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KENNEDY FACULDADE DE ENGENHARIA KENNEDY CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DISCIPLINA - SANEAMENTO BASICO PROFESSOR JOAO CLARET ORSINI TEIXEIRA ESGOTOS SANITARIOS - REDE COLETORA SUMARIO INTRODUCGAO TIPOS DE ESGOTOS. CLASSIFICACAO .. 2.1 - Tipos de Esgotos . os 2.2 - Classificagao dos Sistemas de Esgotos .... PARTES CONSTITUINTES DE UM SISTEMA ...... VAZOES 4.1 - Vazao Unitéria ... 4.1.1 - Conceitos ... 4.1.2 - Valores Usuais...... 4.1.3 - Exercicios Resolvidos ... 4.1.4 - Outros Exemplos ... 4.2 - Outras Vazées ... PLANO GERAL DE ESCOAMENTO .... DIRETRIZES PARA PROJETOS. PARAMETROS. NORMAS, FORMULAS PARA CALCULO DE CONDUTOS LIVRES. TABELAS PRATICAS........... PLANILHA. EXEMPLO DE CALCULO OBSERVAGOES ADICIONAIS. DETALHES 01 04 04 04 o7 09 09 09 og 10 11 12 13 15 17 20 26 1 -INTRODUGAO A preocupagao com o afastamento das dguas servidas e seu encaminhamento existe desde a antiguidade. Em eras remotas jé se notava certo progresso. Exemplos podem ser citados do Egito antigo, da cidade de Roma e apés 0 ano de 1500, na Alemanha, Franca, Inglaterra. Todavia, foi no século vinte, que tomou maior impulso a implantag&o de sistemas publicos de esgotos. Nos tltimos anos, 0 problema se agravou por varias razdes, principalmente: ~ aumento populacional; - desenvolvimento industrial; - crescimento urbano desordenado; ~ auséncia de um planejamento adequado, tanto em termos urbanos globais, como especificamente planos diretores de esgotos sanitérios; - ampliagées dos sistemas de abastecimento de agua. As cidades que s&o beneficiadas por um sistema puiblico de abastecimento de gua sentem de forma mais evidente a caréncia de sistemas de esgotos sanitérios, com as Aguas servidas passando a escoar pelas valas e sarjetas, contaminando dguas superficiais @ fredticas ¢ constituindo-se em perigosos focos de disseminagao de doengas. Um grande niimero de cidades brasileiras teve 0 seu sistema de abastecimento de agua ampliado e melhorado, nas ultimas décadas, o que torna o problema dos esgotos sanitarios uma prioridade e um desafio para os proximos anos. Entre os principais objetivos de um sistema de esgotos sanitarios, podem ser citados - melhoria das condigées higiénicas locais; consequéncia: prevengao de doengas © promogao da satide; - coleta e afastamento das aguas residudrias em condigés satisfatorias; - estética, conforto, seguranga: eliminacdo dos focos de poluigao e contaminagao; ~ preservacdo dos recursos hidricos, grande preocupagdo, atualmente em todo o mundo; - protegao das comunidades e dos abastecimentos de agua a jusante; - preservaco de éreas de esportes e lazer; - melhoria da produtividade; - valorizagao de terras e propriedades; - melhores condigdes de desenvolvimento comercial e industrial o1 Em 1961, em histérica reuniao em Punta del Este, Uruguai, os paises americanos reconhecendo a necessidade dos servigos de agua e esgotos para o seu desenvolvimento e as deficiéncias existentes no setor, firmaram uma carta-compromisso, estabelecendo objetivos de atendimento com servicos de agua e esgotos da populaco urbana (70%) e rural (50%). A reformulag&o veio na reuniao de Santiago do Chile, em 1972, que fixou novas metas para os anos 70. Em fins de 1978 verificou-se que 71% da populacdo urbana e 34% da rural estavam supridas de 4gua potavel. Quanto a esgotos sanitérios 41% da populacdo urbana e 2% das éreas rurais usufruiram desse beneficio. A populagdo brasileira abastecida, em 1978, estava em torno de 55%, segundo dados do trabalho de Ruth Leger Sivard, Publicado pela "World Priorities”. Posteriormente, em 1980, outra reunido em La Paz, Bolivia (17* Congresso da AIDIS) apresentou uma avaliagdo das metas até entdo cumpridas e fixou novas metas. O resumo da reunido da Bolivia est em um artigo intitulado "Os grandes desafios da década da agua na América Latina’. (*) Levantamentos realizados no inicio da década de 90 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE) e pela Associagao Brasileira de Engenharia Sanitaria e Ambi- ental (ABES) apresentam os seguintes dados, referentes a 1991, para o Brasil: - populagao total: 152,3 milhdes de habitantes, sendo 77% em areas urbanas @ 23% em dreas rurais. Abastecimento de Agua Populagao abastecida: Total. . 65,8% Urbana 833% Esgotos Sanitarios Populagdo atendida. Total . 29,5% Urbana . 37,3% Estes dados permitem verificar 0 desafio a ser enfrentado nas préximas décadas. A Constituigao Federal considera a defesa do meio ambiente como um dos principios da ordem econémica e deciara ser necesséria a educacao ambiental (art. 170, VI e art, 225, VI). Também as constituigdes estaduais abordam questdes como investimentos assisténcia técnica ao setor do saneamento, bem como planos diretores urbanos. A Lei N° 6938 instituiu 0 Sistema Nacional de Meio Ambiente e 0 Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), cuja atribuicéo é estabelecer a Politica Nacional do Meio Ambiente. (*) Revista Engenharia Sanitaria, RJ, junho / 82 o2 Em fungéio da criag&o do Plano Nacional de Saneamento (PLANASA) em 1971, diversos sistemas foram concedidos as companhias estaduais, conforme contratos que definiam a responsabilidade pela implantagao, operagao e manutengéio dos mesmos por determinado periodo, bem como estabelecer os sistemas tarifarios adequados. Sem entrar em maiores detalhes sobre o funcionamento do sistema, como um todo, na pratica, cita-se aqui apenas, que: ~ foi afetada a autonomia municipal, no que se refere ao acesso as informagdes do sistema dado em concessao, como também no controle e fiscalizagdo; ios que n&o aderiam ao PLANASA, tiveram dificuldades para obter recursos federais e estaduais para o saneamento; - muitos municipios procuram estabelecer termos aditivos aos contratos, visando reduzir as limitagées municipais, fixar diretrizes para as prioridades dos investimentos, planejamento mais direcionado para os interesses do municipio e negociagdo de tarifas sociais mais suportdveis; - alguns municipios procuram rescindir os contratos de concess&o antes do vencimento; - grande numero de contratos de concessao estéo chegando ao seu término, atualmente ou em futuro proximo. Os Executivos Municipais e as CAmaras de Vereadores estao examinando a conveniéncia da renovacao e as alternativas viaveis. No momento o assunto passa por grandes reformulagées, com interesse de empresas particulares, nacionais e estrangeiras pelas concessées. Alguns administradores consideram vidvel a criagéo de um consércio intermunicipal e de uma agéncia estadual administrando essa empresa, com capital misto, que se responsabilizaria pelos municipios das grandes regiées metropolitanas. O Senado aprovou no dia 20 de junho de 2000 a lei que criou a ANA - Agéncia Nacional de Aguas, uma autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, que sera responsavel pela politica nacional de recursos hidricos. Os investimentos em saneamento nas ultimas décadas conseguiram melhorar 98 dados apresentados na pagina anterior, principalmente em relago ao Abastecimento de Agua. Quanto ao esgotamento sanitario a situag&o permanece precéria. Segundo o IBGE, em 2008, o percentual de domicilios com acesso a rede de esgoto no Brasil era de 45,7% e em Minas Gerais, 68,9%. A “Rio + 20”, retoma os caminhos propostos na “Rio 92”, trouxe ao Rio de Janeiro cerca de 50 000 representantes de governos, empresas e da sociedade do mundo inteiro para mais de 300 encontros, com destaque para problemas relacionados a sistemas de esgotos sanitarios, E cada vez maior o interesse da iniciativa privada para financiar projetos e obras de saneamento basico. Assim, é possivel prever grandes alteragées, no setor, em futuro préximo. 03 2-TIPOS DE ESGOTOS. CLASSIFICAGAO 2.4 - Tipos de Esgotos O sistema de esgotos se constitui de um conjunto de unidades que se destina a efetuar a coleta, afastamento, tratamento (se necessério) e disposicao final dos esgotos, de forma continua e correta, do ponto de vista higiénico e legal Quanto & constituigao dos liquidos esgotados, tem-se: - Esgoto Doméstico: despejo liquido das habitagdes, estabelecimentos comerciais, instituigdes e edificios publicos. E constituido de 99,9% de agua. Observe-se, porém que € a matéria organica, sobretudo das fezes humanas, que confere ao esgoto sanitario as suas principais caracteristicas; - Esgoto Industrial: contém impurezas orgénicas ou inorganicas resultantes das diversas atividades industriais, cuja quantidade e qualidade variam com 0 tipo de industria; ~ Esgoto Pluvial: constituido da parcela de dgua da chuva que escoa superficialmen- te; pode conter substancias minerais e organicas, principalmente apés longo periodo de estio. - Aguas de infiltragao: parcela das aguas do sub solo que penetra nas canalizacées de esgotos. Geralmente apresentam valores pequenos. No Brasil é comum a dogo entre 0,0002 e 0,0008 (V/s m). 2.2 - Classificagao dos Sistemas de Esgotos Os sistemas de esgotos podem ser: - unitario ou combinado (a) Dinamicos ‘absoluto - separador parcial secas - fixos - fossas (b) Estaticos sépticas -mével O sistema unitario de esgotamento é aquele em que as aguas pluviais e 0 esgoto sanitario escoam na mesma canalizagao. : O separador absoluto é constituido de 2 sistemas distintos de canalizagées, um exclusive para esgotos sanitarios e outro para as aguas pluviais. No separador parcial existem também 2 sistemas de canalizagdes, admitindo-se, porém, a contribuigéo de uma parcela de aguas pluviais (geralmente de patios, telhados, terragos) nas canalizagoes de esgotos sanitarios. A fossa seca consiste em uma abertura, no solo, de dimensées variaveis e protecao adequada, destinada a receber os dejetos diretamente sem descarga de 4gua; de uma base onde é assentado o piso ou laje da privada; de um monticulo de proteg&o e de uma casinha. E uma instalagao simples, elementar, utilizada onde ndo existe suprimento de agua. A fossa séptica consiste em um tanque de sedimentagao fechado, onde os esgotos ficam retidos e sofrem um processo de decomposigao (tratamento primario); a seguir, 0 efluente liquido deve ser encaminhado a um destino adequado. O estatico mével é um esgoto elementar (transporte do material em recipientes simples, ao local de langamento), como também de situagées especificas (meios de transporte, énibus, avides, trens, "pipi mével") Os sistemas dinamicos se destinam ao meio urbano, enquanto os estaticos sao proprios para o meio rural e situagées isoladas (sitios, fazendas, escolas rurais, acampamentos de obras, pousadas em regides de matas). A realidade atual mostra, porém que a situaao ¢ outra; muitas cidades e loteamentos urbanos nao contam com os sistemas dinamicos e sao obrigados a procurar solugGes individuais, muitas vezes executadas de maneira incorreta e precaria, de conseqliéncias sérias para a comunidade, quanto a saide e higiene Comparando o esgoto pluvial com 0 esgoto sanitario, existem diferengas significativas, na pratica: (1) Esgotos Sanitarios (a) vazdes - pequenas, continuas, constantes. (b) problemas no lancamento: poluigao e contaminagao dos cursos d’agua. (©) canalizagdes de dimensées menores, favorecendo o emprego de manilhas ceramicas e outros materiais (concreto, PVC, fibra de vidro), com redugao de custos e prazos de execugao. (4) ocomprimento da rede é, praticamente, igual ao comprimento de ruas, nao havendo escoamento a céu aberto (e) sistema, geralmente, de maior prioridade para a comunidade. 05 (Il) Esgotos Pluviais (@) _vazées - grandes, intermitentes e sazonais, muito variaveis. (b) problemas no langamento: erosdes, desmoronamentos; necessidade de dis- sipadores de energia (0) segdes diversas e de tamanhos varidveis, sendo as mais comuns as circu- lares, retangulares e trapezoidais; geralmente, segdes maiores do que as do esgoto sanitario. (4) ocomprimento da rede é menor do que o comprimento das ruas, uma vez que grande parte pode escoar pelas sarjetas. (@) aprioridade é menor, dependendo de cada caso; ha cidades que devido as. caracteristicas topograficas e urbanisticas, o escoamento da agua da chuva 6 facilitado, exigindo em poucas ruas, a canalizacdo pluvial Ao verificar estas comparagées é facil perceber as vantagens do sistema separador absoluto. Em um planejamento global é possivel a execuco por partes, das obras, definindo em primeiro lugar a rede de maior importancia para a comunidade, com menor investimento inicial. As condigdes para o tratamento dos esgotos so, logicamente, melhoradas e facilita- das. No Brasil, adota-se o sistema separador absoluto. Apartir daqui, 0 texto se refere a redes coletoras de esgotos sanitarios. Os esgotos pluviais sero tratados em outra publicagao. Cabe, aqui, uma referéncia ao sistema condominial. Consiste, basicamente, em aproveitar uma faixa de dominio pblico criada no interior dos quarteirées para lancamento de coletores. O sistema é objeto de polémica e contestacées; permite sem duivida, consideravel reducdo de custos, principalmente em locais de topografia desfavorével; as caixas de inspe- 40 devem ser facilmente visitaveis; é fundamental o trabalho de conscientizagao popular em relag&o a aceitagao do sistema e envolvimento da comunidade para facilitar a manutenc&o e evitar conflitos entre os usuarios. O sistema condominial, pelas suas caracteristicas, constitui uma forma de ver 0 problema dos esgotos de modo diferente e mais de acordo com a realidade brasileira, procu- rando um atendimento mais amplo, sem exclusao de grande parcela da populagéo, como ocorre nos sistemas tradicionais. Na busca da solugao mais economica, o sistema condominial se apoia, basicamente nos seguintes itens: - maior participagao dos usuérios, que desempenham papel fundamental no plane- jamento, execugao e operagao dos servicos; ~alteracdo das normas e padrées vigentes, geralmente de nivel técnico sofisticado e fora da realidade brasileira, nas cidades medias e pequenas; - melhor visualizacao das caracteristicas de cada localidade, definindo onde as normas podem ser alteradas, sem prejuizo do bom nivel e do funcionamento satistatério do sistema; - melhor integracao do sistema de esgotos com os demais servigos publicos, com a efetiva participacao do municipio, nas varias fases do processo (projeto, execucao, opera- (40), com definicao das responsabilidades e atribuigbes de cada um dos agentes, ~ criag&o de condominios, que se constituem na menor unidade de planejamento, execugdo e manutengao dos servicos; = obtencao de um sistema de custo mais baixo e menor participagao do poder ptiblico do que nos sistemas convencionais 06 3 - PARTES CONSTITUINTES DE UM SISTEMA O texto se refere a esgotos sanitarios - sistema separador: (a) Redes Coletoras: - coletores gerais, comuns; recebem os esgotos diretamente das residéncias; - coletores principais (troncos); canalizagdes de maior diametro, recebendo contribuiggo dos coletores comuns; - interceptores; recebem contribuigao dos coletores troncos; geralmente, os interceptores margeiam os cursos d’égua, evitando que ai sejam langados 08 esgotos; - emissérios; cuja finalidade é transportar os esgotos até a estagdo de trata- mento ou ao langamento; nao recebem contribuigao ao longo do percurso. (b) Estagdes Elevatérias (se necessario) (0) Estagdes de Tratamento (se necessério) (4) Pogos de Visita (PV) (©) Langamento Final: © numero de coletores principais e de interceptores varia em fungao das caracteristicas de cada cidade ou loteamento, dependendo principalmente da topografia, da urbanizagao e do plano geral de escoamento. Os pogos de visita (PV) sao dispositivos destinados a permitir a presenga do coperador para trabalhos de inspegdes e manutengdo dos coletores. No caso de coletores de pequeno didmetro e em trechos retos, os PVs podem ser substituidos por dispositivos mais simples, tais como: - tubo de inspegao e limpeza (TIL), dispositive nao visitével que permite a inspegao visual e a introdugao de equipamentos de limpeza. - caixa de passagem (CP) - Camara sem acesso que pode ser construida nas mudangas de direcao, declividade, material e didmetro desde que seja possivel a introdugao de equipamentos de limpeza e desobstrugées. A substituigdo do PV por estes dispositivos mais simples, ditada, principalmente por razdes econémicas dependera em cada caso, dos critérios do érgao competente e da experiéncia de cada Empresa ou da Prefeitura Municipal, se for 0 caso. 07 Quanto ao PV, se compée, basicamente de: -laje de fundo - construida em concreto armado, assentada sobre um colchao de brita; - baldo - cdmara de trabalho; pode ser de concreto ou alvenaria, altura variavel; 0 didmetro minimo depende da experiéncia de cada Empresa; geralmente, 1,00 m; - chaminé - camara de acesso, para a entrada do operador, didmetro, também varidvel, geralmente 0,60 m. - laje de redugao ou de transigao - suporte da chaminé; - tampao em ferro fundido ou conereto. Os PVs devem ser previstos: - nas extremidades dos coletores; -nas mudangas de diregao, declividade, material ou diametro; ~ nos pontos de jungao; ~ em trechos longos, de modo que a distancia entre 2 pogos de visita consecuti- vos nao exceda ao comprimento maximo estabelecido pelas normas. © langamento final dos esgotos nos corpos receptores deve ser feito com o emissério submerso, para propiciar melhores condigées de diluicao ¢ dispersdo. Deve ser estudada a variagdo do NA do corpo receptor, para garantir condiedes adequadas em qualquer situagao. 08

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