foi escohida dente dias See famieralves_- Palas concta, Constiuigio bralea. Nosses inter. dezenas de municipios do interior do Uma oportunidede espacial para YengOes atuam mais na maneira estado de So Paulo que estavam ialanier cuss cata como elas se relécionam om a c- ~ dentro dos limites de popuiagBo im- mi vr Trabalho, Pre eteto SH# © cO™ 85 cuts fungdes urs. postos polo regulamento do Con- ip ane frabalho. Para efeito pas, Essa forma de encarar 0 tema _fronto e foram visitadas pela equipe. andise podemos dstinguit 0 ve Tas g's noogo ver, ume atitude re Estas Visitas nos permiuram corhe- bdalho como resultado de sete etap2s signada e conformista, sim coe- cer melhor a reslidede dos espagos princpsis, que véo desde ums dis- Tente com uma posigéo que buece administrativos em cidades deste cussdo sobre o significado do con- Um significado meior pera 0 espago ‘émanho @ ainda em slguns casos, curso at8 a formulagao do partido at go que uma resposta mecanica as COMO 08 arquitetos brasileiros res- ‘uitetBnico @ seu desenvolvimento- fungées que vai abrigar. Ndo preten- _Pondiam ao mesmo tema, Significado de Confronto, Com- demos com nosso projeto “humani- reendemos que no se deveria pre zar” 0 aparato administrative em si, Salto, Salto 6 um municipio de 20 mit tender do estudante “solugées orig porque nS sabemos como fazé-lo habitantes cuje atividede economica nais para os problemas que o por seu intermédio. Deseiamos sim- se beselanaindusti Aprosonta, por 2 isso, as moléstias prépries de um creseimento industrial destruidor Seus nos, apesar do valor ecol6gico, histénco, urbanistico © paisagistico, estéo praticamente mortos gracas a uma contaminagao feroz langads plas fabncas da cidade e da Capital do estado stuada a cerca de 100 km de distancia © trabalho procurou, portanto, ros punde! ago 36 @ nossas intengdes iniciais mas sim também aos pro blemas especificos do municipio es: cohido & preciso ressaltar, inclusive, ue um projeto desse tipo acaba in. terfenndo em toda a cidade e deve, necessariamente, ser pensado con- juntamente com um plano utbanis. ico maior, onde 0 projeto aparece como causa e efeito dese mesmo plano) Definigéo de érea de projeto. A sree de projeto foi definida 2 partir de tes, Intengdes fundamentais. Em primero lugar, para satisfazer o desejo de in- tegrar os espagos administrativos no ambiente urbano, se buscou uma 4rea central de significado historico ue contivesse, ainda de forma inc:- piente, as caracteristicas do espago que pretendemos criar, ou seja, um centro de atividades politico-sociais @ cuiturais. Em segundo lugar, que es- tivesse préximo 20s ros, como forma de resisténcia contra @ destruigéo dos recursos naturais. E em terceiro lugar, buscamos uma area onde ‘n088a intervengo ndo colocasse em fisco 0 patrimbnio arquitetOnico da ciaade. Partido arquitetOnico. 0 projeto cor- ‘sidera 0 rio come um exo a0 longo do qual se desenvolvem uma série de espagos criando-se uma multiplici- dade ‘de sos e fungdes. Em um ex- ‘remo, um conjunto fabril do comeco do século para © qual propomos sua Preservacéo e, no futuro, sua reutil- 2a¢80 para atividades coletivas. Ao lado estéo o passeio publico e ‘concha aciistica, que também jé exis- tem Em seguida se situs nossa area es: pecifica de Intervengao, cujo projeto 20 mesmo tempo em que define momentos com caracteristicas pr pias, procura estabelecer uma conti- ‘nuidade espacial de maneira a formar um conjunto urbano. Desse modo, 0 ‘edificio linear” cria um entorno para © centro j6 existent, com atividades ue procuram dar-ine um apoio arqui- tetdnico @ funcional. Abandona uma relacdo meramente compositiva a0 comunicar este mesmo centro a0 ‘que Ihe sucede em nosse érea de in- tervengéo Esta apresenta trés situa 08 distintas © bosque, & margem do rio Tiet® @ local de encontro dos ris A pimaira 4 uma rea verde que atualmente existe, mas esta reservada 20 uso privado. 0 mesmo acontece com o Conjunto residencial que separa o bosque da margem. Nés nos apro priamos de ambos procurando Integré-los a0 projeto criar uma re- lagao harmonica entre o novo @ 0 velho. © conjunto residencial foi pre- servado também porque & um patti- ‘ménio hist6rico da cidade, A segunda @ atualmente ume avenide que serve {0 tratico pesado regional e local Como nosso projeto tem a intengao do Uevolver 0 centro 20 pedestre e ‘nar usos mats apropriados da mar- ‘gem do no, propomes o desvio do transito regional para uma érea que ‘passa ao longo da malha urbana exis- tente junto 20 distrito industrial (a bunte que atualmente serve a esse ttafico, ficaré reservada 0 pedestre, 8 que 0 projeto prev um cresci- ‘mento urbano, controlado, ne outra margem do rio Tiet8). 4 avenida se transforma assim numa nova praca envolta pelo projeto e pélo conjunto residencial E finalmente, temos © etificio do forum e prefeitura (muni Cipalidede). Esses dois organismos ossuem varias atividades de aten- dimento 8 populagdo © por isso, foram justapostos, definido entre eles um patio coberto de apoio aque- las atividades Em sintese, portanto, o partido arqui- tetOnico resultou da associagao de ‘és preocupagées basicas. Tentou- ‘se, em primeio lugar, tratar todos os fespagos como um tnico problema arquiteténico, fossem eles abertos ‘ou construldos. Procurou-se também definir @ dar continuidade as diferen- tes situagdes que a érea nos mos- ‘rou. E finaimente, buscamos através da istribuigdo do programa ac longo do conjunto, romper com um espaco ‘mais rico'e complexo. Veriticar se nosso projeto & ume res posta correta, ou no, pare estas reocupagoas, 6 assunto para uma discuss4 mais detalhada. Nosso maior interesse, porém, foi mostrar que 0 arquiteto pode, e deve, ainda ‘que seje entrentando as limitagdes de ume sociedade oprimida, contr- buir, através do projeto, para 0 enri- ‘quecimento das relagdes humenas, Antonio Carlos Barossi Geraldo Arruda Camargo J. Eunice Massumi Guibu Helena Ayoubi Silva Marcos Antonio Osello Paulo Rubens de Moraes Tatit Marcos Antonio Obello FAU - USP do IS Htatiba 6 uma cidade de cerca de ‘31.000 habitantes, localizada a 80 km de s8o Paulo, Capital do Estado de ‘S50 Paulo, Em apenas um século, este estado, mola-mestra da economia do pais, assou de érea agricola, que apre- sentava um desenvolvimento rela- tivo, a uma regido densamente indus- ‘wializada, Assim, 0 interior do estado conserva ainda uma série de tradigOes que re- fietem um modo de viver e penser, sobreviventes de epocas anteriores hratiba, que se inteara nesse interior, std em pleno procasso de industria- lizagao. Constituindo um polo de atragao para 0s agricultores que in- ‘crementam sous aspectos urbanos dinamica de expansio, introduzindo um carater comunitério, extensso das ralzes cultura trazidas do campo. Nesta pequena cidade, as eleicdes municipais permanecem diretas @ proporcionam uma vida politica in- tensa e rica, orientada pelos interes- ‘ses de populagao. © intenso fluxo imigratério, com as caracteristicas de uma populago eminentemente jovem, tem como consequencia a caréncia de servicos destinados a atender esta faixa da Populagao. Nesse sentido, 6 intares- sante considerar a implantago de instalagées que atendam, principal mente.a area educacional infant Para no desfigurar 0 aspectofisico @ histérico da cidade, que jé apresenta uma densidade excessiva, foi esco- Para tanto, o projeto seria imolantado fem éree relativamente préxima, @ que, posteriormente sera incorporada os bairros residenciais em franca expansio © terreno esta localizedo na parte baixa da montenha, ainda desocu: pada. © projeto deveré incomporar a cidade uma grande rea piblica, com acessos através de algumas vias de Urbanizagéo. A parte mais baixa da érea escolhide forma umpequeno vale que & apro- yeitado na forma de uma praga, como elemento de unio entre o bairto vizinho @ 0 projeto. A forme curvada do projeto © sua disposi¢ao fem sentido contrério as curvas do nivel do terreno permitem projeté-o 2 uma altura convenionte sobre @ proga, criando condigées de som: breamento e espago livre, interrom- pido somente pelas colunes de su porte © edificio constitue um corpo unico de 3 pavimentos, apoiado em 4 por- 108 do terreno. A integragdo dos es- agos se processa meciante um pa- Vimento intermediério, que, na reali- dade, consiste numa praca suspensa interigando as areas administrativas . comunitéras. (© pavimento inferior abriga uma bi- bitecs infantil que serviré de apoio as escolas primérias existentes. Ha também, um bar-restaurante e um grende saléo que poderé ser usado pela comunidade para fins recreati © pavimento superior 6 ocupado por todos 08 servigos necesséfios a ad- ministracdo da cidade. A configuragdo arquiteténica reflete a preocupacao de no reconar ou fe- ‘char os espagos em forme de pe quenos claustros. Para isto séo usa das divis6rias leves e planos transpa rontes que permite uma viste do vale © da cidade, que se integram 20 projetos. Massimo Persichetti Paulo Sergio B. Del Negro Equipe Colaboradora Beatriz Bley Douglas M. Calder Marta Faus Rodes Nelson Saito ‘Simonetta Persichetti FAU - Mackenzie | aa j= el | me wna ao | ie Entéo 0 projeto do concurso tinha ‘como tema um espago civico para uma comunidade pequena. Sabia- mos, a0 nos propormos a levar adiante esse concurso, que 0 tempo seria curto. Ja tinhamos conheci- mento da cidade de Atibaia e tivemos uma conversa com o Zanettini sobre nnossas intengoes do que fazer. E comegamos a trabalhar sobre a ci- dade, visitando e fotografando o lugar que nos parecia ideal para servir de lugar ao projeto. Atibsia, para quem rnéo conhece, uma pequena cidade ‘a9 narte de Sao Paulo, e cuja popula gio vive em tunoso da agricuttura e

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