A Importância das Missões de Paz para a Defesa Nacional
É importante mencionar que desde o início do século XX, diversos países
contribuíram em operações para manutenção da paz, sendo no âmbito da Liga das Nações, da ONU ou em Forças Multinacionais sem aval de uma organização internacional específica. Porém, o Brasil é um país com participação pioneira no emprego de suas forças armadas no exterior sob a égide e os auspícios de uma organização internacional. O início da participação brasileira em missões para manutenção da paz pôde ser marcado em dois episódios: o primeiro pela presença de um oficial da Marinha (Capitão-de-Fragata Alberto de Lemos Bastos) na Comissão da Liga das Nações responsável pela administração da região de Letícia entre 1933 e 1934. O segundo episódio em que o Brasil esteve presente em uma OP remonta à 1947, quando três oficiais, um da Marinha, um da Força Aérea e outro do Exército foram enviados na Comissão das Nações Unidas para os Balcãs, que operou na Grécia entre os anos de 1947 e 1951 (FONTOURA, 1999). Ademais, o Brasil também esteve envolvido em outras operações fora do âmbito da ONU, como na força montada pela OEA em 1965 para garantir a paz na República Dominicana, na fronteira entre Equador e Peru entre 1995 e 1999 e na Força Multinacional criada pelo Conselho de Segurança e enviada ao Timor Leste em 1999 (MINISTÉRIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES). Atualmente, o Brasil já soma uma participação em mais de 50 missões para manutenção da paz ou similares, sejam elas no âmbito da ONU ou não, tendo contribuído com um contingente de mais de 50 mil militares, policiais e civis (MINISTÉRIO DA DEFESA). Porém, a participação brasileira nessas operações não se restringe apenas ao envio de pessoal para terreno conflitoso. O Brasil também participa ativamente do Comitê Especial sobre Operações de Manutenção de Operações de Paz da Assembleia Geral das Nações Unidas (FONTOURA, 1999). Toda essa disposição brasileira acabou por revelar uma certa inclinação do país e um desejo de uma maior contribuição para o sistema de segurança coletiva (NASSER, 2012). De acordo com o diplomata Filipe Nasser (2012), há uma relação causal entre o aumento da participação brasileira nas operações de paz e a ascensão do país na hierarquia informal das relações internacionais. É possível identificar que nas últimas duas décadas o Brasil tem se tornado um ator cada vez mais importante no cenário do peacekeeping internacional, o que levanta uma discussão sobre o papel do país na segurança internacional. A posição do Brasil na segurança internacional pode ser representada por sua pretensão em modificar seu status quo no cenário internacional. Porém, mesmo reconhecendo seu papel de coadjuvante e tendo a limitação de recursos para questões de segurança interna como um problema, o país tem feito acertos significativos nos seus cálculos de política externa ao usar as operações de paz como instrumento de ação para se projetar como um global player. E, apesar de ainda ter um atuação coadjuvante na segurança internacional, o Brasil mantém sua pretensão de buscar uma maior distribuição de poder sem que seja necessário contestar alguma potência (COSTA VAZ, 2007). Dessa forma, os critérios de participação do Brasil nas operações de paz passaram a ser adotados de acordo com os princípios e diretrizes de sua política externa (FONTOURA, 1999; NASSER, 2012), dando ao país um maior impulso para sua inserção e participação mais ativa no cenário internacional. Porém, para o General João Henrique Carvalho de Freitas (2007) há uma necessidade de uma unificação da Doutrina das forças visando o aumento da eficiência nessas operações, possibilitando um conhecimento comum de todos os integrantes das forças para viabilizar um maior poder de combate e a projeção de poder do país. Além do âmbito internacional, as forças armadas brasileiras atuam também no cenário doméstico com o objetivo de pacificar zonas em conflito. Porém, diferente do que é visto na atuação brasileira no exterior, onde o país mantém uma doutrina de peacekeeper, a atuação das forças armadas em território nacional se dá de uma forma muito mais dura, aos moldes do que se conhece por peace enforcement. Essas operações são conhecidas pela alcunha da Garantia da Lei e da Ordem, previstas e explicadas pelo Livro Branco de Defesa Nacional (2012). Porém, de acordo com o General Henrique (2007) - 3º Contingente brasileiro para a MINUSTAH – durante palestra proferida no VI Encontro Nacional de Estudos Estratégicos, o envio de soldados brasileiros para atuação em solo libanês na UNIFIL não seria possível por se tratar de uma situação de imposição da paz, o que iria de encontro com a doutrina de manutenção da paz praticada pelo Brasil. Além do mais, apesar de considerar a experiência do Brasil em operações no exterior como um ponto positivo a ser utilizado nas intervenções de GLO, estas deveriam ser utilizadas no adestramento da polícia na repressão ao crime. Assim, o que justifica essa dualidade na doutrina de atuação das forças armadas brasileiras dentro e fora do país, exercendo aqui papel de polícia e atuando como operadores de peace enforcement e não de peacekeeping?