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VEGANISMO: UMA CONTRACULTURA OU UM PROBLEMA ÉTICO NA


SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA?

Ana Carolina Bueno de Melo;


Lucas Henrique da Silva; Vitor
Mota Martins 1
Agnes Pedrosa Bucci 2

RESUMO: É frequente alegar que o veganismo caracteriza-se como uma


contracultura, visto que este modo de vida vai em oposição à ideologia de consumo
vigente. Este trabalho provará- através de estudiosos como Theodor W. Adorno, Max
Horkheimer e Karl Marx- que esta afirmação deve ser repensada, já que o veganismo
apresenta incontáveis benefícios. Não obstante, o sujeito pós-moderno insiste na
permanência do sistema ordinário, porquanto o indivíduo é influenciado pela grande
mídia a comprar o “normal”, além de não ter a vontade de mudar para algo melhor.

PALAVRAS-CHAVE: veganismo; contracultura; alienação, indústria cultural.

ABSTRACT: It is often affirmed that veganism is characterized as a counterculture,


since this way of life goes in opposition to the prevailing consume ideology. This work
will prove- through intellectuals such as Theodor W. Adorno, Max Horkheimer and Karl
Marx- that this statement must be rethought, since veganism has countless benefits.
Nevertheless, the postmodern subject insists on the permanence of the ordinary
system, because the individual is influenced by the great media to buy the "normal",
and it does not have the will to change for something better, after all.

KEY WORDS: veganism; counterculture; alienation; cultural industry.

"[...] o espirito humano só frutifica em banalidade e


esqualidez."
(GALVÃO, N. W. As musas sob assédio:
literatura e indústria cultural no Brasil, 2005).

É natural pressupor que o vegetarianismo é uma dieta que surgiu há pouco


tempo, uma vez que foi um tema comum na mídia das últimas décadas, sendo
considerado modismo. Entretanto, esse costume já existe há milênios e foi praticado
por diversos intelectuais e estudiosos importantes na formação da sociedade
Ocidental, como Pitágoras. Tal estilo de vida ramificou-se originando o veganismo, o
qual é o modo mais extremista do lifestyle.

1 Ana Carolina Bueno de Melo, Lucas Henrique da Silva, Vitor Mota Martins, estudantes do 3º ano do
Ensino Médio do Colégio “O Bosque”, Santo André/SP.
2 Agnes Pedrosa Bucci, professora Graduada em Letras-Inglês pelo Centro Universitário Fundação

Santo André (FSA); orientadora.


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Pitágoras foi considerado o pai do vegetarianismo e um dos principais defensores


do mesmo na Grécia e Roma Antigas, ele argumentava que os animais e os seres
humanos compartilhavam a mesma alma. O filósofo possuía esse fundamento baseado
em uma alimentação sem carne, apresentando três pontas: veneração religiosa, saúde
física e responsabilidade ecológica. (SOUZA et al., 2010, p.4).
O veganismo é a ramificação mais radical do modus vivendi supracitado, uma
vez que não se fundamenta apenas em evitar o consumo de carnes, ovos e laticínios.
Essa dieta é apropriada para todos os ciclos da vida humana (American Dietetic
Association, 2003), os indivíduos que a seguem abstêm-se de cosméticos e fármacos,
os quais são testados em animais; artigos que tenham matéria-prima extraída de
seres vivos, como o couro; e formas de entretenimento que usem o trabalho animal,
como rodeios, pescarias e corridas de cavalos.
Tal ideologia é vista como uma contracultura, porquanto averiguada como
algo que se opõe aos costumes triviais da sociedade contemporânea, dita como pós-
moderna. Os valores contraculturais originaram-se no final dos anos 1950, todavia seu
estopim sobrechegou durante o decênio de 1960, principalmente, nos Estados Unidos
da América (Araújo e Monastérios, 2011). Este movimento tinha como finalidade
contrariar o modus operandi racional e bitolante, o qual era comum no corpo social
ocidental contemporâneo. (SANTOS, 2005).
Não obstante, já que o veganismo ostenta diversas melhorias (tanto no âmbito
socioeconômico, como na saúde e no meio ambiente), não deveria ser adotado como
uma contracultura, e sim como uma cultura padrão, a qual é tudo o que é socialmente
aprendido e partilhado pelos membros de uma sociedade, ou seja, um sistema
integrado de comportamentos, tendo como base hábitos, ideias, normas e valores.
(DIMENSTEIN; RODRIGUES & GIANSANTI).
O sujeito pós-moderno adquire, como cultura, hábitos que sejam mais
práticos, visto que é bombardeado, diariamente, pelo merchandising das grandes
corporações, como, por exemplo, o Mc Donald’s, o qual faz grande uso da mídia para
propagar o consumo de alimentos industrializados. Assim, o indivíduo torna-se
alienado, pois, mesmo usufruindo do livre arbítrio, permanece estático em relação ao
consumo supérfluo de produtos oriundos da indústria cultural, termo criado pelos
frankfurtianos Theodor W. Adorno e Max Horkheimer.
Destarte, através de uma análise do conceito de “indústria cultural”, do modo
como o ser humano é influenciado, o que as empresas escondem do indivíduo e como
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sua libertação pode afortuná-lo, perceber-se-á o quão proveitoso pode ser uma
sociedade que toma o veganismo como padrão.

Cultura regida pelo capital

Hodiernamente, vivemos em um mundo no qual as grandes corporações


visam lucrar a qualquer custo, utilizando a publicidade como o meio de propagar seus
produtos, padrões e ideologias. Isso faz com que a população se torne alienada e
consuma com frequência e sem necessidade. Deste modo, a mesma fica incapaz de
sair desse ciclo vicioso. Este fato pode ser aplicado ao conceito de “indústria cultural”,
consoante a Adorno.

O traço característico desta época é que nenhum ser humano, sem


exceção, é capaz de determinar sua vida num sentido até certo ponto
transparente, tal como se dava antigamente na avaliação das relações
de mercado. Em princípio, todos são objetos, mesmo os mais
poderosos. (ADORNO, 1992, p. 31 apud FIANCO, 2010, p.3).

Para melhor compreensão do princípio supramencionado, é necessário


entender os meios pelos quais a alienação- um de seus principais tópicos- pode ser
difundida, alguns deles são: televisão, rádio, jornais, revistas, filmes, livros (ADORNO,
1973, p. 200 apud FIANCO, 2010, p.3) e internet. Através desses mecanismos, as
empresas conseguem influenciar os consumidores, a fim de que os mesmos comprem
seus produtos, os quais, muitas vezes, não apresentam benefícios aos usuários. O
indivíduo faz-se cego e, segundo Adorno, autoaliena-se.
Essa ideia pode ser comparada ao veganismo, de modo que as indústrias-
principalmente a alimentícia e a têxtil- apresentam um “molde” de como a vida deve
ser, isto é, são criados padrões que serão vendidos na forma de produtos e seguidos
pela sociedade, para que, desta maneira, os grandes empresários obtenham lucro e
possam elaborar novas tendências, a fim de, novamente, faturar. Com isso, o corpo
social cumpre o que lhe é determinado, como, por exemplo, permanecer consumindo
produtos de origem animal, sendo consciente, ou não, dos contras que tais artigos
podem acarretar.
A maneira como o mundo é regido nos tempos hodiernos mostra outro lado
da indústria cultural: o fetiche de mercadoria, elaborado por Karl Marx – sociólogo
alemão reconhecido pela publicação do Manifesto do Partido Comunista (1848), livro
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feito em parceria com Friedrich Engels e O Capital (1867), de autoria própria. Este
conceito de Marx baseia-se na ânsia de comprar determinado objeto apenas pelo
deleitamento de tê-lo, mesmo não precisando. A mercadoria sofre tanto
merchandising, que o fato de não a possuir gera uma situação de desconforto no ego
do indivíduo, ocasionando, assim, a falsa sensação de necessidade pelo consumo de
determinado produto.
Essa mesma mídia que leva as pessoas a comprar sem necessidade,
persuade-as outrossim a comer carne, consumir derivados do leite, vestir couro,
participar de eventos que exploram o trabalho animal e usar químicos testados nos
mesmos. Contudo, devido à cegueira causada pelo marketing, os bastidores dessas
produções são omitidos pelos emissores dos anúncios, já que caso os receptores
tomem conhecimento do que realmente acontece na fabricação dos bens de
consumo, os mesmos, provavelmente, deixariam de adquirir certos artigos, ou
diminuiriam a quantidade que consome.
Pode-se comparar tal assunto com uma cena do filme “Matrix” (1999), na qual
Morpheus oferece duas pílulas a Neo, uma azul e outra vermelha. A primeira dá a
chance de o personagem voltar para sua vida comum, trivial e supérflua; já a segunda,
mostrará o que há por trás do mundo que é julgado como real e normal. Este é o ponto
que é necessário alcançar: negar o comum, ir em busca da verdade; ou segundo a
“Alegoria da Caverna”, consoante Platão, sair do estado de ignorância e migrar para
o mundo inteligível, das ideias.

Backstage da indústria: aviários, bovinos e suínos

Como citado anteriormente, as corporações “maquiam” seu sistema de


produção, para que seus consumidores não tenham noção do que realmente acontece
nas fábricas, fazendas e laboratórios. Não obstante, este tópico mostrará o ciclo
produtivo de algumas áreas relacionadas à exploração (tortura) animal. O principal
setor que utiliza seres vivos é o pecuário, que pode ser dividido em aviário (carne e
ovos), bovino (carne e leite) e suíno (carne).
Na divisão que engloba as galinhas poedeiras há a mutilação parcial do bico,
visto que tal parte do corpo, em seu estado natural, pode causar prejuízos na indústria,
porquanto quando o animal se alimenta, parte da comida se aloja no bico, assim
causando desperdício de ração. Outro motivo para a amputação é o canibalismo, dado
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que o grande estresse motivado pela criação em gaiolas de bateria- nas quais
permanecem durante toda a vida- gera distúrbios psicológicos, deste modo,
propiciando atos agressivos para com suas companheiras. A parte decepada possui
diversos sensores neurológicos, deste modo, causando dores intensas durante e após
o procedimento, visto que há um crescimento de um tecido fibroso no local
machucado. A eficácia deste método chega a ser questionada por alguns
especialistas, pois tal processo diminui o apetite do bicho e pode ocasionar danos
irreversíveis nos olhos e na língua. (TAVARES, 2012).
Atos instintivos também são dificultados para as aves supramencionadas,
como ciscar, abrir as asas e gastar as garras- as quais, por fim, enroscam-se nas
grades do cárcere. O banho de poeira é outra atividade natural e essencial para a
manutenção da qualidade das penas, a tentativa de praticar tal ação em um ambiente
inapropriado causa ferimentos no corpo. (TAVARES, 2012).

Quando não estão mais aptas para produzir a quantidade de ovos


exigida pela demanda industrial, as galinhas poedeiras são
imediatamente descartadas, o que geralmente ocorre com dois anos
de vida, enquanto um animal como esse pode chegar a viver até
quinze anos. (TAVARES, 2012).

Os bovinos também fazem parte deste “corpo social” que sofre frequentes
abusos da indústria, apesar disso, o criadouro industrial não é comum para os animais
de abate, os quais vivem grande parte da vida em campos, para posteriormente serem
transferidos para as baias de terminação, onde são engordados para abate. Não
obstante, o tempo que os animais permanecem ao ar livre diminuiu nas últimas
décadas, de dois anos para seis meses. (TAVARES, 2012).
Não obstante, dentro do grupo bovino existe o subgrupo dos bezerros, para
comercialização do baby beef (vitela), um tipo de carne macia e mais clara. Era
comum matar os bezerros logo após o nascimento, mas para aumentar o peso do
mesmo, a criação em confinamento foi aderida, a qual dura cerca de 5 meses até o
abate. O animal é separado da mãe com poucos dias de vida e é colocado em um
recinto separado dos outros. A jaula em que o novilho se instala não é de metal, para
que o mesmo não lamba as paredes a fim de absorver ferro, visto que este elemento
químico pode escurecer a carne e tirar suas características de “recém-nascido”. A
dieta artificial gera diarreia crônica e problemas digestivos. (TAVARES, 2012).
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As vacas que geram os terneiros geralmente são da indústria leiteira e são


mantidas constantemente grávidas, porquanto para produzir leite é necessário que a
mesma tenha parido. Como dito anteriormente, o tenreiro é separado de sua mãe, e
ambos ficam deprimidos e mugindo por bastantes dias. Para aumentar a produção,
os criadores adicionam hormônios e antibióticos na alimentação da vaca. (TAVARES,
2012). Para que o animal possa engravidar, ocorre um processo de inseminação
artificial, o qual pode ser comparado ao estupro, já que não é feito de acordo com a
vontade do bicho. O processo é baseado na introdução de um braço humano com
sêmen bovino, para que haja fecundação.

Quando não conseguem mais produzir leite suficiente para suprir a


demanda industrial, as vacas são mortas e sua carne é usada na
produção de hambúrgueres ou ração de cachorro. Isso geralmente
acontece após cinco anos engravidando e parindo continuamente. As
vacas leiteiras ficam prenhes uma vez por ano, durante três a quatro
anos. (TAVARES, 2012).

Com o passar dos anos, o abate humanitário se tornou mais comum no meio
da pecuária bovina, porém ainda existem locais que utilizam técnicas arcaicas, como
a machadada no crânio do animal e a degolação, ambas praticadas com o animal
ainda vivo.
Há também a produção de carne suína, a qual ocorre totalmente em sistemas
de confinamento, o qual prende os porcos desde o nascimento até a morte. Os
animais passam o início da vida em pé e dormindo em superfícies que machucam,
essas condições podem causar traumas irreversíveis nos animais. Enquanto um
porcino bucólico leva até treze semanas para ser desmamado, o industrial desmama
em questão de dias. Isso ocorre porque a ração é enriquecida com químicos que
permitem o leitão ganhar peso mais rapidamente. (TAVARES, 2012).
Devido ao desmame precoce o animal gera um vício de sucção e machuca
diversas áreas do próprio corpo e também de outros animais, causando o
canibalismo– o qual é “tratado” com a amputação dos dentes e da cauda-, e a ingestão
de fezes e de urina. Os machos são castrados ainda jovens e sem anestesia, tal
procedimento diminui a agressividade e melhora o sabor da carne. As fêmeas em
idade de acasalar são emprenhadas e levadas para baias de gestação, as quais
limitam os movimentos da porca, pois a gaiola tem o tamanho de um animal adulto.
(TAVARES, 2012).
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As fêmeas são abatidas quando não são mais úteis como reprodutoras, isto
é, no caso de não voltarem para o cio, terem problemas de fecundação, dificuldade
no parto, gravidez falsa e abortos, além de problemas de saúde como mastite, metrite
e agalaxia.
Destarte, é possível entender os processos que o alimento oriundo do
supermarketing passa até chegar nos supermercados, para que o consumidor, sem
saber do que acontece no backstage industrial, compre sem hesitar.

Alimentação vegana: uma válvula de escape à indústria cultural

Como visto anteriormente, os produtos da indústria exploratória vão


diretamente para os vendedores e logo após para os consumidores. Porém, dado que
os bastidores de produção supracitados usam da crueldade para gerar capital, é
interessante variar os bens de consumo que são comumente utilizados pela
população. A cultura padrão em que a sociedade atual vive está acostumada a
consumir estes produtos, porém, neste tópico provaremos que a mudança de padrões
pode gerar inúmeros benefícios para o corpo social.
A alimentação sem origem animal é comumente taxada como inapropriada e
pobre em nutrientes, porém tal afirmação trata-se de uma falácia, pois quando há
conhecimento e interesse em mudar de hábitos, torna-se possível e mais fácil realizar
a transição de maneira adequada.
Esse tipo de dieta abrange uma gama de alimentos muito variada, visto que
existem diversas espécies de vegetais e leguminosas que podem servir como
alimento. Essa dieta pode gerar incontáveis melhorias na saúde humana, como níveis
baixos de colesterol, menor risco de doenças cardíacas, de hipertensão e diabetes
tipo dois. (American Dietetic Association, 2009).
Tanto veganos como vegetarianos tendem a possuir um menor índice de
massa corporal, como também baixas taxas de câncer. Essas formas de alimentação
costumam ter menores quantidades de gordura saturada e colesterol, e maiores níveis
de magnésio, potássio, vitaminas C e E, carotenoides e flavonoides. (American
Dietetic Association, 2009).
Há quem argumente que essas dietas não são apropriadas, pois são
deficientes em cálcio, zinco e vitaminas B-12 e D, os quais, geralmente, são
encontrados em produtos de origem animal. Não obstante, existem suplementos e
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alimentos que podem resolver tais carências. Alguns destes compostos só podem
encontrados em produtos de origem animal devido à adição de compostos químicos
à dieta dos bichos.
As proteínas apresentam grande importância na saúde do homem, visto isso,
diversos ativistas, que não apoiam o veganismo, alegam que a dieta não contém
proteínas necessárias para o organismo. Entretanto, vegetais variados consumidos
ao longo de um dia podem suprir toda a necessidade proteica de um ser humano.
Uma fonte rica em cadeias de aminoácidos e de fácil acesso é a soja, a qual
é um grão extremamente versátil em relação à cozinha, visto que pode substituir
inúmeros ingredientes. Algumas pessoas relatam que a produção de soja é inimiga
da floresta, dado que os agricultores usam o desmatamento para cultivar tal cultura,
deste modo, culpando os veganos pela destruição das florestas nativas. Não obstante,
é de comum conhecimento que mais da metade da produção de tal grão serve de
ração para os animais da pecuária. Dessa forma, a diminuição da produção de carne
será acompanhada pelo decrescimento da produção do grão e também do déficit do
desflorestamento.
Existem muitos substitutos vegetais para os alimentos de origem animal,
ainda falando de proteínas, podemos citar leguminosas como o feijão, a lentilha e o
grão-de-bico. Veja os principais alimentos vegetais mais proteicos na tabela abaixo:

Alimento Proteína vegetal por 100g


Soja 12,5g
Quinoa 12g
Trigo sarraceno 11g
Milhete 11,8g
Lentilha 9,1g
Tofu 8,5g
Feijão 6,6g
Ervilha 6,2g
Arroz cozido 2,5g
Fonte: Tua Saúde, 2017.3

3ZANIN, Tatiana; “Alimentos ricos em proteínas”. Disponível em:


<https://www.tuasaude.com/alimentos-ricos-em-proteinas/>. Acesso em: 13 out. 2017.
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Para tomar o lugar do leite animal, existem os leites de amêndoas e


castanhas, extremamente ricos em cálcio, potássio e vitaminas, além de não conter
colesterol alto.
O baixo risco de problemas cardíacos em veganos pode ser explicado pela
baixa quantidade de lipídios no sangue em comparação aos que se alimentam de
carne. Os vegetarianos possuem um nível de lipídios maior que os veganos, mesmo
assim a porcentagem ainda é baixa, 24% e 57% menos lipídios que os demais,
respectivamente. Os fatores que melhoram o nível de lipídios no sangue dos veganos
são o consumo de nozes, soja, fibras e pouca gordura saturada. (American Dietetic
Association, 2009).
O perigo de obter hipertensão também é relativamente pequeno, devido à
quantidade necessária de potássio, magnésio, antioxidante, gordura boa e fibras
encontradas na alimentação. Outra doença que pouco acomete os veganos é o
diabetes tipo 2, visto que o uso de nozes e vegetais diminuem o risco. (American
Dietetic Association, 2009).
A probabilidade de adquirir obesidade também é extremamente difícil com
uma alimentação vegana (American Dietetic Association, 2009), de modo que uma
dieta caracterizada pela ingestão de gorduras saudáveis e diversas vitaminas,
acarreta em um organismo sem muitos problemas de saúde.
O câncer é uma das doenças mais difíceis de tratar, porém, com uma
alimentação veggie, é possível diminuir o risco de obter tal enfermidade. A dieta sem
carne é caracterizada pelo consumo de frutas e vegetais, os quais contém fitoquímicos
e antioxidantes que combatem as células cancerígenas. (American Dietetic
Association, 2009).
A demência é um transtorno que tem poucas chances de acometer uma
pessoa que tenha como padrão uma alimentação vegana, visto que o alto nível de
antioxidante, pressão arterial controlada e uso reduzido de hormônios depois da
menopausa, diminuem o risco da doença. Não obstante, ainda é possível obter
demência se o nível de vitamina B-12 estiver abaixo do esperado, a qual pode ser
facilmente encontrada. (American Dietetic Association, 2009).
A osteoporose é um problema comum e atinge majoritariamente as mulheres,
entretanto para evitar tal patologia, pode-se optar por uma alimentação rica em
vegetais de folhas verdes, incluindo cereais, soja, variedades de arroz e sucos, os
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quais podem suprir a necessidade de cálcio do organismo humano. (American Dietetic


Association, 2009).

Pecuária: impactos relacionados à agua

É necessário entender que os produtos oriundos da pecuária geram um alto


custo para o meio ambiente, visto que para o mantimento desse mercado é preciso
um gasto muito grande de recursos hídricos. Para compreender a dimensão desse
consumo em contraste com alimentos vegetais, veja a tabela abaixo:

Alimento Massa (Kg) Água para produção (L)


Arroz 1Kg 2487L
Frango 1Kg 4325L
Milho 1Kg 1222L
Carne 1Kg 15415L
Batata 1Kg 287L
Fonte: Water Footprint Network4

Pode-se calcular que um boi adulto de trezentos quilogramas consome mais


de 4,6 milhões de litros de água durante sua vida, multiplicando esse número pela
estimativa da população brasileira bovina, a qual é maior que a humana
(aproximadamente 212 milhões de cabeças), chega-se em 979 trilhões de litros de
água desperdiçada.
Para ter uma maior noção da grandeza desse fato, pode-se calcular,
hipoteticamente, o consumo de água da produção de batatas proporcional à
quantidade de quilogramas de bois no Brasil, totalizando 18 trilhões de litros de água,
uma economia de 961 trilhões de litros.
O gasto hídrico absurdo é um fator normal neste tipo de indústria, porém não
é comumente divulgado pela mídia, porquanto pode influenciar os consumidores a
não comprar determinados produtos.

4“Product Gallery”. Disponível em: <http://waterfootprint.org/en/resources/interactive-tools/product-


gallery/>. Acesso em: 13 out. 2017.
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O governo deve se tornar ciente de tais gastos e admitir que uma população
majoritariamente vegana pode diminuir o enviromental footprint (pegadas ambientais)
do país.

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