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Prática de Leitura e

Escrita
Material Teórico
Tipos Textuais: narração, descrição e dissertação.

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Helba Carvalho

Revisão Textual:
Profa. Ms. Silvia Augusto Albert
Tipos Textuais: narração, descrição e
dissertação.

• Introdução

• Narração

• Descrição

• Dissertação

·· Nesta Unidade – “Tipos Textuais: narração, descrição


e dissertação”– você encontrará, no texto teórico, as
características e exemplos de três tipos textuais que podem
aparecer em gêneros textuais distintos ou no mesmo gênero.
Você aprenderá a identificá-los e terá dicas de como deve
produzir um texto de cada tipo apresentado.

Atenção

Para um bom aproveitamento do curso, leia o material teórico atentamente antes de realizar as ativi-
dades. É importante também respeitar os prazos estabelecidos no cronograma.

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Unidade: Tipos Textuais: narração, descrição e dissertação

Contextualização

Você, como futuro licenciado em Letras, portanto, tendo recebido a formação para ser
professor, deve ter o texto como instrumento de trabalho no cotidiano escolar, pois a leitura
e a escrita são fatores fundamentais para a inclusão social e inserção do aluno no mundo
letrado. Saiba que o conteúdo estudado nesta unidade mostra que em qualquer situação de
comunicação, oral ou escrita, você utilizará os tipos textuais estudados e, como professor,
deverá dominá-los.
Ainda, você deve ter percebido que cada texto se insere em atividades sociais estruturadas,
criando para o leitor um fato social que é realizado através de formas textuais padronizadas
que são os gêneros. Isso significa que, em uma atividade em sala de aula, você, enquanto
professor, escolherá qual o gênero textual a ser trabalhado com os seus alunos, de acordo
com o tema da aula e a situação.
Lembre-se de que os tipos textuais estudados estarão presentes nos diferentes gêneros
textuais que escolher ou até mesmo no mesmo gênero. Por exemplo, pense na seguinte
situação: você observa que muitos de seus alunos possuem blogs pessoais e esta é uma
ótima oportunidade de trabalhar esse gênero, que pode abrigar vários outros gêneros e
tipos textuais. Você pode mostrar que um blog, como um diário online, pode apresentar
sequências narrativas e descritivas do autor que visa narrar os acontecimentos de sua vida,
bem como sequências dissertativas, na medida em que o blogueiro também expõe a sua
opinião, bem como a dos usuários sobre determinado assunto.

Caso queira colocar em prática essa ideia, consulte os textos a seguir e bom trabalho!

GENTILE, Paola. “Blog: diário (de aprendizagem) na rede”. Nova escola, jun./jul. 2004.
Disponível em http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/blog-
diario-423586.shtml. Acesso em 15 de janeiro de 2013.
KOMESU, Fabiana Cristina. “Blogs e as práticas de escrita sobre si na Internet”.
In: MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos. Hipertexto e gêneros
digitais. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004.

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Introdução

Antes de analisarmos os diferentes tipos textuais, o que nos propomos fazer nessa unidade, é
importante que você saiba diferenciar esses dois conceitos distintos e interdependentes: tipo textual e
gênero textual. Vamos observar como o linguista Luiz Antonio Marcuschi (2003, p.20) os diferencia:
Usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de construção
teórica definida pela natureza lingüística de sua composição {aspectos lexicais,
sintáticos, tempos verbais, relações lógicas}. Em geral, os tipos textuais
abrangem cerca de meia dúzia de categorias conhecidas como: narração,
argumentação, exposição, descrição, injunção... (Disponível em http://www.
letraviva.net/arquivos/Generos_textuais_definicoes_funcionalidade.pdf.
Acesso em 10 de janeiro de 2013).

Diferente do conceito “tipo textual” que vamos estudar nessa unidade de nossa disciplina,
o gênero textual se utiliza dos diferentes tipos textuais citados por Marcuschi, como narração,
argumentação, exposição1 , descrição e injunção2 , porém, os gêneros textuais são inúmeros.
Na definição do linguista,

Usamos a expressão gênero textual como uma noção propositalmente vaga


para referir os textos materializados que encontramos em nossa vida diária e
que apresentam características sócio-comunicativas definidas por conteúdos,
propriedades funcionais, estilo e composição característica. Se os tipos textuais
são apenas meia dúzia, os gêneros são inúmeros. Alguns exemplos de gêneros
textuais seriam: telefonema, sermão, carta comercial, carta pessoal, romance,
bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, reunião de condomínio, notícia
jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras,
cardápio de restaurante, instruções de uso, outdoor, inquérito policial, resenha,
edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, carta eletrônica,
bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante. (Disponível em
http://www.letraviva.net/arquivos/Generos_textuais_definicoes_funcionalidade.
pdf. Acesso em 10 de janeiro de 2013).

Você deve ter notado que toda vez que nos comunicamos oralmente ou por escrito utilizamos
um gênero textual, que possui propriedades funcionais e características próprias o qual apropria-
se de tipos textuais específicos.

Sendo assim, nessa unidade vamos analisar alguns tipos textuais, começando pela narração.

1 Esse tipo textual será estudado em outra disciplina do curso.


2 Esse tipo textual será estudado em outra disciplina do curso

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Unidade: Tipos Textuais: narração, descrição e dissertação

Narração
Em algum momento de sua vida, sobretudo na infância, você teve contato com fábulas e
contos de fadas. Normalmente, são as primeiras leituras que fazemos e ouvimos quando nossos
pais, tios e professores contavam histórias para a gente. Essas histórias que lemos e ouvimos são
gêneros textuais caracterizados, predominantemente, pelo tipo textual narrativo ou narração.
Vamos deixar isso mais claro com um exemplo? É provável que você conheça a famosa
fábula de Esopo “A cigarra e a formiga”. Agora, observe bem o que esse texto nos apresenta:
À equipe de produção: colocar uma imagem que se refira à leitura e apresentar o texto abaixo
em uma caixa colorida:
As fábulas são gêneros antigos que incluem um título;
animais que se relacionam como os humanos; uma
situação que é representação das ações humanas; uma
narrativa em terceira pessoa (observador); a moral que
localiza os valores e a imagem que o fabulista quis criar.
Note que nessa fábula de Esopo, além de ela
apresentar os itens básicos que caracterizam esse
gênero, temos a predominância da narração. Observe
que a fábula narra fatos fictícios, no caso, a relação e
o comportamento humanos da cigarra e da formiga;
além disso, notamos a presença dos verbos de ação no
passado, como: botaram, molhara, pediu, disseram,
armazenaste, cantava etc.
Milo Winter, A cigarra e a formiga, 1919

E não é só isso que marca esse texto narrativo, há, também, a presença de marcadores
temporais, como as indicações das estações inverno e verão, além da presença de um conflito
que se estabelece entre a cigarra, que só cantou durante o verão e não se preparou para o
inverno, e as formigas, que só trabalharam.
Esse conflito, o momento em que as formigas negam ajuda à cigarra, é um acontecimento
que complica a situação inicial da narrativa, criando uma tensão entre essas personagens.
Dessa forma, o tipo textual narração apresenta essas características básicas apontadas nessa
fábula de Esopo e você poderá observá-las em outros gêneros também, como: anedota, diário,
romance, conto, crônica, notícia, lenda, fábula, conto de fadas, relato pessoal, relato histórico,
biografia, autobiografia etc.
As narrativas biográficas se assemelham ao gênero memorialístico, já que os dois tipos de
escrita buscam conservar viva a memória ou a lembrança. Embora tratem de relatos supostamente
verdadeiros, que contam a história do sujeito como realmente foi, não se pode negar que aí
esteja também presente um pouco de subjetividade. Ou seja, características assinaladas pelos
próprios autores, já que eles têm a liberdade de usar a ficção a partir do modo peculiar de cada
um perceber o mundo.

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Isso significa que, muitas vezes, o biógrafo, mesmo se baseando em fatos reais, ao contar
a história do biografado, pode fazer interpretações pessoais, que podem inserir certo grau de
ficcionalidade ao texto.
Vejamos um exemplo. Leia os fragmentos a seguir, da biografia do escritor Manuel Bandeira,
publicada no site da Academia Brasileira de Letras:

Terceiro ocupante da Cadeira 24, eleito em 29 de agosto de 1940, na sucessão de Luís


Guimarães e recebido pelo Acadêmico Ribeiro Couto em 30 de novembro de 1940. Recebeu
os Acadêmicos Peregrino Júnior e Afonso Arinos de Melo Franco.
Manuel Bandeira (M. Carneiro de Sousa B. Filho), professor, poeta, cronista, crítico e
historiador literário, nasceu em Recife, PE, em 19 de abril de 1886, e faleceu no Rio de
Janeiro, RJ, em 13 de outubro de 1968.
Filho do engenheiro civil Manuel Carneiro de Sousa Bandeira e de Francelina Ribeiro de
Sousa Bandeira. Transferiu-se aos 10 anos para o Rio de Janeiro, onde cursou o secundário
no Externato do Ginásio Nacional, hoje Colégio Pedro II, de 1897 a 1902, bacharelando-
se em letras. Em 1903 matriculou-se na Escola Politécnica de São Paulo para fazer o curso
de engenheiro-arquiteto. No ano seguinte abandonou os estudos por motivo de doença e
fez estações de cura em Campanha, MG, Teresópolis e Petrópolis, RJ, e por fim Clavadel,
Suíça, onde se demorou de junho de 1913 a outubro de 1914. Ali teve como companheiro
de sanatório o poeta Paul Eluard. Sua vida poderia ter sido breve, face à doença. Viveu até
os 82 anos, construindo uma das maiores obras poéticas da moderna literatura brasileira.
De volta ao Brasil, Manuel Bandeira iniciou a sua produção literária em periódicos. Em
1917, publicou A cinza das horas, onde reuniu poemas compostos durante a doença. Em
1919 publicou o segundo livro de poemas, Carnaval. Enquanto o anterior evidenciava as
raízes tradicionais de sua cultura e, formalmente, sugeria uma busca da simplicidade, esse
segundo livro caracterizava-se por uma deliberada liberdade de composição rítmica. Ao
lado de “sonetos que não passam de pastiches parnasianos”, segundo o próprio Bandeira,
nele figura o famoso poema “Os sapos”, sátira ao Parnasianismo, que veio a ser declamado,
três anos depois, durante a Semana de Arte Moderna, por Ronald de Carvalho. Antecipador
de um novo espírito na poesia brasileira, Bandeira foi cognominado, por Mário de Andrade,
de “São João Batista do Modernismo”.
Por intermédio do amigo Ribeiro Couto, Manuel Bandeira conheceu os escritores
paulistas que, em 1922, lançaram o movimento modernista. Não participou diretamente
da Semana, mas colaborou na revista Klaxon e também na Revista Antropofagia,
Lanterna Verde, Terra Roxa e A Revista.
Em 1927, viajou ao Norte do Brasil, até Belém, parando em Salvador, Recife, Paraíba,
Natal, Fortaleza e São Luís do Maranhão. De 1928 a 1929 permaneceu no Recife como
fiscal de bancas examinadoras de preparatórios. Em 1935, foi nomeado inspetor de ensino
secundário; em 1938, professor de Literatura Universal no Externato do Colégio Pedro II;
em 1942, professor de Literaturas Hispano-Americanas na Faculdade Nacional de Filosofia,
sendo aposentado por lei especial do Congresso em 1956. Desde 1938, era membro do
Conselho Consultivo do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

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Unidade: Tipos Textuais: narração, descrição e dissertação

Recebeu o prêmio da Sociedade Felipe d’Oliveira por conjunto de obra (1937) e o


prêmio de poesia do Instituto Brasileiro de Educação e Cultura, também por conjunto
de obra (1946).
(...)
(D i s p o n ível e m: h ttp ://ww w. ac adem ia.or g.br /abl/c gi/c gilua.exe/sys/sta r t .
h t m ? i n f o i d=6 4 6 &si d =2 4 9 . A cesso em 10 de janeir o de 2013) .

Diferente da fábula de Esopo, “A cigarra e as formigas”, a biografia é uma narrativa que se


pauta em fatos reais. Você deve ter observado que parte da vida de Manual Bandeira é relatada
no texto anterior, desde o nascimento do escritor.
Note que, como na fábula, os fatos são narrados com verbos de ação no passado, como: nasceu,
faleceu, transferiu-se, cursou, bacharelou-se, matriculou, abandonou, publicou, colaborou etc. Os
marcadores temporais são indicados por datas, anos e por expressões como ano seguinte.
Outra característica a ser destacada desse texto narrativo, é a presença de um acontecimento
que complica a situação inicial e que, no caso do escritor Manuel Bandeira, instaurou-se como uma
temática recorrente em sua obra: trata-se da tuberculose, doença que o condenaria à morte, ainda
muito jovem. Note que devido a essa doença, Bandeira teve que abandonar os seus estudos no
curso de Engenharia e Arquitetura, mas a tuberculose não o impediu de construir uma obra sólida e
percorrer uma longa e sólida trajetória na literatura brasileira, falecendo aos 82 anos.
Mas não é só o tipo narrativo ou narração que caracteriza os gêneros textuais exemplificados,
a fábula e a biografia, a descrição ou sequências descritivas também podem aparecer nesses
gêneros, com o uso das adjetivações, que é uma das características da descrição, como nos
exemplos: “cigarra faminta”, na fábula; e, na biografia, as qualificações atribuídas a Manuel
Bandeira, professor, poeta, cronista, crítico e historiador literário.
No próximo item, estudaremos mais detalhadamente a descrição. Vamos conhecer um pouco
mais sobre esse tipo textual.

Descrição

O tipo textual descritivo se caracteriza por mostrar características dos seres (objetos, lugares,
animais ou pessoas) e dos conceitos de que trata um determinado gênero. As características
descritas não indicam relações de anterioridade ou causalidade, mas sim propriedades e
aspectos presentes numa situação.
Esse comprometimento com a simultaneidade faz com que as formais verbais estejam, em
sua maioria, no presente ou no imperfeito, que são tempos verbais mais neutros com relação
à cronologia. Também é comum o uso de verbos de estado – ser, estar, parecer – e formas
nominais do verbo: particípio, gerúndio. Ao mesmo tempo, há uma quantidade de palavras e
expressões indicadoras de propriedades, como adjetivos, locuções adjetivas e comparações.
Você, provavelmente, já se deparou com textos descritivos típicos, como cardápios, anúncios
classificados e laudos técnicos. Deve ter percebido que esses gêneros textuais utilizam, sobretudo,
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a descrição. Vamos ver o exemplo a seguir, de um anúncio classificado da Folha de São Paulo:
À equipe de produção: colocar a imagem de um jornal antes do anúncio abaixo
Casa, condomínio fechado Saint Jaimes, 3
quartos, 3 banheiros, uma suite, cozinha americana
planejada, armário planejado em todos os quartos
com closet na suíte, rack planejado na sala, quintal
com churrasqueira e jardim iluminado. Localizado
ao lado do Carrefour, Habbibs, +- 5 minutos
do Extra Anchieta, +- 10 minutos do Shopping
São Caetano, +- 1,5 km Anchieta. Estrutura
do condomínio: guarita 24 horas câmeras de
segurança, playground, quadra de futebol,
piscina, sauna, salão de festas com banheiro
feminino, masculino, fraldário, churrasqueira,
academia, brinquedoteca. (Disponível em http://
classificados1.folha.com.br Acesso em 11 de
janeiro de 2013).
Observe que o anúncio anterior apresenta as
características do objeto casa e do lugar onde ela
se localiza. Como a estrutura desse gênero deve ser
enxuta, não temos a presença de formas verbais,
mas as propriedades do imóvel que são expostas
sem uma relação de anterioridade e causalidade.
Fonte: Thinkstock.com

Os adjetivos presentes no texto, como “planejado”, referindo-se aos móveis e “iluminado”,


qualificando o jardim da casa, ressaltam os itens positivos desse imóvel, além de ele ser espaçoso
e bem localizado, segundo suas características.
O tipo descritivo também é comum em textos predominantemente narrativos, como
contos e romances. Veja este bom exemplo de sequência descritiva no conto “A chinela
turca”, de Machado de Assis:

A chinela turca
(...)
Era loura; tinha os olhos azuis, como os de Cecília, extáticos, uns olhos que buscavam
o céu ou pareciam viver dele. Os cabelos, deleixadamente penteados, faziam-lhe em volta
da cabeça um como resplendor de santa; santa somente, não mártir, porque o sorriso que
lhe desabrochava os lábios, era um sorriso de bem-aventurança, como raras vezes há de ter
tido a terra.
Um vestido branco, de finíssima cambraia, envolvia-lhe castamente o corpo, cujas formas
aliás desenhava, pouco para os olhos, mas muito para a imaginação.
(...)
(D i s p o n í vel em h ttp ://www.dom iniopublic o.gov.br /download/tex t o/
bv 0 0 0 2 3 3 .p df, A cesso em 1 1 de janeir o de 2013) .

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Unidade: Tipos Textuais: narração, descrição e dissertação

Note que nesse fragmento do conto encontramos praticamente todas as características do


tipo descritivo. Para descrever a personagem feminina, Machado de Assis se utiliza de formas
verbais no pretérito imperfeito, como: Era, tinha, buscavam, pareciam, faziam, desabrochava
etc. O uso de verbos de estado, como era, pareciam.
Há ainda o uso de palavras e expressões indicadoras das propriedades e das características
da personagem como adjetivações e advérbios: loura, olhos azuis, extáticos, os cabelos são
desleixadamente penteados, o vestido branco, um sorriso de bem-aventurança etc. Além
disso, encontramos a comparação dos olhos da personagem com “os de Cecília” e do cabelo
envolvendo a cabeça como “resplendor de santa”, o que caracteriza a descrição.
Você deve ter notado que a constante caracterização física da personagem do conto constrói
uma imagem, uma espécie de retrato que vai se tornando cada vez mais nítido em cada período
do texto. Os detalhes dessa descrição que utiliza as comparações destaca a individualidade
dessa mulher, que a distingue do tipo comum, na medida em que o narrador parece mais
imaginar essa caracterização que descreve diante de seus olhos.
Além de narrar e descrever, um texto pode apresentar a defesa de um ponto de vista do autor,
expressando um parecer a respeito de um fato, um acontecimento, uma pessoa. Esse tipo de
texto é chamado de dissertativo ou argumentativo. Vamos a ele!

Dissertação

Você já tentou persuadir o leitor de seu texto, tentando convencê-lo de seu ponto de vista?
Quando você lê ou escreve um texto dissertativo, observe que este tipo textual se caracteriza
pela progressão lógica de ideias e requer uma linguagem mais sóbria, objetiva, denotativa.
Além disso, dissertar é refletir, debater, discutir, questionar a respeito de um determinado tema,
emitindo opiniões de maneira convincente. Isso só acontece quando suas opiniões estão bem
fundamentadas, comprovadas, explicadas e argumentadas.
Para escrever um texto dissertativo, é importante que você considere os seguintes elementos
que caracterizam esse tipo textual:
1) O texto deve ser impessoal. Para isso, utilize verbos e pronomes na terceira pessoa.
2) O texto dissertativo é composto por três partes coerentes e coesas, são elas: introdução,
desenvolvimento e conclusão.
3) A introdução é a parte em que se dá a apresentação do tema, por meio de um conceito ou
questionamento que o tema pode sugerir com um argumento principal; o desenvolvimento
apresenta argumentos auxiliares e exemplos (reconhecidos publicamente) que reforçam o
argumento principal; por último, a conclusão deve resumir as ideias do texto no sentido
de fixar estabelecer o ponto de vista do autor como verdadeiro, irrefutável.

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4) Para que você consiga sucesso em seu texto dissertativo, os seus argumentos devem ser
convincentes, bem como as ideias devem ser apresentadas de forma coesa e coerente,
fazendo uso dos conectivos (conjunções) apropriadamente.
Agora você deve se perguntar quais os gêneros textuais que utilizam o tipo textual dissertação?
Eis alguns exemplos de gêneros em que predominam a sequência dissertativa (argumentativa):
sermão, ensaio, editorial de jornal ou revista, crítica, monografia, redações dissertativas, carta
de leitor, carta de reclamação, carta de solicitação, deliberação informal, debate regrado,
assembleia, discurso de defesa, discurso de acusação, resenha crítica etc.
Veja como a resenha crítica a seguir apresenta as características típicas do texto dissertativo:

Um gramático contra a gramática


Gilberto Scarton
Língua e Liberdade: por uma nova concepção da língua materna e seu ensino (L&PM,
1995, 112 páginas) do gramático Celso Pedro Luft traz um conjunto de ideias que subverte
a ordem estabelecida no ensino da língua materna, por combater, veemente, o ensino da
gramática em sala de aula.
Nos 6 pequenos capítulos que integram a obra, o gramático bate, intencionalmente,
sempre na mesma tecla - uma variação sobre o mesmo tema: a maneira tradicional e errada
de ensinar a língua materna, as noções falsas de língua e gramática, a obsessão gramaticalista,
inutilidade do ensino da teoria gramatical, a visão distorcida de que se ensinar a língua é
se ensinar a escrever certo, o esquecimento a que se relega a prática lingüística, a postura
prescritiva, purista e alienada - tão comum nas “aulas de português”.
O velho pesquisador apaixonado pelos problemas da língua, teórico de espírito
lúcido e de larga formação lingüística e professor de longa experiência leva o leitor a
discernir com rigor gramática e comunicação: gramática natural e gramática artificial;
gramática tradicional e lingüística; o relativismo e o absolutismo gramatical; o saber
dos falantes e o saber dos gramáticos, dos lingüistas, dos professores; o ensino útil,
do ensino inútil; o essencial, do irrelevante.
Essa fundamentação lingüística de que lança mão - traduzida de forma simples com fim
de difundir assunto tão especializado para o público em geral - sustenta a tese do Mestre, e
o leitor facilmente se convence de que aprender uma língua não é tão complicado como faz
ver o ensino gramaticalista tradicional. É, antes de tudo, um fato natural, imanente ao ser
humano; um processo espontâneo, automático, natural, inevitável, como crescer. Consciente
desse poder intrínseco, dessa propensão inata pela linguagem, liberto de preconceitos e do
artificialismo do ensino definitório, nomenclaturista e alienante, o aluno poderá ter a palavra,
para desenvolver seu espírito crítico e para falar por si.
Embora Língua e Liberdade do professor Celso Pedro Luft não seja tão original quanto
pareça ser para o grande público (pois as mesmas concepções aparecem em muitos teóricos
ao longo da história), tem o mérito de reunir, numa mesma obra, convincente fundamentação
que lhe sustenta a tese e atenua o choque que os leitores - vítimas do ensino tradicional - e os
professores de português - teóricos, gramatiqueiros, puristas - têm ao se depararem com uma
obra de um autor de gramáticas que escreve contra a gramática na sala de aula.

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Unidade: Tipos Textuais: narração, descrição e dissertação

Embora Língua e Liberdade do professor Celso Pedro Luft não seja tão original quanto
pareça ser para o grande público (pois as mesmas concepções aparecem em muitos
teóricos ao longo da história), tem o mérito de reunir, numa mesma obra, convincente
fundamentação que lhe sustenta a tese e atenua o choque que os leitores - vítimas do
ensino tradicional - e os professores de português - teóricos, gramatiqueiros, puristas -
têm ao se depararem com uma obra de um autor de gramáticas que escreve contra a
gramática na sala de aula.
(Disponível em http://www.pucrs.br/gpt/resenha.php. Acesso em 12 de janeiro de 2013.

O autor da resenha crítica, Gilberto Scarton, apresenta o livro Língua e Liberdade, de Celso
Pedro Luft. Veja como ele organiza seu texto: nos dois primeiros parágrafos, apresenta o tema,
expondo um argumento principal de Luft em sua defesa contra o ensino tradicional da gramática;
nos terceiro e quarto parágrafos, observe que Scarton reforça o posicionamento do linguista
sobre o ensino da gramática e avalia, positivamente, o livro, que pode convencer o leitor de que
“aprender uma língua não é tão complicado como faz ver o ensino gramaticalista tradicional”;
e finalmente, no quinto e último parágrafo, você deve observar que o autor encaminhando a
resenha crítica para a conclusão. Scarton, apesar de ressaltar que as concepções apresentadas
no livro já apareceram em outros teóricos, fixa a sua defesa de que a leitura de Língua e
Liberdade é fundamental, pois consegue reunir a fundamentação necessária para convencer o
leitor a rever o ensino da gramática em sala de aula.
Note, também, como a resenha crítica que acabou de ler apresenta uma linguagem objetiva,
denotativa e como Scarton é impessoal ao utilizar verbos e pronomes na terceira pessoa ao se
referir ao linguista (ele), à gramática (ela), ao livro (ele) e às discussões que envolvem o ensino
e o uso da língua materna.
Ao ler o texto até aqui, você deve ter-se deparado com a seguinte pergunta:
cada gênero textual possui apenas um tipo textual, como a resenha crítica
apresenta o tipo dissertativo?
A resposta é não, pois você pode ler uma carta pessoal que poderá apresentar, ao mesmo
tempo, os tipos narrativo, descritivo e dissertativo, que acabamos de estudar.
Marcuschi (2003) destaca que em todos os gêneros os tipos se realizam, ocorrendo,
muitas vezes, que um mesmo gênero seja realizado em dois ou mais tipos. Ele chama essa
miscelânea de tipos presentes em um gênero de heterogeneidade tipológica. A crônica, a seguir,
de Machado de Assis, é um bom exemplo dessa mistura de tipos textuais. Procure fazer a leitura
atentamente e identifique os tipos presentes.

Carnívoros e vegetarianos, de Machado de Assis


05 de março de 1893

Quando os jornais anunciaram para o dia 10 deste mês uma parede de açougueiros, a
sensação que tive foi mui diversa da de todos os meus concidadãos. Vós ficastes aterrados;
eu agradeci o acontecimento ao céu. Boa ocasião para converter esta cidade ao vegetarismo.

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Não sei se sabem que eu era carnívoro por educação e vegetariano por princípio. Criaram-me
a carne, mais carne, ainda carne, sempre carne. Quando cheguei ao uso da razão e organizei
o meu código de princípios, incluí nele o vegetarismo; mas era tarde para a execução. Fiquei
carnívoro. Era a sorte humana; foi a minha. Certo, a arte disfarça a hediondez da matéria. O
cozinheiro corrige o talho. Pelo que respeita ao boi, a ausência do vulto inteiro faz esquecer
que a gente come um pedaço de animal. Não importa, o homem é carnívoro.
Deus, ao contrário, é vegetariano. Para mim, a questão do paraíso terrestre explica-se clara e
singelamente pelo vegetarismo. Deus criou o homem para os vegetais, e os vegetais para o
homem; fez o paraíso cheio de amores e frutos, e pôs o homem nele. Comei de tudo, disse-
lhe, menos do fruto desta árvore. Ora, essa chamada árvore era simplesmente carne, um
pedaço de boi, talvez um boi inteiro. Se eu soubesse hebraico, explicaria isto muito melhor.
Vede o nobre cavalo! O paciente burro! O incomparável jumento! Vede o próprio boi!
Contentam-se todos com a erva e o milho. A carne, tão saborosa à onça, — e ao gato, seu
parente pobre, — não diz cousa nenhuma aos animais amigos do homem, salvo o cão,
exceção misteriosa, que não chego a entender. Talvez, por mais amigo que todos, come-se o
resto do primeiro almoço de Adão, de onde lhe veio igual castigo.
Enfim, chegou o dia 10 de março; quase todos os açougues amanheceram sem carne. Chamei
a família; com um discurso mostrei-lhe que a superioridade do vegetal sobre o animal era tão
grande, que devíamos aproveitar a ocasião e adotar o são e fecundo princípio vegetariano.
Nada de ovos, nem leite, que fediam a carne. Ervas, ervas santas, puras, em que não há
sangue, todas as variedades das plantas, que não berram nem esperneiam, quando lhes
tiram a vida. Convenci a todos; não tivemos almoço nem jantar, mas dous banquetes. Nos
outros dias a mesma cousa.
Não desmaies, retalhistas, nesta forte empresa. Dizia um grande filósofo que era preciso
recomeçar o entendimento humano. Eu creio que o estômago também, porque não há bom
raciocínio sem boa digestão, e não há boa digestão com a maldição da carne. Morre-se de
porco. Quem já morreu de alface? Retalhistas, meus amigos, por amor daquele filósofo, por
amor de mim, continuei a resistência. Os vegetarianos vos serão gratos. Tereis morte gloriosa
e sepultura honrada, com ervas e arbustos. Não é preciso pedir, como o poeta, que vos
plantem um salgueiro no cemitério; plantar é conosco; nós cercaremos as vossas campas de
salgueiros tristes e saudosos. Que é nossa vida? Nada. A vossa morte, porém, será a grande
reconstituição da humanidade. Que o Senhor vo-la dê suave e pronta.
Compreende-se que, ocupado com esta passagem de doutrina à prática, pouco haja atendido
aos sucessos de outra espécie, que, aliás, são filhos da carne. Sim, o vegetarismo é pai dos
simples. Os vegetarianos não se batem; têm horror ao sangue. Gostei, por exemplo, de saber que
a multidão, na noite do desastre do Liceu de Artes e Ofícios, atirou-se ao interior do edifício para
salvar o que pudesse; é ação própria da carne, que avigora o ânimo e a cega diante dos grandes
perigos. Mas, quando li que, de envolta com ela, entraram alguns homens, não para despejar a
casa, mas para despejar as algibeiras dos que despejavam a casa, reconheci também aí o sinal
do carnívoro. Porque o vegetariano não cobiça as causas alheias; mal chega a amar as próprias.
Reconstituindo segundo o plano divino, anterior à desobediência, ele torna às idéias simples e
desambiciosas que o Criador incutiu no primeiro homem.

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Unidade: Tipos Textuais: narração, descrição e dissertação

Se não pratica o furto, é claro que o vegetariano detesta a fraude e não conhece a vaidade.
Daí um elogio a mim mesmo. Eu não me dou por apóstolo único desta grande doutrina. Creio
até que os temos aqui, anteriores a mim, e, — singular aproximação! — no próprio conselho
municipal. Só assim explico a nota jovial que entra em alguns debates sobre assuntos graves
e gravíssimos.
Suponhamos a instrução pública. Aqui está um discurso, saído esta semana, mas proferido
muito antes do dia 11 de março; discurso meditado, estudado, cheio de circunspeção (que o
vegetariano não repele, ao contrário) e de muitas pontuações alegres, que são da essência da
nossa doutrina. Tratava-se dos jardins da infância. O Sr. Capelli notava que tais e tantos são
os dotes exigidos nas jardineiras, beleza, carinho, idade inferior a trinta anos, boa voz, canto,
que dificilmente se poderão achar neste país moças em quantidade precisa.
Não conheço o Sr. Maia Lacerda, mas conheço o mundo e os seus sentimentos de justiça,
para me não admirar do cordial não apoiado com que ele repeliu a asseveração do Sr.
Capelli. Não contava com o orador, que aparou o golpe galhardamente: “Vou responder ao
se não apoiado, disse ele. As que encontramos, remetendo-as para lá, receio, que, bonitas
como soem ser as brasileiras, corram o risco de não voltar mais, e sejam apreendidas como
belos espécimes do tipo americano”.
Outro ponto alegre do discurso é o que trata da necessidade de ensinar a língua italiana,
fundando-se em que a colônia italiana aqui é numerosa e crescente, e espalha-se por todo
o interior. Parece que a conclusão devia ser o contrário; não ensinar italiano ao povo, ante
ensinar a nossa língua aos italianos. Mas, posto que isto não tenha nada com o vegetarismo,
desde que faz com que o povo possa ouvir as óperas sem libreto na mão, é um progresso.
(Disponível em http://www.cronicas.uerj.br/home/cronicas/machado/rio_de_janeiro/
ano1893/05mar1893.html Acesso em 13 de janeiro de 2013)

Você deve ter notado que a crônica de Machado de Assis, no primeiro parágrafo, narra a
forma como o escritor vivencia um momento de greve no país e fica sabendo, por meio dos
jornais diários, da greve dos açougueiros. A narração dos fatos não se desenvolve, pois, em
seguida se apresenta a tese de que a cidade deveria se converter ao vegetarismo.
Os próximos parágrafos revelam uma reflexão do escritor sobre os carnívoros e vegetarianos
e sua opção pelo vegetarismo, além de construir, entre seus argumentos, a associação do vegetal
ao paraíso e da carne ao pecado original. A visão bíblica, metaforicamente, torna-se um bom
argumento para o narrador convencer o leitor a tornar-se vegetariano.
Observe que no quinto parágrafo o episódio da greve é retomado e vira um pretexto para
construir uma série de argumentos a favor do vegetarismo. Nesse sentido, a crônica assume
também características do tipo dissertativo, na medida em que apresenta uma tese, um
argumento inicial, que se liga a outros argumentos no desenvolvimento do texto que levam o
escritor a sugerir outra reflexão: uma mudança na organização do país.
Como você observou na crônica de Machado de Assis, é possível que um só gênero (a
crônica) apresente mais de um tipo textual. Muitas vezes é possível perceber qual tipo tem
maior predominância, evidenciando-se sobre os outros. Mas essa é outra questão que veremos
em outro momento. Da mesma forma que retomaremos os tipos textuais que não foram aqui
abordados como a injunção e a exposição.
16
Para esse momento, procure assimilar as características dos três tipos textuais: narração,
descrição e dissertação, que apresentamos nesse texto teórico. Lembre-se também de diferenciar
os conceitos: tipo textual e gênero textual. Ao fazer as atividades, procure retomar o que leu e
faça seus registros para estudar.

17
Unidade: Tipos Textuais: narração, descrição e dissertação

Material Complementar
Para saber mais como os tipos textuais estudados no texto teórico podem ser trabalhados em
sala de aula com alunos do Ensino Médio, acesse o link a seguir e confira a proposta da autora,
Lilian Kelly Caldas:

http://alb.com.br/arquivomorto/edicoes_anteriores/anais16/sem03pdf/
sm03ss16_09.pdf.

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Referências

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. “Biografia de Manuel Bandeira”. http://www.academia.


org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=646&sid=249 . Acesso em 10 de abril de 2013.

ASSIS, Machado de. “A chinela turca”. Disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/


download/texto/bv000233.pdf, Acesso em 11 de janeiro de 2013.

_____. “Carnívoros e vegetarianos”. Disponível em http://www.cronicas.uerj.br/home/cronicas/


machado/rio_de_janeiro/ano1893/05mar1893.html Acesso em 13 de janeiro de 2013.

ESOPO. “A cigarra e a formiga”. Disponível em http://www.literaturaemfoco.com/?p=974.


Acesso em 10 de janeiro de 2013.

FÁVERO, Leonor Lopes; KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Lingüística textual: introdução.
São Paulo: Cortez, 1983.

GARCIA, Othon M. Comunicação em prosa moderna. 10. ed. Rio de Janeiro: Fund. Getúlio
Vargas, 1982.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: definição e funcionalidade. In: DIONÍSIO, Ângela
Paiva; MACHADO, Anna Rachel; BEZERRA, Maria Auxiliadora. Gêneros textuais e ensino.
Rio de Janeiro: Lucerna, 2003. p. 19-36. Disponível também em http://www.letraviva.net/
arquivos/Generos_textuias_definicoes_funcionalidade.pdf. Acesso em 10 de janeiro de 2013.

PRESTES, Maria Luci de Mesquita. Algumas dicas para a produção de textos dissertativos.
Disponível em: <http://www1.fapa.com.br/folder/biblioteca/dicastextosdissertativos.pdf>.
Acesso em 10 de janeiro de 2013.

SCARTON, Gilberto. “Um gramático contra a gramática”. Disponível em http://www.pucrs.br/


gpt/resenha.php. Acesso em 12 de janeiro de 2013.

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Unidade: Tipos Textuais: narração, descrição e dissertação

Anotações

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