Professional Documents
Culture Documents
A∴ R∴ L∴ M∴ Bandeirantes, 103
setembro.2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
Geometria Sagrada
“O homem é a medida de todas as coisas.
Dos seres vivos que existem e das não-entidades que não existem.”
Protágoras (481 – 411 a.C.)
A Geometria existe por toda a natureza; a sua ordem subjaz à estrutura de todas as
coisas, das moléculas às galáxias, do vírus à maior baleia. E o homem, por sua vez,
mesmo distanciado do mundo natural, está amarrado às leis naturais do universo.
Assim, desde os tempos mais antigos, os artefatos que conscientemente planeja
têm se baseado num sistema geométrico. Tal sistema, muito embora inicialmente
derive de formas naturais, freqüentemente as ultrapassa em complexidade e em
engenhosidade, muitas vezes dotado de poderes mágicos e de profundo
significado simbólico e psicológico.
A Geometria, que deve ter sido uma das primeiras manifestações de civilização em
seu nascedouro, tornou-se um instrumento fundamental a tudo o que é feito por
mãos humanas, a partir de habilidades primitivas: as da percepção e as da
manipulação da medida.
No passado mais remoto, juntamente com Ciência e Religião, das quais era
inseparável, ela fazia parte do conjunto de atributos só possuídos pelo sacerdócio,
cujos membros eram os únicos a quem se permitia a interpretação dos oráculos, das
tempestades, ventos, terremotos e demais manifestações do Universo.
2/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
“As linhas geométricas falam a linguagem da crença; da crença forte,
apaixonada, duradoura. Nelas, as leis eternas da proporção e da simetria
reinam supremas. O ciclo daquilo que é gerado divinamente está reproduzido
na linguagem numérica do coro, do transepto, da nave, do corredor, do portal,
da janela, da coluna, da arcada, do frontão e da torre. Todas as características
tem sua unidade de medida e seu simbolismo místico.”
Hermon Gaylord Wood – Ideal Metrology
Segundo Joseph Hamill (The Craft, 1986), “Para James Anderson, os termos
Geometria, Arquitetura e Maçonaria eram sinônimos, sendo que esta última seria
destinada à construção do edifício moral da sociedade humana, promovendo o
Aperfeiçoamento Moral e Intelectual do Homem, atuando na edificação da da
Humanidade e da Fraternidade Universal”.
3/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
Antes de discorrer sobre suas obras notáveis, temos que nos ater ao homem que as
concebeu, construiu e empreendeu. Resumindo, Gaudí:
•
A partir de 1883, destacam-se inúmeras obras notáveis de sua autoria, que se deram de
repente e subseqüentemente:
• a “Casa Vicens”, de influência estilística mourisca 1883 a 1888);
• a reforma da “Casa Batló”, em Barcelona (1904 a 1906);
• a “Casa Bellesguard”, em Sant Gervasi, (1900 a 1909);
• “El Capricho”, em Santander (1883 a 1885);
• o “Palácio Güell” (1886 a 1888);
• a “Casa Botines”, em Léon (1892);
• a “Casa Calvet”, em Barcelona, (1897 a 1900);
• a “Casa Milà” (La Pedrera), em Barcelona (1906 a 1910);
• a “Finca Miralles” (1884 a 1887);
• o “Conventoi da teresianas” (1889 a 1891);
• o “Palácio Episcopal”, em Astorga (1887 a 1893);
• a restauração da Catedral de Mallorca (1903 a 1904); e
• o assombroso Parque Güell, em Barcelona (1901 a 1914);
entre inúmeras outras.
Entretanto, a partir de 1914, Gaudí não aceita mais qualquer encomenda que o afastasse
do seu magistral “Templo da Sagrada Familia”, tarefa a que se dedicou até falecer.
4/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
Destaque-se que:
• Gaudi jamais desejou a notoriedade. Austero, por vezes até intratável, inadaptado
aos “cânones” deste mundo; aos seus olhos, mesquinhos e medíocres, parecia, até,
“não ter educação alguma!…”; um enorme e desconcertante contraste com a
fluidez sutil de sua arte e, decerto, com a prodigalidade da sua vida interior.
• Sua vida e a sua obra apresentaram diametrais contradições. Na vida pessoal
foi um conservador; mas um subversivo na dimensão artística. Sem dúvida, a
linguagem de sua estética era sem submissões, sem trocadilhos ou “pedidos de
desculpa”. Um mímico da Natureza !
• É difícil descrever, em palavras, o assombro que causa o imaginário arquitetônico
de Gaudi que, por suas assimetrias concertadas, num eixo visionário e prodigioso,
nos lança a outro universo dimensional, de arrebatadoras e inimagináveis
proporcionalidades.
• Templos com fulgor de catedrais, castelos, torres, edifícios palacianos, jardins
miríficos. Nada foi demais, tudo coube em seu universo prodigioso.
• E sempre, sempre, estruturas ondeantes - algumas, quase etéreas, de contornos
fugidios - que, teimosamente, não se prendem à forma fixa e linear, porque, como
ele costumava dizer: “A linha reta é do homem, a curva pertence a Deus…”.
• Em 1886, inicia uma nova etapa na sua carreira. Assume-se naturalista convicto e
livre; mestre das sínteses, promotor de insuspeitadas harmonias; tudo por sua
autenticidade como amante da Natureza e um de seus intérpretes mais devotos.
• Realizou obras mágicas; espaços lavrados e acariciados pela visão do Mestre,
tornados prolíferos de cor, forma, textura - e de mensagem !
Suas obras mais importantes, ficaram inacabadas, o que, porém, não impediu que
fossem validadas como Patrimônio da Humanidade.
Desdenhado por muitos historiadores da arte, teve sua estética como fonte
inspiradora para muitos dos grandes vultos da Matemática e das Artes, cultores
devotos da ordem e da harmonia, todos admiradores confessos de seu gênio.
Como exemplos encontramos: Walt Disney, com o mundo encantado que criou…,
V. Fleming e K. Vidor (cujos inesquecíveis cenários de “O Mágico de Oz” foram
inspirados na concepção arquitetônica de Gaudí), Salvador Dalí, os arquitetos
Le Corbusier, Rudolf Steiner e o nosso Oscar Niemeyer, entre muitos, muitos outros.
Gaudí também manteve ligações com muitas das idéias e membros da ‘Bauhaus’,
inovadora Escola Alemã de Arquitetura, Artes e Ofícios nascida pós-guerra de 1914,
que congregou inúmeros adeptos de uma peculiar e vanguardista filosofia da arte
que, também deteve um impulso e uma atividade de foro ocultista.(*1)
(*1) Para uma abordagem visual mais rica e abrangente da obra de Gaudi, visite os inúmeros sites e
‘blogs’ especializados que nos oferecem centenas de fotografias de excelente qualidade.
5/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
A obra da ‘Sagrada Família’ iria servir, no futuro, como paradigma para as normas
atuais de construção que utilizam esta técnica, e para o dimensionamento das
seções que definem os aspectos interiores e exteriores que ambicionem a beleza
dos elementos do projeto de Gaudí.
Seu projeto, em grande parte perdido na Revolução Espanhola dos anos ´30, foi
posteriormente recuperado por seus seguidores. Ele apresentava três grandes
fachadas orientadas de acordo com os pontos cardeais:
- A da Natividade, que Gaudí quase viu terminada;
- A da Paixão, somente iniciada em 1952; e
- A da Ressurreição de Cristo.
6/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
Desde o início de seu projeto, o Templo da Sagrada Família sempre teve caráter
‘expiatori’, significando que sua construção fez-se e faz-se exclusivamente a partir
de doações, o que a postergará até por volta de 2025. Neste sentido, Gaudí dizia:
“O Templo Expiatório da Sagrada Família é feito pelos pobres e neles se apóia. É
uma obra que está nas mãos de Deus e na vontade do pobre”.
De aparência fantástica, onírica, surreal obra seduz pela ousadia das formas e pelas
soluções estruturais utilizadas, numa obra de 110,0 m x 80,0 m x 170,0 m de altura.
Gaudí não poupava esforços, ousava tanto no uso de técnicas quanto no uso de
materiais, para dar asas à sua imaginação e realizar sua visão eclesiológica de que a
Igreja foi fundada sobre uma pedra e em rocha se transformou.
É em função dela que Joan Bassegoda, atual responsável pela Cátedra Gaudí
(criada em 1956 e instalada em 1977 no Parque Güell) nos diz:
“Talvez mais do que um templo católico apostólico romano, a Sagrada
Família respira filosofia oriental. Ela é a ilustração do Grande Livro da
Natureza criada por Deus, e que só cabe ao homem copiar…”.
7/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
O SIMBOLISMO CRISTÂO
Este esteve sempre presente na obra de Gaudí, mas o exemplo mais evidente de
sua aplicação é o ‘Templo da Sagrada Família’ cujos exterior e interior representam
a vida humana do Cristo – do nascimento à morte - e a história da Fé.
- Simbolismo Estrutural
No Templo Expiatório da Sagrada Família, ao contrário do que tradicionalmente
fazem os arquitetos, Gaudí não apenas soube empregar elementos decorativos
para expressar a liturgia, como também para utilizá-los na estrutura
arquitetônica. Isto significa que, para expressar o simbolismo Cristão, ele serviu-
se tanto de elementos construtivos, quanto dos de acabamento.
Cripta
Esta planta subterrânea define a disposição do Abside da planta superior. Seu
interior foi construído por paredes robustas, arcos e colunas correspondentes a
uma zona acima do nível da terra, que suporta a estrutura superior.
Fachada da Natividade
Este acesso lateral ao templo foi o primeiro construído e o único que Gaudí viu
terminado em vida. Orientada para o Leste (Oriente), frente ao nascimento do
Sol, expressando estar diante do nascimento da vida. Ela representa a parte
humana de Jesus, representando seu nascimento, infância e adolescência,
celebrando seu nascimento sob a forma de uma natureza exultante sobre uma
base gótica.
Por ela se acessa o Templo a partir de uma porta central e duas portas laterais
dedicadas à Fé, a Esperança e a Caridade, que são particularmente importantes
em analogia a Jesus, José e à Maria (ou Sabedoria, Força e Beleza). Em sua parte
mais alta se encontram quatro campanários dedicados aos apóstolos São Judas,
São Barnabé, São Simão e São Mateus.
8/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
Fachada da Glória
É a fachada principal do templo. Ela representa a situação do homem diante da
ordem geral da criação: sua origem, comportamento problemático, e caminhos
que deverá seguir vida afora. Da mesma forma que nas demais, nela incluíram-se
três acessos – um principal dedicado à Caridade e dois laterais dedicadas à
Esperança e à Fé – e uma galeria de entrada composta de sete colunas que
simbolizam os sete dons do Espírito Santo, representando as virtudes opostas
aos sete Pecados Capitais.
Esta fachada terá diversos elementos esculpidos e, em sua parte superior, como
cobertura do átrio, nuvens de pedra enfileiram-se através de quatro campanários
nas quais subsiste o Credo escrito em grandes caracteres. Os campanários serão
consagrados aos apóstolos Santo André, São Pedro, São Paulo e São Jaime.
Fachada da Paixão
É outra fachada construída seguindo o projeto original de Gaudí. Nela, o
arquiteto permitiu serem deixadas indicações para a parte decorativa, prevendo
que as demais gerações por vir, as fariam intervenções segundo a prática e os
gostos estéticos futuros, como é o caso da decoração escultórica de José Maria
Subirats e dos vitrais de Joan Vila-Grau. Note-se aqui o espírito humilde de
Gaudi, compartilhando sua tarefa com as gerações futuras.
Abside
A Abside é um local bastante reservado, nos templos antigos é um recinto semi-
circular (exatamente como um Templo Maçônico deveria ser), onde ficavam
as estátuas dos deuses. Nas basílicas cristãs é a cabeceira da igreja, onde fica o
oratório reservado, atrás do altar-mor. Na ‘sagrada Família’ é consagrada à
Virgem Maria, pela qual Gaudí tinha uma devoção especial, estando construída
sobre a Cripta e seguindo sua forma de meia circunferência.
9/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
Entre seus muros se destacam sete capelas com esbeltos vitrais em arcos
pontiagudos recordando os de estilo gótico que Gaudí aperfeiçoou.
No exterior encontram-se diversas esculturas, dedicadas aos fundadores de
Ordens Religiosas, Santo Antonio Abade, São Benedito, Santa Escolástica, São
Bru, São Francisco, Santo Elias e Santa Clara.
Claustro
O Claustro do Templo tem uma disposição completamente original na história da
arquitetura cristã, pois não forma o Átrio como nas basílicas latinas nem está às
costas da igreja como nos monastérios beneditinos e catedrais medievais.
O Claustro circunda o templo e é interrompido apenas pelas portas do Abside, de
modo que atua como um muro protetor que custodia o interior do templo e o
separa do ruído externo. Neste sentido, se pode dizer que Gaudí utiliza com
precisão o significado da palavra “claustro” significando “interceptar“.
Cada intersecção do Claustro possui uma fachada com uma porta ornamentada,
dedicada à uma evocação diferente à mãe de Deus. Em cada ponto onde o
Claustro faz uma esquina encontra-se três obeliscos. Cada um desses grupos
simboliza um ponto cardeal, uma virtude e uma Têmpora, um agradecimento que
a cada estação fazem os pobres em agradecimento pelos frutos da terra.
Capela e Sacristias
Na fachada do Abside se construiu a Capela da Assunção, dedicada à Assunção
da Virgem Maria, mãe de Jesus de Nazaré, especialmente venerada na Catalunha.
Nau Central e Naus Laterais
O Templo da Sagrada Família possui uma planta basilical com cinco naus; a
central com um alcance de 45 m e as laterais com 29 m., suportadas por um
conjunto de colunas completamente novas na história da arquitetura.
10/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
A cobertura da Nau Central, vista do interior, estará coroada por uma edícula que
suportará luminárias com anagramas da Sagrada Família. Cinco grandes escudos
parabólicos, postados lado a lado, respectivamente portando a palavra “Amém”, e
as sílabas “Al”, “le”, “lu” e “ia”. As grandes colunas que suportam a cobertura
também representam os apóstolos e as igrejas de todo o mundo, destacando-se as
de São Pedro e São Paulo encontradas na conjunção com a abside que une o Arco
Triunfal e o Calvário.
Cibórios
Os Cibórios, segundo palavras de Gaudí, são a exaltação do Templo. As seis que
se constroem estarão agrupadas em um conjunto monumental e serão visíveis
desde o exterior, graças a grandes torres. O do centro estará dedicado a Jesus
Cristo e medirá 170 m de altura; os quatro à sua volta, dedicados aos
Evangelistas, terão 120 m; e o da Abside, dedicado à mãe de Deus, também 120 m
de altura. Este último será acabado pelos símbolos dos evangelistas – o
Tetramorfos (um anjo, um touro, um leão e uma águia) que, à noite, emite feixes
de luzes que iluminam o templo e o cibório central, dedicado a Jesus Cristo, que
está coroado por uma enorme cruz de 15 m de altura. Em suas bases se
destacam as letras ‘alfa’ e ‘ômega’ símbolos do início e do fim da vida e, na parte
alta de cada um, inscrições de cerâmica com as expressões “Amém” e “Aleluia”.
Campanários
O templo terá 18 campanários, alguns com sinos no interior. Os das fachadas
representam os 12 apóstolos e medem 112 m (os centrais) e 98 m (os laterais).
Em sua parte superior se lerá “Hosana” e “Excelsis” em cerâmicas coloridas.
Os campanários serão acabados por terminais de 25 m de altura, adornados por
mosaicos geométricos policromáticos de cores e formas surpreendentes. Neles,
Gaudí reuniu os símbolos episcopais: a mitra, o báculo, o anel e a cruz, para
indicar que foram os bispos que substituíram os apóstolos na tarefa de
proclamação da fé, pretendendo demonstrar o desejo servir de união entre a
Terra e o Céu de sua obra.
11/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
Das dezoito torres sineiras do complexo, oito (que estão entre as menores) estão
concluídas, faltando as restantes, que serão as mais laboriosas. Estas rendadas
torres-agulheiras, com seus sinos, mais parecem uma singular e sutil instrumentação
para músicos celestes, sugerindo e oferecendo uma poética sinfonia, um louvor e
uma exaltação criativa, em sua disposição e elevação aos céus…
Com denodada aversão à retilinearidade, a cantos e arestas, do mesmo modo, no
seu interior, as ogivas góticas - por sobre as rosáceas - são encurvadas, as arestas
esmaecidas. A impressão é indescritível; suave, acariciadora… e de integração, de
comunhão e de fusão.
Em cada uma delas figurarão as quatro torres dedicadas aos doze apóstolos. Além
daquela em louvor à Virgem, situar-se-á outra, sobre a Abside e na direção do
altar-mor e, sobre o cibório, ainda outra, erigida em louvor ao Cristo, rodeada das
quatro menores com o Tetramorfo (leão, touro, anjo e águia), simbolizando os
Evangelistas. E mais um sem fim de elementos orgânicos da Natureza, ainda
brotarão, emergindo da matéria.
Neste extraordinário Templo - obra de sua vida - Gaudí fez questão que cada
elemento fosse portador de uma tocante comunicabilidade simbólica. Deixou-nos
uma obra que fala e que vibra, numa “policromia dos sentidos” que nos exalta e
nos eleva, pela mão, até à quase intangibilidade da Procura . . . ou do Ser.
12/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
Gaudi e o Esoterismo
Que Gaudí era católico praticante e devoto não existe qualquer dúvida. Assim,
como muitos símbolos por ele utilizados. Entretanto, existem muitos outros
símbolos presentes em sua obra : o ‘X’, os pingentes, o compasso, os elementos
alquímicos, a serpente vertical, etc., que deixam o domínio da simbologia católica e
da explicação que lhes são estritamente atribuída.
Assim, é válido dizer que Gaudí experimentou uma visão autônoma no campo da
espiritualidade, situando-se não no seio da ortodoxia católica, mas numa prática
energizada pelo catolicismo.
É necessário observar que as construções de Gaudí são ricas em sinais e símbolos,
todas elas patrimônio de algumas sociedades herméticas. Todas as biografias de
Gaudí estão de acordo com que, no decorrer de sua juventude, o arquiteto de
interessou por idéias sociais avançadas de Fourier e Ruskin, e se fez presente nos
encontros dos movimentos sociais mais avançados da época.
Algumas biografias de Gaudí argumentam que ele teria sido iniciado maçom e que
algumas de suas obras, como a da "a Sagrada Família" e do "Parque Güell" fazem
referência a inúmeros símbolos de nossa Ordem.
O escritor Joseph Maria Carandell em sua obra «Parque Güell, utopia de Gaudí»,
observa inúmeros detalhes com evidente origem maçônica e rejeita o argumento
de “falta de provas, originárias de uma sociedade secreta”, provavelmente ligada à
Maçonaria inglesa. Mas, Carandell não está só, ao traçar um retrato de Gaudí não
exclusivamente e apenas de um católico: o primeiro a falar da Maçonaria de Gaudí
foi o escritor anarquista Joan Llarch, em seu livro “Gaudí, uma biografia mágica”
no qual chegou a cogitar que, se assim não fosse, Gaudi estaria sob influência de
alucinógenos ao criar as formas características de sua arquitetura.
Eduardo Cruz, outro de seus biógrafos, afirma que, com exceção dos Rosa-Cruzes,
muitos chegaram a insinuar que ele teria tendências panteístas e ateístas.
Os detratores destas teorias afirmam que um cristão como Gaudí não poderia de
forma alguma ser Maçom, pois a Maçonaria não se interessaria pelo que se
denomina “outra via da alma”, e crê que o homem não é nem o corpo morto, nem
a alma. De onde a contradição com a doutrina católica, que crê na transcendência
e na ressurreição da alma.
13/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
Um Olhar Esotérico
Gaudi mostrou-se um mestre na utilização dissimulada de símbolos esotéricos em
suas obras. Todos os livros ocultistas sobre Barcelona mostram que existem
símbolos para satisfazer a todas as linhas de pensamento: um pouco de alquimia,
um pouco de maçonaria, de hermetismo, outro tanto de fundamentalismo com
conexão a diversas seitas católicas, etc.
Localizando os sete monumentos principais de Gaudi no mapa de Barcelona,
veremos que eles formam a constelação da Ursa Maior. Coincidência?
Talvez, entretanto, na grade da porta de entrada da Finca Güell encontra-se o
famoso dragão a meio de sete círculos dispostos como a constelação.
Num olhar com viés esotérico ao Templo da Sagrada Família encontramos, na
Fachada da Paixão, por exemplo, alguns enigmas sem uma explicação clara:
- Esta fachada, que é a mais interior, a da dor e da morte, do calvário e da
crucificação e, portanto, aquela na qual se utilizaria mais elementos
componentes da ortodoxia cristã. Sobre ela foi esculpido um Cavaleiro
Templário. O que ele significa? Seria uma referência à Ordem dos Cavaleiros
do Templo ou à Ordem R∴ C∴?
- Entrando-se no templo, haveremos de passar por debaixo de dois triângulos
invertidos, que é um sinal esotérico, representando o Universo pelo fogo,
terra, água e ar, como apresentado pela iconografia alquímica.
- À esquerda do pórtico de entrada, encontra-se o Quadro Mágico de Durero,
que é um quadrado dividido em dezesseis células contendo cifras que,
somadas em qualquer direção, sempre resultam em ‘33’ que são: o número de
Céus no Livro dos Mortos egípcio, o número de voltas sequenciais do DNA e
de vértebras humanas, a idade de Cristo ao morrer, os Cânticos da Divina
Comédia, os graus do REAA da Maçonaria, os degraus da Escada de Jacó, etc...
- À direita da fachada acha-se esculpida uma escada que desemboca num
labirinto. Aqui existe um total de 21 degraus, os vinte e um arcanos maiores
do Tarô que, combinados, oferecem todos os aspectos possíveis da vida.
- E ainda, outra imagem esotérica evidente: trata-se de um homem que carrega
uma cruz, da qual só se vê a metade, pois que um dos braços está enterrado.
Esta imagem é interpretada como um claro símbolo maçônico: um Esquadro
de 45o.
14/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
Outros Símbolos
Entre outros inúmeros outros exemplos de simbolismo esotérico utilizado por
Gaudí relativos à Maçonaria, à Alquimia e ao Hermetismo, destacam-se:
15/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
A Cruz orientada em seis direções
Este elemento se encontra na maioria das construções de Gaudí se assemelha a
um tipo de obsessão. É a representação de um princípio enraizado nas crenças
que mais ocorrem, e formalmente, no campo da Igreja Católica Romana.
Gaudí utilizou duas técnicas para realizar a cruzes orientadas em seis direções:
- Encontramos a primeira no Convento das Teresianas que é, igualmente, um
desenvolvimento evidente da pedra cúbica; de cuja projeção ela procede.
- Em “Turú de las Menas”, se observa as seis direções do espaço
decompostas, duas a duas, graças a duas cruzes, uma no eixo Leste - Oeste,
e outra no eixo Norte - Sul.
- No “Parque Güell”, encontram-se três cruzes que não são outras que duas
letras ‘Tau’ gregas, cada qual presa a um cubo superposto por sua pirâmide.
Elas indicam as direções Norte – Sul e Leste – Oeste e, entrelaçadas, nos
indicam os quatro pontos cardeais. A terceira cruz, na verdade, é uma seta
que indica uma direção ascendente.
A Cruz de Tau, ou simplesmente o Tau, que é uma cruz sem cabeça em
forma de ‘T’ invertido, é um símbolo de origem ancestral(2), uma das mais
antigas representações da cruz, e simboliza o direcionamento da mente para
o bem através da luz, da verdade, da palavra, do poder, e da força. A Cruz de
Tau simboliza também o tempo e a eternidade.
A Cruz de Tau se forma a partir da convergência de uma linha vertical e
outra horizontal, simbolizando o encontro entre o divino e o humano.
No seio da Maçonaria, o ‘Tau’ tem um simbolismo especial. Ele representa,
de um lado, a Mathusael, filho de Caïn que criou este símbolo a fim de
reencontrar seus descendentes. De outra parte, ele será o sinal de
reconhecimento realizado pelo oficiante, com a mão direita, na Cerimônia
de Acesso ao Grau de Mestre. Na Maçonaria Inglesa, o Tau é tão altamente
estimado, que, além de estar presente no avental de um Mestre Instalado, a
ele se referem como “emblema de todos os emblemas” e o “Emblema da
Maçonaria do Real Arco”.
O ‘X’
Este símbolo encontra-se na Cripta da Colônia Güell, onde está presente por
três vezes, igualmente sobre o portal da Natividade da ‘Sagrada Familia’, na
cruz que coroa a Árvore da Vida sobre a qual se encontra um grande ‘X’.
Na simbologia da Maçonaria o ‘X’ tem uma grande importância na geometria
sagrada, pois este símbolo é obtido sobre a base de um hexágono regular ,
formando o perímetro interior de dois triângulos eqüiláteros, os quais definem
a Estrela de David, que será a notação alquímica dos quatro elementos básicos.
16/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
A Salamandra e as Chamas
O círculo encontrado sobre o degrau de entrada do Parque Güell inicialmente
recebeu uma interpretação patriótico-nacionalista, mas não existe razão alguma
para que Gaudí fizesse uma demonstração pública de qualquer coisa que fosse
secundária na hierarquia de suas aspirações e convicções.
17/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
O Lagarto
Este animal descende de Athanor, como o disco acima referido e que é visto
como uma salamandra, um iguana, quase um crocodilo, mas sem a sua
característica mais importante que é a sua sinuosidade.
Ele decorre de uma imagem estética que sugere uma impressão de movimento
especialmente denunciada, uma representação do espírito original (Mercúrio),
uma reiteração das funções do Athanor, ou seja, operar a separação, decantar
as partes fixas do mineral das partes voláteis (lembra os passos dos CComp∴).
O Dragão Igneo e o Labirinto
A imagem do Dragão também é uma constante na obra de Gaudí. Ela se
relaciona certamente a uma imagem associada a Jorge da Capadócia, que
também é padroeiro da Catalunia. Diferentemente de outros arquitetos
modernistas, Gaudí o representa sempre de modo solitário.
O Dragão sobre a grade dos Pavilhões Güell é inspirado na "Atlântida" de
Verdaguer; ele provém de um dragão acorrentado que guarda o aceso aos
Jardins das Hespérides (Jardim dos Imortais guardados elas ninfas).
18/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
19/20 setembro/2016
Gaudí, o Templo da Sagrada Família e a Maçonaria M∴ M∴ Octaviano Galvão Neto
Referências Bibliográficas:
– “Geometria Sagrada”; de Nigel Pennick, Editora Pensamento, São Paulo, 1980.
– “Gaudí - Su Vida, su Teoría, su Obra”; de Cesar Martinell, COACB, Barcelona, 1967.
– “El Modernismo en España; de Mireia Freixa, Editorial Cátedra, Madrid, 1986.
– “Gaudí e a Síntese Naturalista do Sagrado”; de Fábio Miller.
– “La Clau Gaudí - Els Secrets d’un Temple” ; de Esteban Martín e Andreu Carranza (Catalão).
– “Cuadernos de Arte España″; de Angel Urrutia Natilde – vol. 4º. “Historia Viva”, Madrid, 1991.
– “A Linha Reta é do Homem, a Curva Pertence a Deus”; Isabel Nunes Governo, Centro Lusitano de
Unificação Cultural, 2004.
– “Gaudí et la Franc-Maçonnerie”, La Vanguardia Numérique, Paris, 2008.
– Site oficial da Fundação da Junta Construtora do Templo da Sagrada Família,
http://www.sagradafamilia.cat
– Antoni Gaudi – God’s Architect , http://www.youtube.com/watch?v=FHXGKROfjuw&feature=related .
– Diversos outros sites na Internet.
20/20 setembro/2016