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Fonética e Fonologia
do Português
2ª EDIÇÃO ATUALIZADA
2015
Proibida a reprodução total ou parcial. Os infratores serão processados na forma da lei.
EDITORA UNIMONTES
Campus Universitário Professor Darcy Ribeiro, s/n - Vila Mauricéia - Montes Claros (MG) - Caixa Postal: 126 - CEP: 39.401-089
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Rogério Othon Teixeira Alves
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Unimontes Chefe do departamento de Filosofia/Unimontes
Antônio Alvimar Souza Alex Fabiano Correia Jardim
Unidade 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Fonética e fonologia: um breve histórico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
1.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16
Unidade 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
A fonética . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.4 As vogais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.5 Os ditongos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.6 A sílaba . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
2.7 O acento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Unidade 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
A fonologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
3.8 Sândi . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.9 A neutralização e o arquifonema . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
Referências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Resumo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
Atividades de Aprendizagem - AA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
Apresentação
Caro(a) Acadêmico(a),
Boa sorte!
Luci Kikuchi Veloso
Terezinha Maria Marques Teixeira
9
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
Unidade 1
Fonética e fonologia: um breve
histórico
Luci Kikuchi Veloso
Terezinha Maria Marques Teixeira
1.1 Introdução
Nesta unidade, apresentamos um breve histórico sobre a Fonética e Fono-
logia, a comunicação humana e a interdisciplinaridade entre essas duas ciências.
Para isso, você deverá revisar os conceitos básicos das disciplinas “Introdução à Lin-
guística” e “Linguística Geral”, estudados no primeiro e segundo períodos, respec-
tivamente, tais como: linguagem verbal humana, especialmente, a língua falada,
língua natural, variação linguística, dentre outros.
Os conceitos apresentados, aqui, sobre a disciplina Fonética e Fonologia têm
por base os estudos desenvolvidos a partir do século XIX, especificamente na In-
glaterra.
◄ Figura 2: Os gregos
Fonte: Disponível em
http://www.klepsidra.net/
klepsidra7/romantismo.
html. Acesso em 9 jun.
2010.
11
UAB/Unimontes - 2º Período
DICA
A distinção entre vogal Figura 3: Platão ►
e consoante, feita por Fonte: Disponível em
Platão, poderá, tam- http://www.cdcc.usp.br/
bém, ser observada ciencia/artigos/art_26/
por você no estudo da proporcao.html. Acesso
em 9 jun. 2010.
Fonética e Fonologia
do português na Unida-
de I - produção dos
sons da fala: as vogais e
as consoantes da língua
portuguesa.
GLOSSÁRIO No entanto, foram os árabes e os hindus que tiveram maior sucesso quando tomaram como
base a descrição das articulações na produção dos sons da fala humana. Destaca-se, aqui, a in-
Sânscrito: a língua terpretação dos sons surdos ou desvozeados e sonoros ou vozeados, a descrição dos mecanis-
sânscrita, ou sim-
plesmente sânscrito, mos de aspiração e nasalização dos sons da fala, feita pelos hindus, bem como a correlação sis-
(devanagari, pronuncia- temática dos órgãos da fala e dos mecanismos de produção de sons causadas por obstruções
-se saṃskṛta) é uma no aparelho fonador, feita pelos árabes. Tanto os hindus quanto os árabes tinham como objeto
língua clássica da Índia, de estudos os textos sagrados. Os hindus foram mais além, dando prioridade à sentença, dando
uma língua litúrgica do atenção aos fenômenos de concatenação e juntura dos elementos morfológicos e aos aspectos
Hinduísmo, Budismo,
Jainísmo e uma das 23 prosódicos, originando, assim, o termo sândi (de sandhi – juntar) que significa: mutação morfofo-
línguas oficiais da Índia nêmica que ocorre na combinação de morfemas (sândi interno) e nos limites vocabulares (sândi
que influenciou pratica- externo). Esses estudos permitiram outros estudiosos a conhecerem melhor o sânscrito.
mente todos os idiomas
ocidentais. O alfabeto
original do sânscrito
é o devanagari, um
composto bahuvrīhi
formado pelas palavras
deva (“deus”) e nāgarī
(“cidade”), que significa
“a escrita da cidade
dos deuses”. É uma das
línguas mais antigas da
família Indo-Europeia.
http://pt.wikipedia.org/
wikipédia/sânscrito.
Acesso em 9 jun. 2010.
Figura 4: Hindus ►
Fonte: Disponível em
http://peaceeverywhere.
wordpress.com/. Acesso
em 9 jun. 2010.
A partir do século XIX, com os estudos histórico-comparativos, pode-se chegar a uma ori-
gem comum das línguas pelo estabelecimento da correspondência entre os sons dos vocábulos,
que foram expressos em leis Fonéticas. Esses estudos passam a ser considerados como a ciência
dos sons, tendo sido a Inglaterra o berço da Fonética moderna.
12
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
◄ Figura 5: Árabes
Fonte: Disponível em
http://1001orientes.blogs.
sapo.pt/31860.html. Aces-
so em 9 jun. 2010.
13
UAB/Unimontes - 2º Período
propõe a vinculação dessas duas áreas de investigação da fala humana aos atos de fala. Esses
atos de fala estão estreitamente ligados a inúmeros fatores não linguísticos, tais como: o interlo-
DICA cutor, o trato social, o ambiente e espaço físico etc, os quais influenciam a comunicação do falan-
a unidade da Fonética te. A seguir, vamos discutir o universo e características destas duas ciências.
é o FONE ou o som da
fala
A Fonética DESCREVE
os fatos físicos dos sons
da fala. 1.4 Fonética e fonologia: ciências
relacionadas
DICA
Vamos aprofundar na importância dessas disciplinas? Aqui, ao abordarmos separadamente
Usamos colchetes para a função/papel da Fonética e da Fonologia, fazemos por questões didáticas, uma vez que as duas
mostrar que estamos estão interligadas durante a produção de nossa fala.
transcrevendo ou
reproduzindo, através
da escrita, uma das
maneiras de falar ou 1.4.1 A fonética
expressar oralmente a
ideia da figura 10. Os
colchetes [ ] são usados A Fonética é a ciência que apresenta métodos de descrição fisiológica, física e classifica os
para fazer uma transcri-
ção Fonética e as barras sons das línguas naturais (Silva, 1999a). A Fonética permite-nos descrever os mecanismos e os
/ / são utilizadas para processos que estão envolvidos na produção da fala. O papel principal do foneticista é descrever
a transcrição fonêmica o que acontece com o falante durante sua fala e quando o ouvinte a capta (LADEFOGED, 1982).
ou fonológica. Numa perspectiva mais ampla, podemos dizer que a Fonética baseia-se na produção da fala, per-
cepção, ou seja, como captamos pelo ouvido e transmitimos a mensagem para o cérebro e este,
por sua vez, responde através da fala. A Fonética investiga, também, os sons em relação uns aos
outros, analisa a organização dos segmentos em unidades maiores (como sílabas, por exemplo).
Para melhor organizar estas habilidades, a Fonética pode ser
Figura 8: Lábios ► dividida em áreas de interesse, que são:
Fonte: Disponível em • Fonética articulatória: É a área de investigação mais
http://www.appai.org.br/
Jornal_Educar/jornal43/ antiga, consequentemente a mais sólida dentro da Fonética
portugues/b.gif. Acesso linguística (CAGLIARI & MASSINI-CAGLIARI, 2001). A Fonética
em 9 jun. 2010. articulatória consiste no estudo da produção da fala do pon-
to de vista fisiológico e articulatório. Os sons da fala são des-
critos a partir dos movimentos atestados no aparelho fonador que estão envolvidos na arti-
culação. Por exemplo, para produzir o som [b], nosso lábio inferior aproxima-se do superior,
fechando a boca e logo após liberando o ar.
• Fonética auditiva: Estudo da percepção da fala. Ou seja, como as ondas sonoras da fala são
analisadas e identificadas pelo ouvido e o cérebro humano (CRYSTAL, 1997).
Figura 9: Ouvido ►
humano
Fonte: Disponível em
http://www.argosy.com.
br/Audicao.php. Acesso
em 9 jun. 2010.
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Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
• Fonética acústica: Estudo das propriedades físicas dos sons da fala a partir de sua transmis-
são do falante ao ouvinte. Descreve como estes sons são transmitidos a partir das proprie- GLOSSÁRIO
dades físicas ou acústicas. (CAGLIARI & MASSINI-CAGLIARI, 2001). Sistema Sonoro: é
• Fonética instrumental: Estudo das propriedades físicas da fala, com o suporte de instru- uma língua; é compos-
mentos laboratoriais. Existem muitos instrumentos disponíveis atualmente para o estudo da to pelas consoantes
produção da fala, como o equipamento para gravar a fala que analisa as propriedades acús- e vogais utilizadas na
fala.
ticas da fala ou o equipamento para investigar a fisiologia das cordas vocais.
Porém, estudaremos apenas a Fonética articulatória por ser a mais relevante para nossos
objetivos. DICA
• A unidade da Fonolo-
gia é o FONEMA.
• A Fonologia INTER-
1.4.2 A fonologia PRETA os resultados
apresentados pela
Fonética.
A Fonologia, por outro lado, é o ramo da linguística que investiga como os sons da fala são • Fones e fonemas são
distribuídos nas estruturas das línguas naturais, formando seus sistemas sonoros (KATAMBA, sons, não são letras
1989). Seu principal objetivo é investigar os princípios que governam o modo de organização
dos sons nas línguas naturais e explicar suas variações.
A Fonologia interpreta os resultados descritos pela Fonética em função dos sistemas sono- Dica
ros das línguas e dos modelos teóricos linguísticos existentes. Entendemos como sistema sonoro
O estudo das dicoto-
as consoantes e vogais de uma determinada língua. Cada língua possui um sistema sonoro dis- mias: diacronia (eixo
tinto que a difere de outra. Não se esqueça que estamos lidando com a fala e não com a escrita, das sucessividades)
portanto são consoantes e vogais utilizadas na fala. e sincronia (eixo das
A Fonologia também avalia a organização do acento e de estruturas suprassegmentais simultaneidades) das
(como o ritmo e a entoação). A importância da entoação é de carregar um significado por si só e línguas, proposto por
Ferdinand Saussure,
é quando a Fonologia tem interface com a Análise do Discurso, outra área da linguística. aborda dois campos
opostos de estudo
do sistema de fala de
uma dada língua, ou
seja, uma Fonologia
diacrônica versus uma
Fonologia sincrônica.
Dica
“Entender é isto: a
gente vê uma coisa
e vai procurando, na
memória, um cabide
onde a ‘coisa’ possa ser
pendurada. Quando
encontramos o cabide
e a penduramos dize-
mos: ‘entendemos’. O
Observe: fato do cabide já estar
Na escrita, “meninos”, mas falamos: lá na memória, à espe-
[mIÈ )ninUs] 7 fones ra, significa que aquela
ideia já estava prevista.
Já era sabida. Não cau-
Temos a palavra ‘meninos’ em transcrição Fonética, que expressa como essa ideia que te- sava susto. A memória
mos internalizada é externalizada através da fala. não tem cabide para
Temos, a seguir, uma transcrição fonêmica ou fonológica que expressa o que todo o falan- coisas novas”. (RUBEM
te nativo de uma língua tem internalizado. ALVES, 1993).
/meninos/ 7 fonemas
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UAB/Unimontes - 2º Período
Quadro 1
Fonética e Fonologia
ATIVIDADE A FONÉTICA A FONOLOGIA
A disciplina Fonética/
Fonologia do Portu- • Descreve os fatos físicos dos sons da fala – • Interpreta os resultados apresentados pela
guês constante da mecanismos e processos de produção da fala. Fonética.
estrutura curricular do
2º. Período do Curso • Fonética – descritiva. • Fonologia – interpretativa.
de Letras INGLÊS,
além de levar você a • A análise Fonética baseia-se nos processos de • A análise fonológica baseia-se no valor dos
conhecer os princípios percepção e produção dos sons. sons dentro de uma língua.
de estruturação da
fala humana centrados • Estuda os sons como entidades físico-articu- • Descreve a organização sistemática e glo-
nos sistemas fonético/ latórias isoladas. bal dos sons da língua.
fonológicos do portu-
guês dentro de uma • Mostra a intensidade do sinal acústico ou • Estabelece distinção de significado nas
visão linguística, visa a duração de determinados segmentos da palavras de uma língua.
também à retomada cadeia da fala.
de alguns princípios
prescritos pela Gramáti- • A unidade da Fonética é o som da fala ou • A unidade da Fonologia é o fonema.
ca Tradicional como, fone.
por exemplo, aspectos
ortográficos da língua. • É a substância da expressão. • É a forma da expressão.
Assim, para que você
Fonte: CAGLIARI,1997.p.130.
possa colocar em
prática os seus conhe-
cimentos relativos aos
Referências
aspectos ortográficos
da língua portuguesa,
adquiridos na Educação
Básica, acesse o site
http://www.fonologia.
org e faça os exercícios, ALVES, Rubem (1993). O melhor de Rubem Alves. IN: LAGO, Samuel Ramos (org). Curitiba: Edito-
contidos no link “Exer- ra Nossa Cultura, 2008.
cícios/Ortografia,
Fonética e Gramática CAGLIARI; MASSINI-CAGLIARI. Fonética. In: MUSSOLINI, F.; BENTO, A. C. (Org.). Introdução à lin-
Tradicional”, cujas guística - domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. v. 1, p. 105-146.
respostas são apresen-
tadas no próprio link e
CAGLIARI, Luiz Carlos. Análise fonológica: introdução à teoria e à prática com especial destaque
poste as respostas dos
exercícios no fórum de para o modelo fonêmico. Campinas; Ed. Campinas: Do Autor, 1997.
discussão.
Após a prática dessa CASTRO, Maria Fausta Pereira. A infância e a aquisição de linguagem. Com Ciência. Revista Ele-
série de exercícios trônica de Jornalismo Científico, Campinas, v. 72, p. 1, 2005.
sobre a Ortografia,
Fonética e Gramática CRYSTAL, David. 1997. A dictionary of linguistics and phonetics. 4th edition. Cambridge, MA:
Tradicional, você está Blackwell, 1997. 426 pages
apto(a) a prosseguir os
seus estudos sobre o GIMSON, A. C. An introduction to the pronunciation of English. 2. ed. London: E. Arnold, 1970.
funcionamento da lín-
gua, expostos a seguir KATAMBA, Francis. An introduction to phonology. London: Longman, 1989. (Learning about
na Unidade II – A Foné-
language).
tica, e, participar das
Atividades Avaliativas,
ou seja, das Avaliações
LADEFOGED, Peter. A Course in Phonetics. San Diego: Harcourt Brace Jovanovich, 1982.
Online – AO e das Ava-
liações Semestrais – AS. SILVA, Thaïs Cristófaro. Fonética e Fonologia do português: roteiro de estudos e guia de exercí-
cios. São Paulo: Contexto, 1999.
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Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
Unidade 2
A fonética
Luci Kikuchi Veloso
Terezinha Maria Marques Teixeira
2.1 Introdução
Nesta unidade, discutiremos a produção dos sons da fala: detalharemos o sistema fonatório,
a produção dos sons consonantais e vocálicos do português brasileiro.
17
UAB/Unimontes - 2º Período
Quando as cordas vocais estão próximas e vibrando durante a produção de um som, tanto
vocálico quanto consonantal, dizemos que o estado da glote é vozeado ou sonoro. Quando as
cordas estão abertas, dizemos que o estado da glote durante a produção do som é desvozeado
ou surdo. Por exemplo, as consoantes: [p] é desvozeada e [b] é vozeada. Figura13.
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Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
Observe a figura 14 e veja onde fica a úvula. Quando o som é oral, a úvula está levantada,
portanto o ar não escapará para a cavidade nasal. Quando a úvula está abaixada, o ar escapará
pela cavidade nasal, produzindo um som nasal. No português, só temos consoantes nasais:
[m] de mãe,
[n] de nariz,
[] de ninho.
Temos, na figura 14, o trato vocal com os articuladores passivos e ativos envolvidos na pro-
dução dos sons da fala.
Com a ajuda desses articuladores expostos na figura 14, definimos o lugar ou ponto de ar-
ticulação ou o local onde dois articuladores aproximam-se produzindo uma constrição no trato
vocal para a produção de uma consoante. Listamos algumas categorias relevantes para a descri-
ção consonantal e seus articuladores:
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UAB/Unimontes - 2º Período
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Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
21
UAB/Unimontes - 2º Período
GLOSSÁRIO O modo ou maneira de articulação indica como e em qual grau a passagem da corrente de
ar ocorre no aparelho fonador ou trato vocal de acordo com a posição do articulador ativo em
Oclusiva: deriva de relação ao articulador passivo.
oclusão, que significa
fechamento. • Oclusiva - Os articuladores produzem uma obstrução completa da passagem da corrente
Fricativa: deriva de de ar através da boca. O véu palatino encontra-se levantado e o ar que vem dos pulmões
fricção. encaminha-se para a cavidade oral. Exemplos: pá, cá.
• Nasal - O véu palatino encontra-se abaixado e o ar proveniente dos pulmões dirige-se às
cavidades nasal e oral, sendo que os articuladores produzem um fechamento total da passa-
gem da corrente de ar através da boca. Exemplos: mãe, nariz.
• Fricativa (oral) - Os articuladores aproximam-se produzindo fricção quando ocorre a passa-
gem central da corrente de ar. Os articuladores não causam a obstrução completa, mas sim
a parcial, causando a fricção. Exemplos: chá, já, zebra.
• Africada (oral) - Na produção desta consoante, há uma obstrução completa pelos articu-
ladores na passagem da corrente de ar e, na fase final, há uma fricção decorrente da pas-
sagem central da corrente de ar, como nas fricativas. Exemplos: tia [tSia] e dia [dZia] que
ocorrem em certos dialetos do Brasil. Outro exemplo falado em todos os dialetos brasileiros
é tchau [tSaU].
• Tepe – Escrito com a letra “r” entre vogais ou em encontro consonantal no português.
O articulador ativo, o ápice da língua, toca rapidamente o articulador passivo, que são os
alvéolos, ocorrendo uma rápida obstrução da passagem da corrente de ar através da boca.
Exemplos: cara (entre vogais), Brasil (encontro consonantal).
• Vibrante – Escrito com a letra “r” no começo da palavra ou com 2 “r”s. A língua, que é o
articulador ativo, toca os alvéolos várias vezes, causando vibração. Ocorre em certas varia-
ções dialetais como no português de São Paulo, capital, como em rata, marra. Vocês já repa-
raram no Faustão falando – “Orra meu!”? Ele pronuncia os dois ‘rs’ com este pronúncia.
• Retroflexa – Escrito com a letra “r”, produzido com o levantamento e encurvamento da
ponta da língua em direção ao palato duro. A ideia de retroflexa é a de que retro significa
para trás e flexa deriva de flexão, dobramento. A língua retro flexiona. Exemplos: mar, porta.
• Laterais - A corrente de ar é obstruída na linha central do trato vocal e o ar então é expelido
por ambos os lados desta obstrução. Exemplo: lar, palha.
22
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
o segundo segmento vocálico “u”, que é uma vogal arredondada, determina a propriedade de
arredondamento dos lábios.
A seguir as articulações secundárias das consoantes da língua portuguesa:
GLOSSÁRIO
Diacrítico: (do grego
διακρητικός, que distin-
gue) é um sinal gráfico
que se coloca sobre,
sob ou através de uma
letra para alterar a sua
realização fonética, isto
é, o seu som, ou para
marcar qualquer outra
característica linguís-
tica.
Fonte: Disponível em
http://pt.wikipedia.org/
wikipédia/sânscrito.
Acesso em 9 jun. 2010.
23
UAB/Unimontes - 2º Período
▲
Figura 24: Região 2.3.7 Classificação e transcrição das consoantes do português
Nordeste do Brasil
Fonte: Disponível em
pt.wiktionary.org. Acesso O Quadro 2 mostra as consoantes do português, sua classificação e produção.
em 9 jun. 2010.
Quadro 2
As Consoantes do Português
ARTiCULAÇÃO
MAnEiRA LUGAR
bilabial Lábio dental dental ou Alveolar Alveopalatal Palatal Velar Glotal
desv.
Oclusiva
Voz.
desv.
Africada
Voz.
desv.
Fricativa
Voz. ɣ
Tepe Voz.
Vibrante Voz.
Retroflexa Voz. ɺ
24
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
Quadro 3:
Classificação das consoantes do português
Exemplo Ortográfico
Classificação
(a combinação de Transcrição
Símbolo do segmento Observação
letras ou a letra está Fonética
consonantal
sublinhada)
25
UAB/Unimontes - 2º Período
26
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
A) O tepe alveolar
O português brasileiro possui sete sons para o “r” ortográfico. Discutiremos cada um nesta
seção. O primeiro é o tepe alveolar. A palavra “Araraquara” tem três “r” tepes.
As palavras acima possuem o mesmo som de “r” ortográfico, conhecido, também, como
“r fraco”. Esse som é classificado como o tepe alveolar vozeado [R], pois é produzido com um
toque no alvéolo e as cordas vocais estão vibrando. Os contextos típicos em que o tepe ocor-
re no português brasileiro são, como mostra o exemplo 1, seguindo uma consoante que ocorre
27
UAB/Unimontes - 2º Período
B) O “r” forte
GLOSSÁRIO
Intervocálico: entre ◄ Figura 27: O rato roeu a
vogais roupa do rei de Roma
Fonte: Disponível em
http://clickeaprenda.uol.
com.br/cgi-local/lib-site.
Acesso em 9 jun. 2010.
O segundo som corresponde aos “rr” (dois erres) ortográficos no contexto intervocálico
como em ‘carro’, ou “r” no início da palavra como em ‘rato’, também conhecido como “r forte”.
Veja os exemplos abaixo, que representam o dialeto de Belo Horizonte.
Carro [kahU] rato [hatU]
Em São Paulo, alguns falantes da capital pronunciam esse mesmo “r” como alveolar vibrante,
como mencionado anteriormente. O Faustão pronuncia esse “r”’. É transcrito como rà como em:
Carro [karU] rato [ ratU]
A letra “r” pode pronunciada, neste contexto, como [h] em Minas Gerais, em São Paulo em
certos dialetos como [ r ] e no Rio de Janeiro como [X].
No final de sílaba, o “r” pode variar dependendo do dialeto. Por exemplo, na palavra ‘bar’,
em São Paulo-capital, este pode ser pronunciado como tepe.
28
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
Ainda em alguns falantes de São Paulo, Paraná e no sul de Minas Gerais, encontramos diale-
tos na qual o “r” no final de sílaba é pronunciado retroflexo.
[ba] ou carta [kata]
Dica
Muitas pessoas reco-
nhecem o “r” retroflexo
Em Minas Gerais (no norte de Minas, por exemplo), o “r” no final de sílaba é pronunciado como o “r” do caipira.
como a fricativa glotal desvozeada:
[bah] ou carta [kahta]
Quadro 4
Os “rs” do Português
As Consoantes Sibilantes [s S z Z]
Dica
as cobras sibilam,
então, lembrem-se do ◄ Figura 30: Cobra
som que esse animal Fonte: Disponível em
produz para associar http://www.abcdmaior.
aos sons dessas frica- com.br/blog.php?p=64&.
tivas Acesso em 9 jun. 2010.
Estes sons fricativos [s S z Z] podem ser agrupados e são denominados sibilantes. Discutire-
mos, a seguir, suas ocorrências:
Quando o “s” ortográfico ocorre em final de sílaba seguido de consoante vozeada, é pro-
nunciado com o som de fricativa vozeada, devido ao processo fonológico denominado assimi-
lação. Assimilação é caracterizada pelo fato de um som adquirir uma propriedade fonética de
um segmento vizinho, como, por exemplo, a propriedade de vozeamento ou nasalidade (SILVA,
1999).
30
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
Quadro 5
Distribuição das sibilantes [s S z Z] no Português
DICA
Toda vogal que precede
um som nasal é nasali-
zada, portanto, coloque
um til (~) acima
O português possui três sons nasais:
Os sons são denominados laterais porque a corrente de ar é expelida pelas laterais da boca.
Exemplos: lado [ladU]
Palhaço [paasU]
31
UAB/Unimontes - 2º Período
2.4 As vogais
As vogais, diferentemente das consoantes, são sons produzidos
sem a aproximação de dois articuladores. Portanto, são mais difíceis de
serem explicadas. Como são classificadas então?
▲
Quadro 6
Figura 33: As vogais
As vogais tônicas orais do português
Fonte: Disponível em
http://bloguinfo.blogspot.
com/2009/06/atividades- Anterior Central Posterior
-com-vogais-2.html.
Acesso em 9 jun. 2010. Arred Não arred. Não arred. Arred Não arred.
Alta i u
Média-alta e o
Média-baixa E ɔ
DICA
Baixa a
Vocalização quer dizer
transformar em vogal. Fonte: SILVA, 1999, p. 55.
Quadro 7
As vogais nasais do português
32
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
Os segmentos vocálicos podem ser classificados como altos, médios ou baixos, quanto a al-
tura da língua na cavidade oral no eixo vertical. Quando, na produção de um segmento vocálico,
a língua encontra-se na parte superior da cavidade oral em um ponto alto, estes segmentos vo-
cálicos produzidos são chamados vogais altas.
Os segmentos /i/ e o /u/, por exemplo, são classificados como vogais altas, pois durante sua
produção, a língua encontra-se elevada dentro da cavidade oral. Os segmentos vocálicos produ-
zidos quando o corpo da língua encontra-se em um ponto baixo em oposição ao ponto alto, são
denominados vogais baixas, por exemplo, o /a/. Quando a posição da língua é intermediária, te-
mos vogais médias.
Dependendo da língua, pode haver alturas intermediárias, quanto à caracterização das vo-
gais médias. Na descrição do português, há quatro níveis de altura: alta, média-alta, média-baixa
e baixa (SILVA, 1999 a). Na descrição das vogais, Ladefoged (1982) considera três níveis de altura:
alta, média e baixa.
A figura 35 indica a posição da altura da língua durante a articulação dos segmentos vocá-
licos. No diagrama da esquerda, o segmento /i/ é classificado como alto. Os segmentos /e, E/
são classificados como médios e o segmento /a/ é classificado como baixo. Já no diagrama da
direita, o segmento /u/ é classificado como alto, os segmentos /o, ɔ / classificados como mé-
dios. E o segmento /A/ é classificado como baixo. A diferença entre o diagrama da esquerda e o
da direita está no grau de anterioridade e posterioridade da língua, que será discutido, a seguir.
Os segmentos vocálicos podem ser classificados também pelo grau de anterioridade e pos-
terioridade da língua. Nesse caso, é considerada a posição da língua no eixo horizontal da cavida-
de bucal, dividindo-a em três partes. Se, na produção da vogal, o corpo da língua estiver na parte
da frente da cavidade bucal, a vogal é classificada como anterior. Se o corpo da língua estiver na
parte média da cavidade bucal, a vogal é classificada como central e, finalmente, se o corpo da
língua estiver na parte de trás da cavidade bucal, a vogal é classificada como posterior.
Na figura 35, as vogais do diagrama da esquerda são classificadas como vogais anteriores
/i, e, E, a /. As vogais do diagrama da direita são classificadas como vogais posteriores / u, o, ɔ,
A /. Dos segmentos a serem analisados neste trabalho, podemos, portanto, classificar a vogal /i/
como anterior e a vogal /u/ como posterior.
33
UAB/Unimontes - 2º Período
(a) Lábios estendidos; (b) Posição neutra; (c) Arredondamento aberto; (d) Arredondamen-
to fechado.
Na Figura 36, os lábios encontram-se estendidos em (a), na posição neutra em (b), em
posição de arredondamento aberto em (c) e, finalmente, em posição de arredondamento fe-
chado em (d) (JONES, 1969).
Figura 37: As pregas ou Nesta seção, trataremos da noção de vozeamento e de qualidade vocálica. Essas duas no-
cordas vocais ções são muito importantes para a compreensão dos segmentos vocálicos.
Fonte: Disponível em
http://www.nabocado-
mundo.com/portal/colu-
nas/ler/34/jose_ Acesso 2.4.2.1 Vozeamento
em 9 jun. 2010.
▼
O ar que sai dos pulmões para a produção dos sons da fala sobe
pela traqueia, laringe e, nesse ponto, passa entre dois pequenos mús-
culos denominados cordas vocais (Figura 37). Se as cordas vocais esti-
verem separadas, como geralmente estão quando respiramos normal-
mente, a corrente de ar que sai dos pulmões passará livremente em
direção à boca. Porém, se as cordas vocais estiverem se aproximando,
deixando apenas uma abertura estreita para a passagem da corrente de
ar, essa corrente de ar causará vibração das cordas vocais.
Os sons produzidos com a vibração das cordas vocais são chama-
dos de sons vozeados. Por sua vez, os sons produzidos com as cordas
vocais abertas (quando não ocorre vibração das cordas vocais) são de-
nominados sons desvozeados. O grau de vozeamento dos segmentos é, em geral, importante
para a distinção dos sons nas línguas naturais. Por exemplo, em português, temos as palavras
“faca” /faka/ e “vaca” /vaka/, sendo que o que basicamente distingue essas palavras é o
som inicial. O som /f/ é desvozeado e o som /v/ é vozeado.
34
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
As vogais produzidas isoladamente são tipicamente vozeadas, ou seja, produzidas com a vi-
bração das cordas vocais. No entanto, dependendo do contexto, os segmentos vocálicos podem
ser desvozeados. Ou seja, pode-se ter segmentos vocálicos produzidos com ausência de vozea-
mento. Em certos contextos, quando os segmentos adquirem uma característica fonética de sons
vizinhos, uma vogal tende a se tornar desvozeada. Por exemplo, no português brasileiro, o som
/U/ final que antecede o /t/ em ‘pato’ /patU8/, pode ser classificado como desvozeado. Isso se
deve ao fato da vogal final /U/ assimilar a propriedade de desvozeamento do som anterior /t/,
que é um segmento desvozeado. Utiliza-se o símbolo de um círculo colocado abaixo da vogal
para indicar o desvozeamento. A ausência desse diacrítico expressa que a vogal é vozeada.
2.4.2.3 Nasalização
35
UAB/Unimontes - 2º Período
2.4.2.4 Duração
2.4.2.5 Tensão
Os segmentos vocálicos podem também ser classificados como tensos e frouxos. Os seg-
mentos frouxos são aqueles segmentos produzidos com menor esforço muscular em relação
a um segmento tenso. Por exemplo, no português brasileiro, os segmentos vocálicos frouxos
tendem a ocorrer em posição átona final, como em “sapo” [sapU], “táxi” [taksI]. Já os segmentos
36
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
tensos, em português, ocorrem em posição tônica e pretônica como em “jacu” [Zaku] e “Paris”
[paRis]. Podemos concluir que no português do Brasil a relação entre segmentos vocálicos ten-
sos e frouxos é intimamente associada à proeminência acentual ou tonicidade.
Os ditongos serão discutidos na próxima seção.
2.5 Os ditongos
O ditongo é composto por uma sequência de segmentos vocálicos sendo que um é inter-
pretado fonologicamente como uma vogal e o outro
é interpretado como glide. Utilizaremos esse termo
por ser abrangente, pois é conhecido, também, como
semivogal, semiconsoante, semicontoide ou semivo- ◄ Figura 43: Ditongos do
português
coide. Em um ditongo, a vogal e o glide são pronun-
Fonte: Disponível em
ciados na mesma sílaba, como em: pais [paIs]. É uma http://4.bp.blogspot.com.
ocorrência diferente do hiato, em que há duas vogais Acesso em 9 jun. 2010.
que são pronunciadas em sílabas distintas, como em
país [pa.is].
Existem dois tipos de ditongo em português:
a. Ditongo crescente – mágoa [ma.gU9a]
b. Ditongo decrescente – riu [hiU9]
O ditongo crescente é composto por um gli-
de (semivogal ou semiconsoante) e uma vogal, e o
decrescente é composto por uma vogal e um glide,
como podemos observar nos exemplos acima. A se-
guir, listamos estes ditongos do português brasileiro, exemplificando-os e transcrevendo-os:
Quadro 8
Ditongos crescentes do português brasileiro
Em (a) do quadro 8, é ilustrado um exemplo que contém o ditongo [jo]. Nesse caso, a ocor-
rência do ditongo é obrigatória. Em (b-g), o ditongo pode apresentar uma pronúncia alternativa
que é ilustrada para cada caso. Em (b-d), o ditongo inicia-se na área vocálica de [I] L; em (e-g), o
ditongo inicia-se na área vocálica de [U]. Nos exemplos do quadro 9 são ilustrados os ditongos
decrescentes do português brasileiro.
37
UAB/Unimontes - 2º Período
Quadro 9
Ditongos decrescentes do português brasileiro
Nos exemplos de a-f, no quadro 9, o ditongo termina na área vocálica de [I]. Nos exemplos
de g-k, o ditongo termina na área vocálica de [U]. Nos casos ilustrados em a-k, a ocorrência de
um ditongo é obrigatória.
Nos casos ilustrados em l-m, o ditongo decrescente pode alternar com uma sequência de
vogais. Em português, ocorrem também glides intervocálicos. Exemplos são apresentados no
quadro 10.
Quadro 10
DICA Glides intervocálicos
Quando o glide é inter-
pretado como semivo- Ditongo Exemplo Transcrição
gal, é transcrito por um
símbolo vocálico, como [aI] “saia” [saIa]
em [U I]. Quando
este é interpretado [eI] “teia” [teIa]
como uma semiconso-
ante, é transcrito por “goiaba’’
um símbolo consonan- [oI] [goIaba]
tal como [w j].
Fonte: SILVA, 1999, p. 55.
38
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
2.6 A sílaba
A maioria das pessoas, sendo de preferência falantes nativos da língua em questão, conse-
gue dizer sem dificuldade quantas sílabas contém em uma palavra ou em um enunciado. Porém,
com frequência, os falantes têm dificuldade em dizer exatamente onde uma sílaba começa e
onde termina. A sílaba pode ser considerada uma unidade reconhecida por todo e qualquer fa-
lante (ABERCROMBIE, 1967).
Uma definição importante para este trabalho é a de sílaba. Adotamos a teoria da sílaba
apresentada em Stetson (1951), que define a sílaba em termos do mecanismo de corrente de ar
pulmonar. Essa teoria fundamenta que os músculos respiratórios contraem e relaxam a uma taxa
de aproximadamente cinco vezes por segundo, para que o ar seja expelido em uma sucessão de
pequenos golpes. Cada contração, junto com o golpe de ar, resulta na produção de uma sílaba.
Uma sílaba, portanto, é o produto do modo que o mecanismo de corrente de ar pulmonar fun-
ciona. Sua base é o pulso torácico.
Em vista disso, a sílaba é essencialmente um movimento dos órgãos da fala e não uma ca-
racterística do som da fala. Portanto, a base de uma sílaba é uma breve contração dos músculos
respiratórios, e esta expele uma pequena quantidade de ar dos pulmões. Esse ar expelido neces-
sita de uma passagem no trato vocal em um momento de sua produção e, assim, formam-se os
segmentos.
A sílaba pode ser compreendida como um movimento muscular que se intensifica, atingin-
do um pico ou núcleo e depois uma redução progressiva, conforme demonstrado por Cagliari
(1981) no diagrama representado na figura 44.
De acordo com a figura 44, podemos afirmar que a sílaba é composta de três partes: um
pico ou núcleo que é obrigatório. O núcleo é geralmente preenchido por um segmento vocálico.
As outras duas partes são periféricas e opcionais e são preenchidas por segmentos consonantais.
As partes periféricas podem ser denominadas margens da sílaba.
No português, o núcleo da sílaba é sempre preenchido por um segmento vocálico (Torre-
go, 1998). Considere no português, a palavra “pai” [paI]. O núcleo da sílaba da palavra [paI] é
uma vogal: [a]. Os segmentos periféricos [p] e [I] ocupam posições não nucleares. É importante
salientar que os glides nunca ocupam uma posição de pico nuclear e não podem ser picos silábi-
cos. As vogais tipicamente ocupam o núcleo de uma sílaba.
A sílaba pode ser composta por combinações diferentes de consoantes e vogais. No entan-
to, certas sequências não são permitidas. Existem regras que governam a ordem em que os sons
ocorrem na sílaba e essas regras são denominadas regras fonotáticas. Por exemplo, a vogal [I]
não ocorre na posição final de sílaba no inglês, caso contrário, há violação das regras fonotáticas
nessa língua. Por outro lado, esta vogal ocorre nessa posição no português.
Finalizando, apresentamos a distinção entre sílabas leves e pesadas. Em várias línguas esta
distinção é muito importante, pois o estatuto da sílaba – como pesada ou leve – pode refletir nas
regras de atribuição de acento.
A constituição da sílaba determina o peso silábico. Denominamos sílaba leve a sílaba cujo
pico silábico é constituído por apenas uma vogal ou de um monotongo. A sílaba pesada contém
um pico silábico constituído por (vogal+consoante) ou (vogal+glide) ou (vogal+vogal). Este últi-
mo podendo ser ditongo ou vogal longa.
A noção de sílaba é muito importante para a discussão do acento. Isto porque o pico ou nú-
cleo da sílaba é que recebe o acento. Discutiremos a seguir esta noção.
39
UAB/Unimontes - 2º Período
2.7 O acento
Dica
O acento incide sobre a sílaba tônica ou acentuada e este é produzido com um pulso toráci-
“O serviço mais útil que
os linguistas podem co reforçado, ou seja, há um jato de ar mais forte na produção de uma sílaba tônica em relação às
prestar hoje é varrer a sílabas átonas ou não acentuadas. Tomemos a palavra “livro” [li.vrU], em que a primeira sílaba
ilusão da “deficiência [li] é tônica e a segunda sílaba [vrU] é uma sílaba átona. A vogal acentuada na sílaba tônica é
verbal” e oferecer uma percebida auditivamente como tendo uma duração mais longa e é também produzida com um
noçäo mais adequada volume mais alto. Essa pronúncia mais alta permite-nos diferenciar as vogais acentuadas das não
das relações entre
dialetos-padrão e não acentuadas.
padrão”. William Labov Podemos dizer que uma sílaba mais longa e mais alta, seja em seu tom ou em seu volume, é
(1969). uma sílaba acentuada (CALLOU & LEITE, 1990). O português utiliza o acento de intensidade, que
tem papel distintivo em palavras como ‘sábia’ [sabI] e ‘sabia’ [sabi] e sabiá [sabia].
GLOSSÁRIO
Figura 45: Sabia que o ►
Conceitos básicos da sabiá sabia assoviar?
Fonologia
Fonte: Disponível
Fone: unidade sonora em http://www.
atestada na produção flickr.com/photos/flavio-
da fala, precedendo cb/1208917696/.Acesso
qualquer análise. Os em 9 jun. de 2010.
fones são as vogais e
as consoantes encon-
tradas na transcrição
fonética.
Fonema: unidade
sonora que se distin-
gue funcionalmente
das outras unidades
da língua. Método de
identificação de um
fonema: par mínimo ou
par análogo.
Alofone: unidade que
se relaciona à mani-
festação Fonética de
um fonema. Alofones
de um mesmo fonema
ocorrem em contextos
exclusivos. Método de
identificação: distribui-
ção complementar.
Variantes posicionais:
são alofones que de-
pendem do contexto.
Variantes livres: são
alofones que não de-
pendem do contexto. As vogais tônicas ou acentuadas carregam o acento mais forte da palavra ou o acento pri-
Fonte: SILVA, 1999. mário. A vogal tônica é a vogal que, em relação às outras vogais das outras sílabas da palavra,
tem a proeminência acentual, ou aquela a que é atribuído o acento primário. A vogal tônica de
um enunciado é marcada por um apóstrofo anterior à vogal ou sílaba acentuada: “pá” [pa].
As vogais não acentuadas ou átonas podem ser pretônicas ou postônicas. Ao contrário das
sílabas tônicas, as sílabas átonas podem receber um acento secundário ou totalmente isentas de
acento. As vogais pretônicas antecedem o acento tônico, como por exemplo, a primeira sílaba de
“sapé” [sapE]. As vogais postônicas sucedem o acento tônico, como a segunda sílaba da palavra
“pêra” [per]. A vogal átona também pode ter o acento secundário representado pelo apóstrofo
colocado na parte inferior antes da vogal ou sílaba com este acento, como em “cajá” [kaZa].
A duração de uma vogal pode ser afetada pelo fato da vogal ocorrer em sílaba tônica ou
átona no inglês. Nas sílabas do inglês, a mesma vogal pode ser percebida como mais longa se
ocorrer na sílaba tônica, em relação à mesma vogal em sílaba átona, (LAVER, 1994). Exemplos são
40
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
as palavras “credit” [kred.It] crédito e “sit” [sIt] sentar. Apesar das duas palavras apresenta-
rem o mesmo segmento [I], este terá duração maior na sílaba tônica em “sit” em relação à mes-
ATIVIDADE
ma vogal de “credit”, que ocorre na sílaba átona. Isso acontece devido ao fato da variação em
proeminência da sílaba, pois quanto mais proeminente a sílaba, no caso, a sílaba tônica, maior Vamos praticar a nomen-
clatura relacionada ao
o esforço muscular em sua produção. A sílaba tônica também dispõe de tom mais alto, maior aparelho fonador, a clas-
volume e maior duração ou esforço articulatório, refletindo na performance dos segmentos que sificação das consoantes
a constituem. Por isso, o segmento vocálico é percebido com maior duração na sílaba tônica em e vogais e a transcrição
Fonética?
relação ao seu correspondente em sílaba átona. Vá ao site http://www.
A relação entre o acento primário, secundário e sua ausência compõe o ritmo de línguas de- fonologia.org e acesse o
nominadas acentuais. O ritmo tem a função linguística de organizar a cadeia segmental a uma link “Exercícios/foné-
tica articulatória”. Lá,
estrutura acentual. No entanto, nem todas as línguas naturais utilizam este sistema. Em oposição você terá uma série de
a este sistema de ritmo, estão as línguas tonais cujos núcleos ou picos silábicos carregam tons. exercícios interativos, cujas
Um tom é definido por alturas melódicas. O tom pode ser alto, médio, baixo ou tons intermediá- respostas são apresentadas
no próprio link.
rios como ‘médio-alto’. O dialeto chinês mandarinês é um exemplo de língua tonal. No link “Exercícios/
fonética articulatória”,
você poderá selecionar os
seguintes tópicos:
41
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
Unidade 3
A fonologia
Luci Kikuchi Veloso
Terezinha Maria Marques Teixeira
3.1 Introdução
Esta terceira unidade, intitulada ‘’Fonologia’’, pretende
discutir algumas análises fonológicas do português brasilei-
ro. Serão expostos os passos de uma análise fonológica estru-
tural baseada no modelo fonêmico de Pike (1947). ◄ Figura 46: Kenneth L.
Pike (1912–2000)
A Fonologia é o ramo da linguística que investiga como
Fonte: Disponível em
os sons da fala são distribuídos nas estruturas das línguas na- www.sil.org. Acesso em 9
turais, formando seus sistemas sonoros (KATAMBA, 1989). A jun. de 2010.
Fonologia interpreta os resultados fonéticos em função dos
sistemas sonoros das línguas e dos modelos teóricos linguís-
ticos existentes. Seu principal objetivo é investigar os princí-
pios que governam o modo de organização dos sons nas lín-
guas naturais e explicar suas variações.
Um procedimento comum visando caracterizar a es-
trutura sonora de uma língua é, primeiramente, determinar
quais sons são linguisticamente significativos e como esses
sons se combinam para formar enunciados. O próximo passo
empreendido na pesquisa fonológica é comparar sistemas sonoros diferentes, levantar hipóteses
sobre o comportamento de tais sistemas e, por fim, tentar generalizar como os sistemas sonoros
operam-se nas línguas naturais (CRYSTAL, 1997).
O sistema sonoro de uma língua pode ser analisado fonologicamente em nível segmental,
ou seja, procede-se à análise dos segmentos consonantais e vocálicos. No entanto, várias outras
características fonológicas afetam os segmentos, tais como a sílaba, as palavras, as frases e as
sentenças. A análise de traços fonológicos de unidades maiores que o segmento é uma preocu-
pação de vários modelos fonológicos. Padrões de ritmo, tempo, volume, tom de voz, são geral-
mente estudados pela Fonologia supra-segmental na escola americana e na prosódia na escola
europeia (CRYSTAL, 1997).
Esta seção pretende discutir algumas análises fonológicas no português brasileiro. Serão ex-
postos os passos de uma análise fonológica estrutural baseada no modelo fonêmico de Pike (1947).
43
UAB/Unimontes - 2º Período
Dois fones são tipicamente alofones de um mesmo fonema se tiverem semelhanças arti-
culatórias (MORI, 2001). Contudo, a semelhança articulatória não implica categoricamente em
alofonia. No português, os sons [t] e [tS] são alofones de um mesmo fonema: o fonema /t/. Os
segmentos [t] e [tS] têm semelhança fonética. No português, [t] e [tS] ocorrem em ambientes
exclusivos e por isto são classificados como alofones de um mesmo fonema. O som [tS] ocorre GLOSSÁRIO
antes de /i/ e o som [t] ocorre nos demais ambientes. Dizemos que o fonema /t/ tem os alofones Par mínimo: Ocorre
[t] e [tS]. quando duas sequ-
ências fônicas distin-
guem-se por apenas
um fonema, como,
Assimilação
Fale alto estas duas palavras ou peça para alguém falar e perceba qual som é pronunciado a
letra ‘s’:
• Mesmo
• Testa
Por que falamos assim? Ocorre aí um processo fonológico denominado assimilação. Este
ocorre quando um som torna-se mais semelhante a outro que lhe está próximo, adquirindo uma
propriedade fonética que ele não tinha.
Ou seja, na palavra “mesmo” [mezmU], o ‘s’ é pronunciado com som de ‘z’ porque como o m
é vozeado, o som anterior, que é o ‘s’, fica vozeado também. Se vozearmos o [s], alveolar fricativa
desvozeada, teremos o [z] que é alveolar fricativa vozeada. Em testa [tEst], o ‘s’ é pronunciado
ele mesmo porque o [t] é desvozeado. Assim, o segmento anterior é mantido desvozeado.
45
UAB/Unimontes - 2º Período
A assimilação pode ocorrer tanto com segmentos consonantais quanto com segmentos vo-
cálicos. Veja:
No dialeto mineiro temos como exemplo, a pronúncia de:
• Vestido [vestSidU] / vistido [vIstSidU]
• Pedido [pedZidU] / pidido [pIdZidU]
DICA
Para relembrar a clas- Nos pares vestido [vestSidU] / vistido [vIstSidU] e pedido [pedZidU] / pidido
sificação das vogais da [pIdZidU] temos uma assimilação ou harmonização vocálica em que uma vogal média pre-
língua portuguesa, veja
o Quadro 6 – Unidade tônica cede espaço à correspondente alta da mesma zona articulatória por influência de uma vo-
II. gal tônica, também alta.
Inserção ou epêntese
Ocorre quando há o acréscimo de um segmento à forma básica de um morfema.
Exemplos: rapaz – algumas pessoas pronunciam ‘rapaiz’ [hapaIs] ou ‘voceis’ [voseIs].
Paragoge
Consiste na inclusão de um fonema no fim da palavra. No português moderno, esse proces-
so ocorre, geralmente, em palavras de origem estrangeira. Como exemplo, temos:
• Club [klb] / clube [klubI]
• Restaurant [rEstrnt] / restaurante [hestora)tSI]
Aférese
Consiste na supressão de um ou mais fonemas iniciais da palavra. Exemplo:
“estar” [estah] pronunciado como “ta” [ta]
Síncope
Ocorre com a supressão do fonema no interior da palavra. Ocorre geralmente, em palavras
proparoxítonas, como, por exemplo:
xícara [SikaRa] ou xicra [SikRa]
árvore [aRvoRI] e arvri [aRvRI]
Apócope
Resulta da queda de um fonema no final da palavra. Temos como exemplo a queda do fone-
ma “r” na forma infinitiva dos verbos em português:
• mandar [ma)daR] e mandá [ma)da]
• dizer [dZizeR] e dizê [dZize]
46
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
3.8 Sândi
É um fenômeno que ocorre nas fronteiras das palavras. Em geral, há
queda de vogais ou formação de ditongos ou mesmo ocorrência de cer-
tos sons.
Escrevemos “como uma onda”, porém, ao pronunciarmos essas pa-
lavras juntas, dizemos algo como ‘comumaonda’, não é?
3.9 A neutralização e o ▲
arquifonema
Figura 50:
“Comumaonda no
mar... comumaonda
no mar...” canta Lulu
Santos
A neutralização é um fenômeno que expressa a perda de contraste fonêmico em ambiente Fonte: Disponível em
específico, ou seja, estes fonemas deixam de mudar o significado das palavras em questão. Este www.hoteliernews.com.
fenômeno tem como sua forma mais simples a teoria do fonema, que implica que dois sons que br. Acesso em 9 jun. de
2010.
estão em oposição entre si em uma língua e esta oposição é neutralizada em alguns contextos,
(ROACH, 2002).
Para demonstrar esta perda de contraste fonêmico, utilizamos o arquifonema para indicar
onde se encontram, portanto, esses ambientes específicos e que sons podem ser neutralizados.
O arquifonema expressa, genericamente, uma multiplicidade de possíveis ocorrências de um fo-
nema no sistema de uma dada língua. Para isso, procedemos uma transcrição fonológica e não
uma transcrição fonética. O arquifonema ocorre quando há a neutralização, ou seja, em um dado
ambiente fonológico, dois ou mais fonemas perdem a distinção entre si. No português, temos os
arquifonemas /S R L N/ que explicaremos a seguir.
47
UAB/Unimontes - 2º Período
Nos casos abaixo, também podem ser transcritos pelo arquifonema /R/:
DICA • quando o fonema /h/ ocorre no início da palavra como em rato [hatU], também conheci-
do como r forte,
O contraste fonêmico
ocorre com as sibilantes • quando o fonema /h/ segue uma consoante em outra sílaba como em Israel [Is.hael],
[s S z Z] em início de • no Rio de Janeiro, fala-se o /r/ velar, que é transcrito como: carro [kaxU], rato [xatU],
palavra: sapo [sapU], • em São Paulo, alguns falantes da capital pronunciam este mesmo /r/ como alveolar vibrante
zebra [zebra], chato e é transcrito como: carro [karU], rato [ratU],
[SatU], jato [ZatU], • quando o /r/ é pronunciado como [h] em Minas Gerais, em São Paulo em certos dialetos
e, intervocálico: assa
[asa], asa [aza], acha como [r] e no Rio de Janeiro como [X],
[aSa], haja [aZa]. Nes- • no final de sílaba, o /r/ pode variar dependendo do dialeto, por exemplo, na palavra bar, em
se caso, são fonemas São Paulo, capital, este pode ser pronunciado como tepe: bar [baR],
distintos na língua, pois • em alguns falantes de São Paulo, Paraná e no sul de Minas Gerais, encontramos dialetos na
acarretam mudança qual o /r/ no final de sílaba é pronunciado retroflexo: bar [ba] ou carta [kata],
de significado das
palavras. • em Minas Gerais, na região norte, por exemplo, como a fricativa glotal desvozeada: bar
[bah] ou carta [kahta],
• no Rio de Janeiro, como a fricativa velar desvozeada: bar [baX] ou carta [kaXta],
• quando ocorre no final de sílaba precedendo uma consoante vozeada: no dialeto mineiro -
carga [kag] ou no dialeto carioca - carga [kaɣga].
Estudos apontam que existe uma divergência quanto à análise das vogais orais e nasais do
português.
Alguns autores - Head (1964), Pontes (1972) e Back (1973) - defendem a posição de que exis-
te a oposição fonêmica entre vogais orais e nasais, ou seja, temos no português sete vogais orais
e cinco vogais nasais, como, por exemplo:
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Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
ATIVIDADE
MORI, Angel C. Fonologia: introdução à linguística - domínios e fronteiras. In: MUSSOLINI, F.; BEN-
TO, A. C. (Org.). Introdução à linguística - domínios e fronteiras. São Paulo: Cortez, 2001. v. 1.
PIKE, Kenneth Lee. Phonemics: a technique for reducing languages to writing. Ann Arbor: The
University of Michigan Press, 1947.
ROACH, Peter. English Phonetics and Phonology A Practical Course. Cambridge: Cambridge
University Press. 2002.
49
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
Resumo
Unidade 1
Unidade 2
51
UAB/Unimontes - 2º Período
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Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
Unidade 3
1. A Fonologia é o ramo da linguística que investiga como os sons da fala são distribuídos
nas estruturas das línguas naturais, formando seus sistemas sonoros.
2. O Modelo fonêmico - Um dos objetivos da Fonologia é descrever o sistema sonoro de
uma língua, ou seja, o conjunto de elementos abstratos relacionados entre si que o falante uti-
liza para discriminar e delimitar as unidades significativas de sua língua. A fonêmica propõe-se a
analisar a cadeia sonora das línguas a partir de pressupostos teóricos de tendência estruturalista.
3. Fonemas - O fonema é uma unidade de som capaz de contrastar o significado da palavra.
A mudança de um fonema por outro em um par mínimo, muda o significado destas palavras.
4. Pares mínimos - São duas palavras com cadeia sonora semelhante e o que as diferença é
somente um som, como em ‘pera’ e ‘para’. Somente a segunda vogal das palavras diferencia as
palavras, que têm significado distinto.
5. Distribuição complementar - A distribuição complementar estabelece que, se dois fones
ocorrem em ambientes mutuamente exclusivos, podem ser considerados alofones de um mes-
mo fonema. Dois fones são tipicamente alofones de um mesmo fonema se tiverem semelhanças
articulatórias (MORI, 2001). Contudo, a semelhança articulatória não implica categoricamente em
alofonia. No português, os sons [t] e [tS] são alofones de um mesmo fonema: o fonema [t] Os
segmentos [t] e [tS] têm semelhança fonética. No português, [t] e [tS] ocorrem em ambientes
exclusivos e por isto são classificados como alofones de um mesmo fonema. O som [tS] ocorre
antes de /i/ e o som [t] ocorre nos demais ambientes. Dizemos que o fonema /t/ tem os alofones
[t] e [tS].
6. Variação livre - Quando alguns sons foneticamente semelhantes encontram-se em am-
biente comum sem modificar o significado da palavra, dizemos que estes sons ou alofones estão
em variação livre (CAGLIARI, 1997). Como por exemplo, na palavra “dia” em que temos as pronún-
cias [dZi] ou [di]. Dizemos que os alofones [dZ] e [d],dos exemplos acima, estão em variação
livre. O falante pode usar tanto uma forma quanto a outra, pois não altera o significado da pala-
vra “dia”.
7. Processos fonológicos
7.1. Por transformação
• Assimilação - ocorre quando um som torna-se mais semelhante a outro que lhe está pró-
ximo, adquirindo uma propriedade fonética que ele não tinha. A assimilação pode ocorrer
tanto com segmentos consonantais quanto com segmentos vocálicos.
7.2. Por adição
• Prótese - ocorre quando há o surgimento de um fonema no início da palavra.
• Epêntese ou Inserção - ocorre quando há o acréscimo de um segmento à forma básica de
um morfema.
• Paragoge - consiste na inclusão de um fonema no fim da palavra.
7.3. Processos por supressão
• Aférese - consiste na supressão de um ou mais fonemas iniciais da palavra.
• Síncope - ocorre com a supressão do fonema no interior da palavra.
• Apócope - resulta da queda de um fonema no final da palavra.
8. Enfraquecimento (ou redução) - Certos sons sofrem um processo de enfraquecimento por
causa da articulação fonética resultante que é considerada uma articulação mais frouxa ou de
menor esforço.
9. Sândi - é um fenômeno que ocorre nas fronteiras das palavras, em geral, há queda de vo-
gais ou formação de ditongos ou mesmo ocorrência de certos sons.
10. O arquifonema - expressa, genericamente, uma multiplicidade de possíveis ocorrências,
de um fonema, no sistema de uma dada língua. O arquifonema ocorre quando há uma neutra-
lização, ou seja, em um dado ambiente fonológico, dois ou mais fonemas perdem a distinção
entre si.
10.1. O arquifonema /S/ representa todas as pronúncias possíveis do fonema /s/. Pode variar
conforme a região do falante. O contraste fonêmico entre os fonemas [s S z Z] desaparece.
10.2. O arquifonema /R/ representa todas as pronúncias possíveis do fonema /r/. Pode variar
conforme a região do falante. O contraste fonêmico entre os fonemas [ h r x r( X ɣ]
desaparece.
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UAB/Unimontes - 2º Período
10.3. O arquifonema /L/ representa todas as pronúncias possíveis do fonema /l/. Pode variar
conforme a região do falante. O contraste fonêmico entre os fonemas [,w] desaparece.
10.4. O arquifonema /N/ - estudos apontam que existe uma divergência quanto à análise
das vogais orais e nasais do português. Alguns - defendem a posição de que existe a oposição
fonêmica entre vogais orais e nasais. No entanto, os estudos apresentados por Mattoso Câmara
(1970) demonstram que no português a vogal nasal consiste na combinação de uma vogal oral
com o arquifonema nasal /N/. Para Mattoso Câmara (1970), existem somente sete vogais orais no
português [a,e,E,i,o,ɔ,u].
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Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
Referências
Básicas
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versidade de Brasília, 1996. 341 p.
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cios. São Paulo: Contexto, 1999.
Complementares
BACK, Eurico. São fonemas as vogais nasais do português? Construtora: Revista de Linguística,
Língua e Literatura. Ano 1. No. 4. Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Católi-
ca do Paraná. São Paulo: Editora FID, 1973.
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UAB/Unimontes - 2º Período
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to para obtenção do título de mestre em Letras, na área de concentração em linguística).
56
Letras Espanhol - Fonética e Fonologia do Português
Atividades de
Aprendizagem - AA
1) Vamos praticar a nomenclatura relacionada ao aparelho fonador.
2) Indique a forma ortográfica de cada uma das palavras a seguir, tomando a tabela 2 como base
para a resolução.
1. [Za)tarIs] 6. [sajɔtSi]
2. [to)tU] 7. [paasada]
3. [ve)tU] 8. [kolEZIU]
4. [ba)dZi] 9. [sekwEl]
5. [hatUeR] 10. [kolEgi]
3) Sublinhe as palavras que tenham o som indicado na coluna da esquerda. Você deverá selecio-
nar entre duas e quatro palavras em cada linha.
Ex.: Consoante oclusiva lua sala greve lata
( ) faca / vaca
( ) lares / mar
( ) parar / pirar
( ) flagrar / lograr
( ) feira / beira
( ) turma / durma
( ) dado / tato
( ) porta / torta
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UAB/Unimontes - 2º Período
a – assimilação
b – inserção ou epêntese
c – Enfraquecimento
d - Sândi
1. adevogado ( )
2. olhozamarelos ( )
3. “Ce tem um fosf aí?” ( )
4. tortazul ( )
5. “A turmapelou” ( )
6. mesmo [mezmU] ( )
7. montanhamarela ( )
8. Ruguibi ao invés de rúgbi ( )
7) Nas palavras nota e ronco, a letra “n” representa o mesmo fonema? Justifique a sua resposta.
a) xícara
b) geladeira
c) falha
d) casamento
10) Nos conjuntos abaixo, todos os elementos têm algo em comum, exceto um deles. Circule,
em cada caso, o elemento destoante. Justifique sua resposta com base no elemento destoante e
com base nos outros elementos.
a) (i, u, a)
b) (nh, p, b, t, d)
c) (en, u, an)
d) (m, r, n, nh)
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