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RELATÓRIO
A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ:
Trata-se de agravo regimental interposto pela VIAÇÃO CIDADE DE MAUÁ
LTDA em face de decisão do eminente Ministro Gilson Dipp que, no exercício da Presidência
deste Superior Tribunal de Justiça, deferiu o pedido "para suspender os efeitos da decisão do
Presidente do Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, lançado no requerimento de
reconsideração, para restaurar a suspensão originalmente por ele mesmo deferida de modo
a sustar todos os efeitos da decisão do Juiz de Direito da 5.ª Vara Cível e de Acidentes do
Trabalho da Comarca de Manaus AM com relação ao Município requerente " (fl. 504).
Consta dos autos que o MUNICÍPIO DE MAUÁ/SP instaurou procedimentos
administrativos a fim de apurar ilegalidades na prestação do serviço de transporte coletivo
urbano, que era explorado, mediante concessão, pela VIAÇÃO CIDADE DE MAUÁ LTDA.
Sobreveio, em 10/09/2013, a declaração de inidoneidade da empresa concessionária e
proibição temporária de licitar e contratar; posteriormente, no mesmo mês, a declaração de
caducidade e rescisão do contrato de concessão. Por conseguinte, em face da necessidade da
manutenção dos serviços essenciais de transporte coletivo urbano, a Municipalidade, em
16/10/2013, contratou, em caráter emergencial, a empresa TRANSPORTADORA
TURÍSTICA LTDA (SUZANTUR).
Inconformada com a decisão administrativa, a empresa VIAÇÃO CIDADE DE
MAUÁ LTDA ajuizou a ação ordinária n.º 4002711-79.2013.8.26.0348 perante a 4.ª Vara
Cível de Mauá, visando a anular o ato administrativo. O pedido de antecipação de tutela foi
indeferido, o que ensejou a interposição de agravo de instrumento perante o Tribunal de
Justiça de São Paulo, que negou provimento ao recurso.
Outrossim, a VIAÇÃO CIDADE DE MAUÁ LTDA manejou ação cautelar,
buscando afastar a rescisão do contrato de concessão. O pedido de liminar foi indeferido. Ato
contínuo, a ação foi julgada extinta pelo Tribunal de Justiça paulista.
A VIAÇÃO CIDADE DE MAUÁ LTDA ainda impetrou mandado de
segurança distribuído para a 3.ª Vara Cível, reiterando os mesmos argumentos e pedido
deduzidos na ação ordinária. O mandamus foi extinto em razão da litispendência, com
EMENTA
AGRAVO REGIMENTAL NA SUSPENSÃO DE LIMINAR E DE
SENTENÇA. EMPRESA DE TRANSPORTE PÚBLICO MUNICIPAL.
RESCISÃO CONTRATUAL POR FRAUDE. CONTRATAÇÃO DE
SERVIÇO EMERGENCIAL. SUPERVENIÊNCIA DE NOVA
CONTRATAÇÃO DEPOIS DE PROCESSO LICITATÓRIO. JUÍZO DA
RECUPERAÇÃO JUDICIAL EM OUTRO ESTADO DA FEDERAÇÃO
QUE DEFERIU LIMINAR PARA RETORNAR AO SERVIÇO A ANTIGA
CESSIONÁRIA, AFASTADA HÁ UM ANO. EVIDENTE E GRAVE RISCO
À ORDEM E ECONOMIA PÚBLICAS. AGRAVO REGIMENTAL
DESPROVIDO.
1. A temerária decisão do juízo amazonense, ratificada pela então
Presidência do Tribunal a quo, distante da realidade dos fatos, e desprezando
as decisões da Justiça do Estado de São Paulo, pretendia retornar à operação de
transporte público, no Município de Mauá/SP, empresa declarada pela
Administração Pública inidônea por fraude, cujo contrato fora rescindido. O
retorno pleiteado, nessas condições, provocaria manifesta afronta ao interesse
público, com clara e grave lesão à ordem e economia públicas – notadamente
em razão de o serviço já estar sendo prestado por outra empresa que se sagrou
campeã em novo processo licitatório –, sem falar na indevida intromissão do
Poder Judiciário no mérito administrativo, quando não há nenhum indício de
irregularidade no ato impugnado.
2. Agravo regimental desprovido.
VOTO
Documento: 39239629 - RELATÓRIO, EMENTA E VOTO - Site certificado Página 7 de 10
Superior Tribunal de Justiça
A EXMA. SRA. MINISTRA LAURITA VAZ (RELATORA):
O que sobressai, de início, é o inusitado percurso jurídico-processual do qual
se valeu a empresa VIAÇÃO CIDADE DE MAUÁ LTDA, ora Agravante:
Inconformada com a decisão da Municipalidade – que, depois de regular
processo administrativo, em setembro de 2013, rescindiu o contrato de concessão diante da
constatação de fraudes no sistema de bilhetagem do transporte público, que teria
proporcionado o recebimento de créditos indevidos no montante de quase sete milhões de
reais –, a empresa ajuizou a ação ordinária perante a 4.ª Vara Cível de Mauá, cujo pedido de
antecipação de tutela foi indeferido, o que ensejou a interposição de agravo de
instrumento perante o Tribunal de Justiça de São Paulo, que negou provimento ao recurso.
Outrossim, manejou ação cautelar. O pedido de liminar foi indeferido. Ato contínuo, a
ação foi julgada extinta pelo Tribunal de Justiça paulista. Seguiu-se ainda a impetração de
mandado de segurança distribuído para a 3.ª Vara Cível. O mandamus foi extinto em razão
da litispendência, com aplicação de multa de 1% por litigância de má-fé.
Esgotadas as tentativas judiciais de reverter a situação no Estado de São Paulo,
a VIAÇÃO CIDADE DE MAUÁ LTDA ajuizou ação cautelar perante a 5.ª Vara Cível e de
Acidentes do Trabalho da Comarca de Manaus/AM, onde tramita o processo de recuperação
judicial de um grupo de empresas da qual faz parte. O Magistrado processante, em
31/10/2013, deferiu o pedido de liminar para, suspendendo a contratação emergencial no
Município de Mauá/SP, retornar a empresa ora Agravante à operação das linhas de ônibus,
além de proibir a instalação de catracas eletrônicas e a realização de qualquer compensação
no sistema de bilhetagem eletrônica, sob pena de multa.
O MUNICÍPIO DE MAUÁ/SP, nos autos da Suspensão de Liminar n.º
4004279-22.2013.8.4.0000, conseguiu perante o Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas,
em 16/12/2013, decisão do Desembargador Presidente, que deferiu a suspensão da liminar.
Contudo, em 09/06/2014, ou seja, passados seis meses, o mesmo Desembargador, acolhendo
pedido de reconsideração, indeferiu o pedido, restaurando, assim, a decisão do Juízo da 5.ª
Vara Cível e de Acidentes do Trabalho da Comarca de Manaus/AM.
Daí a decisão ora agravada, prolatada pelo eminente Ministro Gilson Dipp, no
exercício da Presidência deste Superior Tribunal de Justiça, que deferiu o pedido deduzido
pelo MUNICÍPIO DE MAUÁ/SP "para suspender os efeitos da decisão do Presidente do
Tribunal de Justiça do Estado do Amazonas, lançado no requerimento de reconsideração,
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Superior Tribunal de Justiça
para restaurar a suspensão originalmente por ele mesmo deferida de modo a sustar todos dos
os efeitos da decisão do Juiz de Direito da 5.ª Vara Cível e de Acidentes do Trabalho da
Comarca de Manaus AM com relação ao Município requerente " (fl. 504).
Cumpre desde logo anotar que, nesse ínterim, noticia a Municipalidade,
sobreveio novo processo licitatório. Argumenta, no ponto, que:
"[...] este Município conseguiu fazer a licitação pública e contratar
uma nova concessionária para o essencial transporte coletivo da cidade,
consoante se denota do Contrato de Concessão n.º 64/2014 , assinado em 15
de agosto de 2014.
Por este contrato, a nova concessionária teve que pagar uma outorga
onerosa no valor de R$ 6.200.000,00 (seis milhões e duzentos mil reais) ,
conforme cláusula 6.1.1 do contrato anexo, sendo que metade deste valor já
foi pago no ato da assinatura do contrato, o que garantirá novos
investimentos na melhoria do transporte.
Além disso, a nova concessionária terá que adquirir e colocar em
execução na cidade, toda uma frota de ônibus 'zero quilômetro', num total de
248, conforme edital e contrato anexo (cláusula 14.3.1).
Daí se percebe que o deferimento da suspensão de liminar, evitou um
grave dano à economia pública do Município de Mauá, sem contar, que o
dano econômico também aconteceria com a alteração abrupta por outra
empresa, após a estabilização do transporte, com novas adaptações de
catraca eletrônica, aparelhos de GPS e demais aparelhos eletrônicos e
garagens já instaladas." (fls. 617/618)