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DO eeeied 2 Bernoulli la - Filosof r arlo Sum Frente A 01 02 03 04 05 06 a 7 35 87 89 O que é 0 ser humano? A busca pelo conhecimento Autor: Richard Garcia Os primérdios da filosofia grega Autor: Richard Garcia A busca pela verdade: Sécrates e Plato Autor: Richard Garcia A vverdade est no mundo real e a busca pela felicidade: Aristételes e o helenismo ‘Autor: Richard Garcia O nascimento do cristianismo e o auge da Idade Média Autor: Richard Garcia Escolastica: do auge a decadéncia da Idade Média e a formacao do mundo moderno Autor: Richard Garcia 2 T tatete Eade LEME OE POCPEL OPEL OND ONE PNENTOOTrororg eee SESEKRKREVVPVELERRKDEEEERE EEE EERE REE FILOSOFIA O que é o ser humano? A busca pelo conhecimento O SER HUMANO: UMA SINTESE ENTRE NATUREZA E CULTURA O que é 0 ser humano? Homem Vitruviano. Para comesar a compreender a Filosofia, precisamos antes conhecer aquele que a exercita, ou seje, 0 ser humano. Quando nos perguntamos *o que € 0 ser humano?”, ‘comecemos nossa investigasSo floséfics, que tem como fundamento 0 seguinte problema filoséfico: 0 que hé de especial no ser humano que Ihe permite buscar respostas sobre @ origem e 0 funcionamento do Universo € sobre a cua prépria natureza? MODULO 01 ‘Muitos pensadores, ao longo dos séculos, buscaram definir ‘a natureza humana, diferenciando-a da dos demais animals. O flésofo espanhol Jaime Balmes fol um desses pensadores. ‘Aesse respeito, ele afirma: Somente @ inteligncia examina a si mesma. A pedre cal sem tomar conhecimento de sua queda; (...] 8 lor nada sabe de sua encantadora beleza; 0 animal bruto segue seus Instintos, sem perguntar 2 razdo de té-os, apenas 0 ser humano, na frégil organizacéo que aparece um momento sobre terra para desfazer-se em p5, abriga um espinto que epois de abarcar o mundo, ansela por compreender-se, recolhendorse em si mesmo [..]- BALMES, 3 los fundamental. Disponvel em: -hitp://900.g/MHD95>, Acesso em: 17 out. 2012 (Tradugio nossa). De acordo com a definicgo do filésofo, a marca distintiva entre os seres humanos e os demais animais & @ capacidade que es humanos tém de pensar. No entanto, podemos ‘questionar essa definicdo e nos perguntarmos se 0 que Cistingue a natureza humana é 0 pensamento, O animal humano Existem relatos de criangas que teriam crescido fore de convivio humane @ que, portanto, na teriam pacearin pelo processo de adaptacio necessério para desenvolver habilidades e caracteristicas préprias de sua espécie. lm caso interessante ¢ 0 das meninas-lobo, Amela e Kamala. Embora nd possa ser considerado um relato veridico, esse eso ilustra a capacidade adaptativa do ser humano 20 meio social. Diz-se que, em 1920, na india, foram encontradas dduas criancas, Amala (1 ano € meio) e Kamala (8 anos), vvivendo em melo a uma familia de lobos. Segundo relatos, ‘elas se comportavam camo animais, caminhavam de quatro, ‘apolando-se sobre os joelhos e cotovelos, allmentavam-se de ‘carne crua ou podre, no possuiam caracteristicas humanas fe nunca rlam ou choravam. Apés serem recolhidas por ‘uma instituigo, Amala viveu por mais um ano e Kamala, por mais nove, Nesse periodo, Kamala fol se humanizando lentamente, tendo aprendido a andar e a falar, embora com um vocabulério bem restrito. Tonbenat | 9 Méduto 01 Esse relato instiga 2 discussdo sobre o que distingue © ser humano dos outros animals. Levando esse caso em consideracgo, é possivel afirmar que o ser humano no nasce com caracteristcas culturais e socais, tipicamente humanas, mas as adquire devido ao processo de socializacio decorrente de sua integragio em uma cultura, De acordo com o relato, lssas criangas, por terem sido privadas do contato humano desde o seu nascimento, no realizavam agées como chorar, sorrire falar, e seu processo de hummanizacdo ocorreu apenas quando elas foram levadas para o convivio social, 0 que Ihes Permitiu desenvolver algumas caracteristicas, afestando-se, ‘assim, do mundo desumanizado no qual estavam inseridas. ROmulo e Remo, segundo 2 mitologia romana, foram os fundodores de Roma e teriam sido amamentades por uma faba. Liberdade e determinismo ‘Com excesgo do ser humano, os demais animais viver, ‘em harmonia com sua natureza, agindo de acordo com seus instintos, © que tora possivel prever seu comportamento ‘em diferentes situacdes. Por esse motivo, dizemos que os. ‘animals so seres determinados, uma vez que herdam de sua espécie @ programacao biolégica que dita as regras de comportamente, no sendo pussivel yve uit inal, or vontade ou raciocinio, “decida” ndo fazer algo ou possa agir de maneira diferente daquilo que jé esté predeterminado por sua natureza. Nesse sentido, € possivel afirmar que os animais (a exceco do ser humano) no sdo livres. Os animais ndo humanos ja nascem com os aparatos naturais necessérios pare a sua sobrevivéncia e, portanto, ‘com a possibilidade de adaptacao ao meio em que vivern. Suas ferramentas naturais, como asas, pelagem, garras, dentes, além de tantas outras caracteristcas, thes permitem superar obstaculos e sobreviver a muitos desafios. Ainda que ‘existam animais com um maior greu de “inteligéncia" ~ como 05 chimpanzés, os golfinhos, aigumas racas de ces, entre outros -, tal raciocinio & incompardvel ao raciocinio humano © & sua Capacidaue Ue contiever e Ue comuniver-se por melo de uma linguagem simodiica. © ser humano € 0 nico animal que no possui nenhuma caracteristca fisica especial que o capacite a lidar com os desafios das forcas da natureza, sendo um dos animals mais frégeis © um dos Unicos desprovidos de aparatos natureis, que garantam sua sobrevivéncia, No entanto, devido & sua capacidade de pensar, o ser humane consegue criar mecanismos {ue Ihe permitern superar as suas limitacSes fisicas. Nia histéia evolucionéria,relatvamente curta, documentada pelos restos fésseis, © homem no aperfeicoou seu ‘equipamento hereditaro por melo de madiicagtes corporais perceptvels em seu esqueleto, Néo obstante, pide ajustar- ‘se 2 um nero maior de embientes do que qualquer outra ature, multiplicar-seInfnitamente mais depressa do que qualquer parente préximo entre os mamiferos superiores, derotar o urso polar, a lebre, 0 gavido, 0 tigre, em seus recursos especiais. Pelo controle de fogo e pela habilidade {de fazer roupas e casas, o homem pode viver,e vive e viceia, desde 0 Circulo Arteo até 0 Equador. Nos trens @ carros {ue constréi, pode superar a mais répidalebre ou avestruz Nos avides, pode subir mais alto que 2 Sguia, e, com os telescéplos, ver mais longe que © gavige. Com armae de fogo, pode derrubar animals que nem o tigre ousa atacar. Mas fogo, roupas, casas, trens, avides, telescéplos © revélveres no s80, devemos repetir, parte do corpo do homem. Pode colocé-los de lado 8 sue vontade. Eles no 80 herdades no sentido biolégico, mas o conhecimento ‘ecessério para sua produgo e uso & parte do nosso legado social, resultado de uma tredigso acumulada por multas| geragfes e transmitida, no pelo sangue, mas por melo da fala e da excrita, CCHILDE, V. Gordon. evolucdo cultural do hamem. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1966. p. 40-41, Enquanto os outros snimais agem puremente por instinto, vivendo em umn mundo fechade e sem literdade, adaptando-se ’ natureza e cumprindo as determinagées de sua heranca biolégica, o ser humano pode superar suas imitacSes naturals porque é capaz de adaptar a natureza &s suas necessidades, © que constitu 0 traco caracteristico da presenca humana no planeta. Ao afirmar que “toda 2 nossa dignidade consist, pois, no pensamento, 0 fiisofo Blaise Pascal estava dizendo que 0 ensamento & 0 que tora os seres humanos especials, pois, Por meio dele, 0 ser humano pode encontrar respostas para superar os constantes desafios de sua existéncia. Assim, entre todas os seres vivos, 0 ser humane é@ tinlco que pode escolher ‘agir de uma forma ou de outra, ou seja, se autodeterminar, endo capaz, por esse motivo, de produzir cultura e de Uuarinit-ls eus seus descendentes por melo, princpalmente, da linguagem simbéica | eetoesuto IPP PPO PPP OPO NPP PE PPE PLCEPPCLKLLLLTTLPUVETTT TED PSFSSESFIFSEVIIIFSIFSIFFIVFESIFIS FEET EFFEC EKKO O que é o ser humano? A busca pelo conhecimento O ser humano é livre ou determinado? CO conceito de liberdade, tomado no sentido antropolégico, no se refere eo sentido usado no senso comum, de que a pessoa ¢ livre para ir e vir, mas & possibilidade do sujelto de se autodetarminar, ultrapassando aquilo que Ihe fol ditaco por sua natureza. Por outro lado, de acordo com a nersnectiva de determinismo. as acées humanas, tal como {dos outros animals, esto previamente determinadas por condicionamentos, sejam biolégicos, socials, psicolégicos, politicos, entre outros, de modo que as ages podem ser antecipadas em uma relacio de causalidade, nao havendo, portanto, liberdade. Veremos como algumas posicées filoséficas diferentes tratam dessa questéo. © pensador renascentista Pico della Mirandola & considerado um dos maiores representantes do humanismo renascentista devido & sua reflexo sobre a dignidade humana, a qual esté expressa no texto Discurso sobre 2 dignidade do homem (1486). Nessa obra, Pico della Mirandola defende que o ser humeno é um verdadeiro rmilagre, visto que, enquanto 0s outros seres nascem com uma eeséncia predaterminada, sendo ontologicamente obrigados cumprir aquilo que a sua natureza determinou, ne por ventade prépria, mas por uma vontade anterior a eles rmesmas, 0 ser humano , por sua vez, 0 inico responsével por si mesmo, pois € 0 Unico que pode se construir. (0 ser humano foi colocado entre dois mundos, com uma natureza nao determinada e capaz de, por sua inteligéncla, escolher ser o que quiser. Veja, no texto a seguir, como Mirandola expe essa questao. 40 contrério dos demals animais, que esto presos aos seus instintos, 0 ser humano tern a capacidade de se autodeterminar or meio de suas escolhas. AS, Ado, no te temas dado, nem um lugar determinado, nem um aspecto proprio, nem qualquer prerrogativa s6 tu, pare que obtenhas e conserves 0 lugar, o aspecto © as prerrogativas que desejeres, segundo tua vontade e teus motives. A natureza imitada dos outros (seres) esté conta entra das leis por nds preseritas. Mas tu determinarés @ tua sem estar constrito por nenhume barrelra, conforme teu atbltrio, e cujo poder eu te entreguel. Coloquel-te no meio do munde pore que, da tu parecbecces tude © que existe no mundo, Ngo te fz celeste nem terreno, mortal nem imortal, para que, come live e sobereno artifice, tu mesmo te esculpsses ete plasmasses na forma que tvesses escolhido. Tu poderas degenerar nas colsas inferiores, que so brutas, e poderds, segundo 0 teu querer, regenerar-te ras coisas superiores, que s8o divinas” ied 6 suprema liberalidade de Deus, 6 suma e maravilhosa, bestitude da homem! A ele foi dado possuir 0 que escotnesse; ser 0 que quisesse, Os animals, desde o nascer, 38 trazem em si, no 'ventre materno’, 0 que irdo possuir depois. [..] No homem, todavia, quando este estava por desabrachar, 0 Pal Infundiu todo tipo de sementes, de tal sorte que tivesse toda e qualquer variedade de vida. ‘As que cada um cultivasse, essas cresceriam e produziiam pele os seus frutos. [1] MIRANDOLA, Pca dalla. A dgnidade humana. Tredugée ce Lui Feracine. Sto Paulo: Escala. p. 35-42 De acordo com a posicéo de Pico della Mirendola, apenas o ser humano é verdadeiramente livre, enquanto (08 outros animais, nas palavras do filésofo, "desde 0 nascer, $4 trazem em si, no 'ventre materno’, 0 que iro possuir depois”. Assim, apesar de um péssaro aparentar ser livre pare yoar de um lado 2 outro, © 0 ser humano ser, muites vezes, absorvido em suas tarefas e obrigacoes alarias, © péssaro nio é livre porque ele age de acordo com uma determinaco de sua natureza. Por mais que ele possa se locomover de um lado a outro, ele nlc o faz porque escolhe ‘ou quer fazé-lo, mas tZo somente porque obedece aos seus, instintes, agindo de forma mec&nica. O ser humano, por ‘outro lado, tem a possibilldade de se autodeterminar, ¢, inclusive, de controlar seus instintos, no sendo escravo de sua natureza. Dessa forma, para Mirandola, o ser humano se constitui de caracteristicas advindas da natureza © de cultura, sendo, portanto, uma sintese entre os dots polos, (0 que possibilita que ele transforme a natureza, mas também seja influenciado por ela, sem, no entanto, ser determinado, & criatura e criador do mundo em que vive. ausenous |B aml aL Médulo 04 Asintese humana Refletindo sobre @ natureza humana, @ fildsofo francés Jean-Jacques Rousseau escreveu: | terra abandonade & ferilidade natural e coberte por Norestas imensas, que 0 machado jamais mutiou, oferece, 2 cada asso, provistes e abrigos aos animais de qualquer lespécie, Os homens, dispersos em seu selo, observam, imitam sue indistrie €, assim, elevar-se até os instintos os animais, com 2 vantagem de que, se cada espécle ‘Bo possul sendo 0 seu préprié Instinto, © homem, no tendo talver nenhum que Ihe pertenca exclusivamente, apropria-se de todos, igualmente sa nutre da maioria dos varios alimentos que os outros animals dividem entre si ; consequentemente, encontra sua subsisténcia mais faciimente do que qualquer deles poderé conseguir. ROUSSEAU, Jean-Jaques. DISCUNSO sobre a origem e os Tundamentos da desiqualsde entre os homens. Traduso de Lourdes Santos Machaco, S30 Paulo bri Cultural, 1978, p, 238. (Os Persacores) Nesse trecho, Rousseau chama a atencio para a capacidade do ser humane de aprender, 0 que 0 difere dos demais animals. Aristételes j4 dizia que 0 ser humano, or natureza, ama as sensagées, porque é por melo delas ‘que ele obtém o conhecimento, Assim, enquanto os outros animais guiam-se apenas pelos seus instintos, determinados previamente pelas caracteristicas naturals de sua espécle, © ser humane pode cbservar os outros animais e, fazendo uso de sua inteligéncia, copiar aqullo que um animal fez por Instinto para adequar-se ao ambiente no qual se encontra A capacidade humana de aprender amplia sua rede de possibilidades, pols o ser humano consegue ultrapassar ‘cour aparatee natursie, Os outros animals nie podem ‘escolher fazer uma coisa ou outra, porque suas acées S50 determinadas pela heranca biolégica de sua espécie e, Por Isso, elas ndo so considerados livres. O ser humano, ‘20 contrério, pode fazer uso de sua razdo e escolher agit. ‘Considerando essa caracteristica humana, muitos flésofos aplicaram a Idela de liberdade & condigdo humana. Contudo, ha no ser humano fatores biolégicos ditados por sua espécie dos quais ele no pode se privar, tals como a necessidade de comer, dormir e beber agua. Diante do fato de que o ser humano tem um aspecto determinado em sua natureza e, por outro lado, tem a possibiidade de escolher, diversas respostas foram fornecidas 2 esse problema filoséfico: 0 ser humano é livre ou é determinado? ‘Alguns pensadores consideram que 0 ser humano tem, além de suas necessidades fiscas, instintes que direcionam certas agées e que tendem a determiner alguns modos do ser hhumano viver e agir no mundo. Como se sabe, a linguagem corrente usa a palavra “instinto” corn muita frequéncie,falande sempre de acées “instintivas", quando setem dlante de sl um comportamento ‘em que nem os motivos nem a fnalidace sao conscientes @ {ue 56 fe ocasionado por uma necessidade obscura. Essa pecullaridade 6 fore acentuada por um eseritor inglés mais antigo, Thomas Reid, que: [..]"Por instnto,entendo um Impulso natural cego para certas ages, sem ter em vista um determinado fim, sem deliberaglo, © muito frequentemente ‘sem percepeo do que estamos fazendo'. ...] Se alguém topa de repente com uma serpente e é tomade de violento pavor, este impulso pode ser considerado instinto, pois nada o diferencia do medo Instintive que um macaco sente dante de uma cobra. S80 justamente essa similaridade do fenémeno e a regularidade de sua recorréncia que constituem a propriedade mais caractaristica do instinto, [nd [0] medo de uma cobra trata-se de um processo teleolégico, que ecorre universalmente [...J. Assim, 6 se deveria considerar como instintos 05 processos Inconscientes @ herdades que se repetem uniformemente ce com regularidade por toda parte. Ao mesmo tempo, eles ever possuir a marca da necessidade compulsive, ou sela, um cardter reflexo[..].No fundo, tal processo s6 se istingue de um reftexo meramente sensitivo-metor por sua natureza bastante complica. (..]. AS qualidades que (0 Inctintes tém de comum com 08 simples reflexes 2f0 2 Uniformidade, a regularidede, bem como a inconsciéncla de suas motivacies. UNG, Cart Gustav. A Natureze da Pique. Traducio de Pe, Dom Mateus Ramana Rocha, Ptrépcis: Vozes, 1984, captule Vi, v. VEI/2. Obras Completa (264-266) Jung considera que o ser humano & constitulde por uma natureza que determina alguns aspectos da vida humana, sobre os quals ele no tem 0 poder de controlar nem de eliberar, tis como temer um animal que pode colocar sua vida em risco. Contudo, hi caracteristicas humanas que no so determinadas instintivamente, mas so fruto de sua cultura, uma vez que o ser humano é frequenternente capaz de adaptar suas agdes de acordo com valores e ideias que ihe foram transmitidos pela cultura. Outra caracteristica que marca a diferenca do ser humano em relacéo 20s, demais animais & 2 sua possibilidade de se projetar 20 futuro, tomando como baliza o passado e as experiénclas o presente para tazer suas escolhas. 6 | ColesdoEstudo SPPP OP PPP PPP PPPPPPPPPPLP HHH HHEKEKE TELL LLLLLL:! SHH HHH SSSKHHKS NNSA SASSI SS ASAE EE EEE EEE EGS O que 6 o ser humano? A busca pelo conhecimento Vou contar-te um caso dramético. 34 ouviste falar des: ‘éimitas,essas formigas brancas que, em Africa, constroem formigueirsimpressionantes, com vérios metros de altura fe duros como pedra. Ume vez que © corpo das térmitas & ‘mole, por no ter a couraga de quinina que protege os outros insetos, oformigueire erve-Ihes de carapace coletiva contra ccertes formigas inimigas, mais bem armadas do que elas. Mas por vezes um dos Formiguelros & derrubado, por cause ‘duma cheia ou de um elefante (os elefentes, que havemos nds de fazer, gostam de cogar os flancos nas termiteras) |A seguir as térmites-operério comegam a trabalhar pare reconstivir a fortaleza afetada, e fazem-no com toda & pressa. Entretanto, j@ as grandes formigas Inimigas se fangam ao assalto. As térmitas-soldado saem em defesa a sua tribo € tentam deter as inimigas. Como nem no temanho nem no armamento podem competir com elas, penduram-se nas assaltantes tentando travar o mais possivel o seu avanco, enquanto ferozes mandibulas invasoras a5 vio despedacando. As operirias trabalham com tode a velocidade e esforgam-se por fechar de novo ‘a termiteira derrubada... mas fecham-na deixando de fora as pobres e neroicas termiras-soldadu, que seuificam a3, suas vidas pela seguranca das restantes formigas. N30 merecerdo estas formigas pelo menos uma medaihs? N8o ‘erd justo dizer que S80 valentes? Mudo agora de cenario, mas ndo de assunto. Na Ifada, Homero conta @ histérla de Heitor, o melhor querreiro de Trola, que espera 2 pé firme, fore das muralhas 3 ‘sua cidade, Aqulles, o enfurecido campedo dos Aqueus, embora sebendo que Aquiles & mais forte e que ele provavelmente vai maté-lo. Fé-lo para cumprir 0 seu ever, que consiste em defender a familia ces concidadsos do terrivel assaltante. Ninguém tem duvidas: Hettor & tum herd, um homem valente como deve ser. Mas serd Heltor hernira e valente da mesma maneira que as térmitas-soldado, cuja gesta milhdes de vezes repetida nenhum Homero se deu ao trabalho de contar? Nao faz Heitor, afinal de contas, @ mesma coisa que qualquer luma das térmitas andnimas? Por que nos parece © ‘seu valor mais auténtico e mals dificil do que 0 dos: insetos? Qual é a diferenca entre um @ outro caso? SSAVATER, Fernand. Etce para um jovem. Lisboa Presenga, 1995. p. 21-22 Nota-se, com os exemplos de Savater, que as formigas térmitas “salvam" as outras no por escolha, mas por instinto, enquanto © personagem de Trofa fez uma Geliberacio para defender seus concidadios de Aquiles. Heitor é considerade um herd! devido ao fato de sua ago ‘Bo ter sido, como no caso das formigas, instintiva, mas deliberada, Nesse sentido, Heltor poderia ter escolhide no defender seus companhelros para salvar sua propria vida [Assim, o texto de Savater nos leva a pensar no fato de que © ser humane tem a possibiidade de escolher agir de um modo ou de outro, enquanto cutros animais ndo podem fazer deliberagdes sobre aquilo que Ihes foi ditado pela natureza. A NECESSIDADE DE CONHECER” [ula Filosofia ndo é a revelaciio feita a0 ignorante por quem sabe tudo, mas 0 dislogo entre iguais que se fazem cimplices em sua mitua submissdo & forca da rezo € no & razio da forcs. SSAVATER, Fernando. As perguntas da vida. Teducto de Ménica Stahel, $80 Paulo: Mars Fentes, 2001. p. 2. Dos deuses nenhum filosofa, nem deseja tornar- se sébio, pols 0 6; nem se algum outro é sébio, ndo filosofa. Nem, por sua vez, 05 Ignorantes filosofam ou desejam tornar-se sabios. Pois ¢ isto mesmo que & dificil com relacfo & ignordncia: aquele que no é ner belo nem bom nem sébio considera sé-10 0 suficiente. [Aquele que nia ce considera ser desprovide de alao no deseja aquilo de que ndo acrecita precisar. PLATKO. Banquet, 204 81-7. A busca pelo conhecimento ‘Sdcrates disse, celebremente, que uma vida sem reflexBo ro merece ser vivida, Queria ele dizer que uma vida viva ‘sem ponderaco nem principio é uma vida tao vulnerdvel 20 ‘caso € tdo dependente das escolhas @ acoes de terceiros| ‘que pouco valor real tem para a pessoa que a vive. Queria| ainda dizer que uma vida hem vivida & aquela que possui objetivos e integridade, que é escolhida e orientada pelo {que a vive, tanto quanto é possivel a um agente humeno cenredado nes telas da sociedade e da Histéria, Como e exprecoe augera, 3 "vida com raflevaa” Suma vida enriquecida pelo pensamento acerca das coisas relevantes: valores, objetives, sociedade, as vicssttudes caracteristicas| da condicéo humane, aspiragBes tanto pessoals como piblicas ..1. NSo é necessério chegar a teorlas apuradas sobte todos estes assuntos; mas preciso conceder-thes pelo menos um nadiinha de reflexdo J. Psat sobre estes ‘assuntos é como examinar um mapa antes de comecar a viagem [J Uma pessoa que ndo pense na vida € como um forasteiro sem mapa numa terra estrangeira: pare alguém assim, perdido e desorientado, um desvio no caminho é to om come qualquer outro e, se o rumo tomado conduzir 3 tum local que vale a pena, teré sido meramente por a€3so, GRAYLING, A C.O slgnincade das cls. ‘Usboa: Edges Grediva, 2002. p, 11-12. Gwstenoa | i i wey ge ese aoaths Méduto 01 © ser humano, tinico ser que pensa de forma spurada € ‘com avancado grau de abstracéo, tem uma necessidade intrinseca de procurar o conhecimento sobre todas as coisas, buscando, assim, respostas para as mais diversas perguntas, Para tentar alcancar 0 conhecimento e responder aos questionamentos que surgem em sua vida, 0 ser humano, dispde de duas ferramentas basicas que ihe possibiitam, conhecer 0 mundo ea si mesmo: 1. ~ Razio: Por meio dela, a pessoa é capaz de produzir um conhecimento elaborade ¢ fundamentado em argumentacio sictemstea, buscando o conlievin rita verdadeito sobre o mundo que a cerca a partir do encadeamento de ideias e de juizos e elaborando uma conclusio. Da razSo, surgem 0s dois modos de conhecimento tradicionalmente conhecidos: a Filosofia e a Ciencia, 2~ Imaginagao: Em geral, quando o ser humano no ‘conseque explicar 0 real por melo da razo, ele usa «2 sua imaginacdo, de forma a tentar expicar, por meio de manifestagdes miticas, religiosas ou artisticas, = questées pare as quais ainda no encontrou respostas. Por meio da arte, por exemplo, 0 sar humano busca ‘compreender 0 mundo ea si mesmo, manifestando sua visio de mundo em sua prépria criacSo, O que é 0 conhecimento Aristételas $8 dizia que & préprio do ser humeno buscal © conhecimento e, por isso, nao hé a possibilidade deo ser hhumano se contentar em ndo realizar essa busca, ignorando. lum problema e abdicando da tarefa de pensar. Surge, com isso, a pergunta sobre como o ser humane pode obter 6 conhecimento, 0 filésofo italiano Nicola Abbagnano propés uma definicSo de conhecimento em seu Dicionério de Filosofia 1— A primeira interpretagio (de conhecimento) & 2 mals comum na Filosofia ocidental. Pode, por sue vez, ser dlvicida em das fases diferentes: A) na primeira, a Identidade ou a semelhanca com 0 objeto € entendida como identidade ou ‘semelhanga dos elemantos do conhecimento cor 05 elementos de objeto: p. ex, dos conceitos ou das representagBes com as coisas: 8) na segunda fose, @ identidede ou @ seis restringe-se & ordem cos respectivas elementos: esse caso, a operacdo de conhecer na consisteem Feproduzir'o objeto, mas as relagies constitutivas 0 préprio objeto, Isto é, a ordem dos elementos, Na primeira fase, 0 conhecimento é considerado imagem ou retrato do objeto; na segunda fase, tem como objeto e mesma ‘elagio que um mapa tem cam a palsagem que representa ABBAGNANO, Nicola, Diconsra de Flos, Tradugo de Arad Bos. Seo Paulo: Nartins Fortes, 1998. 9.175. De acordo com 0 filésofo itallano Nicola Abbagnano, ‘© conhecimento é alcangade quando o individuo pode trazer para a sua mente a representacio exata daqullo que esté fora dele, ou seja, do objeto que est sendo investigado. Pra que existe o conhecimento, & necesséria, portanto, que haje ums relacdo entre sujelto cognoscente (sujeito que conhece) ¢ objeto cognoscivel (objeto a ser conhecido). Como é possivel alcancar 0 conhecimento Conhecimento intuitivo e conhecimento demonstrativo © conhecimento intultivo € obtide sem nenhuma intera¢do com conceitos previamente estabelecidos. Esse tipo de conhecimento é imediato, ou sefa, independe Ue intermeaiérios para que aconteca. conhecimento Intuitivo pode ser: ~ _ empirico: quando a pessoa se basela em seus cinco sentidos (tato, olfato, viséo, paladar e audi¢io) para elaborar um conhecimento sobre aquilo que percebe, ~ intelectual: quando a pessoa busca captar a cesséncla de um ser por meio do pensamento. Néo & ossivel, entretanto, compreender 0 encadeamento de ideias que levou a tal pensamento, j& que se chegou 2 ele de forma imediata, No se pode provar ou justificar 0 pensamento. © conhecimento demonstrative ¢ chamado também de discursive. Esse tipo de conhecimento se basela em um encadeamento de idelas, juizos ou conceitos gerando uma conclusio @ partir da organizagao de pensamento. Para que tal conhecimento seja possivel, faz-se necesséria linguagem, ao contrério do conhecimento intuitivo, no qual 2 pessoa experimenta os seres e as coisas por melo dos, sentidos, formando, em sua mente, a idela sobre aquilo que fol experimentado, Realismo e idealismo 1- Realismo: Segundo 0 reallsmo, @ conhecimento| ‘corre quando, na relacdo entre sujelto cognoscente € objeto conhecico, 0 sufeite consegue apreender, pelos sentidas, a realidade do objeto em sua mente, Assim, 0 objeto ou ser pode ser apreendido pela ‘pessoa quando ela "saz" pare sua mente as suas Caracteristicas sensitivas captadas por um dos cinco sentidos, havendo uma predeminéncia do objeto fem relago 30 sujeito cognoscente, uma vez aue © objeto tem uma realidade em si. Dessa forma, ‘© conhecimento acontece quando @ realidade do ‘objeto ¢ impressa, tal come a imagem de um carimbo, na mente humana. 2- Idealismo: Ne concepgéo Idealista, a0 contrarlo da realista, hd uma predominancia do suijeito em relacéo a0 objeto no proceso de formacso do conhecimento, acreditando-se que 0 conhecimento do objeto é determinada pelo sujoto cognescente, Nese sentido, 2 realidade do objeto no € problematizada, mas Sim 0 que 0 sujeito pensa sobre ele, uma vez que o conhecimento consiste na idela formulada pelo sujelto sobre o objeto. Dessa forma, ndo se busca saber se tis caracteristicaé esto em si e por si no objeto durante processo do conhecimento, mas sim como ' pessoa formula uma idela acerca desse objeto. QB | coterdo Estudo See PPP rerEE rE rrrP CECE recereoeer cere erent Bi yeoman at) eee eee ea Roe ey aes Cree ae ee eae’ a eee a en cee eel yer ea eee MM eet oem rete uscam compreender e cesvendar, cada um a sua mancire, Beer a i erent Marte Peseta eee er ua Bee eure eee ta Piao eae rete sate Tn ors Crete recs ao re eeretteg seen sea ete a ee peer ee eae Tce eee ee ero pe ee aot tet er te ir eee eeere ened teen iat Racy Sete Oe ec Perr een Rie es pea cuae een hae ear Yipee rea ea ee oie ees pescinacs eect peer era Re tana Cn na merce ne ty pel ee eee OC Latta eco pele ee eee Beene rn ee ay et ag ce er an ror or ena Pe errno eee eck eileen ete Co Bee are er en tea ee ae rein he Pte ere eats eee Eat ee en See Bie ear eest en eC SENS (oe) WICI get a a el eee Pe ene ar eats Sapna eae a a cee Peat Saree ane eo Heese ae ca careers CS aca Pee tee mart er Rete poet arte ee pierre ee et ar eas eee ee eee an eee eve eee ee ead Eyres eer teenie rerio eles es ecu a ee Pe eect ee ce os peer eer eu ee eee a Pare ernest en mee as eer to ar eas Pee eos ee ec em Pee arate ee Te pee ree ere ee Meee a Facional, O conhecimente do senso commun caracteriza-se, eee ee ee ad ee ae eee ee Paes eee Te Rec Ree eee Serer ee eta Peter ere eae Tear cea ea peeeee iter ae oe nat Se te eee eee er a San Peer eaters gece omc ee ee ee ea (@} Méduto 01 E possivel conhecer a verdade? Uma das principais quastdes floséficas & saber se 0 ser humano é capaz de conhecer a verdade, se & possivel aeancar © conheclmento da realidade prépria do ser. Primeiramente, deve-se ressaltar que, por verdade, entende-se equilo que corresponde & realidade do ser, Ao longo da histéria da Filosofia, multos pensadores buscaram encontrar © principio fundamental (conhecido ‘também como essncia, substancia ou realidede primeira) do 3eF, cease probleme hivsbfivu, ainda ioe, €considerado por muitos teéricos como um dos mais impartantes da Filosofia. Para buscar responder as perguntas sobre a possibllidade de conhecimento, muitas teorias foram formulades ao longo da histéria, destacando-se, dentre elas, por seu grau de generalidade, 0 ceticismo e 0 dogmatismo. Ceticismo: tomando o ceticismo sob uma abardagem mals geral, de acordo com essa corrante flosstica undada pelo grego Pirro (365-275 a.C.), no & possivel ‘conhecer nada com seguranca, sendo que tudo aquilo que-2 pessoa considera sera verdade ndo passa deuma ‘ius8o, pois se fundamenta em Impressées subjetivas. ‘Aatitude do cético deve sar de divida, de investigagao de posicdes contrérias e da consequente suspensio dos julzos, uma vez que alcancar 0 conhecimento \erdadeiro impossivel ¢ nfo cabe ao ser humano se dedicar a essa busca, Fm linnae gerais, edtico 6 aquele ‘ue, 20 contrapor duas afrmacoes opestas e constatar que ambas s2o plausiveis, ndo reconhece nenhuma dolas como verdadeire, suspendendo o seu juizo acerca de tals afirmacies, Dogmatismo: A corrente dogmética, a0 contrério de cética, defende ser possivel encontrar a verdade sobre os seres e as colsas. O dogmatico acreita ser capaz de conhecer o mundo jé que, para isso, baste uma atividade perceptiva. No entanto, multas vezes, 2 posigio dogmatica & prépria do senso comum, que ‘no percebe os problemas existentes entre o sujeito, ccognoscente e 0 objeto conhecido. De acordo com © dogmatisme critico, o ser humano pode conhecer (08 seres e as coisas em sua realldade por meio co esfarco racional e empirico, sequindo os caminhos precisos do método cientifico que leva o ser humano a0 conhecimento da reslidede. Os caminhos para o conhecimenti Epistemologia ou Teoria do conhecimento Outro problema importante da Filosofia (para alguns estudiosos, 0 seu problema fundamental) é determinar qual & ‘© caminho correto que leva o ser humano ao conhecimento de sie do mundo. Esse conhecimento é construlde pela pessoa @, para chegar a ele, é necessério percorrer um caminho, 0u seja, seguir um método. Contudo, os fldsofos discorcam quanto ao melhor método para garantir que o sujeito conhecedor elcance a verdade sobre o objeto conhecido. ‘Acerca desse problema, surgiram, 20 longo da Historia da Filosofia, varias teorias, dentre as quais destacamos as trés ‘mals importantes: racionalismo, empirismo e criticismo. i Discussio noite adentro. A discussio & a "matéria-prima” fundamental para se fazer Filosofia. = Racionalismo: © racionalismo é ume doutrina Rloséfica ue defende que o conhecimento somente pode ser adquirido por meio da razdo (pensamento humano).. De acordo com essa posicao, hé a prevaléncia do sujelto cognoscente em relagdo 20 objeto pensaco, © processo do conhecimento nao ocorre, assim, or meio da expenéncia dos sentios, fonte de enganos, luma vez que duas pessoas podem perceber a mesma realidade de formas distintas. Apenas a razo, a pertir

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