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AGRAVO INTERNO EM APELAÇÃO CÍVEL Nº 2001.51.01.

524094-2/RJ

RELATOR : JUIZ FEDERAL CONVOCADO ALUISIO GONÇALVES


DE CASTRO MENDES EM AUXÍLIO AO
DESEMBARGADOR FEDERAL ABEL GOMES
AGRAVANTE : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS
PROCURADOR : ISABELLA CARVALHO DO NASCIMENTO
AGRAVADO : MESSIAS PEREIRA

APELANTE : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL – INSS


PROCURADOR : ISABELLA CARVALHO DO NASCIMENTO
A
APELADO : MESSIAS PEREIRA
ADVOGADA : HELEN NOGUEIRA E OUTRO
REMETENTE : JUIZO DA 33ª VARA FEDERAL /RJ

RELATÓRIO

Trata-se de agravo interno interposto pelo INSTITUTO


NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS (folhas 287/288) contra a r.
decisão de folhas 272/279, que negou provimento à apelação cível do INSS
e à remessa necessária, com base no art. 557, caput, do CPC, mantendo a
sentença de primeiro grau, que julgou procedente o pedido do autor,
objetivando a concessão de aposentadoria por tempo de serviço,
considerando-se o tempo trabalhado em atividades especiais.
O agravante requer a reforma da decisão, alegando que a
conversão do tempo de serviço especial em comum há de ser feita com base
na lei vigente à época do labor, devendo, portanto, ser utilizado como fator
de conversão o coeficiente de 1,2, conforme o Decreto 83.080/79.

É o relatório. Em mesa para julgamento.

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AGRAVO INTERNO EM APELAÇÃO CÍVEL Nº 2001.51.01.524094-2/RJ

ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES


Juiz Federal Convocado
Relator

VOTO

I – DO HISTÓRICO LEGISLATIVO DA APOSENTADORIA


ESPECIAL.

A aposentadoria especial foi instituída pela Lei nº 3.807 de 26 de


agosto de 1960, para o segurado que tivesse cinqüenta anos ou mais de idade
e quinze anos de contribuição, além de ter trabalhado durante quinze, vinte
ou 25 anos, pelo menos, conforme atividade profissional, em serviços que
fossem considerados penosos, insalubres ou perigosos. Posteriormente, o
Decreto nº 53.381/64 regulamentou o aludido diploma legal, criando o
quadro anexo que estabelecia a relação entre os serviços e as atividades
profissionais classificadas como insalubres, perigosas ou penosas, em razão
da exposição do segurado a agentes químicos, físicos e biológicos, com o
tempo de trabalho mínimo exigido, nos termos do art. 31 da mencionada
Lei, que determinava, ainda, que a concessão da aposentadoria especial
dependeria de comprovação, pelo segurado, do tempo de trabalho habitual e
permanente prestados em serviços dessa natureza.

Ressalte-se que a Lei nº 5.527/68, de 08 de novembro de 1968,


veio a restabelecer o direito à aposentadoria especial às categorias
profissionais que até 22 de maio de 1968 faziam jus à aposentadoria de que
tratava o artigo 31 da Lei nº 3.807/60, em sua primitiva redação e na forma
do Decreto nº 53.831 de 24 de março de 1964, que haviam sido excluídas do
benefício por força da nova regulamentação aprovada pelo Decreto nº
63.230 de 10 de setembro de 1968, o que assegurou, naquela altura, a
preservação do direito em tela.

Há que se mencionar, também, a Lei nº 5.890 de 08 de junho de


1973, que estendeu às categorias profissionais de professor e aeronauta o
direito de serem regidas por legislação especial (art. 9º). Em seguida,

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sobreveio o Regulamento dos Benefícios da Previdência Social – RBPS,


aprovado pelo Decreto nº 83.080, de 24 de janeiro de 1979 que, além de
fixar regras atinentes à carência, tempo de serviço e conversão para fins de
aposentadoria especial (artigo 60 e seguintes), estabeleceu uma unificação
com o quadro do Decreto nº 53.831/64, criando, então, os anexos I e II, que
tratavam, respectivamente, da classificação das atividades profissionais
segundo os agentes nocivos, e da classificação das atividades profissionais
segundo os grupos profissionais, sendo que a inclusão ou exclusão de
atividades profissionais dos citados anexos seria feita por decreto do Poder
Executivo, e as dúvidas eventualmente surgidas sobre o enquadramento,
seriam dirimidas pelo Ministério do Trabalho.

Merece, igualmente, menção o Decreto nº 89.312, de 23 de janeiro


de 1984, que expediu nova edição da Consolidação das Leis da Previdência
Social, dando ênfase às categorias profissionais de aeronauta, jornalista
profissional e professor, em especial os seus artigos 35 a 38.

Na égide da atual Constituição Federal, a Lei nº 8.213, de 24 de


julho de 1991, que dispõe sobre O Plano de Benefícios e Custeio da
Previdência Social, não inovou o seu texto original, quanto aos critérios
relativos à concessão da aposentadoria especial. O Decreto nº 611, de 21 de
julho de 1992, reiterou o disposto nos anexos I e II do Decreto nº 83.080/79
e no anexo do Decreto nº 53.813/64, conforme previsto em seu artigo 292, a
saber: “Para efeito de concessão das aposentadorias especiais serão
considerados os Anexos I e II do Regulamento dos Benefícios da
Previdência Social, aprovado pelo Decreto nº 83.080 de 24 de janeiro de
1979, e o anexo do Decreto nº 53.831 de 25 de março de 1964, até que seja
promulgada a lei que disporá sobre as atividades prejudiciais à saúde e à
integridade física”.

Todavia, a Lei nº 9.032, de 28 de abril de 1995, alterou de forma


conceitual a Lei nº 8.213/91, ao suprimir do caput do art. 57 o termo
“conforme atividade profissional”, mantendo, apenas o requisito das
“condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade físicas”.

Sobreveio, então, o Decreto nº 2.172, de 05 de março de 1997, que,


em seu artigo 62 e seguintes, dispôs sobre a necessidade de apresentação dos
formulários estabelecidos pelo INSS e emitidos pela empresa ou preposto,

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com base em laudos técnicos de condições ambientais do trabalho,


expedidos por médico do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho,
com o fim de demonstrar as condições especiais prejudiciais à saúde ou à
integridade física.

Nessa linha de acontecimentos, a Lei nº 9.528, de 10 de dezembro


de 1997, dando nova redação ao artigo 58 da Lei 8.213/91, estabeleceu que a
relação dos agentes nocivos químicos, físicos e biológicos ou associação de
agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física considerados para fins de
concessão de aposentadoria especial, seria definida pelo Poder Executivo.

Sucede que a Lei nº 9.711, de 20 de novembro de 1998, por seu


artigo 28, revogou, tacitamente, o § 5º do artigo 57 da Lei nº 8.213/91, já
com a redação dada pela Lei nº 9.032/95, o que limitou a possibilidade de
conversão ponderada do tempo de serviço especial à data de 28 de maio de
1998.

Em outra perspectiva, visando a identificar a provisão necessária


em decorrência do custeio do benefício em questão, dispõe o artigo 57 da
Lei nº 8.213/91 (redação dada pela Lei nº 9.732 de 11 de dezembro de
1998), em seu § 6º, que o seu financiamento seria derivado dos recursos
provenientes da contribuição de que trata o inciso II do artigo 22 da Lei nº
8.212 de 24 de julho de 1991, cujas alíquotas serão acrescidas de doze, nove
ou seis pontos percentuais, conforme a atividade exercida pelo segurado a
serviço da empresa permita a concessão da aposentadoria especial após
quinze, vinte ou vinte e cinco anos de contribuição, respectivamente.

O mesmo diploma de 1998, – Lei nº 9.732 - tratou também de


acrescer ao artigo 53 da Lei 8.213/91, o § 7º, para estender aos segurados
titulares de aposentadorias especiais, a vedação antes somente dirigida aos
titulares de aposentadorias por invalidez, no sentido de proibir o retorno à
atividade, sob pena de ser efetivado o cancelamento do benefício.

Por fim, cumpre consignar que o artigo 1º da Medida Provisória nº


83, de 12 de dezembro de 2002, convertida na Lei nº 10.666, de 08 de maio
de 2003, dispôs sobre a concessão da aposentadoria especial ao cooperado
de cooperativa de trabalho ou de produção, dando outras providências.

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II - DO MÉRITO

O que se pode concluir do relato histórico acerca da legislação que


disciplina a concessão de aposentadoria especial, é que até o advento da Lei
nº 9.032/95 era possível contar o tempo de serviço prestado em condições
prejudiciais e penosas à saúde, e também o exercido por uma determinada
categoria profissional, em virtude de presunção legal, conforme listagem
anexada aos Decretos que regulamentavam a matéria. Esse era, não só o
espírito da legislação que regia a questão, como parece ser também a mens
legislatoris de então.

A Lei nº 9.032, de 28 de abril de 1995, contudo, inaugurou uma


nova concepção sobre o instituto da aposentadoria especial, quando suprimiu
do caput do art. 57 da Lei nº 8.213/91 o termo “conforme atividade
profissional”, deixando apenas o requisito das “condições especiais que
prejudiquem a saúde ou a integridade física”. Essa alteração não está
restrita apenas ao fenômeno da sucessão de leis no tempo, a respeito de
determinado instituto, mas compreende uma nova forma de pensar o referido
instituto e concebe uma nova finalidade para a tutela das situações de fato,
por ele abrangidas. Não mais se tem por objetivo atender a toda uma
categoria profissional pelo só fato de sua existência, mas sim contemplar
com aposentadoria especial aquelas situações de fato em que,
comprovadamente, haja o exercício efetivo de atividade especial.

Penso que, nesse aspecto, andou bem o legislador, pois o que


importa para fins de concessão de aposentadoria especial não é a presunção
da existência de condições especiais que causem dano à saúde ou à
integridade física de toda uma categoria, e muito menos a especificidade
abstrata desta ou daquela categoria, mas sim a demonstração concreta do
trabalho em atividade que esteja compreendida naquelas condições.

II – 1. Do direito relativo à matéria.

Há uma posição jurisprudencial assente, no sentido de que o tempo


de serviço especial deve ser comprovado de acordo com a legislação vigente
à data dos fatos. A Constituição Federal, por sua vez, no atual art. 201, § 1º,
ressalva a hipótese da aposentadoria especial, nos termos da lei
complementar, quando houver atividades prestadas em situações prejudiciais

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à saúde e à integridade física.

No vácuo da necessária lei complementar, o que se tem hoje é uma


legislação que, a par de atender ao comando do disposto na Constituição,
acaba por regular a concessão da aposentadoria especial de acordo com o
tempo de sua vigência. Assim, não se perca de vista que, mesmo sob a égide
da Lei nº 8.213/91, posterior à Constituição de 1988, o Decreto nº 611/91,
que a regulamentou, acabou por ratificar os anexos do Decreto nº 53.831/64
e Decreto nº 83.080/79, os quais relacionavam as categorias profissionais
que faziam jus à aposentadoria especial, de forma abstrata, situação que só
foi alterada a partir da Lei nº 9.032, de 29 de abril de 1995. Desta para
frente, sim, a contagem especial do tempo de serviço passou a exigir a
comprovação concreta das condições que dão ensejo a esse tipo de
benefício, ainda que a categoria profissional esteja relacionada em Decreto
regulamentar.

Mais adiante, inclusive, a partir do advento do Decreto nº 2.172, de


05 de março de 1997, passou a ser exigida a apresentação dos formulários
estabelecidos pelo INSS e emitidos pela empresa ou preposto, com base em
laudos técnicos de condições ambientais do trabalho, expedidos por médico
do trabalho ou engenheiro de segurança do trabalho.

Vale dizer, conclusivamente, que, para a obtenção da


aposentadoria especial, com base em fatos anteriores à Lei nº 9.032/95 basta
demonstração de que a atividade profissional exercida pelo segurado era
daquelas relacionadas como perigosas, insalubres ou penosas em rol contido
em norma expedida pelo próprio Poder Executivo; com relação aos fatos
ocorridos entre a Lei nº 9.032, de 29 de abril de 1995 e a expedição do
Decreto nº 2.172/97, de 05 de março de 1997, o benefício só será concedido
se restar comprovado nos formulários SB-40 e DSS-8030, que o pretendente
desempenhou atividade profissional com efetiva exposição a agentes
nocivos e a partir daí, mediante a apresentação de laudo técnico.

A propósito, o eg. Superior Tribunal de Justiça já firmou sua


jurisprudência a respeito, conforme se infere da seguinte ementa
colacionada:

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“PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL.


CONVERSÃO. EXPOSIÇÃO A AGENTES NOCIVOS.
COMPROVAÇÃO. LAUDO PERICIAL. PERÍODO ANTERIOR
À LEI 9.032/95. DESNECESSIDADE. RECURSO NÃO
CONHECIDO.

As Turmas que compõem a Egrégia Terceira Seção firmaram sua


jurisprudência no sentido de que é garantida a conversão, como
especial, do tempo de serviço prestado em atividade profissional
elencada como perigosa, insalubre ou penosa em rol expedido pelo
Poder Executivo (Decretos nºs 53.831/64 e 83.080/79), antes da
edição da Lei 9.032/95, independentemente de laudo pericial
comprovando a efetiva exposição a agentes nocivos.
Quanto ao lapso temporal compreendido entre a publicação da Lei
nº 9.032/95 (29/04/1995) e a expedição do Decreto nº 2.172/97
(05/03/1997), e deste até o dia 28/05/1998, há necessidade de que
a atividade tenha sido exercida com efetiva exposição a agentes
nocivos, sendo que a comprovação, no primeiro período, é feita
com os formulários SB-40 e DSS-8030, e no segundo, com a
apresentação de laudo técnico.
3. Recurso não conhecido”. (STJ, RESP 411605/PR, Quinta
Turma, Rel. em. Min. Laurita Vaz, DJ de 28/04/2003, pg. 00239).

“PREVIDENCIÁRIO. RECURSO ESPECIAL. ART. 1º DA LEI


1.533/51. MATÉRIA
DE ÍNDOLE CONSTITUCIONAL E APLICAÇÃO DA
SÚMULA 7/STJ. ATIVIDADE SOB CONDIÇÕES ESPECIAIS.
LEGISLAÇÃO VIGENTE À ÉPOCA EM QUE OS SERVIÇOS
FORAM PRESTADOS. CONVERSÃO EM COMUM DO
TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL. LEI 9.032/95. MP 1663-10.
ORDENS DE SERVIÇO 600/98 E 612/98. RESTRIÇÕES.
ILEGALIDADE. ARTIGO 28 DA LEI 9.711/98.
PREPONDERÂNCIA. RECURSO DESPROVIDO.
(omissis)
IV - Até o advento da Lei 9.032/95, em 29-04-95, era possível o
reconhecimento do tempo de serviço especial, com base na
categoria profissional do trabalhador. A partir desta Norma, a

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comprovação da atividade especial é feita por intermédio dos


formulários SB-40 e DSS-8030, até a edição do Decreto 2.172 de
05-03-97, que regulamentou a MP 1523/96 (convertida na Lei
9.528/97), que passou a exigir o laudo técnico.
V - Com a edição da MP 1663-10, foram expedidas as Ordens de
Serviço 600/98 (02.06.1998) e 612/98 (21.09.1998), estabelecendo
várias restrições ao enquadramento do tempo de trabalho exercido
em condições especiais.
VI - A Autarquia Previdenciária, com fundamento nesta norma
infralegal, passou a negar o direito de conversão dos períodos de
trabalho em condições especiais caso o segurado obtivesse o
direito a sua aposentadoria após a referida Medida Provisória.
VII - O § 5º, do artigo 57 da Lei 8.213/91, passou a ter a redação
do artigo 28 da Lei 9.711/98, proibindo a conversão do tempo de
serviço especial em comum, exceto para a atividade especial
exercida até a edição da MP 1.663-10, em 28.05.98, quando o
referido dispositivo ainda era aplicável, na redação original dada
pela Lei 9.032/95.
VIII - Desta forma, evidencia-se a ilegalidade daquelas Ordens de
Serviço do INSS, ao vedar a conversão do tempo especial em
comum, se o segurado não tivesse integrado ao seu patrimônio
jurídico, o direito a aposentar-se na data da MP 1663-10.
IX - Recurso conhecido, mas desprovido.” (STJ – Resp 625900;
Processo: 200400137115/SP; Data da decisão: 06/05/2004;
Relator: Min. Gilson Dipp).

De qualquer forma, restou sedimentado o entendimento de que a


caracterização e a comprovação do tempo de atividade sob condições
especiais deverá obedecer ao disposto na legislação da época da prestação do
serviço, merecendo destaque o seguinte precedente jurisprudencial:

“RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO.


APOSENTADORIA. VIGILANTE BANCÁRIO. LEI VIGENTE
AO TEMPO DA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO.
ENQUADRAMENTO. ATIVIDADE ESPECIAL. ROL
EXEMPLIFICATIVO. POSSIBILIDADE.

A Egrégia 3ª Seção desta corte Superior de Justiça já pacificou

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entendimento no sentido de que o tempo de serviço é regido pela


lei vigente ao tempo de sua prestação.
Desse modo, em respeito ao direito adquirido, se o trabalhador
laborou em condições adversas e a lei da época permitia a sua
contagem de forma mais vantajosa, o tempo de serviço assim deve
ser contado.” (STJ, RESP 441469, Sexta turma, Rel. Min.
Hamilton Carvalhido, DJ de 10/03/2003, p. 338).

II. 2. Conversão do tempo de serviço.

Deve ainda ser explicitado que, no tocante à conversão do tempo


de serviço parcial prestado entre as atividades sujeitas à aposentadoria
especial, há de se obedecer à tabela de conversão que estabelecia fatores
específicos para as diferentes faixas de 15, 20 e 25 anos de serviço.

Assim, se o segurado desempenhou diversas atividades sujeitas a


condições especiais sem, contudo, completar o tempo necessário, poderia
converter tempo de uma para outra, considerando a atividade preponderante
que era a de maior tempo.

Acontece que o artigo 28 da Lei nº 9.711, de 20 de novembro de


1998, ao revogar tacitamente o § 5º do artigo 57 da Lei 8.213/91, limitou a
possibilidade de conversão ponderada de uma determinada atividade em
tempo de serviço especial à data de 28 de maio do mesmo ano. Nesse
sentido:

“PREVIDENCIÁRIO. TEMPO DE SERVIÇO. ATIVIDADES


INSALUBRES, PERIGOSAS OU PENOSAS. CONVERSÃO
PONDERADA. TERMO FINAL. LEI Nº 9.711/98.
PRECEDENTES.

A teor do art. 28 da lei 9.711, de 20 de novembro de 1998, a


possibilidade de conversão ponderada do tempo de serviço especial
está limitada ao labor exercido até 28 de maio de 1998.
Precedentes das Egrégias Quinta e Sexta Turmas do STJ.
Recurso Especial conhecido e provido.” (STJ, RESP 507287/SC,
Quinta Turma, Rel. Min. Laurita Vaz, DJ de 14/10/2003, p. 364).

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Não obstante, o artigo 70 do Decreto nº 3.048/99 admite a


contagem diferenciada do tempo de serviço especial na conversão para
tempo comum, de acordo com tabela nele constante, do que se conclui que
tal regra se aplica ao trabalho prestado em qualquer período, inclusive às
relações de trabalho posteriores à Lei 9.711/98.

III – DO CASO CONCRETO.

Depreende-se da análise dos documentos acostados aos autos às


folhas 48/49, 52/61, que o autor, realizava as seguintes tarefas:

* COMLURB - nos períodos de 10/08/73 a 17/09/75 e de 04/06/82


a 02/08/88 – folhas 48/49, 52 e 55 – no desempenho da função de gari,
“executa atividades que envolviam durante toda a sua jornada a coleta de
lixo urbano e domiciliar, limpeza de bueiros, valas e valões, remoção de
escombros e destroços, transferência de lixo em rampas; separação de
materiais provenientes do lixo urbano e outras atividades ligadas a coleta e
industrialização do mesmo. Agentes Nocivos: Poeira, bactérias, fungos e
microorganismos diversos cuja fonte é o lixo. O trabalhador fica exposto a
estes agentes pela manipulação, contato direto e até respiração” Exposto
aos agentes nocivos acima indicados, de modo habitual e permanente;

De 03/08/88 a 24/12/91 – folhas 54 e 57 – na função de motorista,


“executa atividades, durante toda a sua jornada de trabalho, que consistem
em: dirigir veículos pesados tais como: coletores e compactadores de lixo
domiciliar e hospitalar, carretas de transferência, transportando lixo
urbano. Agentes Nocivos: O trabalhador fica exposto a níveis de pressão
sonora de até 94 dB(A) – Agentes Físicos e Agentes Biológicos tais como:
microorganismos e parasitas infecciosos vivos e suas toxinas,
característicos do lixo domiciliar e hospitalar.” Exposto aos agentes
nocivos, de modo habitual e permanente.

* VEGA Engenharia Ambiental S/A – de 05/12/94 a 27/07/99 –


folhas 59/61 – “durante seu período de atuação, executa atividade de
motorista de viatura pesada (caminhão de coleta de lixo). Zela pelo
cumprimento das normas internas e regulamento do trânsito. Verifica o
funcionamento geral da viatura. Registra em formulários próprios,
qualquer tipo de anormalidade com a viatura e comunica a chefia imediata.

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No exercício da atividade de motorista, o segurado fica exposto aos agentes


nocivos à saúde (ruído acima de 90 dB, gases e poeiras), provenientes das
viaturas que circulam no circuito viário (ônibus, caminhões e veículos
leves) e do próprio veículo de coleta de lixo que dirige. Expõe-se ainda ao
odor desagradável do lixo em decomposição.A atividade é exercida com a
exposição de agentes nocivos de modo habitual e permanente.”

Portanto, as tarefas acima descritas são consideradas insalubres,


devendo ser contadas de forma especial.

Quanto ao fator a ser aplicado para conversão do tempo de serviço


especial em comum, alega o INSS, em suas razões de recurso, que o mesmo
corresponde ao coeficiente de 1,2, adequando-se à lei vigente à época
(Decreto 83.080/79).

A redação original do art. 60, §2º do Decreto 83.080/79


determinava ao segurado que trabalhasse sucessivamente em duas ou mais
atividades perigosas, insalubres ou penosas, sem completar em qualquer
delas o prazo mínimo respectivo, que os períodos de trabalho seriam
somados e convertidos segundo os critérios estabelecidos pelo Ministério da
Previdência.

Em 8 de julho de 1982, o Decreto 87.374 alterou o referido


dispositivo legal, estabelecendo para a mesma situação a aplicação de uma
Tabela de Conversão, que previa o índice de 1,2 para a conversão das
atividades cujo tempo mínimo de trabalho fosse de 25 anos.

Contudo o Decreto 3.048 de 06 de maio de 1999 aprovou o


Regulamento da Previdência Social, revogando expressamente em seu art. 3º
o mencionado Decreto 87.374/82. O novo Regulamento da Previdência
Social vedava a conversão do tempo de serviço de atividades sob condições
especiais em tempo de atividade comum após 28/05/1998.

Por fim, o Decreto nº 4.827 de 03 de setembro de 2003 veio alterar


o art. 70 do Regulamento da Previdência Social, restabelecendo o direito à
conversão do tempo de atividades especiais para comum, instituindo, para
tanto, uma tabela que deve ser aplicada ao trabalho prestado em qualquer
período, conforme previsto no art. 1º:

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“Art.1º O art. 70 do Regulamento da Previdência Social,


aprovado pelo Decreto nº 3.048, 6 de maio de 1999, passa a vigorar com a
seguinte redação:

“Art.70. A conversão de tempo de atividade sob condições


especiais em tempo de atividade comum dar-se-á de acordo com a
seguinte tabela:

TEMPO A MULTIPLICADORES
CONVERTER
MULHER (PARA 30) HOMEM (PARA 35)
DE 15 ANOS 2,00 2,33
DE 20 ANOS 1,50 1,75
DE 25 ANOS 1,20 1,40

§1º A caracterização e a comprovação do tempo de atividade


sob condições especiais obedecerá ao disposto na legislação
em vigor na época da prestação do serviço.
§2º As regras de conversão de tempo de atividade sob
condições especiais em tempo de atividade comum constantes
deste artigo aplicam-se ao trabalho prestado em qualquer
período.”

Assim, tendo em vista o tempo mínimo de trabalho exigido para as


atividades desenvolvidas pelo autor ser de 25 anos, no caso em questão,
aplica-se o índice de 1,40, a fim de se converter o tempo de serviço prestado
em atividades especiais para tempo de serviço comum.

Portanto, convertido o tempo de serviço especial e somado ao


tempo comum exercido nas demais empresas, tem-se que, até 15/12/98,
advento da EC nº 20, o autor alcançou um total de tempo de serviço de 32
anos, 4 meses e 13 dias, tempo suficiente para concessão de aposentadoria
por tempo de serviço.

Ante o exposto, voto no sentido de negar provimento ao agravo


interno, nos termos acima explicitados.

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É como voto.

ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES


Juiz Federal Convocado
Relator

EMENTA

PROCESSUAL CIVIL. PREVIDENCIÁRIO. CONCESSÃO DE


APOSENTADORIA ESPECIAL. EXPOSIÇÃO A AGENTES NOCIVOS.
I – Até o advento da Lei nº 9.032/95 era possível contar o tempo de serviço
prestado em condições prejudiciais e penosas à saúde e também o exercido
por uma determinada categoria profissional, em virtude de presunção legal,
conforme listagem anexada aos Decretos que regulamentavam a matéria.
II – A Lei nº 9.032, de 28 de abril de 1995, contudo, inaugurou uma nova
concepção sobre o instituto da aposentadoria especial, quando suprimiu do
caput do artigo 57, da Lei nº 8.213/91 o termo “conforme atividade
profissional”, deixando apenas o requisito das “condições especiais que
prejudiquem a saúde ou a integridade física”.
III – Quanto ao fator a ser aplicado para conversão do tempo de serviço
especial em comum o Decreto nº 4.827 de 03 de setembro de 2003 veio
alterar o art. 70 do Regulamento da Previdência Social, restabelecendo o
direito à conversão do tempo de atividades especiais para comum,
instituindo, para tanto, uma tabela que deve ser aplicada ao trabalho prestado
em qualquer período, conforme previsto no art. 1º.
IV - Assim, tendo em vista o tempo mínimo de trabalho exigido para as
atividades desenvolvidas pelo autor ser de 25 anos, no caso em questão,
aplica-se o índice de 1,40, a fim de se converter o tempo de serviço prestado
em atividades especiais para tempo de serviço comum.
V - Portanto, convertido o tempo de serviço especial e somado ao tempo
comum exercido nas demais empresas, tem-se que, até 15/12/98, advento da
EC nº 20, o autor alcançou um total de tempo de serviço de 32 anos, 4 meses

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AGRAVO INTERNO EM APELAÇÃO CÍVEL Nº 2001.51.01.524094-2/RJ

e 13 dias, tempo suficiente para concessão de aposentadoria por tempo de


serviço.
VI – Agravo Interno improvido.

ACÓRDÃO

Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima


indicadas; decide a Primeira Turma Especializada do Tribunal Regional
Federal da 2ª Região, por unanimidade, em negar provimento ao agravo
interno, nos termos do Relatório e Voto, constantes dos autos, que ficam
fazendo parte integrante do presente julgado.

Rio de Janeiro, 26 de agosto de 2008 (data do julgamento).

ALUISIO GONÇALVES DE CASTRO MENDES


Juiz Federal Convocado
Relator

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