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A guerra de libertação da Grécia contra o governo turco otomano na década de 1820


juntou libertação nacional com revolução social enquanto o domínio turco de séculos
era derrubado. Todavia, no início do século XlX, com a população de fala grega do
sudeste europeu espalhada e dividida, estava longe de ser óbvio que uma revolta bem-
sucedida pudesse ocorrer.
0s europeus ocidentais cultos ainda associavam a Grécia à literatura clássica de
Atenas e às epopeias de Homero, por mais que românticas. Mas a triste realidade era
que a conquista otomana do lmpério Bizantino de fala grega trezentos e cinquenta anos
antes, em 1453, havia assinalado a extinção da sociedade grega clássica. Desde aque-
la época, os gregos cristãos pareceram condenados a uma posição de segunda classe
como sÚditos do sultão turco muçulmano, pagando impostos mais altos e submetidos a
trabalho compulsório, entre outras punições.
0s cristãos de fala grega estavam espalhados em boa parte do lmpério Otomano, não
apenas na antiga terra natal, mas também através do Egeu na Ásia Menor e ao longo do
litoral do mar Negro. Séculos de repressão deram lugar a esperanças de liberdade à medida
que o poder otomano decaía no século XVlll e estados ocidentais como França e lnglaterra,
juntamente com o emergente império russo, começavam a se infiltrar nos seus territórios.
A possibilidade de ajuda externa aumentou as esperanças por independência, mas
ela nunca apareceu
- mais recentemente, em I77O, quando os rebeldes esperavam a
ajuda de Catarina a Grande da Rússia, mas ficaram desapontados quando ela ganhou
território para a Rússia e depois os deixou entregues à própria sorte. Contudo, o impacto
da Revolução Francesa na desestabilização do Mediterrâneo oriental foi muito mais
importante tanto política quanto ideologicamente. Enquanto o lmpério Russo preocupa-
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va-se principalmente com sua própria expansão territorial, os exércitos revolucionários


franceses trouxeram tipografias e abriram escolas em Corfu, divulgando as ideias de
liberdade e igualdade, bem como o poder francês.
A ocupação de Corfu e outras ilhas jônicas, primeiro pela república francesa em
1797 e depois como uma república fora do lmpério Otomano sob controle britânico
após 1815, era um exemplo próximo de casa de como os gregos podiam se livrar do jugo
otomano, especialmente com ajuda estrangeira. Embora primeiro os franceses e depois
os britânicos, que ocuparam as ilhas Jônicas, fossem estrangeiros, como cristãos com
uma formação clássica, eles trataram os gregos de uma maneira completamente diversa
dos turcos e encorajaram o autogoverno.
Nem todos os gregos apoiavam a independência. Na própria Constantinopla havia
uma presençagrega significativa na burocracia dosultão e um grego leal comandou sua
esquadra durante a guerra de independência. 0s turcos, porém, tendiam a tomar repre-
sálias contra os gregos leais por atos de rebelião e, assim fazendo, foram bem-sucedidos
em alienar muitos deles.

UMA RENASCENçA tÌ{TETECTUAL

A instituição grega mais importante era a lgreja Ortodoxa e por volta de 1800 ela
experimentava um renascimento após gerações de submissão ao sultanato. Embora a
liderança da lgreja em Constantinopla permanecesse nas mãos de homens frequente-
mente corruptos e servis, muitos clérigos comuns na Grécia estavam promovendo um
renascimento das antigas tradições intelectuais da sua lgreja. 0 nível intelectual do
clero não só melhorou e fez reviver o interesse no período bizantino pré-otomano, que
ajudou a reacender o orgulho nacional grego, como também produziu uma consciência
redescoberta da antiga centralidade da Grécia para a cultura ocidental, para lá ïrazida
por viajantes estrangeiros como Byron.
A inÍluência combinada de novas ideias da França e o ressurgimento da ortodoxia
grega estimularam a rebelião. Mas havia também muitas causas socioeconômicas. Em
boa parte do sul dos Bálcãs, os gregos, como outros cristãos, levavam uma vida inferior
em comparação com os muçulmanos. Embora houvesse cristãos proprietários de terra,
a propriedade deles era insegura e pesadamente taxada. A carga dos camponeses sem
terra costumava ser até pior.
Pobreza e ódio contra o domínio turco deram origem a gangues rebeldes que assalta-
vam os passantes no terreno agreste. Os klephts, os bandidos gregos, eram reproduções
de Robin Hood que combinavam roubo com patriotismo. Um dos klephts mais famosos,
O LIVRO DE OURO DAS REVOLUÇOES I 191

0 amplamente reconhecido Parthenon era um dos muitos símb0los que 0s pensadoÍes


ocidentais associavam à Grécia clássica e à
luta pela independência grega.

Theodoros Kolokotronis, começou como salteador, mas conseguiu progredir para


um po_
licial a soldo otoma no (armatolos) e finalmente para a posição ilustre de general patrio_
ta. Apesar de sua vívida biografia, Kolokotronis, no fundo, estava longe de ser apenas
um
bandido. Ele adquiriu um interesse por assuntos estrangeiros, especialmente o impacto
da Revolução Francesa, e argumentou nas suas memórias: ,,A Revolução Francesa
e os
feitos de Napoleão abriram os olhos do mundo."
Uma fonte de elos com o 0cidente era a importante classe mercantilgrega que
cada
vez mais apoiava a independência. Ela entrou com dinheiro e ligações no Ocidente que
ajudaram a promover a causa no exterior.

A LUTA PELA INDEPEilDÊilCIA

Aguerradeindependênciaem 1821 irrompeuemdoisteatrosdiferentes.Aonorte,o


grupo pró-independência "Philiki Etairia", ou "sociedade Amigável", tinha
sido funda_
do em 1814 pela comunidade grega no porto de odessa, no mar Negro, depois
no lmpé-
rio Russo' A Sociedade invadiu a Romênia sob controle turco na esperança de
estimular
uma rebelião entre as comunidades gregas naquele país. 0 objetivo da Sociedade
era a
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"libertação da mãe Pátria", que significava qualquer lugar onde vivessem gregos. A So-
ciedade Amigável tinha apoio russo para desestabilizar o seu rival tradicional, o sultão.
Muitos de seus primeiros integrantes, como o seu líder Alexandros Ypsilantis, tinham
servido ao Exército russo durante as Guerras Napoleônicas. Sua invasão rapidamente
resultou em fiasco, porque os romenos locais não gostavam de seus vizinhos gregos (e
de coletores de impostos) mais do que dos turcos.
Mais ao sul, o sultão deci-
dira destituir um súdito que
ameaçava seu regime: Ali Paxá
de lonanina, no noroeste da
Grécia. Ostensivamente, o go-
vernador do sultão no noroes-
te da Grécia e sul da Albânia,
Ali Paxá, havia se tornado um
vigoroso governante indepen-
dente que iniciou relações
diplomáticas com grandes po-
tências europeias, inclu indo
lnglaterra e França. Ele estava
profundamente influenciado
pela carreira de Napoleão e
aspirava ser o que Byron cha-
mou de um "Bonaparte Muçul-
mano". Em vez de enfrentar a

execução, Ali Paxá se rebelou.


Sua resistência desviou as tro-
pas turcas, permitindo o êxito
da revolta grega mais ao sul.
Pela primeira vez em quatro-
centos anos, grandes partes
da Moreia, ou Peloponeso, no
sul da Grécia, conquistaram
a liberdade do jugo turco. No
que poderia hoje ser chamado
Missolonghi, a famosa cidade grega onde o poeta Lord Byron moneu de malária,
de "limpeza étnica", os gregos
foi também o tema da pintura de Delacroix, Grécia sobre as ruínas de
Missolonghi. forçaram os turcos a abando-
nar seus lares.
O TIVRO DE OURO DAS REVOLUÇÕES I 193

A guerra amargamente travada atraiu idealistas ocidentais, como o poeta Byron, para
o lado grego, que parecia reviver o antigo republicanismo helênico com a constituição
de independência de 1822. A ajuda mais importante veio das grandes potências, que
estavam ansiosas para evitar uma vitória turca que poderia marcar o início de uma
revivescência otomana. Uma esquadra anglo-franco-russa impôs um problema tanto
para gregos quanto turcos por causa da sua declarada neutralidade. Não obstante, a
esquadra atacou navios turcos e egípcios que desafiaram a supremacia naval europeia
e os destruiu em Navarino, em outubro de 1827.0 vigoroso exército turco-egÍpcio em
solo grego foi neutralizado e a perspectiva de uma grande potência muçulmana revivi-
da esvaziou-se. lsto levou efetivamente à independência grega, enquanto o sultão não
podia combater ao mesmo tempo os rebeldes e as grandes potências e ter esperanças
de vitória,
A nova república grega teve vida curta. Seu primeiro presidente foi o ex-diplomata
russo loannis Kapodistrias, cujas ambições para estabelecer um estado moderno centra-
lizado o levaram a entrar em conflito com senhores da guerra rurais que haviam comba-
tido os turcos e com um clã descontente que o matou. As grandes potências estabele-
ceram uma monarquia sem consultar os gregos sobre o que preferiam. Não era a última
vez que o governo dos gregos foi decidido por gente de fora. O problema era que a Grécia
pós-independência tinha um tipo de sistema constitucional europeu ocidental enxertado
em uma sociedade ainda tradictonal e unida, onde rótulos liberais eram engessados
sobre antigas lealdades e inimizades sem resolvê-las. A Guerra de lndependência Grega
foi a primeira guerra de libertação bem-sucedida. Debates sobre se ela conquistou seus
ideais têm assombrado a Grécia desde então.

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