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A instituição grega mais importante era a lgreja Ortodoxa e por volta de 1800 ela
experimentava um renascimento após gerações de submissão ao sultanato. Embora a
liderança da lgreja em Constantinopla permanecesse nas mãos de homens frequente-
mente corruptos e servis, muitos clérigos comuns na Grécia estavam promovendo um
renascimento das antigas tradições intelectuais da sua lgreja. 0 nível intelectual do
clero não só melhorou e fez reviver o interesse no período bizantino pré-otomano, que
ajudou a reacender o orgulho nacional grego, como também produziu uma consciência
redescoberta da antiga centralidade da Grécia para a cultura ocidental, para lá ïrazida
por viajantes estrangeiros como Byron.
A inÍluência combinada de novas ideias da França e o ressurgimento da ortodoxia
grega estimularam a rebelião. Mas havia também muitas causas socioeconômicas. Em
boa parte do sul dos Bálcãs, os gregos, como outros cristãos, levavam uma vida inferior
em comparação com os muçulmanos. Embora houvesse cristãos proprietários de terra,
a propriedade deles era insegura e pesadamente taxada. A carga dos camponeses sem
terra costumava ser até pior.
Pobreza e ódio contra o domínio turco deram origem a gangues rebeldes que assalta-
vam os passantes no terreno agreste. Os klephts, os bandidos gregos, eram reproduções
de Robin Hood que combinavam roubo com patriotismo. Um dos klephts mais famosos,
O LIVRO DE OURO DAS REVOLUÇOES I 191
"libertação da mãe Pátria", que significava qualquer lugar onde vivessem gregos. A So-
ciedade Amigável tinha apoio russo para desestabilizar o seu rival tradicional, o sultão.
Muitos de seus primeiros integrantes, como o seu líder Alexandros Ypsilantis, tinham
servido ao Exército russo durante as Guerras Napoleônicas. Sua invasão rapidamente
resultou em fiasco, porque os romenos locais não gostavam de seus vizinhos gregos (e
de coletores de impostos) mais do que dos turcos.
Mais ao sul, o sultão deci-
dira destituir um súdito que
ameaçava seu regime: Ali Paxá
de lonanina, no noroeste da
Grécia. Ostensivamente, o go-
vernador do sultão no noroes-
te da Grécia e sul da Albânia,
Ali Paxá, havia se tornado um
vigoroso governante indepen-
dente que iniciou relações
diplomáticas com grandes po-
tências europeias, inclu indo
lnglaterra e França. Ele estava
profundamente influenciado
pela carreira de Napoleão e
aspirava ser o que Byron cha-
mou de um "Bonaparte Muçul-
mano". Em vez de enfrentar a
A guerra amargamente travada atraiu idealistas ocidentais, como o poeta Byron, para
o lado grego, que parecia reviver o antigo republicanismo helênico com a constituição
de independência de 1822. A ajuda mais importante veio das grandes potências, que
estavam ansiosas para evitar uma vitória turca que poderia marcar o início de uma
revivescência otomana. Uma esquadra anglo-franco-russa impôs um problema tanto
para gregos quanto turcos por causa da sua declarada neutralidade. Não obstante, a
esquadra atacou navios turcos e egípcios que desafiaram a supremacia naval europeia
e os destruiu em Navarino, em outubro de 1827.0 vigoroso exército turco-egÍpcio em
solo grego foi neutralizado e a perspectiva de uma grande potência muçulmana revivi-
da esvaziou-se. lsto levou efetivamente à independência grega, enquanto o sultão não
podia combater ao mesmo tempo os rebeldes e as grandes potências e ter esperanças
de vitória,
A nova república grega teve vida curta. Seu primeiro presidente foi o ex-diplomata
russo loannis Kapodistrias, cujas ambições para estabelecer um estado moderno centra-
lizado o levaram a entrar em conflito com senhores da guerra rurais que haviam comba-
tido os turcos e com um clã descontente que o matou. As grandes potências estabele-
ceram uma monarquia sem consultar os gregos sobre o que preferiam. Não era a última
vez que o governo dos gregos foi decidido por gente de fora. O problema era que a Grécia
pós-independência tinha um tipo de sistema constitucional europeu ocidental enxertado
em uma sociedade ainda tradictonal e unida, onde rótulos liberais eram engessados
sobre antigas lealdades e inimizades sem resolvê-las. A Guerra de lndependência Grega
foi a primeira guerra de libertação bem-sucedida. Debates sobre se ela conquistou seus
ideais têm assombrado a Grécia desde então.