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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

PÓS GRADUAÇÃO EM MÚSICA

ALEXANDRE HENRIQUE DOS SANTOS

DEFICIÊNCIA VISUAL, EDUCAÇÃO MUSICAL E TICS NA


INCLUSÃO DE ALUNOS DEFICENTES VISUAIS

Trabalho apresentado como pré-requisito


para aprovação na disciplina MS-108-A —
Tópicos Especiais em Educação Musical
"Ensino e aprendizagem musical na
deficiência visual" ministrada pelos
professores: Dr.ª Adriana Mendes e o Dr.º
Vilson Zattera

CAMPINAS 2016
DEFICIÊNCIA VISUAL, EDUCAÇÃO MUSICAL E TICS NA
INCLUSÃO DE ALUNOS DEFICENTES VISUAIS

Introdução

A questão da inclusão debatida no atual cenário social, traz novas perspectivas e


ações se comparadas ao processo histórico em que este assunto vem sendo discutido e
abordado, tanto em relação ao comportamento sociocultural, como em relação à criação
de leis, direitos, centros de atendimento e relações educacionais. Embora ainda existam
muitas ações a serem feitas, podemos entender que, se comparado há épocas anteriores,
ou mesmo décadas atrás, este processo vem evoluindo (ainda que em velocidade lenta)
positivamente.
Um dos grandes obstáculos atualmente é definir a terminologia, que acima de
tudo, pretende proteger ou não “pejorativizar’ a pessoa com alguma deficiência, mas,
considerando a exposição de Garcia (2011), não é raro encontrar na literatura brasileira
termos como: “aleijados”, “enjeitados”, “mancos”, “cegos”, “surdos-mudos”,
“mongoloides” e “débil mental. Também podemos trazer à reflexão o relato de
Fernandes, Schlesener e Mosquera (2011), em que os autores dizem que na idade média,
pais de crianças com deficiências as abandonavam dentro de cestos ou outros lugares
considerados sagrados. Os que sobreviviam eram explorados nas cidades ou tornavam-se
atrações de circos. O nascimento de indivíduos com deficiências eram encarados como
castigo de Deus; eles eram vistos como feiticeiros ou bruxos (FERNANDES,
SCHLESENER, MOSQUERA, 2011, p. 135).
No Brasil também há relatos de crianças com deficiência “abandonadas em
lugares assediados por bichos que muitas vezes as mutilavam ou matavam”.
(FERNANDES, SCHLESENER, MOSQUERA, 2011, p. 136). Segundo Januzzi (2006),
esta situação teve significativa melhora com a criação em 1726 das chamadas rodas de
expostos, onde as crianças eram colocadas e recolhidas pelas instituições religiosas, que
cuidavam da alimentação, educação, acessibilidade e todos os cuidados que estas crianças
necessitavam. Estas ações tinham lastro na ideologia de “amor ao próximo” sustentada
pelo cristianismo romano. Embora estas instituições provessem os cuidados básicos para
a sobrevivência destes indivíduos, acabavam isolando-os do convívio social.
Segundo Jannuzi (2006), a educação direcionada às pessoas com deficiência
começou a tomar forma no Brasil (ainda que de maneira muito tímida) no final do século
XVIII e início do século XIX. No ano de 1854, foi criado no Rio de Janeiro, por
intermédio do imperador e do seu médico particular – José Francisco Xavier (pai de uma
menina cega), o Imperial Instituto dos Meninos Cegos, pelo decreto nº 1428, de 12 de
setembro de 1854 (JANUZI, 2006, p. 11), que posteriormente passou a ser chamado de
Instituto Benjamin Constant, e alguns anos depois também foi criado o Instituto dos
Surdos-mudos, ambos financiados pelo poder central.
Embora a preocupação com a educação destas pessoas ainda seja (do ponto de
vista histórico) recente, atualmente existe uma luta pela inclusão destas pessoas na
sociedade, reservando a elas seus direitos ao acesso a todos os recursos disponíveis paras
as pessoas sem deficiências. Neste contexto, é dever da sociedade criar e adaptar o acesso
para as diversas situações que estas pessoas necessitem, buscando assim uma significativa
melhora na sua qualidade de vida.
Sendo assim, o presente trabalho pretende discorrer sobre a deficiência visual,
trazendo uma visão geral sobre o assunto, bem como, uma algumas propostas para a
educação musical destas pessoas através do uso de Tecnologias da informação e
Comunicação (TIC).

1. O olho humano

O olho é o órgão responsável pelo sentido da visão. É formado por um conjunto


complexo de elementos que atuam de forma específica para que o ato de olhar, ver ou
enxergar ocorra. Primeiramente existem aquelas estruturas responsáveis pela
captação da luz e desempenham função ótica, posteriormente aparecem os elementos
que transformam o impulso luminoso em impulso elétrico, através de reações
químicas. De forma simplificada o olho é formado por: córnea, íris, pupila, cristalino,
retina, esclera e nervo ótico, (RAMOS, 2006, p. 17). A figura abaixo mostra o olho
humano e sua anatomia.
Figura 1: Anatomia do Olho Humano

Ramos (2006) define as partes do olho humano da seguinte forma:

Córnea: É a primeira estrutura do olho que a luz atinge. A córnea se constitui de cinco
camadas de tecido transparente e resistente. A camada mais externa, Epitélio, possui uma
capacidade regenerativa muito grande e se recupera rapidamente de lesões superficiais.
As quatro camadas seguintes, mais internas, são que proporcionam uma rigidez e
protegem o olho de infecções (RAMOS, 2006, p. 4).

Íris: A porção visível e colorida do olho, logo atrás da córnea. Possui músculos em
disposição tal que possam aumentar ou diminuir a pupila, a fim de que o olho possa
receber mais ou menos luz, conforme as condições de luminosidade do ambiente
(RAMOS, 2006, p. 4).

Pupila: É a abertura central da íris, através da qual a luz passa para alcançar o cristalino
(RAMOS, 2006, p. 4).

Cristalino: É quem ajusta na retina o foco da luz que vem através da pupila. Tem a
capacidade de, discretamente, aumentar ou diminuir sua superfície curva anterior, a fim
de se ajustar às diferentes necessidades de focalização das imagens, próximas ou
distantes. Esta capacidade se chama "acomodação" (RAMOS, 2006, p. 4).

Retina: É a membrana que preenche a parede interna em volta do olho, que recebe a luz
focalizada pelo cristalino. Contém fotorreceptores que transformam a luz em impulsos
elétricos, que o cérebro pode interpretar como imagens. Existem na retina dois tipos de
receptores: bastonetes (+ ou -120 milhões) e cones (+ ou – 7 milhões), que se localizam
em torno da fóvea. Cada receptor comporta em torno de 4 milhões de moléculas, ricas em
rodopsina, que é capaz de absorver quanta luminosos decompondo-se em duas outras
moléculas (RAMOS, 2006, p. 4).

Nervo Óptico: Transporta os impulsos elétricos do olho para o centro de processamento


do cérebro, para a devida interpretação (RAMOS, 2006, p. 4).

Esclera: É o nome da capa externa, fibrosa, branca e rígida que envolve o olho, e contínua
com a córnea. É a estrutura que dá forma ao globo ocular (RAMOS, 2006, p. 4).

O processo da visão é inteiramente feito pelo cérebro. Os órgãos funcionam como


estímulos de conversão seletiva de estímulos luminosos e de sinal elétrico. Durante todo
o trajeto através do sistema visual, os estímulos vão sendo depurados até gerarem uma
impressão visual única, provavelmente no córtex occipital (RAMOS, 2006, p. 6). Para
Vilela (2016), O mecanismo da visão pode ser melhor entendido, se compararmos o globo
ocular a uma câmara fotográfica: o cristalino seria a objetiva; a Íris, o diafragma, e a retina
seria a placa ou película. Desta maneira os raios luminosos, ao penetrarem na córnea e no
humor aquoso, passando pela pupila, chegam ao cristalino, que leva a imagem mais para
trás ou para frente, permitindo que ela se projete sobre a retina. O nervo óptico conduz os
impulsos nervosos para o centro da visão, no cérebro, que o interpreta e nos permite ver
os objetos nas posições em que realmente se encontram. O seguinte vídeo1 mostra o
processo de formação da imagem no sistema visual humano.

2. Deficiência Visual – Visão Geral

Louro (2012), nos diz que 75% de nossa percepção está centrada no sistema visual.
Uma falha neste sistema, pode comprometer significativamente tanto o desenvolvimento,
quanto a aprendizagem das crianças. Por isso, segundo a autora, é tão importante a criação
de metodologias que permitam, por vias alternativas, a passagem e absorção das
informações das pessoas que possuem algum tipo de deficiência visual (LOURO, 2012,
p. 247).

1
Vídeo sobre o processo de formação da imagem o sistema visual humano. (Para
visualização deste link baixe o aplicativo QR code scan (ou similar) disponível na Apple Store ou Google
Play).
Segundo a autora,

Deficiência Visual é o termo usado para definir indivíduos que


apresentem desde a ausência total da visão até a perda da percepção
luminosa. É um aspecto bastante diversificado, em termos clínicos
(LOURO, 2012, p. 247).

Duas escalas oftalmológicas, são fundamentais para a definição da deficiência


visual:

 Acuidade visual, significando que o indivíduo consegue enxergar a determinada


distância e
 Campo visual, que informa sobre a amplitude da área alcançada pela visão.

Para Louro (2012), trazendo dados coletados pela OMS, cerca de 1% da população
mundial apresenta algum grau geral de deficiência visual. Dos afetados, mais de 90%
se encontram em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento. O termo cegueira
não corresponde, obrigatoriamente, à uma completa incapacidade para ver, mas sim
a diferentes pessoas com variados graus de visual residual. Daí a opção pelo termo
“Deficiência Visual” que abrange um leque maior de variabilidade clínica. Em relação
aos países desenvolvidos, apesar de em menor escala, estes também não estão imunes
ao problema. Dos seus deficientes visuais, cerca de 5% são crianças, o que, também
por lá, representa um constante desafio para pais educadores (LOURO, 2012, p. 247)
Na medicina, uma pessoa é considerada cega se corresponde a um dos critérios
seguintes: a visão corrigida do melhor dos seus olhos é de 20/200 ou menos, isto é, se
ela pode ver a 20 pés (6 metros) o que uma pessoa de visão normal pode ver a 200
pés (60 metros). Se o diâmetro mais largo do seu campo visual subentende um arco
não maior de 20 graus, ainda que sua acuidade visual nesse estreito campo possa ser
superior a 20/200. Esse campo visual restrito é muitas vezes chamado "visão em
túnel" ou "em ponta de alfinete". Nesse contexto, caracteriza-se como indivíduo com
visão subnormal aquele que possui acuidade visual de 6/60 e 18/60 (escala métrica)
e/ou um campo visual entre 20 e 50º (LOURO, 2012, p. 248).

Segundo a OMS, podemos considerar perda de visão:

Baixa Visão: corresponde a uma acuidade visual, na melhor situação, menor que
6/18 metros, e na pior situação, igual ou maior 6/60 metros. (Isso contando-se com a
melhor correção ótica possível para ambos os olhos); Outro fator considerado para
baixa visão, corresponde a acuidade visual, na melhor situação, menor que 6/60
metros e, na pior situação, igual ou maior que 3/60 metros. (Aqui também se contando
com melhor correção ótica possível para ambos os olhos);

Cegueira: corresponde a uma acuidade visual, na melhor situação, menor que 3/60
metros e, na pior situação, igual ou maior que 1/60 metros. (Novamente contando-se
com a melhor correção ótica possível em ambos os olhos). Este tipo de deficiência
corresponde, basicamente, à capacidade de contar dedos a um metro de distância.
Outro tipo de cegueira corresponde a uma acuidade visual, na melhor situação, menor
que 1/60 metros e, na pior situação, à capacidade de percepção da luz. (Mais uma vez
contando-se com a melhor correção em ambos os olhos). Ainda há também a cegueira
em que não há percepção de luz.
A Classificação Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde
(também conhecida como Classificação Internacional de Doenças – CID 10) é publicada
pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e visa padronizar a codificação de doenças e
outros problemas relacionados à saúde. Esta classificação é revista a cada 10 anos.
Atualmente, a versão está no número 10, ou seja, CID – 10. De acordo com Silva, Ferreira
e Pinto (2013), os principais indicadores para deficiência visual estão disponíveis na
tabela abaixo:
Tabela 12: CID 10 - cegueira e baixa visão

As deficiências visuais podem surgir de maneira congênita ou adquirida. No caso


das congênitas, as mais frequentes são: más formações primárias do olho, glaucoma
congênito, catarata congênita, retinopatia da prematuridade, anóxia neonatal e as
síndromes genéticas. Já as doenças visuais adquiridas são: traumatismo oculares,
ferimentos, vazamento nos olhos, perfurações, processos degenerativos, alterações a
quadros de hipertensão arterial, diabetes, sequelas, infecções oculares, entre outras.

3. Tipos de Deficiências Visuais

Louro (2012), lista uma série de doenças relacionadas à visão. São elas:

 Albinismo: condição de natureza genética em que há um defeito na produção de


melanina, pelo organismo, e que resulta em ausência parcial ou total da
pigmentação dos olhos, pele e pelos. Albinismo ocular: a fóvea (responsável pela
acuidade visual) tende a desenvolver-se menos, justamente pela falta de melanina,
que, nos fetos, é de vital importância para o desenvolvimento do olho
 Ambliopia: olho vago ou olho preguiçoso é uma disfunção oftálmica
caracterizada pela diminuição da acuidade visual uni ou bilateralmente, sem que
o olho afetado mostre qualquer anomalia estrutural. É a causa mais comum de
deficiência visual em crianças e adultos jovens e de meia idade.

2
Fonte: http://www.ligadeoftalmo.ufc.br/arquivos/ed_-_sd_-_baixa_visual_cronica.pdf
 Anidria: é uma doença rara, que consiste na falta congênita da iris do olho. Pode
afetar um só olho, mas é mais frequente que afete os dois. Pode existir em paralelo
com outras alterações sistêmicas relacionadas com os rins e com atraso mental.
 Anisometropia: condição em que o erro reflativo não é o mesmo para os dois
olhos.
 Anoftalmia: ausência congênita de um ou ambos os olhos.
 Astigmatismo: faz com que os raios de luz cheguem a diferentes regiões da retina,
dificultando a visão, tanto para longe quanto para perto.
 Buftalmia: afecção ocular causada pela distensão do globo ocular, devido ao
aumento da pressão intraocular.
 Catarata: opacificação do cristalino que se expressa, clinicamente, por uma visão
“nublada”.
 Ceratite: inflamação da córnea.
 Ceratocone: aumento exagerado da curvatura da córnea, causando alto
astigmatismo.
 Conjuntivite: inflamação da conjuntiva. Pode ser viral, alérgica, tóxica, reativa,
entre outras. É altamente contagiosa.
 Estrabismo: desvio de um ou ambos os olhos.
 Glaucoma: designação genérica para o grupo de doenças que atingem o nervo
ótico, com consequente perdas nas células da retina.
 Hipermetropia: erro de focalização da imagem no olho.
 Microftalmia: anomalia congênita, ou adquirida, em o globo ocular é
normalmente pequeno.
 Miopia: situação em que os raios de luz que penetra no olho, ao contrário do que
acontece na hipermetropia, são focalizados antes de atingirem a retina. O míope
tem grandes dificuldade me enxergar de longe.
 Nistagmo: termo usado para descrever os movimentos oscilatórios, rítmicos e
repetitivos dos olhos. Movimento involuntário dos globos oculares que dificultam
a focalização da imagem.
 Retinoblastoma: tumor originário das células embrionárias da retina.
 Retinose pigmentar: grupo de doenças da retina. Degeneração gradual das células
retinianas sensíveis à luz e perda progressiva da visão periférica (ou da visão
noturna). (LOURO, 2012, p. 253).
Alguns fatores são fundamentais com indicadores de deficiências visuais. São
eles:

 Desvio de um dos olhos.


 Não seguimento visual dos objetos.
 Não reconhecimento de familiares, professores e colegas de classe.
 Baixo aproveitamento escolar/atraso no desenvolvimento.

Após a detecção da deficiência alguns fatores devem ser considerados para


facilitar o tratamento:

 Conhecimento prévio para embasar o planejamento pedagógico.


 Idade que iniciou o problema.
 Forma de manifestação: abrupta ou progressiva
 Etiologia: conhecer e entender as causas das deficiências visuais das crianças com
que se trabalha.

As opções de tratamento variam de acordo com a patologia. Para algumas doenças


existe a possibilidade de correção cirúrgica ou através do uso de óculos ou lentes.
Quando a correção da visão não é possível através de procedimentos cirúrgicos ou de
lentes, o indivíduo com a referida deficiência deve ser integrado em alguma
instituição de tratamento para o aprendizado das necessidades básicas, como
mobilidade (através do uso de bengalas ou outras tecnologias), alfabetização através
do sistema Braile e outros recursos tecnológicos usados para a melhora da qualidade
de vida da pessoa com deficiência visual. O próximo tópico abordará uma visão geral
sobre as diferentes tecnologias disponíveis para o auxílio ao deficiente visual.

4. As Tecnologias Assistivas para a Deficiência Visual

Tecnologia pode ser qualquer recurso ou procedimento desenvolvido com o


intuito de servir como instrumento ou ferramenta para algum objetivo específico, ou
melhor dizendo, o desenvolvimento de uma técnica. Qualquer artefato (caneta, talheres,
martelo, etc.) pode ser considerado uma tecnologia. No âmbito da informática temos o
fenômeno conhecido hoje como Tecnologias de informação e Comunicação (TIC).
Segundo Ramos (2008), estão neste contexto dispositivos como o computador,
smarthphones (celulares inteligentes), tablets e a própria internet. Quando usadas no
âmbito da inclusão, as tecnologias recebem o nome de Tecnologias Assistivas (TA), que
podem se utilizar de tecnologias informacionais e outras fora do contexto da eletrônica
(como a bengala ou regrete Braille positiva), mas que ainda assim compõe o grupo de
TA. Vale lembrar que o acesso à informática está previsto no estatuto da pessoa com
deficiência: Lei 13.146/2015
Segundo Hasher (2008) a definição de tecnologias assistivas é a superação da
lacuna entre o que uma pessoa com deficiência quer fazer e o que existe de infraestrutura
que a permite executar tal tarefa.

É constituída por equipamentos, dispositivos e sistemas que podem ser


usados para superar as barreiras sociais referentes à infraestrutura e
outros obstáculos vividos pelas pessoas com deficiência e que impedem
a sua participação plena e igualitária em todos os aspectos da sociedade.
(HASHER, 2008, p. 4) (Tradução do autor).

De acordo com Miranda (2016), os principais tipos de TA são:

 Auxílio à vida diária: artefatos para facilitar as tarefas do dia a dia, tais como
comer, tomar banho, cuidar da casa, etc.
 Comunicação Alternativa: recursos que possibilitem a pessoas – sem fala, ou
com algum tipo de restrição na dicção – a comunicação. Pode ser feito além de
processamentos eletrônicos, também através de símbolo, cartões, ou outros tipos
de imagem para comunicação.
 Acessibilidade ao Computador: consiste em facilitar ao máximo o acesso a um
computador ou sistema, por meio de ponteira, teclados virtuais e leitores de tela.
 Sistemas de controle de ambiente: sensores e reguladores ajustam
automaticamente iluminação, temperatura, volume de equipamentos, dentre
outras funções de uma casa. Atualmente está em voga o conceito conhecido como
“internet das coisas”. Com este processo é possível ter eletrodomésticos
inteligentes, que se comunicam entre si, tudo isso gerenciado facilmente por uma
espécie de controle remoto acessível, com base em uma plataforma móvel
(notebook, smartphone ou tablet).
 Adaptações Arquitetônicas: de acordo com a especificação da American with
Desabilities (ADA), rampas, barras de apoio nas paredes, elevadores de pequeno
e médio porte e recursos que visem garantir acessibilidade.
 Auxílio a mobilidade: recursos de uso cotidiano que facilitem a locomoção, tais
como, bengalas, andadores, cadeiras de roda, carrinhos elétricos ou mesmo um
cão-guia.
 Adaptações para cegos ou pessoas com baixa visão: sistema tátil (Braille) de
leitura e escrita, lupas manuais ou eletrônicas, lentes ampliadoras para
computadores, cores contrastantes nos textos de livros ou monitores de vídeo,
letras ampliadas (MIRANDA, 2016, p. 104).

Em relação especificamente aos recursos computacionais para a deficiência visual,


um dos mais utilizados são os leitores de tela. Estes, são softwares Leitores de Tela; ou
seja, softwares capazes de transformar em linguagem (através de um módulo sintetizador
de voz) trechos de arquivos de texto disposto na tela, de modo que o usuário deficiente
visual possa ter acesso sonoro (na forma de linguagem falada) ao conteúdo textual (na
forma de linguagem escrita). São exemplos de leitores de tela:

a) Dosvox: Sistema desenvolvido desde 1993 pelo Núcleo de Computação


Eletrônica (NCE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Compreende a utilização de um sintetizador de voz em português. De acordo com
Tudissaki (2015), pelo fato do sistema ser construído em português, facilita a
interação do deficiente e a máquina. Segundo a autora, o sistema pode ter uma
atenuação das dificuldades operacionais por parte dos DV, pois o usuário pode
criar seu próprio ambiente de trabalho no programa.

b) Virtual Vision: Desenvolvido pela empresa Micro Power – Ribeirão Preto –


SP. Umas das características do software é informar ao DV quais os controles
(botões, listas e menus) estão ativas no momento. Esta característica é
significativa, pois uma das dificuldades no uso de leitores de tela, é o fato do DV
saber quando uma janela está ativa ou não na tela.

c) Jaws: programa desenvolvido pela empresa americana Henter Joyce. É um dos


softwares mais utilizados pelos DV. Com esta ferramenta o DV pode trabalhar tão
rápido quanto uma pessoa vidente. É de fácil operação e funciona em ambientes
Windows (TUDISSAKI, p.67).

d) Orca: este software é de código aberto e funciona na plataforma Linux. É


totalmente traduzido para português e passa pela revisão de Tiago Melo Cabral,
que também é DV, usa o software todos os dias e mantém contato com outros DV
que usam softwares livres, Amadeus (2007).

e) NVDA (Non Visual Desktop Access) também é um software distribuído


gratuitamente e funciona em plataforma Windows. Se o usuário possuir uma
ferramenta chamada Display Braile, o NVDA é capaz de converter o texto da tela
do computador em Braile.

Também fazem parte das TA informacionais o hardware Linha Braile: hardware


que exibe dinamicamente em Braille a informação da tela ligado a uma porta de saída do
computador. Trata-se de um dispositivo de saída tátil para visualização das letras no
sistema Braille. Por intermédio de um sistema eletromecânico, conjuntos de pontos são
levantados e abaixados, conseguindo-se assim uma linha de texto em Braille. Outro
equipamento disponível é o SARA - Scanning and Reading Appliances. É um tipo de
Scanner que fotografa as páginas de um livro e automaticamente o traduz em áudio,
reconhecendo inclusive o idioma do livro.

Ainda no âmbito das tecnologias disponíveis aos deficientes visuais temos a


máquina Perkins - similar a máquina de escrever, mas adaptada ao sistema Braille - e a
Regrete de Punção Positiva – que permite escrever em Braille no papel de maneira manual
usando uma punção para estampar o ponto Braille em relevo.

Para Kleina (2012), o computador é hoje uma das principais ferramentas para as
pessoas com deficiência. Segundo o autor, para o caso dos alunos com deficiência visual,
estes podem adquirir um nível significativo de autonomia com os recursos disponíveis.

5. As TIC para Educação Musical dos Deficientes Visuais

Segundo Santos, Fornari, Mendes e Zattera (2015), para que as tecnologias


assistivas de fato representem uma possibilidade de inclusão para os músicos e alunos
deficientes visuais aos recursos oferecidos pela informática, devem ser criadas
metodologias específicas para a sua utilização, bem como levar em consideração as
possibilidades de possíveis adaptações das TIC já existentes (SANTOS, FORNARI,
MENDES E ZATTERA, 2015, p. 151).

A informática representa para os músicos atuais, uma grande gama de


possibilidades para auxiliá-los em diversas áreas, como gravação e edição de áudio e
vídeo, edição de partituras, sequenciadores MIDI, instrumentos virtuais, etc. No caso dos
músicos deficientes visuais, as tecnologias musicais não são construídas para os mesmos,
ou seja, dispõe na maioria das vezes de grande informação gráfica e visual. Embora tenha
havido grandes avanços nas últimas décadas, ainda é muito complicado o acesso à
informática musical pelos músicos e alunos de música que possuem alguma deficiência
visual.

Entre os softwares que oferecem acessibilidade, está o Audacity


(www.audacity.org). Editor de áudio e gravador multipistas que permite acesso ao leitor
de tela em diversas ferramentas. Outro recurso que pode ser usado, é a (re) configuração
dos atalhos do teclado. Com este software podem ser desenvolvidas atividades de edição
de áudio, composição e improvisação musical. Este software também pode ser usado para
atividade de percepção de timbres, aprendizado e exploração de arranjos musicais, desde
que estas estejam disponíveis em formatos multipistas. Desta forma o aluno deficiente
visual pode ouvir cada instrumento separadamente.

Outro software que também pode ser usado para educação musical dos deficientes
visuais, é o Sonic Pi (www.sonicpi.net). O Sonic Pi é um software livre e foi desenvolvido
pelo Dr. Sam Aaron na Universidade de Crambridge. Foi projetado especificamente para
sala de aula para incentivar os alunos a aprenderem a programar. Os parâmetros sonoros
são inseridos e manipulados no programa através de linhas de texto em tempo real. O
software também pode ser usado em performances ao vivo. Funciona nas plataformas
Windows, Mac e Linux.

Entre os dispositivos que podem ser usados, além do computador convencional,


celulares e tablets com os possíveis leitores de tela, também pode ser usado outros
dispositivos, como o computador Raspeberry Pi (RPI). O RPI é um computador de baixo
custo que se conecta a um monitor ou TV e com um teclado e mouse executa todas as
tarefas de um computador convencional. Foi desenvolvido no Reino Unido pelo ex-
professor Eben Upton da Universidade de Cambridge. Upton criou a Raspberry Pi
Fundation (Fundação Raspberry Pi) (www.raspberrypi.org) em 2006. No Reino Unido
custa em torno de US$ 30,00. No Brasil tem seu preço em torno de 150,00 a 300,00
dependendo da configuração e dos acessórios que acompanham. Este dispositivo tema
capacidade de executar o software Sonic Pi e o Audacity, o que proporciona diversos tipos
de interação, como por exemplo a prática do Live Coding, ou seja, é uma prática de
performance musical em que o software que gera a música ou outro tipo de dado além de
som, é escrito e manipulado durante a performance. Como os dados são inseridos via
texto no software, este pode dar a possibilidade de desenvolver com o aluno deficiente
atividades de improvisação e composição musical.

6. Considerações Finais

Este trabalho abordou uma visão geral sobre a questão da inclusão, sobretudo
destacando a deficiência visual. Foram relatadas as deficiências visuais, suas causas e
possíveis caminhos para tratamento. Também foi discorrido sobre as tecnologias que
auxiliam os deficientes visuais, em sua vida cotidiana e como estas tecnologias podem
atuar na melhoria de sua qualidade de vida.

A questão referente à educação musical também foi abordada. As TIC podem


representar uma ferramenta eficaz para a educação musical dos deficientes visuais,
atenuando assim a visível desvantagem que estes alunos possuem em relação aos alunos
videntes, pois, a edição de material em Braille, áudio livros, ou outros recursos são
escassos e quando disponíveis são na maioria das vezes de alto custo. Neste contexto o
presente trabalho sugeriu o uso de dois softwares de licenças livres e um computador de
baixo custo - o Raspeverry Pi.

Como propostas futuras, pretende-se, a partir do que foi aqui exposto, desenvolver
mais metodologias para uso das TIC na educação musical dos alunos deficientes visuais,
principalmente utilizando o RPI e o Sonic Pi. Os usos destes recursos podem estimular o
processo criativo destes alunos e ajudá-los no processo de inclusão digital, pois como dito
anteriormente, a informática e seus recursos atualmente, pode ajudar a diminuir a grande
desvantagem que os deficientes visuais enfrentam nestas áreas, incluindo seus usos e
recursos na educação musical.

7. Referências

FERNANDES, Lorena Barolo, SCHLESENER Anita, MOSQUERA, Carlos. Breve


Histórico Da Deficiência E Seus Paradigmas. Revista do Núcleo de Estudos e Pesquisas
Interdisciplinares em Musicoterapia, Curitiba v.2, p.132 –144, 2011.

GARCIA, Vinicius Gaspar. Trajetória das pessoas com deficiência na História do Brasil:
“Caminhando em silêncio”. www.bengalalegal.com. Disponível em:
http://www.bengalalegal.com/pcd-brasil. Acesso em 13/12/2016.
HERSH, Marion A. e JHONSON, Michael A. Assistive Technology for Visually
Impaired and Blind People. London: Springer – Verlag London Limited, 2008.
JANUZZI, Gilberta de Martino. A Educação do Deficiente no Brasil: dos primórdios ao
século XXI. Campinas: Ed. Autores Associados, 2ª ed. 2006.
KLEINA, Cláudio. Tecnologia Assistiva em Educação Especial e Educação Inclusiva.
Curitiba: Intersaberes, 2012.
LOURO, Viviane. Fundamentos da aprendizagem musical da pessoa com deficiência. 1ª
ed. São Paulo: Editora Som, 2012.
MIRANDA, Marcilio. Tecnologias e Educação musical: uma interface inclusiva. In:
LOURO, Viviane (Org.) Música e Inclusão. Múltiplos Olhares. São Paulo: Editora Som,
2016.
RAMOS, André. Fisiologia da Visão. Um estudo sobre o “ver” e o “enxergar”. In: Análise
do Simbólico no Discurso Visual – prof. Luiz Antônio Coelho LabCom. Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-Rio, 2006.
Ramos, Sérgio. Introdução às TIC. In: AFONSO, Adriano. Manual de Tecnologias da
Informação e Comunicação e OppenOffice.org. 2ª ed. Lisboa, 2010. Disponível em:
http://www.adrianoafonso.net/files/manuais/manual_tic_2ed.pdf
SANTOS, Alexandre Henrique, FORNARI, José Eduardo, ZATTERA Vilson,
MENDES, Adriana. Um Estudo sobre as TICs como Ferramentas na Educação Musical
de Alunos com Deficiência Visual. In: Anais do 15th Brazilian Symposium Computer
Music. 23 a 25 de novembro de 2015. Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP.
Campinas, 2015, p. 151-158.
VILELA, Ana Luisa Miranda. O Mecanismo da Visão. Bioloja materiais didáticos.
Disponível em: http://www.afh.bio.br/sentidos/sentidos2.asp. Acesso em 13/12/2016.

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