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APELAÇÃO CÍVEL Nº 1415513-4

DE IBIPORÃ – VARA CÍVEL

Apelante: ESPÓLIO DE RAIMUNDA MARIA DE


OLIVEIRA
R. Adesivo: SEBASTIÃO NASCIMENTO DE OLIVEIRA
E OUTRO
Apelados: OS MESMOS
Relator: JUIZ SERGIO LUIZ PATITUCCI

APELAÇÕES CÍVEIS – INDENIZAÇÃO – DANOS


MORAIS E MATERIAIS E LUCROS CESSANTES –
CONSTRUÇÃO DE MURO DE ARRIMO COM
COMPROMETIMENTO DE IMÓVEL VIZINHO –
RESPONSABILIDADE OBJETIVA – OBRIGAÇÃO DE
NATUREZA PROPTER REM – PROPRIETÁRIO QUE
RESPONDE PELOS DANOS QUE SEU IMÓVEL
CAUSAR A TERCEIROS – RESPONSABILIDADE DO
ANTIGO PROPRIETÁRIO DONO DA OBRA –
CONSTRUÇÃO PARA VENDA – PROVEITO PELO
NEGÓCIO – LEGITIMIDADE PASSIVA RECONHECIDA
– SENTENÇA PARCIALMENTE ALTERADA –
APELAÇÃO 1 – PROVIMENTO – RECURSO ADESIVO –
NEGA PROVIMENTO.
1. – A responsabilidade derivada de direito de vizinhança é
objetiva, de forma que o proprietário de imóvel que causa danos
aos vizinhos responde independentemente de culpa, bastando
restar comprovado o nexo causal entre sua obra e os danos no
imóvel lindeiro.
2. – Aquele que adquire a propriedade de imóvel que vem a
causar danos a terceiros é responsabilizado em decorrência da
natureza propter rem da obrigação, que rege a matéria
envolvendo direito de vizinhança.
3. – Quem constrói e aufere proveito econômico com a
especulação imobiliária, se responsável pela obra danosa ao
direito de terceiros, possui responsabilidade solidária, em
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conjunto com o proprietário do bem. Se identificado e


participou do processo, no polo passivo, contestando o feito e
produzindo provas em seu favor, pode ser condenado de forma
solidária com o proprietário acionado na ação.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível sob


nº 1415513-4, da Comarca de Ibiporã – Vara Cível e da Fazenda Pública, em que é apelante 1
Espólio de Raimunda Maria de Oliveira, recorrentes adesivos Sebastião Nascimento de
Oliveira e outro, e recorridos os mesmos.

I – RELATÓRIO

Raimunda Maria de Oliveira ajuizou Ação Ordinária visando


reparação moral, material e lucros cessantes, perante a Vara Cível e da Fazenda Pública da
Comarca de Ibiporã, autuada sob nº 2380-50.2010.8.16.0090, em face de José Maurício
Bigati, Sebastião Nascimento de Oliveira e Ângela Maria Santana.

Narra a autora que possui um lote de terra, em que construiu


uma edícula aos fundos, local em que ficou residindo com seus filhos, até que construíssem
uma residência na frente do imóvel. Explica que, no entanto, o primeiro réu, proprietário do
terreno aos fundos do seu, construiu uma residência sem observância das regras técnicas
exigidas, pelo que sua construção – posteriormente vendida aos demais requeridos – causou
danos de elevada monta à residência da autora, que necessitou voltar a morar de aluguel, dada
a eminência de perigo de desabamento de sua casa.

Pretende o ressarcimento dos danos experimentados, e que


sejam os requeridos obrigados a corrigir os defeitos em sua obra, bem como de consertar o
imóvel da autora, para que ela possa voltar a residir no local. Alternativamente, pede seja
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revertida a obrigação em pagamento do valor necessário à obra e material, bem como requer
seja ressarcida pelo dano material, consistente aos valores de alugueis pelo que tempo em que
ficou privada de morar em sua residência. Por fim, requer lucros cessantes, pelo impedimento
de desenvolver sua profissão de costureira, no novo espaço que passou a residir, bem como
sejam os réus condenados, solidariamente, ao pagamento de danos morais à autora, pelos
transtornos decorrentes dos fatos narrados. Sugere o valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais).

O pedido de tutela antecipada da autora foi negado pelo juízo a


quo, pelo que houve interposição de recurso de agravo de instrumento a este tribunal, visando
a reforma do decidido. Nesta instância, foi acolhido o pedido, com a concessão do efeito
suspensivo à decisão recorrida, sendo negado, posteriormente, pelo julgamento monocrático
do recurso (fls. 192/201).

No decorrer da ação, o filho da autora comunicou seu


falecimento, pelo que houve substituição processual pelo espólio (fl. 244/245).

Sobreveio sentença, julgando parcialmente procedentes os


pedidos iniciais, em relação aos requeridos Sebastião Nascimento de Oliveira e Ângela Maria
Santana, condenando-os à obrigação de fazer, consistente na correção da obra de seu imóvel,
bem como dos danos do imóvel da autora, no prazo de 90 (noventa) dias, sob pena de multa
diária de R$ 200,00 (duzentos reais) ou pagamento da quantia fixada por perito, para tal
desiderato, no valor de R$ 13.774,81 (treze mil, setecentos e setenta e quatro reais e oitenta e
um centavos), com correção monetária desde a data do laudo pericial (23.04.2012) e juros de
mora de 1% ao mês, a contar do evento danoso. Condenou esses requeridos, ainda, a pagarem
a autora, a título de danos materiais, pelas despesas com alugueis, o valor de R$ 4.018,20
(quatro mil e dezoito reais e vinte centavos), corrigidos monetariamente desde cada
desembolso e com acréscimo de juros moratórios de 1% (um por cento) ao mês, a parir do
evento danoso. Condenou-os, também à indenização por danos morais à parte autora, no
importe de R$ 30.000,00 (trinta mil reais), corrigido pelo índice INPC-IBGE, a partir da
sentença e com juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, a contar do evento danoso
(fevereiro de 2009). Afastou, por fim, os lucros cessantes pleiteados pela parte autora.

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Pela sucumbência mínima da requerente, condenou os


requeridos ao custeio das despesas processuais e honorários advocatícios, que fixou em 20%
sobre o valor total da condenação.

Em relação ao réu José Maurício Biagti, julgou improcedente os


pedidos da ação, por ilegitimidade passiva desse requerido. Pela sucumbência, condenou a
parte autora ao pagamento dos honorários advocatícios desse réu, que fixou em R$ 1.000,00
(mil reais), observada a regra contida no artigo 12 da Lei nº 1.060/50, por ser a parte autora
beneficiária da justiça gratuita.

Irresignados com a sentença, autor e réus apelam.

O recurso do autor é apenas buscando o reconhecimento da


legitimidade passiva do primeiro requerido.

Já o apelo do segundo e terceiro réus é visando a reforma da


sentença, com o reconhecimento da ilegitimidade desses demandados para responderem pelos
danos causados à autora. Sucessivamente, pedem a improcedência dos pedidos iniciais, sob o
argumento de que os danos narrados nos autos teriam decorrido por culpa da própria
requerente, na construção de seu imóvel de forma irregular.

Sem contrarrazões pelas partes.

É o relatório.

II – O VOTO E SEUS FUNDAMENTOS

Trata-se de dois Recursos de Apelação contra a sentença que


acolheu parcialmente os pedidos formulados na peça inicial, condenando o segundo e terceiro
requeridos ao pagamento solidário dos danos pleiteados pela autora, afastando apenas os
lucros cessantes e julgando improcedente a lide em relação ao primeiro réu.

Do nexo causal entre os danos à construção da autora e a obra no terreno vizinho


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Depreende-se dos autos que a autora, proprietária do lote nº 05,


quadra 11, na Cidade de Ibiporã/PR, conforme especificações na matrícula nº 2.130, de fl. 22
e verso, construiu para sua moradia provisória, uma espécie de edícula, ao fundo do terreno.

Consta, também, que o demandado José Maurício Bigati, então


proprietário do lote de nº 15, na mesma quadra (imóvel de fundos com o terreno da autora),
erigiu um muro, na parte de trás de seu terreno, o qual veio a causar danos à residência da
requerente.

A informação é de que, porque esse terreno apresentava


profundo declive na parte de trás, foi necessário realizar um aterro de cerca de 1,70m
(informação extraída, inclusive, do laudo pericial, à fl. 269). E em casos de aterramento do
solo, é necessária a construção de um muro de “arrimo”, assim chamado aquele usado “em
áreas onde o nível do terreno supera o ângulo de repouso do solo ou onde não seja possível construir
um aclive suave.”.

Na controvérsia das causas do incidente, em que cada parte


imputa à outra a culpa pelos danos à construção da requerente, foi realizada perícia nos autos,
a fim de esclarecer a causa primária dos danos observados na casa da demandante.

No referido laudo, consta, especificamente à fl. 278 (resposta


aos quesitos 4 e 5, respectivamente):

“Conforme comprovado pelos cálculos apresentados, o muro de arrimo


executado no lote 15, dos Requeridos, não suporta toda a pressão gerada
pelo aterro.
(...)
Conforme demonstrado no memorial de cálculo deste Laudo Pericial, o que
prejudicou a construção feita no lote 05 foi o aterro executado no lote 15,
pois o muro de arrimo não suporta toda a pressão gerada pela terra.”

Assim, restou demonstrado, pela perícia técnica realizada nos


autos, que o muro de arrimo construído pelo primeiro requerido não era capaz de suportar o
aterro anteriormente realizado em seu terreno, sendo essa a causa primal para a ocorrência dos
danos na residência da autora.

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Aplicável ao caso, por pertinência, o comando legal contido no


artigo 1.311 do Código Civil, a saber:

“Art. 1.311. Não é permitida a execução de qualquer obra ou serviço


suscetível de provocar desmoronamento ou deslocação de terra, ou que
comprometa a segurança do prédio vizinho, senão após haverem sido feitas
as obras acautelatórias.”

Desse modo, os pedidos iniciais são procedentes, já que


verificada a causa e a culpa pelo ocorrido, bem como dimensionados os danos, que, por
evidente, merecem reparo.

Não se olvida, ainda, que a responsabilidade dos proprietários


do imóvel causador do dano é objetiva, frente à autora, já que derivada das relações de
vizinhança.

Assim já decidiu este Tribunal:

APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE INDENIZAÇÃO - DIREITO DE


VIZINHANÇA - AÇÃO DE RESSARCIMENTO DE DANOS DECORRENTES
DE OBRA EM IMÓVEL VIZINHO - RESPONSABILIDADE OBJETIVA POR
PREJUÍZOS CAUSADOS AO CONSTRUIR - CONFIRMAÇÃO, POR
PERÍCIA DE ENGENHARIA, DO LIAME DE CAUSALIDADE ENTRE A
OBRA E PARTE DAS AVARIAS ENCONTRADAS NO IMÓVEL VIZINHO -
LAUDO PERICIAL ELABORADO DE FORMA CLARA - CONDENAÇÃO
DA RÉ À REPARAÇÃO DOS DANOS - AÇÃO PROCEDENTE - RECURSO
DESPROVIDO. (TJPR, 9ª C. Cível, AC 1279592-5 – Cianorte – Rel. Domingos
José Perfetto – Unânime - - J. 13/11/2014)

Ademais, o argumento dos recorrentes adesivos de que a


construção da autora era irregular e, portanto, causadora dos danos verificados nos autos, não
encontra respaldo no laudo pericial constante nos autos, já que em momento algum se
noticiou, na perícia, que o imóvel da autora apresentava irregularidades de construção, que
possam ter contribuído para seu parcial desabamento.

Evidentemente, qualquer problema estrutural nesse sentido teria


sido apurado na perícia feita in loco, sendo certo que a argumentação dos recorrentes se
sustenta apenas no frágil e contraditório conteúdo da certidão emitida pela prefeitura daquele

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município. Até porque, trata de espécie de licença que se limita ao interesse do Poder Público,
não guardando relação com os danos derivados do abuso ou violação do direito de vizinhança.

Com relação a isso, inclusive, de se aplicar a “Teoria da


Causalidade Adequada”, a qual prevê que, mesmo podendo haver outras concausas a
ocasionar o dano, verifica-se qual efetivamente provocou o resultado, sendo certo que essa
apuração restou consolidada pelo laudo pericial, claro e objetivo, apontando qual a real causa
do desabamento reclamado.

Assim, tendo restado devidamente comprovado, através de


laudo pericial, o nexo causal entre os danos no imóvel da autora e a edificação dos requeridos,
é de se manter o acolhimento, ainda que parcial, dos pedidos iniciais.

Da responsabilidade dos proprietários do imóvel e dono da obra

Cumpre, aqui, analisar a questão da responsabilidade pelos


danos ocasionados à residência da parte autora, posto que tanto essa, quanto os recorrentes
adesivos, se insurgem ao que restou decidido em primeira instância.

Nesse sentido, primeiramente insta ressaltar que a situação


presente envolve direito de vizinhança e, ao mesmo tempo, trata de obrigação derivada de
direito real, tendo assim natureza propter rem.

Por se tratar de direito de vizinhança, a responsabilidade é


objetiva, como já dito, isto é, ocorre independente de culpa, bastando verificar se existe nexo
de causalidade entre os danos reclamados e a obra vizinha.

De outro lado, por tratar-se de obrigação de natureza propter


rem, o atual proprietário do imóvel, independente dos vícios serem preexistentes à compra do
bem, responde pelos danos que esse causar a terceiros. Em outras palavras, essa espécie de
obrigação vincula o proprietário simplesmente pela sua condição de dono, de modo que, não
se afere sua contribuição ou culpa nos fatos que ocasionaram o dano, mas simplesmente é
acionado por ser o titular do direito real sobre o bem reclamado.
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Nesse passo, merece destaque a norma contida no artigo 937 do


Código Civil, o qual prevê: “O dono de edifício ou construção responde pelos danos que resultarem
de sua ruína, se esta provier de falta de reparos, cuja necessidade fosse manifesta.”

Pela leitura do artigo, é possível identificar que a imputação da


responsabilidade pelos danos causados ao imóvel vizinho deriva da condição de proprietário
da construção.

Ademais, não se olvida que, muito embora a falha estrutural no


imóvel dos requeridos preexistisse à compra do bem por eles, é certo que só houve o
desabamento do muro, com comprometimento da estrutura da casa vizinha, após esses já
terem se lançado na propriedade do imóvel.

É que, segundo a escritura pública acostada às fls. 24/26, os


requeridos adquiriram a moradia em 30 de dezembro de 2008, sendo certo que os danos à casa
da autora ocorreram em fevereiro de 2009.

Inafastável, portanto, a responsabilidade dos recorrentes


adesivos, dada a natureza propter rem que rege a matéria, além do fato de os danos infligidos
à autora terem ocorrido ao tempo do uso e domínio do imóvel, por esses requeridos.

De outro lado, não há como afastar, também, a responsabilidade


do antigo proprietário da construção.

Muito embora a natureza da obrigação possa induzir a crer que,


com o rompimento do vínculo de propriedade, houve, igualmente, o rompimento do dever e
responsabilidade sobre os danos que o imóvel viesse a causar a terceiros, o caso dos autos
guarda uma particularidade que não permite se chegar a essa simplista conclusão.

É que, no caso, o antigo proprietário da obra, o primeiro


requerido José Maurício Bigati, construiu o imóvel com a intenção de venda, tanto assim que,
findada a construção, imediatamente a vendeu aos requeridos 2 e 3.

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Além de ter sido a informação repassada pela parte autora, de


que é prática comercial do requerido adquirir lotes para construção e venda, é o que se pode
concluir, logicamente, pela dinâmica dos acontecimentos narrados nos autos.

Nesses casos, como a construção do imóvel rendia proveito


econômico a esse requerido, sua responsabilidade é solidária com os proprietários do bem.

É que o resultado da obra depende de diversos fatores, como a


qualidade dos materiais utilizados, do projeto elaborado e da qualificação da mão de obra que
executa o serviço (que consiste no acerto e conhecimento acerca da edificação que realiza).
Esses fatores, por certo, dependem da escolha do dono da obra, que pode optar por reduzir os
custos, refletindo em um provável decréscimo de qualidade dos fatores elencados, ou pagar o
necessário, assegurando-se da qualidade, segurança e melhor resultado da construção.

Por evidência, aquele que constrói para venda, simplesmente,


precisa assegurar que o objeto de seu negócio esteja em condições do uso a que se destina,
evitando que cause danos ao adquirente e, também, como é o caso dos autos, a terceiros,
excluídos dessa relação contratual.

Assim, não se pode esquecer que, ao edificar um bem sem os


devidos critérios de qualidade e segurança, o dono da obra corre o risco de ter sua construção
danificada ou que essa venha a causar danos aos vizinhos. Não há como afastar sua
responsabilidade, pela venda do imóvel (rompimento do vínculo de propriedade) porque não a
possuía para seu uso, mas sim era parte de seu negócio.

Dizer que o dono da obra não possui responsabilidade pela


construção com falha estrutural grave, que prejudica imóveis lindeiros, é ignorar o comando
legal dos artigos 397 e 1.311, ambos do Código Civil.

Ademais, no caso, há informações de que, quando a obra se


iniciou, ainda sob responsabilidade do primeiro réu, o filho da autora o comunicou sobre a
necessidade de realização de obra acautelatória, para evitar futuros danos no muro divisório,
porém, tal orientação foi ignorada por aquele requerido.
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Assim, em que pese a atribuição de responsabilidade ao atual


proprietário persista, é certo que, apesar da quebra do vínculo de propriedade, a falha
estrutural causadora do dano decorreu de ato do primeiro requerido, pelo que não pode ser
afastada sua responsabilidade, a qual é solidária com os demais réus deste feito.

Até porque, no caso, houve individualização de quem seria o


dono da obra, o qual foi identificado, já ao tempo da construção irregular, pela parte autora,
pelo que não se pode pressupor que sua responsabilidade se extinguiu na venda do bem.

Veja-se que, se proposta a ação apenas em relação aos atuais


proprietários, esses teriam direito de regresso contra o primeiro requerido. Todavia,
considerando que esse participou do processo, contestando a lide e produzindo provas, não há
como afastar sua condenação, sob os fundamentos exclusivos da sentença.

Assim, sua legitimidade passiva é inconteste, pelo que deve ser


condenado, solidariamente, às indenizações fixadas em sentença.

Ante o exposto, é de se dar provimento ao Recurso de Apelação,


interposto pelo Espólio de Maria Raimunda de Oliveira, reconhecendo a legitimidade passiva
do primeiro réu, José Maurício Bigati, para que seja condenado solidariamente com os
demais, nos termos da decisão recorrida, e negar provimento ao Recurso Adesivo de
Sebastião Nascimento de Oliveira e outro.

III – DISPOSITIVO

ACORDAM os Excelentíssimos Senhores Desembargadores


integrantes da Nona Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por
unanimidade de votos, em dar provimento ao recurso de apelação e negar provimento ao
recurso adesivo, nos termos do voto do relator.

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Participaram da sessão de julgamento os Excelentíssimos


Desembargadores Domingos José Perfetto – Presidente com voto e Luiz Osorio Moraes
Panza.

Curitiba, 29 de outubro de de 2.015

SERGIO LUIZ PATITUCCI


Relator

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