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24º Domingo do tempo comum, 13 de setembro de 2015

Caríssimos irmãos, reverendíssimo Padre...


Na primeira leitura, nos é apresentada uma parte da profecia de Isaías, o terceiro cântico do servo
sofredor, um dos textos que mais tarde seria usado pelos santos padres como apontamento para a
figura do Cristo que sofreu e padeceu por ter seguido o plano de Deus para a salvação do mundo.
Assim como o servo sofredor de Isaías, nosso Senhor Jesus Cristo sofreu a vergonha pública, o escárnio
dos que o observavam no caminho do calvário, sendo também estapeado e até cuspido. Mesmo diante
de tanta humilhação, este servo demonstra sua confiança inabalável no Deus que o salvaria e o
defenderia. Este trecho do terceiro cântico nos dá três características deste servo que nós tomamos
como sendo a prefiguração do próprio Cristo:
1) Era submisso e aberto à ação de Deus. Isto é expresso no verso: o senhor abriu-me os ouvidos.
2) Era obediente: Cristo, o Cordeiro manso e obediente seguiu o projeto salvífico de seu Pai até as
últimas consequências. Esta característica é expressa no trecho: e eu não fui rebelde (B.J) / e eu
não lhe resisti (B.CNBB).
3) Era corajoso: (e não recuei) Jesus já anteviu o resultado de sua pregação sobre as multidões que
mais tarde o abandonaria, e sobre os principais dos sacerdotes judeus que se torariam cada vez
mais duros de coração e seriam um dos instrumentos da morte de Cristo. Mesmo diante de tal
vislumbre do futuro que o aguardava, Cristo, corajosamente, seguiu até o fim, na intenção de
cumprir a vontade do Pai: Não seja como eu quero, mas como tu o queres (Mt, 26, 39c).
Como seguidores e imitadores de Cristo, somos também convidados a assumir este exemplo do
servo, enfrentando pacificamente todos escárnios advindos do testemunho de nossa fé católica, na
certeza de que Deus está sempre no controle da história e dará a justa retribuição a todos. O Papa
Emérito Bento XVI em um discurso ao clero de Roma disse: Hoje em dia, o Cristão deve estar
preparado, não para o martírio do corpo, mas para o martírio da ridicularização social. Estamos nós
preparados para seguir o exemplo de servo sofredor, que se torna presença de Deus na vida outro,
tendo “língua de discípulo, ...para trazer ao cansado uma palavra de conforto” (Is 50,4)? Ou melhor,
será que estamos sendo fiéis seguidores deste exemplo de Cristo como seminaristas, sendo
submissos a vontade de Deus no nosso discernimento pessoal, não sendo rebeldes a voz de Deus e
da Igreja, presente na voz de nossos párocos e formadores, e tendo coragem diante das dificuldades
que surgirem por causa daquilo que a Igreja nos pede? Que o Cristo, servo fiel do Senhor nos ajude
em nossa caminhada.
Lembremos também dos irmãos que que estão vivendo a experiência do servo sofredor em sua
carne, sua vida e em suas famílias, por causa de sua fé em Cristo, chegando a serem mortos, mas
não recuando, nem apostatando de sua fé, e rezemos para que o Cristo possa lhes dar a paz social
que necessitam.
A segunda leitura vem nos advertir sobre o perigo de nossa fé ficar apenas no campo das palavras
vazias e nos aponta para a necessidade da prática das boas obras no anuncio da palavra de Deus. O
Apóstolo Tiago é até irônico ao final do texto (mostre-me a tua fé sem obras, e eu mostrarei a minha
fé pelas minhas obras. De que será útil nossas simples palavras vazias àqueles que necessitam não
só do pão que sacia o estomago, mas do pão que sacia a alma e motiva a pessoa em si em um
seguimento de Cristo mais profundo, e que, por causa de nossa omissão ou por causa de nossas más
obras, se abstém dele, e se afastam do verdadeiro redil das ovelhas? Será que não estamos no caso
do discípulo que vai ao encontro dos pecadores e fala palavras belas, mas não fornece a eles aquilo
que necessitam, que, em nossos dias, muitas vezes está contido em nosso testemunho? Será que
nossa vida é a bela viola, que transmite a bela canção do amor de Deus aos ouvidos cansados da
gritaria do pecado, ou é um pão bolorento que só causa náuseas a quem se aproxima, não matando
sua fome de motivação, mas afastando-a mais e mais do verdadeiro redil? Se nossa vida não
transmite, através do exemplo, aquilo que professamos com a boca, logo a nossa profissão de fé,
expressão daquilo que devemos viver e testemunhar diante dos homens, se torna morta em nós
mesmos. Ela nunca stá morta dentro da Igreja, pois o Espírito Santo cuida para que ela a testemunhe
diante de todos, com palavras e obras dignas, de modo que, qualquer um que a ela acorra,
encontrará o pão que sacia a alma e o fogo do amor acolhedor. Porém, dentro de nós, a nossa fé
católica, que professamos todo o domingo se torna inútil, morta. Fiquemos, pois, atentos ao nosso
testemunho da santa fé católica diante dos homens.
O Santo Evangelho nos apresenta o episódio em que Pedro, por Revelação de Deus, professa a
natureza transcendente do Cristo, e é feito, pelo Espírito Santo, instrumento do Criador para a
clarificação das mentes dos discípulos que, até o momento, presumivelmente não tinham um
conhecimento claro da verdadeira natureza de Cristo, mesmo que soubessem que Ele pertencia a
uma realidade fora dos limites meramente humanos. Também nós, que recebemos a revelação da
pessoa de Jesus Cristo, por Deus, através da Igreja, somos chamados a ser instrumentos de Deus no
anuncio do mistério de Jesus Cristo a todos aqueles que ainda não o conhecem, ou que o conhecem
de uma forma distorcida e diferente daquela que aponta para o filho de Deus, cordeiro imaculado
que tira o pecado do mundo.
Porém, mesmo Pedro, que foi este instrumento da revelação de Deus, pouco depois se torna
instrumento do demônio ao tentar impedir o Cristo de avançar rumo ao madeiro. Não que ele
estivesse possesso, mas com certeza a voz sedutora que tentou nossos primeiros pais se aproveitou
do medo de Pedro para com o destino de seu mestre, de forma que, por isso, ele se torna pedra de
tropeço, escândalo para Cristo. Por diversas vezes o maligno se aproveita de nossas preocupações e
medos para tornar-nos pedregulhos inúteis e sem utilidade, que só servem para fazer os outros
tropeçarem e se escandalizarem. Temos sido motivos de escândalo? Façamos um exame de
consciência, procurando descobrir se estamos sendo tropeços na vida de nossos irmãos. Que cada
vez mais possamos acolher este chamado de Cristo, que nos é transmitido pela Santa Igreja, para a
missão de desvelar a figura de Cristo, “que a quase dois mil anos está de braços abertos nos
acolhendo e esperando nossa conversão” (São João XXIII), a todos aqueles que ainda não o
conhecem sua natureza divina, que é amor e misericórdia, que busca salvar todos (inclusive aqueles
que infelizmente o rejeitam). Por fim sejamos a luz reveladora do Espírito Santo num mundo tão
confuso e escuro.
À luz da proposta do mês da bíblia, acolhamos em nossa vida o Cristo sofredor, que nos é
demonstrado na palavra de Deus e que com coragem segue o plano de Deus até o fim. Que ele nos
ajude a termos sua coragem de nunca parar de caminhar rumo ao cumprimento dos desejos do
Senhor, sempre indo ao encontro de nossos irmãos com o pão da motivação, sendo para todos
auxilio e instrumento da revelação de Deus, e não tropeços e escândalos para os mais simples. E que
confiantes possamos anunciar ao mundo “Eu amo o Senhor, porque ouve...minha oração”.

Louvado seja nosso Senhor Jesus Cristo. Israel Souza Silva

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