Professional Documents
Culture Documents
UNIRIO
Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro
Centro de Ciências Humanas e Sociais
Programa de Pós- Graduação em Gestão de Documentos e Arquivos
Mestrado Profissional em Gestão de Documentos e Arquivos
RIO DE JANEIRO
2014
4.Memória Institucional
Banca Examinadora
Orientador: ______________________________________________
Examinador ______________________________________________
Interno:
Profª. Drª. Luciana Heymann
Examinador ______________________________________________
Externo:
Profª. Drª. Lúcia Maria Velloso de Oliveira
AGRADECIMENTOS
Ao professor José Maria Jardim, pelo que representa e realiza para a Arquivologia e pelo
estímulo constante nessa caminhada. Às vezes uma palavra, por mais simples que pareça,
significa a direção na vida de alguém.
Ao professor Sérgio Albite, por ter me apresentado uma maneira inédita de interpretar os
textos e absorver conhecimento.
Ao professor João Marcus, pelas abordagens tão interessantes sobre memória, que me
despertaram interesse pelo tema.
Ao professor Paulo Elian, por simplificar o que inicialmente parecia tão difícil.
À professora Aline Lacerda, pela brilhante contribuição para a realização desta pesquisa.
A todos os colegas de turma, Francisco, Bruno, Fabiane, Djalma, Paola, Mariana, Solange,
Thiago e Tiago, fiéis companheiros, jamais esquecerei vocês.
À Cinthia, minha filha querida e o maior amor da minha vida, por compreender minhas
ausências.
A todos os que colaboraram direta e indiretamente para a conclusão deste trabalho, o meu
muito obrigada.
RESUMO
Os documentos gerados pelas entidades que integram o Sistema FIRJAN são mantidos em
arquivo somente para atendimento às demandas de consultas relacionadas a comprovações,
inexistindo preocupação com a memória da organização. Não há arquivo permanente e os
documentos não são avaliados com base em seu potencial histórico. Assim, a ameaça de
eliminação de documentos que poderiam integrar o patrimônio documental da organização é
iminente. Sob esse prisma, a pesquisa de natureza qualitativa tem como objetivo propor a
instituição de um centro de memória para o Sistema FIRJAN, de modo a reunir os elementos
que representem a memória institucional, em especial o arquivo permanente. O Centro poderá
ser utilizado pela organização como estratégia de gestão, atraindo a atenção da sociedade para
a sua trajetória e buscando o estabelecimento de vínculos com segmentos sociais de seu
interesse. A metodologia utilizada constitui-se de pesquisa em relatórios de atividades e atas
de reunião das entidades formadoras do Sistema FIRJAN. Como referencial teórico utiliza os
conceitos de Gestão de Documentos, Arquivos Permanentes, Memória e Memória
Institucional.
ABSTRACT
Documents generated by the entities that comprise the FIRJAN are kept on file only for
meeting the demands of the evidence related queries, there being concern with memory
organization. There is no historical archive and the documents are not evaluated based on
their historical potential. Thus, the threat of elimination of documents that could integrate the
documentary heritage of the organization is imminent. In this light, the qualitative research
aims to propose the establishment of a center for memory FIRJAN in order to gather the
elements that represent the institutional memory, particularly the historical archive. The
Center may be used by the organization to management strategy, attracting the attention of
society to its trajectory, and seeking to establish links with social segments of interest. The
methodology consists of research activity reports and meeting minutes of the training entities
FIRJAN. As a theoretical framework uses the concepts Document Management, Historical
Archives, Memory and Institutional Memory.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------------ 9
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS--------------------------------------------------------------- 85
REFERÊNCIAS------------------------------------------------------------------------------ 89
9
1 INTRODUÇÃO
Este trabalho consiste de um produto cujo objeto é uma proposta para a criação do
Centro de Memória do Sistema FIRJAN, contemplando a identificação, a reunião, a
organização, e a disponibilização social dos elementos que simbolizam a memória
documental da organização, independente do suporte e do formato em que se apresentem.
A pesquisa aborda a importância da criação de um espaço que abrigue a Memória
Institucional das entidades formadoras do Sistema FIRJAN, FIRJAN – Federação da
Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, CIRJ – Centro Industrial do Estado do Rio de Janeiro,
SESI – Serviço Social da Indústria, SENAI – Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial e
IEL – Instituto Euvaldo Lodi, demonstrando a relevância dessa memória enquanto agente de
contribuição para obtenção de vantagem competitiva no ambiente de negócios. Entendemos
que o Centro de Memória do Sistema FIRJAN representará a trajetória das entidades que o
integram e da indústria fluminense, considerando que abrigará os arquivos julgados relevantes
produzidos pela organização com importância histórica para sua memória.
Apresentaremos um relato acerca das políticas arquivísticas existentes no Sistema
FIRJAN, com o objetivo de verificar se as práticas arquivísticas que envolvem os arquivos
representam a existência dessas políticas na organização. Buscaremos analisar em que medida
a inexistência dessas políticas compromete a memória da organização. Por fim, pretendemos
evidenciar como a utilização da memória institucional pode se reverter em vantagem
competitiva aos negócios do Sistema FIRJAN.
As seções apresentadas neste trabalho estão relacionadas aos seguintes conceitos:
Gestão de Documentos; Arquivos Permanentes; Centro de Memória e Memória Institucional.
As abordagens relacionadas a Gestão de Documentos e Arquivos Permanentes estão baseadas
nos autores José Maria Jardim, Terry Cook, Heloisa Bellotto e Theodore Schellenberg.
Quanto aos conceitos de Memória Institucional e Centro de Memória a pesquisa buscou
argumentos nos autores Icleia Thiesen e Paulo Nassar. Além desses autores, recorreu-se
também à bibliografia arquivística relacionada aos mesmos aspectos teórico-metodológicos.
Importa destacar que esta pesquisa não se ocupará do relato sobre a história das
entidades que integram o Sistema FIRJAN, mas abordará alguns aspectos relevantes a fim de
justificar a proposta de criação do Centro de Memória da organização, objetivo central desta
proposta.
É importante também ressaltar que as análises contidas neste trabalho, acerca da
10
abordagem foge à intenção da proposta deste trabalho. Assim, decidimos por não utilizar os
depoimentos na elaboração do trabalho final.
O campo empírico foi o próprio Sistema FIRJAN, sobretudo as áreas cujas atividades
fim estão relacionadas às atividades de saúde, educação e lazer, em razão de representarem as
principais ações da organização no contexto social em que está inserida. As pesquisas também
foram realizadas na biblioteca central, detentora dos relatórios de atividades que permitiram a
confirmação de dados relevantes à memória institucional.
A relevância deste trabalho consiste na preservação da memória do sistema FIRJAN
através da identificação, reunião, tratamento e preservação dos elementos que a representam,
independente do seu formato ou suporte, a fim de evidenciar suas interferências na construção
da cidadania e sua atuação em parceria com diversos setores da sociedade, utilizando-a como
estratégia de gestão corporativa.
As seções que integram esta pesquisa se ocupam inicialmente de observar a relação
entre os arquivos do Sistema FIRJAN e a memória da instituição, a fim de verificar se existe
preocupação com a manutenção dos acervos para fins de preservação da memória
institucional. Na segunda seção apresentamos uma contextualização do objeto empírico,
analisando sua relação com os arquivos, políticas e práticas arquivísticas. Nessa seção
também analisamos a contribuição dessas práticas na preservação da memória institucional e
se tais práticas equivalem a gestão documental. Na terceira seção verificamos o conceito de
memória relacionado às empresas, buscando compreender de que forma as instituições que
compõem o Sistema FIRJAN se relacionam com a memória que produzem. A quarta seção
apresenta os conceitos de responsabilidade social e vantagem competitiva associando-os aos
arquivos e visando perceber em que medida é possível identificar a função social da memória
da organização. Finalizando, a quinta seção apresenta o produto desta pesquisa, que é a
proposta de criação do Centro de Memória do Sistema FIRJAN, CMSF, com a perspectiva de
estabelecer um diálogo com os arquivos da organização, provocar uma revisão nas práticas
arquivísticas vigentes e propor o CMSF como uma alternativa à preservação da memória
institucional.
13
O quadro apresentado por Taylor reflete os usos dos documentos de arquivos nas
organizações e está intrinsecamente associado ao caráter probatório, pelas características de
autenticidade e veracidade, situação análoga ao Sistema FIRJAN. Comparando as afirmações
de Taylor quanto aos usos dos documentos e das informações nos ambientes organizacionais
às afirmações de Duranti, é possível compreender que as possibilidades de utilização dos
documentos estão pautadas na questão da prova:
Com pertinência, Heloisa Bellotto reflete sobre o valor histórico dos documentos:
Bellotto prossegue sua narrativa acerca do ciclo vital dos documentos e função
arquivística, enfatizando que um arquivo permanente não se constrói por acaso.
Não cabe apenas esperar que lhe sejam enviadas amostragens aleatórias. A
história não se faz com documentos que nasceram para serem históricos, com
documentos que só informem sobre o ponto inicial ou o ponto final de algum
ato administrativo decisivo. (BELLOTTO, 2004, p.27)
A análise da autora pode ser utilizada para alertar sobre procedimentos adotados no
Sistema FIRJAN, acerca da documentação, considerando a importância e a utilização dos
documentos somente quando relacionados à sua fase corrente, sobretudo quanto ao seu valor
probatório, em detrimento do valor histórico que possuam ou possam adquirir.
A gestão documental atualmente praticada no Sistema FIRJAN está centrada nos
documentos com finalidade probatória, sobretudo quanto aos documentos financeiros e aos
relacionados à gestão de pessoas, abrangendo apenas parte da organização e,
consequentemente, desconsiderando as possibilidades históricas da documentação produzida
pelas diversas áreas, decorrentes de ações sociais e vínculos institucionais. Assim, contratos
de serviços, acordos de cooperação, convênios, dossiês resultantes de licitações,
documentação financeira, documentação de Recursos Humanos, dentre outros documentos,
são mantidos no mesmo espaço físico, separados apenas pelo critério de corrente e
intermediário. Não há preocupação com o potencial histórico dos documentos, somente com o
seu caráter de prova. Apesar dos alertas sobre as consequências relacionadas à
desconsideração do ciclo de vida dos documentos, a situação permanece a mesma.
O arquivo central do Sistema FIRJAN possui dentre suas competências a gestão
documental da organização. Equivocadamente denominado Centro de Documentação –
CEDOC, é possível constatar esse equívoco em razão do espaço manter exclusivamente
documentos textuais, não possuindo diversificação de acervos, característica comum a
Centros de Documentação. O CEDOC atua de modo parcial sobre a documentação gerada no
âmbito da organização, considerando que é o responsável pela gestão documental e esta não
abranger todas as atividades e entidades integrantes da organização. Não mantém controle
19
efetivo sobre os documentos, tendo em vista que sua atuação é somente receptora e passiva,
sem relação com a produção. Recebe a documentação para guarda, observa os prazos de
retenção previstos na tabela de temporalidade cujos prazos raramente preveem guarda
permanente, atua eventualmente nas áreas que solicitam apoio arquivístico, contudo, as ações
não estabelecem diálogo com a gestão documental propriamente dita e, dessa forma, não
implementa uma política capaz de resolver as questões demandadas pelas áreas produtoras de
documentos do Sistema FIRJAN.
A atual gestão documental do Sistema FIRJAN contempla de modo tímido a terceira
idade dos documentos. A utilização do termo permanente (grifo nosso) nas tabelas de
temporalidade vigentes na organização se observa somente sobre os documentos
contemplados por leis específicas, que obrigam sua guarda permanente. Quanto aos
documentos à margem dessa situação, são avaliados de acordo com o potencial probatório que
possuem. Aos documentos cujo valor implica na guarda permanente, são atribuídos prazos
dilatados de guarda sem menção do termo permanente.
Diversos documentos que formalizam projetos relativos às ações institucionais e
sociais, e que seguramente serviriam de testemunho à memória da organização, atualmente
são considerados somente como probatórios e figuram na tabela de temporalidade vigente
relacionados a curtos prazos de guarda, sem a consideração da importância histórica. A
utilização do termo permanente é evitada até mesmo em reuniões relacionadas à elaboração
dos instrumentos de gestão, e a justificativa se baseia na necessidade de manter os
documentos pelo menor prazo possível a fim de desocupar os espaços e utilizá-los para outros
fins considerados mais importantes.
O Sistema FIRJAN desenvolve ações amplamente divulgadas, sobretudo nas áreas da
Responsabilidade Social, que suscitam o interesse de diversos pesquisadores. A fragmentação
da história e a inexistência de uma referência de guarda da memória institucional, já levou à
recusa de diversas solicitações de pesquisas demandadas por interessados na história das
entidades formadoras do Sistema FIRJAN e na história de fatos relacionados à indústria
fluminense.
Há registros fotográficos ainda não organizados de modo a permitir o acesso aos
interessados. Esses registros revelam fatos curiosos relacionados à memória do Sistema
FIRJAN, tais como: concursos de robustez infantil na década de cinquenta e sessenta, no qual
o SESI premiava crianças filhas de operários que, através de critérios de beleza relacionados à
robustez, eram identificadas como modelos de saúde infantil. As imagens revelam o
posicionamento da medicina à época que, se comparado às orientações médicas atuais,
20
apontam para uma mudança de comportamento, uma vez que a medicina contemporânea
recomenda o controle do peso dos bebês a fim de evitar a obesidade, cientificamente
comprovada como danosa à saúde. A disponibilização deste acervo poderá ser alvo do
interesse de pesquisadores de diversos segmentos, interessados em investigar o
comportamento social e as recomendações relacionadas à saúde, à época, além de permitir
uma comparação entre as ações sociais do passado com as atuais, relacionadas com o setor
industrial.
Mais contemporâneos são os registros referentes ao projeto Social denominado Ação
Global implementado no início da década de 1990, em parceria com a Rede Globo de
Televisão e com diversos setores do poder público. O histórico de um dos maiores eventos
sociais promovidos pelo Sistema FIRJAN, que certamente já é alvo do interesse de
pesquisadores, também não dispõe de um local específico para sua guarda. Os dados estão na
memória de alguns ou nos armários individuais de outros. É a história que, fragmentada, se
perde entre os documentos gerados para fins probatórios e o lugar de memória que ainda não
existe.
Recentemente ocorreu no Estado do Rio de Janeiro um efetivo combate à violência
através da ocupação das favelas pelo poder público. Assim, o Estado preenche os espaços até
recentemente utilizados para aquartelamento de um poder paralelo instituído por traficantes de
drogas. Em parceria com o poder público, o Sistema FIRJAN, vem desenvolvendo ações
sociais nas comunidades ocupadas, implementando políticas de desenvolvimento humano em
dimensões inéditas se comparadas aos projetos sociais pregressos.
Os registros que comprovam a inserção das atividades do Sistema FIRJAN em áreas
onde anteriormente o crime organizado inviabilizava a implantação da Responsabilidade
Social, tendem a se perder ou a não permitir seu uso integral em razão de também não
disporem de tratamento e local de guarda adequados.
Posteriormente, a fim de verificar a existência de documentos que pudessem relatar a
memória das entidades integrantes do Sistema FIRJAN, ocorreu uma mobilização através de
e-mails encaminhados a todas as áreas, questionando-as sobre possíveis detenção de
documentos, em qualquer suporte, ou símbolos relacionados à memória institucional. A
resposta foi surpreendente. Diversas áreas manifestaram a existência, sobretudo, de
fotografias relacionadas a inaugurações, solenidades e eventos da organização. Nessas áreas,
algumas, inclusive, já extintas, as imagens não dispunham de qualquer tratamento
arquivístico. As fotografias foram acumuladas em armários, gavetas e porões, em sua maioria
sem qualquer identificação. Fontes decorrentes de fatos que marcaram épocas e que refletem
21
O passado marca o presente e o futuro, para o bem ou para o mal, segundo Nassar. O
testemunho da trajetória institucional tende a privilegiar ou prejudicar a imagem das
organizações. Entendemos que uma memória que abarque fatos negativos do passado jamais
será vinculada à imagem das empresas e tende a ser esquecida, diferente da memória que
remeta a fatos que marquem de modo engrandecedor a trajetória institucional. Esta pode e
deve ser utilizada como recurso de fortalecimento da imagem institucional.
Em sua obra História e Memória, Le Goff aborda, indiretamente, a importância da
utilização da memória nas organizações:
Terry Cook (1987), defende que o papel da Arquivologia envolve uma visão teórica
sobre as práticas arquivísticas, que migra da entidade documental para o processo, ou seja,
defende uma abordagem relacional do universo arquivístico. Para atingir esse resultado não se
pode mais partir do arranjo, da descrição e do armazenamento de entidades documentais, mas
é necessário identificar novas formas de análise das funcionalidades do fenômeno
informacional nos arquivos.
Os arquivos são produtos da sociedade na qual estão inseridos e remanescentes das
ações de seus produtores. Assim, não configuram espaços neutros, mas repletos de valores,
ideologias, dogmas e tabus. Todo documento elaborado, bem como todo documento escolhido
para ser preservado é um produto cultural e social de determinado contexto histórico. O
arquivo abarca formas específicas de poder e autoridade, além de simbolismos e intenções
veladas, conferindo-lhe um discurso próprio e refletindo, desse modo, a autoridade da
instituição que o mantém.
Le Goff (1996) afirma que lugares de memória são territórios onde o poder é
exercido através de um programa de lembranças por meio do qual ocorrem a criação da
memória e seu controle, estabelecendo também o controle da história, da mitologia e do
poder.
Nesse contexto o arquivo é um dos espaços de acumulação de discurso ideológico
dentro da sociedade, e que emana signos que perpetuam, constituindo-se em um sistema
simbólico.
Bordieu avalia que sistemas simbólicos, tais como instrumentos de conhecimento e
de comunicação, nesse sentido, os arquivos, constituem um poder estruturante. Isso equivale
afirmar que, por constituírem-se artefatos políticos munidos de uma burocracia administrativa
(ou seja, artefatos estruturados) os arquivos trabalham a favor do sistema, de forma a
tornarem-se escrita e saber do Estado, ou das organizações.
1
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8159.htm. Acesso em: 10 set.. 2014
2
Disponível em: http://www.arquivonacional.gov.br. Acesso em: 10 set. 2014
27
estabelecimento das políticas na área, deve refletir e atender às demandas específicas do órgão
produtor de documentos, facilitando o fazer arquivístico e a rotina dos administradores.
A gestão documental é composta por um conjunto de procedimentos aplicados com o
objetivo de controlar os documentos arquivísticos durante todo o seu ciclo de vida, desde a
produção e acumulação nas fases corrente e intermediária. A partir da identificação das
características que apresenta a tipologia documental, são definidas as regras para sua
formatação e utilização, tramitação, avaliação e classificação.
A gestão documental se faz através de duas atividades básicas e integradas: a
classificação e a avaliação dos documentos arquivísticos. Dessas atividades decorrem duas
ferramentas: o Código de Classificação de Documentos e a Tabela de Temporalidade e
Destinação de Documentos.
1ª Idade: Corresponde aos arquivos correntes que reúnem documentos de caráter probatório
das atividades de instituições e de indivíduos;
Diante disso, é possível entender que legislação arquivística não pode ser confundida
com políticas arquivísticas, pois o estabelecimento da primeira não esgota a necessidade de
adoção da segunda, considerando que os instrumentos legais determinam o que deve ser feito,
mas não identifica nem define como será feito.
33
Ainda que a norma legal se faça acompanhar pela norma arquivística, esta
não assegura, por si só, a reordenação arquivística prevista na lei. A
construção das dimensões legal e técnico-científica, inerentes ao processo de
implantação de uma legislação arquivística, é simultânea e mesclada à
configuração da sua dimensão política. (JARDIM, 2003, p.8)
preocupação com valor histórico dos documentos, mas somente com o seu caráter de prova.
Documentos textuais e iconográficos que possuem relação com a história da indústria
fluminense estão dispersos, sem tratamento arquivístico e geridos sem preocupação com a
questão da preservação, considerando as eliminações a que são submetidos com frequência a
fim de desocuparem espaços. Entendem como política arquivística os instrumentos de gestão,
tabela de temporalidade e manual de classificação, e, sobretudo, os instrumentos normativos.
Todavia, a tabela de temporalidade prevê guarda permanente somente para documentos
contemplados por legislação específica, que obrigue sua preservação. Quando o documento é
julgado, por questões legais, inalienável, lhe é atribuído um prazo de guarda bastante dilatado,
evitando-se o emprego do termo permanente e não o distinguindo, no arquivamento
propriamente dito, dos documentos correntes. Não há explicação para essa decisão, o que
dificulta, sobremaneira, o trabalho dos arquivistas.
Quanto ao aparato normativo, no que concerne aos arquivos se torna evidente a
tentativa de suprir o que falta aos instrumentos de gestão arquivística. Sugere uma tentativa de
atribuir aos administradores, responsáveis pela criação das normas e instruções operacionais,
a gestão dos arquivos.
O que poderia ser facilmente implementado através dos instrumentos de gestão
arquivística, caso estes não fossem utilizados como instrumentos de restrição do fazer
arquivístico no âmbito do Sistema FIRJAN, é propagado através de normas e instruções
operacionais imprecisas, que definem o que fazer, mas não orientam sobre como fazer e por
essa razão não dão conta da problemática que permeia os arquivos da organização. Esses
instrumentos dependeriam de auditoria permanente, para que suas determinações fossem
cumpridas, o que também não acontece.
Nesse sentido, também são nítidas as disputas políticas relacionadas aos arquivos do
Sistema FIRJAN, o que incorre em uma gestão precária tendo em vista a inexistência de
identificação dos acervos permanentes, o descaso com a memória não somente do Sistema
FIRJAN, como também da indústria fluminense, a ocupação irrestrita da área destinada à
documentação e o desperdício financeiro decorrente de decisões unilaterais, sem a
participação dos arquivistas. É um território político no qual as disputas são acirradas e
relacionadas ao poder, em detrimento da gestão arquivística. Isso ocorre nos limites dos
arquivos, sem o conhecimento da gestão superior e, desse modo, os arquivos são apropriados
e geridos de acordo com a vontade de quem os comanda.
Decorrentes, também, do quadro supracitado, são os arquivos paralelos criados para
suprir as necessidades das diversas áreas integrantes do Sistema FIRJAN. Contratações de
empresas para digitalização de documentos sem definição de critérios baseados na
arquivística, inclusive com descarte dos originais, são realizadas com frequência. Os acervos
fotográficos, normalmente relacionados a solenidades empresariais e eventos sociais
37
promovidos pelo Sistema FIRJAN, são mantidos pelas áreas produtoras sem qualquer
tratamento arquivístico, o que incorre em alienação e perda. Não há por parte da autoridade
arquivística, orientação quanto à metodologia de arquivamento e à preservação dos acervos
produzidos e mantidos pelas diversas áreas do Sistema FIRJAN. Neste caso, ocorre a decisão
de não fazer, não decidir, não interferir, não agir, não se expor, não trazer para si o que de fato
lhe compete. Isso também representa uma decisão política, de acordo com Jardim:
O arquivo não pode servir de instrumento de poder, a serviço de quem quer utilizá-lo
em benefício próprio. Muito menos ser território de disputas e vaidades que não agregam
benefício algum ao contexto em que está inserido. Ao contrário, o arquivo deve cumprir o
papel que lhe é devido: informar, apoiando a tomada de decisão; preservar, retirando dos
armários a história dispersa das entidades que integram o Sistema FIRJAN e agregar valor aos
processos operacionais a partir da informação. Arquivos não se limitam à guarda de
documentos probatórios. Sua função vai além dos muros da organização na medida em que a
atuação da organização se destina à sociedade. Estes devem cumprir a responsabilidade
histórica que lhe cabe, enquanto prestador de serviços à sociedade.
Entendemos que uma política arquivística deve contemplar um planejamento com
previsão de investimentos em treinamento de colaboradores, recursos tecnológicos, captação
de recursos financeiros através de projetos patrocinados, definição de diretrizes
metodológicas, adoção de estratégias relacionadas a uma política de divulgação a fim de dar
visibilidade ao arquivo e, paralelamente, suscitar o envolvimento dos públicos interno e
externo com o objetivo de reposicionar o arquivo no contexto organizacional e no âmbito da
sociedade, de modo que estes o considerem imprescindível. Efetivamente, uma política
arquivística deve incluir premissas, ações, decisões, indicadores e resultados, independente do
ambiente em que esteja inserida, seja ele público ou privado.
Diante disso é possível perceber que entre o discurso e a prática, há uma imensa
lacuna. A ideia difundida no âmbito do Sistema FIRJAN acerca da existência de uma política
arquivística é equivocada. Não há política arquivística em razão da gestão arquivística não
39
As instituições privadas, de modo geral, não são abordadas pela literatura que se
ocupa da investigação da Lei de Acesso à Informação. No âmbito do Sistema FIRJAN
também não se verifica preocupação quanto ao cumprimento da Lei 12527/2011. Entendemos
que isso se deve às divulgações nos meios de comunicação, de ocorrências, em regra,
relacionadas ao setor público, induzindo ao entendimento equivocado de uma aparente
imunidade às sanções desta lei, quando relacionada às organizações privadas. Porém, as
consequências da inobservância à LAI podem impactar de modo devastador também o setor
privado que possua vínculos com o poder público, como tentaremos evidenciar a seguir.
A Lei 12.527 de 18 de novembro de 2011, regulamenta o acesso às informações públicas
no país. Ao regulamentar o artigo 5º, inciso XXXIII da Constituição Federal, a LAI deixa
40
claro que o interesse público deverá estar acima dos interesses institucionais ou privados,
excetuando-se a isto os direitos de personalidade e intimidade.
A regulamentação do referido artigo impõe ainda maior preocupação acerca da
documentação de potencial valor histórico gerada pelas entidades que integram o Sistema
FIRJAN, tendo em vista as Leis Federais 8159/913 e 12527/114. Ambas são claras quanto à
abrangência relacionada aos arquivos privados identificados como de interesse público.
De acordo com Jardim, a existência de uma legislação arquivística não garante que
esta será reconhecida pela sociedade, pelo Estado, pela sociedade civil e até mesmo pelas
instituições arquivísticas, sem que seja necessário um grande esforço da organização
arquivística nacional, no caso brasileiro, do Arquivo Nacional e do CONARQ (JARDIM,
2003, p. 8). Difundir publicamente a legislação a fim de informar aos diversos setores da
sociedade acerca das responsabilidades e dos riscos que a envolvem, pode representar parte da
sua viabilização.
Uma legislação ignorada pela sociedade e o Estado pode ser tão perniciosa
quanto a falta dela. Evidentemente todos estes aspectos pressupõem recursos
financeiros, imprescindíveis à aplicação da legislação. A experiência histórica
mostra que todos os países que contaram com os recursos necessários para a
viabilização das suas leis arquivísticas contaram, a médio e longo prazo, com
3
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8159.htm. Acesso em: 05 nov. 2012
4
Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L12527.htm.Acesso em: 05 nov. 2012
41
Desde a sua divulgação, ainda como anteprojeto, a LAI tem sido identificada
na mídia e em eventos acadêmicos como “Lei de Acesso à Informação
Pública”. Toda informação produzida ou acumulada pelo Governo no
decorrer da administração do Estado é de natureza pública, embora não seja
eventualmente de acesso irrestrito, por força de restrições legais. Assim, nem
toda informação considerada “pública” é produzida pelo Governo: um
relatório de uma empresa privada sobre tendências do mercado financeiro
pode ser publicizado, embora seja um documento de natureza privada.
(JARDIM, 2012, p.5)
Desse modo, é também objeto de investigação deste trabalho os riscos e possíveis
impactos decorrentes da inobservância às Leis mencionadas, propondo medidas preventivas a
fim de evitar danos ao Sistema FIRJAN.
A gestão documental atualmente praticada no Sistema FIRJAN, por não considerar o
valor histórico dos documentos, por não atuar sobre toda a documentação gerada no âmbito da
organização, por não manter diálogo com diversas áreas e, sobretudo, por preocupar-se
somente com a questão da prova documental frente às possíveis demandas de auditorias e
pontuais causas jurídicas, quer por questões financeiras, trabalhistas ou licitatórias, impõe
restrições de acesso a pesquisadores interessados na história da organização, tendo em vista a
ausência de tratamento arquivístico adequado.
O acúmulo documental representa outro fator preocupante, decorrente da gestão
5
Disponível em: http://revistaculturacidadania.blogspot.com.br/2012/10/xiii‐enancib.html. Acesso em : 06 nov. 2012.
42
haveria memória transportada pela história. Ainda de acordo com Nora (1993), a construção
de lugares de memória é uma tentativa de dar sentido de continuidade onde só há ruptura.
Distingue dois tipos de memória: “tradicional” e “imediata”, e uma memória que sofre
transformações ao passar à “história”. À medida em que desaparece a memória tradicional, nós
nos sentimos obrigados a acumular religiosamente vestígios, testemunhos, documentos, imagens,
discursos, sinais visíveis do que foi.
Nora analisa os lugares de memória como uma construção do que já não se tem. Esses
lugares, de acordo com o autor, serão lugares da história, decorrentes da falta da intenção de
memória.
Através dos primeiros estudos realizados acerca do conceito de memória, foi possível
perceber que se subdivide em três termos quando relacionado às empresas privadas:
institucional; organizacional e corporativa. Neste trabalho será utilizado, por opção, o termo
Memória Institucional.
Foram encontradas poucas definições específicas para Memória Institucional.
Invariavelmente, seu significado aparece associado ao termo Memória Organizacional ou
ainda Memória Empresarial.
O poder emocional a que Kotler se refere pode ser obtido através da memória que, no
caso do Sistema FIRJAN, está diretamente relacionado à prática da Responsabilidade Social.
Expor seus produtos, aqui serviços, através de uma política de divulgação relacionada à
identidade da organização, visualizada a partir do estabelecimento de um espaço de memória
que permita a reunião e a organização dos elementos formadores da sua história, ou seja, dar
visibilidade à organização através de mecanismos de divulgação da sua trajetória.
Chiavenato (2010) não utiliza o termo instituição, entretanto, enfatiza que toda
organização para se manter necessita de uma “espinha dorsal capaz de sustentar o todo
organizacional”, uma espécie de estrutura oficial com maior força de decisão usada para
legitimar os procedimentos propostos para o estabelecimento da estratégia organizacional
utilizada em dado momento dentro da empresa. Essa estrutura oficial com maior poder e os
significados encontrados nos dicionários para o termo instituição permitem construir um
conceito de organismo com função específica, criado em decorrência de necessidades sociais
básicas, identificável por seus códigos de conduta e estabelecido por meio de leis e estatutos,
aproximando-se de Costa (1997):
[...] são as relações de força que determinam o plano institucional e este, por
sua vez, define a organização. A instituição se atualiza numa organização. A
burocracia, por exemplo, é uma organização que se pensa instituição. Na
49
Rousso, se baseando em dois tipos básicos de fontes, escritas e orais, afirma que são
produtos de uma intervenção intelectual do historiador e estão carregadas das marcas de seus
produtores e do contexto em que foram produzidas.
De acordo com Le Goff (1990), o que permanece é o resultado das escolhas. Escolha
do que deve ser preservado e escolha do pesquisador quanto ao que deve ser considerado
testemunho do passado.
51
que o representam.
Uma das categorias de elementos constitutivos da memória é a dos lugares. Pollak
(1989) afirma a existência dos lugares que nos remetem às lembranças, lugares de memória,
ideia corroborada por Nora (1993), que elenca alguns lugares criados para salvaguardar a
memória: bibliotecas, museus e arquivos, funcionam como lugares institucionalizados de
memória, tendo em vista que são, segundo o autor, “marcos testemunhais de uma outra
era, das ilusões de eternidade (grifo nosso).
De acordo com Nora (1993), as transformações do mundo moderno afetam também
nossa capacidade de perpetuar memórias, de barrar a ameaça do esquecimento e, dessa forma,
explica os lugares da memória, cuja atribuição é a preservação dos testemunhos. Dentre os
lugares de memória estão os arquivos.
Le Goff considera os arquivos, as bibliotecas e os museus lugares de memória e faz
uma abordagem acerca do documento monumento, criado sob a intenção de impor, no futuro,
a imagem de quem o criou.
Retomando a montagem da memória [...] não custa reiterar que sua espinha
dorsal é o arquivo. Não é preciso referenciar todos os seus documentos de
valor permanente, podendo, de outra parte, constar os que não são de valor
permanente, mas que possam fornecer dados significativos. (BELLOTTO,
2004, p.277)
54
afirmar que a memória é definida através de escolhas tendo em vista que as circunstâncias é
que definem o que deve ser lembrado e o que deve ser esquecido.
As ações isoladamente não configuram a memória social, tendo em vista a seleção
dos fatos que deverão compor o passado. Os fatos poderão estar ligados se considerada a
relação orgânica dos documentos. Isoladamente o documento não é objeto da Arquivologia
tendo em vista que a organicidade é seu principal objeto.
Le Goff (1990) entende o documento como elemento de memória que pertence à
categoria de documento/monumento. Na sua concepção, independente da revolução
documental deste século, documento não é qualquer coisa que fica por conta do passado, mas
um produto da sociedade que o fabricou segundo as relações de forças que aí detinham poder.
Nas palavras de Le Goff estes materiais da memória podem apresentar-se sob duas formas
principais: monumentos, herança do passado, e os ‘documentos’, escolha do historiador. LE
GOFF (1990).
Ocampo (1991) sugere que o conceito de documento não implica necessariamente
em qualquer tipo de registro, pois o que importa é a dinâmica da ação cultural. Conceitua
documento como tudo aquilo a que se atribui determinados significados. Por outro lado, ao
concordar com Le Goff (1990) afirma que os conteúdos de memória se objetivam através dos
documentos.
O documento arquivístico permite ao pesquisador a investigação dos fatos. A
memória adquire forma, assim, a partir da interpretação do pesquisador. Nas organizações,
sobretudo, a burocracia está centrada no documento, considerando que a prova é obtida
através das informações nele registradas, pautadas nas autenticidade e veracidade. Desse
modo, contemplamos os arquivos como o melhor recurso na busca pela compreensão do
passado ainda que esta seja resultante de uma escolha entre o que deve ser lembrado e o que
deve ser esquecido.
É importante considerar os arquivos, também, como referência de contextualização
da trajetória da fonte produtora, contudo, a subjetividade que permeia a interpretação dos
fatos narrados nos documentos é que lhe atribuirá maior ou menor importância, seja essa
interpretação intencional ou não.
56
Petrobrás, espaço memória Itaú Unibanco, centro de memória Bosch, memória Votorantim,
memória Globo, centro de memória Bunge, Grifo e Tempo e Memória.
As atividades desenvolvidas pela Rede incluem intercâmbio para o desenvolvimento
de estratégias e atividades com vistas à sensibilização para o reconhecimento das
organizações sobre a importância da preservação da memória.6
Os representantes dos centros de memória empresarial que integram a Rede,
promovem encontros para o desenvolvimento de estratégias e atividades com o objetivo de
buscar maior reconhecimento e sensibilização das corporações para a importância do assunto.
Essa rede é, por assim dizer, a vanguarda do segmento da memória empresarial no Brasil.
Dentre as empresas que integram a Rede de Centros de Memória e outras que
também possuem Centro de Memória, mas não fazem parte da Rede, destacamos algumas a
fim de analisar a criação de seus centros, objetivos e acervos.
O Centro de Memória Robert Bosch foi criado em 2003, como resultado da política
de responsabilidade social da empresa com foco na área cultural. É responsável pelo
tratamento e pela guarda de documentos históricos, incluindo o gerenciamento, a organização,
preservação e a disponibilização dos elementos e informações que expressam a evolução
histórica da empresa, de suas marcas e do setor em que atua, desde sua origem até os dias
atuais. Desde sua implantação em 2003 foi coordenado pela área de Relações Corporativas. A
partir de maio de 2004, passou a ser vinculado ao Instituto Robert Bosch. Oferece serviços
relacionados a pesquisas temáticas, incluindo reprodução de documentos a partir de diversos
suportes.
O Centro também informa aos pesquisadores o conteúdo do acervo, uso dos
instrumentos de pesquisa e equipamentos disponíveis. Reúne informações sobre o perfil do
usuário, as temáticas pesquisadas por eles e mantém indicadores sobre as solicitações dos
pesquisadores.
Através da definição de documento histórico (grifo nosso), o Centro de Memória
Bosch estabelece os documentos que interessam à memória da instituição. Entendem que são
6
Disponível em: http://www.fundacaobunge.org.br/fundacao-bunge. Acesso em: 16 abr 2014
59
documentos que devem ser preservados em razão das informações que normalmente contêm,
decorrentes das ações administrativas. Abaixo, a definição verificada no site da instituição7:
7
Disponível em: http://centrodememoria.institutorobertbosch.org.br/cm/Index.asp. Acesso em: 12 jul 2014
60
Bunge Brasil
A Bunge Brasil pertence à holding Bunge Limited, fundada em 1818, com sede em
White Plains, Nova York, EUA. É uma das principais empresas de agronegócio e alimentos do
Brasil. Possui cerca de 20.000 colaboradores, é líder em originação de grãos e processamento
de soja e trigo, fabricação de produtos alimentícios e serviços portuários. Desde 2006, atua
também no segmento de açúcar e bioenergia.
Com o objetivo de reunir, tratar, e disponibilizar documentos e objetos que
representam a memória institucional da Bunge Brasil, em 1994 foi criado em São Paulo o
centro de memória8 cujo acervo reúne documentos textuais, cartográficos, tridimensionais,
iconográficos e outros. Composto por mais de trezentas mil imagens, incluindo fotografias em
papel, diapositivos de vidro, cromos, gravuras, pinturas e mapas, cerca de mil e trezentas
caixas de documentos textuais, três mil filmes, mais de mil e duzentas peças que documentam
a evolução dos costumes, técnicas e processos industriais, design, marketing e propaganda.
Além de se tratar de um dos pioneiros na área, o Centro de Memória Bunge contém
um dos mais ricos acervos de memória empresarial do país, contando a história da indústria e
do agronegócio brasileiros a partir da trajetória da própria empresa. O centro já atendeu a
mais de 300 mil pessoas em 20 anos de existência.
Objetivos principais:
8
Disponível em: http://www.fundacaobunge.org.br/fundacao-bunge. Acesso em: 21 abr 2014
61
9
Disponível em: http://www.memoriadaeletricidade.com.br. Acesso em: 22 abr 2014
62
10
Dentre os diversos parceiros do centro de memória constam as seguintes instituições:
Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL; Arquivo Nacional - AN; Centrais Elétricas Brasileiras S.A. - ELETROBRASCentrais
Elétricas do Espírito Santo S.A. - ESCELSA; Centrais Elétricas do Norte do Brasil S.A. - ELETROBRAS ELETRONORTECentrais
Elétricas do Pará S.A. - CELPA; Eletrosul Centrais Elétricas S.A.; Centrais Elétricas Matogrossenses S.A. - CEMATCentro de
Pesquisas de Energia Elétrica - ELETROBRAS CEPEL; Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia - COELBACompanhia de
Eletricidade do Estado do Rio de Janeiro - CERJ; Companhia de Geração Térmica de Energia Elétrica - ELETROBRAS CGTEE;
Companhia Energética de Brasília - CEB;Companhia Energética de Goiás - CELG;Companhia Energética de Minas Gerais - CEMIG;
Companhia Energética de Pernambuco - CELPE; Companhia Energética de Roraima - CER; Companhia Energética do Ceará -
COELCE; Companhia Energética do Maranhão - CEMAR; Companhia Energética do Piauí - ELETROBRAS Distribuição Piauí;
Companhia Estadual de Energia Elétrica - CEEE; Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - ELETROBRAS CHESF; Companhia
Paranaense de Energia - COPEL; Companhia Paulista de Energia Elétrica – CPEE; Companhia Paulista de Força e Luz – CPFL;
Confederação Nacional da Indústria - CNI; Conselho Mundial de Energia - Comitê Brasileiro - CB-CME; Departamento Municipal de
Eletricidade de Poços de Caldas - DME-PC; Empresa Energética de Sergipe S.A. - ENERGIPE Escola Federal de Engenharia de
Itajubá - EFEI; Fundação Eletros de Seguridade Social - ELETROS;Fundação Getúlio Vargas - FGV/CPDOC; ELETROBRAS
FURNAS - Centrais Elétricas S.A.; ITAIPU Binacional; ; Operador Nacional do Setor Elétrico - ONS; Programa Nacional de
Conservação de Energia Elétrica - PROCEL/ELETROBRAS; Sindicato da Indústria de Energia no Estado de São Paulo
63
Nestlé Brasil
A Nestlé mantém seu centro de memória desde 1992, com a principal finalidade de
apoiar a gestão interna. É utilizado como ferramenta de gestão estratégica de negócios,
sobretudo no apoio ao departamento jurídico, nas questões relacionadas à propriedade de
produtos e no fortalecimento das diversas marcas da empresa através do marketing. Produtos
são lançados no mercado com reprodução de rótulos, a fim de reforçar a solidez da marca e,
paralelamente estabelecer vínculos emocionais com a sociedade. A área de recursos humanos
recorre ao centro de memória para integração de seus colaboradores, através da apresentação
da trajetória da empresa.
O Centro de Memória da Nestlé, por manter em seu acervo elementos relacionados à
memória da alimentação no Brasil, serve como referência a projetos de diversas empresas
vinculadas à alimentação e é administrado por um escritório terceirizado especializado em
história, que está subordinado administrativamente à área de comunicação da empresa.
organização possui diversos públicos e sendo assim, diversas formas de ser vista. Aquilo que
os administradores entendem sobre o passado da organização tende a ser diferente daquilo que
seus funcionários veem e do que a comunidade percebe. Nesse sentido, a reputação através da
memória tem um amplo campo de atuação. Uma estratégia eficiente de comunicação deve
considerar os objetivos pretendidos, a escolha dos elementos que deverão ser utilizados e a
realização de diagnósticos da imgem da organização.
Na busca da definição do conceito Vantagem Competitiva, que relacionado ao
conceito de Memória Institucional embasa a justificativa desta proposta, foi verificado o
pensamento de Michel Porter (1992). O autor assim define o termo:
avaliação é importante mapear as atividades exercidas pela organização, visto que todas
tendem a contribuir para a posição de custos ou geração de valor da empresa. Essa observação
inclui os arquivos e todos os elementos que constituem a memória institucional, tendo em
vista que desenvolvem processos operacionais específicos e mantêm relação estreita com os
demais processos.
A partir de Porter (1992) entendemos que o conceito vantagem competitiva é
complexo e implica na adoção de uma estratégia competitiva que pode resultar em um
diferencial no mercado. Nesse sentido, é importante sugerir a criação do centro de Memória
do Sistema FIRJAN como uma estratégia, buscando alinhamento aos projetos que irão
integrar o novo planejamento estratégico.
Outro enfoque acerca do conceito vantagem competitiva é proposta a partir da visão
da empresa baseada em recursos. Essa abordagem procura ampliar e refinar o quadro de
referência dos tomadores de decisão. Considera toda cultura organizacional, sistemas
administrativos e recursos humanos. É a partir desse portfolio que a empresa pode criar
vantagens competitivas. A definição das estratégias competitivas deve partir de uma perfeita
compreensão das possibilidades estratégicas passíveis de serem operacionalizadas e
sustentadas por tais recursos.
Porter analisa as questões estratégicas relacionadas à competitividade e destaca a
diferenciação como fator crítico à vantagem competitiva.
Michel Porter explica a vantagem competitiva à luz da diferenciação:
da Responsabilidade Social.
Considerando que a instituição promove ações sociais e pouco, ou raramente, utiliza
essas atividades como estratégia competitiva, julgamos oportuno atrair a atenção da sociedade
para a atuação do Sistema FIRJAN tanto no apoio à classe industrial, razão pela qual foi
criado, quanto às atuações junto às comunidades, através da promoção de trabalhos sociais.
Uma coisa é certa: tudo aquilo que esteve durante séculos protegido pelo
manto da legitimidade, em forma de segredo, censura ou exclusão, hoje está
sofrendo fortes pressões para abertura e entrada de luz. Para melhor ou para
pior, o muro que há centenas de anos separava o público do privado está com
os dias contados. Entendemos que este acontecimento é um indício de
mudança social. São as instituições que, em última análise, definem o que é
público e o que é privado. (THIESEN, 1997, p.146)
FIRJAN na sociedade. A nenhum desses atores será possível o acesso à informação desejada,
sem a colaboração de outras áreas do contexto organizacional do Sistema FIRJAN: o arquivo
permanente, cuja criação este projeto propõe e estabelece relação direta com o centro de
memória; a área de cultura, que auxiliará na idealização dos projetos culturais; a área de
marketing, responsável pela divulgação e a área de educação. Esta última poderá incluir em
seu planejamento educacional, visitas ao centro de memória a fim de instruir os educandos
acerca das interferências do Sistema FIRJAN no processo de industrialização do estado do
Rio de Janeiro e sua atuação no campo da Responsabilidade Social. O centro de memória será
um espaço de colaboração e conciliação entre as áreas, visando à preservação da memória
institucional. Essa cooperação se dará após a identificação dos elementos de valor histórico
mantidos pelas diversas áreas.
Através de uma pesquisa de campo pretendemos identificar as principais atividades
das entidades formadoras do Sistema FIRJAN ao longo da sua trajetória, investigando os
relatórios de atividades, a documentação normativa e outras fontes de pesquisa, tais como
livros e periódicos.
A biblioteca do Sistema FIRJAN, detentora dos relatórios de atividades das entidades
formadoras da organização, mantém também o acervo fotográfico que se encontra
indisponível em razão de não estar organizado. Esse acervo também será contemplado neste
trabalho, visando à composição do espaço de memória do Sistema FIRJAN, objeto deste
trabalho.
Pretendemos realizar um trabalho de conscientização sobre a importância da reunião
de acervos e objetos que representem a trajetória da organização, tentando evitar ou
minimizar os riscos de possíveis disputas relacionadas à posse dos documentos, conforme a
abordagem do Goulart:
ideias inovadoras. Servirá para atrair a atenção da sociedade com o Sistema FIRJAN,
provocando a identificação desta com as ações sociais do passado, do presente e do futuro,
promovidas pela organização e paralelamente, prevenir a organização acerca de demandas
advindas da Lei 12.527/2011.
A dualidade entre a memória privada e a memória coletiva representa um desafio a
ser enfrentado. A escolha entre o que pode e deve se tornar público e o que deve permanecer
como propriedade privada, tende a ser objeto de grandes e subjetivas discussões,
considerando o perfil conservador por parte de alguns atores dotados desse poder de escolha.
Atualmente o Sistema FIRJAN tem como um de seus objetivos estratégicos a
valorização da marca das entidades que o integram, sobretudo através da divulgação de seus
projetos sociais. As campanhas de marketing enfatizam a Responsabilidade Social da
organização, o que evidencia a busca por um vínculo emocional junto à sociedade, mas passa
ao largo da sua trajetória, mencionando somente os projetos sociais atuais.
A primeira ação para a materialização do centro de memória será a sua formalização
através de instrumentos normativos aprovados pela autoridade competente. Após, será preciso
efetivamente estabelecê-lo. Sua estrutura organizacional deverá basear-se nos objetivos
definidos, nos recursos disponíveis e na função que lhe for atribuída.
Criar um Centro de Memória envolve a tomada de uma série de decisões acerca da
sua estrutura e atuação no ambiente organizacional. Por essa razão, deve-se elaborar um
conjunto de diretrizes baseado no plano estratégico da organização. Tais diretrizes irão
evidenciar os objetivos e as atividades a serem desempenhadas pelo Centro de Memória, a fim
de direcionar a implantação e a composição do acervo de modo a garantir seu funcionamento
e ampliar sua colaboração no desenvolvimento de produtos e serviços. A composição do
acervo deverá basear-se em uma política específica, formalizada por um documento que
defina os elementos que deverão integrar o Centro de Memória e normatize as ações após o
recolhimento. Quanto à missão e à visão do Centro de Memória do Sistema FIRJAN deverão,
necessariamente, estar vinculadas aos valores da organização.
Missão
Visão
5.2.2 Definição da política de acervos que permita identificar elementos que compõem o
patrimônio cultural, material ou imaterial da organização, com a finalidade de fortalecer seus
valores. Será realizada uma pesquisa sobre a produção documental, com o propósito de
identificar os documentos dotados de valor histórico para a organização. Essa identificação
estará ancorada em três indagações:
- Que documentos podem ser recolhidos ao Centro de Memória sem que isso
represente um problema administrativo para a área que o produz?
5.2.6 Definição do software para o banco de dados e de site específico para o CMSF
- Definição da estrutura ideal de banco de dados e do site. Este último deverá contemplar a
ferramenta de pesquisa
Informações gerais Informações sobre as áreas Informações sobre cada Informações sobre as
sobre as entidades de cada entidade do Sistema conjunto de documentos unidades documentais
produtoras do FIRJAN. Esse nível abrange produzidos e/ou acumulados tratadas individualmente,
Sistema FIRJAN. informações gerais sobre a pelas áreas da instituição (os de acordo com as
atuação de cada área, suas grupos) no cumprimento de características técnicas
atribuições e os documentos suas atividades. específicas. Serão
contemplados. elaborados catálogos
individuais para
documentos
audiovisuais,
fotográficos, sonoros,
textuais, livros e objetos
tridimensionais.
Código: cada documento deve receber um código de cadastro, que servirá como referência de
sua localização no acervo e deverá ser inscrito fisicamente no documento.
Título e conteúdos: devem informar o título indicado no documento e dados básicos sobre o
seu conteúdo. Podem ser elaborados para um documento individual ou para um pequeno
conjunto, como um dossiê.
Autoria: deve indicar o nome do(s) autor(es) do documento. Pode ser uma empresa/entidade
ou uma pessoa.
Datas cronológicas: devem ser indicadas as datas existentes no documento. Se não houver
83
- Prospecção de mercado, com ênfase no perfil do usuário que se quer atrair ao Centro
de Memória;
- Ampla divulgação dos acervos internamente e externamente, nas redes sociais e outros
meios de comunicação;
85
- Exposições temáticas;
- Publicações;
- Visitas guiadas.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
BORDIEU, Pierre. O poder simbólico. 2ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
___________. Archival Science and Postmodernism: new formulations for old concepts.
Archival Science, v. 1, n., 3-24, mar, 1987.
DELMAS, B. Arquivos para quê?: textos escolhidos. São Paulo: Instituto Fernando
Henrique Cardoso, 2010.
DICIONÁRIO brasileiro de terminologia arquivística. Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,
2005.Disponívelem:http://www.arquivonacional.gov.br/Media/Dicion%20Term%20Arquiv.p
df. Acesso em: 9 set. 2014
GAGETE, Èlida; TOTINI, Beth. Memória empresarial, uma análise da sua evolução. In:
MEMÓRIA de empresa: História e comunicação de mãos dadas, a construir o futuro das
organizações. São Paulo: Aberje, 2004.
GOHN, Maria da Glória. História dos movimentos e lutas sociais: a construção da cidadania
dos brasileiros. São Paulo: Loyola, 1995.
GOMES, Nélida Gonçalves de. Além do estado e do mercado; a busca de novos parâmetros
de institucionalização da informação. Revista do Servidor público, v.19, n.3. Brasília:
ENAP, 1994.
_________________________. Regime de informação: construção de um conceito. Inf. &
Soc. V.22, n.3, p.43-60, set/dez. João Pessoa, 2012.
GOULART, Silvana. Patrimônio, documento e história. São Paulo: Associação dos
arquivistas de São Paulo, 2002. 38p.
HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Vértice, 1990.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História,
São Paulo, dez. 1993.
OCAMPO, Liana T. R. Curso de Mestrado em Administração de Centros Culturais : esquema
conceitual. Apontamentos Memória & Cultura, Rio de Janeiro, v. 2, n.1, p. 1-8, 1991.
PAES, Marilena Leite. Arquivo, teoria e prática. Rio de Janeiro: FGV, 2002.
POLLAK, M. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos históricos, Rio de Janeiro, v.2, n.3,
p.3-15, 1989.
PORTER, M. Competição=On competition: estratégias competitivas essenciais. Rio de
Janeiro: Campus, 1999.
ROUSSO, Henry. O arquivo ou indício de uma falta. Revista Estudos Históricos, Rio de
Janeiro, n.17, p.1-7, 1996.
SILVA, Armando Malheiro da; RIBEIRO, Fernanda; RAMOS, Júlio; REAL, Manuel Luís.
Arquivística – Teoria e prática de uma ciência da informação. Porto: Afrontamento, 2002.
SOUZA, Celina. Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano
nº 16, jul/dez 2006, p. 20-45. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/soc/n16/a03n16.pdf>
- Acesso em: 17 dez 2012.