Professional Documents
Culture Documents
Excerto da Introdução da ótima tradução do livro de Dionisio Areopagita, Dos nomes divinos,
realizada por Bento Silva Santos, Attar Editorial, 2004.
(NA: F. PIO DE A. FLECK, A função da negação na via remotionis, in DE BONI, L. A. (org.) Lógica e
Linguagem na Idade Média. Porto Alegre, Edipucrs, 1995, 47-54)
Se a teologia afirmativa prescreve os atributos de Deus (Deus é o Bem, o Ser, a Beleza, a Vida, o Saber
etc.), a teologia negativa, consequentemente, nega esses mesmos atributos: Deus não é o Bem, nem o
Ser, nem a Beleza, nem a Vida, nem o Saber etc). Todavia, longe de incorrer em aberta contradição, os
métodos catafático e apofático possuem um papel correlativo. Mas em que sentido? E evidente que não
se trata simplesmente de negar o que antes tinha sido afirmado de Deus, mas, sim, de uma clara e
"racional" percepção de que Deus transcende infinitamente as possibilidades do conhecimento humano.
O método negativo, ao contrário do afirmativo, é ascendente, e as negações se elevam dos atributos
mais humildes aos mais nobres: "pois quanto mais nos elevamos ao alto, tanto mais as palavras se
contraem ao divisar e contemplar os seres inteligíveis" (NA: MT III, 1033 B-D). É preciso notar que a
teologia negativa (apofática) abre o caminho para a teologia mística, de sorte que é difícil distinguir
materialmente onde uma termina e a outra começa.).
Na realidade, a negação dionisiana é peculiar: trata-se de uma negação não privativa, mas de
excelência, de superação, de superabundância, de transcendência — kath hyperokhén, bypérokhos
(NA: DN VIL 869 A). Assim entendida, a teologia negativa é um método de "superafirmação", ela é
um além categorial, uma espécie de katharsis (purificação) de nossos conceitos humanos. É preciso
entendê-la no sentido de uma afirmação trans-humana, pois seu objeto escapa a todas as nossas