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Nova Apostila de Constiucional

UNIDADE V - DIREITO DE NACIONALIDADE

O estudo da nacionalidade é importante para as questões de organização e


participação políticas, na medida em que o poder emana do povo e é por este exercido,
indiretamente (representação popular pelos partidos políticos) ou diretamente
(plebiscito [consulta prévia do povo]; referendo [subsunção de uma determinada medida
para aprovação ou não pelo eleitor]; iniciativa popular [apresentação pelo povo de um
projeto de lei ao legislativo – art. 14, I-III].
Toda esta participação popular direta e indireta possui por pressupostos:
nacionalidade; cidadania (lato sensu); exercício dos direitos políticos; representação
popular pelos partidos políticos.

5.1 Conceito
“Nacionalidade é o vínculo jurídico político que liga um indivíduo a um certo e
determinado Estado, fazendo deste indivíduo um componente do povo, da dimensão
pessoal deste Estado, capacitando-o a exigir sua proteção e sujeitando-o ao
cumprimento de deveres impostos.” (MORAES, Alexandre de)
“Nacionalidade é o vínculo jurídico que se estabelece entre um indivíduo e um Estado.”
(ARAÚJO, Alberto; NUNES JR., Vidal)
“O laço jurídico que liga as pessoas a uma determinada sociedade política caracteriza o
que se entende por nacionalidade.” (SOUZA, Nelson O.)
“Nacionalidade é o vínculo jurídico-político de Direito Público interno, que faz da
pessoa um dos elementos componentes da dimensão do Estado.” (V. PAULO; M.
ALEXANDRINO)
“Nacionalidade pode ser definida como o vínculo jurídico-político que liga um
indivíduo a determinado Estado, fazendo com que esse indivíduo passe a integrar o
povo daquele Estado e, por conseqüência, desfrute de direitos e submeta-se a
obrigações.”(LENZA, Pedro)

5.2 Definições relacionadas à nacionalidade


- Povo: povo é o conjunto humano de um Estado, a este unido pelo vínculo da
nacionalidade. Portanto, são os nacionais que formam o povo, excetuando-se os
estrangeiros.
- População: é um conceito mais extenso que povo, pois corresponde ao número de
habitantes de um país, de uma região etc., englobando-se neste conceito nacionais,
estrangeiros e apátridas que habitam determinado local.
- Nação: aglomerado humano que habita um determinado território, unidos por
elementos históricos, culturais, econômicos, lingüísticos, étnicos, elementos estes que
conferem a este aglomerado humano uma consciência coletiva, um sentimento de
comunidade. A nação é o conjunto dos nacionais, excluídos os estrangeiros e os
apátridas.
- Cidadão: é o nacional (brasileiro nato ou naturalizado) no pleno gozo de seus direitos
políticos e participantes da vida do Estado. Este é o conceito de cidadão em sentido
estrito; todavia, cidadão em sentido amplo, pelo senso comum, significa ser sujeito de
direitos e deveres, é uma manifestação do princípio da dignidade da pessoa humana.
- Cidadania nos Estados-nação: no sentido técnico-jurídico, é a qualidade de quem é
cidadão (titular de direitos políticos).

- Cidadania da União Européia: a cidadania européia foi estabelecida pelo tratado de


Maastricht/de Roma, assinado em 1992. De acordo com o artigo 17 deste tratado, para
ter a "Cidadania da União", um indivíduo necessita ser anteriormente titular da
nacionalidade de um Estado-membro. A cidadania européia possibilita certos direitos e
privilégios no seio da União Européia. Em muitas áreas os cidadãos europeus têm os
mesmos ou similares direitos que os cidadãos nativos de outro Estado-membro. Entre os
direitos de que gozam os cidadãos europeus destacam-se:

- o direito da liberdade de movimento e residência em qualquer país membro da União e


o direito de pleitear postos de trabalho em qualquer esfera, à exceção de posições
delicadas como a Defesa (artigo 18);

- o direito de voto e o direito de se candidatar às eleições locais (municipais) e européias


em qualquer Estado-membro, sob as mesmas condições que os nacionais do Estado em
que reside (artigo 19);

- o direito de proteção pelas autoridade diplomático-consulares de outro Estado-membro


em um país extracomunitário, no caso de não haver representação diplomático-consular
do Estado do qual o cidadão é nacional (artigo 20).1[1]

Os Estados-membros também emitem passaportes com um mesmo desenho


estético, de cor vinho, com o nome do Estado-membro, símbolo nacional e o
título "União Européia" em suas línguas oficiais.
- Estrangeiros: todos aqueles que não são tidos por nacionais, em relação a um
determinado Estado, isto é, as pessoas a que o Direito do Estado não atribuiu a
qualidade de nacionais.
- Polipátrida: é aquele que possui mais de uma nacionalidade, em razão de o seu
nascimento o enquadrar em distintas regras de aquisição de nacionalidade. Dois ou mais
estados reconhecem uma pessoa como seu nacional. Ex.: Os filhos de italiano, nascidos
no Brasil, desde que seus pais não estejam a serviço da Itália, são brasileiros pelo
critério do ius solis. Como a Itália adota o critério do ius sanguinis, são também
italianos, por serem filhos de pais italianos, nascidos onde quer que seja.
- Apátrida: sem pátria (ou heimatlos). É aquele que, por seu nascimento, não adquire
nenhuma nacionalidade, por não se enquadrar em nenhum critério estatal que lhe atribua
nacionalidade. Ex.: o filho de brasileiro nascido na Itália, se seus pais não estiverem a
serviço do Brasil, não o registrarem em repartição brasileira competente nem venha a
residir no Brasil, não será brasileiro, porque o Brasil adota o critério ius solis, nem
italiano, porque a Itália adota o critério ius sanguinis.

1[1] Disponível em: <>. Acesso em 04 mai 2009.


Gráfico – NACIONALIDADE: espécies e formas de aquisição
NACIONALIDADE
PRIMÁRIA

ORIGINÁRIA (brasileiro nato)


ADQUIRIDA

SECUNDÁRIA

(brasileiro naturalizado)
Regra: ius soli (art. 12, I, a)
Exceção: ius sanguinis
+ critério funcional/a serviço do Brasil (art. 12, I b)

+ registro (art. 12, I c, primeira parte)

+ residência e opção confirmativa = nacionalidade potestativa (art. 12, I c, segunda


parte)
Expressa
Ordinária: 1) originários de países de língua portuguesa (art. 12, II, a)

2) não-originários de países de língua portuguesa (art. 12, II, a)

Extraordinária (ou quinzenária) (art. 12, II, b)


Tácita
Só em 1891 (art. 69, § 4.°, CF/1891)
5.3 Espécies de nacionalidade
- Nacionalidade primária/originária/involuntária: é estabelecida através do nascimento,
levando-se em consideração aspectos sangüíneos, territoriais ou mistos adotados pelo
Estado. É, portanto, aquisição involuntária da nacionalidade, decorrente do nascimento
ligado a um critério adotado pelo Estado – confere-se aos brasileiros natos;
- Nacionalidade secundária/adquirida/voluntária: esta adquire-se por vontade própria,
após o nascimento, em regra pela naturalização. É, pois, volitiva. Confere-se aos
estrangeiros e aos apátridas quando estão presentes sua vontade e a aquiescência do
Estado.

5.4 Critérios de atribuição de nacionalidade originária


- ambos os critérios partem do nascimento da pessoa para a atribuição da nacionalidade
primária:
(a) ius sanguinis (origem sangüínea): funda-se no vínculo de sangue; será nacional todo
descendente (filho) de nacional, independentemente do local de nascimento. É o critério
adotado pela maior parte dos Países Europeus, em razão da emigração (para manter o
vínculo quanto aos descendentes). A CF/88 não adotou este critério de maneira pura,
mas mitigado por outros critérios (vide gráfico acima).
(b) ius solis (ou territorial): será nacional o nascido no território do Estado que adota
este critério, independentemente da nacionalidade de seus ascendentes. Este critério é
bastante utilizado pelos países com alto índice de imigração, para que os descendentes
dos imigrantes passassem a ser nacionais do novo país, não do de origem de seus pais.
Esta é a regra adotada pela CF/88, mas vale lembrar que, em alguns casos, há também a
adoção do critério do ius sanguinis.
5.4.1 Hipóteses de aquisição primária/originária da nacionalidade – brasileiros
natos (art. 12, I)
A CF/8 adotou a regra do ius solis, mitigada pelo ius sanguinis somado a outros
critérios. Assim, são brasileiros natos somente aqueles que preenchem os requisitos do
inciso I do art. 12 da CF/88:

(a) art. 12, I, a: os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais
estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país:
- regra do ius solis: em princípio, basta que o nascimento tenha ocorrido em território
brasileiro para que o indivíduo seja brasileiro nato. A única exceção é quando ambos os
pais são estrangeiros e estejam (mesmo que apenas um deles) a serviço do país
estrangeiro do qual são nacionais; se estiverem a serviço de um terceiro país, seu filho
nascido em solo brasileiro será brasileiro nato;
- por território brasileiro entende-se: “as terras delimitadas pelas fronteiras geográficas,
os rios, lagos, baías, golfos, ilhas, bem como o espaço aéreo e o mar territorial,
formando o território propriamente dito; os navios e as aeronaves de guerra brasileiros,
onde quer que se encontrem; os navios mercantes brasileiros em alto mar ou de
passagem em mar territorial estrangeiro; as aeronaves civis brasileiras em vôo sobre o
alto mar ou de passagem sobre águas territoriais ou espaços aéreos estrangeiros”.

(b) art. 12, I, b: os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde
que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil:
- neste caso, vige a regra do ius sanguinis + critério funcional (a serviço do Brasil);
- pai ou mãe brasileiros (natos ou naturalizados = ius sanguinis) + nascimento no
exterior + estarem a serviço do Brasil (serviço diplomático, consular, serviço público da
Administração Pública direta ou indireta de quaisquer das entidades políticas, serviço a
entidades internacionais das quais o Brasil faça parte – mesmo que não tenha sido
designado pelo Brasil [pois pode ter sido designado pela própria entidade]);

(c) art. 12. I, c, primeira parte: os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe
brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou (c.2)
venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, pela
nacionalidade brasileira:
- ius sanguinis + critério de registro em repartição competente (consulado ou embaixada
brasileiros);
- nascido no estrangeiro, filho de pai ou mãe brasileira (ou ambos, por óbvio) que não
estejam a serviço do Brasil, registrado em repartição brasileira (consulado ou embaixada
brasileiros);
Obs.: redação do art. 12, I, c, anterior à EC 54/2007, que tinha por base a ECR n. 3, de
07/06/1994, determinava que, para o filho de pais brasileiros nascido no exterior
adquirir a nacionalidade brasileira, necessitava vir a residir no Brasil e registrar-se (a
qualquer tempo – sem data para a opção de ser brasileiro). Por isso, a regra transitória
do art. 95, ADCT: Os nascidos no estrangeiro entre 7 de junho de 1994 e a data da
promulgação desta Emenda Constitucional, filhos de pai brasileiro ou mãe brasileira,
poderão ser registrados em repartição diplomática ou consular brasileira competente
ou em ofício de registro, se vierem a residir na República Federativa do Brasil. (EC n.
54, de 20/09/2007)

(d) art. 12. I, c, segunda parte: os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe
brasileira (não registrados em repartição brasileira), desde que venham a residir na
República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade
brasileira:
- ius sanguinis + critério residencial + opção confirmativa. É a chamada nacionalidade
potestativa (depende da manifestação da vontade);
- nascidos no estrangeiro de pai ou mãe brasileira que não estejam a serviço do Brasil +
fixação de residência no Brasil a qualquer tempo + realização da opção a qualquer
tempo, depois da aquisição da maioridade civil, pois a opção é personalíssima (STF);
- STF: a fixação de residência no Brasil constitui o fato gerador da nacionalidade
brasileira originária. Trata-se de uma nacionalidade temporária, a ser confirmada pela
opção, posteriormente à maioridade.
São duas as situações:
(a) enquanto incapaz civilmente, é nacional por intermédio de um registro provisório*
(Lei 6.015/1973, art. 29°, VII e § 2.°), considerando-se a nacionalidade brasileira para
efeito de todos os direitos decorrentes da nacionalidade;
- *registro provisório*: é competência da Justiça Federal a apreciação do pedido de
transcrição do termo de nascimento de menor nascido no estrangeiro, filho de pai ou
mãe brasileiros que não estavam a serviço do Brasil à época do nascimento, e que venha
a residir no Brasil – consubstancia-se esta transcrição do registro no Registro Civil das
Pessoas Naturais (do domicilio do incapaz ou de seus pais) – nacionalidade temporária,
a ser ratificada após alcançada a maioridade civil (art. 12, I, c, c/c art. 109, X).

(b) depois de adquirida a capacidade civil, a naturalidade fica suspensa até o momento
da homologação da opção*, cujo efeito é ex tunc (retroage à data na fixação de
residência em território brasileiro);
- a *opção* pela nacionalidade brasileira é feita judicialmente, em processo de
jurisdição voluntária de competência da justiça Federal (art. 109, X), que se conclui
com a sentença que homologa a opção, confirmando a nacionalidade brasileira primária
e determinando a transcrição do registro de nascimento no Registro Civil das Pessoas
Naturais, uma vez presentes os requisitos objetivos e subjetivos exigidos pela CF.

5.5 Brasileiro naturalizado (art. 12, II, a, b, §§ 1.° e 2.°)


Brasileiro naturalizado é o estrangeiro ou o apátrida que adquire a nacionalidade
brasileira pela nacionalidade secundária ou adquirida.
São espécies de naturalização por nacionalidade secundária/adquirida: (a) tácita
ou (b) expressa. A expressa, ainda pode ser (b.1) expressa ordinária ou (b.2) expressa
extraordinária/quinzenária.
A naturalização secundária tácita é por força de lei.
A naturalização expressa tem por requisitos: ato voluntário do estrangeiro,
mediante a satisfação de requisitos constitucionais e legais, dentre eles a
discricionariedade do Chefe do Poder Executivo Federal.

(a) Naturalização tácita ou grande naturalização: adquirida independentemente de


manifestação expressa do naturalizado, por força das regras jurídicas de naturalização.
Hoje não é mais adotada pelo Brasil, mas fazia parte da CF/1891, pela qual os
estrangeiros que estivessem no Brasil em 15/11/1889 e que, no prazo de seis meses após
entrar em vigor a CF/1891, não declarassem a vontade de manter a nacionalidade de
origem (estrangeira), passariam a ser brasileiros naturalizados, assim como seus filhos
menores.

(b.1) Naturalização expressa ordinária: o processo de naturalização deve respeitar os


requisitos legais (Lei 6.815/1980 – estatuto do estrangeiro), os procedimentos e
características administrativas (tramitação no Ministério da Justiça e decisão final do
Presidente da República), além da formalidade jurisdicional (entrega do certificado de
naturalização por Juiz Federal). Somente após a entrega deste certificado é que se
adquire a nacionalidade brasileira por naturalização. Pode-se dividir a naturalização
expressa ordinária em duas possibilidades. Além destas, no art. 12, II, a e § 1.°, ainda se
verifica o caso dos portugueses equiparados e da radicação precoce:

1.ª) Art. 12, II, a, primeira parte – Estrangeiros não originários de países de língua
portuguesa e apátridas: os requisitos para esta naturalização encontram-se no art. 112
da Lei n. 6.815/1980 – estatuto do estrangeiro:
- capacidade civil segundo a lei brasileira;
- ser registrado como permanente no Brasil (visto permanente);
- residência contínua pelo prazo mínimo de quatro anos;
- ler e escrever em português;
- exercício de profissão ou bens suficientes à sua manutenção e da família;
- boa conduta e boa saúde;
- inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação, no Brasil ou no exterior, por
crime doloso a que seja cominada pena de prisão superior a um ano (abstratamente
considerada);
- inexistência de denúncia, pronúncia ou condenação no Brasil ou no exterior por crime
doloso a que seja cominada pena mínima de prisão, abstratamente considerada superior
a um ano.
Importante salientar que além da satisfação desses requisitos constitucionais e
legais, analisados pelo Ministério da Justiça, são necessários o consentimento do
Presidente da República e a efetiva entrega do certificado de naturalização, por Juiz
Federal.
2.ª) Art. 12, II, a, segunda parte - Originários de países de língua portuguesa: para que
estrangeiros originários de países de língua portuguesa (Portugal, Angola, Açores, Cabo
Verde, Goa, Guiné-Bissau, Macau, Moçambique, Portugal, Príncipe, Timor Leste)
adquiram a nacionalidade brasileira por naturalização são necessários os requisitos:
- residência no Brasil por um ano ininterrupto + idoneidade moral + capacidade civil do
optante (pois decorre de um ato de vontade);
- também aqui é necessária a aceitação do pedido pelo Presidente da República e a
entrega do certificado de naturalização pela Justiça Federal.

- Portugueses equiparados a brasileiros - Art. 12, II, a, segunda parte, c/c § 1.°: neste
caso, não se trata de naturalização, mas de equiparação do português residente no Brasil
ao brasileiro, para todos os efeitos da nacionalidade. Noutras palavras, o português não
se torna brasileiro, nem deixa de ser português, mas possui todos os direitos/deveres
advindos na nacionalidade brasileira secundária (com as exceções constantes na própria
Constituição – art. 12, § 3.°). Da mesma forma, o brasileiro residente em Portugal
equipara-se ao português sem deixar de ser brasileiro e sem tornar-se português.
São requisitos para a equiparação de português a brasileiro:
- cláusula de admissão de reciprocidade (prevista no diploma internacional V
Convenção sobre Igualdade de Direitos e Deveres entre Brasileiros e Portugueses,
ratificada pelo Brasil e promulgada pelo Decreto 70.391/1972, substituído pelo Decreto
3.927/2001. Em Portugal esta Convenção foi ratificada pelo Decreto Legislativo
126/1972);
- residência permanente no Brasil;
- reconhecimento da equiparação pelo Ministério da Justiça;
- para o exercício dos direitos e deveres políticos ainda é necessário requerimento à
Justiça Eleitoral + residência mínima de três anos no Brasil.

Obs.: O português pode optar tanto pela nacionalidade brasileira da mesma forma que
os demais estrangeiros oriundos de países que falam a língua portuguesa (art. 12, II, a,
segunda parte – vide acima), como pela equiparação aos brasileiros, neste caso sem se
tornarem brasileiros e sem deixarem de serem portugueses.

– Radicação precoce e curso superior - Art. 12, II, a, primeira parte, c/c art. 22, XIII:
como a norma constitucional determina que são brasileiros naturalizados os que, “na
forma da lei” satisfizerem determinados requisitos, não houve revogação da
possibilidade de naturalização presente no Estatuto do Estrangeiro em casos de
radicação precoce e de curso superior, mas sim recepção dessas possibilidades pela
CF/1988. Assim, conforme art. 12, II, a, primeira parte, c/c Lei n. 6.815/80, art. 115, §
2.°, I e II, e art. 116, pode haver naturalização secundária expressa ordinária:
- por radicação precoce = estrangeiros que ingressarem no Brasil antes dos cinco anos
de idade e que aqui fixarem-se definitivamente adquirem a nacionalidade brasileira
(pela naturalização), desde que se manifestem nesse sentido até dois anos após
adquirirem a capacidade civil;
- por conclusão de curso superior = nascidos no estrangeiros que, vindo a residir no
Brasil antes de atingirem a capacidade civil, façam curso superior em território
brasileiro e requeiram a nacionalidade brasileira até um ano após a conclusão do ensino
superior (colação de grau).

(b.2) Naturalização expressa extraordinária ou quinzenária: art. 12, II, b. São


requisitos para a naturalização extraordinária:
- residência fixa no Brasil, há mais de 15 anos ininterruptos (não significa que não possa
ter havido afastamento do país neste período, desde que a residência tenha sido
contínua);
- ausência de condenação criminal;
- requerimento do interessado.
Observa-se que, neste caso de naturalização extraordinária/quinzenária, trata-se de
direito constitucional subjetivo que não necessita da aquiescência por parte do Poder
Executivo, pois a Constituição não prevê a existência de lei infraconstitucional
limitando a eficácia da norma constitucional, mas, ao contrário, prevê simplesmente o
requisito “desde que requeiram”. Preenchidos os requisitos acima, deve ser conferida a
nacionalidade brasileira, naturalizando-se o até então estrangeiro.
Ainda, a naturalização é intransferível, pois só a adquire aquele que preenche os
requisitos legais. Assim, não se estende aos filhos e cônjuges. Para que estes possam
estar em território brasileiro, como qualquer outro estrangeiro, necessitam satisfazer as
exigências legais (visto etc.).

Gráfico – Tratamento jurídico-constitucional de brasileiros natos e naturalizados


BRASILEIROS
NATOS
NATURALIZADOS
Regra: igualdade
Exceções

(somente nas

hipóteses constitucionais-taxativas)
- cargos (art. 12, § 3.°)

- função (art. 89, VII)

- extradição (art. 5.°, LI)

- direito de propriedade (art. 222)

- perda da nacionalidade (art. 12, § 4.°, I)


Português equiparado

(art. 12, § 1.°)


5.6 Tratamento diferenciado entre brasileiro nato e naturalizado (art. 12, § 3.° +
art. 89, VII + art. 5.°, LI e LII + art. 222, caput e §§ 1.° e 2.° + art. 12, § 4.°, I)
É proibida qualquer distinção entre brasileiros natos e naturalizados além daquelas
previstas na própria Constituição (art. 12, § 2.°).
- cargos (art. 12, § 3.°): determina a Constituição, taxativamente e sem possibilidade de
ampliação pela legislação infraconstitucional, que são cargos privativos aos brasileiros
natos: (I) Presidente e Vice-Presidente da República; (II) Presidente da Câmara dos
Deputados; (III) Presidente do Senado Federal; (IV) Ministro do Supremo Tribunal
Federal; (V) carreira diplomática - observa-se que o cargo de Ministro da Relações
Exteriores pode ser ocupado por brasileiro naturalizado, uma vez que o art. 87 nada
determinou em contrário e que somente o Ministro de Defesa está elencado entre os
Ministros de Estado como sendo cargo privativo de brasileiro nato; (VI) oficial das
Forças Armadas; (VII) Ministro de Estado de Defesa;
- funções (art. 89, VII): o Conselho da República, órgão consultivo do Presidente da
República, é formado apenas por brasileiros natos, à exceção de naturalizados que
ocupem as funções de líder da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados e no
Senado Federal, ou o cargo de Ministro da Justiça, na medida em que todas as demais
funções são reservadas a brasileiros natos.
- extradição (art. 5.°, LI LII): vide anotações sobre Extradição, para verificar em quais
situações brasileiros naturalizados podem ser extraditados, lembrando-se que é
impossível a extradição de brasileiro nato;
- propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens
(art. 222, caput e §§ 1.° e 2.°): não há exclusão de o brasileiro naturalizado adquirir tal
propriedade, mas sim exigência de um requisito, que é a naturalização por mais de 10
anos, conjuntamente com o requisito de que no mínimo 70% do capital social da
empresa jornalística pertença, direta ou indiretamente, a brasileiros natos ou
naturalizados a mais de 10 anos. Ainda, a estes caberá a gestão da atividade e a
responsabilização editorial;
- perda da nacionalidade pela prática de atividade nociva ao interesse nacional (art.
12, § 4.°, I): nesta hipótese, somente o brasileiro naturalizado poderá perder a
nacionalidade brasileira.

5.7 Perda do direito de nacionalidade (art. 12, § 4.°, I, II, a e b)


Somente nos casos previstos no art. 12, § 4.°, I, II, a e b é que será possível
ocorrer a perda do direito de nacionalidade, acrescidos os casos em que a nacionalidade
fora conseguida com fraude à lei civil (ex.: vício de consentimento na manifestação da
vontade de naturalizar-se):
- quando o brasileiro tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em
virtude de atividade nociva ao interesse nacional (art. 12, § 4.°, I): ação de
cancelamento da naturalização, que é proposta pelo Ministério Público contra brasileiro
naturalizado que tenha tido atitude nociva ao interesse nacional. Exige-se o trânsito em
julgado da sentença (efeito ex nunc) e não poderá ser pleiteada nova naturalização,
senão por meio de ação rescisória (arts. 485-495, CPC) ajuizada até dois anos após o
transito em julgado da sentença que cancelou a naturalização, jamais por outro processo
de naturalização;
- quando o brasileiro adquirir outra nacionalidade (art. 12, § 4.°, II): sempre que um
brasileiro, nato ou naturalizado, voluntariamente, adquirir outra nacionalidade, perderá
a nacionalidade brasileira, por meio de processo administrativo movido pelo Ministério
da Justiça e decreto do Presidente da República, comunicando-se imediatamente a
Justiça Eleitoral, para fins de cancelamento dos direitos políticos. Os efeitos do
cancelamento da nacionalidade brasileira são ex nunc, ou seja, desta data em diante,
restando preservados todos os atos anteriores.
Constatam-se três requisitos: voluntariedade da conduta + capacidade civil do
interessado + aquisição da nacionalidade estrangeira.
É possível readquirir a nacionalidade brasileira? Sim, com entendimentos
divergentes:
- para que readquira a nacionalidade brasileira, deverá submeter-se às condições
exigidas para a naturalização, pois não poderá mais ser considerado brasileiro nato, uma
vez que deixou de sê-lo pela perda da nacionalidade (Alexandre de Moraes);
- por decreto, nos termos do art. 362[2] da Lei n.° 818/1949, desde que existam
elementos que atribuam nacionalidade ao interessado e não contrarie dispositivos
constitucionais (Pedro Lenza). Todavia, que elementos são estes, o autor não explica.
Meu entendimento é que sejam os requisitos da naturalização, se se tratava de brasileiro
naturalizado que tenha perdido a nacionalidade brasileira por optar, voluntariamente,
por outra nacionalidade.
- José Afonso da Silva refere que se readquire a nacionalidade por decreto, nos termos
anteriores à perda, ou seja, se era brasileiro nato, vota a ser e, ser naturalizado, idem.

São exceções que não geram a perda na nacionalidade brasileira, previstas nas
alíneas no art. 12, § 4.°, II:
(a) reconhecimento da nacionalidade originária pela lei estrangeira (art. 12, § 4.°, II,
a): neste caso, haverá dupla nacionalidade. Como exemplo cita-se a nacionalidade
italiana conferida pela Itália aos descendentes de italianos por procedimento
administrativo. É mera aquisição de uma segunda nacionalidade pelo critério ius
sanguinis, não implicando na perda da nacionalidade brasileira;
(b) imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em
Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o
exercício dos direitos civis (art. 12, § 4.°, II, b): nesses casos, não se constata a vontade
de o brasileiro deixar de sê-lo, mas a imposição de aquisição de outra nacionalidade
como único meio de exercer atividade profissional ou de permanecer em território
estrangeiro. Mantém-se a nacionalidade brasileira e a estrangeira (dupla nacionalidade).

Postado por direitobunic às 13:40

2[2] Lei n. 818/1949, art. 36: O brasileiro que, por qualquer das causas do art. 22, números I
e II, desta lei, houver perdido a nacionalidade, poderá readquiri-la por decreto, se estiver
domiciliado no Brasil. Observa-se que o inciso II do § 4.° do art. 12 possui a mesma redação
do inciso I da referida lei, e que o inciso II desta mesma lei não foi recepcionado pela CF/88.

§ 2º A reaquisição, no caso do art. 22, nº I, não será concedida, se se apurar que o


brasileiro, ao eleger outra nacionalidade, o fez para se eximir de deveres a cujo
cumprimento estaria obrigado, se se conservasse brasileiro.

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