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UNIRIO
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Ciências Humanas e Sociais
Programa de Pós- Graduação em Gestão de Documentos e Arquivos
Mestrado Profissional em Gestão de Documentos e Arquivos

Arquivo, memória e empresa: proposta de criação do Centro


de Memória do Sistema FIRJAN

MARCIA RODRIGUES PESSOA

RIO DE JANEIRO
2014
 
 

MARCIA RODRIGUES PESSOA

Arquivo, memória e empresa: proposta de criação do Centro


de Memória do Sistema FIRJAN

Projeto de pesquisa entregue ao Mestrado


Profissional em Gestão de Documentos e
Arquivos (UNIRIO/CCH/PPGARQ) como
requisito parcial à obtenção do título de Mestre.

Área de concentração: Gestão de Arquivos na


Arquivologia Contemporânea

Linha de Pesquisa: Arquivos, Arquivologia e


Sociedade

Orientador: ProfºDrº Paulo Elian dos Santos


 
 

Pessoa, Marcia Rodrigues


Arquivo, memória e empresa: proposta de criação do centro de memória do
Sistema FIRJAN / Marcia Rodrigues Pessoa. – Rio de Janeiro: Universidade Federal do
Estado do Rio de Janeiro, 2014.
78p.

Orientador ProfºDrº de Paulo Elian dos Santos

Produto (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Gestão de documentos e Arquivos,


Mestrado Profissional em Gestão de Documentos e Arquivos, 2014.

1.Gestão de Documentos 2.Arquivos Permanentes 3.Centro de Memória

4.Memória Institucional

 
 
 

ARQUIVO, MEMÓRIA E EMPRESA: PROPOSTA DE CRIAÇÃO DO


CENTRO DE MEMÓRIA DO SISTEMA FIRJAN

Projeto de pesquisa apresentado ao Programa de Pós-graduação em Gestão de Documentos e


Arquivos da Universidade Federal do Estado do Rio do Janeiro (UNIRIO) como requisito
para a obtenção do título de mestre no curso de Mestrado Profissional em Gestão de
Documentos e Arquivos.

Banca Examinadora

Orientador: ______________________________________________

Prof. Dr. Paulo Roberto Elian dos Santos

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (PPGARQ/UNIRIO)

Examinador ______________________________________________
Interno:
Profª. Drª. Luciana Heymann

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (PPGARQ/UNIRIO)

Examinador ______________________________________________
Externo:
Profª. Drª. Lúcia Maria Velloso de Oliveira

Fundação Casa de Rui Barbosa – Universidade Federal Fluminense (PPGCI/UFF)

Rio de Janeiro, agosto de 2014.


 
 

A Deus, por tudo.


 
 

AGRADECIMENTOS

Ao professor José Maria Jardim, pelo que representa e realiza para a Arquivologia e pelo
estímulo constante nessa caminhada. Às vezes uma palavra, por mais simples que pareça,
significa a direção na vida de alguém.

Ao professor Sérgio Albite, por ter me apresentado uma maneira inédita de interpretar os
textos e absorver conhecimento.

Ao professor João Marcus, pelas abordagens tão interessantes sobre memória, que me
despertaram interesse pelo tema.

Ao professor Paulo Elian, por simplificar o que inicialmente parecia tão difícil.

À professora Luciana Heymann, pelas intervenções tão pertinentes e pelo carinho


demonstrado.

À professora Aline Lacerda, pela brilhante contribuição para a realização desta pesquisa.

A todos os colegas de turma, Francisco, Bruno, Fabiane, Djalma, Paola, Mariana, Solange,
Thiago e Tiago, fiéis companheiros, jamais esquecerei vocês.

À Cinthia, minha filha querida e o maior amor da minha vida, por compreender minhas
ausências.

A Marcos, por muitas vezes demonstrar o apoio que tanto precisei.

A todos os que colaboraram direta e indiretamente para a conclusão deste trabalho, o meu
muito obrigada.
 
 

RESUMO

Os documentos gerados pelas entidades que integram o Sistema FIRJAN são mantidos em
arquivo somente para atendimento às demandas de consultas relacionadas a comprovações,
inexistindo preocupação com a memória da organização. Não há arquivo permanente e os
documentos não são avaliados com base em seu potencial histórico. Assim, a ameaça de
eliminação de documentos que poderiam integrar o patrimônio documental da organização é
iminente. Sob esse prisma, a pesquisa de natureza qualitativa tem como objetivo propor a
instituição de um centro de memória para o Sistema FIRJAN, de modo a reunir os elementos
que representem a memória institucional, em especial o arquivo permanente. O Centro poderá
ser utilizado pela organização como estratégia de gestão, atraindo a atenção da sociedade para
a sua trajetória e buscando o estabelecimento de vínculos com segmentos sociais de seu
interesse. A metodologia utilizada constitui-se de pesquisa em relatórios de atividades e atas
de reunião das entidades formadoras do Sistema FIRJAN. Como referencial teórico utiliza os
conceitos de Gestão de Documentos, Arquivos Permanentes, Memória e Memória
Institucional.

Palavras-chave: Gestão de Documentos, Arquivos Permanentes, Centro de Memória,


Memória Institucional
 
 

ABSTRACT

Documents generated by the entities that comprise the FIRJAN are kept on file only for
meeting the demands of the evidence related queries, there being concern with memory
organization. There is no historical archive and the documents are not evaluated based on
their historical potential. Thus, the threat of elimination of documents that could integrate the
documentary heritage of the organization is imminent. In this light, the qualitative research
aims to propose the establishment of a center for memory FIRJAN in order to gather the
elements that represent the institutional memory, particularly the historical archive. The
Center may be used by the organization to management strategy, attracting the attention of
society to its trajectory, and seeking to establish links with social segments of interest. The
methodology consists of research activity reports and meeting minutes of the training entities
FIRJAN. As a theoretical framework uses the concepts Document Management, Historical
Archives, Memory and Institutional Memory.

Keywords: Document Management, Historical Archives, Memory Center, Institutional


Memory
 
 

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEDOC – Centro de Documentação

CGU – Controladoria Geral da União

CIRJ – Centro Industrial do Rio de Janeiro

CMSF – Centro de Memória do Sistema FIRJAN

CPDOC – Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil

FIRJAN – Federação das Indústrias do estado do Rio de Janeiro

IEL – Instituto Euvaldo Lodi

RSE – Responsabilidade Social Empresarial

SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

SESI – Serviço Social da Indústria

TCU – Tribunal de Contas da União


 
 

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------------ 9

2 O SISTEMA FIRJAN E SEUS ARQUIVOS-------------------------------------------- 13

2.1 Gestão de Documentos----------------------------------------------------------------------- 25


2.2 Arquivos Permanentes----------------------------------------------------------------------- 29

2.3 Políticas e práticas arquivísticas no Sistema FIRJAN: histórico e contexto atual--- 32

2.4 A Lei de acesso à Informação e o Sistema FIRJAN------------------------------------- 39

3 MEMÓRIA, MEMÓRIA INSTITUCIONAL E A CONTRIBUIÇÃO DOS


ARQUIVOS---------------------------------------------------------------------------------- 42

3.1 A relação genética entre documento e memória----------------------------------------- 54

3.2 Centros de memória institucional---------------------------------------------------------- 56

4 RESPONSABILIDADE SOCIAL E VANTAGEM COMPETITIVA--------------- 65

4.1 A função social da memória do Sistema FIRJAN a partir dos arquivos------------- 70

4.2 O Centro de Memória como agente de Vantagem Competitiva----------------------- 71

5 CENTRO DE MEMÓRIA DO SISTEMA FIRJAN------------------------------------ 73

5.1 Principais objetivos-------------------------------------------------------------------------- 77

5.2 Fases do projeto------------------------------------------------------------------------------ 78

5.3 Definição da estrutura organizacional----------------------------------------------------- 83

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS--------------------------------------------------------------- 85

REFERÊNCIAS------------------------------------------------------------------------------ 89

 

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho consiste de um produto cujo objeto é uma proposta para a criação do
Centro de Memória do Sistema FIRJAN, contemplando a identificação, a reunião, a
organização, e a disponibilização social dos elementos que simbolizam a memória
documental da organização, independente do suporte e do formato em que se apresentem.
A pesquisa aborda a importância da criação de um espaço que abrigue a Memória
Institucional das entidades formadoras do Sistema FIRJAN, FIRJAN – Federação da
Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, CIRJ – Centro Industrial do Estado do Rio de Janeiro,
SESI – Serviço Social da Indústria, SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e
IEL – Instituto Euvaldo Lodi, demonstrando a relevância dessa memória enquanto agente de
contribuição para obtenção de vantagem competitiva no ambiente de negócios. Entendemos
que o Centro de Memória do Sistema FIRJAN representará a trajetória das entidades que o
integram e da indústria fluminense, considerando que abrigará os arquivos julgados relevantes
produzidos pela organização com importância histórica para sua memória.
Apresentaremos um relato acerca das políticas arquivísticas existentes no Sistema
FIRJAN, com o objetivo de verificar se as práticas arquivísticas que envolvem os arquivos
representam a existência dessas políticas na organização. Buscaremos analisar em que medida
a inexistência dessas políticas compromete a memória da organização. Por fim, pretendemos
evidenciar como a utilização da memória institucional pode se reverter em vantagem
competitiva aos negócios do Sistema FIRJAN.
As seções apresentadas neste trabalho estão relacionadas aos seguintes conceitos:
Gestão de Documentos; Arquivos Permanentes; Centro de Memória e Memória Institucional.
As abordagens relacionadas a Gestão de Documentos e Arquivos Permanentes estão baseadas
nos autores José Maria Jardim, Terry Cook, Heloisa Bellotto e Theodore Schellenberg.
Quanto aos conceitos de Memória Institucional e Centro de Memória a pesquisa buscou
argumentos nos autores Icleia Thiesen e Paulo Nassar. Além desses autores, recorreu-se
também à bibliografia arquivística relacionada aos mesmos aspectos teórico-metodológicos.
Importa destacar que esta pesquisa não se ocupará do relato sobre a história das
entidades que integram o Sistema FIRJAN, mas abordará alguns aspectos relevantes a fim de
justificar a proposta de criação do Centro de Memória da organização, objetivo central desta
proposta.
É importante também ressaltar que as análises contidas neste trabalho, acerca da
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gestão documental praticada na organização, estão embasadas em nossa experiência


profissional e analisa-la contém a intenção de contribuir para propor uma revisão dos atuais
instrumentos de gestão documental, a fim de que os arquivos do Sistema FIRJAN sirvam à
memória institucional. O intuito é colaborativo e não crítico.
Para uma organização mantida por contribuições compulsórias das indústrias e que
busca a autosustentação, questões relacionadas à preservação da memória não representam
prioridade. A proposta de criação do Centro de Memória deve, portanto, ser apresentada em
consonância com os projetos estratégicos previstos no plano estratégico da organização. É
necessário estudar medidas que transformem o projeto de criação do Centro de Memória
atraente aos olhares dos atores que detêm o poder de decisão.
À alta gestão do Sistema FIRJAN e aos empresários, não interessa investir recursos
em um espaço cultural sem que este agregue valor aos negócios da organização. Desse modo,
é preciso demonstrar que o Centro de Memória vai além dos limites culturais, uma vez que
poderá agregar valor aos negócios através do estabelecimento de vínculos emocionais com a
sociedade, proporcionando o fortalecimento da marca das entidades que integram o Sistema
FIRJAN.
O registro dos acontecimentos cotidianos surgiu com o homem primitivo, que
durante séculos marcou sua trajetória através de sistemas de representação nas paredes das
cavernas, configurando os primeiros indícios de que registrar, marcar sua existência,
representa o desejo de imortalidade, sendo inerente e imprescindível ao ser humano.
A necessidade de transmissão de experiências e saberes acumulados no decorrer de
suas vidas ou o simples desejo de registro da existência, suscita o interesse por instrumentos
que possam simbolizar a imortalidade. Desse modo, a instituição de um centro de memória e
pesquisa tende a atrair a atenção da classe empresarial, projetando perspectivas de bons
negócios e se transformando em estratégia de gestão, gerando vantagem competitiva.
É importante promover um trabalho de conscientização junto aos gestores da
organização acerca da relevância da memória empresarial, que vai muito além da mera
celebração do passado, de festejos, edição de livros comemorativos e de marcos de sua
história. A memória desempenha um importante papel como facilitadora de relacionamentos,
podendo atuar no contexto organizacional e realçar os laços estratégicos da organização.
A preocupação com a memória no âmbito do Sistema FIRJAN se limita à edição de
livros comemorativos, normalmente publicados a cada dez anos, com conteúdo fotográfico e
raras utilizações de textos para explicar a trajetória da organização. Tais publicações, porém,
não representam a memória institucional, uma vez que não incluem referências precisas sobre
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as fontes utilizadas. Trata-se de fragmentos escolhidos para a composição de um artefato, cuja


intenção é a monumentalização do passado. São produções isoladas, que privilegiam a
imagem institucional e não relatam a história da organização através de uma sequência dos
fatos, uma vez que trazem sempre poucas alterações.
A fundamentação deste trabalho consiste da relevância histórica da instituição que
representa o empresariado fluminense e que, paralelamente, atua de maneira marcante no
campo social. Para revelar a memória do Sistema FIRJAN através da avaliação dos pilares
históricos que deram origem às entidades que o integram, é necessário sensibilizar os
dirigentes quanto à importância da preservação dos documentos criados com a finalidade de
formalizar e comprovar objetos que podem se tornar históricos, o que será procedido com
base na possibilidade de utilização da memória da organização como recurso estratégico de
gestão.
A partir da corporativação das entidades integrantes do Sistema FIRJAN em 1994,
surgiu a preocupação sobre o destino dos acervos de cada entidade. Em razão de somente o
SESI dispor de metodologia de arquivamento e contar em seu quadro funcional com
profissionais arquivistas, decidiu-se que absorveria a documentação gerada pelas demais
entidades a partir daquele momento. Em razão da falta de espaço no arquivo que
anteriormente mantinha somente os documentos decorrentes das atividades do SESI, a
documentação produzida pelos SENAI, CIRJ, FIRJAN e IEL, anterior à corporativação, não
foi recebida para arquivamento, resultando em dispersão e risco de perda de documentos com
potencial conteúdo histórico. A dispersão da documentação potencialmente histórica está,
sobretudo, relacionada à inexistência de um local de guarda adequado, especificamente criado
para a preservação da memória através dos elementos que a formalizam: acervos
iconográficos; fílmicos; cartográficos; textuais e objetos que simbolicamente representam as
ações do Sistema FIRJAN ao longo da sua trajetória.
A metodologia deste trabalho foi baseada em pesquisa qualitativa, cujo objetivo foi
identificar possíveis elementos que, por relevância, possam simbolizar a memória da
organização, independente da forma e do suporte em que se apresentem. Foram realizadas
visitas a alguns gestores da alta direção do Sistema FIRJAN, a fim de perceber a compreensão
sobre o conceito de memória institucional, o nível de intenção em apoiar o projeto e,
paralelamente, a sensibilidade quanto à sua relevância. Uma das metodologias de investigação
desejadas se baseava na aplicação de entrevistas a alguns diretores, cujos depoimentos
identificamos como relevantes à construção desta pesquisa. Houve receptividade por parte de
dois diretores, porém, ao analisarmos as entrevistas concluímos que em alguns pontos a
12 
 

abordagem foge à intenção da proposta deste trabalho. Assim, decidimos por não utilizar os
depoimentos na elaboração do trabalho final.
O campo empírico foi o próprio Sistema FIRJAN, sobretudo as áreas cujas atividades
fim estão relacionadas às atividades de saúde, educação e lazer, em razão de representarem as
principais ações da organização no contexto social em que está inserida. As pesquisas também
foram realizadas na biblioteca central, detentora dos relatórios de atividades que permitiram a
confirmação de dados relevantes à memória institucional.
A relevância deste trabalho consiste na preservação da memória do sistema FIRJAN
através da identificação, reunião, tratamento e preservação dos elementos que a representam,
independente do seu formato ou suporte, a fim de evidenciar suas interferências na construção
da cidadania e sua atuação em parceria com diversos setores da sociedade, utilizando-a como
estratégia de gestão corporativa.
As seções que integram esta pesquisa se ocupam inicialmente de observar a relação
entre os arquivos do Sistema FIRJAN e a memória da instituição, a fim de verificar se existe
preocupação com a manutenção dos acervos para fins de preservação da memória
institucional. Na segunda seção apresentamos uma contextualização do objeto empírico,
analisando sua relação com os arquivos, políticas e práticas arquivísticas. Nessa seção
também analisamos a contribuição dessas práticas na preservação da memória institucional e
se tais práticas equivalem a gestão documental. Na terceira seção verificamos o conceito de
memória relacionado às empresas, buscando compreender de que forma as instituições que
compõem o Sistema FIRJAN se relacionam com a memória que produzem. A quarta seção
apresenta os conceitos de responsabilidade social e vantagem competitiva associando-os aos
arquivos e visando perceber em que medida é possível identificar a função social da memória
da organização. Finalizando, a quinta seção apresenta o produto desta pesquisa, que é a
proposta de criação do Centro de Memória do Sistema FIRJAN, CMSF, com a perspectiva de
estabelecer um diálogo com os arquivos da organização, provocar uma revisão nas práticas
arquivísticas vigentes e propor o CMSF como uma alternativa à preservação da memória
institucional.
13 
 

2 O SISTEMA FIRJAN E SEUS ARQUIVOS

Esta seção se ocupa da contextualização do objeto empírico, buscando evidenciar a


relação dos documentos que se encontram nos arquivos do Sistema FIRJAN, com a sua
memória.
A corporativação das entidades FIRJAN, CIRJ, SESI, SENAI e IEL, ocorrida em
1994, reuniu-as sob uma mesma égide administrativa organizações com diferentes
características, mantendo suas especificidades e unificando suas áreas comuns.
O Sistema FIRJAN é formado pelas seguintes organizações: Federação das
Indústrias do Estado do Rio de Janeiro-FIRJAN; Centro Industrial do Rio de Janeiro – CIRJ;
Serviço Social da Indústria SESI-RJ; Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI-
RJ, e Instituto Euvaldo Lodi – IEL.
A FIRJAN desenvolve e coordena estudos, pesquisas e projetos para orientar as
ações de promoção industrial e novos investimentos no estado. Seus Conselhos Empresariais
temáticos e Fóruns Empresarias setoriais discutem tendências e lançam diretrizes para ações
de apoio e assessoria às empresas e representa a continuação do ideal da mais antiga
instituição de classe do Brasil, a Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional – SAIN,
fundada em 19 de outubro de 1827. O propósito da instituição é representar a indústria
fluminense nos debates acerca das questões governamentais.
O CIRJ possibilita às empresas a ele associadas acessar os serviços oferecidos pelas
cinco instituições integrantes do Sistema FIRJAN.
O SENAI promove a capacitação tecnológica das empresas, por meio de programas
de assessoria técnica e tecnológica e de formação profissional, além da qualificação e
especialização de trabalhadores em todos os níveis. Possui uma rede de Unidades
Operacionais fixas – entre elas, Centros de Tecnologia de referência nacional e regional – e
Unidades Móveis.
O SESI desenvolve ações para a promoção da saúde, educação, esporte, lazer e
cultura direcionadas aos trabalhadores e às comunidades em que estão inseridos. A
organização também atua nas áreas de saúde ocupacional, segurança do trabalho e proteção ao
Meio Ambiente, com Unidades Operacionais em todo o Estado.
O IEL promove o desenvolvimento da indústria, por intermédio da capacitação
empresarial e do apoio à pesquisa e à inovação tecnológica. É a organização que realiza o
trabalho de integração entre indústrias, universidades e instituições de pesquisa do Estado.
14 
 

Através da FIRJAN o Sistema representa a classe empresarial da indústria de todo o


Estado do Rio de Janeiro, nos debates acerca das ações governamentais relacionadas à
indústria, nas esferas regional e nacional, congregando os interesses dos sindicatos a ela
filiados. É uma instituição prestadora de serviços às empresas, atuando como fórum de
debates e de gestão da informação para o crescimento econômico e social do estado.
Desenvolve e coordena estudos, pesquisas e projetos, para orientar as ações de promoção
industrial e novos investimentos no estado. Seus Conselhos Empresariais temáticos e Fóruns
Empresariais setoriais discutem tendências e lançam diretrizes para ações de apoio e
assessoria às empresas.
Com o SESI o Sistema FIRJAN desempenha o serviço social na indústria e nas
comunidades em seu entorno e promove o exercício da cidadania aos industriários,
desenvolvendo ações nas áreas de saúde, educação, esporte, lazer e cultura direcionadas aos
trabalhadores da Indústria. O SESI também atua no estímulo à gestão socialmente responsável
nas empresas, contribuindo para a competitividade e o desenvolvimento sustentável do país.
Com o SENAI atua em duas vertentes: promove a qualificação e a especialização dos
trabalhadores da indústria, dos cursos de aprendizagem até o nível superior; e
oferece soluções tecnológicas para empresas por intermédio de programas de assessoria
técnica e tecnológica. Com o CIRJ promove a defesa dos interesses empresariais, assessora
tecnicamente o empresariado e fornece informações estratégicas às empresas do Estado do
Rio de Janeiro. Através do IEL realiza a interface entre a demanda empresarial e a oferta de
conhecimento. Incentiva o desenvolvimento e viabiliza meios de inserção das produções
tecnológicas e intelectuais das instituições de ensino nas empresas, proporcionando ganhos na
gestão, direcionados ao aumento de competitividade.
Atuando como arquivista no Sistema FIRJAN há vinte e um anos, antes mesmo da
corporativação que representou a reunião administrativa das atividades-meio das entidades
que atualmente o integram, foi possível perceber a necessidade de criação de um espaço para
preservação dos elementos que simbolizam a memória da organização. Falta à organização a
designação de um espaço para formalizar a memória, atribuir-lhe visibilidade e lhe conferir
relevância. Sobretudo, falta ao Sistema FIRJAN uma gestão documental que contemple a
preservação dos documentos arquivísticos de valor histórico.
Entendemos que também falta ao Sistema FIRJAN uma gestão documental aplicada
a toda a organização, que compreenda um estudo da produção documental em todas as áreas,
seu uso e destinação, a consideração das idades corrente, intermediária e permanente, a fim de
elaborar um plano de classificação e uma tabela de temporalidade abrangentes, de modo a
15 
 

controlar a criação indiscriminada de documentos e, paralelamente, impedir o descarte


indevido daqueles que possam representar a memória da organização.
Atualmente, a documentação produzida pelas áreas fim da organização não dispõe de
tratamento arquivístico adequado. Cada área produtora mantém a documentação sob sua
guarda, com critérios definidos sem a intervenção do arquivo central da organização, em
locais improvisados e, em regra, de difícil acesso. A documentação produzida pelas áreas
meio recebe tratamento arquivístico somente ao atingir a fase intermediária quando, após seu
uso corrente, é transferida ao arquivo central. Após, a documentação cumpre os prazos de
guarda previstos na tabela de temporalidade da organização que, de modo incompreensível
para nós, se baseiam no caráter de prova em detrimento do valor histórico que esta
eventualmente possua.
No início do contato com os arquivos do SESI, a entidade de maior atuação social do
Sistema FIRJAN, juntamente com o SENAI, colocou em evidência a dificuldade de
investigação sobre a memória da organização, fato relacionado à ausência de preocupação
com a preservação da documentação com potencial valor histórico. Em algumas
oportunidades essa questão foi relatada aos gestores responsáveis pelos arquivos, mas não
houve interesse na submissão do tema à alta direção. Esse desinteresse pode ser explicado
através da falta de conhecimento sobre a importância do tema, aliada a questões políticas
internas, sobretudo quando relacionado às possibilidades de utilização da memória da
organização para agregação de valor aos negócios do Sistema FIRJAN. A trajetória de cada
entidade que congrega o Sistema FIRJAN carrega consigo a memória de fatos diretamente
relacionados à história do estado do Rio de Janeiro, seus atores, seus expoentes no setor
industrial, sua relação política e social. Sua história está intrinsecamente relacionada à história
da indústria fluminense.
A criação do Centro de Memória poderá permitir a utilização da memória de acordo
com os interesses da organização, sejam eles sociais, políticos ou comerciais. São ações
praticadas durante da existência do Sistema FIRJAN, que podem ganhar visibilidade e retirar
da opacidade a memória das instituições que a integram, agregando valor aos negócios através
do fortalecimento da marca, gerando vantagem competitiva, além de reforçar a necessidade da
manutenção da instituição através de seus vínculos com a sociedade e suas intervenções
sociais ao longo de toda a existência.
O Centro de Memória do Sistema FIRJAN também poderá incluir um espaço
específico para abrigar as experiências profissionais dos empresários, relatadas oralmente ou
por meio de documentos textuais e fotografias, permitindo que essas trajetórias sirvam de
16 
 

fontes a seus pares e, paralelamente, sejam disponibilizadas aos pesquisadores interessados na


história da indústria fluminense e do país. Essa concessão visa atrair a atenção da classe
empresária, a fim de obter apoio e parceria para implementação do empreendimento.
O Sistema FIRJAN atua no cerne do contexto social em que está inserido e a
existência de registros documentais acerca dessas ações é evidente, porém, estes se encontram
dispersos, mantidos em diversas áreas, geralmente produtoras, e sob guarda inadequada, uma
vez que não dispõem de tratamento arquivístico. Isso deve-se ao entendimento de que a
relevância da gestão documental está relacionada somente aos documentos probatórios ou
dotados de legislação específica, que obriga a retenção em arquivo por prazo previamente
estabelecido pela própria legislação. Sabemos que a documentação produzida em ambiente
organizacional tem seu fundamento na formalização da tomada de decisão e na construção da
prova, privilegiando o poder probatório dos documentos em detrimento de seu potencial valor
histórico, como já foi observado anteriormente. Trata-se do registro do conhecimento
explícito da própria organização e envolve informações de suas diversas áreas e interesse.
De acordo com Taylor (1985), os usos da informação produzida em ambientes
organizacionais podem ser identificados em oito classes:

1- Esclarecimento: informação utilizada com um caráter instrumental de significação,


contextualizando determinada situação;

2- Compreensão do problema: informação usada de maneira específica, relacionada a um


determinado problema;

3- Instrumental: utilizada para guiar o usuário, conduzi-lo a uma determinada tomada de


decisão;

4- Factual: a informação é usada para descrever algum fato ou acontecimento;

5- Confirmativa: a informação é usada para verificação de outra informação;

6- Projetiva: informação utilizada com o caráter de prever os acontecimentos futuros.


Altamente relacionada à inteligência competitiva organizacional;

7- Motivacional: informação usada para manter o indivíduo em determinada ação;

8- Pessoal ou política: a informação é usada para criar redes de relacionamentos ou


concretizar um status
17 
 

O quadro apresentado por Taylor reflete os usos dos documentos de arquivos nas
organizações e está intrinsecamente associado ao caráter probatório, pelas características de
autenticidade e veracidade, situação análoga ao Sistema FIRJAN. Comparando as afirmações
de Taylor quanto aos usos dos documentos e das informações nos ambientes organizacionais
às afirmações de Duranti, é possível compreender que as possibilidades de utilização dos
documentos estão pautadas na questão da prova:

[...] As características de imparcialidade, autenticidade, naturalidade,


interrelacionamento e unicidade tornam a análise dos registros documentais o
método básico pelo qual se pode alcançar a compreensão do passado tanto
imediato quanto histórico, seja com propósitos administrativos ou culturais.
A natureza da prova documental é de primordial importância e diz que
podem ser repetidamente reproduzidos e observados. O passado é essencial-
mente não verificável e só pode ser descoberto por dedução. Por conseguinte,
tanto o direito quanto a história precisam contar mais com probabilidades
lógicas do que com certezas para alcançar seus objetivos. A fim de superar as
limitações inerentes da prova documental, ambas as disciplinas
desenvolveram meios semelhantes de avaliá-la e assegurar sua fidedignidade,
pois compartilham a mesma necessidade de prova precisa e autêntica.
(DURANTI, 1994, p.52)

Consideramos oportuno apresentar um contraponto às considerações de Duranti,


através do pensamento de Cook:

[...] Nada é neutro. Nada é imparcial. Nada é objetivo. Tudo é moldado,


apresentado, representado, reapresentado, simbolizado, significado, assinado,
construído pelo orador, fotógrafo, escritor, com um propósito definido.
Nenhum texto é um mero e inocente subproduto da ação, como Jenkinson
afirmava; ao invés, trata-se de um produto conscientemente construído,
embora essa consciência possa estar tão transformada em padrões
semiconscientes ou até inconscientes de comportamento social, processo de
organização e apresentação de informação, que a conexão com a realidade
externa e as relações de poder ficam muito escondidas. Os textos (incluindo
imagens) são todos uma forma de narração muito mais preocupada com a
construção de consistência e harmonia para o autor, melhorando posição e
ego, em conformidade com as normas de organização e os padrões de
discurso fatos, ou enquadramentos jurídicos ou legais. E não existe apenas
uma narrativa numa série ou coleção de documentos, mas muitas narrativas e
histórias, servindo a muitos propósitos para muitos públicos, através do
tempo e do espaço. (COOK, 2012, p.128)

Cook lança um olhar desconfiado sobre o pensamento positivista da verdade absoluta


encontrada nos documentos. Desconfia das provas incontestáveis oferecidas pelos
documentos e incita o arquivista a ser um mediador ativo na formação da memória, através
dos arquivos.
18 
 

Com pertinência, Heloisa Bellotto reflete sobre o valor histórico dos documentos:

 É preciso que os responsáveis pelas políticas de informação/documen-


tação estejam cientes de que, uma vez cumprida a razão administrativa
pela qual um documento foi criado, este não se torna automaticamente
descartável. Sua utilização jurídica pela administração e/ou pela pesquisa
histórica poderá ocorrer sempre. (BELLOTTO, 2004, p.27)

Bellotto prossegue sua narrativa acerca do ciclo vital dos documentos e função
arquivística, enfatizando que um arquivo permanente não se constrói por acaso.

Não cabe apenas esperar que lhe sejam enviadas amostragens aleatórias. A
história não se faz com documentos que nasceram para serem históricos, com
documentos que só informem sobre o ponto inicial ou o ponto final de algum
ato administrativo decisivo. (BELLOTTO, 2004, p.27)

A análise da autora pode ser utilizada para alertar sobre procedimentos adotados no
Sistema FIRJAN, acerca da documentação, considerando a importância e a utilização dos
documentos somente quando relacionados à sua fase corrente, sobretudo quanto ao seu valor
probatório, em detrimento do valor histórico que possuam ou possam adquirir.
A gestão documental atualmente praticada no Sistema FIRJAN está centrada nos
documentos com finalidade probatória, sobretudo quanto aos documentos financeiros e aos
relacionados à gestão de pessoas, abrangendo apenas parte da organização e,
consequentemente, desconsiderando as possibilidades históricas da documentação produzida
pelas diversas áreas, decorrentes de ações sociais e vínculos institucionais. Assim, contratos
de serviços, acordos de cooperação, convênios, dossiês resultantes de licitações,
documentação financeira, documentação de Recursos Humanos, dentre outros documentos,
são mantidos no mesmo espaço físico, separados apenas pelo critério de corrente e
intermediário. Não há preocupação com o potencial histórico dos documentos, somente com o
seu caráter de prova. Apesar dos alertas sobre as consequências relacionadas à
desconsideração do ciclo de vida dos documentos, a situação permanece a mesma.
O arquivo central do Sistema FIRJAN possui dentre suas competências a gestão
documental da organização. Equivocadamente denominado Centro de Documentação –
CEDOC, é possível constatar esse equívoco em razão do espaço manter exclusivamente
documentos textuais, não possuindo diversificação de acervos, característica comum a
Centros de Documentação. O CEDOC atua de modo parcial sobre a documentação gerada no
âmbito da organização, considerando que é o responsável pela gestão documental e esta não
abranger todas as atividades e entidades integrantes da organização. Não mantém controle
19 
 

efetivo sobre os documentos, tendo em vista que sua atuação é somente receptora e passiva,
sem relação com a produção. Recebe a documentação para guarda, observa os prazos de
retenção previstos na tabela de temporalidade cujos prazos raramente preveem guarda
permanente, atua eventualmente nas áreas que solicitam apoio arquivístico, contudo, as ações
não estabelecem diálogo com a gestão documental propriamente dita e, dessa forma, não
implementa uma política capaz de resolver as questões demandadas pelas áreas produtoras de
documentos do Sistema FIRJAN.
A atual gestão documental do Sistema FIRJAN contempla de modo tímido a terceira
idade dos documentos. A utilização do termo permanente (grifo nosso) nas tabelas de
temporalidade vigentes na organização se observa somente sobre os documentos
contemplados por leis específicas, que obrigam sua guarda permanente. Quanto aos
documentos à margem dessa situação, são avaliados de acordo com o potencial probatório que
possuem. Aos documentos cujo valor implica na guarda permanente, são atribuídos prazos
dilatados de guarda sem menção do termo permanente.
Diversos documentos que formalizam projetos relativos às ações institucionais e
sociais, e que seguramente serviriam de testemunho à memória da organização, atualmente
são considerados somente como probatórios e figuram na tabela de temporalidade vigente
relacionados a curtos prazos de guarda, sem a consideração da importância histórica. A
utilização do termo permanente é evitada até mesmo em reuniões relacionadas à elaboração
dos instrumentos de gestão, e a justificativa se baseia na necessidade de manter os
documentos pelo menor prazo possível a fim de desocupar os espaços e utilizá-los para outros
fins considerados mais importantes.
O Sistema FIRJAN desenvolve ações amplamente divulgadas, sobretudo nas áreas da
Responsabilidade Social, que suscitam o interesse de diversos pesquisadores. A fragmentação
da história e a inexistência de uma referência de guarda da memória institucional, já levou à
recusa de diversas solicitações de pesquisas demandadas por interessados na história das
entidades formadoras do Sistema FIRJAN e na história de fatos relacionados à indústria
fluminense.
Há registros fotográficos ainda não organizados de modo a permitir o acesso aos
interessados. Esses registros revelam fatos curiosos relacionados à memória do Sistema
FIRJAN, tais como: concursos de robustez infantil na década de cinquenta e sessenta, no qual
o SESI premiava crianças filhas de operários que, através de critérios de beleza relacionados à
robustez, eram identificadas como modelos de saúde infantil. As imagens revelam o
posicionamento da medicina à época que, se comparado às orientações médicas atuais,
20 
 

apontam para uma mudança de comportamento, uma vez que a medicina contemporânea
recomenda o controle do peso dos bebês a fim de evitar a obesidade, cientificamente
comprovada como danosa à saúde. A disponibilização deste acervo poderá ser alvo do
interesse de pesquisadores de diversos segmentos, interessados em investigar o
comportamento social e as recomendações relacionadas à saúde, à época, além de permitir
uma comparação entre as ações sociais do passado com as atuais, relacionadas com o setor
industrial.
Mais contemporâneos são os registros referentes ao projeto Social denominado Ação
Global implementado no início da década de 1990, em parceria com a Rede Globo de
Televisão e com diversos setores do poder público. O histórico de um dos maiores eventos
sociais promovidos pelo Sistema FIRJAN, que certamente já é alvo do interesse de
pesquisadores, também não dispõe de um local específico para sua guarda. Os dados estão na
memória de alguns ou nos armários individuais de outros. É a história que, fragmentada, se
perde entre os documentos gerados para fins probatórios e o lugar de memória que ainda não
existe.
Recentemente ocorreu no Estado do Rio de Janeiro um efetivo combate à violência
através da ocupação das favelas pelo poder público. Assim, o Estado preenche os espaços até
recentemente utilizados para aquartelamento de um poder paralelo instituído por traficantes de
drogas. Em parceria com o poder público, o Sistema FIRJAN, vem desenvolvendo ações
sociais nas comunidades ocupadas, implementando políticas de desenvolvimento humano em
dimensões inéditas se comparadas aos projetos sociais pregressos.
Os registros que comprovam a inserção das atividades do Sistema FIRJAN em áreas
onde anteriormente o crime organizado inviabilizava a implantação da Responsabilidade
Social, tendem a se perder ou a não permitir seu uso integral em razão de também não
disporem de tratamento e local de guarda adequados.
Posteriormente, a fim de verificar a existência de documentos que pudessem relatar a
memória das entidades integrantes do Sistema FIRJAN, ocorreu uma mobilização através de
e-mails encaminhados a todas as áreas, questionando-as sobre possíveis detenção de
documentos, em qualquer suporte, ou símbolos relacionados à memória institucional. A
resposta foi surpreendente. Diversas áreas manifestaram a existência, sobretudo, de
fotografias relacionadas a inaugurações, solenidades e eventos da organização. Nessas áreas,
algumas, inclusive, já extintas, as imagens não dispunham de qualquer tratamento
arquivístico. As fotografias foram acumuladas em armários, gavetas e porões, em sua maioria
sem qualquer identificação. Fontes decorrentes de fatos que marcaram épocas e que refletem
21 
 

o comportamento das classes empresarial e operária de acordo com o contexto político-social


vigente, tais como concursos de beleza, que envolviam industriárias e mobilizavam
amplamente a atenção da classe operária em plenas décadas de 1960 e 1970, efervescência da
ditadura militar, assim como os concursos que estimulavam a classe operária à conquista do
prêmio “operário padrão”. Há fontes fotográficas referentes às atividades industriais que
revelam a trajetória feminina na sociedade, com destaque para os cursos relacionados à
dedicação ao lar, oferecidos pelo SESI nas décadas de 1950, 1960 e 1970, tais como culinária
e corte e costura. Atualmente as mulheres buscam qualificação técnica nos cursos oferecidos
pelo SENAI nas áreas de construção civil e mecânica, competindo no mercado de trabalho em
igualdade com a classe masculina.
Existem registros, também, relacionados às interferências sociais praticadas pelo
SESI, marcadamente na área assistencialista como, por exemplo, a construção de imóveis
gratuitamente para industriários no bairro de Realengo; serviços prestados diretamente nas
indústrias através de unidades móveis circulantes, tais como bibliotecas e serviços médicos e
odontológicos. Desfiles cívicos dos industriários, notadamente no dia 1ª de maio, em
comemoração ao dia do trabalho; competições esportivas, que promoviam a integração entre
as indústrias e, nessa mesma linha, concursos de beleza entre as industriarias. Tais ações,
paralelamente divulgadas pela imprensa, contribuíram para a propagação e a consolidação da
marca SESI ao longo de sua trajetória.
Esses movimentos sociais já foram objeto de interesse de diversos pesquisadores
externos interessados na investigação de práticas sociais promovidas pelas indústrias e, de
modo especial, pela entidade de classe que as representa: o Sistema FIRJAN. Porém, a
inexistência de tratamento e de local apropriado de guarda das fontes inviabilizaram sua
disponibilização. Ou seja, os documentos textuais existem, as fotografias existem e formam
um acervo com cerca de vinte mil imagens, mas a inexistência de tratamento arquivístico
adequado, divulgação e espaço de guarda, remetem à obscuridade a história das entidades
formadoras do Sistema FIRJAN. A instituição do Centro de Memória do Sistema FIRJAN,
além de preservar a documentação que registra a trajetória da organização, estabelecerá uma
relação da identidade institucional através de um vínculo emocional, com o uso dos acervos
que são o resultado das ações sociais promovidas pela organização e, paralelamente, se
estrategicamente divulgado, contribuirá para o fortalecimento da marca Sistema FIRJAN,
possibilitando a atração de novos negócios através do fortalecimento da marca de suas
entidades.
22 
 

Acompanhando a afirmação de Luciana Heymann, ao abordar os projetos


institucionais relacionados ao estabelecimento de um espaço de memória:

[...] Quanto mais “original”, “único” e “pessoal” o acervo, mais fortes os


argumentos que justificam a sua preservação e, consequentemente, mais
fortes os argumentos para a criação e manutenção de uma estrutura
institucional para abrigá-lo. Evidentemente, a concretização de um projeto
institucional dependerá de outras variáveis, sobretudo, do capital político dos
agentes envolvidos e das redes de relações que consigam mobilizar em torno
do empreendimento. (HEYMANN, 2009, p.7)

O Centro de Memória pode legitimar a instituição como promotora cultural e


promover a organização e a disponibilização do acervo, atraindo a atenção de pesquisadores
interessados em movimentos políticos e sociais. Os registros produzidos pelo Sistema
FIRJAN contribuem para a ilustração da transformação da relação entre as classes operária e
empresarial, que migra de uma postura assistencialista para um comportamento associado à
prática da Responsabilidade Social.
De acordo com Paulo Nassar, o passado das empresas tem relação intrínseca com sua
estabilidade e perpetuação:

A empresa que tem a intenção de se perpetuar no mundo de hoje, com vistas


para o futuro, deve inescapavelmente legitimar suas atitudes, ações, posturas
e, especialmente, ter consciência e dar conhecimento dos impactos de suas
atividades no passado, no presente e no futuro em diferentes níveis, do
comercial ao social. Aquelas historinhas mal contadas ou varridas do lixo
para debaixo do tapete, já não são aceitas e colocam qualquer organização em
risco. (NASSAR, 2004, p. 113-126)

O passado marca o presente e o futuro, para o bem ou para o mal, segundo Nassar. O
testemunho da trajetória institucional tende a privilegiar ou prejudicar a imagem das
organizações. Entendemos que uma memória que abarque fatos negativos do passado jamais
será vinculada à imagem das empresas e tende a ser esquecida, diferente da memória que
remeta a fatos que marquem de modo engrandecedor a trajetória institucional. Esta pode e
deve ser utilizada como recurso de fortalecimento da imagem institucional.
Em sua obra História e Memória, Le Goff aborda, indiretamente, a importância da
utilização da memória nas organizações:

A memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos


em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o
homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou o que ele
representa como passadas. (LE GOFF, 1990, p. 423).
23 
 

Considerando o arquivo como agente vital ao processo de criação de um centro de


memória institucional, é preciso estabelecer um vínculo entre ambos. A Gestão Documental é
imprescindível ao processo de reconhecimento dos documentos dotados de valor histórico,
sobretudo quando relacionada ao reconhecimento de que os documentos probatórios atuais
poderão tornar-se históricos no futuro.
Thomassem (2006) entende que os arquivos são compostos por informações
vinculadas a processos de trabalho, atividades realizadas no cumprimento de determinadas
funções e a informação, por surgir de determinada atividade, seria estruturada por esta.
Segundo o autor, a informação é registrada e estruturada em razão da possibilidade de sua
reutilização. Os arquivos seriam a memória dos produtores de documentos e da sociedade,
servindo para apoiar o gerenciamento operacional. Thomassem afirma que arquivo é o
conceito central nos estudos da Arquivologia, mas a noção também se encontra desde a vida
cotidiana até às configurações governamentais e empresariais, em que o modo arquivístico de
agir tem o intuito de dar suporte à memória dos produtores de arquivo. Esse contexto
abarcaria os elementos do ambiente organizacional, do ente produtor, contexto de
administração e uso das informações.
A abordagem de Thomassen entende que o trabalho arquivístico comporta a análise
da missão, da função e das tarefas do produtor do arquivo, visando configurar uma instância
de intervenção para o arquivista, na perspectiva de ser este um agente na otimização de fluxos
informacionais. A pesquisa arquivística estaria interessada em estudar as relações entre a
informação e os elementos de contexto de sua geração e estruturação.
  Heredia Herrera (1983) e Duranti (1994), consideram o saber arquivístico
essencialmente estruturado em torno dos documentos. Desse ponto de vista, o arquivo é
entendido como a totalidade de documentos produzidos ou recebidos oficialmente por uma
administração que posteriormente se submete à custódia arquivística. Do mesmo modo,
Lodolini aborda a importância de se considerar a produção do documento, além da
informação que ele apresenta:

Não é a informação contida no documento o que interessa, e a


arquivística não é uma “ciência da informação” (como muito
frequentemente se diz), ou só uma “ciência da informação”, senão que tem
um conteúdo muito mais amplo; o que interessa é o significado pleno de cada
documento, que se evidencia somente por meio do
vínculo com todos os outros documentos do mesmo arquivo; o que interessa
é conhecer como este documento foi produzido, ao longo de que
procedimento administrativo e com que validade jurídico-
administrativa. (LODOLINI,1988, p.11, tradução nossa).
24 
 

  Terry Cook (1987), defende que o papel da Arquivologia envolve uma visão teórica

sobre as práticas arquivísticas, que migra da entidade documental para o processo, ou seja,
defende uma abordagem relacional do universo arquivístico. Para atingir esse resultado não se
pode mais partir do arranjo, da descrição e do armazenamento de entidades documentais, mas
é necessário identificar novas formas de análise das funcionalidades do fenômeno
informacional nos arquivos.
Os arquivos são produtos da sociedade na qual estão inseridos e remanescentes das
ações de seus produtores. Assim, não configuram espaços neutros, mas repletos de valores,
ideologias, dogmas e tabus. Todo documento elaborado, bem como todo documento escolhido
para ser preservado é um produto cultural e social de determinado contexto histórico. O
arquivo abarca formas específicas de poder e autoridade, além de simbolismos e intenções
veladas, conferindo-lhe um discurso próprio e refletindo, desse modo, a autoridade da
instituição que o mantém.

A memória possui instrumentos que ganham forma na sociedade através da


construção de instituições legitimadas pelo Estado, tais como museus,
monumentos, arquivos, etc. Estas instituições são designadas espaços de
memória que “são simultaneamente materiais, simbólicos e funcionais”.
(JARDIM, 1995, p. 2).

Arquivos são produtos culturais, histórica e socialmente situados, constituídos


através da manipulação de signos e propósitos, onde fenômenos imateriais adquirem forma
por meio de seu patrimônio documental. Representam espaços onde determinados tipos de
memória são depositados, memórias institucionalizadas, nascidas da relação Estado versus
Sociedade (JARDIM, 1995, p. 8)

[...] O que sobrevive não é o conjunto daquilo que existiu no


passado, mas uma escolha efetuada quer pelas forças que operam o
desenvolvimento temporal do mundo e da humanidade, quer pelos que se
dedicam à ciência do passado e do tempo que passa. (LE GOFF, 1996, p.535)

O poder simbólico emerge como força capaz de ditar significações e, de forma


imposta, as legitimarem. Assim, os arquivos são instrumentos da construção ideológica e
constituem importantes peças nesse processo, representando instrumento privilegiado de
sustentação do poder.

[...] Do mesmo modo, a memória coletiva foi posta em jogo de forma


importante na luta de forças sociais pelo poder. Tornarem-se senhores da
memória e do esquecimento é uma das grandes preocupações das classes, dos
25 
 

grupos, dos indivíduos que dominaram e dominam as sociedades históricas.


Os esquecimentos e silêncios da história são reveladores desses mecanismos
de manipulação da memória coletiva. (LE GOFF, 1996, p. 426)

Le Goff (1996) afirma que lugares de memória são territórios onde o poder é
exercido através de um programa de lembranças por meio do qual ocorrem a criação da
memória e seu controle, estabelecendo também o controle da história, da mitologia e do
poder.
Nesse contexto o arquivo é um dos espaços de acumulação de discurso ideológico
dentro da sociedade, e que emana signos que perpetuam, constituindo-se em um sistema
simbólico.
Bordieu avalia que sistemas simbólicos, tais como instrumentos de conhecimento e
de comunicação, nesse sentido, os arquivos, constituem um poder estruturante. Isso equivale
afirmar que, por constituírem-se artefatos políticos munidos de uma burocracia administrativa
(ou seja, artefatos estruturados) os arquivos trabalham a favor do sistema, de forma a
tornarem-se escrita e saber do Estado, ou das organizações.

2.1 Gestão de Documentos

O conceito de gestão de documentos surgiu após a Segunda Guerra Mundial, período


marcado por grande produção documental nas administrações públicas, que incorreu na
necessidade de racionalização das massas documentais acumuladas em depósitos e arquivos.
O referido conceito, que determina o gerenciamento do ciclo vital de documentos
incluindo a produção, o fluxo, o acesso, a avaliação e a destinação, pode ser entendido como
uma oposição à supremacia que a comunidade arquivística, até então, delegava aos
documentos de valor histórico em detrimento daqueles desprovidos dessa atribuição.
A emergência da gestão documental remeteu as funções arquivísticas para além da
custódia de documentos em instituições arquivísticas, orientando para serviços arquivísticos
estruturados junto aos processos administrativos de trabalho. Isso se refletiu no controle mais
eficiente da administração, através da aplicação de princípios e técnicas com o objetivo de
reduzir a quantidade de documentos e melhorar sua qualidade, controlar seus uso, acesso e
prazos de arquivamento.
26 
 

No Brasil, em 1991, a promulgação da Lei 8.159/911, que dispõe sobre a política


nacional de arquivos públicos e privados e estabelece as suas competências, enfatiza em seu
artigo 3º a definição de gestão de documentos:

Considera-se gestão de documentos o conjunto de procedimentos e


operações técnicas referentes à sua produção, tramitação, uso, avaliação e
arquivamento em fase corrente e intermediária, visando a sua eliminação ou
recolhimento para guarda permanente.

O Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística (2005)2 assim define a gestão


de documentos:

Conjunto de procedimentos e operações técnicas referentes à produção,


tramitação, uso, avaliação e arquivamento de documentos em fase corrente e
intermediária, visando sua eliminação ou recolhimento. Também chamado
administração de documentos.

Fundamentado na Teoria das Três Idades, princípio através do qual os documentos


cumprem fases estabelecidas de acordo com sua vigência administrativa e demanda de
consultas, o conceito de gestão de documentos representou uma nova concepção de arquivos.
A Teoria das Três idades representou mudanças marcantes quanto ao uso dos
arquivos e para a Arquivística, incorrendo também em transformações conceitual e prática. O
documento passa a receber controle desde a sua produção até a sua destinação final.
Baseada na prática americana do records management, passam a ser aplicados os
princípios de economia e eficácia no campo dos arquivos, “segundo o qual a informação deve
estar disponível no lugar certo, na hora certa, para as pessoas certas e com o menor custo
possível”. (JARDIM, 1987)
A expressão records management, posteriormente traduzida como gestão de
documentos, não surgiu da prática ou da teoria dos arquivos, mas por uma necessidade da
administração pública, conforme esclarece Jardim:

[..] as instituições arquivísticas públicas caracterizavam-se pela sua função de


órgão estritamente de apoio à pesquisa, comprometidos com a conservação e
acesso aos documentos considerados de valor histórico. A tal concepção
opunha-se, de forma dicotômica, a de ‘documento administrativo’, cujos
problemas eram considerados da alçada exclusiva dos órgãos da
administração pública que os produziam e utilizavam1 (JARDIM, 1987,
p.36).

                                                            
1
 Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8159.htm. Acesso em: 10 set.. 2014 
2
 Disponível em: http://www.arquivonacional.gov.br. Acesso em: 10 set. 2014 
27 
 

Na segunda metade do século passado, acontece uma revisão nos procedimentos


arquivísticos diante do volume documental produzido, mais especificamente na América do
Norte, de onde se propaga para os demais países ocidentais, a eliminação de documentos
antes do recolhimento para guarda permanente. Surge a formulação do conceito de ciclo de
vida dos documentos de arquivo.
Schellenberg, em 1956, publicou seu livro Arquivos modernos – princípios e técnicas
no qual dedica toda a Parte II à Administração de arquivos correntes onde se encontram os
capítulos: Controle da produção de documentos, Princípios de classificação, Sistemas de
registro, Sistema americano de arquivamento e Destinação dos documentos. Esta publicação
representou um marco no início da discussão sobre os arquivos correntes e a sua gestão. Isso
não representou, na prática, que os arquivos correntes passaram a ser tratados com base nos
preceitos da Arquivologia. As instituições arquivísticas continuaram a privilegiar os
documentos do arquivo permanente, em detrimento dos de arquivo corrente, com o objetivo o
de atender à pesquisa acadêmica. Essa tradição promoveria o distanciamento da prática da
gestão de documentos arquivísticos, da teoria dos arquivos.
Schellenberg representa um marco na adoção dos manuais para a organização dos
documentos de uso corrente em uma estrutura que espelhe o desenvolvimento das funções,
atividades e tarefas que geram documentos. Em instituições públicas ou privadas, os
processos organizacionais orientam a elaboração desses manuais. O plano de classificação de
documentos é construído a partir das funções hierárquicas.
Jardim (1987) ao analisar a concepção teórica e a aplicabilidade da gestão de
documentos desenvolvida, testada e aprovada para os arquivos americanos e canadenses,
ressalta a importância de se realizar experiências, em diversos níveis documentais, com vistas
à definição de uma metodologia específica para os arquivos brasileiros:

Se as experiências internacionais neste campo constituem um marco


referencial e fonte de inspiração para as nossas reflexões, cabe aos arquivos
públicos brasileiros, por meio de seus profissionais, juntamente com os
administradores públicos, voltar-se para a produção do conhecimento
indispensável à implementação consequente de programas de gestão de
documentos. (JARDIM, 1987, p.4)

A afirmação equivale ao entendimento de que a aplicação dos princípios teóricos da


gestão de documentos envolve a construção de metodologias específicas, compatíveis com a
tradição histórica e administrativa do país. Dessa forma, o aparato técnico norteador do
28 
 

estabelecimento das políticas na área, deve refletir e atender às demandas específicas do órgão
produtor de documentos, facilitando o fazer arquivístico e a rotina dos administradores.
A gestão documental é composta por um conjunto de procedimentos aplicados com o
objetivo de controlar os documentos arquivísticos durante todo o seu ciclo de vida, desde a
produção e acumulação nas fases corrente e intermediária. A partir da identificação das
características que apresenta a tipologia documental, são definidas as regras para sua
formatação e utilização, tramitação, avaliação e classificação.
A gestão documental se faz através de duas atividades básicas e integradas: a
classificação e a avaliação dos documentos arquivísticos. Dessas atividades decorrem duas
ferramentas: o Código de Classificação de Documentos e a Tabela de Temporalidade e
Destinação de Documentos.

O ciclo de vida do documento de arquivo passa por em três idades:

1ª Idade: Corresponde aos arquivos correntes que reúnem documentos de caráter probatório
das atividades de instituições e de indivíduos;

2ª Idade: Corresponde aos arquivos intermediários que reúnem documentos utilizados


ocasionalmente para conhecer processos e históricos necessários ao desenvolvimento de
atividades ou para fins comprobatórios;

3ª Idade: Corresponde aos arquivos permanentes que reúnem documentos a serem


preservados de modo permanente em função de sua importância histórica. São documentos
que perderam a vigência administrativa, mas possuem valor secundário ou histórico-cultural.

De acordo com o estudo RAMP de James RHOADS (1983), o programa de gestão


documental deve ser desenvolvido em três fases:

1. Produção: fase em que se administram os elementos específicos de um programa de


controle e criação de documentos, através da elaboração e gestão de formulários; gestão da
correspondência e dos relatórios; sistemas de gestão da informação; gestão das diretrizes da
preparação e difusão da informação sobre as políticas e procedimentos e aplicação das novas
tecnologias a estes processos.
29 
 

2. Utilização e conservação: fase que corresponde ao controle, utilização e armazenamento


dos documentos necessários para realizar ou facilitar as atividades de uma organização.
Compreende a implantação dos sistemas de arquivos e de recuperação da informação; a
gestão dos correios e telecomunicações; seleção e uso de equipamentos reprográficos; análise
de sistemas; produção e manutenção de programas de documentos vitais à administração e
uso de automação e reprografia nestes processos.

3. Destinação (eliminação) – fase na qual se definem os procedimentos para implantar as


propostas de eliminação de documentos, que envolve as atividades de identificação e
descrição das séries documentais; avaliação das séries de valor permanente para os arquivos;
eliminação periódica dos documentos sem valor de guarda permanente; transferências e
recolhimentos.
O que respalda a implantação de programas de gestão arquivística são as funções de
identificação, produção, avaliação e classificação documental dos programas de gestão,
permitindo a normalização de parâmetros para o planejamento adequado da produção e
controle da acumulação, seja para documentos produzidos em papel ou em ambiente digital.

2.2 Arquivos Permanentes

Para o Dicionário brasileiro de Terminologia Arquivística (2005), arquivo é o


conjunto de documentos produzidos e acumulados por uma entidade coletiva, pública ou
privada, pessoa ou família, no desempenho de suas atividades, independentemente da
natureza do suporte. Portanto, a origem desse conjunto de documentos constitui uma marca
indelével, indissociável e o que lhe dá inteligibilidade e identidade. As características desse
conjunto documental são delimitadas por seu acumulador.
O Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística (2005), assim define arquivos
permanentes: Conjunto de documentos preservados em caráter definitivo em função de seu
valor. Também chamado arquivo histórico.
A Lei 8.159/91 em seu parágrafo 3º, do artigo 8º, identifica como permanentes os
conjuntos de documentos de valor histórico, probatório e informativo que devem ser
definitivamente preservados.
30 
 

A principal função dos arquivos permanentes é reunir, conservar, arranjar, descrever


e facilitar a consulta a documentos de uso não corrente, que possam tornar-se úteis para fins
administrativos, pesquisas históricas e outros fins. A expressão não corrente aplica-se aos
documentos cuja utilização não é mais rotineira pela fonte produtora.
Do ponto de vista teórico o arquivo permanente justifica-se para que seja destinado
tratamento adequado e específico aos documentos permanentes, com base no princípio da
proveniência e na teoria das três idades, ambos definidos pela Arquivologia, de modo a
permitir à Administração, aos pesquisadores e à sociedade de modo geral, o acesso às
informações mantidas sob sua guarda.
A terceira idade dos documentos é iniciada após o recolhimento, operação que
conduz os papéis ao seu local de guarda definitiva: os arquivos permanentes. A guarda dos
documentos nesta idade não se restringe a mantê-los em arquivo, tendo em vista que se inicia,
nessa fase, seu uso social, científico e cultural.
Jenkinson (1965) entende o arquivo de guarda permanente como uma continuidade
do arquivo corrente, condenando a eliminação de documentos por parte do arquivista, pois
esta atividade, segundo este autor, deve ficar a cargo exclusivamente do próprio produtor. O
autor fundamenta seu posicionamento pelo valor administrativo dos documentos e entende
que os documentos nunca perdem o valor de informação e prova para quem o produz. Para
Jekinson, o valor secundário dos documentos é acidental, ideia também aceita por
Schellenberg (2002) e, desse modo, não deve ser referência para eliminações. Esse
entendimento conduz Jenkinson à formulação das qualidades dos archives (grifo nosso) de
imparcialidade e autenticidade.
Paes (2002) identifica as seguintes atividades como funções do arquivo permanente:
reunir; conservar; arranjar; descrever e tornar acessíveis documentos que atingiram a fase
permanente. A autora divide em quatro grupos as atividades do arquivo permanente:

ARRANJO DESCRIÇÃO E CONSERVAÇÃO REFERÊNCIA


PUBLICAÇÃO

Reunião e ordenação Acesso aos Medidas de Política de acesso


adequada dos documentos documentos para proteção aos e uso dos
consultas e divulgação documentos, documentos
visando à sua
proteção
31 
 

Existem dois princípios básicos na Arquivística, dentre outros, que se consolidaram


após anos de sua aplicação: o Princípio da Proveniência ou Respeito aos Fundos, que prevê a
guarda dos documentos de acordo com a sua origem; e o princípio da ordem original, ou seja,
a que lhes foi imposta na fonte produtora.
O princípio de Respeito aos Fundos (Respect des Fonds) foi formulado por Nataly de
Wally, chefe da Seção Administrativa dos Arquivos Departamentais, em 1841, foi publicado
pelo Ministério do Interior da França em 1848, de acordo com Silva (2002), como orientação
para tratamento de acervos documentais sem a intenção de desenvolver um conceito. De
acordo com Shellenberg (2002) a teoria dos fundos surgiu na França, em meados do século
XIX, através de um documento oficial expedido pelo então ministro do interior, orientando
que os documentos deveriam, a partir de então, ser agrupados por fundos, isto é, todos os
documentos produzidos por uma mesma fonte geradora seriam reunidos e constituiriam o
fundo daquela fonte.
Bellotto (2004) define fundo de arquivo como um conjunto de documentos cujo
crescimento se efetua no exercício das atividades de uma pessoa física ou jurídica. O
Dicionário Brasileiro de Terminologia Arquivística (2005) define fundo de arquivo como
conjunto de documentos de uma mesma proveniência.

Jenkinson, apud Shellenberg (2002), assim definiu fundo de arquivo:

[...] todos os documentos resultantes do trabalho de determinada


administração que constituiu um todo orgânico, completo em si mesmo,
capaz de tratar independentemente, e sem autoridade alguma ou externa, de
todos os aspectos de qualquer negócio que lhe pudesse ser apresentado de
modo normal. (JENKINSON, apud SHELLENBERG, 2002)

De acordo com a definição de Jenkinson, a constituição do fundo é baseada na


origem do documento, a razão pela qual foi criado, sua função e a entidade que o criou.
As definições apresentadas permitem o entendimento de que a noção de fundo está
diretamente relacionada à fonte produtora dos documentos, embora a produção dos
documentos represente a sua primeira idade e o estabelecimento de fundos seja uma operação
do arquivo permanente, portanto, aplicada a documentos da terceira idade.
32 
 

2.3 Políticas e práticas arquivísticas no Sistema FIRJAN: histórico e contexto atual

Aqui tentaremos analisar se as ações consideradas como políticas arquivísticas no


Sistema FIRJAN confirmam as afirmações acerca da existência dessas políticas no âmbito da
instituição.
O universo político nas empresas também se insere no universo inerente à política
pública, incluindo o interesse em fazer ou não fazer. O mesmo ocorre em relação às políticas
arquivísticas nas empresas privadas, que podem ou não ser instrumento de dominação do
poder vigente. Assim, podemos entender política também como responsabilidade de quem
tem o poder para decidir mas não o faz, faz menos do que deveria ser feito ou não faz de
acordo com o que deveria ser feito.
Para que ocorra a implementação de políticas arquivísticas, tanto no público quanto
no privado, é necessário que sejam identificadas e trabalhadas as seguintes etapas, de acordo
com Souza (2006): definição de agenda; identificação de alternativas; avaliação das opções,
seleção das opções, implementação e avaliação. A agenda é o instrumento que reflete a
priorização de temas e problemas a serem trabalhados por um governo ou organização e,
sobretudo, estabelece prioridades. Reflete conflitos, disputas e jogos que permeiam o poder,
tanto público, quanto privado.
O estabelecimento de políticas arquivísticas exige negociações, parcerias e ações a
fim de viabilizar sua implementação. É notório que são acordos permeados de discussões que,
não raro, carregam consigo a vaidade e as interferências inerentes ao poder, suscitando,
inclusive, interferências que podem afetar negativamente o resultado.
Jardim define políticas arquivísticas como:

[...] conjunto de premissas, decisões e ações – produzidas pelo Estado e


inseridas nas agendas governamentais em nome do interesse social – que
contemplam os diversos aspectos (administrativo, legal, científico, cultural,
tecnológico, etc.) relativos à produção, uso e preservação da informação
arquivística de natureza pública e privada. (JARDIM, 2003, p.2)

Diante disso, é possível entender que legislação arquivística não pode ser confundida
com políticas arquivísticas, pois o estabelecimento da primeira não esgota a necessidade de
adoção da segunda, considerando que os instrumentos legais determinam o que deve ser feito,
mas não identifica nem define como será feito.
33 
 

Um aspecto muito frequente é confundir-se legislação arquivística com


política arquivística. A legislação arquivística fornece elementos
normalizadores à política arquivística, mas não é em si mesma uma política.
Muitas vezes a legislação arquivística tende a ser considerada o marco zero
de uma nova era arquivística. É compreensível tal expectativa já que uma
legislação adequadamente concebida pode ser um poderoso instrumento a
favor da gestão, uso e preservação dos arquivos. A viabilidade dessa
legislação torna-se comprometida se não for simultaneamente instrumento e
objeto de uma política arquivística. (JARDIM, 2010, p.7)

Estabelecendo uma conexão entre as afirmações do autor acerca de políticas


arquivísticas e a realidade relacionada a essas políticas no âmbito do Sistema FIRJAN, é
possível compreender que a frequente confusão verificada no ambiente público entre
legislação e políticas arquivísticas, também ocorre no ambiente empírico deste estudo. As
normas administrativas adquirem status de marcos legais e são entendidas como instrumentos
suficientes para a gestão arquivística da organização, em detrimento do código de
classificação e da tabela de temporalidade de documentos.
Políticas arquivísticas devem ser dotadas de diretrizes que assegurem o direito à
informação, além de abarcarem orientações de forma a permitir a adoção de procedimentos
relacionados aos arquivos.
Assim, uma política arquivística deve ser precedida de discussões envolvendo atores
multidisciplinares. Isso demonstra, na afirmação de Jardim, que a política arquivística não se
esgota na configuração das leis e nem nos instrumentos que a viabilizam e é permeada de
conflitos, uma vez que se trata de um processo político.

 Ainda que a norma legal se faça acompanhar pela norma arquivística, esta
não assegura, por si só, a reordenação arquivística prevista na lei. A
construção das dimensões legal e técnico-científica, inerentes ao processo de
implantação de uma legislação arquivística, é simultânea e mesclada à
configuração da sua dimensão política. (JARDIM, 2003, p.8)

Com base no autor, é possível entender a impossibilidade de definir políticas


arquivísticas sem previamente compreender a dimensão de poder que as permeia. A valoriza-
ção da informação, enquanto estratégia de gestão, suscita nos ambientes organizacionais a
preocupação com a estruturação desse recurso, o que impõe a adoção de medidas acerca da
organização da documentação. De modo oportuno, essa demanda suscita a possibilidade dos
arquivistas apresentarem os arquivos como fonte das informações necessárias à gestão
empresarial.
34 
 

Magnani e Pinheiro (2011) ressaltam como o reconhecimento da informação como


valor estratégico de gestão, reflete na viabilização de outras ações relacionadas:

O valor estratégico da informação, reconhecido pelos Estados-nação,


consolida a noção das políticas nacionais de informação e os governos
passam a investir na construção de uma infraestrutura documental eficaz, de
suporte e apoio das atividades científicas. No bojo desse movimento, a
Ciência da Informação se consolida, em estreita conexão com as políticas e
sistemas nacionais de informação, em desenvolvimento nos países. Assim
como a própria Ciência da Informação, a política de informação ganha corpo,
integrada aos processos de desenvolvimento científico e tecnológico.
(MAGNANI e PINHEIRO, 2011, p. 594)

Políticas arquivísticas implicam em acompanhamento constante, o que as tornam


processos dinâmicos e sujeitos a reiteradas mudanças, não representando somente um
conjunto de diretrizes. Ultrapassam os limites das regras e práticas e se associam à atuação
política, além de exigirem legitimação e sustentação através de uma atuação política
constante.
A Lei 8.159 de 8 de janeiro de 1991, trouxe expectativas ao contexto privado que não
se concretizaram ao longo de sua existência. O capítulo III indica que os arquivos privados
poderão ser considerados de interesse público, desde que entendidos como fontes históricas
relevantes, além de outras premissas.

A situação dos arquivos privados no Brasil pode ser caracterizada em dois


eixos : a) arquivos de organizações privadas em atividades ( empresas,
igrejas, sindicatos, organizações não governamentais, etc.): exceções à parte,
as organizações privadas não se caracterizam, no Brasil, por práticas
sistemáticas de gestão da informação arquivística; b) arquivos de pessoas
físicas, famílias e arquivos de organizações privadas inativas: em diversos
casos, especialmente após os anos 70, alguns desses arquivos têm sido objeto
de atuação de centros de memória e documentação, públicos e privados.
(JARDIM, 2011, p. 207)

Essa expectativa de garantia de preservação, à luz da legislação, não se realizou e a


alienação, somada à deterioração dos arquivos privados, adquire maior dimensão a cada dia.
Nesse contexto se verifica a documentação mantida nos arquivos do Sistema
FIRJAN, considerando que o aparato normativo que a cerca não impede a sua alienação,
sobretudo ao analisarmos a gestão documental que está centrada nos documentos com
finalidade probatória, não contemplando suas possibilidades históricas. Contratos de serviços,
acordos de cooperação, convênios, documentação oriunda de licitação, documentação
financeira, documentação de Recursos Humanos, dentre outros documentos, são mantidos no
mesmo espaço físico, separados apenas pelo critério de corrente e intermediário. Não há
35 
 

preocupação com valor histórico dos documentos, mas somente com o seu caráter de prova.
Documentos textuais e iconográficos que possuem relação com a história da indústria
fluminense estão dispersos, sem tratamento arquivístico e geridos sem preocupação com a
questão da preservação, considerando as eliminações a que são submetidos com frequência a
fim de desocuparem espaços. Entendem como política arquivística os instrumentos de gestão,
tabela de temporalidade e manual de classificação, e, sobretudo, os instrumentos normativos.
Todavia, a tabela de temporalidade prevê guarda permanente somente para documentos
contemplados por legislação específica, que obrigue sua preservação. Quando o documento é
julgado, por questões legais, inalienável, lhe é atribuído um prazo de guarda bastante dilatado,
evitando-se o emprego do termo permanente e não o distinguindo, no arquivamento
propriamente dito, dos documentos correntes. Não há explicação para essa decisão, o que
dificulta, sobremaneira, o trabalho dos arquivistas.
Quanto ao aparato normativo, no que concerne aos arquivos se torna evidente a
tentativa de suprir o que falta aos instrumentos de gestão arquivística. Sugere uma tentativa de
atribuir aos administradores, responsáveis pela criação das normas e instruções operacionais,
a gestão dos arquivos.
O que poderia ser facilmente implementado através dos instrumentos de gestão
arquivística, caso estes não fossem utilizados como instrumentos de restrição do fazer
arquivístico no âmbito do Sistema FIRJAN, é propagado através de normas e instruções
operacionais imprecisas, que definem o que fazer, mas não orientam sobre como fazer e por
essa razão não dão conta da problemática que permeia os arquivos da organização. Esses
instrumentos dependeriam de auditoria permanente, para que suas determinações fossem
cumpridas, o que também não acontece.

O aumento da percepção da informação enquanto instrumento de poder,


também é um fator que contribui para a formação do regime global de
política de informação. [...] Como consequência da informatização da
sociedade, muitas das atividades de informação sofreram uma alteração de
status e saíram de um nível de interesse predominantemente técnico para um
nível de interesse político, pelo reconhecimento do poder da informação.
(MAGNANI e PINHEIRO, 2011, p.599)

De acordo com Magnani e Pinheiro (2011) em abordagem referente a política de


informação, é possível notar que o mesmo pensamento é inerente, também, a políticas
arquivísticas, considerando que ambas estão diretamente relacionadas a posicionamento
político, envolvendo, inclusive, demarcações de território, poder. Essa realidade também se
36 
 

verifica em relação a qualquer questão que envolva processos e fluxos documentais em


qualquer ambiente, seja público ou privado.

Os processos de criação, transmissão e uso da informação no cenário


marcado pelas tecnologias da informação e da comunicação, especialmente a
Internet, entrelaçam atores e matérias em uma intrincada rede de relações, o
que torna complexa a tarefa de estabelecer diretrizes políticas que possam
resolver, de forma equilibrada e justa, as disputas e os embates gerados ao
redor desses processos. (MAGNANI e PINHEIRO, 2011, p.596)

As autoras citam Frohmann (1995) para mencionar a possibilidade de identificar


políticas de informação em determinados ambientes.

E quando nós pensamos sobre os fluxos de informação girando ao nosso


redor, sejam eles culturais, acadêmicos, financeiros, industriais, comerciais,
institucionais, ou os seus muitos elementos híbridos, nós nos damos conta
que eles possuem estruturas e formas específicas. Vamos, portanto, chamar
qualquer sistema ou rede mais ou menos estável na qual a informação flui
através de determinados canais de produtores específicos, através de
estruturas organizacionais específicas, para consumidores específicos ou
usuários, de regime de informação. Radiodifusão, distribuição de filmes,
publicações acadêmicas, bibliotecas, fluxos transfronteiras, e as infoestradas
emergentes: todos eles são nós de redes de informação, ou elementos de um
regime de informação específico. (FROHMANN:1995, p.2-3, apud
MAGNANI e PINHEIRO, 2011, p. 601)

Nesse sentido, também são nítidas as disputas políticas relacionadas aos arquivos do
Sistema FIRJAN, o que incorre em uma gestão precária tendo em vista a inexistência de
identificação dos acervos permanentes, o descaso com a memória não somente do Sistema
FIRJAN, como também da indústria fluminense, a ocupação irrestrita da área destinada à
documentação e o desperdício financeiro decorrente de decisões unilaterais, sem a
participação dos arquivistas. É um território político no qual as disputas são acirradas e
relacionadas ao poder, em detrimento da gestão arquivística. Isso ocorre nos limites dos
arquivos, sem o conhecimento da gestão superior e, desse modo, os arquivos são apropriados
e geridos de acordo com a vontade de quem os comanda.
Decorrentes, também, do quadro supracitado, são os arquivos paralelos criados para
suprir as necessidades das diversas áreas integrantes do Sistema FIRJAN. Contratações de
empresas para digitalização de documentos sem definição de critérios baseados na
arquivística, inclusive com descarte dos originais, são realizadas com frequência. Os acervos
fotográficos, normalmente relacionados a solenidades empresariais e eventos sociais
37 
 

promovidos pelo Sistema FIRJAN, são mantidos pelas áreas produtoras sem qualquer
tratamento arquivístico, o que incorre em alienação e perda. Não há por parte da autoridade
arquivística, orientação quanto à metodologia de arquivamento e à preservação dos acervos
produzidos e mantidos pelas diversas áreas do Sistema FIRJAN. Neste caso, ocorre a decisão
de não fazer, não decidir, não interferir, não agir, não se expor, não trazer para si o que de fato
lhe compete. Isso também representa uma decisão política, de acordo com Jardim:

[...] Algumas políticas são mais explícitas ou latentes ou tomam a forma de


uma “não-decisão”. Por isso o estudo de políticas deve deter-se, também, no
exame de não-decisões. A “não-decisão”, porém, é um ato de poder. É
diferente da decisão que não se toma por falta de poder ou por inércia ou por
inépcia. (JARDIM, 2011, p.210)

A reflexão do autor com relação à necessidade de analisar, também, a não-decisão, é


bastante pertinente e oportuna a fim de compreender as razões que levam os detentores do
poder a não agir, uma vez que as ações incorreriam em benefícios à organização e
proporcionariam, no cenário político, visibilidade aos arquivos.
Ainda de acordo com Jardim (2011) é preciso avaliar frequentemente o alcance das
políticas executadas. Da mesma forma, também é necessário analisar as questões acerca dos
obstáculos às políticas arquivísticas.
Uma integração entre os instrumentos de gestão arquivística, o aparato normatizador
e a aplicação de auditorias permanentes a fim de verificar a obediência a esses instrumentos,
poderia representar a solução, ou parte desta, aos problemas verificados na gestão de arquivos
do Sistema FIRJAN. Porém, primeiramente é necessário resolver os problemas da gestão,
sobretudo em relação às áreas fim do Sistema FIRJAN, desprovidas de qualquer orientação
arquivística. Após a definição das bases da gestão documental, é preciso definir objetivos e
ações que se pretende atingir e envolver os atores relacionados, tornando evidente a
importância da multidisciplinaridade, obtendo de cada um a contribuição necessária ao
atingimento dos objetivos.
Segundo Jardim, são comuns as características de atuação das instituições
arquivísticas brasileiras. O mesmo comportamento se verifica nas instituições privadas.

 Seja nas instituições arquivísticas ou nos serviços arquivísticos, a


ausência de padrões de gestão da informação, somada às limitações de
recursos humanos, materiais e tecnológicos, resulta em deficiências no seu
processamento técnico e acesso. Ao não desenvolverem a interação inerente
ao controle do ciclo da informação arquivística (integrando as fases corrente,
intermediária e permanente), ambas as instâncias organizacionais tornam-se
desvinculadas do processo político-decisório governamental. Por outro lado,
38 
 

as restrições de consulta e as condições de acesso físico e


intelectual dos arquivos limitam consideravelmente a sua utilização pelo
administrador público e o cidadão. (JARDIM, 2008, p.9)
 

Jardim menciona a importância da transversalidade (grifo nosso) com relação às


políticas arquivísticas:

 Políticas públicas arquivísticas são um tema recorrente na literatura


arquivística, embora careça de aprofundamento teórico. Políticas públicas
arquivísticas podem ser setoriais (em função das características de produção
dos arquivos, tipologia, utilização, demarcação administrativa, etc.) e
apresentar uma configuração nacional, regional ou local. Espera-se, em
qualquer circunstância, que apresentem alto grau de transversalidade, ou seja,
intersecção com outras políticas públicas, tendo em vista a importância da
informação para a execução de cada uma delas. (JARDIM, 2011, p.201)

O arquivo não pode servir de instrumento de poder, a serviço de quem quer utilizá-lo
em benefício próprio. Muito menos ser território de disputas e vaidades que não agregam
benefício algum ao contexto em que está inserido. Ao contrário, o arquivo deve cumprir o
papel que lhe é devido: informar, apoiando a tomada de decisão; preservar, retirando dos
armários a história dispersa das entidades que integram o Sistema FIRJAN e agregar valor aos
processos operacionais a partir da informação. Arquivos não se limitam à guarda de
documentos probatórios. Sua função vai além dos muros da organização na medida em que a
atuação da organização se destina à sociedade. Estes devem cumprir a responsabilidade
histórica que lhe cabe, enquanto prestador de serviços à sociedade.
Entendemos que uma política arquivística deve contemplar um planejamento com
previsão de investimentos em treinamento de colaboradores, recursos tecnológicos, captação
de recursos financeiros através de projetos patrocinados, definição de diretrizes
metodológicas, adoção de estratégias relacionadas a uma política de divulgação a fim de dar
visibilidade ao arquivo e, paralelamente, suscitar o envolvimento dos públicos interno e
externo com o objetivo de reposicionar o arquivo no contexto organizacional e no âmbito da
sociedade, de modo que estes o considerem imprescindível. Efetivamente, uma política
arquivística deve incluir premissas, ações, decisões, indicadores e resultados, independente do
ambiente em que esteja inserida, seja ele público ou privado.
Diante disso é possível perceber que entre o discurso e a prática, há uma imensa
lacuna. A ideia difundida no âmbito do Sistema FIRJAN acerca da existência de uma política
arquivística é equivocada. Não há política arquivística em razão da gestão arquivística não
39 
 

contemplar toda a organização, tendo em vista os instrumentos de gestão estarem


desatualizados em relação à produção documental e às necessidades de preservação da
documentação, sobretudo quanto à desconsideração acerca do valor permanente com vistas à
preservação dos documentos de arquivo dotados de valor histórico.
Há tímidas iniciativas que minimizam o problema representado pelo crescimento
documental sem controle, mas que não representam uma política arquivística e não resolvem
a problemática que envolve a produção e o controle documental. Ao contrário, podem
representar um risco à preservação de documentos representativos à história do Sistema
FIRJAN, considerando a relevância dedicada aos documentos probatórios em detrimento
daqueles dotados de valor histórico.
É preciso compreender a responsabilidade social histórica que envolve a
documentação gerada pelas entidades do Sistema FIRJAN, relacionando-a à uma história que
não é somente da organização, mas também da sociedade, considerando a relação entre o
capital e o social a partir de políticas sociais patrocinadas pelas empresas e implementadas
através do Sistema FIRJAN. É necessário entender a não decisão, que leva ao não
estabelecimento de uma gestão arquivística abrangente e de políticas arquivísticas, suas
razões e consequências, considerando que a inexistência desses mecanismos não produz
benefícios à organização, ao contrário, compromete decisões e impõe lentidão aos processos
administrativos.

2.4 A Lei de Acesso à Informação e o Sistema FIRJAN

As instituições privadas, de modo geral, não são abordadas pela literatura que se
ocupa da investigação da Lei de Acesso à Informação. No âmbito do Sistema FIRJAN
também não se verifica preocupação quanto ao cumprimento da Lei 12527/2011. Entendemos
que isso se deve às divulgações nos meios de comunicação, de ocorrências, em regra,
relacionadas ao setor público, induzindo ao entendimento equivocado de uma aparente
imunidade às sanções desta lei, quando relacionada às organizações privadas. Porém, as
consequências da inobservância à LAI podem impactar de modo devastador também o setor
privado que possua vínculos com o poder público, como tentaremos evidenciar a seguir.
A Lei 12.527 de 18 de novembro de 2011, regulamenta o acesso às informações públicas
no país. Ao regulamentar o artigo 5º, inciso XXXIII da Constituição Federal, a LAI deixa
40 
 

claro que o interesse público deverá estar acima dos interesses institucionais ou privados,
excetuando-se a isto os direitos de personalidade e intimidade.
A regulamentação do referido artigo impõe ainda maior preocupação acerca da
documentação de potencial valor histórico gerada pelas entidades que integram o Sistema
FIRJAN, tendo em vista as Leis Federais 8159/913 e 12527/114. Ambas são claras quanto à
abrangência relacionada aos arquivos privados identificados como de interesse público.

A primeira, nos Artigos 12 e 13 do Capítulo III, prevê que:

Art. 12. Os arquivos privados podem ser


identificados pelo Poder Público como de interesse público e social, desde
que sejam considerados como conjuntos de fontes relevantes para a história e
desenvolvimento científico nacional.

Art. 13. Os arquivos privados


identificados como de interesse público e social não poderão ser alienados
com dispersão ou perda da unidade documental, nem transferidos para o
exterior.

A segunda e que mais se aproxima da realidade do Sistema FIRJAN, declara no


Artigo 2 do Capítulo I, que:

Art. 2º Aplicam-se as disposições desta


Lei, no que couber, às entidades privadas sem fins lucrativos que recebam,
para realização de ações de interesse público, recursos públicos diretamente
do orçamento ou mediante subvenções sociais, contrato de gestão, termo de
parceria, convênios, acordo, ajustes ou outros instrumentos congêneres.

De acordo com Jardim, a existência de uma legislação arquivística não garante que
esta será reconhecida pela sociedade, pelo Estado, pela sociedade civil e até mesmo pelas
instituições arquivísticas, sem que seja necessário um grande esforço da organização
arquivística nacional, no caso brasileiro, do Arquivo Nacional e do CONARQ (JARDIM,
2003, p. 8). Difundir publicamente a legislação a fim de informar aos diversos setores da
sociedade acerca das responsabilidades e dos riscos que a envolvem, pode representar parte da
sua viabilização.

Uma legislação ignorada pela sociedade e o Estado pode ser tão perniciosa
quanto a falta dela. Evidentemente todos estes aspectos pressupõem recursos
financeiros, imprescindíveis à aplicação da legislação. A experiência histórica
mostra que todos os países que contaram com os recursos necessários para a
viabilização das suas leis arquivísticas contaram, a médio e longo prazo, com

                                                            
3
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8159.htm. Acesso em: 05 nov. 2012
4
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L12527.htm.Acesso em: 05 nov. 2012
41 
 

benefícios concretos à sua economia, um Estado mais eficiente e transparente


e a garantia ao direito à informação e à memória por parte da sociedade. O
fato de a legislação ter sido aprovada não significa, de modo algum, que os
diversos agentes do Estado tenham a mínima consciência a este respeito.
(JARDIM, 2003, p.8)

Quanto às responsabilidades, objeto do Capítulo V, o Artigo 33 prevê as sanções a


que pessoa física ou entidade privada que detiver informações em virtude de vínculo de
qualquer natureza com o poder público, e deixar de observar o disposto nesta Lei, estará
sujeita.
Entendemos que a responsabilidade do Sistema FIRJAN esteja relacionada à Lei de
Acesso à Informação somente em relação às entidades SESI e SENAI, que mantêm vínculo
com o poder público através dos Decreto-lei nº 9.403, de 25 de junho de 1946 e Decreto-lei nº
6.246, de 5 de fevereiro de 1944, respectivamente.
Conforme interpretação de José Maria Jardim5 acerca da Lei 12527/11, em recente
trabalho publicado no XIII ENANCIB 2012:

Desde a sua divulgação, ainda como anteprojeto, a LAI tem sido identificada
na mídia e em eventos acadêmicos como “Lei de Acesso à Informação
Pública”. Toda informação produzida ou acumulada pelo Governo no
decorrer da administração do Estado é de natureza pública, embora não seja
eventualmente de acesso irrestrito, por força de restrições legais. Assim, nem
toda informação considerada “pública” é produzida pelo Governo: um
relatório de uma empresa privada sobre tendências do mercado financeiro
pode ser publicizado, embora seja um documento de  natureza privada. 
(JARDIM, 2012, p.5)
 
 
Desse modo, é também objeto de investigação deste trabalho os riscos e possíveis
impactos decorrentes da inobservância às Leis mencionadas, propondo medidas preventivas a
fim de evitar danos ao Sistema FIRJAN.
A gestão documental atualmente praticada no Sistema FIRJAN, por não considerar o
valor histórico dos documentos, por não atuar sobre toda a documentação gerada no âmbito da
organização, por não manter diálogo com diversas áreas e, sobretudo, por preocupar-se
somente com a questão da prova documental frente às possíveis demandas de auditorias e
pontuais causas jurídicas, quer por questões financeiras, trabalhistas ou licitatórias, impõe
restrições de acesso a pesquisadores interessados na história da organização, tendo em vista a
ausência de tratamento arquivístico adequado.
O acúmulo documental representa outro fator preocupante, decorrente da gestão
                                                            
5
Disponível em: http://revistaculturacidadania.blogspot.com.br/2012/10/xiii‐enancib.html. Acesso em : 06 nov. 2012. 
42 
 

cujos instrumentos mostram-se ineficientes diante do volume de documentos produzidos


diariamente em toda a organização. A gestão documental não ocorre na origem da
documentação e não há instrumentos capazes de controlar todo o ciclo.
Percebe-se os riscos decorrentes da gestão documental ineficiente, quando
consideramos a possibilidade de pesquisadores em busca de informações referentes às
entidades que compõem o Sistema FIRJAN, amparados pela Lei 12.527/2011, apresentarem
suas demandas.
Uma gestão documental abrangente, voltada às diversas possibilidades de pesquisa e
integrada ao CMSF, deverá resultar na reunião dos elementos formadores da memória do
Sistema FIRJAN, assegurando-lhes um lugar e divulgando-os, além de estabelecer vínculos
com a sociedade. O espaço deverá se transformar em referência para os pesquisadores
interessados na história da indústria do estado do Rio de Janeiro e suas interlocuções com a
indústria brasileira. Assim, será possível reduzir o número de respostas negativas às
solicitações de pesquisas acerca dos acervos relativos à trajetória da instituição incorrendo, de
modo paralelo, na redução dos riscos de descumprimento à Lei de Acesso à Informação.

3 MEMÓRIA, MEMÓRIA INSTUCIONAL E A CONTRIBUIÇÃO DOS ARQUIVOS

Esta seção tem como objetivo identificar os conceitos de memória, memória


institucional e a relação destas com os arquivos, sobretudo quanto à contribuição que estes
oferecem na reinterpretação do passado.
Le Goff afirma ser o conceito de memória crucial e seu estudo envolve vários
campos do saber, uma vez que a memória, como propriedade de conservar certas
informações, nos remete a um conjunto de ações psíquicas, com as quais atualizamos
impressões passadas. Assim, ao lado da memória individual, por exemplo, a memória pode se
apresentar, ainda que de forma metafórica, como memória histórica e coletiva, portanto,
social.
Nora, ao comparar memória e história, supõe que essa relação não conduz ao
conceito de memória, mas ao conceito de história. Afirma Nora que fala-se tanto de memória
porque ela não existe... Há locais de memória porque não há mais meios de memória.
(NORA 1993, p.7). Para Nora, se habitássemos ainda nossa memória, não teríamos
necessidade de lhe consagrar lugares e, por conseguinte, não haveria lugares porque não
43 
 

haveria memória transportada pela história. Ainda de acordo com Nora (1993), a construção
de lugares de memória é uma tentativa de dar sentido de continuidade onde só há ruptura.
Distingue dois tipos de memória: “tradicional” e “imediata”, e uma memória que sofre
transformações ao passar à “história”. À medida em que desaparece a memória tradicional, nós
nos sentimos obrigados a acumular religiosamente vestígios, testemunhos, documentos, imagens,
discursos, sinais visíveis do que foi.
Nora analisa os lugares de memória como uma construção do que já não se tem. Esses
lugares, de acordo com o autor, serão lugares da história, decorrentes da falta da intenção de
memória.

Os lugares de memória pertencem a dois domínios que a tornam interessante,


mas também complexa: simples e ambíguos, naturais e artificiais,
imediatamente oferecidos à mais sensível experiência e, ao mesmo tempo,
sobressaindo da mais abstrata elaboração. (NORA, 1993, p.21)

São lugares, segundo Nora, constituídos a partir de um jogo entre a memória e a


história, no qual existe um incessante ressaltar do que se quer lembrar.
Entendemos que os vestígios da memória abrigados nos lugares relatados por Nora
são o patrimônio cultural representados pelo conjunto de bens relevantes, determinados por
escolhas. São bens que antes de tornarem-se patrimônio foram objetos ou resultados de ações
promovidas por determinados grupos em decorrência de sua interação social.
Desse modo, compreendemos que a preservação dos elementos que representam o
modo de vida de um grupo, de uma cultura - fragmentos, evidências ou provas – proporciona
a reavaliação das nossas ações no presente, uma vez que é a partir desse confronto entre
memória e presente que a identidade é estabelecida. É possível entender que o estágio da
produção de objetos que representam a memória, institui o mundo da significação. Esse é o
sentido de memória essencial à identidade das pessoas no mundo e reforça a ideia da
significação.
No que concerne ao ambiente organizacional, a Memória Institucional surge como
possibilidade de comunicação com possibilidade de propiciar a relação e o resgate da
identidade dos indivíduos. Ao preservar a Memória Institucional as instituições detêm a
possibilidade de disseminá-la com a criação do seu próprio lugar de memória. Consiste em
uma construção de fatos e acontecimentos significativos da trajetória e das experiências da
organização, selecionados e organizados com o objetivo de estimular o processo de
consolidação de uma identidade comum entre esta e seus públicos de interesse, tendo em vista
a possibilidade de utilização da memória, também, como ferramenta de comunicação,
44 
 

promovendo um estreitamento da relação com seus clientes e com a sociedade, agregando


valor aos negócios da organização e à sua marca.
A comunicação organizacional reforça a utilização estratégica da memória
institucional, tornando-a um instrumento de comunicação a fim de atingir determinada
imagem pretendida. Seleciona símbolos, valores, cultura e outros elementos capazes de
representar a memória.
O conceito de memória, quando relacionado às empresas, se torna desafiador,
considerando as poucas discussões existentes sobre o tema. Nesse sentido, é necessário
observar que memória não é alvo recorrente do interesse das empresas privadas, embora já se
perceba algumas pesquisas relacionando este conceito a estratégias de gestão corporativa.
Porém, o que se verifica são trabalhos que se limitam a visões generalistas sobre a utilização
da memória na tomada de decisão empresarial, com base em modelos anteriores de gestão.
São raras as publicações que consideram a memória como patrimônio da empresa, ou que a
vincule a estudos de memória social, o que nos leva a considerar que a memória das
empresas, embora constitua uma área disciplinar de inegável relevância, ainda possui poucas
abordagens acerca de seus campos teórico e empírico.
Nas organizações privadas a memória é representada pelos itens que determinam a
preservação da história e que permitem contar a sua trajetória. Esses itens variam de objetos a
conhecimentos individuais e a reunião desses recursos pode remontar uma narrativa
correspondente à sua história. A memória é seletiva e é possível escolher experiências boas e
ruins para se preservar. Assim, a história é passível de inúmeras narrativas.
Enquanto fenômeno social, a memória não vem sendo retomada unicamente como
principal elemento de construção de identidade e de evocação do passado para preservar a
história, mas também como base de reflexão crítica de erros, interpretações e equívocos
cometidos pela sociedade. Os componentes da cultura organizacional constituem importantes
elementos que são apropriados e usados pela memória empresarial, quer seja como exemplos
a serem seguidos na própria organização, quer seja como representação do sucesso da
empresa. Dessa forma, o estudo da memória empresarial tem sido valorizado dentro de um
processo de construção de identidade conduzido por diversos setores sociais.
Alguns relatos tendem intencionalmente a enaltecer o passado empresarial. São
narrativas épicas, românticas e engrandecedoras da trajetória da empresa. Existe uma clara
intencionalidade na atribuição do que irá representar o passado e as relações de poder, ou seja,
a memória é definida por quem decide o que pode e deve ser lembrado, “resgatado” do
passado. Um passado escolhido.
45 
 

Enfim, a memória relacionada à herança do passado, documentos selecionados como


monumentos, escolhas de pesquisadores, não importa. Sendo o documento, resultado de uma
seleção permeada por relações de poder, incorre em sua declaração como monumento. É
sabido que o monumento é que vincula o passado à perpetuação e se transforma em um
legado à memória.
Identidade e reputação constituem a memória (NASSAR, 2007). Produtos e serviços
já não são mais suficientes, nem mesmo as responsabilidades socioambientais. As empresas já
perceberam que o mercado exige um diferencial mais representativo: a Responsabilidade
Histórica. Isso remete à credibilidade da marca que é oferecida. Ainda de acordo com Nassar,
a Responsabilidade Histórica Empresarial “[...] é um conceito sistêmico, relacionado às
atividades humanas especialmente a partir das organizações empresariais [que] reúne as
responsabilidades comercial, legal, ambiental, cultural, social, etc. [...]”, e sua construção
ocorre por meio do tratamento, preservação e disseminação da Memória que, por ele, é
identificada como Institucional.
A necessidade de lembrar o que aconteceu a fim de tomar decisão ou a intenção de
lançar mão de fatos do passado para respaldar sua trajetória, justificam o registro e a guarda
de informações.
De modo geral, os projetos de recuperação da memória de empresas envolvem
aspectos conceituais, técnicos e organizacionais, mas também definem estratégias de
apropriação e uso da memória e, naturalmente, questões éticas.
A informação se qualifica como meio entre o registro do conhecimento e a produção
da memória social, em razão da sua capacidade de fornecer dados e suprir a necessidade
social de recordar o passado.

Le Goff cita a utilização da informação, registro do passado, para a memória:

A memória, como propriedade de conservar certas informações, remete-nos


em primeiro lugar a um conjunto de funções psíquicas, graças às quais o
homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou o que ele
representa como passadas. (LE GOFF, 1990, p.423).

Le Goff menciona que o surgimento da escrita traz um desdobramento da memória,


que é a celebração através de um monumento, documento, ou uma comemoração relacionada
à memória.
Embora Le Goff (1990) não mencione o termo “memória social” é possível perceber,
46 
 

a partir do seu entendimento acerca da “memória ligada ao documento”, que a utilização


desses registros agrega à sociedade uma dinâmica de relações pautadas na comunicação e na
troca de informações, o que transforma a memória coletiva dos povos sem escrita em
memória social.

[...] fornece ao homem um processo de marcação, memorização e registro";


[...] ao assegurar a passagem da esfera auditiva à visual, permite "reexaminar,
reordenar, retificar frases e até palavras isoladas" (GOODY apud LE GOFF,
1990, p.433).

Identificando-se as empresas como parte integrante da sociedade, estas


desempenham importante papel na construção da memória social, considerando que
produzem informações e essas devem ser preservadas a fim de constituir a memória
propriamente dita. Ao preservar a memória, as empresas criam o seu lugar e podem utilizá-la
da forma que considerarem mais conveniente.
Na definição do dicionário Houaiss, o termo instituição é definido como “Organismo
público ou privado, estabelecido por meio de leis ou estatutos que visa atender a uma
necessidade da sociedade ou da comunidade mundial.”
Nesta pesquisa foram encontradas poucas definições para Memória Institucional e seu
significado aparece comumente associado aos termos Memória Organizacional ou
Empresarial. Foram verificadas, também, diversas equivalências entre os termos organização
e instituição, o que pode contribuir para uma falta de distinção entre Memória Institucional e
Memória Organizacional.
Icléia Thiesen define memória como um elemento primordial ao funcionamento das
instituições, e enfatiza que é através da memória que as instituições se reproduzem na
sociedade em que estão inseridas, retendo somente as informações que interessem ao seu
funcionamento. A autora observa que os indivíduos é que fazem a memória das instituições,
sendo ela o reflexo dessa trajetória social e histórica.

[...] as instituições retêm aquilo que é fundamental para seu funcionamento. É


ilusório pensar que as instituições existem como abstrações, pois nós as
fazemos funcionar, como nossas ideias e valores fundamentais. (THIESEN,
1997, p. 137)

Para Thiesen (1997), a memória é condição fundamental ao funcionamento das


organizações. A seletividade entre o que deve ser retido e o que deve ser desprezado varia de
acordo com os interesses que a regem.
47 
 

O conceito de memória, se relacionado ao fenômeno da informação, pode ser


entendido como estímulos, impressões que integram o quadro mais geral das lembranças que
compõem o acervo de experiências dos indivíduos, de acordo com Thiesen.
De acordo com Le Goff (1990), os fenômenos da memória, tanto nos seus aspectos
biológicos como nos psicológicos, nada mais são do que os resultados de sistemas dinâmicos
de organização e apenas existem na medida em que a organização os mantém ou os
reconstitui.
Lugares topográficos, como os arquivos, as bibliotecas e os museus; lugares
monumentais como os cemitérios ou as arquiteturas; lugares simbólicos como
as comemorações, as peregrinações, os aniversários ou os emblemas;
lugares funcionais como os manuais, as autobiografias ou as associações:
estes memoriais têm a sua história. Mas não podemos esquecer os
verdadeiros lugares da história, aqueles onde se deve procurar, não a sua
elaboração, não a produção, mas os criadores e denominadores da memória
coletiva: Estados, meios sociais e políticos, comunidades de experiências
históricas ou de gerações, levadas a constituir os seus arquivos em função dos
usos diferentes que fazem a memória. (LE GOFF, 1990, p. 473)

Através dos primeiros estudos realizados acerca do conceito de memória, foi possível
perceber que se subdivide em três termos quando relacionado às empresas privadas:
institucional; organizacional e corporativa. Neste trabalho será utilizado, por opção, o termo
Memória Institucional.
Foram encontradas poucas definições específicas para Memória Institucional.
Invariavelmente, seu significado aparece associado ao termo Memória Organizacional ou
ainda Memória Empresarial.

A distinção entre Memória Organizacional e Memória Institucional está no


foco de cada atividade. Enquanto o termo Memória Organizacional está
relacionado à ideia da eficácia, que aceita mudança em sua trajetória, o termo
Memória Institucional remete à de legitimidade, criação e identidade,
justificando sua escolha para este estudo, pois estabelece uma conexão com o
conceito que as empresas têm atualmente de que identidade e reputação
constituem a memória. (NASSAR, 2007).

As empresas começam a se preocupar em apresentar um diferencial para o mercado:


a Responsabilidade Histórica Empresarial que, segundo Paulo Nassar (2007), é um conceito
sistêmico, relacionado às atividades humanas, especialmente a partir das organizações
empresariais, e reúne as responsabilidades comercial, legal, ambiental, cultural, social, etc., e
que só se constrói por meio do tratamento, preservação e disseminação da Memória
Institucional.
Primeiramente é preciso fazer perceber aos gestores das organizações, a
48 
 

possibilidade de uso da memória institucional como estratégia de gestão corporativa e de


comunicação com a sociedade. Demonstrar que uma trajetória empresarial carrega em si
mesma um conjunto de experiências que, se evidenciadas, poderão atrair a curiosidade e o
interesse da sociedade e de novos investidores. Em segundo lugar está a organização dos
elementos, que permitem a elucidação dessa memória que, em alguns casos, está apenas na
lembrança das pessoas ou dispersas em armários lotados de papéis, em fotografias esquecidas
após seu uso imediato e em documentos criados para atender exigências legais. Organizar os
elementos que constituem a Memória Institucional e contar a sua história, representa atribuir à
imagem da empresa a solidez necessária à construção da sua identidade propriamente dita.
É importante esclarecer a diferença entre os conceitos de imagem e identidade que,
de acordo com Philip Kotler, podem ser assim definidos:

Identidade e imagem são conceitos que precisam ser diferenciados.


Identidade é o modo como a empresa busca identificar ou posicionar a si
mesma ou a seu produto. Imagem é o modo como o público vê a empresa ou
seus produtos. Uma identidade eficaz precisa exercer três funções:
estabelecer a personalidade do produto e a proposta de valor; comunicar essa
personalidade de forma diferenciada; transmitir poder emocional além da
imagem mental. (KOTLER, 2006, p.315)

O poder emocional a que Kotler se refere pode ser obtido através da memória que, no
caso do Sistema FIRJAN, está diretamente relacionado à prática da Responsabilidade Social.
Expor seus produtos, aqui serviços, através de uma política de divulgação relacionada à
identidade da organização, visualizada a partir do estabelecimento de um espaço de memória
que permita a reunião e a organização dos elementos formadores da sua história, ou seja, dar
visibilidade à organização através de mecanismos de divulgação da sua trajetória.
Chiavenato (2010) não utiliza o termo instituição, entretanto, enfatiza que toda
organização para se manter necessita de uma “espinha dorsal capaz de sustentar o todo
organizacional”, uma espécie de estrutura oficial com maior força de decisão usada para
legitimar os procedimentos propostos para o estabelecimento da estratégia organizacional
utilizada em dado momento dentro da empresa. Essa estrutura oficial com maior poder e os
significados encontrados nos dicionários para o termo instituição permitem construir um
conceito de organismo com função específica, criado em decorrência de necessidades sociais
básicas, identificável por seus códigos de conduta e estabelecido por meio de leis e estatutos,
aproximando-se de Costa (1997):

[...] são as relações de força que determinam o plano institucional e este, por
sua vez, define a organização. A instituição se atualiza numa organização. A
burocracia, por exemplo, é uma organização que se pensa instituição. Na
49 
 

verdade, a burocracia tem um fim em si mesma. A questão prioritária da


organização é a eficácia. E a da instituição é a legitimidade. (COSTA, I.,
1997, p. 50)

A partir da década de 1960 são observados os primeiros trabalhos relacionados a


Memória Institucional, por pesquisadores que buscavam compreender a evolução da indústria
brasileira.

[...] quanto ao consumidor final, que passava a requerer novos parâmetros de


qualidade e de comunicação institucional, exigindo de empresas e governos
uma relação mais aberta e principalmente mais transparente. Isso mudava o
foco não apenas do marketing como também da administração dos recursos
humanos e da relação empresas-comunidade. (GAGETE; TOTINI, 2004,
p.118)

Segundo Gagete e Totini (2004), no decorrer da década de 1980 as empresas criavam


locais específicos para a preservação de sua memória, mas por motivos financeiros, de gestão
ou falta de planejamento, esses lugares acabavam sendo desativados e, como resultado, a
Memória Institucional era depositada em galpões ou locais de difícil acesso, inacessíveis ao
público interno e externo, porém com a conscientização da importância estratégica da
preservação da Memória, as empresas perceberam a necessidade de mudanças organizacionais
sem perder a sua identidade, o que se reflete também atualmente nos Centros de Memória.
Costa utiliza o termo Memória Institucional, ao se referir à memória das empresas:

Vistas através das lentes do tempo, as instituições refletem as formalizações


das culturas. [...] Ao contrário do que costumamos pensar, nós somos e
fazemos nossas instituições. E a memória institucional é o reflexo dessa
trajetória, não como mimesis, mas um cristal com suas múltiplas e infinitas
facetas. (COSTA, I., 1997, p. 3-4; 146).

Atribuir caráter de instituição representa institucionalizar, formalizar, instituir uma


empresa, ou seja, estabelecer seus valores e missões. Acervos e patrimônios já estão
impregnados da imagem que seus gestores desejam atribuir às suas empresas, à sua marca.
Assim, abrigam outras possibilidades de construção social do passado. Essa legitimação
ocorre através dos procedimentos e fazeres, o que, de acordo com Costa “[...] se a instituição
existe, a memória se plasma. É pregnante. Constitui marcas, rastros ou traços que contêm
informação [...]” (1997).
Os fatos esquecidos intencionalmente também integram o mesmo passado
“resgatado”, mas a reconstituição que interessa é a que está fundamentada em uma história da
50 
 

qual se possa orgulhar. No contexto organizacional, revestem-se dos fortes enfrentamentos


entre capital e trabalho, transformando consequentemente a história em um campo de embates
ideológicos e convertendo o passado em terreno de disputas.
Costa afirma a escolha do passado, com base no que se quer lembrar. Essa escolha,
segundo a autora, ocorre em função dos valores que são afirmados e negados no decorrer da
existência.

Na realidade, esquecemos se queremos esquecer. No entanto, a qualquer


momento, quando a vontade de lembrar nos atravessar o pensamento, quando
há vontade de reconstruir o passado, somos impelidos a lançar mão dos
mecanismos que dão suporte à memória e vamos buscar as lembranças onde
quer que estejam: seja na consciência, no inconsciente, nos materiais de
memória – os documentos (latu sensu), arquivos, relatos de outras pessoas
que tenham partilhado experiências comuns. Não repetir o passado, tal qual
um dia se apresentou à nossa consciência, é também uma escolha que passa
pelo entendimento. Não esquecemos senão aquilo que queremos afastar de
nossa experiência presente. (COSTA, I. 1997, p.127)

Rousso, se baseando em dois tipos básicos de fontes, escritas e orais, afirma que são
produtos de uma intervenção intelectual do historiador e estão carregadas das marcas de seus
produtores e do contexto em que foram produzidas.

[...] Chamaremos de "fontes" todos os vestígios do passado que os homens e


o tempo conservaram, voluntariamente ou não - sejam eles originais ou
reconstituídos, minerais, escritos, sonoros, fotográficos, audiovisuais, ou até
mesmo, daqui para a frente, "virtuais" (contanto, nesse caso, que tenham sido
gravados em uma memória) -, e que o historiador, de maneira consciente,
deliberada e justificável, decide erigir em elementos comprobatórios da
informação a fim de reconstituir uma sequência particular do passado, de
analisá-la ou de restituí-la a seus contemporâneos sob a forma de uma
narrativa, em suma, de uma escrita dotada de uma coerência interna e
refutável, portanto de uma inteligibilidade científica. [...]Se admitirmos essa
definição inicial, o "arquivo" no sentido comum do termo, isto é, o
documento conservado e depois exumado para fins de comprovação, para
estabelecer a materialidade de um "fato histórico" ou de uma ação, não passa
de um elemento de informação entre outros. [...] Isso implica uma escolha
das fontes mais pertinentes, não por elas mesmas, mas em função das
perguntas que o observador se faz previamente. Se tomarmos duas das fontes
mais comuns da história do tempo presente - o testemunho oral e o
documento escrito obtido nos fundos de arquivos públicos ou privados -,
poderemos ilustrar a natureza dos problemas encontrados pelos historiadores
diante de seu material usual. (ROUSSO, 1996, p.2)

De acordo com Le Goff (1990), o que permanece é o resultado das escolhas. Escolha
do que deve ser preservado e escolha do pesquisador quanto ao que deve ser considerado
testemunho do passado.
51 
 

[...] o resultado de uma montagem da história, da época, da sociedade que o


produziram, mas também das épocas sucessivas durante as quais continuou a
viver, talvez esquecido, durante as quais continuou a ser manipulado, ainda
que pelo silêncio. (LE GOFF, 1990, p.538).

  As organizações precisam manter uma relação estreita com o passado, na medida em


que é necessário identificar os aspectos relevantes da sua trajetória. São os fatos sólidos do
passado que carregam em si mesmos influências e consequências que refletem no presente e
no futuro das organizações.
Informações organizadas, seguras e disponíveis para a tomada de decisão, são parte
da rotina das empresas e resultam de procedimentos, produtos e dados. Toda a documentação
referente a esses processos, por serem decorrentes das experiências e trajetória das
organizações, são parte integrante e indissociável, por assim dizer, da sua Memória. Aqui, o
tema será tratado como Memória Institucional.
A literatura acerca do tema é escassa e não contempla uma distinção entre os termos
Memória Institucional e Memória Organizacional. É notório que ambas as definições
possuem o mesmo sentido e não diferenciam empresas públicas das instituições públicas.
Informações organizadas e seguras para o dia-a-dia ou para momentos importantes
de tomada de decisão fazem parte da rotina de qualquer tipo de instituição e tem como
resultado dados, procedimentos, produtos e consequentemente toda a documentação desses
processos que fazem parte da Memória Institucional por estarem relacionados à sua trajetória.
Uma sólida trajetória pode ser utilizada por uma empresa para viabilizar parcerias com seu
público de interesse.
Nesse sentido, a Memória Institucional deve ser usada, também, na comunicação
organizacional, a fim de propiciar a relação e o resgate da identidade dos indivíduos podendo,
paralelamente, constituir o seu lugar: o lugar da Memória Institucional.
As organizações precisam manter uma relação com o passado, a fim de identificarem
os aspectos relevantes de sua trajetória, uma vez que esses carregam influências e
consequências no presente e no futuro das organizações. Mais do que isso, significa enfocar a
missão, lendas e mitos, heróis, documentos, fotografias e materiais simbólicos que constituem
a dimensão cultural inerente à trajetória da organização. Trata-se de um compromisso social:
a responsabilidade histórica.
    Importa ressaltar a contribuição dos arquivos na preservação e na difusão da
memória institucional, permitindo a reinterpretação do passado e a preservação dos elementos
52 
 

que o representam.
Uma das categorias de elementos constitutivos da memória é a dos lugares. Pollak
(1989) afirma a existência dos lugares que nos remetem às lembranças, lugares de memória,
ideia corroborada por Nora (1993), que elenca alguns lugares criados para salvaguardar a
memória: bibliotecas, museus e arquivos, funcionam como lugares institucionalizados de
memória, tendo em vista que são, segundo o autor, “marcos testemunhais de uma outra
era, das ilusões de eternidade (grifo nosso).
De acordo com Nora (1993), as transformações do mundo moderno afetam também
nossa capacidade de perpetuar memórias, de barrar a ameaça do esquecimento e, dessa forma,
explica os lugares da memória, cuja atribuição é a preservação dos testemunhos. Dentre os
lugares de memória estão os arquivos.
Le Goff considera os arquivos, as bibliotecas e os museus lugares de memória e faz
uma abordagem acerca do documento monumento, criado sob a intenção de impor, no futuro,
a imagem de quem o criou.

[...] qualquer documento é, ao mesmo tempo, verdadeiro – incluindo, e talvez


sobretudo, os falsos – e falso, porque um monumento é em primeiro lugar
uma roupagem, uma aparência enganadora, uma montagem. É preciso
começar por desmontar, demolir esta montagem, desestruturar esta
construção e analisar as condições de produção dos documentos-
monumentos. (LE GOFF, 1990, p.548)

Sob a justificativa de permitir que gerações futuras conheçam o passado, a memória


é preservada nos arquivos e se constitui em um dos objetos da Arquivologia.
Segundo Costa (1997) as instituições refletem as formalizações das culturas, daquilo
que as diferentes sociedades cultivam como maneira de pensar, hábitos, usos, costumes,
comportamentos, aquilo que instituem, ou seja, são os vestígios deixados como produto das
experiências humanas. Dessas atividades, resulta um conjunto documental de diferentes
formatos e suporte de material, que atesta, de maneira significativa, a trajetória das
administrações e dos indivíduos que delas fazem parte. Tem, pois, valor comprobatório e
informativo.
O deslocamento do foco do documento para a informação, requer uma reflexão sobre
a problemática da gestão de documentos que normalmente envolve as organizações privadas.
Convém analisar a postura dos gestores perante os acervos documentais produzidos por eles
ou por antecessores. Essa análise é permeada de contradições entre a necessidade de arquivar
para comprovar fatos e o descaso em arquivar para preservar e subsidiar a memória institucional.
53 
 

A situação assume complexidade crescente na medida em que os processos de esquecimento,


sutis por excelência, são praticados por detentores do poder de decisão. Quanto à gestão
documental, tem sua dinâmica prejudicada pela prática comum entre os produtores dos
documentos, ao entenderem-nos como propriedade particular.
Às organizações privadas, em regra, interessa somente o poder de comprovação que
os documentos possuem e o auxílio à tomada de decisão. São documentos que contém provas
de fatos legais e financeiros, mas que também permitem um olhar sobre experiências
anteriores, constituindo-se em fontes para decisões. São também a base para a fiscalização
governamental considerando, como no caso do Sistema FIRJAN, as auditorias sobre a
utilização dos recursos oriundos das relações com as três esferas do poder público. Paralelo
ao valor inerente à tomada de decisão e à comprovação de fatos legais, cabe destacar o valor
cultural dos documentos, tendo em vista a memória institucional.
Os arquivos das organizações privadas são essenciais ao desempenho da
administração, porém, é relevante considerar que são raras as empresas que adotam a
memória institucional de natureza arquivística como estratégia aliada ao processo decisório.
Observa-se a utilização de fotografias, objetos tridimensionais como troféus, mobiliários,
dentre outros, para representar o passado. O documento textual aparece com menos
frequência como símbolo da memória.
O processamento da memória ocorre através do armazenamento das lembranças e
das evocações das informações através das experiências do passado o que equivale a recordar,
lembrar. Nessa perspectiva, entende-se que os arquivos contribuem de modo relevante para a
preservação da memória institucional.
Cabe abordar a importância de perceber os arquivos como lugares de memória e
patrimônio da organização, além de reconhecer a intrínseca relação entre a memória, a
informação e os arquivos.
A memória documental é organizada após os acontecimentos registrados nos
elementos que a representam. Bellotto (2004) destaca que as ações relacionadas à organização
da memória institucional devem ser iniciadas através dos arquivos, considerando que são estes
os responsáveis pela guarda da documentação de constituição da organização.

Retomando a montagem da memória [...] não custa reiterar que sua espinha
dorsal é o arquivo. Não é preciso referenciar todos os seus documentos de
valor permanente, podendo, de outra parte, constar os que não são de valor
permanente, mas que possam fornecer dados significativos. (BELLOTTO,
2004, p.277)
54 
 

Bellotto ressalta a hegemonia dos arquivos à compreensão do passado e considera


que mesmo os documentos que não são dotados de valor permanente podem ser importantes
na análise da memória das organizações.
Entendemos que os arquivos constituem o mais importante elo entre o passado e o
presente. Os arquivos apoiam o processo decisório nas organizações e se transformam em
mananciais de conhecimento do passado. Dão forma aos fluxos informacionais no contexto
organizacional e posteriormente dão suporte aos pesquisadores interessados na evolução da
instituição. São jurídicos, administrativos e funcionais na primeira idade e, ao cessarem as
razões pelas quais foram criados, se transformam em fontes de pesquisa histórica. Refletem o
quadro mais fidedigno da trajetória organizacional, considerando que seus acervos são
constituídos de conjuntos documentais reunidos de acordo com as origem e função refletidas
nos organogramas da sua fonte produtora.

3.1 A relação genética entre documento e memória

Entender o conceito de documento requer a compreensão de que afirmar que tudo é


documento é abdicar de sua compreensão. Entretanto, negar a existência do documento
significa descartar a possibilidade da memória.
Atendo-se ao campo da Arquivologia, Bellotto define os documentos de arquivo da
seguinte forma:
Os documentos de arquivo são os produzidos por uma entidade
pública ou privada ou por uma família ou pessoa no transcurso das
funções que justificam sua existência como tal, guardando esses
documentos relações orgânicas entre si. Surgem, pois, por razões
funcionais administrativas e legais. Tratam, sobretudo de provar, de
testemunhar alguma coisa. Sua apresentação pode ser manuscrita,
impressa ou audiovisual; são, via de regra, exemplares únicos e sua
gama é variadíssima, como forma e suporte. (BELLOTTO, 2004,
p.37)

O documento é um símbolo da memória e a atribuição de significado de memória é


intencional e os constitui em categoria temporária e circunstancial. O poder de prova e
testemunho conferido ao documento é circunstancial, apesar de representar o atributo mais
forte deste elemento de memória. Considerando que não há memória sem documento, é válido
55 
 

afirmar que a memória é definida através de escolhas tendo em vista que as circunstâncias é
que definem o que deve ser lembrado e o que deve ser esquecido.
As ações isoladamente não configuram a memória social, tendo em vista a seleção
dos fatos que deverão compor o passado. Os fatos poderão estar ligados se considerada a
relação orgânica dos documentos. Isoladamente o documento não é objeto da Arquivologia
tendo em vista que a organicidade é seu principal objeto.
Le Goff (1990) entende o documento como elemento de memória que pertence à
categoria de documento/monumento. Na sua concepção, independente da revolução
documental deste século, documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, mas
um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham poder.
Nas palavras de Le Goff estes materiais da memória podem apresentar-se sob duas formas
principais: monumentos, herança do passado, e os ‘documentos’, escolha do historiador. LE
GOFF (1990).
Ocampo (1991) sugere que o conceito de documento não implica necessariamente
em qualquer tipo de registro, pois o que importa é a dinâmica da ação cultural. Conceitua
documento como tudo aquilo a que se atribui determinados significados. Por outro lado, ao
concordar com Le Goff (1990) afirma que os conteúdos de memória se objetivam através dos
documentos.
O documento arquivístico permite ao pesquisador a investigação dos fatos. A
memória adquire forma, assim, a partir da interpretação do pesquisador. Nas organizações,
sobretudo, a burocracia está centrada no documento, considerando que a prova é obtida
através das informações nele registradas, pautadas nas autenticidade e veracidade. Desse
modo, contemplamos os arquivos como o melhor recurso na busca pela compreensão do
passado ainda que esta seja resultante de uma escolha entre o que deve ser lembrado e o que
deve ser esquecido.
É importante considerar os arquivos, também, como referência de contextualização
da trajetória da fonte produtora, contudo, a subjetividade que permeia a interpretação dos
fatos narrados nos documentos é que lhe atribuirá maior ou menor importância, seja essa
interpretação intencional ou não.
56 
 

3.2 Centros de memória institucional

Entendemos os Centros de Memória como entidades híbridas, destinadas a preservar a


memória da organização ou de uma área do conhecimento, abrigando qualquer tipo de
documento que constitua a memória organizacional, sem qualquer restrição de acervo. De
acordo com Bellotto (2004) a memória das instituições é constituída por conjuntos
informacionais que não podem ser definidos isoladamente como material de arquivo,
biblioteca ou museu, por não serem, na sua totalidade, típicos a nenhum deles. A reunião do
acervo ocorre através da escolha dos elementos de maior representatividade para a memória
da instituição, o que revela a distinção entre Centros de Memória, onde os acervos são
escolhidos para compor a memória das organizações, e os arquivos permanentes, nos quais
ocorrem recolhimentos sistemáticos dos documentos.
Bellotto (2004) define centros de memória como um conjunto de informações ou
documentos, orgânicos ou não, representativos da organização, referenciados sem que haja
necessidade de reunir física ou materialmente as fontes, apenas captando as informações,
identificando-as e aos objetos que as contém, a fim de que estejam disponíveis ao
pesquisador, de maneira coerente e integrada. A definição de Bellotto simboliza uma nova
visão acerca de centros de memória, podendo abranger, inclusive, espaços virtuais de
memória, com disponibilização das referências de todas as fontes das informações
disponibilizadas. Contudo, no caso do Sistema FIRJAN, cuja intenção da criação do centro de
memória inclui a preservação de seus acervos, constituídos de diversos formatos e suportes,
entendemos que a reunião em um mesmo espaço poderá proporcionar maior controle.
A memória tem sido alvo de grandes organizações. Corporações de variados setores
da economia têm investido em projetos de memória, mais especificamente na criação de
Centros de Memória. Essa preocupação em estruturar Centros de Memória no país surgiu na
década de 1970, quando algumas instituições perceberam a importância de resgatar e
organizar os principais pontos de sua trajetória. Desde então esse trabalho de organização da
memória institucional tem gerado resultados interessantes no que diz respeito, entre outras
coisas, à comunicação dessas instituições com seus públicos de interesse. Mesmo diante desse
quadro, muitas dessas empresas desconhecem o potencial da memória como ferramenta de
produção de conhecimento e de comunicação. Normalmente limitam-se à produção de livros
ou à realização de exposições referentes à trajetória da organização, desconsiderando o
potencial estratégico da memória institucional. No setor privado as práticas de preservação da
57 
 

memória estão, de modo geral, associadas a projetos pontuais de comunicação e marketing,


com finalidade de comemorativa ou promocional dessas organizações (GAGETE; TOTTINI,
2004). Essas ações se verificam nas empresas privadas, a partir da década de 1980 e também
fazem parte de projetos alinhados às ações de responsabilidade social dessas empresas. À
medida que as organizações percebem o papel estratégico da memória, tendem a utilizá-la. O
conhecimento do passado pode ser um importante instrumento para reafirmar o compromisso
com a sociedade e com a cultura do país, além de criar valor de marca ao fortalecer a
identidade institucional com seus públicos de interesse e entre os trabalhadores.
O lugar é uma representação e, como tal, simboliza a presença de algo inexistente ou
que está ausente. Nesse sentido Bourdieu (1999) entende o real como um campo de forças que
depende do conhecimento e do reconhecimento da representação dessa realidade. Para o
autor, o mundo social é também vontade e representação e a existência social significa ser
percebido como distinto dentre os outros grupos sociais.
Um dos objetivos do Centro de Memória é fortalecer o compromisso da organização
com as suas responsabilidades social e histórica. A valorização do passado tende a suscitar
laços afetivos com a sociedade. Assim, torna-se evidente o enraizamento da história particular
de cada instituição na história do setor em que atua e mesmo na história nacional, revelando
como ela está em constante articulação com a sociedade. A partir do patrimônio histórico,
estabelece-se um diálogo com a sociedade, que colabora para o fortalecimento da reputação
empresarial. O Centro de Memória deve estar alinhado aos valores da organização, a fim de
que seus objetivos sejam atingidos.
A utilização da memória tende a diferenciar a organização no contexto em que está
inserida, considerando que a sua trajetória não pode ser repetida por nenhuma outra
organização. O patrimônio histórico de cada empresa é único e através dele pode ocorrer,
inclusive, a identificação de seus funcionários com as experiências relatadas pela memória,
estabelecendo um sentimento de pertencimento.
Algumas grandes empresas uniram-se em torno da criação de uma Rede de centros
de memória empresarial. Em 2010 foi criada a Rede de Centros de Memória Empresarial, que
constitui um circuito de Instituições que, por diferentes motivos, criaram seus Centros de
Memória. Como Rede, não se estrutura por cargos ou funções e promove discussões a partir
de temas voltados à organização dos Centros, a produtos derivados dos processos de pesquisa
à documentação de cada acervo, entre outras possibilidades.
A Rede de Centros de Memória é formada por nove instituições: centro de
documentação e memória Grupo Gol, centro de documentação e memória Klabin, memória
58 
 

Petrobrás, espaço memória Itaú Unibanco, centro de memória Bosch, memória Votorantim,
memória Globo, centro de memória Bunge, Grifo e Tempo e Memória.
As atividades desenvolvidas pela Rede incluem intercâmbio para o desenvolvimento
de estratégias e atividades com vistas à sensibilização para o reconhecimento das
organizações sobre a importância da preservação da memória.6
Os representantes dos centros de memória empresarial que integram a Rede,
promovem encontros para o desenvolvimento de estratégias e atividades com o objetivo de
buscar maior reconhecimento e sensibilização das corporações para a importância do assunto.
Essa rede é, por assim dizer, a vanguarda do segmento da memória empresarial no Brasil.
Dentre as empresas que integram a Rede de Centros de Memória  e outras que
também possuem Centro de Memória, mas não fazem parte da Rede,    destacamos algumas a
fim de analisar a criação de seus centros, objetivos e acervos.

Instituto Robert Bosch

  O Centro de Memória Robert Bosch foi criado em 2003, como resultado da política
de responsabilidade social da empresa com foco na área cultural. É responsável pelo
tratamento e pela guarda de documentos históricos, incluindo o gerenciamento, a organização,
preservação e a disponibilização dos elementos e informações que expressam a evolução
histórica da empresa, de suas marcas e do setor em que atua, desde sua origem até os dias
atuais. Desde sua implantação em 2003 foi coordenado pela área de Relações Corporativas. A
partir de maio de 2004, passou a ser vinculado ao Instituto Robert Bosch. Oferece serviços
relacionados a pesquisas temáticas, incluindo reprodução de documentos a partir de diversos
suportes.
O Centro também informa aos pesquisadores o conteúdo do acervo, uso dos
instrumentos de pesquisa e equipamentos disponíveis. Reúne informações sobre o perfil do
usuário, as temáticas pesquisadas por eles e mantém indicadores sobre as solicitações dos
pesquisadores.
Através da definição de documento histórico (grifo nosso), o Centro de Memória
Bosch estabelece os documentos que interessam à memória da instituição. Entendem que são
                                                            
6
 Disponível em: http://www.fundacaobunge.org.br/fundacao-bunge. Acesso em: 16 abr 2014
 
59 
 

documentos que devem ser preservados em razão das informações que normalmente contêm,
decorrentes das ações administrativas. Abaixo, a definição verificada no site da instituição7:

Documentos Históricos ou Permanentes são aqueles preservados em caráter definitivo pela


empresa, em função de seu valor informativo, testemunhal, legal, probatório, administrativo
ou científico-cultural.

Após a definição de documentos históricos, o Centro de Memória disponibiliza em


seu site as características dos documentos consoantes à definição.

São considerados históricos os documentos ligados às seguintes atividades:

- Orgânico-Societário: atos que possibilitaram a existência legal empresa.

- Comunicação: conjunto de meios e procedimentos utilizados pela empresa em sua interação


com o público (interno e externo).

- Comunicação institucional: conjunto de atividades através da qual a empresa comunica suas


práticas, objetivos e políticas, com o objetivo de formação de imagem junto ao público.

- Comunicação social: processada entre a empresa e a comunidade, através de fontes


organizadas de informação.

- Marketing: conjunto de estratégias para adequação da oferta de seus produtos e serviços às


necessidades e preferências dos consumidores (pesquisa de mercado, design de produtos,
campanhas publicitárias, atendimento etc.)

- Marketing institucional: voltado ao fortalecimento da imagem da empresa. Inclui:


marketing cultural (patrocínio e apoio a atividades culturais, científicas, educacionais e
esportivas) e ações sociais (programas comunitários: serviço social, educação, saúde, lazer).

- Técnicas / Administrativas / Financeiras: conjunto das atividades necessárias ao


cumprimento das atividades-fim da empresa. Trata-se de documentos que refletem as tomadas

                                                            
7
Disponível em: http://centrodememoria.institutorobertbosch.org.br/cm/Index.asp. Acesso em: 12 jul 2014
60 
 

de decisão, dentro de cada atividade, excluindo aqueles documentos meramente operacionais.

Entendemos que a definição dos documentos que deverão ser encaminhados ao


Centro de Memória estabelece uma política de recolhimento, porém, pode representar a
hegemonia dos documentos previamente definidos em detrimento de outros, não
contemplados, que podem conter informações de valor histórico.

Bunge Brasil

A Bunge Brasil pertence à holding Bunge Limited, fundada em 1818, com sede em
White Plains, Nova York, EUA. É uma das principais empresas de agronegócio e alimentos do
Brasil. Possui cerca de 20.000 colaboradores, é líder em originação de grãos e processamento
de soja e trigo, fabricação de produtos alimentícios e serviços portuários. Desde 2006, atua
também no segmento de açúcar e bioenergia.
Com o objetivo de reunir, tratar, e disponibilizar documentos e objetos que
representam a memória institucional da Bunge Brasil, em 1994 foi criado em São Paulo o
centro de memória8 cujo acervo reúne documentos textuais, cartográficos, tridimensionais,
iconográficos e outros. Composto por mais de trezentas mil imagens, incluindo fotografias em
papel, diapositivos de vidro, cromos, gravuras, pinturas e mapas, cerca de mil e trezentas
caixas de documentos textuais, três mil filmes, mais de mil e duzentas peças que documentam
a evolução dos costumes, técnicas e processos industriais, design, marketing e propaganda.
Além de se tratar de um dos pioneiros na área, o Centro de Memória Bunge contém
um dos mais ricos acervos de memória empresarial do país, contando a história da indústria e
do agronegócio brasileiros a partir da trajetória da própria empresa. O centro já atendeu a
mais de 300 mil pessoas em 20 anos de existência.

Objetivos principais:

- Preservar a memória empresarial;


- Atuar como suporte estratégico para diversos setores da empresa, ou seja, ser ferramenta de
gestão;

                                                            
8
 Disponível em: http://www.fundacaobunge.org.br/fundacao-bunge. Acesso em: 21 abr 2014 
61 
 

- Legitimar a relação da empresa com a sociedade.

O Centro de Memória mantém atividades a fim de aproximar seu acervo da


sociedade, que incluem atendimento a pesquisas, exposições temáticas, processamento
técnico, jornadas culturais, oficinas de preservação, visitas técnicas e integração de
colaboradores da organização. Em vinte anos de existência contabiliza mais de duzentos e
sessenta atendimentos. Mantém também publicações institucionais, que são uma compilação
dos mais importantes documentos históricos do acervo do centro de memória Bunge. Esses
documentos foram selecionados em razão de retratarem a constituição das empresas e ramos
industriais que compõem a Bunge Brasil. Orientam pesquisas para estudantes, professores,
pesquisadores e colaboradores interessados na história da indústria brasileira.
Dentre as publicações consta o manual de processamento técnico do acervo, que é
um instrumento teórico elaborado para orientar as práticas de catalogação,
guarda/acondicionamento e preservação dos documentos do Centro de Memória Bunge.
Utilizando por base a Norma Internacional de Descrição Arquivística ISAD(G) e a Norma
Brasileira de Descrição Arquivística (NOBRADE), o manual fundamentou o Guia, o
Inventário e o Catálogo do Centro de Memória Bunge e foi redigido após a implantação do
banco de dados em plataforma online e alterações na metodologia de trabalho. Outra
publicação é o manual prático de propriedade intelectual, desenvolvido a partir das discussões sobre
os direitos de propriedade intelectual e de personalidade. Orienta sobre a utilização do acervo do
centro de memória Bunge, mas também de outros acervos disponíveis para pesquisa, mantidos pelo
centro de memória.
Quanto às consultas ao acervo, o centro de memória Bunge permite acesso público
sem restrições.

Centrais Elétricas Brasileiras S.A. – ELETROBRÁS

O Centro da Memória da Eletricidade no Brasil9 - MEMÓRIA DA ELETRICIDADE


foi criado em 1986 por iniciativa da Centrais Elétricas Brasileiras S.A. - ELETROBRÁS,
sendo uma entidade sem fins lucrativos cujo objetivo é preservar a história da implantação e

                                                            
9
 Disponível em: http://www.memoriadaeletricidade.com.br. Acesso em: 22 abr 2014
 
62 
 

do desenvolvimento da indústria da eletricidade no Brasil.


O Centro de Memória possui como um dos maiores desafios evidenciar a
importância da energia elétrica como fator de interferência nas áreas econômica, política e
cultural e como marco no desenvolvimento de todas as esferas da vida social do país.
Implementa ações relacionadas à preservação do patrimônio histórico da memória da
eletricidade e investe no desenvolvimento de pesquisas sobre o tema. Também desenvolve,
incentiva e apoia projetos de âmbito regional e nacional, nos campos da historiografia, da
história oral, dos sistemas de informação, da memória técnica, do tratamento e da
referenciação de documentos históricos, da implantação de unidades culturais e da produção
de exposições, somando seus esforços aos das empresas e órgãos do setor de energia elétrica e
buscando construir vínculos entre o setor e a sociedade em geral.
O foco de atuação do centro de memória da eletricidade no Brasil além da
implantação e desenvolvimento da eletricidade no país, é o histórico de empresas e órgãos, de
empreendimentos e de personalidades que estejam relacionados à trajetória do setor de
energia elétrica, bem como dos alguns assuntos específicos e relevantes à compreensão da
contribuição do setor energético elétrico na formação do Brasil contemporâneo.
O Centro de Memória funciona com uma equipe multidisciplinar de profissionais,
para atender às perspectivas pluralistas de seu objeto de trabalho e é mantido por empresas e
órgãos do segmento de energia elétrica brasileiro. Estabelece parcerias10 a fim de obter
                                                            

10
Dentre os diversos parceiros do centro de memória constam as seguintes instituições:

Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL; Arquivo Nacional - AN; Centrais Elétricas Brasileiras S.A. - ELETROBRASCentrais
Elétricas do Espírito Santo S.A. - ESCELSA; Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. - ELETROBRAS ELETRONORTECentrais
Elétricas do Pará S.A. - CELPA; Eletrosul Centrais Elétricas S.A.; Centrais Elétricas Matogrossenses S.A. - CEMATCentro de
Pesquisas de Energia Elétrica - ELETROBRAS CEPEL; Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia - COELBACompanhia de
Eletricidade do Estado do Rio de Janeiro - CERJ; Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica - ELETROBRAS CGTEE;
Companhia Energética de Brasília - CEB;Companhia Energética de Goiás - CELG;Companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG;
Companhia Energética de Pernambuco - CELPE; Companhia Energética de Roraima - CER; Companhia Energética do Ceará -
COELCE; Companhia Energética do Maranhão - CEMAR; Companhia Energética do Piauí - ELETROBRAS Distribuição Piauí;
Companhia Estadual de Energia Elétrica - CEEE; Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - ELETROBRAS CHESF; Companhia
Paranaense de Energia - COPEL; Companhia Paulista de Energia Elétrica – CPEE; Companhia Paulista de Força e Luz – CPFL;
Confederação Nacional da Indústria - CNI; Conselho Mundial de Energia - Comitê Brasileiro - CB-CME; Departamento Municipal de
Eletricidade de Poços de Caldas - DME-PC; Empresa Energética de Sergipe S.A. - ENERGIPE Escola Federal de Engenharia de
Itajubá - EFEI; Fundação Eletros de Seguridade Social - ELETROS;Fundação Getúlio Vargas - FGV/CPDOC; ELETROBRAS
FURNAS - Centrais Elétricas S.A.; ITAIPU Binacional; ; Operador Nacional do Setor Elétrico - ONS; Programa Nacional de
Conservação de Energia Elétrica - PROCEL/ELETROBRAS; Sindicato da Indústria de Energia no Estado de São Paulo

 
63 
 

patrocínios a produtos exclusivos do centro de memória. Algumas destas parcerias estão


focadas em produtos desenvolvidos exclusivamente pela instituição, em solicitações de
projetos específicos ou em colaboração na execução de trabalhos diversos implementados
pela instituição.
Chama a nossa atenção o fato da Confederação Nacional da Indústria-CNI, órgão que
controla as federações das indústrias espalhadas por todo o território brasileiro, figurar na lista
de patrocinadores, tendo em vista que não há registro de iniciativas relacionadas a incentivos
para preservação da memória nas referidas federações, incluindo o Sistema FIRJAN, objeto
deste estudo.

Serviço Nacional do Comércio – SESC

O Serviço Social do Comércio (SESC) de São Paulo colabora diretamente para o


desenvolvimento da memória empresarial no país através do Programa SESC Memórias
(participante da Rede de Centros de Memória Empresarial), que se encarrega de coletar, tratar
e conservar a documentação produzida e acumulada pela instituição, principalmente
fotografias, documentos de texto e acervos audiovisuais existentes nas unidades operacionais.
Criado em 2006, o SESC Memórias promoveu palestras e debates a fim de estimular o
diálogo sobre tópicos como arquivo, patrimônio, história e memória. Os temas são propostos
pelo próprio SESC Memórias e pelo público participante. O programa deu suporte também à
Coleção SESC Memórias, das Edições SESC SP, uma série que lança um olhar sobre a
história da instituição e sua atuação nos cenários social, cultural e esportivo paulistas.
Em 2012 o programa foi absorvido pelo Centro de Pesquisa e Formação SESC São Paulo11,
cuja proposta é constituir um espaço articulado entre produção de conhecimento, formação e
difusão. Objetiva promover trânsitos e trocas entre o saber fazer da instituição, os dados,
informações e pesquisas existentes, e as temáticas permanentes, transversais e emergentes
envolvendo educação e cultura.
O Centro de Pesquisa e Formação é composto por três núcleos: o Núcleo de Pesquisas
se dedica à produção de bases de dados, diagnósticos e estudos em torno das ações culturais e
                                                            
11
 Disponível em: http://centrodepesquisaeformacao.sescsp.org.br/. Acesso em : 26 abr 2014
  
 
64 
 

dos públicos. O Núcleo de Formação promove encontros, palestras, oficinas e cursos. O


Núcleo de Publicações e Difusão se volta para o lançamento de trabalhos nacionais e
internacionais que ofereçam subsídios à formação de gestores e pesquisadores.

Nestlé Brasil

A Nestlé mantém seu centro de memória desde 1992, com a principal finalidade de
apoiar a gestão interna. É utilizado como ferramenta de gestão estratégica de negócios,
sobretudo no apoio ao departamento jurídico, nas questões relacionadas à propriedade de
produtos e no fortalecimento das diversas marcas da empresa através do marketing. Produtos
são lançados no mercado com reprodução de rótulos, a fim de reforçar a solidez da marca e,
paralelamente estabelecer vínculos emocionais com a sociedade. A área de recursos humanos
recorre ao centro de memória para integração de seus colaboradores, através da apresentação
da trajetória da empresa.
O Centro de Memória da Nestlé, por manter em seu acervo elementos relacionados à
memória da alimentação no Brasil, serve como referência a projetos de diversas empresas
vinculadas à alimentação e é administrado por um escritório terceirizado especializado em
história, que está subordinado administrativamente à área de comunicação da empresa.

Apresentamos um resumo sobre os Centros de Memória mencionados:

Centro de Vínculo Criação Acervo


memória
Centro de Intituto Robert 2003 Documentos textuais
Memória Bosch Objetos tridimensionais
BOSCH Fotografias
Audiovisuais 
Centro de Bunge Brasil 1994 Documentos textuais
Memória Bunge Objetos tridimensionais
Fotografias
Audiovisuais
65 
 

Centro de Centrais 1986 Documentos textuais


Memória da Elétricas Objetos tridimensionais
eletricidade no Brasileiras S.A. Fotografias
Brasil ELETROBRAS Audiovisuais

SESC Memórias SESC 2006 Documentos textuais


Objetos tridimensionais
Fotografias
Audiovisuais 
Nestlé Centro de Nestlé Brasil 1992 Documentos textuais
Memória Objetos tridimensionais
Fotografias
Audiovisuais 

À exceção do Centro de Memória da eletricidade no Brasil, todos os centros


pertencem à iniciativa privada. De acordo com o quadro apresentado, abrigam acervos
idênticos, tendo o mais antigo iniciado suas atividades há vinte e oito anos e o mais recente há
oito anos, o que evidencia que os centros de memória tendem a permanecer nos organogramas
empresariais por longa data, fato a ser considerado acerca da relevância da proposta para a
criação do Centro de Memória do Sistema FIRJAN.

4 RESPONSABILIDADE SOCIAL E VANTAGEM COMPETITIVA

O conceito de Responsabilidade Social corporativa, de acordo com W. C. Frederick


(1994) em seu livro Negócios e Sociedade, está relacionado a uma abordagem gerencial com
ênfase na gestão da relação entre a organização e a sociedade. A Responsabilidade Social
corporativa é baseada na noção de que as corporações possuem a obrigação de trabalhar para
a melhoria do bem estar social, ainda de acordo com Frederick. A prática está associada à
vantagem competitiva.
A Responsabilidade Social Empresarial pode ser definida, em resumo, como “gestão
administrativa direcionada para a implantação de ações sociais que beneficiem o público
interno da empresa (funcionários e dependentes, fornecedores e parceiros dos negócios) e
externo (comunidade)” (COSTA, 2005, p.14).
A Responsabilidade Social voltada ao público interno de uma empresa envolve um
66 
 

modelo de gestão participativa e de reconhecimento dos empregados com o objetivo de


motivá-los a um bom desempenho que aumente a produtividade corporativa. Ela envolve, por
exemplo, projeto de qualidade de vida, busca de condições favoráveis no ambiente de
trabalho, condições de segurança, entre outros. Já em relação ao foco externo, a
Responsabilidade Social aparece no investimento social privado em programas e projetos
comunitários que a própria empresa desenvolve, ou naqueles desenvolvidos por meio de
parcerias com o governo, com ONGs e com a população organizada de comunidades carentes,
além dos programas de voluntariado.
O foco da Responsabilidade Social Empresarial – RSE tende a contemplar toda a
cadeia de produção. As companhias responsáveis não devem atentar apenas para o impacto de
suas próprias operações, mas também para o de seus parceiros de negócio. (STRANDBERG,
2002). Desse modo, a cadeia de fornecedores das grandes empresas constitui um dos
principais catalisadores da RSE entre as pequenas e médias empresas (INTERNATIONAL
INSTITUTE FOR SUSTAINABLE DEVELOPMENT et al., 2004).
Paralelamente à transformação acarretada pela concepção de Responsabilidade
Social, observa-se também uma mudança na percepção da origem da identidade
organizacional. Ambas apontam para a incorporação da contribuição criativa (inclusive
críticas) de setores anteriormente silenciados. Como afirma Patines:

[...] as organizações eram pensadas a partir de um modelo formal de


estrutura, no qual somente a direção e as, gerências tinham o privilégio de
pensar, atualmente estão sendo disseminados outros métodos de gestão, mais
participativos, que redimensionam o papel de todos os indivíduos na
organização, assim como o próprio papel da organização na vida dos
indivíduos. (PATINES, 2004, p.9)

R E A INDÚSTRIA: UM RESGATE TÓRICO

Nassar (2007) identifica o conceito de Responsabilidade Social como


Responsabilidade Histórica quando relacionado à memória das organizações, atribui a criação
dos centros de memória de grandes empresas a esse novo conceito e ressalta um novo
posicionamento dessas organizações, através do qual distanciam o centro de memória da sua
estrutura organizacional sob a alegação de lhe conferir maior autonomia, considerando seu
caráter cultural, a fim de não submetê-lo a possíveis interferências de terceiros no contexto
das estratégias corporativas. Essa separação se limita ao ambiente organizacional, segundo
Nassar, tendo em vista a tendência à inserção dos centros de memória no âmbito das
estratégias corporativas dessas empresas.
Estabelecer um diferencial no mercado através da utilização da memória, por meio
67 
 

da escolha e divulgação da memória organizacional, comporta o cumprimento de um papel


social relevante, segundo Nassar. De acordo com o autor “as organizações são percebidas,
lembradas e narradas de inúmeras formas pela sociedade, pelos mercados, pelos públicos e
pelos indivíduos” (NASSAR, 2007). Entendemos, assim, que a definição da imagem da
organização em seu contexto está profundamente arraigada ao comportamento assumido ao
longo da sua existência.
Quanto ao conceito de vantagem competitiva, com base na revisão de literatura nota-
se que está inserido na base da literatura relacionada à aplicação de estratégias de modo a
obter um posicionamento favorável entre os concorrentes. O conceito de Vantagem quando
associado à competitividade está relacionado à adoção de diversas práticas que, em conjunto,
auxiliam a organização a atingir posição superior em relação às concorrentes, no ambiente em
que está contida. Entendemos que Vantagem Competitiva é a obtenção de requisitos e
desenvolvimento de atributos que permitam melhores condições de competição em relação
aos concorrentes do mercado.
Tradicionalmente, a adoção de uma Vantagem Competitiva ocorre durante a
construção do Planejamento Estratégico, que permite à empresa definir em que direção
caminhar, orientando suas competências perante as ameaças e oportunidades para que, assim
possa criar valor perante seus atuais e potenciais clientes. Considerando que a revisão do
Planejamento Estratégico do Sistema FIRJAN ocorrerá em breve, entendemos como oportuna
a proposta para utilização de sua memória como estratégia para obtenção de Vantagem
Competitiva, através do centro de memória.
Vale sublinhar que a vantagem é geralmente limitada, tendo em vista a capacidade de
reação dos concorrentes. Entendemos que a definição da estratégia para obtenção de
vantagem competitiva é formada por um conjunto de ações para sua construção teórica e
aplicação prática, cabendo à cada organização, de modo individual, escolher o que melhor
convem.
A definição da estratégia para obtenção de vantagem competitiva proveniente da
memória empresarial junto a seus públicos de interesse, não é apenas uma posição escolhida,
mas uma forma enraizada de ver o mundo. Consensual entre os gestores de uma organização,
os fatores culturais têm impactos determinantes e constituem a organização, com significados
interpretados e divulgados.
De acordo com Worcman (2004), a história não é a narrativa construída sobre o
passado, mas sim sua visão do futuro. A autora visualiza a memória como algo que se adquire
empiricamente e reforça que, “memória é o que registramos em nosso corpo”. Uma
68 
 

organização possui diversos públicos e sendo assim, diversas formas de ser vista. Aquilo que
os administradores entendem sobre o passado da organização tende a ser diferente daquilo que
seus funcionários veem e do que a comunidade percebe. Nesse sentido, a reputação através da
memória tem um amplo campo de atuação. Uma estratégia eficiente de comunicação deve
considerar os objetivos pretendidos, a escolha dos elementos que deverão ser utilizados e a
realização de diagnósticos da imgem da organização.
Na busca da definição do conceito Vantagem Competitiva, que relacionado ao
conceito de Memória Institucional embasa a justificativa desta proposta, foi verificado o
pensamento de Michel Porter (1992). O autor assim define o termo:
 

A vantagem competitiva surge fundamentalmente do valor que uma empresa


consegue criar para seus compradores e que ultrapassa o custo de fabricação
pela empresa. O valor é aquilo que os compradores estão dispostos a pagar, e
o valor superior provém da oferta de preços mais baixos do que os da
concorrência por benefícios equivalentes ou do fornecimento de benefícios
singulares que mais do que compensam um preço mais alto. Existem dois
tipos básicos de vantagem competitiva: liderança de custo e diferenciação.
(PORTER, 1992, p. 2)
         

  Michael Porter (1992) em sua análise sobre ambientes competitivos, destaca as


questões fundamentais que lhes conferiam ou não, alguma vantagem. Porter, em sua
abordagem, propõe que uma estratégia, realmente competitiva, precisa levar em conta uma
série de conceitos para formação de uma vantagem competitiva sustentável. A busca da
vantagem competitiva, esta na formulação da estratégica que é, para Porter, lidar com a
competição. Na luta por participação de mercado, a competição não ocorre apenas em relação
aos concorrentes, mas em toda a cadeia de relações da empresa.
Entendemos que toda estratégia abarca em seu contexto limitações e contradições.
Segundo Porter (1992) a vantagem competitiva decorre do valor que a organização
cria para seus clientes, em oposição ao custo para criá-la. Portanto, a formulação de uma
estratégia competitiva é essencial para que a empresa mantenha-se competitiva no mercado.
Para o autor, tanto a eficácia operacional, quanto a estratégia, são instrumentos que permitem
alcançar alguma vantagem competitiva. Através da eficácia operacional virão as contribuições
das melhores práticas, que possibilitam a redução dos custos, garantindo melhores resultados.
Através da definição da estratégia se construirá a diferenciação.
Para Porter (1992), a estruturação da vantagem competitiva ancorada na eficácia
operacional ocorre a partir de uma análise interna detalhada dos processos. Na visão do autor
isso proporciona a identificação das competências essenciais da organização. Sob essa
69 
 

avaliação é importante mapear as atividades exercidas pela organização, visto que todas
tendem a contribuir para a posição de custos ou geração de valor da empresa. Essa observação
inclui os arquivos e todos os elementos que constituem a memória institucional, tendo em
vista que desenvolvem processos operacionais específicos e mantêm relação estreita com os
demais processos.
A partir de Porter (1992) entendemos que o conceito vantagem competitiva é
complexo e implica na adoção de uma estratégia competitiva que pode resultar em um
diferencial no mercado. Nesse sentido, é importante sugerir a criação do centro de Memória
do Sistema FIRJAN como uma estratégia, buscando alinhamento aos projetos que irão
integrar o novo planejamento estratégico.
Outro enfoque acerca do conceito vantagem competitiva é proposta a partir da visão
da empresa baseada em recursos. Essa abordagem procura ampliar e refinar o quadro de
referência dos tomadores de decisão. Considera toda cultura organizacional, sistemas
administrativos e recursos humanos. É a partir desse portfolio que a empresa pode criar
vantagens competitivas. A definição das estratégias competitivas deve partir de uma perfeita
compreensão das possibilidades estratégicas passíveis de serem operacionalizadas e
sustentadas por tais recursos.
Porter analisa as questões estratégicas relacionadas à competitividade e destaca a
diferenciação como fator crítico à vantagem competitiva.
Michel Porter explica a vantagem competitiva à luz da diferenciação: 

 A lógica da estratégia da diferenciação exige que uma empresa escolha


atributos em que diferenciar-se, que sejam diferentes dos seus rivais. Uma
empresa deve ser verdadeiramente única em alguma coisa, ou ser
considerada única para que possa esperar um preço-prêmio. Ao contrário da
liderança no custo, contudo, pode haver mais de uma estratégia de
diferenciação de sucesso em uma indústria, se houver uma série de atributos
muito valorizados pelos compradores. (PORTER, 1992, p.12)

O autor enfatiza que a diferenciação é a estratégia através da qual as instituições


selecionam um ou mais atributos importantes e os posiciona como singulares. Destaca a
peculiaridade de diferenciação de cada organização e afirma que a identificação permitirá que
o competidor se mantenha acima da concorrência.
Com base nas afirmações de Porter (1992), entendemos a importância da
identificação de uma estratégia de diferenciação para o Sistema FIRJAN no ambiente
competitivo. É necessário apresentar à sociedade a história da instituição, a fim de expor suas
atividades no setor industrial ao longo de sua trajetória e suas atuações paralelas no contexto
70 
 

da Responsabilidade Social.
Considerando que a instituição promove ações sociais e pouco, ou raramente, utiliza
essas atividades como estratégia competitiva, julgamos oportuno atrair a atenção da sociedade
para a atuação do Sistema FIRJAN tanto no apoio à classe industrial, razão pela qual foi
criado, quanto às atuações junto às comunidades, através da promoção de trabalhos sociais.

4.1 A função social da memória do Sistema FIRJAN a partir dos arquivos

Considerando a importância dos arquivos do Sistema FIRJAN para a constituição do


centro de memória, é relevante verificar a função social destes enquanto agente que irá
alimentar o objeto deste estudo.
O arquivo é, muitas vezes, interpretado por um duplo significado: preservar o
passado e ser o celeiro de provas e subsídios para reivindicar direitos ou comprovar
afirmações. Podem assumir o papel de “lugares de memória”, aos quais os indivíduos
recorrem na busca por informações que atestem suas origens ou trajetórias, necessidade
humana, segundo Nora.
[...] O dever de memória faz de cada um o historiador de si mesmo. O
imperativo da história ultrapassou muito, assim o circulo dos historiadores
profissionais. Não são somente os antigos marginalizados da história oficial
que são obcecados pela necessidade de recuperar seu passado enterrado.
Todos os corpos constituídos, intelectuais ou não, sábios ou não apesar das
etnias e das minorias sócias, sentem a necessidade de ir em busca de sua
própria constituição de encontrar suas origens. (NORA,1993 p.07)

A função social dos arquivos, observada na abordagem de Luciana Duranti, revela a


capacidade destes de “capturar os fatos, suas causas e consequências, de preservar e estender
no tempo a memória e a evidência desses fatos”, atestar “ações e transações, e (...) sua
veracidade dependente das circunstâncias de sua criação” (1994). Nesse sentido o arquivo
passa a ser, não somente, repositório de informação, mas, também, objeto de pesquisa.
Quanto ao uso social dos arquivos do sistema FIRJAN, é legítimo que ocorra uma
análise acerca do acesso, uma vez que se trata de organização privada.
Considerando o acesso às informações contidas nos documentos arquivísticos do
Sistema FIRJAN, é fundamental a definição de uma política de acesso. Essa questão deverá
71 
 

estar contemplada no objeto desta pesquisa, que é a proposta de criação do Centro de


Memória.
Porém, mesmo entendendo a pertinência do estabelecimento de critérios de modo a
permitir o acesso de pessoas interessadas na memória do Sistema FIRJAN, consideramos
relevante a abordagem de Thiesen acerca do acesso aos arquivos de organizações privadas:

Uma coisa é certa: tudo aquilo que esteve durante séculos protegido pelo
manto da legitimidade, em forma de segredo, censura ou exclusão, hoje está
sofrendo fortes pressões para abertura e entrada de luz. Para melhor ou para
pior, o muro que há centenas de anos separava o público do privado está com
os dias contados. Entendemos que este acontecimento é um indício de
mudança social. São as instituições que, em última análise, definem o que é
público e o que é privado. (THIESEN, 1997, p.146)

A autora prossegue avaliando que a memória institucional é paradoxal, na medida em


que inclui e exclui o social. Nessa perspectiva, convém ressaltar que o acesso é determinante à
função social dos arquivos e, quando relacionado ao Sistema FIRJAN, entendemos que para
que o Centro de Memória adquira função social, será necessário romper as barreiras que
impedem o acesso aos arquivos, estabelecendo um novo relacionamento com a sociedade.

4.2 O Centro de Memória como agente de Vantagem Competitiva

A visibilidade dos elementos formadores do centro de memória constitui um


processo de dimensões políticas, tendo como principal desafio e produto fundamental a sua
divulgação. Nesse sentido, este trabalho pretende também identificar estratégias de que
viabilizem a retirada da memória do Sistema FIRJAN do cenário privado, sobretudo seus
arquivos, para ganhar o terreno público, com o propósito de conferir à instituição
reconhecimento social através da visibilidade de suas ações enquanto promotora cultural e
educacional, além de transformar esses elementos representativos da memória em importante
recurso de apoio à pesquisa acadêmica.
No contexto organizacional privado, com relação aos arquivos, a visibilidade, em
regra, está relacionada à necessidade de informação das áreas demandantes que só o percebem
enquanto órgão imprescindível ao funcionamento da organização, na medida em que
necessitam de seu serviço. Para os gestores das organizações, não há dúvidas quanto à
importância da informação no processo de tomada de decisão, entretanto, não estabelecem
72 
 

nem valorizam a estreita relação entre arquivos, informação e decisão.


As organizações podem ser percebidas como agentes coletivos planejados
deliberadamente para realizar um determinado objetivo: produzir bens e serviços. É
imprescindível compreendê-las hoje como produtoras de significado. Repletas de nuances
simultaneamente complementares e antagônicas, as organizações constituem ambientes de
pulsão e repulsão, mas podem ser também espaços para o desenvolvimento de saberes e de
valorização dos indivíduos. Na medida em que são construídas, as organizações são também
agentes do seu entorno e sofrem diversas influências advindas deste.
Inicialmente é necessário refletir sobre a opacidade que envolve a memória do
Sistema FIRJAN e definir estratégias adequadas para aproximá-la da sociedade. Cabe
imprimir na sociedade a noção de que a memória produzida pela organização é parte vital da
herança cultural relacionada à história da indústria brasileira e representa o vínculo desta com
o passado. Seus acervos, seus objetos e tudo que dá significado à memória, são a prova de
eventos, decisões, ideias e comunicações. São fontes de saber, mananciais de informação da
história da atuação industrial em seu contexto. Recursos históricos que remetem ao
conhecimento.
A viabilização do processo de divulgação da memória do Sistema FIRJAN se
relaciona à adoção de uma estratégia de divulgação orientada para atrair o público interno e
externo, tendo em vista a pretensão de permitir o acesso público ao espaço privado, com o
objetivo de lhe conferir visibilidade e suscitar o envolvimento da sociedade visando,
paralelamente, o estabelecimento do arquivo permanente de modo a torná-lo reconhecido
como recurso cultural imprescindível à própria organização e ao público externo.
É importante considerar a criação e o posicionamento do arquivo permanente, uma
vez que este será um dos celeiros da memória instituída. Ele é o principal dispositivo do
Centro de Memória. O arquivo também deverá ser preparado para se abrir à sociedade e atrair
novos usuários, o que requer uma transformação na postura do profissional de arquivo, que
deve buscar a aproximação do público externo. A difusão da imagem do arquivo, através de
novos e inovadores serviços, deve estar focada na ampliação do público, razão pela qual o
usuário deve estar no cerne das discussões relacionadas ao reposicionamento do arquivo no
contexto social em que está inserido. Todas essas ações devem estar atreladas à Memória
Institucional. A sólida trajetória de uma organização pode e deve ser utilizada como estratégia
de divulgação, a fim de viabilizar parcerias com seu público de interesse. Nesse sentido, a
Memória Institucional deve ser utilizada como recurso capaz de propiciar a relação e resgate
da identidade dos indivíduos podendo, paralelamente, constituir o seu lugar: o lugar da
73 
 

Memória Institucional. Isso representa a projeção do arquivo enquanto espaço abarcador


dessa memória.
A principal estratégia direcionada ao estabelecimento de uma política de divulgação
da memória do Sistema FIRJAN, deverá ser baseada na adoção de uma estratégia que inclua
ações direcionadas a atrair a sociedade. A identificação das bases que devem compor essa
política deve considerar questões relacionadas ao público alvo. Nesse sentido, um dos fatores
a serem contemplados deve ser o estudo prévio sobre os possíveis usuários dos arquivos, uma
vez que o atendimento à sua solicitação pressupõe uma aproximação a fim de identificar seu
perfil e entender o que de fato necessita. Anna Carla Almeida Mariz esclarece:

[...] A maior proximidade entre produtor e usuário, seja física, intelectual ou


cultural, tende a reduzi-las. Para isso, a qualificação do receptor é
fundamental. Necessário se faz que ele tenha a estrutura mental, social e
cultural adequadas para que a informação faça sentido. Alguns requisitos são
indispensáveis, como capacidade de ler, de conhecer o idioma em que está
sendo transmitida a mensagem, partilhar a forma de vida ou os termos de
referências sociais e culturais nos quais a mensagem se insere. Ainda que
essas condições sejam preenchidas, sempre haverá as diferenças entre os
indivíduos e sua compreensão, originárias de suas experiências anteriores.
(ALMEIDA MARIZ, 2012)

Para Nélida Gonzáles de Gomez (2012), a transferência da informação está inserida


em um contexto social e os fatores culturais e sociopolíticos são diversos e definem as bases
técnicas e seus suportes institucionais.
Nesse sentido, a meta da política de divulgação será encontrar, atrair, manter e
cultivar usuários. É necessário definir previamente o que, para que e para quem será o centro
de memória do Sistema FIRJAN. Outras premissas relevantes se baseiam na definição de
como o centro de memória atenderá seus usuários, como se diferenciará dos demais centros de
memória, e de como se posicionará na sociedade.

5 CENTRO DE MEMÓRIA DO SISTEMA FIRJAN

Ao se reunir em um mesmo espaço a história do desenvolvimento das áreas que


integram uma organização, a trajetória de seus fundadores e colaboradores, além da evolução
organizacional, estabelece-se um canal de comunicação com os públicos interno e externo,
74 
 

contribuindo para o fortalecimento da imagem institucional. Essa é a principal justificativa


para a criação de um Centro de Memória.
Estruturar um centro de memória não representa tarefa das mais simples, pois não se
trata apenas de reunir antigas fotografias, recortes e objetos em um único local, mas também
de dar um sentido ao acervo. É muito importante que o espaço retrate como a evolução da
organização contribuiu para torná-la o que é na atualidade.
A criação do Centro de Memória do Sistema FIRJAN requer, além das considerações
políticas, a mobilização em torno da importância do estabelecimento de um espaço físico para
a manutenção dos elementos que representam essa memória. A definição do território da
memória do Sistema FIRJAN poderá permitir o acesso, a compreensão e a identificação da
sociedade com a trajetória da organização, considerando que a relação entre a memória e o
espaço é relevante na medida em que o espaço torna-se o lugar da memória propriamente dita.
O espaço se tornará um referencial para a memória institucional e irá privilegiá-la, criando
vínculos afetivos com a sociedade.
Enquanto agente coletivo planejado, o Sistema FIRJAN possui como objetivo a
produção de bens e serviços que aportam significados complexos e múltiplos, carregados pela
influência de seu entorno. Nesse contexto, instituir um Centro de Memória representa conferir
à trajetória da organização o lugar da sua memória, estabelecendo um canal de comunicação
entre a sua trajetória sólida e seus públicos de interesse.
A gestão documental no Sistema FIRJAN contempla somente os documentos que são
objeto de legislação e dotados de valor probatório. A documentação que não está inserida
nesse contexto, de modo geral encontra-se dispersa e desorganizada. Com a perspectiva de
estabelecer um lugar de memória esses documentos dispersos pela ausência de sistematização
poderão ser reunidos, tratados e disponibilizados, revelando a trajetória da organização, seus
percalços, sua atuação, escolhas e, sobretudo, seu impacto sobre a sociedade.
O estabelecimento do Centro de Memória do Sistema FIRJAN tem como metas
desenvolver projetos culturais e educativos, promover exposições e incentivar ações que
visem à preservação de acervos relacionados à história da indústria no estado do Rio de
Janeiro, sejam institucionais ou pessoais.
O foco do Centro de Memória deverá se estabelecer sobre um tripé, a fim de
sustentar sua existência: o pesquisador, o empresário e o cidadão. Ao pesquisador, o centro de
memória deverá representar um arsenal de provas acerca das investigações relacionadas à
história da indústria. Ao empresário, será o espaço onde encontrará sua própria identidade e
da comunidade na qual se insere. Ao cidadão, o entendimento sobre a atuação do Sistema
75 
 

FIRJAN na sociedade. A nenhum desses atores será possível o acesso à informação desejada,
sem a colaboração de outras áreas do contexto organizacional do Sistema FIRJAN: o arquivo
permanente, cuja criação este projeto propõe e estabelece relação direta com o centro de
memória; a área de cultura, que auxiliará na idealização dos projetos culturais; a área de
marketing, responsável pela divulgação e a área de educação. Esta última poderá incluir em
seu planejamento educacional, visitas ao centro de memória a fim de instruir os educandos
acerca das interferências do Sistema FIRJAN no processo de industrialização do estado do
Rio de Janeiro e sua atuação no campo da Responsabilidade Social. O centro de memória será
um espaço de colaboração e conciliação entre as áreas, visando à preservação da memória
institucional. Essa cooperação se dará após a identificação dos elementos de valor histórico
mantidos pelas diversas áreas.
Através de uma pesquisa de campo pretendemos identificar as principais atividades
das entidades formadoras do Sistema FIRJAN ao longo da sua trajetória, investigando os
relatórios de atividades, a documentação normativa e outras fontes de pesquisa, tais como
livros e periódicos.
A biblioteca do Sistema FIRJAN, detentora dos relatórios de atividades das entidades
formadoras da organização, mantém também o acervo fotográfico que se encontra
indisponível em razão de não estar organizado. Esse acervo também será contemplado neste
trabalho, visando à composição do espaço de memória do Sistema FIRJAN, objeto deste
trabalho.
Pretendemos realizar um trabalho de conscientização sobre a importância da reunião
de acervos e objetos que representem a trajetória da organização, tentando evitar ou
minimizar os riscos de possíveis disputas relacionadas à posse dos documentos, conforme a
abordagem do Goulart:

[...] Um fenômeno muito comum sempre ocorre, intermediando a relação


entre a organização e o arquivista: os documentos que até então não
contavam com grande apreço e que estavam perdidos ou mal conservados se
tornam alvo de disputa entre unidades da organização, pois se percebe o valor
(poder?) das informações ne1es contidas e até de sua materialidade.
(GOULART, 2002, p.15)

O testemunho verificado nos documentos ou em elementos, arquivísticos ou não, se


considerado de modo mais abrangente, significa agente de transmissão cultural e não se
esgota em si mesmo, pois extrapola seu conteúdo. São dados, indícios, símbolos, que
constituem a memória. Esses elementos não pertencem à biblioteca, ao arquivo ou às áreas
onde foram criados, mas ao Sistema FIRJAN, tendo em vista serem conjuntos informacionais
76 
 

decorrentes de suas ações. Identificados e captados, devem compor o Centro de memória. “A


informação perdida não se recupera mais. Que o resgate seja feito a tempo e a hora.”
(BELLOTTO 2004, p.278).
A definição de um espaço para acolher a memória poderá resultar em uma
seletividade na qual os atores politicamente envolvidos irão interferir através das escolhas dos
símbolos do passado que irão representar a memória do Sistema FIRJAN, conforme suas
necessidades ou intenções.
Sabemos que a tendência ao relato engrandecedor do passado, incluindo narrativas
épicas acerca das dificuldades atravessadas ao longo da existência das entidades, e o apelo
emocional vinculado à atuação na sociedade tendem a constar na versão oficial. É fato que a
lembrança e o esquecimento farão parte da gestão da memória, ou melhor, as escolhas entre o
que deve ser lembrado e o que deve ser esquecido. “Um passado que permanece mudo é,
muitas vezes, menos o produto do esquecimento do que de um trabalho de gestão da memória
segundo possibilidades de comunicação” (POLLAK, 1989, p.13).
Mesmo diante desse quadro a criação do Centro de Memória do Sistema FIRJAN é
vital à preservação dos elementos que representam a trajetória da instituição e que atualmente
encontram-se dispersos e sem o tratamento que lhes é devido.
Consideramos que memória e espaço são indissociáveis e é através de Centro de
Memória que pretendemos evidenciar o passado das entidades que formam o Sistema
FIRJAN, reunindo seus documentos permanentes, suas fotografias e todos os objetos que
sirvam como referência desse passado.
O Centro de Memória trará à tona o debate e as possibilidades de criação do arquivo
permanente da instituição, tendo em vista a relação intrínseca entre os arquivos, a gestão
documental, a preservação dos documentos identificados como permanentes e o diálogo que
deve existir entre os arquivos e o Centro de Memória.
O Centro de Memória do Sistema FIRJAN também pretende abrigar os arquivos
pessoais dos empresários cuja trajetória profissional seja reconhecida pela instituição como
fonte relevante para a história da indústria. Esta ação visa, paralelamente, ao fortalecimento
político do centro de memória, buscando a criação de vínculos emocionais também com a
classe empresarial. Tentaremos enfatizar que precisamos do passado para ilustrar o presente e
direcionar o futuro.
É importante considerar que o centro de memória não irá representar somente um
celeiro de informações sobre o passado do Sistema FIRJAN, mas um recurso para recuperar
informações, combiná-las de modo a evitar repetições equivocadas do passado e apresentar
77 
 

ideias inovadoras. Servirá para atrair a atenção da sociedade com o Sistema FIRJAN,
provocando a identificação desta com as ações sociais do passado, do presente e do futuro,
promovidas pela organização e paralelamente, prevenir a organização acerca de demandas
advindas da Lei 12.527/2011.
A dualidade entre a memória privada e a memória coletiva representa um desafio a
ser enfrentado. A escolha entre o que pode e deve se tornar público e o que deve permanecer
como propriedade privada, tende a ser objeto de grandes e subjetivas discussões,
considerando o perfil conservador por parte de alguns atores dotados desse poder de escolha.
Atualmente o Sistema FIRJAN tem como um de seus objetivos estratégicos a
valorização da marca das entidades que o integram, sobretudo através da divulgação de seus
projetos sociais. As campanhas de marketing enfatizam a Responsabilidade Social da
organização, o que evidencia a busca por um vínculo emocional junto à sociedade, mas passa
ao largo da sua trajetória, mencionando somente os projetos sociais atuais.
A primeira ação para a materialização do centro de memória será a sua formalização
através de instrumentos normativos aprovados pela autoridade competente. Após, será preciso
efetivamente estabelecê-lo. Sua estrutura organizacional deverá basear-se nos objetivos
definidos, nos recursos disponíveis e na função que lhe for atribuída.
Criar um Centro de Memória envolve a tomada de uma série de decisões acerca da
sua estrutura e atuação no ambiente organizacional. Por essa razão, deve-se elaborar um
conjunto de diretrizes baseado no plano estratégico da organização. Tais diretrizes irão
evidenciar os objetivos e as atividades a serem desempenhadas pelo Centro de Memória, a fim
de direcionar a implantação e a composição do acervo de modo a garantir seu funcionamento
e ampliar sua colaboração no desenvolvimento de produtos e serviços. A composição do
acervo deverá basear-se em uma política específica, formalizada por um documento que
defina os elementos que deverão integrar o Centro de Memória e normatize as ações após o
recolhimento. Quanto à missão e à visão do Centro de Memória do Sistema FIRJAN deverão,
necessariamente, estar vinculadas aos valores da organização.

5.1 Principais objetivos

- Preservar e difundir a memória do Sistema FIRJAN

- Reunir, preservar e disponibilizar o Arquivo Permanente do Sistema FIRJAN


78 
 

- Atuar como instrumento de gestão, gerando vantagem competitiva ao Sistema FIRJAN

- Estabelecer vínculos com a sociedade

- Localizar, captar e organizar informações, documentos e objetos tridimensionais que


contribuam para a criação da Identidade Corporativa da organização pautada nos conceitos
de responsabilidade social empresarial

5.2 Fases do projeto

5.2.1 Definição da Missão e da Visão do Centro de Memória do Sistema FIRJAN

Missão

Manter reunidos e disponíveis a pesquisadores internos e externos os elementos que


simbolizem a memória do Sistema FIRJAN, independente da forma ou do formato em que se
apresentem, a fim de garantir tratamento adequado à sua preservação, proporcionando à
organização a utilização da memória como estratégia de gestão corporativa e vantagem
competitiva, agregando valor aos negócios.

Visão

Ser referência na preservação e na difusão de acervos relacionados à história da indústria e


suas interferências nos contextos social e empresarial do estado do Rio de Janeiro.

5.2.2 Definição da política de acervos que permita identificar elementos que compõem o
patrimônio cultural, material ou imaterial da organização, com a finalidade de fortalecer seus
valores. Será realizada uma pesquisa sobre a produção documental, com o propósito de
identificar os documentos dotados de valor histórico para a organização. Essa identificação
estará ancorada em três indagações:

- Quais são os documentos representativos da memória da organização?


- Dentre esses, quais documentos têm valor de pesquisa compatível com a atividade
da organização?
79 
 

- Que documentos podem ser recolhidos ao Centro de Memória sem que isso
represente um problema administrativo para a área que o produz?

A captação dos documentos arquivísticos de valor histórico, dos objetos


tridimensionais, das fotografias e dos documentos audiovisuais será precedida de uma ampla
campanha de divulgação, através da intranet do Sistema FIRJAN e outros veículos de
comunicação interna, com o objetivo de motivar os colaboradores na adesão ao projeto com
vistas à reunião dos elementos de memória.
Esta proposta prevê também a reunião dos documentos relativos à imagem
institucional, às estratégias de comunicação e aos documentos que contenham o conhecimento
técnico produzido pelas entidades que integram o Sistema FIRJAN, a fim de que no futuro
estes embasem estudos e pesquisas relacionados. Recentemente foi criado um programa de
registro de memória oral no Sistema FIRJAN. Esse programa gera novos documentos, e estes
deverão também integrar o acervo do Centro de Memória.
As estratégias de captação deverão ser pautadas em cooperação e negociação com
todas as áreas produtoras ou detentoras dos elementos de memória.

5.2.3 Definição das atribuições

Área de tratamento e conservação:

Captar, recolher, identificar, organizar e disponibilizar o acervo documental produzido pelo


Sistema FIRJAN; estabelecer um plano de conservação preventiva para o acervo.

Área de pesquisa e difusão:

Disponibilizar física e virtualmente o acervo, proporcionar acesso; atender às pesquisas


internas e externas; guiar visitas do público; organizar exposições temporárias e permanentes;
promover palestras e seminários relacionados à memória da organização e concursos culturais
sobre a memória da indústria fluminense.
80 
 

5.2.4 Definição da equipe necessária à implantação e ao funcionamento do Centro de Memó-


ria

Entendemos que a equipe deve ser multidisciplinar, com dois arquivistas, um


assistente administrativo colaboradores do Sistema FIRJAN, um estagiário de Arquivologia e
um profissional de História contratado temporariamente.

5.2.5 Definição da infraestrutura

A infraestrutura necessária ao bom funcionamento do CMSF será pautada na política


de acervo, pois o volume e o tipo dos elementos de memória recolhidos estarão diretamente
relacionados à definição da estrutura, como também ao orçamento disponível.
A fim de que o armazenamento e a preservação do acervo do CMSF ocorram
corretamente, é necessário adquirir uma infraestrutura adequada ao formato de cada elemento
de memória e aos trabalhos da equipe técnica.

Propomos a seguir, o mobiliário adequado ao funcionamento do CMSF:

- Arquivos deslizantes: com pintura epóxi, em tamanho e quantidade adequados às


necessidades de preservação dos diversos documentos. Existe no mercado grande variedade
de modelos, mas os armários deslizantes são os mais recomendados, em razão da redução da
ocupação de espaço pelos documentos, além da segurança contra possíveis riscos de incêndio.

- Mapotecas horizontais: destinadas ao armazenamento de documentos em grandes formatos


(cartazes, plantas e desenhos, entre outros), que devem ser mantidos horizontalmente.

- Sistema de climatização ambiental: composto de sistema de ar-condicionado e controle da


umidade relativa do ar, a fim de garantir a manutenção das condições ambientais de
temperatura e umidade em níveis adequados.

- Termo-higrômetro digital: equipamento de medição de temperatura e umidade relativa do ar


para acompanhamento das condições ambientais adequadas à preservação do acervo.
81 
 

- Sistema de segurança: composto por câmeras filmadoras, sistema de detecção de fumaça,


extintores e alarmes de incêndio.

- Área de tratamento técnico: contempla a área destinada ao processamento dos documentos,


que inclui separação do material recolhido, identificação, classificação e descrição das séries
documentais, ordenação, higienização e acondicionamento do acervo. Considerando as
características do trabalho realizado, esse local deve ser preferencialmente dividido em três
áreas: uma contendo 05 estações de trabalho, com mesas, cadeiras e computadores, para a
realização das atividades de identificação, classificação, descrição e indexação do acervo;
outra voltada à recepção dos elementos de memória, separada das estações de trabalho e
composta de mesa grande e cadeiras, onde ocorrerá o manuseio dos documentos para leitura,
identificação e higienização e outra reservada à pesquisa e recepção dos pesquisadores,
contendo dois computadores, um pequeno sofá e uma mesa de médio porte, redonda, para
pequenas reuniões.

5.2.6 Definição do software para o banco de dados e de site específico para o CMSF

Adoção de uma ferramenta a ser desenvolvida especificamente para o CMSF, para


catalogação e controle do acervo:

- Definição da estrutura ideal de banco de dados e do site. Este último deverá contemplar a
ferramenta de pesquisa

- Levantamento de dados do acervo e início da catalogação, ainda na fase de identificação


Documental

- Criação de ferramentas de indexação (vocabulário controlado). Os termos escolhidos


(palavras-chave), devem contribuir para ampliar a compreensão do acervo e melhorar o
resultado da pesquisa. O vocabulário controlado deve ser composto de termos técnicos, nomes
e locais a que se referem os documentos existentes no acervo.

- Ferramentas de gestão de conteúdo digital, como o gerenciamento de documentos digitais.


Essa ferramenta de banco de dados deverá permitir a inserção de documentos digitais,
82 
 

possibilitando a inclusão de imagens dos documentos ou arquivos produzidos pela equipe do


CMSF, a fim de ampliar e facilitar o acesso, garantindo também a preservação dos originais.

Dados a serem considerados na catalogação do acervo:

FUNDO GRUPOS SÉRIES DOCUMENTAIS CATÁLOGOS


OU E
COLEÇÃO SUBGRUPOS

Informações gerais Informações sobre as áreas Informações sobre cada Informações sobre as
sobre as entidades de cada entidade do Sistema conjunto de documentos unidades documentais
produtoras do FIRJAN. Esse nível abrange produzidos e/ou acumulados tratadas individualmente,
Sistema FIRJAN. informações gerais sobre a pelas áreas da instituição (os de acordo com as
atuação de cada área, suas grupos) no cumprimento de características técnicas
atribuições e os documentos suas atividades. específicas. Serão
contemplados. elaborados catálogos
individuais para
documentos
audiovisuais,
fotográficos, sonoros,
textuais, livros e objetos
tridimensionais.

Essa estrutura possibilitará a elaboração de pesquisas e relatórios sobre o acervo,


incluindo a automação do plano de classificação do CMSF.
A seguir apresentamos os metadados para as identificação e recuperação do acervo:

Código: cada documento deve receber um código de cadastro, que servirá como referência de
sua localização no acervo e deverá ser inscrito fisicamente no documento.

Título e conteúdos: devem informar o título indicado no documento e dados básicos sobre o
seu conteúdo. Podem ser elaborados para um documento individual ou para um pequeno
conjunto, como um dossiê.

Autoria: deve indicar o nome do(s) autor(es) do documento. Pode ser uma empresa/entidade
ou uma pessoa.

Datas cronológicas: devem ser indicadas as datas existentes no documento. Se não houver
83 
 

informações exatas deve-se pesquisar, a partir de elementos disponíveis no próprio


documento ou de referências em outras fontes, a data aproximada e fazer a indicação, sempre
com a utilização de um elemento que qualifique a atribuição. Ex.: [1945] ou [década de
1940].

Características físicas: informações sobre suporte, formato do documento, quantidade, tipo,


cromia, dados técnicos de arquivos digitais (resolução e tamanho ocupado em disco, por
exemplo) e tempo de gravação (para audiovisuais e sonoros), entre outras informações.

Estado de conservação: deve relatar problemas de conservação identificados nos


documentos.

Observações: apontar outras informações pertinentes sobre o documento ou conjunto, como a


existência de referência a outras fontes.

5.3 Definição da estrutura organizacional

A fim de idealizar uma configuração do Centro de Memória objeto deste estudo,


propomos uma estrutura simples, porém, ancorada em uma área que lhe proporcione a
autonomia necessária ao bom desempenho das suas atividades, evitando influências políticas
de outras áreas. Entendemos que o Centro de Memória deverá ficar subordinado à alta direção
do Sistema FIRJAN.
84 
 

Após a instituição do Centro de Memória do Sistema FIRJAN será necessário


estabelecer mecanismos para fazê-lo transpor os limites da organização e ir ao encontro da
sociedade com o propósito de atrair o público que lhe interessa, visando ao estabelecimento
de um vínculo emocional, através do qual as ações sociais do Sistema FIRJAN saiam da
invisibilidade. Cultivar e mostrar seu passado para o público é uma das melhores maneiras da
organização dar visibilidade a seu compromisso com a sociedade, com a história e a cultura
do país. O Centro de Memória também deverá contribuir para que a organização fortaleça sua
identidade institucional e reforce os elos com seus colaboradores e com a classe empresária.
Para que tudo isso seja viabilizado é necessário o estabelecimento de diretrizes
estratégicas que contemplem o que se quer atingir, quem e como se quer atingir.

Tais premissas deverão estar pautadas nas seguintes bases:

- Prospecção de mercado, com ênfase no perfil do usuário que se quer atrair ao Centro
de Memória;

- Estabelecimento de parcerias para obtenção de patrocínios;

- Ampla divulgação dos acervos internamente e externamente, nas redes sociais e outros
meios de comunicação;
85 
 

- Estabelecimento de espaços de pesquisa adequados e agradáveis;

- Incentivo à pesquisa através de programas de premiação a serem definidos.

A definição das premissas que orientarão a divulgação em torno do Centro de


Memória do Sistema FIRJAN deverá ocorrer sempre após a definição do perfil dos usuários
que se quer atrair, considerando que este norteará as demais ações.
O Centro de Memória do Sistema FIRJAN deverá ser a referência no âmbito da
organização, para a reunião e pesquisa das informações sobre a sua trajetória. Com base nessa
delimitação, estabelecemos as diretrizes estratégicas que definirão os produtos e serviços a
serem disponibilizados:

- Exposições temáticas;

- Publicações;

- Debates consoantes às exposições;

- Visitas guiadas.

A criação do Centro de Memória disponibilizará aos públicos interno e externo, os


elementos que constituem a memória do Sistema FIRJAN e sua relação com a construção da
história da indústria brasileira. Sua cultura e seu patrimônio documental extrapolam os limites
de sua propriedade, em razão da relevância histórica associada à memória da indústria, suas
interferências sociais e as parcerias com diversas esferas governamentais, sempre relacionadas
a causas sociais, muito anteriores ao surgimento do conceito de Responsabilidade Social.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O arcabouço teórico referente aos conceitos de memória institucional,


responsabilidade social e vantagem competitiva, embora ainda não apresente solução
definitiva acerca dos assuntos, auxiliou na definição das diretrizes que nortearam esta
pesquisa e a proposta de criação do Centro de Memória do Sistema FIRJAN.
Entendemos que a memória institucional pode ser utilizada como uma importante
ferramenta de gestão de negócios, como instrumento de fortalecimento das marcas das
entidades que formam o Sistema FIRJAN e das marcas de seus produtos considerando,
86 
 

também, a responsabilidade social histórica, tendo em vista que as entidades atuam em um


determinado espaço, inseridas na sociedade e em áreas específicas de produção de serviços.
A memória organizada e disponibilizada também pode ser instrumento para o
planejamento da organização, considerando que o passado reflete suas ações sua compreensão
pode servir como referência para novos posicionamentos. Se utilizada estrategicamente a
memória institucional reforça a cultura e a identidade corporativa, gerando o sentimento de
pertencimento sobre seus integrantes. O que já aconteceu é importante e pode ser exibido e
utilizado como parâmetro ao futuro traçado no planejamento estratégico.
Considerando o conhecimento adquirido após pesquisas realizadas nos arquivos e na
biblioteca central do Sistema FIRJAN, com base no referencial teórico anteriormente
definido, concluímos que existe material que respalda a criação de um espaço para a memória
da organização. Há possibilidade de reunião de documentos, de diversos símbolos da
trajetória das entidades que formam o Sistema FIRJAN, de fotografias e de filmes, além da
perspectiva de criação de um acervo de história oral, composto por entrevistas e depoimentos
sobre os fatos que marcaram a história da organização.
Percebemos que a viabilidade do Centro de Memória do Sistema FIRJAN requer a
revisão da atual gestão documental (grifo nosso), considerando que as análises evidenciaram
que esta é aplicada somente até a fase intermediária dos documentos e desconsidera o valor
histórico que estes possuam ou venham a possuir. Essa percepção indica que recomendar o
estabelecimento de um espaço de memória para o Sistema FIRJAN, requer a revisão dos
instrumentos de gestão e a adoção de uma efetiva política arquivística no âmbito da
instituição, que contemple o arquivo permanente como parte do acervo sob a guarda e
responsabilidade do Centro de Memória. À luz da Arquivologia, as ações promovidas sobre
os documentos da organização não se configuram como gestão documental. São serviços
arquivísticos centralizados, que mantêm sob controle grande parte da documentação dotada de
poder probatório e cuja finalidade principal é atender às demandas dos órgãos fiscalizadores,
tais como TCU e CGU.
Esta pesquisa demonstrou a relevância da criação do Centro de Memória do Sistema
FIRJAN, a fim de resguardar e utilizar sua memória tanto socialmente, quanto
estrategicamente, atraindo a atenção de pesquisadores, da sociedade e da classe empresária. É
uma iniciativa que não se esgota em exposições fotográficas ou livros comemorativos, pois
propõe a preservação da memória institucional, destinando-lhe o seu espaço.
Utilizar a Memória Institucional como recurso estratégico de divulgação representa,
portanto, a evidenciação da responsabilidade histórica da organização, marcando seu legado
87 
 

para a sociedade, podendo constituir um caminho para a questão do pertencimento. Inclui o


fortalecimento da imagem, da identidade e da reputação da organização, legitimando e
fortalecendo sua ação no contexto social em que está inserida. É a vinculação da identidade à
imagem e, mais do que isso, significa enfocar a missão, lendas e mitos, heróis, documentos,
fotografias e materiais simbólicos que constituem a dimensão cultural inerente à trajetória da
organização. Trata-se de um compromisso social das organizações: a responsabilidade
histórica, na qual a sociedade deverá ser considerada a fim de que utilize a memória
disponível não apenas internamente, mas externamente. E os arquivos constituem parte
inquestionável desse processo.
A intenção deste trabalho é contribuir com o Sistema FIRJAN, destacando a
problemática que envolve a questão da sua memória, de modo especial quanto aos
documentos e elementos que a representam, apontando como solução o estabelecimento de
um lugar para suas guarda e preservação. É urgente, é necessário e é pertinente, sobretudo ao
considerarmos os extravios e perdas a que estão sujeitos. Compreender, guardar e preservar a
memória das entidades que integram o Sistema FIRJAN representa também compreender,
guardar e preservar uma parcela da memória da indústria brasileira.
Entendemos que investir em memória empresarial é investir também em educação,
seja através de palestras relacionadas a patrimônio acerca de temas corporativos ou da cultura
organizacional, seja por meio de palestras para conscientização sobre a importância da
preservação de bens culturais. Tais ações de educação patrimonial promovem o exercício da
cidadania e o acesso à informação, à cultura e à memória histórica, proporcionando o
conhecimento de bens culturais. Sob uma perspectiva mais ampla, incentiva transformações e
a percepção de valores culturais importantes para a vida em sociedade. Investir na criação de
um Centro de Memória representa contribuir para a perenidade da organização.
Concluímos que um discurso isolado sobre a importância da preservação da memória
tende ao fracasso em ambientes organizacionais e não seria diferente no Sistema FIRJAN. É
preciso tornar a defesa acerca da memória em argumento multidisciplinar e consoante às
práticas de gestão da organização, tendo em vista que os estudos apontaram que à margem da
cultura organizacional, considerando a seleção dos elementos de memória, valores e
objetivos, não há probabilidade de atingimento do objetivo que, neste caso, é a instituição do
centro de memória. Assim, é necessário integrar esforços de todas as áreas que produzem
conhecimento, buscar apoio político no âmbito da organização e definir argumentos capazes
de mobilizar o aparato necessário à concretização do objeto desta investigação.
Finalizando, cabe uma reflexão acerca da importância do Centro de Memória do
88 
 

Sistema FIRJAN: o conhecimento da história, da qual o CMSF será o guardião, poderá


fornecer pistas, inspirar, apontar caminhos. A história da organização traduz a sua cultura e a
sua identidade para aquém e para além dos muros que a cercam. É ela que constrói, a cada
dia, a percepção que o consumidor e a sociedade têm das entidades que integram o Sistema
FIRJAN, seus produtos e serviços. O consumidor e a sociedade têm em mente uma imagem
da organização, que é histórica, viva, dinâmica, mutável, ajustável, que sofre interferências de
toda a natureza. É essa imagem que, somada à reputação da empresa, é determinante para o
cidadão nas situações em que ele se relaciona com a instituição, e para o empregado, na hora
de se aliar à sua causa.
89 
 

REFERÊNCIAS

ALBERTI, Verena. Vender história? A posição do CPDOC no mercado das memórias.


Rio de Janeiro: CPDOC, 1996. Disponível em: http: //cpdoc. fgv.br/producao_intelectual/ arq/
870. Acesso em 24 de mar de 2014.

BELLOTTO, Heloisa Liberalli. Arquivos permanentes: tratamento documental. 2. ed. Rio


de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas, 2004.
BERGSON, Henri. Matéria e memória: ensaio sobre a relação do corpo com o espírito. 3.
ed. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

BORDIEU, Pierre. O poder simbólico. 2ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.

BRASIL. Constituição (1998). Constituição da República Federativa. Brasília, DF: Senado,


1988.
_______ . Lei n. 8.159, de 08 de janeiro de 1991. Dispõe sobre a política nacional de arquivos
Públicos e privados e dá outras providências.Disponível em: http: //www.planalto.gov .br/
ccivil_03/leis/L8159.htm>. Acesso em: 05 de nov. 2012

_______. Lei n. 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações previsto


no inciso XXXIII do art. 5o, no inciso II do § 3o do art. 37 e no § 2o do art. 216 da
Constituição Federal; altera a Lei no8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei no
11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá
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