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CURSO

CONTABILIDADE
FINANCEIRA E GERENCIAL
Neves, Maurício

N511c Contabilidade Financeira e Gerencial / Maurício Neves - São


Paulo: Grupo Ibmec Educacional, 2011.

110p.; 20x26 cm

Inclui bibliografia

1. Fundamentos de Contabilidade 2. Questões Relevantes à


Contabilidade 3. Contabilidade Gerencial 4. Orçamento Empresa-
rial - Conceito Geral e Principíos de Planejamento. I. Neves, Mauricio II.
Ibmec Online III. Título.
658.1511

Grupo Ibmec Educacional


2ª Edição - 2011
Sumário
ABERTURA DO CURSO ........................................................................ 05

Carta ao aluno.......................................................................................... 05

Currículo resumido do professor-autor..................................................... 06

Introdução................................................................................................. 07

Objetivos................................................................................................... 07

Diretrizes Pedagógicas............................................................................. 07

MÓDULO 1: Fundamentos da Contabilidade

Unidade 1 - Conceitos Básicos................................................................ 12

Unidade 2 - Princípios e Convenções Contábeis..................................... 19

Unidade 3 - Balanço Patrimonial.............................................................. 23

Unidade 4 - Outros Demonstrativos......................................................... 31

Unidade 5 - Formas de Tributação........................................................... 42

MÓDULO 2: Questões Relevantes à Contabilidade

Unidade 1 - Índices de Estrutura (ou Endividamento).............................. 47

Unidade 2 - Planejamento Tributário........................................................ 62

MÓDULO 3: Fundamentos de Contabilidade Gerencial

Unidade 1 - Contabilidade de Custos e Controle Gerencial..................... 71

Unidade 2 - Comportamento dos Custos................................................. 88

MÓDULO 4: Orçamento Empresarial

Unidade 1 - Conceitos Gerais e Princípios de Planejamento................... 97

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 107

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Abertura do Curso
Carta ao Aluno

Caro(a) aluno(a),

É com imensa satisfação que apresento a disciplina Contabilidade Financeira e Gerencial, disponível
online, especialmente para você que busca um aprendizado agradável, dinâmico e acessível.

A Contabilidade enseja lidar com números, mas existem alguns conceitos teóricos que, se não
estiverem solidificados, não nos permitirão alcançar nosso objetivo em comum. Por isto, a leitura
atenta dos conceitos aliada à prática via exercícios, estudos de casos, atividades, dentre outros, é
o segredo do sucesso.

Portanto, evite pular etapas, pois isto prejudicará as estratégias didáticas cuidadosamente
elaboradas para este material.

Bons estudos!

Maurício Neves

(professor-autor)

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Currículo resumido do professor-autor
Maurício Neves é contador e administrador de empresas, formado pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), com mestrado em Contabilidade e Auditoria pela Fundação Getúlio Vargas
(FGV) do Rio de Janeiro. Possui diploma do curso Advanced Management Program expedido
pela George Washington University (GWU). Professor do Ibmec há dez anos, é colaborador dos
programas executivos MBA Finanças e Legal Law Master (LLM). Desenvolveu vários cursos in-
company pelo Ibmec.

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Introdução
Esta apostila apresentará de forma gradual e objetiva os fundamentos da contabilidade
indispensáveis a sua prática.

Objetivos
Após completar o estudo da disciplina Contabilidade Financeira e Gerencial, você poderá:

• Compreender os principais fundamentos da contabilidade.


• Solucionar questões que envolvam capital, receitas, juros, despesas, dentre outros assuntos
indispensáveis a sua prática.
• Melhorar os índices de produção a partir dos conceitos aprendidos ao longo do curso.

Diretrizes pedagógicas
Tenha sempre em mente que você é o principal agente de sua aprendizagem!

Para um estudo eficaz, siga estas dicas:

• Organize o seu tempo e escolha os melhores dias e horários para você estudar.
• Consulte a bibliografia e o material de apoio.
• Releia o conteúdo sempre que achar necessário.
• Leia as indicações de textos complementares, faça os exercícios de feedback automático e
participe dos fóruns com o seu professor e colegas de turma.
• Procure sempre relacionar o que está estudando com contextos reais.
• Tenha em mãos a sua calculadora financeira HP-12C para a resolução dos problemas
propostos.

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MÓDULO 1
Fundamentos da Contabilidade

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Introdução ao Módulo
A contabilidade surgiu da necessidade do homem de controlar e analisar seus pertences, em
especial o acúmulo de capital. À medida que a sociedade evoluiu e que seus empreendimentos
aumentaram, fez-se necessário um aperfeiçoamento cada vez maior dos mecanismos utilizados.

Podemos dizer que a contabilidade é a ciência que estuda o patrimônio em seu aspecto quantitativo
e qualitativo. Ela é essencial para toda e qualquer pessoa que deseja dar suporte e direcionamento
ao desenvolvimento de seus projetos.
A partir da contabilidade, portanto, você terá a possibilidade de controlar suas conquistas em
metas, ampliando ainda mais seus horizontes.
Esteja atento, pois como a contabilidade é pautada na legislação em vigor, esta disciplina pode
sofrer alterações a qualquer momento. Quando não houver tempo hábil para alterar o material
impresso, as atualizações necessárias serão informadas pelo professor online do seu curso por
meio do ambiente virtual de aprendizagem.

Objetivos
Após completar o estudo deste módulo, você estará apto a:

• Aplicar as principais técnicas relacionadas à contabilidade.


• Solucionar questões relacionadas ao conceito de patrimônio.
• Conceituar capital, receitas, juros e despesas.
• Delinear os princípios e convenções básicos da contabilidade.
• Aplicar demonstrativos.
• Resolver problemas relacionados à aplicação das normas para a tributação dos lucros.

Estrutura do Módulo
Este módulo divide-se nas seguintes unidades:

Unidade 1 – Conceitos Básicos

Unidade 2 – Princípios e Convenções Contábeis

Unidade 3 – Balanço Patrimonial

Unidade 4 – Outros Demonstrativos

Unidade 5 – Formas de Tributação


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Unidade 1 – Conceitos Básicos
Contabilidade é a ciência que estuda o patrimônio em seu aspecto
qualitativo e quantitativo. Tem o objetivo principal de auxiliar no
controle dos bens tangíveis e intangíveis das empresas a partir
de Sistemas Gerenciadores de Patrimônio.

Além disso, a contabilidade potencializa a administração dos custos


gerenciáveis, possibilitando uma melhora gradual de seus lucros ou
a diminuição de seus prejuízos por meio da boa gestão de finanças,
calcadas nos números de relatórios contábeis que dão suporte às
suas tomadas de decisões.
A contabilidade funciona também como um regulador fiscal,
calculando impostos e mantendo em dia suas obrigações acessórias.
Portanto, o controle e conhecimento profundo da contabilidade,
em conjunto com a legislação fiscal, proporcionam uma grande
economia em impostos para uma empresa por meio de um bom
planejamento tributário.
Mas a contabilidade, assim como as demais ciências, deve dispor de uma série de técnicas para
atingir suas finalidades. Portanto, é necessário aplicar um conjunto de métodos organizados
de forma sistemática, desenvolvidos e postos em execução com o propósito de alcançar um
determinado fim. Conheça essas técnicas a seguir.

Análise de balanços
É um processo de avaliação da situação real do patrimônio.

Escrituração
É o registro em livros próprios, com observância dos princípios e convenções geralmente aceitos
para os fatos administrativos.
A partir da escrituração, desenvolveu-se a técnica de elaboração periódica de relatórios a fim de
demonstrar a evolução patrimonial, bem como os reflexos da administração sobre o patrimônio da
empresa ao longo do tempo.

As principais demonstrações contábeis são:

• Balanço patrimonial.

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• Demonstração do resultado do exercício.
• Demonstração das mutações do patrimônio líquido.
• Demonstração do fluxo de caixa (obrigatória para empresas com patrimônio líquido superior a
R$ 2 milhões).
• Demonstração do valor adicionado (obrigatória para as companhias abertas).
• Notas explicativas.

Auditoria
Tem por finalidade a validação das demonstrações contábeis de forma a assegurar sua
fidedignidade.

Patrimônio
Patrimônio é o conjunto dos bens, direitos e obrigações de uma empresa. É formado pelos
patrimônios ativo e passivo.

Ativo
O patrimônio ativo representa o conjunto dos bens e direitos controlados por
uma empresa, derivados de eventos passados e que tenham potencial de
gerar fluxos de caixa futuros.

Também podemos dizer que os ativos representam as aplicações de uma


empresa, ou seja, aquelas em que ela investiu os recursos que recebeu.

Os bens de uma empresa podem ser definidos como: móveis, imóveis,


tangíveis e intangíveis.

• Bens móveis - são todos aqueles que podem ser removidos sem danos.
Exemplos: automóvel, dinheiro em espécie etc.
• Bens imóveis - são aqueles que não podem ser deslocados. Exemplo: edificações.
• Bens tangíveis - são o patrimônio material de uma empresa, ou seja, os bens físicos. Exemplo:
máquinas.
• Bens intangíveis - são os bens incorpóreos de uma entidade. Exemplos: marcas e patentes.
• Direitos - são os valores que a empresa tem a receber de terceiros como resultado de operações
de venda a prazo de bens e/ou serviços. Exemplo: contas a receber.

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Passivo
Passivos representam obrigações presentes, derivadas de eventos passados que tragam
expectativa de redução futura de ativos, por ocasião de sua liquidação.

Exemplos: contas a pagar, impostos a pagar, encargos, financiamentos etc.

Passivos, então, representam recursos de terceiros devidos a terceiros que financiaram a empresa
vendendo a prazo, concedendo empréstimos ou aceitando esperar para receber por serviços
prestados ou impostos devidos.

Patrimônio líquido
Para definir a situação patrimonial líquida de uma empresa, basta calcular a diferença entre o
ativo (A) e o passivo (P).

A - P = PL

Se todos os compromissos com terceiros já estão cobertos, o que sobra (o PL, Patrimôminio
Líquido) pertence aos acionistas da empresa.

Quando confrontamos o total do ativo com o total do passivo, podemos encontrar uma das três
situações seguintes:

1. Se ativo é igual a passivo, significa que tudo que a empresa tem está comprometido com os
terceiros a quem ela deve. Isto é, se ela liquidasse todos os seus ativos e utilizasse os recursos
para liquidar suas dívidas, não sobraria nada para os acionistas.

Por isso, dizemos que, quando A (ativo) = P (passivo), o PL (patrimônio líquido), que representa
a parcela de ativos líquida de dívidas, será igual a zero.

Ativo = $10000 Passivo = $ 10000

2. Se ativo é maior que passivo, significa que, se a empresa liquidasse todos os seus ativos e
utilizasse os recursos para liquidar suas dívidas, sobrariam recursos para os acionistas. Por
isto, dizemos que, quando A > P, o PL será positivo, indicando que a empresa é saudável por
possuir riqueza própria.

Para manter a igualdade entre origens e aplicações de recursos, graficamente apresentaríamos


o patrimônio líquido à direita no balanço patrimonial.

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Passivo = $ 8000
Ativo = $10000
PL = $ 2000

3. Se, por outro lado, o passivo é maior do que o ativo da empresa, significa que o conjunto de
bens e direitos que ela possui são insuficientes para honrar todas as suas dívidas. Ou seja, se
A < P, o PL será negativo, situação conhecida como passivo a descoberto.

Uma empresa com PL negativo está em sérias dificuldades financeiras. Para manter a igualdade
entre origens e aplicações de recursos, graficamente apresentaríamos o patrimônio líquido à
esquerda no balanço patrimonial.

Ativo = $7000
Passivo = $ 10000
PL = $3000

Em resumo, podemos dizer que a situação líquida (outra forma de nos referirmos ao patrimônio
líquido de uma empresa) pode ser:

• Favorável - ativo maior que o passivo (patrimônio líquido positivo).


• Desfavorável - ativo menor que o passivo.
• Nula ou compensada - ativo igual ao passivo.

Representação gráfica do patrimônio de uma empresa


Bens Passivo
Direitos Patrimônio Líquido
Ativo total Passivo + PL total

Patrimônio e capital
Capital é a soma dos recursos acumulados que se destinam à produção de novas riquezas. Na
contabilidade, a palavra capital tem vários significados distintos em função dos elementos do
patrimônio.

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Capital de terceiros ou passivo
É a aplicação de recursos provenientes de financiadores e
fornecedores, constituindo o passivo exigível ou o passivo real.

Capital social
É representado pelos valores que os sócios investem em suas
empresas. O capital social de uma empresa pode assumir três
denominações em função do seu grau ou intenção de realização.

(1) Capital autorizado

Qualquer alteração no capital social somente poderá ser realizada por intermédio de mudança
no estatuto, contrato ou registro da empresa na junta comercial ou cartório de registro civil das
pessoas jurídicas, conforme o caso.

Para evitar tais transtornos, a Lei 6404/76 instituiu a figura do capital autorizado a partir do qual as
sociedades anônimas podem delegar ao conselho de administração o aumento do capital social
até um determinado limite a ser autorizado.

Em outras palavras, quando se prepara os estatutos de uma empresa que está para ser
constituída, geralmente se registra um volume de capital maior do que aquele que os sócios estão
comprometidos a aportar.

Desta forma, este valor total (capital autorizado) fica estabelecido como o montante ou teto que o
capital da empresa pode crescer no futuro a partir de incorporação de lucros ou novos aportes dos
acionistas, sem que a empresa precise registrar um novo estatuto, porque o próprio Conselho de
Administração pode aprovar.

(2) Capital subscrito

É o montante do capital autorizado que conta com efetivo compromisso de


aporte por parte dos acionistas.

(3) Capital integralizado

É o montante do capital subscrito que já foi efetivamente aportado pelos sócios.


Este aporte tanto pode se dar em espécie ou em bens (ex.: prédios, máquinas,
terrenos etc.).

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Exemplo: suponha que dois sócios irão abrir uma empresa e aportar um capital de R$ 100.000,
cada um, sendo que 70% do aporte será feito à vista e o saldo será devidamente aportado em 6
meses.

Os sócios acreditam que a empresa tem condições de crescer seu capital em 50% nos próximos 3
anos, por isso decidiram registrar um capital autorizado de R$ 300.000 no estatuto da empresa.

Se olharmos a fundo a composição da conta capital social desta empresa, encontraríamos a


seguinte posição:

capital autorizado R$ 300.000,00


( - ) capital a subscrever (R$ 100.000,00)
= capital subscrito R$ 200.000,00
( - ) capital a integralizar (R$ 60.000,00)
= capital integralizado R$ 140.000,00

Receitas, Custos e Despesas

Receitas
São aumentos nos benefícios econômicos durante o período
contábil sob a forma de entrada de recursos ou aumento de ativos
ou diminuição de passivos.

Geralmente derivam da venda de produtos ou prestação de serviços


por parte da empresa ou retorno de investimentos/aplicações
realizadas ou mesmo pela redução/obtenção de descontos em
relação a dívidas que deveriam ser pagas.

Exemplos: Receita de Vendas, Receita de Juros, Receita com descontos recebidos etc.

As receitas aumentam o patrimônio líquido da empresa sem que haja novo aporte de capital por
parte dos sócios da empresa.

Despesas
São reduções nos benefícios econômicos durante o período contábil sob a forma de saída de
recursos, redução de ativos ou aumento de passivos. Exemplo: despesas administrativas, despesas
de salários, despesas de energia etc.

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As despesas reduzem o patrimônio líquido da empresa sem que haja nova retirada de capital por
parte dos sócios da empresa.

Custos
Custos são gastos que se diferenciam em relação aos outros em função da sua direta ligação com
a produção do objeto de negócio explorado pela empresa.

Exemplo: suponha que sua empresa seja uma fábrica de camisas masculinas. Você paga salário
tanto para a costureira quanto para a secretária da empresa. O salário da secretária é um gasto
classificado como despesa, enquanto que o salário da costureira é um gasto classificado como
custo, porque seu fato gerador é a produção do objeto de negócio da empresa: camisas.

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Unidade 2 – Princípios e Convenções Contábeis
A contabilidade é uma ciência ordenada, ou seja, ela é regida por um conjunto básico de princípios
que, no Brasil, são apresentados no Pronunciamento Técnico nº 00, mais conhecido como Estrutura
Conceitual Básica.

O CPC nº 00 nada mais é do que a tradução do Framework dos International Financial Reporting
Standards (IFRS) feita pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e posteriormente
homologada pelo Conselho Federal de Contabilidade (CFC) e pela Comissão de Valores Mobiliários
(CVM), transformando-se na Deliberação CVM nº 539.

Os dois mais importantes princípios apresentados no CPC nº 00 são os seguintes:

Regime de Competência
Para esse princípio, as receitas deverão ser reconhecidas nos resultados em que forem geradas,
independentemente da data do recebimento. Da mesma forma, as despesas e os custos devem
ser apropriados a resultados no momento em que incorrerem, independentemente de terem sido
pagos naquele momento.

Continuidade
As demonstrações contábeis são preparadas partindo do pressuposto de que a empresa vai
continuar a existir por um período indeterminado de tempo. Este ponto é extremamente importante,
pois afeta diretamente a tomada de decisões.

Por exemplo: se você for um fornecedor de matéria-prima para a empresa, faz diferença saber se
ela vai continuar a operar ou se ela estará encerrando suas atividades daqui a 3 meses?

É claro que faz. Se você sabe que ela não é uma empresa em continuidade, você vai tomar
medidas para se proteger, exigindo que qualquer venda que você venha a fazer para esta empresa
seja paga à vista ou por um prazo inferior aos 3 meses, no caso.

Além desses dois princípios básicos, a contabilidade é regida por quatro características qualitativas
que deverão ser observadas na elaboração da informação contábil:

1. Compreensibilidade – a informação contábil deve ser elaborada


de forma a ser facilmente compreensível pelo seu usuário. Logo,
as demonstrações contábeis não podem ser inundadas de
termos técnicos incompreensíveis ou explicações extremamente
complexas.

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Por outro lado, a compreensibilidade não pode ser utilizada como desculpa para a empresa
omitir informações sob o argumento de que a explicação é por demais técnica para ser
universalmente compreendida. O que se espera da empresa é que ela procure uma forma
simples de explicar mesmo os pontos mais complexos de suas operações.

2. Relevância – para serem úteis aos usuários no momento da tomada de decisão, as informações
contábeis devem ser relevantes. As informações são consideradas relevantes quando sua
omissão tiver a capacidade de alterar a decisão eventualmente tomada.

3. Confiabilidade – para ser útil ao usuário, a informação deve ser confiável, ou seja, livre de
vieses ou erros materiais. Uma informação é confiável quando se preocupa em preservar os
seguintes itens:

• Representação adequada – a informação deve apresentar o real valor dos seus ativos, passivos,
ganhos e perdas. Suponha, por exemplo, que você tinha um valor a receber do seu cliente no
montante de R$ 100 milhões. Ocorre que hoje foi veiculada a notícia de que este cliente entrou
em processo de liquidação judicial. A probabilidade de você vir a receber o valor total do seu
direito certamente foi afetada. Desta forma, manter este crédito registrado pelo valor original
não seria uma representação adequada da expectativa de fluxo de caixa futuro que ele tem
potencial de gerar.
• Primazia da essência sobre a forma – a informação contábil deve ser apresentada de forma a
dar ao usuário a real noção sobre a sua essência, independente da sua formalização jurídica.
Suponha, por exemplo, que uma empresa fez um arrendamento (operação de aluguel) de um
equipamento em que todos os riscos e benefícios a serem gerados pelo bem são transferidos
para ela. O prazo do contrato de aluguel é muito próximo do prazo de vida útil do equipamento
e a empresa tem a garantia de que poderá, ao final deste prazo, adquirir o bem por um valor
inferior ao seu valor de mercado. Na essência, a empresa está comprando este bem de forma
financiada. Apesar de a forma jurídica ser a de uma operação de aluguel, a empresa deverá
registrar o bem como um ativo e reconhecer a dívida decorrente do financiamento assumido.
• Neutralidade – a informação contábil deve ser neutra, ou seja, deve ser apresentada de forma a
garantir ao usuário pleno direito de fazer seu próprio julgamento a respeito da saúde financeira
da empresa, sem qualquer tipo de indução ou direcionamento por parte da mesma.
• Prudência – a empresa deve ser prudente no julgamento das premissas a serem utilizadas
para valorar seus ativos e passivos, ganhos e perdas, a fim de evitar que os primeiros sejam
superestimados e os outros subestimados.
• Integridade – a informação deve ser apresentada de forma completa. Ou seja, não é permitido
que eu registre os ganhos quando a situação for favorável e me esqueça de reconhecer as
perdas quando me for conveniente.

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4. Comparabilidade – a informação deve ser apresentada de forma a permitir que o usuário
compare a empresa com ela mesma em relação a períodos anteriores e com outras empresas
do mesmo setor. Desta forma, deve haver plena divulgação das políticas contábeis utilizadas
pela empresa a fim de que o usuário possa identificar e ponderar similaridades e diferenças.
Ao observar estas 4 características qualitativas, a empresa deve, ainda, considerar as seguintes
limitações:

• Materialidade – a relevância da informação pode ser afetada pela sua


materialidade. Por exemplo, ninguém duvida de que a informação sobre
o montante da dívida em moeda estrangeira de uma empresa é um
fator relevante. No entanto, se esta dívida cambial for de R$ 50.000,00
em relação a um endividamento total de R$ 500 milhões, ela não seria
material o bastante para justificar uma nota explicativa à parte só para a
sua evidenciação.
• Tempestividade – uma informação, por mais importante que seja, perde
relevância se sua divulgação for retardada. Por isto, a empresa precisa se
esforçar para divulgar as informações de forma tempestiva. A busca de
maior qualidade não deve ser utilizada para justificar atrasos nocivos.
• Equilíbrio entre Custo e Benefício – o benefício gerado pela informação deve exceder o custo
de sua obtenção.
• Visão Verdadeira e Apropriada – a combinação dos princípios básicos com as características
qualitativas, respeitando os limites a que estão sujeitos, tem por objetivo assegurar uma visão
verdadeira e apropriada da situação patrimonial de uma empresa.

Harmonização das normas contábeis

A internacionalização da economia e a perspectiva de um mercado


único têm propiciado às empresas uma maior diversidade na captação
de recursos e acelerado crescimento na competitividade. Essa realidade
tem despertado nos gestores, de forma geral, a necessidade de
desenvolver um sistema de informações que possibilite harmonizar as
práticas contábeis e que proporcione maior comparabilidade para seus
diversos usuários.
Anteriormente, toda vez que uma empresa realizava negócios fora de
seu país, precisava converter suas demonstrações contábeis para os padrões adotados
localmente, a fim de que eventuais investidores pudessem interpretar corretamente os números
da empresa antes de tomar a decisão de investir ou não na mesma.

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Este processo de conversão das demonstrações contábeis é muito caro e complexo e o efeito
nem sempre é eficaz em eliminar desconfianças e incertezas por parte do investidor.

Surgiu, então, um movimento incentivado pelo IOSCO (International Organization of Securities


Commission), a associação mundial de CVMs, no sentido de adotar um padrão contábil único
em todo o mundo.

A harmonização contábil permitiria um maior controle, por parte dos investidores e analistas
de mercado, sobre os riscos do investimento e uma menor necessidade de especialização em
particularidades e especificidades contábeis que oneram e retardam a dinâmica dos processos
administrativos e decisórios.

O padrão escolhido foi o preparado pelo International Accounting Standards Board (IASB),
conhecido como International Financial Reporting Standards (IFRS). Sendo um órgão privado
e independente, o IASB não tem o poder de obrigar qualquer país a adotar seus padrões
contábeis. O aval para a sua rápida adesão mundial foi dado quando o Parlamento Europeu
determinou que as empresas dos países-membros da Comunidade Econômica Europeia
deveriam publicar suas demonstrações consolidadas pelo IFRS a partir de 2005.

Desde então, o ritmo da adesão ao IFRS se intensificou e hoje mais de


120 países o utilizam ou estão em processo de conversão para o IFRS. A
internacionalização da economia e dos fluxos de capitais desafia a realidade
econômica global e afeta diretamente a performance da gestão empresarial,
principalmente nos investimentos societários e nos financiamentos dos
empreendimentos das corporações.

Tais mudanças, portanto, salientam a necessidade de harmonização das


normas contábeis e de divulgação das informações financeiras, bem como de novas formas
de mensuração do valor da empresa.

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Unidade 3 - Balanço Patrimonial
Na contabilidade, a palavra "balanço“ remete à seguinte fórmula:

Ativo = Passivo + Patrimônio Líquido

Já o termo “patrimonial” refere-se ao patrimônio da empresa, ou seja, ao conjunto de bens, direitos


e obrigações.

Os ativos representam as aplicações de uma empresa, ou


seja, em que itens ela investiu os recursos recebidos (bens
ou direitos). As fontes destes recursos serão as dívidas
assumidas pela empresa (obrigações com terceiros ou
passivo) ou os recursos aportados pelos seus acionistas,
quer na forma de ingresso de capital ou na retenção de
lucros auferidos nas atividades da empresa (capital próprio
ou patrimônio líquido).

Juntando as duas partes, obtém-se a expressão “balanço patrimonial” (BP), que apresenta o total de
ativos de uma empresa de um lado (lado esquerdo do Balanço Patrimonial), e sua correspondente
origem distribuída entre capital próprio e capital de terceiros no lado direito.

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BALANÇO PATRIMONIAL

24
Exercíco findo em 31 de dezembro
2010 2009 2010 2009
NOTA NOTA
(em milhares de R$) (em milhares de R$)
1. ATIVO CIRCULANTE 3. PASSIVO CIRCULANTE
Caixa e Equivalentes a Caixa 12 4.500,00 3.400,00 Fornecedores 42 3.000,00 1.700,00
Ativos Financeiros a Valor Justo
15 1.200,00 900,00 Salários a Pagar 43 800,00 340,00
pelo Resultado
Contas a Receber 16 9.700,00 6.100,00 Empréstimos de Curto Prazo 45 1.200,00 950,00
Estoques 18 6.400,00 3.540,00 Dividendos a Pagar 53 250,00 200,00
Instrumentos Financeiros
Outros Créditos a Receber 24 3.500,00 1.890,00 57 840,00 1.000,00
Derivativos
Despesas Antecipadas 11 900,00 630,00 Impostos a Pagar 68 900,00 630,00
Total do Ativo Circulante 26.200,00 16.460,00 Total Passivo Circulante 6.990,00 4.820,00
2. ATIVO NÃO CIRCULANTE 4. PASSIVO NÃO CIRCULANTE
2.1 REALIZÁVEL A LONGO
9.300,00 5.620,00 Empréstimos a Pagar 45 22.000,00 10.000,00
PRAZO
Contas a Receber 16 5.300,00 2.400,00 Debentures 44 7.000,00 3.400,00
Instrumentos Financeiros
8 1.500,00 1.320,00 Títulos a Pagar 8 700,00 340,00
Derivativos

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Empréstimos a Receber 20 2.500,00 1.900,00 Total Passivo não Circulante 29.700,00 13.740,00
2.2 INVESTIMENTOS 25.400,00 15.500,00 5. PATRIMÔNIO LÍQUIDO
Investimentos em Controladas 33 18.000,00 13.500,00 Capital Social 60 50.000 41.00,00
Investimentos em Coligadas 34 7.400,00 2.000,00 Reserva de Capital 60 280,00 100,00
Reserva de Ajuste a Valor
2.3 IMOBILIZADO 34.000,00 27.000,00 3.670,00 2.400,00
Patrimonial
Máquinas e Equipamentos 12 14.000,00 11.000,00 Reserva Legal 12 2.300,00 1.200,00
Prédios e Edifícios 6 20.000,00 16.000,00 Outras Reservas de Lucro 6 3.260,00 2.190,00
2.4 INTANGÍVEIS 38 1.300,00 870,00 Lucros Acumulados
Total do Ativo Não Circulante 70.000,00 48.990,00 Total do Patrimonio Líquido 59.510,00 46.890,00

PASSIVO + PATRIMONIO
ATIVO TOTAL 96.200,00 65.450,00 96.200,00 65.450,00
LÍQUIDO TOTAL
Grupos de contas do balanço patrimonial
Um bom balanço patrimonial deve ser dividido em grupos de contas, distribuídos por ordem
decrescente de liquidez, como podemos observar na tabela a seguir.

No lado do ativo, são registrados dois grupos: ativo circulante e ativo não circulante.

Ativo circulante
No ativo circulante, são contabilizados todos os lançamentos referentes a contas de curto prazo.
Por curto prazo entende-se o período de 360 dias ou o ciclo operacional da empresa, o que for
maior. O ativo circulante possui cinco subgrupos:

1. Caixa e equivalentes à caixa É um subgrupo composto por contas que representam os


recursos que não possuem restrições para utilização imediata,
tais como: caixa, banco com movimento, aplicações de liquidez
imediata.
2. Contas a receber São os valores que representam vendas de mercadorias e
prestações de serviços.
3. Estoques Representam o coração do objeto de negócio da empresa, ou
seja, os itens que ela explora como negócio.

Por exemplo, se a empresa é uma revendedora de carros, aqui


estarão os automóveis que ela adquiriu do fabricante com o
objetivo de revender para seus clientes. Se a empresa é uma
fabricante de refrigerante, aqui estarão apresentados os itens
de matéria-prima utilizada no processo fabril, nos seus vários
estágios de processamento, bem como os produtos já prontos
para comercialização e consumo.

Quando vendidos, os estoques são baixados do balanço


patrimonial e computados como custo na Demonstração do
Resultado do Exercício a fim de apurar o resultado da transação.
Logo, uma empresa poderá dar lucro ou prejuízo, dependendo
do valor do custo confrontado com a receita.

Existem quatro métodos de apuração de custo para os estoques.


São eles:

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3. Estoques (Continuação) • Preço específico.
• UEPS (último a entrar, primeiro a sair) – por este
critério, o estoque mais recente é sempre baixado
antes que o mais antigo seja computado.
• PEPS (primeiro a entrar, primeiro a sair) – por este
critério, o estoque mais antigo é sempre baixado
antes que o adquirido mais recentemente seja
computado.
• Custo Médio – por este critério, a cada nova
compra de estoque, é calculado o custo médio
do estoque disponível e, em caso de venda, este
valor médio será utilizado para registro da baixa
do estoque.
4. Outros créditos Nesse subgrupo classificam-se os recebíveis não
originários da operação principal da empresa, ativos
marcados a valor justo contra resultado etc.
5. Despesas antecipadas Servem para efetuar os lançamentos referentes
a gastos efetuados por antecipação a sua
competência.

Ativo não circulante


Neste grupo, são registrados todos os ativos que, pelo conceito de liquidez, têm expectativa de
realização superior a 360 dias ou ao ciclo operacional. Existem 4 subgrupos no ativo não circulante.
São eles:

1. Ativo realizável a longo prazo

São classificadas nesse grupo as contas, com a mesma natureza do ativo circulante, que tenham
realização após o término do exercício seguinte.

Também são lançados todos os direitos realizáveis após o termino do exercício seguinte, assim
como os derivados de vendas, adiantamentos ou empréstimos a sociedades controladas ou
coligadas, além de adiantamentos a diretores e ativos disponíveis para a venda.

2. Investimento

Esse subgrupo comporta investimentos como Incentivos Fiscais, participações em outras


sociedades, sendo estas avaliadas pelo método de Equivalência Patrimonial.

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3. Ativo imobilizado

É formado por ativos operacionais que são responsáveis pela geração de produtos e serviços das
empresas. Esses ativos operacionais podem ser de diferentes tipos, tais como: veículos, móveis e
utensílios, máquinas e equipamentos, terrenos, edifícios e equipamentos de informática.

4. Ativo intangível

Neste subgrupo estão classificados todos os ativos incorpóreos da empresa, tais como marcas e
patentes, ágio na aquisição de ações, licenças de uso de software etc.

No lado do passivo, teremos o passivo circulante, o passivo não circulante e o patrimônio líquido.

Passivo circulante
No passivo exigível circulante, são contabilizadas todas as dívidas a serem liquidadas até o
encerramento do exercício seguinte, tais como:

• salários a pagar;
• FGTS a pagar;
• INSS a pagar;
• fornecedores;
• duplicatas a pagar;
• dividendos a pagar;
• empréstimos e financiamentos;
• títulos a pagar;
• impostos a pagar;
• debêntures a pagar etc.

Passivo Não Circulante (Exigível a longo prazo)


No passivo exigível a longo prazo, são contabilizados todos os pagamentos a serem efetuados no
longo prazo, tais como:

• empréstimos e financiamentos;
• debêntures (títulos de dívida emitidos pelas empresas, as debêntures podem ser simples, quando
sua liquidação se dá de forma financeira, ou podem ser conversíveis, quando a liquidação da
dívida se dará sob a modalidade de ações da empresa);

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• retenções contratuais;
• provisão de IR diferido (impostos apurados mas ainda não devidos em função de o ganho só ter
sido apurado do ponto de vista da legislação tributária e não da societária).

Patrimônio líquido
O patrimônio líquido, também chamado de capital próprio ou situação líquida, representa a parcela
de financiamento proporcionado pelo acionista da empresa. O patrimônio líquido é sempre apurado
pela diferença entre ativo e passivo. Os grupos do patrimônio líquido são os seguintes:

1. Capital social - corresponde à parcela aportada pelos sócios nas


empresas ou pelos lucros incorporados ao mesmo.

2. Reserva de capital - são os valores, recebidos pela companhia,


que não transitam pelo resultado, sendo sua contrapartida a entrega
de bens e serviços.

Esse subgrupo é composto da seguinte forma:

• Ágio na emissão de ações


Ocorre quando o novo acionista subscreve tais ações por um valor superior ao seu valor nominal.
Esta diferença será registrada como reserva de capital.

• Alienação de partes beneficiárias e bônus de subscrição


A companhia pode emitir títulos negociáveis como partes beneficiárias e bônus de subscrição,
desde que dentro do limite de aumento de capital autorizado pelo estatuto, que dão direito aos
seus titulares de subscrever ações do capital social mediante apresentação e pagamento do preço
de emissão.

As reservas de capital somente podem ser utilizadas para:

• absorver prejuízos quando estes ultrapassarem lucros


acumulados e reservas de lucros;
• resgatar, reembolsar ou comprar ações;
• resgatar partes beneficiárias;
• incorporar capital;
• pagar dividendos.

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3. Reserva de reavaliação – registra a diferença entre o valor contábil e o valor de mercado
dos bens do ativo imobilizado, sendo lançado a débito da conta do ativo em contrapartida à
reserva de reavaliação. A reavaliação de ativos está proibida no Brasil desde a introdução
da Lei nº11.638\07; logo, as empresas que ainda apresentam estas reservas são aquelas que
tinham reavaliações prévias à Lei e que optaram por não baixar tais avaliações aguardando
sua realização natural por ocasião de baixa ou venda dos ativos reavaliados.

A Lei “11.638” foi publicada em 28/12/2007 e concretizou a revisão do capítulo contábil da Lei
das Sociedades por Ações (Lei nº 6.404/76). Entre outros avanços, ela permite a convergência
das normas contábeis adotadas no Brasil às normas internacionais. Seu conteúdo completo
está disponível na página: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11638.
htm.

Link disponível no ambiente virtual do seu curso.

4. Ajustes de Avaliação Patrimonial – esta conta foi criada pela Lei nº 11.638/07 em preparação
para a adoção do IFRS no Brasil. Seu objetivo é receber a contrapartida da marcação a valor
justo dos ativos classificados como disponíveis à venda.

5. Reservas de lucros – são as contas de reservas constituídas pela apropriação de lucros da


companhia, tais como:

• Reserva legal
Estabelecida por Lei, trata-se de uma reserva compulsória correspondendo a 5% do lucro líquido
ajustado de cada período.

Quando a reserva legal atinge seu limite (20% da conta capital social), ela pode ter seu valor
incorporado ao capital social, a fim de permitir a continuidade da constituição da reserva nos
anos seguintes.

Caso a empresa resolva pela sua não incorporação ao capital, seu valor ficará congelado.

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• Reservas estatutárias
Constituídas de acordo com o estatuto social da empresa.

• Reservas para contingências


Constituídas a fim de minimizar o impacto de redução de lucro por perda julgada como provável.

• Reservas de lucros a realizar


Têm por objetivo evitar que a empresa pague dividendos acima do mínimo obrigatório quando o
lucro ou parcela dele ainda não tiver sido realizado financeiramente.

• Reservas de lucros para expansão


Seu objetivo é cobrir o orçamento necessário para um projeto de expansão da empresa.

• Reserva de incentivos fiscais


Criada pela Lei nº11.638/07 com o objetivo de evitar que a empresa pague dividendos sobre
parcela do lucro do período que tenha sido originada por incentivos fiscais recebidos.

• Reserva especial para dividendo obrigatório não distribuído


Constituída quando a empresa não tem condições financeiras de pagar o dividendo mínimo
obrigatório. Tão logo a empresa tenha condições de pagar o dividendo, esta reserva será
liquidada.

• Ações em Tesouraria
São ações da própria empresa com o objetivo de utilizá-las para honrar compromissos de resgate,
amortização ou reembolso de ações ou com o objetivo de cancelamento. Enquanto permanecerem
no patrimônio líquido, apresentam sinal negativo, reduzindo o valor total.

• Lucros Acumulados
Pela lei nº 11.638/07, o lucro do exercício tem que ter seu destino definido ainda dentro do próprio
período do exercício. Desta forma, a conta “lucros acumulados” se tornou uma conta transitória
utilizada durante o ano para acumular o lucro obtido. Seu valor em 31 de dezembro de cada ano
deverá ser igual a zero.

• Prejuízos Acumulados
Embora o lucro do exercício tenha que ser inteiramente destinado, o mesmo não ocorre com o
prejuízo obtido, que pode ser transferido para ser compensado em exercícios futuros.

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Unidade 4 – Outros Demonstrativos
Além do Balanço Patrimonial, existem outras demonstrações contábeis importantes que serão
apresentadas nesta unidade:

• Demonstração do Resultado do Exercício (DRE)


• Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)
• Demonstração do fluxo de caixa (DFC)
• Demonstração do Valor Adicionado (DVA)

“As demonstrações contábeis são uma representação monetária estruturada da posição


patrimonial e financeira em determinada data e das transações realizadas por uma entidade
no período findo nessa data.

O objetivo das demonstrações contábeis de uso geral é fornecer informações sobre a posição
patrimonial e financeira, o resultado e o fluxo financeiro de uma entidade, que são úteis para
uma ampla variedade de usuários na tomada de decisões. As demonstrações contábeis
também mostram os resultados do gerenciamento, pela Administração, dos recursos que lhe
são confiados.”

Fonte: Deliberação CVM nº 496 (03/01/2006).

Demonstração do Resultado do Exercício (DRE)


Agora você estudará a Demonstração do Resultado de Exercício
(DRE). Trata-se de uma demonstração dedutiva onde se confrontam
as receitas com os custos e despesas do período com o objetivo de
apurar o resultado. Se as receitas forem maiores que as despesas,
a empresa apresentará lucro no período. Caso, por outro lado, as
receitas forem menores que as despesas, a empresa apresentará
prejuízo.

Ela serve para facilitar a análise e a tomada de decisão por meio dos números gerados pelas
operações da empresa. Destaca o resultado líquido do período, possibilita um melhor gerenciamento
dos custos e despesas e garante melhores resultados na gestão empresarial.
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Conceitos fundamentais para DRE
A estrutura da DRE é estabelecida no CPC nº 26 e dividida em duas seções:

• Operações continuadas, que apresentam o resultado da empresas em suas atividades


operacionais normais.
• Operações descontinuadas, que isolam resultados obtidos a partir de produtos e/ou unidades
que foram ou serão vendidas ou terão suas atividades interrompidas, a fim de permitir ao usuário
projetar resultados futuros que levem em consideração sua perda.

Veja um modelo de DRE:

MODELO DE DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO


Exercício findo em 31 de dezembro
2010 2009
OPERAÇÕES EM CONTINUIDADE NOTA
(em milhares de R$)
Receita de Vendas de Mercadorias 5 400.000,00 360.000,00
( - ) Custo das Vendas 16 (235.000,00) (197.000,00)
= Resultado Bruto 165.000,00 163.000,00
( - ) Despesas de Distribuição 7 (6.000,00) (5.400,00)
( - ) Despesas Administrativas 12 (12.000,00) (10.000,00)
( - ) Outras Despesas Operacionais (570,00) (600,00)
( +\- ) Resultado da Equivalencia Patrimonial 16 4.000,00 2.800,00
( - ) Perda s/ Desapropriação de Terrenos (180,00) 0,00
= Resultado Operacional 150.250,00 149.800,00
+ Receitas Financeiras 22 18.000,00 14.000,00
( - ) Despesas Financeiras 22 (25.000,00) (21.400,00)
= Resultado antes de Imposto de Renda 143.250,00 142.400,00
CSSL
( - ) Imposto de Renda e CSSL 34 (70.000,00) (54.300,00)
= Resultado das Operações Continuadas 73.250,00 88.100,00
+ Resultado Líquido após Impostos das
42 (800,00) 0,00
Operações Descontinuadas
= Resultado Líquido do Exercício 72.450,00 88.100,00

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RESULTADO ATRIBUÍDO A:
Participação de Minoritários 46 18.112,50 22.025,00
Acionistas da Companhia 54.337,50 66.075,00
= Resultado Líquido do Exercício 72.450,00 88.100,00
Lucro Básico por Ação:
Das Operações Continuadas 46 1,45 1,23
Das Operações Descontinuadas 0,03 0,02
= Resultado Líquido do Exercício 1,45 1,23
Lucro Diluído por Ação:
Das Operações Continuadas 1,35 1,15
Das Operações Descontinuadas 0,03 0,02
= Resultado Líquido do Exercício 1,35 1,15

Para aplicar a DRE, é preciso conhecer alguns conceitos imprescindíveis, descritos a seguir.

Operações Continuadas
Esta seção é formada pelas seguintes contas:

1. Receita de Vendas de Mercadorias ou Produtos e/ou Prestação de Serviços

São as auferidas pela empresa em função da exploração de seu negócio principal. Devem ser
apresentadas as receitas: líquida de devoluções, vendas canceladas ou descontos concedidos.

2. Custos dos produtos e mercadorias vendidas e dos serviços prestados.

Lembre-se: custo é todo gasto relacionado diretamente à produção de bens e serviços que
representam o negócio explorado pela empresa.

Podemos dizer que o termo custo compreende, obrigatoriamente:

• custo de aquisição de matérias-primas e quaisquer outros bens e serviços,


incluindo também o transporte, o seguro e os tributos devidos a sua aquisição;
• custo de mão de obra aplicado na produção;
• custo de locação, manutenção, reparo e encargos de depreciação dos bens
aplicados na produção;
• encargos de amortização relacionados com a produção;
• encargos de exaustão dos recursos naturais utilizados na produção.

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3. Resultado (lucro) bruto
Representa o resultado líquido da atividade após a dedução dos custos das receitas obtidas.

4. Despesas operacionais
Despesas operacionais são todos os gastos necessários à atividade da empresa que não foram
computados no custo. Tais despesas, entretanto, somente serão dedutíveis para fins fiscais quando
atenderem aos seguintes requisitos, cumulativamente, isto é, de forma combinada:

• devem ser extremamente necessárias;


• devem fazer parte do escopo das atividades ou operações usuais da empresa.

Veja alguns exemplos:

• despesas com distribuição (venda) de produtos e/ou serviços – tais como brindes, promoções,
propaganda, comissões, provisões para devedores duvidosos etc.;
• despesas gerais e administrativas – tais como salários administrativos, aluguéis de escritórios,
energia, telefone etc.;
• parcela do resultado recorrente de ganhos por equivalência patrimonial;
• outras despesas operacionais.

5. Resultado antes das receitas e despesas financeiras – também conhecido como


resultado (lucro) operacional
Representa o resultado líquido da atividade após a dedução das despesas operacionais do
resultado bruto.

6. Resultado Financeiro

É formado por:

Receitas financeiras – remuneração por aplicações financeiras, descontos financeiros recebidos


ou empréstimos concedidos pela empresa.

Dentre as receitas financeiras de uma empresa, podemos citar:

• os juros recebidos;
• os descontos obtidos;
• o lucro nas operações de reporte, que nada mais é do que a diferença positiva entre o mercado
a termo e o mercado à vista de títulos mobiliários.

Despesas financeiras – são todos os juros pagos ou incorridos.


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7. Resultado antes dos tributos sobre o lucro

Resultado Líquido da atividade obtido após dedução do resultado financeiro do resultado


operacional.

Resultado operacional – Resultado financeiro = Resultado Líquido

8. Provisão para Imposto de Renda e Contribuição Social Sobre o Lucro (CSSL)

O lucro apurado segundo as normas societárias vigentes é transportado


para o livro fiscal, no qual são feitos os ajustes na forma de adições e
deduções, de acordo com a legislação fiscal, a fim de encontrar o lucro
tributável. Sobre este lucro tributável serão aplicadas as alíquotas
correspondentes de Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ) e CSSL.

9. Resultado Líquido das Operações Continuadas

O valor apurado após a dedução de IRPJ e CSSL do lucro tributável é o resultado líquido das
operações continuadas.

LT – (IRPJ+CSSL) = Result. Líq. Das Op. Cont.

10. Resultado das Operações Descontinuadas

Os efeitos gerados por produtos ou unidades que a empresa tiver descontinuado no período – por
decisão gerencial, perda por contingência ou alienação – são mostrados nesta seção a fim de
impedir que venham a distorcer a possibilidade de projeções futuras sobre eventuais desempenhos
da empresa.

O International Financial Reporting Standards (IFRS) acabou com o conceito de despesas não
operacionais, antes existente na estrutura da DRE brasileira.

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11. Lucro Líquido do Período

É o resultado final do período.

Se tratar-se de uma demonstração consolidada, onde o resultado acima


apurado será dividido com outros acionistas que minoritariamente detenham
parte do capital da empresa, haverá, ainda, uma última seção.

12. Parcela do lucro atribuída a:

• Sócios controladores – parcela do lucro que pertence à empresa.


• Sócios minoritários – parcela do lucro que pertence aos acionistas minoritários da empresa.

Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL)


Tem por objetivo demonstrar o que aconteceu durante o ano com cada conta do patrimônio líquido,
inclusive qual foi o lucro do período e sua correspondente destinação.

A elaboração da Demonstração das Mutações do Patrimônio Líquido (DMPL) está prevista


no art. 186 da Lei das S/A e sua apresentação, antes facultativa, foi tornada obrigatória pelo
CPC nº 26.

A partir de então, a DMPL passa a ilustrar, ainda, o efeito do resultado abrangente do período,
isto é, eventos que, embora não tenham transitado pela DRE, impactaram no Patrimônio
Líquido, fazendo com que este aumentasse ou reduzisse durante o período, como, por
exemplo, o ajuste a valor de mercado dos títulos disponíveis para a venda.

Veja a seguir um modelo de DMPL.

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Capital Reserva Reserva Reserva Reserva Lucros
DEMONSTRAÇÃO Reserva de Reserva
Social de Incentivos Ajuste a VR p/ investi- Acumu-
DE MUTAÇÃO DO PL Reavaliação Legal
Integralizado Capital Fiscais Patrimonial mentos lados

(em Milhares de R$)


Saldo em 1º janeiro 2009 18.000,00 700,00 200,00 180,00 2.300,00 1.700,00 2.300,00 -
Efeito de mudança de Política Contábil
12 (230,00)

SALDO REAPRESENTADO 18.000,00 700,00 200,00 180,00 2.070,00 1.700,00 2.300,00 0,00-

Resultado do Exercício 12 5.700,00


Outros Resultados Abrangentes 6 2.100,00

RESULTADO ABRANGENTE DO 0,00 0,00 0,00 0,00 2.100,00 0,00 0,00 5.700,00
PERÍODO

Reserva IncentivosFiscais 200,00 (200,00)


Reserva Legal 275,00 (275,00)
Reserva para Investimentos 2.000,00 (2.000,00)
Capitalização de Lucros 1.612,50 (1.612,50)

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Pagamento de Dividendos (1.612,50)

Saldo em 31 de dezembro de 2010 19.612,50 700,00 200,00 380,00 4.170,00 1.975,00 4.300,00 0,00

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Demonstração do fluxo de caixa (DFC)
Indica a origem de todo o dinheiro que entrou no caixa em determinado período de forma condensada
e, ainda, o Resultado do Fluxo Financeiro. Assim como a Demonstração de Resultados de
Exercícios, a DFC é uma demonstração dinâmica e também está contida no balanço patrimonial.

A Demonstração do Fluxo de Caixa indicará quais foram as saídas e as entradas de dinheiro no


caixa durante o período considerado e o resultado desse fluxo. Assim, a partir da confrontação
dos recebimentos com os pagamentos, você poderá obter um superávit financeiro (recebimento
maior que o pagamento) ou, até mesmo, um déficit financeiro (relação com mais dispêndios que
ingressos de numerários).

Veja abaixo um modelo de DFC:

Exercício findo em 31 de
MODELO FLUXO DE CAIXA - MÉTODO DIRETO
dezembro

NOTA 2010 2009

(em milhares de R$)

1. FLUXO DE CAIXA DAS ATIVIDADES OPERACIONAIS


Caixa gerado nas operações 25 24.000,00 18.000,00
( - ) Gastos operacionais (17.000,00) (9.700,00)

= Caixa Líquido das Atividades Operacionais (A) 7.000,00 8.300,00

2. FLUXO DE CAIXA DAS ATIVIDADES DE INVESTIMENTO


Aquisição de coligada 12 (7.000,00) 0,00
Compra de imobilizado 6 (1.800,00) (720,00)
Alienação de valores mobiliários 13 4.300,00 2.900,00
Dividendos Recebidos 17 850,00 540,00

= Caixa Liquido das Atividades de Investimento (B) (3.650,00) 2.720,00

3. FLUXO DE CAIXA DAS ATIVIDADES DE


FINANCIAMENTO
29 0,00 10.000,00
Emissão de Ações
19 1.800,00 700,00
Emissão de Debêndures
15 (3.500,00) (3.000,00)
Amortização de Empréstimos
15 260,00 190,00
Juros Recebidos

= Caixa Líquido das Atividades de Financiamento (C) (1.440,00) 7.890,00

38 Copyright Ibmec
AUMENTO (REDUÇÃO) DE CAIXA E EQUIVALENTES A
1.910,00 18.910,00
CAIXA (A+B+C)

Caixa e Equivalentes a Caixa no início do período 23.740,00 5.600,00


( - ) Efeito do cambio sobre caixa em moedas estrangeiras 37 (340,00) (770,00)

Caixa e Equivalentes a Caixa no fim do período 25.310,00 23.740,00

A Demonstração do Fluxo de Caixa (DFC) passou a ser um relatório obrigatório pela


contabilidade para todas as sociedades de capital aberto ou com patrimônio líquido superior
a R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais). Esta obrigatoriedade vigora desde 01.01.2008, por
força da Lei 11.638/2007, e, desta forma, torna-se mais um importante relatório para a tomada
de decisões gerenciais. A Deliberação CVM 547/2008 aprovou o Pronunciamento Técnico
CPC 03, que trata da demonstração do fluxo de caixa.

A demonstração do fluxo de caixa pode ser levantada tanto através o método direto, quanto pelo
método indireto.

• Fluxo de caixa direto: relaciona todos os ingressos de numerários e dispêndios para o alcance
dos resultados financeiros.
• Fluxo de caixa indireto: parte do lucro líquido do exercício contábil para chegar ao mesmo
resultado financeiro do fluxo direto.

Demonstração do Valor Adicionado (DVA)


Seu objetivo é ilustrar o quanto a empresa adicionou e distribuiu de valor à economia e à sociedade
como um todo.

A DVA não faz parte do conjunto obrigatório de demonstrações contábeis pelo IFRS, mas,
pela Lei nº 11.638/07, foi tornada obrigatória para as companhias abertas.

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A seguir, veja um modelo de DVA.

Exercício findo em 31 de
DEMONSTRAÇÃO DO VALOR ADICIONADO
dezembro

NOTA 2010 2009

(em milhares de R$)

1. RECEITA 18.600,00 14.950,00

Venda de Mercadoria, produtos e serviços 23 18.000,00 14.500,00


Outras Receitas 27 1.500,00 1.200,00
( - ) Perdas com Créditos de Liquidação Duvidosa 34 (900,00) (750,00)

2. INSUMOS ADQUIRIDOS DE TERCEIROS (8.800,00) (6.120,00)

Custo dos produtos, mercadorias e serviços vendidos 12 (7.000,00) (5.400,00)


Perda de valores de ativos 6 (1.800,00) (720,00)

3. VALOR ADICIONADO BRUTO (1-2) 9.800,00 8.830,00

4. DEPRECIAÇÃO, AMORTIZAÇÃO E EXAUSTÃO 9 (2.300,00) (1.780,00)

5. VALOR ADICIONADO LÍQUIDO (3-4) 7.500,00 7.050,00

6. VALOR ADICIONADO RECEBIDO DE TERCEIROS 2.420,00 930,00

Resultado de Equivalencia Patrimonial 19 1.800,00 700,00


Receitas Financeiras 15 620,00 230,00

7. VALOR ADICIONADO TOTAL A DISTRIBUIR 9.920,00 7.980,00

8. PESSOAL (4.184,00) (3.492,00)

Remuneração Direta (2.300,00) (1.900,00)


Benefícios (1.700,00) (1.440,00)
FGTS (184,00) (152,00)

9. IMPOSTOS (2.280,00) (1.801,00)

Federais (1.640,00) (1.350,00)


Estaduais (420,00) (276,00)
Municipais (220,00) (175,00)

10. REMUNERAÇÃO CAPITAL TERCEIROS (460,00) (290,00)

Juros (340,00) (220,00)


Alugueis (120,00) (70,00)

11. REMUNERAÇÃO DO CAPITAL PRÓPRIO (2.996,00) (2.397,00)

40 Copyright Ibmec
Juros sobre Capital Próprio (270,00) (330,00)
Dividendos (1.420,00) (1.340,00)
Lucros Retidos (1.216,00) (684,00)
Participação Minoritários (90,00) (43,00)

12. VALOR ADICIONADO DISTRIBUÍDO (8+9+10+11) (9.920,00) (7.980,00)

Análise de demonstrações contábeis


Pode ser dividida em:

• Análise da situação financeira – avalia a composição patrimonial da empresa (ex.: índices de


estrutura e liquidez).
• Análise da situação econômica – avalia o desempenho da empresa no exercício (ex.: índices
de rentabilidade).

Primeiro, deve ser feita a análise financeira e, em seguida, a econômica. O produto final é a
associação das conclusões dessas duas análises e serve para medir a situação econômico-
financeira das empresas a partir de índices.

Porém, é preciso ficar atento para se obter informações fidedignas. Por exemplo, a avaliação
intrínseca de um índice pode ser feita com base no índice de endividamento da empresa. Porém,
se nos deparássemos com um índice de 200%, poderíamos deduzir, por exemplo, que, para cada
R$1,00 de capital próprio, existem R$2,00 de capital de terceiros. Isso poderia gerar a seguinte
dúvida: esse índice é elevado ou não?

Assim, podemos concluir que as análises por valores intrínsecos são pobres e só devem ser
utilizadas quando não se dispõe de elementos de análise maiores.

Por outro lado, a avaliação do índice pode ser feita com base na comparação com padrões.
Esse é o parâmetro ideal para a avaliação da situação econômico-financeira das empresas, pois,
a partir dela, o analista poderá comparar os resultados obtidos em sua análise com os resultados
observados em empresas do mesmo ramo (porte, localização etc.).

Neste caso, devemos ter noção sobre o comportamento desejável para cada índice. Por exemplo,
se a empresa analisada X apresentar uma rentabilidade de 20%, enquanto as demais empresas do
mesmo ramo, porte e localização apresentam 15% de rentabilidade, pode-se dizer que o resultado
apresentado pela empresa analisada X é bom. Afinal, quanto maior a rentabilidade, melhor o
resultado.

Os índices e as avaliações serão estudados com maior aprofundamento no Módulo 2 desta


apostila.
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Unidade 5 – Formas de Tributação
São quatro as formas de apuração do Imposto de Renda Pessoa Jurídica no
Brasil, a saber: Lucro Real, Presumido, Arbitrado e o Simples Nacional.

Nesta unidade, você conhecerá as sistemáticas mais comuns de apuração.

Lucro real
O lucro real se aplica às empresas com faturamento igual ou superior a
R$48.000.000,00/ano ou às instituições financeiras, ainda que não atinjam tal faturamento.
Ele serve de base para o cálculo do Imposto de Renda PJ e da CSSL, após consideração das
respectivas adições, exclusões e compensações.

O lucro real deve ser calculado extra-contabilmente no Livro de Apuração do Lucro Real (LALUR).
A instrução normativa nº 989 de 2009 instituiu o LALUR eletrônico. Esse livro se divide em duas
partes:

• Parte A: é efetuado o registro da memória de cálculo do IRPJ e CSSL.


• Parte B: é feito o acompanhamento dos créditos tributários, tais como:
○○ Prejuízos Fiscais
○○ Base Negativa de Contribuição Social
○○ Lucro inflacionário

Livro de Apuração do Lucro Real


Lucro Societário do Período $800
( - ) Exclusões :
Receita de Equivalência Patrimonial $ 200
+ adições:
Despesa c/Provisão para Devedores Duvidosos $380
Excesso de Depreciação $20
= Lucro Tributável $ 1.000
IR Devido (25% do lucro tributável) $250
CSSL (9% do lucro tributável) $90
= Total de IR e CSSL a serem transferidos para a DRE $340

42 Copyright Ibmec
Lucro presumido
Opcional para as empresas que não estejam sujeitas à apuração do
Imposto de Renda pela sistemática do lucro real. É uma forma menos
complexa de apuração e é calculado sobre o faturamento da empresa,
sobre o qual se aplicam percentuais de acordo com os diversos ramos
de atividades previstos no Regulamento do Imposto de Renda –
RIR (exemplos: para a atividade de varejo, o percentual é de 8%; de
prestação de serviços, 32% etc.). Por este regime, as empresas recolhem o imposto com base no
seu faturamento trimestral.

O objetivo da criação desta sistemática de apuração foi o de atingir empresas que não mantêm
escrituração mercantil completa, embora não haja impedimento para que empresas que a mantêm
optem por este tipo de tributação.

Podem optar pelo lucro presumido empresas cuja receita bruta no ano anterior tenha sido inferior
a R$ 48 milhões. Estão vetadas de utilizar o regime do lucro presumido as empresas que efetuem
pagamento mensal pelo regime de estimativa, instituições financeiras ou equiparadas, empresas
cujo rendimento seja oriundo de negócios no exterior, que já sejam beneficiárias de isenções ou
reduções do imposto de renda ou que exerçam a atividade de factoring.

Lucro arbitrado
É uma prerrogativa utilizada pela autoridade fiscal quando:

a. o contribuinte obrigado ao Regime de Lucro Real tiver optado indevidamente pelo Regime do
Lucro Presumido;

b. o contribuinte não mantiver escrituração contábil e fiscal em consonância com a legislação


competente;

c. o contribuinte sujeito ao Lucro Real deixar de cumprir obrigações fundamentais;

d. o contribuinte se recusar a apresentar os livros e documentos contábeis e fiscais.

Nessas situações, caberá à autoridade fiscal arbitrar um valor de lucro sobre o qual serão aplicadas
as alíquotas vigentes para apuração do imposto devido.

Desde 1996, os contribuintes que assim o desejarem podem optar pela sistemática do arbitramento.
Neste caso, o Regulamento do Imposto de Renda - RIR - exige que o contribuinte comprove pelo
menos a Receita Bruta obtida, mediante apresentação de documentação comprobatória, livros
fiscais, notas fiscais etc.

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Simples Nacional (SIMPLES)
Apesar de não estar elencado no Código Tributário Nacional, esta forma de tributação é aplicável
às microempresas e empresas de pequeno porte, cujo faturamento não pode ultrapassar R$
2.400.000,00/ano. Esta sistemática abrange também tributos estaduais e municipais, desde que
haja acordos com os respectivos estados e municípios .

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MÓDULO 2
Questões Relevantes
à Contabilidade

45
Unidade 1 - Índices de Estrutura (ou Endividamento)
Para exemplificar os índices discutidos a seguir, vamos tomar como base o Balanço Patrimonial e
a DRE da Cia. X apresentados a seguir.

Cia X 31/12/10 31/12/09 31/12/08


Ativo Circulante 20.000 19.000 9.802
Caixa e Equivalentes a Caixa 3.297 1.260 1.365
Clientes 6.481 6.423 2.590
Estoques 10.002 10.937 5.597
Outros 20 80 50
Despesas Antecipadas 200 300 200
Ativo Não Circulante 29.620 12.766 6.660
Ativo Realizável a Longo Prazo 10.000 4.450 1.200

Investimentos 7.528 2.464 1.328


Imobilizado 12.092 5.852 4.132
Intangível 0 0 0

ATIVO TOTAL 49.620 31.766 16.462

Cia X 31/12/10 31/12/09 31/12/08


Passivo Circulante 12.742 7.422 4.340
Empréstimos e Financiamentos 5.788 3.297 1.650
Fornecedores 3.259 2.061 1.255
Impostos, Taxas e Contribuições 2.230 1.116 620
Dividendos a Pagar 250 120 90
Outros 1.215 828 725
Passivo Não Circulante 2.820 1.250 904
Empréstimos e Financiamentos 2.820 1.250 904
Outros 0 0 0
Patrimônio Líquido 34.058 23.094 11.218
Capital Social Realizado 16.000 16.000 7.000

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Cia X (Continuação) 31/12/10 31/12/09 31/12/08
Ajustes de Avaliação Patrimonial 16.078 6.282 2.792
Reservas de Lucro 1.980 812 1.426
Minoritários 0 0 0
PASSIVO + PL TOTAL 49.620 31.766 16.462

DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO 31/12/10 31/12/09 31/12/08


EXERCÍCIO

OPERAÇÕES EM CONTINUIDADE
Receita Líquida de Vendas e/ou Serviços 64.196,00 37.236,00 23.654,00
Custo de Bens e/ou Serviços Vendidos (40.226,00) (22.190,00) (12.772,00)
Resultado Bruto 23.970,00 15.046,00 10.882,00
Com Vendas (10.863,00) (4.788,00) (2.910,00)
Gerais e Administrativas (3.435,00) (3.762,00) (4.250,00)
Outras Receitas OPeracionais - - -
Outras Despesas Operacionais (322,00) (156,00) (110,00)
Resultado Operacional 9.350,00 6.340,00 3.612,00
Receitas Financeiras 200,00 100,00 200,00
Despesas Financeiras (2.974,00) (2.098,00) (1.796,00)
Resultado Antes Tributação/Participações 6.576,00 4.342,00 2.016,00
Provisão para IR e Contribuição Social (2.302,00) (1.520,00) (705,00)
Res. Minoritários - - -
Resultado das Operações Continuadas 4.274,00 2.822,00 1.311,00
OPERAÇÕES DESCONTINUADAS
Desativação Filial Nordeste - - -
Descontinuidade do Produto X - - -
Lucro/Prejuízo do Período 4.274,00 2.822,00 1.311,00
Resultado Atribuído a:
Participação de Minoritários - - -
Acionistas da Companhia 4.274,00 2.822,00 1.311,00

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DEMONSTRAÇÃO DO RESULTADO DO 31/12/10 31/12/09 31/12/08
EXERCÍCIO
(Continuação)
Lucro Básico por Ação:
Operações Continuadas 0,71 0,47 0,33
Operações Descontinuadas - - -

Participação de capitais de terceiros


Trata-se do índice mais básico para medir endividamento de uma empresa.

Uma empresa pode ter apenas duas fontes de financiamento: capital próprio (patrimônio líquido)
ou capital de terceiros (dívidas ou passivos). Este índice mede quem é maior entre estas duas
fontes. Verifiquemos o exemplo da empresa Cia X.

Índice Fórmula
Participação de Capital
PCT = ( CT x 100 ) / PL
de Terceiros
31/12/10 31/12/09 31/12/08
Dados:
PC 12.742 7.422 4.340
PNC 2.820 1.250 904
CT 15.562 8.672 5.244
PL 34.058 23.094 11.218

Cálculo do Índice 45,7% 37,6% 46,7%

Legenda:

PCT – Participação de Capital de Terceiros

PC – Passivo Circulante

PNC – Passivo Não Circulante

CT – Capital de Terceiros

PL – Patrimônio Líquido
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Como é possível observar, este índice relaciona as duas grandes fontes de recursos da empresa,
ou seja, recursos próprios (PL) e de terceiros (CT), de forma que, quanto maior a relação entre o
CT/PL, menor a liberdade da empresa para suas decisões financeiras.

No caso analisado, portanto, vemos que a empresa apresentava um nível médio de endividamento
correspondente a 46,7% em 2008. Como o indicador é inferior a 100%, podemos deduzir que o
nível de participação de capital de terceiros no financiamento dos negócios da empresa é menor
que a participação do capital próprio.

Com o aumento do patrimônio líquido em 2009, em volume maior do que o aumento do passivo, a
participação do capital de terceiros ficou ainda menos relevante que no ano anterior.

Em 2010, como o crescimento do passivo foi,


proporcionalmente, maior que o crescimento do patrimônio
líquido, a participação de capital de terceiros praticamente
recuperou a posição apresentada em 2008.

Cabe destacar, no entanto, que o fato de uma empresa


apresentar dívidas não necessariamente implica que ela
esteja em situação financeira ruim. Muito pelo contrário, o
uso de capital de terceiros é saudável para uma empresa,
dado que a teoria de finanças nos ensina que o custo do
capital próprio é mais elevado que o capital de terceiros. Ou seja, o uso de capital de terceiros,
desde que respeitados os limites de alavancagem financeira e capacidade de pagamento da
empresa, pode ser algo extremamente positivo sob o ponto de vista financeiro.

Composição do endividamento
Esse índice é calculado a partir da comparação entre o passivo circulante e os capitais de
terceiros (PC/CT). Ele procura demonstrar a relação entre os compromissos de curto prazo e os
compromissos totais, fornecendo, portanto, um perfil das dívidas da empresa.

Em outras palavras, ele mede se a concentração da dívida da empresa está no curto ou no longo
prazo. Quando uma empresa assume dívida de longo prazo, geralmente é para investimento. Isso
cria a perspectiva de aumento de fluxos de caixa futuros, quando este investimento estiver maduro.
Por outro lado, se o endividamento da empresa estiver concentrado no curto prazo, geralmente
a dívida foi tomada para cobrir o capital de giro da empresa, ou seja, foi dinheiro tomado para
cobrir gastos operacionais já existentes, indicando uma capacidade negativa de geração de caixa
suficiente para seu giro, o que tenderá a piorar no futuro próximo, pois esta dívida atual deverá ser
coberta antes do encerramento do próximo exercício financeiro.

50 Copyright Ibmec
Índice Fórmula
Composição do
CEND = ( PC x 100 ) / CT
Endividamento
31/12/10 31/12/09 31/12/08
Dados:
PC 12.742 7.422 4.340
PNC 2.820 1.250 904
CT 15.562 8.672 5.244

Cálculo do Índice 81,9% 85,6% 82,8%

A partir dos índices da Cia. X obtidos, pode-se perceber a preponderância de obrigações no


curto prazo que se mantiveram relativamente estáveis no período analisado. Tal situação pode,
evidentemente, representar certo risco para a empresa, já que a mesma não conseguiu gerar os
recursos suficientes para cobrir os compromissos estabelecidos.

Imobilização do patrimônio líquido


Esse índice é obtido a partir da comparação entre o os itens não circulantes ou fixos (investimentos,
imobilizado e intangível,) e o patrimônio líquido.
Em ordem de liquidez, o ativo circulante representa os recursos que são ou serão monetizáveis
em 360 dias. O ativo realizável a longo prazo, que está no subgrupo de ativo não circulante,
representa os recursos que serão monetizáveis em mais de 360 dias. Os itens investimentos,
imobilizado e intangíveis, que complementam o subgrupo do ativo não circulante, são os que a
empresa não tem intenção de monetizar em função de sua relevância para o próprio negócio.
Por outro lado, os passivos circulantes são aqueles que serão liquidados nos próximos 360 dias.
Os passivos não circulantes serão liquidados em mais que 360 dias e o patrimônio líquido, como
representa o grupo dos recursos não exigíveis, dado que são proporcionados pelos próprios
acionistas da empresa, representam a fonte de capital que não será liquidada nunca (pelo menos
enquanto a empresa estiver em situação de continuidade).
Se a empresa compromete uma parcela relevante dos recursos não exigíveis (PL) com itens
não monetizáveis (INV + IMOB + INT), sobrarão menos recursos para financiar a parcela dos
itens patrimoniais sujeitos ao giro. Por isto, este indicador é visto como uma medida de risco
financeiro da empresa. Empresas onde a imobilização do patrimônio líquido é elevada tendem a
apresentar baixa liquidez.

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Índice Fórmula
Imobilização do Capital
ICP = [ ( INV + IMOB + INTG ) x 100 ] / PL
Próprio
31/12/10 31/12/09 31/12/08
Dados:
INV 7.528 2.464 1.328
IMOB 12.092 5.852 4.132
INTG 0 0 0
Soma 19.620 8.316 5.460
PL 34.058 23.094 11.218

Cálculo do Índice 57,6% 36,0% 48,7%

Em nosso exemplo, podem-se observar grandes oscilações no comportamento do índice que, de


forma geral, demonstrou-se ascendente.

O comportamento deste índice, no período analisado, acompanhou a evolução do indicador de


participação de capital de terceiros (visto anteriormente). Ou seja, em 2008, a empresa comprometia
cerca de 49% do seu PL em itens não monetizáveis. Em 2009, graças ao aumento do PL em
montantes superiores ao aumento dos itens não monetizáveis, a situação melhorou sensivelmente,
com o comprometimento de apenas 36% do PL. Já para 2010, o aumento expressivo dos itens não
monetários, não suficientemente acompanhado pelo aumento do PL, elevou o comprometimento
do OL para mais de 57%.

52 Copyright Ibmec
Imobilização de recursos não correntes
Este indicador, na verdade, é um complemento do anterior. Caso o índice de imobilização do
capital próprio tenha sido elevado, se calcula este segundo índice, conhecido como imobilização
de recursos não correntes. A diferença deste indicador para o primeiro é a consideração dos
passivos não circulantes (também conhecidos como exigíveis a longo prazo) como fonte
adicional de financiamento dos itens não monetizáveis.
Em outras palavras, se este índice continuar elevado (acima de 100%), significa que os recursos de
longo prazo não foram suficientes para complementar o financiamento dos itens não monetizáveis,
o que implica que este diferencial não coberto está sendo arcado por passivos de curto prazo.
Este é o pior cenário possível na estrutura de financiamento de uma empresa: dívidas de
curto prazo estão sendo tomadas para financiar itens que jamais serão monetizáveis.
Voltamos à nossa empresa-exemplo:

Índice Fórmula
Imobilização de Recursos
ICP = [ ( INV + IMOB + INTG ) x 100 ] / ( PL + ELP )
Não Correntes
31/12/10 31/12/09 31/12/08
Dados:
INV 7.528 2.464 1.328
IMOB 12.092 5.852 4.132
INTG 0 0 0
Soma 19.620 8.316 5.460
PL 34.058 23.094 11.218
ELP 2.820 1.250 904
Soma 36.878 24.344 12.122

Cálculo do Índice 53,2% 34,2% 45,0%

Podemos concluir que os recursos de longo prazo são pouco representativos, pois a sua
consideração teve pouco impacto relativo no indicador. Em 2008, por exemplo, o comprometimento
de recursos não correntes (PL + PNC) caiu apenas ligeiramente, de 48,6% para 45%, se
acrescentamos o PNC. O mesmo pode ser verificado para os anos seguintes. No entanto, como
o ICP já apresentava indicadores abaixo de 100%, podemos concluir que o investimento em itens
não monetizáveis não deve estar sendo determinante no comprometimento dos indicadores de
liquidez da empresa-exemplo.
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Liquidez
A liquidez é um conceito econômico que considera a facilidade com
a qual um ativo pode ser convertido em dinheiro, sem perda do valor
justo do bem.

A partir dos índices de liquidez, procuraremos avaliar a capacidade


de pagamento das empresas.

Liquidez geral
Este indicador avalia, de forma genérica, se os ativos monetizáveis (ativo circulante + realizável a
longo prazo) são suficientes para honrar os passivos exigíveis (passivo circulante + passivo não
circulante). Se o resultado for superior a 1, significa que os ativos são mais que suficientes para
cobrir os passivos. Se o resultado for inferior a 1, significa que a empresa não possui, na data,
recursos monetizáveis suficientes para honrar suas dívidas. Vamos analisar o caso da Cia. X.

Índice Fórmula
Liquidez Geral LG = ( AC + RLP ) / ( PC + ELP )
31/12/10 31/12/09 31/12/08
Dados:
AC 20.000 19.000 9.802
RLP 10.000 4.450 1.200
CT 30.000 23.450 11.002
PC 12.742 7.422 4.340
PNC 2.820 1.250 904
CT 15.562 8.672 5.244

Cálculo do Índice 1.93 2,70 2,10

Pelo exemplo acima, em 2008, para cada R$1,00 de dívida, a empresa possuía R$ 2,10 de ativos
monetizáveis. Em 2009, sua situação de capacidade de pagamento melhorou ainda mais, porque
ela passou a ter R$ 2,70 de ativos para cada R$ 1,00 de passivos. Infelizmente a situação piorou em
2010, quando a folga financeira passou a ser de apenas R$ 1,93 para cada R$ 1,00 de dívida.

54 Copyright Ibmec
Liquidez corrente
Neste indicador, desprezam-se os itens de longo prazo e procura-se confrontar os ativos realizáveis
em até 360 dias com os passivos exigíveis no mesmo período de tempo.

Se observarmos bem a essência do índice de liquidez geral, iremos perceber que, embora útil para
dar uma visão geral em termos da magnitude de seus componentes, ele apresenta uma fragilidade
intrínseca no que diz respeito à sua habilidade de medir capacidade de pagamento. Tal fragilidade
é decorrente da impossibilidade de medir temporalmente os componentes de longo prazo. Isto
é, suponha que uma empresa apresente liquidez geral igual a 3,0, o que indicaria que ela possui
R$3,00 de ativos monetizáveis para cada R$1,00 de passivos exigíveis.

Aparentemente, esta empresa estaria extremamente bem em termos de capacidade de pagamento.


No entanto, caso este resultado seja obtido graças aos seus componentes de longo prazo, a
interpretação pode ser alterada sensivelmente, porque não adianta nada a empresa possuir ativos
de longo prazo de R$ 500 milhões contra uma dívida de apenas R$ 100 milhões se o prazo de
vencimento desta dívida for de 3 anos e o prazo de realização dos ativos for de 50 anos.

Por esta razão, o mercado prefere ater-se ao que pode provocar problemas de liquidez dentro
de universos temporais que possam ser seguramente estabelecidos. Nesse sentido, o índice de
liquidez corrente (LC) tem peso muito maior do que o indicador de LG.

Índice Fórmula
Liquidez Corrente LC = AC / PC
31/12/10 31/12/09 31/12/08
Dados:
AC 20.000 19.000 9.802
PC 12.742 7.422 4.340

Cálculo do Índice 1,57 2,56 2,26

Durante todo o período observado, a nossa empresa-exemplo apresenta capacidade positiva de


pagamento de suas dívidas de curto prazo. Sendo preocupante, no entanto, a brusca redução
verificada no ano de 2010, provocado pelo repentino aumento do nível de empréstimos de curto
prazo.

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Liquidez seca
Alguns membros mais conservadores do mercado, embora reconheçam a superioridade do índice
de liquidez corrente (LC) em relação ao de liquidez geral (LG), argumentam que mesmo o LC não
é plenamente eficaz em garantir capacidade de pagamento na medida em que existem, no ativo
circulante, itens cuja monetização não é assegurada, como é o caso dos estoques, além de itens
que jamais serão realizados em recursos monetários que venham a poder ser utilizados para
pagamento de dívidas, como é o caso das despesas antecipadas.

A fim de atender a esta camada mais conservadora do mercado, foi criado o índice de liquidez
seca (LS), obtido pela exclusão dos estoques e das despesas antecipadas do ativo circulante,
antes de confrontá-lo com as dívidas de curto prazo.

Veja o exemplo abaixo.

Índice Fórmula
Liquidez Seca LS = ( AC - E - DA ) / PC
31/12/10 31/12/09 31/12/08
Dados:
AC 20.000 19.000 9.802
E 10.002 10.937 5.597
DA 200 300 200
PC 12.742 7.422 4.340

Cálculo do Índice 0,77 1,05 0,92

Podemos verificar que, apenas em 2009, a empresa continuava a manter plena capacidade
de pagamento das suas dívidas de curto prazo após exclusão dos estoques e das despesas
antecipadas. No entanto, se considerarmos o caráter conservador deste índice, o fato de o
resultado ter sido inferior a 1,00 nos anos de 2008 e 2010 não necessariamente implica em risco
de inadimplência por parte da empresa, pois, embora seja razoável a exclusão de todo o grupo de
despesas antecipadas, não se pode dizer o mesmo sobre os estoques. A não ser que a empresa
comercialize produtos completamente obsoletos e que, por isso, não tenha nenhuma perspectiva
de venda.

56 Copyright Ibmec
Rentabilidade
Os indicadores de rentabilidade buscarão medir o desempenho da empresa no período.

A partir deste momento, vamos perceber um tratamento especial que


precisa ser dado nos valores retirados do Balanço Patrimonial toda
vez que, ao calcular um índice, o combinamos com valores retirados
da Demonstração do Resultado do Exercício (DRE).

Até agora, esse tratamento não precisava ser aplicado porque, tanto
para os índices de endividamento quanto para os índices de liquidez,
os valores utilizados nas fórmulas eram todos retirados apenas do
Balanço Patrimonial, sem influência de números retirados da DRE.

Mas quando combinamos as duas fontes, estamos tratando valores


em universos temporais diferentes. Isto acontece porque o Balanço Patrimonial é uma demonstração
estática, ou seja, é o retrato da empresa no dia de sua apuração (geralmente 31 de dezembro de
cada ano), o que faz com que seus valores representem 1 dia de posição: a data do levantamento
apresentado. No dia seguinte, o valor em caixa já não será o mesmo porque a empresa terá feito
algum pagamento ou recebido algum direito etc.

Por outro lado, a DRE é uma demonstração de fluxo, isto é, seu valor em 31 de dezembro representa
a posição acumulada ao longo de 360 dias de operação. Assim, o valor da receita apresentado no
dia 31 de dezembro corresponde a todas as receitas obtidas desde 1º de janeiro até aquela data.
Em outras palavras, estaremos confrontando 1 dia de posição (Balanço Patrimonial) com 360 dias
de resultado econômico (DRE).

Para minimizar o erro estatístico implícito na combinação, precisamos tornar o valor do balanço um
valor mediano. Por exemplo:

Ativo em 31/12/2010 = R$ 100.000

Ativo em 31/12/2009 = R$ 50.000

Ativo médio a ser usado nas fórmulas, tendo como base dezembro de
2010:

Fórmula: ATM = ( ATt + ATt-1 ) / 2

Logo, ATM em 31/12/2010 = ( 100.000 + 50.000 )/2 = 75.000

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Este tratamento será dado aos índices de rentabilidade toda vez em que precisarmos combinar
informações do Balanço Patrimonial com informações da DRE.

Giro do ativo
Este indicador procura medir o retorno da empresa confrontando a receita de vendas gerada no
período com os ativos totais. Alguns autores acreditam que este indicador representa a medição
de pay-back do ativo total, isto é: em termos médios, em quantos anos a empresa recupera seu
investimento total (ativo) a partir da exploração do seu negócio fim (ilustrada a partir de sua receita
total de vendas e serviços). No caso da Cia. X:

Índice Fórmula
Giro do Ativo GA = RT / Atm
31/12/10 31/12/09 31/12/08
Dados
RT 64.196 37.236 23.654

AT 49.620 31.766 16.462


AT t-1 31.766 16.462 ND
Atm 40.693 24.114 16.462

Cálculo do Índice 1,58 1,54 1,44

Podemos perceber que, em 2010, a empresa vendeu mercadorias e serviços equivalentes a,


aproximadamente, 1,6 vezes o seu ativo total médio, ligeiramente superior ao resultado apresentado
em 2009.

Para 2008, em função da indisponibilidade da informação sobre o ativo total da empresa em


31/12/2007, não nos foi possível calcular o ativo médio. Quando isso ocorre, acabamos por utilizar
o valor do ativo de final de ano sem ajustes, sabendo que o indicador encontrado pode ter sofrido
alterações em função do erro estatístico.

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Margem líquida
Quando olhamos rentabilidade somente a partir do índice de
Giro do Ativo, podemos facilmente ser induzidos a conclusões
errôneas, pois o simples fato da empresa ser forte em vendas
não implica que ela seja eficiente em gerir suas receitas. Em
outras palavras, se uma empresa tem receitas elevadas, mas
o seu nível de gastos é igualmente relevante, esta empresa
pode acabar por apresentar prejuízos no período, apesar de
suas altas receitas.

Nesse sentido, o indicador de margem líquida é mais eficiente do que o de giro do ativo, pois ele
nos mostra quanto sobrou no período (lucro/prejuízo) depois que todos os gastos (custos,
despesas e impostos) foram deduzidos da receita.

Índice Fórmula
Margem Líquida ML = ( LL x 100 ) / VL
31/12/10 31/12/09 31/12/08
Dados:
LL 4.274 2.822 1.311

VL 64.196 37.236 23.654

Cálculo do Índice 6,66% 7,58% 5,54%

Podemos perceber que nossa empresa-exemplo era relativamente mais eficiente em 2008 que
nos períodos seguintes, pois, nesse ano, conseguiu obter uma margem líquida de 5,54%, a partir
de uma receita de cerca de R$ 24 milhões.

Para 2009, ela conseguiu aumentar seu nível de receitas em 57%, alcançando cerca de R$37
milhões, mas o efeito sobre sua margem líquida foi de um crescimento de apenas cerca de 2%.

Já em 2010, ela cresceu sua receita em 72% em relação a 2009, mas, apesar disso, teve sua
margem líquida reduzida para 6,66%, o que indica que o crescimento relativo dos gastos nesse
exercício foi superior ao crescimento de receita apresentado.

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Rentabilidade do ativo
Este índice apresenta uma combinação com o que há de melhor nos dois primeiros indicadores
de rentabilidade: a comparação com o ativo total médio e a consideração do resultado após a
dedução de todos os gastos, o lucro líquido.

Índice Fórmula
Rentabilidade do Ativo ROA = ( LL x 100 ) / Atm
31/12/10 31/12/09 31/12/08
Dados:
LL 4.274 2.822 1.311

AT 49.620 31.766 16.462


AT t-1 31.766 16.462 ND
Atm 40.693 24.114 16.462

Cálculo do Índice 10,50% 11,70% 7,96%

Observando o balanço patrimonial, podemos perceber, em 2010, uma queda de 11,7% para 10,5%
na rentabilidade do ativo, em razão do crescimento do ativo médio (68,8%), maior que o crescimento
do lucro líquido (51,5%).

Esse índice busca, portanto, retratar quanto a empresa obtém de lucro para cada unidade
de moeda de investimento total. Em termos de resultado, a exemplo dos demais índices de
rentabilidade, teremos: quanto maior o índice, melhor será o resultado.

Rentabilidade do patrimônio líquido


A rentabilidade do patrimônio líquido é obtida do confronto entre o
lucro líquido e o patrimônio líquido médio. Trata-se de um indicador
equivalente ao de rentabilidade do ativo, só que pelo ponto de
vista dos acionistas. Para estes, o indicador de rentabilidade do
patrimônio líquido é mais representativo porque, especificamente,
apresenta o quanto eles estão sendo remunerados pelo seu
investimento na empresa.

60 Copyright Ibmec
Os acionistas costumam comparar este indicador com rentabilidades alternativas de investimentos
para apurar o seu custo de oportunidade (quanto que eles estão deixando de ganhar por não
estarem investindo em outros negócios), a fim de decidir se vão continuar com as ações que detêm
ou se está na hora de vender as ações e investir em outro negócio.

Índice Fórmula
Rentabilidade do PL ROE = ( LL x 100 ) / PLm
31/12/10 31/12/09 31/12/08
Dados:
LL 4.274 2.822 1.311

PL 34.058 23.094 11.218


PL t-1 23.094 11.218 ND
PLm 28.576 17.156 11.218

Cálculo do Índice 14,96% 16.45% 11.69%

No período analisado, percebemos que a empresa-exemplo apresentou o melhor índice de retorno


ao acionista no exercício de 2009. Em 2010, apesar do lucro melhor que o apresentado em 2009,
o resultado acabou sendo pior em termos de rentabilidade, em função desse crescimento de lucro
não ter conseguido acompanhar o crescimento verificado no PL médio.

Outros índices
Nesta unidade, mostramos apenas os índices mais utilizados em contabilidade. Entretanto, é
importante reiterar a existência de inúmeros outros índices possíveis de serem calculados.

Destacamos também que, para interpretação dos resultados advindos do cálculo de índices, é
preciso confrontá-los com os padrões existentes no setor. Assim, é possível obter comparações
mais fidedignas e, por conseguinte, mais próximas da realidade.

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Unidade 2 - Planejamento Tributário
Para que você possa obter uma análise bem fundamentada sobre
um modelo de fluxo de caixa descontado, é muito importante ter
em mente que não se pode verificar o valor real de um projeto, ou
mesmo de uma empresa, sem levar em consideração o impacto dos
tributos sobre os resultados.

O fluxo de caixa é a previsão de entradas e saídas de recursos monetários por um determinado


período.

Você conhecerá, a seguir, um pouco mais sobre os principais tributos que podem interferir direta
ou indiretamente no fluxo de caixa das empresas.

PIS e COFINS
O PIS e o COFINS são contribuições que incidem sobre o faturamento das empresas. Atualmente,
existem duas sistemáticas para apuração: a não cumulativa e a cumulativa. A sistemática
denominada não cumulativa, para o PIS, foi instituída pela Lei nº 10.637/2002 e, para a COFINS,
pela Lei nº 10.833/2003.

62 Copyright Ibmec
As empresas obrigadas a apurar o imposto de renda com base no lucro real, trimestral ou
anual, salvo exceções, estarão obrigadas a apurar as contribuições devidas para o PIS e a
COFINS com base na sistemática da não cumulatividade.

Em resumo, tal sistemática cria uma espécie de conta-corrente das referidas contribuições,
inclusive com a utilização de créditos sobre algumas despesas operacionais, de tal forma que
as contribuições desonerem a cadeia produtiva. Ela se assemelha à apuração do Imposto de
Circulação de Mercadorias e Serviços que também propiciam a criação de créditos ativáveis
para serem compensados com o imposto devido pela venda de suas mercadorias.

Alíquotas
Sobre a base de cálculo das contribuições, você deve aplicar as seguintes alíquotas:

• 7,6% para a COFINS;


• 1,65% para o PIS /PASEP.

Créditos para futura compensação


Determinadas despesas operacionais possibilitam a criação de créditos que poderão ser abatidos
das contribuições mensalmente devidas, a saber:

a. Bens adquiridos no mês para revenda

Exceto em relação às mercadorias e aos produtos decorrentes de receitas sujeitas aos regimes
de substituição tributária e sujeitos ao regime denominado monofásico (venda de automóveis e
derivados de petróleo).

b. Bens e serviços

Bens e serviços utilizados como insumo na prestação de serviços e na produção de bens ou


produtos destinados à venda, inclusive combustíveis e lubrificantes.

c. Despesas e custos incorridos no mês

Relativos a:

• Energia elétrica consumida nos estabelecimentos da pessoa jurídica.

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• Aluguéis de prédios, máquinas e equipamentos, utilizados nas atividades da empresa que devem
ser pagos à pessoa jurídica.
• Despesas financeiras decorrentes de empréstimos, financiamentos e o valor das contraprestações
de arrendamento mercantil de pessoa jurídica, exceto as optantes pelo Sistema Integrado de
Pagamento de Impostos e Contribuições das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte
(SIMPLES).

d. Encargos de depreciação e amortização incorridos no mês

Relativos a máquinas e equipamentos e outros bens incorporados ao ativo imobilizado, adquiridos


para utilização na produção de bens destinados à venda ou à prestação de serviços.

e. Armazenagem de mercadoria e frete na operação de venda

Nos casos de bens adquiridos para revenda e de bens e serviços utilizados como insumos na
prestação de serviços e na produção ou fabricação de bens ou produtos destinados à venda,
quando o ônus for suportado pelo vendedor.

Cálculo do valor do crédito


O cálculo do valor do crédito determina o valor das
contribuições a pagar, apurado pela aplicação das alíquotas
sobre a base de cálculo.

A pessoa jurídica poderá descontar créditos, determinados


mediante a aplicação das seguintes alíquotas sobre a base
de cálculo dos créditos:

• 7,6% para a COFINS;


• 1,65% para o PIS.

Como exemplo, imagine que uma empresa tenha um montante de despesas operacionais que
permitem a tomada de créditos do PIS e da COFINS no montante de R$ 300.000,00 e que tenha
um faturamento no mês de R$ 5.000.000,00. Pode-se depreender que haverá um crédito de PIS
e COFINS de R$ 27.750,00 ( 9,25% sobre R$ 300.000,00 ) que poderá ser compensado das
contribuições devidas R$ 462.500,00 (9,25 % sobre R$ 5.000.000,00).

PIS e COFINS pela Sistemática da Cumulatividade


As empresas que apuram o lucro com base nas sistemáticas de lucro presumido e pelo arbitramento
estarão obrigadas à apuração das contribuições ao PIS e à COFINS com base na cumulatividade

64 Copyright Ibmec
que consiste na aplicação de 0,65% para o PIS e 3,00% para a COFINS, incidentes sobre o
faturamento mensal.

Tal sistemática onera a cadeia produtiva, pois não permite o desconto de qualquer crédito.

Entidades sem fins lucrativos estão sujeitas ao PIS com base na sua folha de pagamento

Imposto de renda (IRPJ) e contribuição social (CSLL)


A apuração do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e
da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) pode ser
feita por três sistemáticas, ou seja, a empresa poderá optar pela
tributação com base no:

• lucro real anual ou trimestral;


• lucro presumido;
• lucro arbitrado.

Essas sistemáticas de tributação não se aplicam às pessoas jurídicas imunes, isentas e às


enquadradas como microempresa ou empresa de pequeno porte, que tenham optado pelo
Sistema Integrado de Pagamentos de Impostos e Contribuições das Microempresas e Empresas
de Pequeno Porte (SIMPLES).

Opção pelo lucro real


Cabe salientar que não há possibilidade de opção, sendo obrigatória a adoção do regime de
tributação pelo lucro real pelas pessoas jurídicas que:

• Tiveram, no ano-calendário anterior, receita bruta superior a R$ 48.000.000,00 ou a R$


4.000.000,00, multiplicados pelo número de meses de atividades no ano, quando inferior a 12.
• Exercerem atividades de instituições financeiras ou entidades a elas equiparadas submetidas
à competência normativa do Banco Central do Brasil, de empresas de seguros privados,
capitalização e previdência privada aberta ou de factoring.
• Possuíram lucros, rendimentos ou ganhos de capital oriundos do exterior.

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• Usufruíram de redução ou isenção do Imposto de Renda sobre o Lucro da Exploração.

Lucro real trimestral

Caso a empresa opte pela tributação com base no lucro real trimestral,
o IRPJ e a CSLL devidos são calculados ao final de cada período de
apuração trimestral (31 de março, 30 de junho, 30 de setembro e 31 de
dezembro) com base em balanço levantado para esse fim.

Observe que a opção por esse regime implica em não poder compensar
o prejuízo fiscal apurado em um trimestre com o lucro real apurado no
trimestre subsequente, se o valor for superior ao limite de 30% desse
lucro real.

Por outro lado, o lucro de um trimestre não pode ser compensado com o prejuízo fiscal apurado
nos trimestres subsequentes, ainda que essa compensação seja efetuada dentro do mesmo ano.

Essa opção pode apresentar mais vantagens para as empresas que não tenham atividades
sazonais, ou seja, aquelas em que o montante da receita apresenta certa uniformidade durante
todo o ano.

Lucro real anual

As pessoas jurídicas que optarem pelo regime de lucro real anual deverão efetuar mensalmente o
recolhimento do IRPJ e da CSLL devidos por estimativa. Ou seja, a pessoa jurídica deverá recolher
os tributos mensalmente calculados mediante aplicação de um percentual sobre o faturamento
mensal, semelhante ao regime de lucro presumido.

Nesse caso, no encerramento do período de apuração, em 31 de dezembro, a pessoa jurídica


deverá levantar o balanço anual e apurar o lucro real anual, bem como o IRPJ e a CSLL devidos
com base neste lucro.

A grande vantagem da opção pelo regime de tributação pelo lucro real é que a pessoa jurídica
poderá suspender ou reduzir o pagamento do IRPJ devido em cada mês, desde que demonstre,
por meio de balanços ou balancetes, que o valor acumulado, já pago, excede o valor do imposto
devido, inclusive o adicional calculado com base no lucro real do período em curso.

66 Copyright Ibmec
Opção pelo lucro presumido
Caso a pessoa jurídica não esteja obrigada à apuração do lucro
real (trimestral ou anual), ela poderá optar pelo regime do lucro
presumido.

Nesse regime, o IRPJ e a CSLL também são apurados trimestralmente,


mediante aplicação de um percentual sobre as receitas auferidas no
trimestre.

Este regime de tributação pode ser mais vantajoso para as pessoas jurídicas cuja margem de lucro
é superior ao presumido, calculada mediante aplicação de um percentual (definido pela legislação)
sobre a receita bruta.

Todavia, para saber se essa opção é mais ou menos vantajosa, a pessoa jurídica deverá também
levar em consideração o cálculo do PIS/PASEP e da COFINS devidos mensalmente, pois as
pessoas jurídicas optantes pelo regime do lucro presumido não estão contempladas pela sistemática
da não-cumulatividade dessas contribuições. Isso significa que as referidas contribuições serão
calculadas mediante as aplicações das alíquotas de 0,65% e 3% sobre a receita bruta, sem
qualquer redução do crédito.

A opção por qualquer regime de tributação NÃO admite mudança para o mesmo ano e será
definida como pagamento do imposto devido no primeiro mês ou trimestre de cada ano.

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MÓDULO 3
Fundamentos de Contabilidade
Gerencial

69
Unidade 1 – Contabilidade de Custos e Controle Gerencial
A seguir, você verá a definição de alguns conceitos indispensáveis
a este estudo.

Gasto
Este é um conceito amplo que define o sacrifício financeiro.

Existem duas formas de se registrar um gasto: diminuir um ativo ou criar um passivo.

Por exemplo, se o funcionário da empresa cumpre sua jornada mensal de trabalho e a empresa,
em contrapartida, paga o salário deste funcionário, o registro do pagamento tem como fato gerador
um gasto que terá como efeito a redução de um ativo (caixa ou saldo bancário).

Se, por outro lado, a empresa recebe a conta do telefone referente a um mês qualquer, com
vencimento no dia 20 do mês subsequente, ela precisa registrar o gasto com a utilização do telefone
no período. No entanto, a redução do ativo não será imediata porque a conta não é prontamente
exigível. Portanto, a empresa irá reconhecer um passivo a ser liquidado no vencimento da conta.

Quando a contrapartida da redução do ativo é imediata ao registro contábil, dizemos que houve
desembolso para fazer face ao gasto correspondente. Quando a contrapartida do gasto é o
reconhecimento do passivo, dizemos que o desembolso foi adiado pelo prazo concedido pela
fonte do passivo (fornecedor, empregado etc.).

Alguns gastos, como, por exemplo, a depreciação de ativos imobilizados, são meramente escriturais,
ou seja, são gastos que não implicam em desembolso. De acordo com a finalidade do gasto,
será determinada sua classificação contábil e o relatório contábil onde ele será reconhecido.

71
Classificação Relatório de Baixa
Finalidade do Gasto Exemplo
Contábil Reconhecimento Contábil
Gasto com objetivo de Baixa por
Balanço
geração de benefícios ao Compra de uma depreciação,
Investimentos Patrimonial – Ativo
longo de vários exercícios máquina provisões ou
Não Corrente
futuros impairment
Demonstração
Gasto com objetivo de Aluguel da loja da
Despesas do Resultado do -
geração de receitas empresa
Exercício (DRE)
Baixa como
Aluguel do custo do
Gasto com objetivo de galpão onde produto/
Balanço
adquirir ou produzir o são fabricados mercadoria
Custo Patrimonial –
objeto de negócio da os produtos vendida por
Estoques
empresa comercializados ocasião da
pela empresa venda ou por
impairment
Desperdício
de matéria-
Gasto imprevisto e prima estocada
Perda DRE -
involuntário em função de
enchente na área
do almoxarifado

Gasto, então, é o valor em dinheiro ou o equivalente em dinheiro sacrificado na produção de bens


e serviços que deve trazer um benefício atual ou futuro para a organização.

Quando o gasto poderá ser reconhecido como custo?


• No momento da utilização dos fatores de produção (bens e serviços).
• Na fabricação de um produto ou elaboração de um serviço.

Por exemplo:

A matéria-prima foi um gasto em sua aquisição que imediatamente se tornou investimento e assim
ficou durante o tempo de sua estocagem, sem que aparecesse nenhum custo associado a ela. Se
esta matéria-prima jamais for processada e acabar se estragando, ela nunca se transformará em
custo e sua baixa se dará, um dia, como perda.
72 Copyright Ibmec
Por outro lado, se esta matéria-prima começa a ser processada com o objetivo de gerar o produto
explorado pela empresa, ela passa a constituir um custo, embora continue a ser classificada como
estoque no Balanço Patrimonial.

Enquanto este produto não for vendido, ele permanece um ativo contabilizado no estoque
da empresa. Por ocasião da venda do produto, no entanto, sua baixa do estoque terá como
contrapartida o registro do seu custo na demonstração do resultado do exercício a fim de confrontar
esse valor com a receita gerada pela venda. Se o valor recebido for maior que o valor consumido
na geração do produto, diremos que o produto tem margem positiva. Se, por outro lado, o valor
recebido na venda for inferior ao valor consumido na produção, o produto não será considerado
viável como negócio.

O custo de todo produto será a soma de três componentes:

Custos
Lembre-se do que foi estudado no Módulo 1: custo é todo gasto relacionado diretamente à produção
de bens e serviços que representam o negócio explorado pela empresa.

Os custos podem ser classificados de diversas maneiras. A classificação do custo dependerá do


enfoque ou critério, sendo utilizado:

• quanto ao produto;
• quanto ao volume fabricado.

Quanto ao produto, o custo pode ser:


Custo direto

É o custo que pode ser diretamente (sem rateio) apropriado aos produtos, bastando existir uma
Copyright Ibmec 73
medida de consumo (quilos, horas de mão de obra, consumo de energia etc.). Desse modo, o
custo direto varia proporcionalmente à quantidade produzida.

Custo indireto

É aquele que, para ser incorporado aos produtos, necessita da utilização de rateio. Exemplos:
aluguel, iluminação, depreciação, salários de supervisores etc.

Na prática, a separação de custos diretos e indiretos leva em conta a relevância e o grau de


dificuldade de medição.

Por exemplo: o gasto de energia elétrica é, por sua natureza, um custo direto. Porém, devido às
dificuldades de medição do consumo por produto e ao fato de que o valor obtido por meio de rateio
pouco difere daquele que seria obtido com uma medição rigorosa, quase sempre esse custo é
considerado como custo indireto de fabricação.

Entende-se por rateio, portanto, a alocação de custos indiretos aos produtos em fabricação,
segundo critérios racionais.

Quanto ao volume fabricado, o custo pode ser:


Custo fixo

Aqueles cujo custo total permanece constante, independente


do volume produzido, tal como o aluguel e o seguro de fábrica,
entre outros.

Um aspecto importante a ressaltar é que os custos são fixos


dentro de determinada faixa de produção e, em geral, não são
sempre fixos, podendo variar em função de grandes oscilações
no volume de produção ou mesmo em decorrência de algum
fator que não seja a quantidade produzida.

Custo variável

É o custo que varia proporcionalmente ao volume de produção, tal como a matéria-prima, também
denominada materiais diretos, e mão de obra direta (MOD).

A mão de obra direta (MOD) refere-se aos custos relacionados com o pessoal que trabalha
diretamente na fabricação de produtos, como, por exemplo, uma costureira, uma indústria de
confecção etc.

74 Copyright Ibmec
Vale ressaltar que, para ser considerada MOD, é necessário que se possa medir a quantidade de
mão de obra aplicada a um determinado produto.

Métodos de rastreamento
Rastreabilidade é a atribuição de custos a partir de um relacionamento
casual.

O rastreamento de custos pode ocorrer de duas formas. São elas:


rastreamento direto e rastreamento por direcionadores.

O rastreamento direto é o processo de identificação e atribuição de custos


ao objeto de custo. A identificação de custos que são especificamente
associados a um objeto de custo é realizada, na maioria das vezes, pela
observação física.

Suponha, por exemplo, que um departamento de energia seja o objeto de


custo. O salário do supervisor do departamento de energia e o combustível
usado para produzir a energia são exemplos de custos que podem ser especificamente identificados
pela observação física com o objeto de custo, que, neste caso, é o departamento de energia.

Como um segundo exemplo, considere os materiais e a mão de obra usados para fazer um produto.
Ambos são fisicamente observáveis e, portanto, os custos dos materiais e da mão de obra podem
ser diretamente aplicáveis.

Outros Conceitos Relacionados a Custos

Custos desembolsáveis
São aqueles que requerem a utilização de recursos financeiros correntes.

Custos não-desembolsáveis
São custos para os quais não se espera um desembolso, uma vez que sua função é representar o
consumo da vida útil de um bem ou de um direito adquirido, não implicando em saída de recursos
financeiros. Exemplos: depreciação de equipamentos, amortização de licenças de software ou de
patentes etc.

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Custo de oportunidade
Para tomada de decisões em negócios, torna-se importante o
conceito de custo de oportunidade. Esse custo refere-se ao valor
que se deixou de ganhar em função de uma alternativa rejeitada.

Essas alternativas de ganhos, que são relegadas pela contabilidade,


podem ser relevantes para o proprietário na determinação de seu
lucro, se compararmos com suas oportunidades de receitas por
investimentos e trabalhos alternativos.

O princípio de custo de oportunidade é, portanto, extremamente simples e importante em decisões


referentes ao uso alternativo de fatores de produção.

Custo marginal e Custo incremental


O primeiro é o custo adicional pela produção de mais uma unidade do produto e o segundo, pela
produção de mais um lote de unidades do produto.

Ambos os conceitos são extremamente importantes, visto que muitas decisões são baseadas
neles.

Os contadores, por exemplo, frequentemente utilizam métodos simplificados e supõem que o


custo incremental é igual à variação dos custos multiplicada pelo número de unidades adicionais,
acrescida de uma parte dos custos fixos derivados da produção das unidades adicionais. Apesar
deste procedimento ignorar variações na eficiência e nos custos de oportunidade que estão
associados aos recursos dos custos fixos, o resultado pode ser considerado uma aproximação
aceitável da realidade.

Sistemas básicos de custeio – custo variável X custo por absorção

Você verá agora como a classificação de custos pode ser utilizada


como veículo de informação.

A Demonstração do Resultado do Exercício (DRE) é uma


peça contábil fundamental para a análise de custos. Essa
demonstração pode ser de dois tipos, dependendo da finalidade
de sua preparação: legislação societária e relatório gerencial.

76 Copyright Ibmec
Legislação Societária
Esta abordagem é conhecida no mercado como sendo o custeio por absorção, porque cada
unidade fabricada deve absorver uma parcela do custo fixo do período. Ou seja, por esse critério,
não apenas os custos diretos, como mão de obra e materiais, mas também custos indiretos de
eletricidade e material de limpeza, depreciações de equipamentos, entre outros, serão incorporados
ao valor de custo.
A estrutura de uma DRE pelo Custeio por Absorção é a seguinte:

Receita
( - ) Custo
= Lucro Bruto
( - ) Despesas
= Resultado

Um exemplo:
Suponha que a empresa A fabrique apenas 1 produto e que, no seu primeiro mês de operação,
ela tenha fabricado 10.000 unidades desse produto e tenha vendido 80% da sua produção. Seus
dados financeiros são os seguintes:
Preço de venda: R$100,00/ unidade

Custos variáveis: R$30,00 / unidade

Custos fixos: R$200.000,00/ mês

Despesas variáveis: R$5,00/ unidade

Despesas fixas: R$50.000,00/ mês

Cálculo da Receita:

• Quantidade vendida: se a empresa vendeu 80% da produção, ela vendeu 10.000 x 80% = 8.000
unidades.
• Valor da receita = 8.000 unidades x R$100,00 = 800.000,00.

Cálculo do Custo:

• Custo variável unitário = R$ 30,00/unidade


• Custo fixo unitário = custo total/ quantidade fabricada = R$200.000,00 / 10.000 = R$20,00/
unidade.
Copyright Ibmec 77
• Custo Unitário total = custo fixo + custo variável = 20,00 + 30,00 = R$50,00/ unidade
Custo da Produção Vendida = quantidade vendida x custo total unitário = 8.000 x R$50,00 =
R$400.000,00

Cálculo da Despesa:

• Despesa variável unitária = R$5,00/unidade


• Despesa variável total = despesa variável unitária x quantidade vendida = 5,00 x 8.000 =
R$40.000,00
• Despesa fixa total = R$50.000,00/mês
• Despesa total do período = despesa variável total + despesa fixa = R$90.000,00

DRE – Custeio por Absorção:

Receita 800.000,00
( - ) Custo (400.000,00)
= Lucro Bruto 400.000,00
( - ) Despesas (90.000,00)
= Resultado 310.000,00

Cálculo do Valor do Estoque Final:

• Quantidade de Estoque Final = Estoque Inicial + Produção do Período – Produção Vendida →


0 + 10.000 – 8.000 = 2.000 unidades
• Custo variável total = R$30,00/unidade x 2.000 = R$60.000,00
• Custo fixo total = R$20,00 x 2.000 = R$40.000,00
• Valor total do estoque = R$100.000,00

78 Copyright Ibmec
Resumo do custeio por absorção:

• Separam-se custos de despesas.


• Custos fixos são rateados para os produtos fabricados.
• Critério de rateio de custos fixos é sempre subjetivo.
• Despesas fixas jamais são rateadas porque são associadas ao período de sua incorrência
e não aos produtos fabricados.
• Quando há estoque final, as unidades não vendidas levam custo fixo para o estoque,
reduzindo o impacto do custo na DRE.

Relatório Gerencial
Esta abordagem é conhecida no mercado como sendo o custeio por variável, porque os custos
de fabricação são separados em componentes fixos e variáveis. Somente os custos de fabricação
variáveis são considerados custos de produção. Os custos fixos são considerados custos do
período, ou seja, que são incorridos no período independente do nível de produção. São atribuídos
diretamente à receita como uma despesa.

Usando o procedimento do custeio variável, um custo é considerado de produção se:

• estiver relacionado com o processo produtivo;


• possuir natureza variável.

A estrutura de uma DRE pelo Custeio Variável é a seguinte:

Receita
( - ) Custo variável
( - ) Despesa variável
= Margem de Contribuição
( - ) Custo fixo
( - ) Despesas fixas
= Resultado

Copyright Ibmec 79
Um exemplo:

Suponha o mesmo caso anterior, em que a empresa A fabrique apenas 1 produto e que, no seu
primeiro mês de operação, ela tenha fabricado 10.000 unidades e tenha vendido 80% da sua
produção. Seus dados financeiros:

Preço de Venda: R$100,00/ unidade

Custos variáveis: R$30/00 por unidade

Custos fixos: R$200.000,00/ mês

Despesas variáveis: R$5,00/ unidade

Despesas fixas: R$50.000/ mês

Cálculo da Receita:

• Quantidade vendida: se a empresa vendeu 80% da produção,


ela vendeu 10.000 x 80% = 8.000 unidades
• Valor da receita = 8.000 unidades x R$100,00 =
R$800.000,00

Cálculo do Custo variável

• Custo variável unitário = R$30,00/unidade


• Custo variável total = quantidade vendida x custo variável unitário = 8.000 x R$ 30,00 =
R$240.000,00

Cálculo da Despesa variável:

• Despesa variável unitária = R$5,00/unidade


• Despesa variável total = despesa variável unitária x quantidade vendida = R$ 5,00 x 8.000 =
R$40.000,00

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DRE – Custeio Variável:

Receita 800.000,00
( - ) Custo Variável (240.000,00)
( - ) Despesa Variável (40.000,00)
= Margem de Contribuição 520.000,00
( - ) Despesas Fixas ( 50.000,00)
( - ) Custo Fixo (200.000,00)
= Resultado 270.000,00

Cálculo do Valor do Estoque Final:

• Quantidade de Estoque Final = Estoque Inicial + Produção do Período – Produção Vendida →


0 + 10.000 – 8.000 = 2.000 unidades
• Custo variável total = R$30,00/unidade x 2.000 = R$60.000,00
• Custo fixo total = como o custo fixo foi inteiramente considerado no resultado, as unidades não
vendidas não levam custo fixo para estoque
• Valor total do estoque = R$60.000,00

Resumo do custeio variável:

• Separam-se elementos variáveis dos fixos, independente de serem estes custos ou


despesas.
• Os custos e despesas variáveis são aqueles efetivamente consumidos para gerar e
comercializar a unidade específica que foi vendida.
• Deduzindo-se os custos e despesas variáveis da receita, a diferença é em quanto as
unidades vendidas estarão contribuindo para a cobertura efetiva dos custos fixos.
• Custos fixos não são rateados para os produtos fabricados, mas alocados ao período de
sua incorrência.
• Evita-se a subjetividade do critério a ser utilizado em caso de rateio.
• Despesas fixas jamais são rateadas porque são associadas ao período de sua incorrência
e não aos produtos fabricados.
• Quando há estoque final, as unidades não vendidas não levam custo fixo para o estoque,
aumentando o impacto do custo na DRE.

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Comparação entre a Legislação Societária e o Relatório Gerencial
A diferença obtida entre os dois critérios – de custeio por absorção e de custeio variável,
respectivamente – está sempre na parcela de custo fixo que as unidades não vendidas levam para
estoque ao invés de considerar no resultado do período no custeio por absorção:

• Resultado pela absorção: R$310.000,00


• Resultado pelo variável: R$270.000,00
• Diferença = R$40.000,00
• Parcela de custo fixo embutido no valor do estoque final pelo custeio por absorção:
R$40.000,00
• Parcela de custo fixo embutido no valor do estoque final pelo custeio por variável: zero

Um custo variável é um custo que varia no total e está diretamente


relacionado ao nível de produção. Portanto, se a produção dobrar, o
custo dobrará. Já um custo fixo é aquele que permanece constante
dentro dos limites bem amplos de produção.

A suposição é a de que se incorre em um custo variável porque


o produto foi produzido. Se a produção tivesse diminuído, o custo
variável teria decrescido proporcionalmente. Já um custo fixo não é
considerado custo do produto porque ele teria incorrido, houvesse
ou não produção.

Um novo exemplo. Imagine a seguinte situação: um produto possui


um custo fixo de R$1.000,00 por unidade.

Se, entretanto, em vez de 1 unidade, forem produzidas 1000 unidades, os custos fixos serão de
R$1,00 por unidade.

Agora, se o preço de venda for de R$5,00 por unidade, pode-se desenvolver a seguinte situação:

Fábrica A Fábrica B
Vendas 5,00 5,00
Menos custo do produto - 1.000,00 - 1,00
Resultado (lucro ou prejuízo) - 995,00 4,00

82 Copyright Ibmec
Nesse caso, cada fábrica vendeu somente uma unidade pelo mesmo preço de R$5,00 e tem os
mesmos custos fixos de R$1.000,00 (o custo variável é considerado zero, de modo a simplificar a
ilustração).

Apesar destes fatos, uma fábrica mostra uma perda de R$ 995,00 e a outra um lucro de R$4,00.
A razão deste confuso relatório é que, no caso da fábrica B, seu estoque agora contém 999
unidades do produto avaliadas a R$1,00 cada.

A performance das duas fábricas deve depender, entretanto, das


vendas e da eficiência da fábrica e não da quantidade da produção
para o estoque. Isto tem mais sentido do que a situação em que
a fábrica melhora seus resultados simplesmente aumentando a
produção.

Em termos de medida de lucro, a diferença entre os dois procedimentos


de custeio dependerá das alterações do estoque. Com o custeio por
absorção convencional, se os estoques permanecem constantes,
todos os custos fixos da produção serão atribuídos ao custo dos
produtos vendidos e, portanto, deduzidos do lucro. Como resultado,
obteremos a mesma cifra do custeio variável, embora apresentada
de forma diferente.

Por outro lado, quando a produção for maior do que o volume de vendas, o resultado do custeio
por absorção será maior do que o do variável, pois parte dos custos fixos ocorridos no período
permanecerão no estoque de produtos acabados, evidenciados no balanço patrimonial.

Entretanto, quando houver uma redução no estoque (vendas maiores que a produção), o custeio
por absorção apresentará um resultado menor do que o custeio variável, uma vez que alguns dos
custos fixos do período precedentes serão atribuídos ao lucro corrente, juntamente com os custos
fixos do atual período.

Devemos levar em consideração, ainda, que o procedimento de custeio variável remete ao resultado
de todos os custos e despesas fixas independente do volume de vendas. Assim, quando há um
aumento no estoque, o custeio variável resulta em cifras de lucros menores do que o custeio por
absorção. Já quando o estoque está declinando, o custeio variável revela lucros maiores.

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Decisões sobre preços de produtos – custo/ volume/ lucro
Você já sabe que a análise do impacto da mudança de volume
das vendas no lucro pode se tornar uma ferramenta útil para o
administrador.

A eficiência de algumas decisões - tais como preços do produto,


nível de produção ou introdução de um novo produto - pode ser
melhorada de forma significativa quando a relação volume-lucro
for considerada.

Um aspecto importante da análise volume-lucro são os conceitos de custos fixos e variáveis que
permitem uma expansão das possibilidades de análise dos gastos da empresa em relação aos
volumes produzidos ou vendidos.

Esses custos determinam os pontos importantes que fundamentam as futuras decisões de:

• aumento ou diminuição dos volumes de produção;


• corte ou manutenção de produtos existentes;
• mudanças no mix de produção;
• incorporação de novos produtos ou quantidades adicionais.

Por definição, um custo fixo é um custo que não varia no total, apesar das mudanças no volume
de produção. Já um custo variável é aquele que varia no total proporcionalmente ao volume, mas
é constante por unidade.

Isto não quer dizer que os custos fixos nunca variem. A quantidade de custo fixo em qualquer
ano pode ser diferente da quantidade dos anos anteriores, mas as mudanças nestes custos são
atribuídas às mudanças de volume.

Os custos variáveis, por sua vez, são teoricamente constantes por unidade de produção e, portanto,
deveriam variar diretamente com o volume. Na prática, entretanto, as dificuldades de empregar
trabalhadores para frações de horas ou de utilizar quantidades precisas de matéria-prima podem
tornar somente aproximada estas relações. Contudo, apesar das limitações deste enfoque, a
categorização de custos fixos e variáveis pode ser extremamente útil para propósitos analíticos.

O fato é que a análise custo/volume/lucro nos remete a, pelo menos, três importantes conceitos:

• Margem de contribuição
• Ponto de equilíbrio
• Alavancagem operacional

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Margem de contribuição
A margem de contribuição, já apresentada informalmente
quando vimos a estrutura do custeio variável, é o valor obtido
a partir da diferença entre a receita e os custos e despesas
variáveis, ou seja, é o valor que cada unidade efetivamente
traz à empresa de sobra entre a receita e o custo e despesas
efetivamente consumidas para sua produção e comercialização.
Essa margem é, portanto, o valor que contribui para a cobertura
dos custos fixos e despesas fixas e para a formação do lucro.

• Quando a margem de contribuição é igual à soma dos custos fixos e de despesas fixas, a
empresa terá resultado igual a zero.
• Quando a margem de contribuição é menor do que a soma dos custos fixos e de despesas fixas,
a empresa terá prejuízo.

Como a margem de contribuição é uma função do volume, podemos relacionar os lucros da


empresa ao volume de vendas e produção.

Vamos supor, por exemplo, que uma determinada empresa tenha um prejuízo. Se sua margem
de contribuição for positiva, a empresa pode achar melhor permanecer operando. Portanto, a
margem de contribuição fornece uma medida dos efeitos da continuação das operações.

Por outro lado, se a margem de contribuição for negativa, significa que as receitas são menores
do que os custos variáveis totais, de modo que a empresa faria melhor negócio se fechasse suas
portas.

Portanto, a margem de contribuição é um conceito útil para a tomada de decisões.

Outro exemplo. Suponha os seguintes dados:

Quadro 1

Custo Custo
Custo Preço de
Produto Indireto Indireto Custo Total Lucro
Direto Venda
Variável Fixo
A 700,00 80,00 317,00 1.097,00 1.550,00 453,00
B 1.000,00 100,00 396,00 1.496,00 2.000,00 504,00
C 750,00 90,00 317,00 1.157,00 1.700,00 543,00

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Quadro 2

Custo Custo Indireto Custo Variável Preço de Margem de


Produto
Direto Variável Total Venda Contribuição
A 700,00 80,00 780,00 1.550,00 770,00
B 1.000,00 100,00 1.100,00 2.000,00 900,00
C 750,00 90,00 840,00 1.700,00 860,00

De acordo com a tabela, os custos fixos rateados aos produtos distorceram a verdadeira
potencialidade de cada produto em cobrir custos fixos e formar lucros.

No primeiro quadro, por exemplo, o produto com o maior lucro por unidade é o produto C. Todavia,
ao se extirpar os custos fixos da análise, concluímos, com base no conceito de margem de
contribuição (segundo quadro), que o produto com maior potencial de lucratividade é o produto B.

A ênfase nos custos variáveis no cálculo da margem de contribuição em detrimento dos custos
fixos se sustenta em função de três questões:

1. Por sua própria natureza, os custos fixos existem independentemente da fabricação ou não
desta ou daquela unidade e acabam presentes no mesmo montante, mesmo que as oscilações
ocorram no volume de produção.

2. Por não dizerem respeito a este ou àquele produto ou a esta ou àquela unidade, são quase
sempre distribuídos com base em critérios de rateio, que contém arbitrariedade em maior ou
menor grau.

3. O valor do custo fixo por unidade depende ainda do volume de produção; portanto, aumentando-
se o volume, obtém-se um menor custo fixo por unidade e vice-versa.

Portanto, se for decidir com base em custos, é necessário associar sempre o custo global ao
volume que se tomou como base. Se a empresa em questão estiver reduzindo um item (dentro de
certos limites) por ser pouco lucrativo, sua situação ficará ainda pior, pois os custos fixos se
manterão inalterados.

Conforme demonstrado, o conceito de margem de contribuição


unitária ou total é muito útil na tomada de decisões. Contudo, você
deverá tomar alguns cuidados, pois a análise a partir da Margem
de Contribuição unitária pode levar ao erro no caso de um produto,
por exemplo, que apresente grande contribuição ao lucro total, mas
possua baixa margem unitária.

86 Copyright Ibmec
Suponhamos o problema da aplicação da margem de contribuição unitária, ou seja, o problema de
limitação na capacidade de produção. Com base nesse exemplo, imagine um produto B qualquer,
seguido de C e A como produtos mais lucrativos da empresa.

Suponha agora que, para se fazer cada unidade de A, gasta-se apenas 1h de mão de obra, contra
2h de B e 1,5h de C. Calculando a margem de contribuição por hora de mão de obra, temos
a seguinte ordem:

• 1º - Produto A (1h), com R$770,00 de margem de contribuição por hora MOD.


• 2º - Produto C (1,5h), com R$573,33 de margem de contribuição por hora de MOD.
• 3º - Produto B (2h), com R$450,00 de margem de contribuição por hora de MOD.

A partir dos dados expostos, pode-se concluir que, caso a empresa encontre limitações em termos
de capacidade de horas de mão de obra disponíveis, será interessante produzir e vender (desde
que haja condições de mercado) o produto com o qual a empresa ganha mais por cada unidade
de fator limitativo empregada.

No caso citado, o fator escasso são horas de mão de obra (em outro caso, poderia ser matéria-
prima etc.). Logo, dentro daquilo que o mercado permite, deve-se produzir o produto que melhor
aproveite o fator limitativo.

Todavia, quando existirem, em um mesmo período, diversos fatores que limitem a capacidade de
produção da empresa, como horas de MOD e certa matéria-prima, a solução simples e rápida que
você acaba de ver não irá funcionar!

Será necessário recorrer a métodos mais sofisticados, como a Programação Linear, por exemplo,
ou a outros modelos matemáticos.

Os conceitos de Ponto de equilíbrio e Alavancagem operacional serão abordados na próxima


Unidade – “Comportamento dos Custos”.

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Unidade 2 - Comportamento dos Custos
Análise do ponto de equilíbrio
O ponto de equilíbrio é aquele nível de volume no qual as receitas totais se
igualam aos custos e despesas totais. Nesse caso, a empresa não tem lu-
cro, mas também não sofre prejuízo, já que as vendas são iguais ao volume
de ponto de equilíbrio.

O ponto de equilíbrio (ponto de ruptura) pode ser determinado a partir da


margem de contribuição. Para simplificar a análise, considera-se que o
volume de vendas é igual ao volume de produção.

A relação entre a margem de contribuição e ponto de equilíbrio pode ser


traduzida no seguinte cálculo:

RT = CDT + L

Onde:
RT: receita total.
CDT: custos e despesas totais.
L: lucro (no ponto de equilíbrio o lucro é igual a zero).

Desmembrando o CDT da fórmula RT = CDT + L, temos:

CDT= CDFt + CDVt

Onde:

CDFt: custos e despesas fixas totais

CDVt: custos e despesas variáveis totais

Desse modo, temos:

RT = CDF + CDVt + 0

Ou:

Pv x q = CDFt + CDVu x q

88 Copyright Ibmec
Onde:

Pv x q: preço de venda unitário x quantidade

CDVu x q: custos e despesas variáveis por unidade x quantidade

Assim,

Pv.q = CDF + (CDVu.q)

Ou:

q = CDF / (PV – CDVu)

Imagine, por exemplo, que o custo de uma empresa de calçados é de R$10.000,00 por mês. O
produto é vendido a um preço de R$3,00 e os custos variáveis de produção são de R$0,50 por
unidade.

Você sabe quantas unidades devem ser vendidas mensalmente para a empresa alcançar o ponto
de equilíbrio?

Veja:

Receita = 4.000 por R$3,00 = R$12.000,00

(-) CDV 4000 por R$0,50 R$ 2.000,00


MCTR R$10.000,00
(-) CDF R$10.000,00
Resultado 0

Gráfico do Ponto de Equilíbrio


É utilizado para comparar a relação entre custo, volume e lucro de um produto. Veja sua forma
clássica de apresentação:

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No gráfico, as despesas variáveis são inseridas a partir das despesas fixas para a obtenção de
uma medida de despesas totais.

O ponto de convergência das duas retas (despesas totais e receita) é o ponto de equilíbrio.

A área verificada depois do cruzamento das retas representa o potencial de lucro a ser obtido pela
empresa após ser alcançado o ponto de equilíbrio. Da mesma forma, a área abaixo desse ponto
corresponde ao prejuízo.

A informação do ponto de equilíbrio, tanto global como por produto, é importante, porque identifica
o nível mínimo de atividade em que a empresa ou divisão deve operar.

Margem de Segurança
A margem de segurança é a quantia ou índice de vendas obtido a partir da diferença entre o volume
atual de vendas da empresa e o volume de vendas necessário para alcançar o ponto de equilíbrio.
Portanto, é o volume de vendas que excede às vendas calculadas no ponto de equilíbrio.

A margem de segurança representa o quanto as vendas podem cair sem que a empresa incorra
em prejuízo, podendo ser expressa em valor, unidade ou percentual.

A fórmula para calcular a margem de segurança (MS) é:

MS = Va - Ve

90 Copyright Ibmec
Sendo:

Va = volume atual de vendas

Ve = Volume no ponto de equilíbrio

Cada unidade adicional acima do nível do ponto de equilíbrio acresce ao lucro a quantia da margem
de contribuição por unidade. Assim, caso seja desejável calcular o lucro em um determinado nível
de vendas acima do ponto de equilíbrio, basta multiplicar a margem de segurança pela margem de
contribuição unitária usando a seguinte fórmula:

Lucro = MS x MCU

Alavancagem operacional
É o índice que relaciona o aumento percentual nos lucros com o aumento percentual da quantidade
vendida em determinado nível de atividade.

A fórmula que possibilita o grau de alavancagem operacional é a seguinte:

GaO = ∆%L / ∆%V

Onde:

∆%L = Crescimento % Lucro

∆%V = Crescimento % Volume

Considere, por exemplo, que você tenha vendido um volume de 5.000 unidades de um produto
qualquer e tenha obtido um lucro de R$2.500,00. Suponha, agora, um aumento de 20% no volume
atual de vendas. Nesse caso, em quanto ficaria o aumento no lucro?
Novo volume = 6.000

Nova MS = 2.000, já que o ponto de equilíbrio é de 4.000 unidades

Novo lucro = MS x MCU  2.000 x 2,5 = R$ 5.000.

Logo, podemos concluir que, no caso acima, a alavancagem operacional da empresa aumentou
cinco vezes, ou seja, a cada percentual de aumento no volume de vendas, o lucro irá aumentar
cinco vezes esse percentual.

Nesse caso, as vendas aumentaram 20% e o lucro 100%.


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Pontos de equilíbrio contábil, econômico e financeiro
Você viu, até agora, que o ponto de equilíbrio contábil foi concebido
de acordo como uma equação contábil, na qual a receita é igual
à soma de custos e despesas, mantendo-se um resultado igual a
zero.

O estudo do ponto de equilíbrio contempla, entretanto, algumas


variáveis que podem ser adequadas de diversas maneiras,
dependendo do problema que está sendo investigado.

Podemos considerar, por exemplo, que nem todos os custos fixos são efetivamente desembolsáveis,
tal como a depreciação, gasto que não gera desembolso.

Um resultado contábil nulo indica que a empresa está, economicamente, perdendo dinheiro (pelo
menos os juros do capital próprio investido, conforme o conceito de custo de oportunidade).
Entretanto, quando uma empresa alcança o ponto de equilíbrio, por exemplo, o resultado obtido
nesse ponto será igual a zero.

Analise as situações a seguir.

Caso 1

Uma empresa trabalha com custo fixo de R$10.000,00 por mês. O produto dessa empresa é
vendido a um preço de R$3,00 e os custos variáveis de produção são de R$0,50 por produto.
Nesse caso, qual seria o ponto de equilíbrio contábil dessa empresa?

PEC = 10.000 / 2,5 = 4.000 unidades

Receita 4.000 por R$3,00 R$12.000,00

(-) CDv 4000 por R$0,50 R$ 2.000,00

MCT R$10.000,00

(-) CDF R$10.000,00

Resultado 0

92 Copyright Ibmec
Adequando a equação do PEC ao Ponto de Equilíbrio Econômico, teremos:

CDF + lucro mínimo desejado


PEE =
MCU

PEE = (10.000 + 600) / 2,5

PEE = 4.240 unidades

Receita 4.240 por R$3,00 R$ 12.720,00

(-) CDv 4.240 por R$0,50 R$ 2.120,00

MCT R$10.600,00

(-) CDF R$ 10.000,00

Resultado R$ 600,00

Caso 2

Considere, agora, que a mesma empresa, possuidora de um custo fixo de R$10.000,00 por mês,
apresente uma depreciação de 20%, ou seja, R$ 2.000. Qual seria o ponto de equilíbrio financeiro
nesse caso?

CDF – Parte não desembolsável


PEF =
MCU

Então,

10.000 - 2.000
PEF =
2,5

PEF = 3.200 unidades

93
Receita 3.200 a R$3,00 R$9.600,00

(-) CDv 3.200 a R$0,50 R$ 1.600,00

MCT R$ 8.000,00

(-) CDF R$ 10.000,00

Resultado - R$ 2.000,00

Com um prejuízo de R$2.000,00, podemos afirmar que a empresa está abaixo do equilíbrio contábil,
uma vez que as 3.200 unidades vendidas não cobrem todos os custos.

Ao mesmo tempo, podemos afirmar que ela está em equilíbrio financeiro, uma vez que o prejuízo
contábil de R$2.000,00 refere-se justamente à depreciação que, embora seja uma despesa legítima
relativa à parte perdida do ativo imobilizado, é um gasto que não gera saída de dinheiro do caixa.

94 Copyright Ibmec
MÓDULO 4
Orçamento Empresarial

95
Unidade 1 - Conceitos Gerais e Princípios de Planejamento
Orçamento
Este, em termos gerais, é considerado um dos pilares da gestão e uma das ferramentas fundamentais
para o accountability (obrigação dos gestores em prestar contas de suas atividades).

Os compromissos dos gestores, quando não especificados e definidos no plano estratégico,


acabam sendo firmados no momento da montagem do orçamento.

Dessa maneira, ao planejar e acompanhar os resultados da empresa, o gestor permite que o


accountability ocorra na organização de maneira estruturada, negociada e justa.

O orçamento é o plano financeiro necessário à implementação das estratégias da empresa para


determinado exercício. Ele é mais do que uma simples estimativa, pois deve estar baseado no
compromisso dos gestores em termos de metas a serem alcançadas.

Além disso, o orçamento deve conter as prioridades e metas da entidade por um determinado
período. Deve proporcionar, também, condições de avaliação do desempenho da entidade, suas
áreas internas e seus gestores.

Estruturação do orçamento
Dependendo do tipo de organização, o orçamento pode ser estruturado de várias maneiras. As
principais são:

• Top-down: estruturações que ocorrem de cima para baixo.


• Bottom-up: estruturações que ocorrem de baixo para cima na pirâmide organizacional.

A estruturação mais frequente é a top-down, geralmente por questões de praticidade e tempo


envolvido.

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Planejamento
Todo orçamento surge como consequência de um plano estratégico
bem elaborado, ou seja, o orçamento existe para implementar as
decisões do plano estratégico. Dessa forma, quando as decisões
não forem tomadas no plano estratégico, deve haver algum impacto
no gerenciamento dos elementos internos da empresa

Nesse sentido, um trabalho de qualidade, feito durante a montagem


do plano estratégico, faz com que o orçamento tenha grandes
chances de ser elaborado com coerência e consistência.

Portanto, para elaborar um bom planejamento orçamentário, é importante que você conheça os
princípios gerais necessários a um planejamento. É o que você verá a seguir.

Envolvimento administrativo
A administração da empresa, especialmente o “topo da pirâmide”, deve:

• Compreender o papel do planejamento nos negócios, estando convencida do benefício que ele
traz à organização.
• Dedicar recursos ao desenvolvimento do planejamento, apoiando o instrumento em suas várias
etapas e cobrando resultados.
• Viabilizar a participação das várias áreas da organização.
• Entender as limitações inerentes ao processo.

Caso estas medidas não sejam tomadas, todo o processo é afetado de maneira significativamente
desfavorável.

Adaptação organizacional
As responsabilidades organizacionais devem estar claras, ou seja, o organograma formalizado
pela organização deve corresponder à estrutura que realmente existe.

Este princípio é fundamental para que os gestores saibam quem deve ser chamado para discutir o
plano e, posteriormente, quem deve ser responsabilizado por ele.

As sobreposições de funções devem ser terminantemente evitadas, assim como a falta de


definição de responsabilidades.

98 Copyright Ibmec
Contabilidade por área de responsabilidade
Unidades de negócios, centros de lucros, centros de custos e centros de responsabilidades devem
estar claramente definidos na contabilidade e devem ser considerados na geração de informações.
Além disso, o plano de contas deve refletir adequadamente as operações existentes ou previstas.

Orientação por objetivos


Os objetivos da organização devem estar presentes em todas as áreas da empresa. Assim, cada
indivíduo deve ser responsável pelos objetivos da sua área de atuação.

É importante, também, que os objetivos conflitantes sejam evitados entre a organização e suas
várias áreas.

O estabelecimento adequado de objetivos traz à tona a preocupação fundamental com a avaliação


do nível de eficiência atingido pelo todo e pelas partes da sua empresa.

Portanto, é possível evitar a dubiedade de objetivos organizacionais quando levamos em


consideração:

• indivíduos;
• áreas;
• empresa;
• amarração (costura entre todos os envolvidos no planejamento).

Comunicação integral
Quanto mais clara e apoiada for a comunicação no processo de planejamento, mais facilmente os
problemas serão tratados por todos.

Expectativas realísticas
Devem ser evitados tanto os planos acomodados (que não ofereçam desafios), como os
extremamente agressivos (com baixa aplicabilidade).

Os dois extremos são nocivos à organização e nem sempre é fácil entender e avaliar o grau de
realidade de um plano.

Assim, a maneira considerada mais adequada para a construção de um plano requer a análise de
cada uma das partes. Só assim poderemos julgar se o todo é realista ou não.

99
Oportunidade
O planejamento anual deve ser montado, analisado, aprovado e divulgado antes de ser colocado
em prática. Um minucioso cronograma de elaboração deve ser realizado para viabilizar a
montagem do planejamento no tempo disponível. Se um planejamento referente ao mês de janeiro
ficar disponível somente no mês de maio, sua serventia será muito pequena, em decorrência da
defasagem dos fatos.

Princípio da aplicação flexível


O processo de planejamento deve estar a serviço da empresa e, portanto, não deve possuir uma
estrutura extremamente rígida que impeça a implementação de ações que, por algum motivo, não
foram percebidas ou consideradas no planejamento.

Por outro lado, é fundamental evitar situações em que o processo de planejamento seja totalmente
ignorado. Isso impedirá qualquer tipo de mudança sem critério.

Acompanhamento
Um planejamento somente será consumado se for monitorado, acompanhado e controlado.

Portanto, além de identificar as variações, ações corretivas ou de manutenção, é importante


planejá-las e executá-las. Consequentemente, o processo de planejamento deverá passar por
revisões que incorporem as variações decorridas.

Reconhecimento do esforço individual e do grupo


Quando a organização identifica as variações favoráveis e
desfavoráveis, relacionando tal desempenho a uma área e a
um indivíduo, causando consequências na remuneração, ela
proporciona condições de motivação adequadas às pessoas.
Deve-se evitar a ênfase apenas no desempenho negativo, pois
isso cria a percepção de que o orçamento só existe para “punir”
os executivos.

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Elementos indispensáveis à montagem do orçamento
Além de entender e alinhar sua prática com os princípios de planejamento, é importante que você
conheça os elementos que devem ser tratados antes do início da montagem do orçamento. São
eles:

Diretrizes
Correspondem ao briefing da alta administração, direcionando as ações para os vários segmentos.
É, portanto, a tradução daquilo que foi decidido no planejamento estratégico e que deve ocorrer no
intervalo de tempo a ser considerado pelo orçamento.

Cenários
É importante que você fique atento ao cenário da organização, considerando os aspectos que
possam afetar os negócios. Dentre eles, podemos destacar:

• cenário político;
• cenário econômico;
• cenário mercadológico (clientes, fornecedores, concorrência etc.).

A organização pode dispor de cenários tanto por elaboração externa de especialistas como por
montagem doméstica a partir do desenvolvimento da sua equipe interna.

Tanto o cenário como as premissas são basilares na elaboração do orçamento, devendo estar
definidos antes do início da montagem do instrumento propriamente dito.

Premissas
Também denominadas de pressupostos. São definidas pelo consenso entre os gestores antes do
início do processo de planejamento. Porém, independente de quem as concebeu, são premissas
da administração, devendo ser por ela assumidas.

Mesmo que terceiros tenham desenvolvido e fornecido tais premissas, elas se tornam premissas
da empresa quando utilizados no orçamento. Isso é importante porque elas têm um impacto muito
grande sobre os resultados, tornando o planejamento confiável ou não, dependendo do patamar
estabelecido.

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As premissas podem ser divididas em:

Operacionais

Referem-se às atividades da empresa. Entre as várias premissas existentes, podemos destacar:

• fatores de consumo de materiais e mão de obra;


• hierarquia de produtos para um período futuro;
• estrutura organizacional do ponto de partida;
• relação dos centros de custos e unidades de negócios;
• tendência de obtenção de insumos;
• pontos de partida (saldos de balanço, preços dos produtos a comercializar, salários etc.).

Estruturais

Correspondem aos critérios considerados, tais como moeda de decisão a ser utilizada, período de
planejamento etc.

Econômico-financeiras

Correspondem à inflação, aos juros, à variação dos preços dos insumos, à variação cambial etc.

Atenção! As premissas devem estar prontas e definidas antes do início da montagem do


orçamento.

Pré-planejamento
Consiste na montagem da demonstração de resultados a partir da sensibilidade dos executivos.
Tal exercício não consiste, por si só, na montagem de um orçamento, mas em uma forma de
direcionar as ações para facilitar o processo de montagem do instrumento.

O pré-planejamento, portanto, permite antever as principais tendências esperadas pela alta


administração da empresa.

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Etapas de montagem do orçamento
A montagem de um orçamento pode ser dividida em dois blocos:

• Etapa operacional - Consiste nos planejamentos que proporcionam condições de estruturação


para as atividades da organização, integrando as atividades e as operações. Deve ser
caracterizada pelo tipo de atividade da empresa, seja ela industrial, de serviços ou comercial.
• Etapa financeira - Corresponde à tradução de todas as atividades para uma linguagem
comum, no caso, a monetária. A caracterização da etapa financeira se dá pela existência dos
demonstrativos contábeis, ou seja, do balanço, da demonstração de resultados e do fluxo de
caixa.

Etapa operacional
A etapa financeira já foi abordada nos módulos anteriores. Aqui você encontra um detalhamento
da etapa operacional, que é dividida em cinco planos fundamentais.

Plano de marketing

Indica a atividade comercial da organização, no que se refere ao volume físico de venda por
período, por área, por preço etc.

Além disso, define a política de descontos, prazos e gastos com comunicação e despesas
comerciais. Deve contemplar decisões alinhadas com o plano estratégico, destinadas ao período
compreendido pelo orçamento.

Em condições normais, a área comercial de qualquer empresa deve se mobilizar para desenvolver
o planejamento orçamentário, levando em conta as necessidades internas.

Plano de suprimentos, produção e estocagem (PSPE)

Trata dos estoques de:

• produtos acabados;
• matérias-primas;
• produtos em processo;
• produção própria ou terceirizada;
• suprimento de materiais e necessidade de mão de obra da organização.

Assim, a área de operações deve estar estruturada para coordenar as atividades de planejamento
dos processos de suprimentos, produção e de estocagem.

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Plano de investimentos no ativo permanente

Explica os gastos que serão efetuados em movimentações (aquisições, vendas e baixas)


referentes ao ativo permanente da organização. Envolve, portanto, todos os tipos de investimento
do permanente.

Plano de recursos humanos

Trata dos elementos referentes aos recursos humanos na organização, incluindo a estrutura
organizacional, o preenchimento dessa estrutura, as movimentações de funcionários, a
remuneração, os treinamentos, as admissões e desligamentos, entre outros.

Plano financeiro

Corresponde à etapa do plano em que as demonstrações financeiras são disponibilizadas e a


análise global é viabilizada. A função do plano financeiro consiste, portanto, em permitir que todas
as decisões tomadas nos vários subplanos sejam transformadas em um único denominador, no
caso, o monetário.

Esse plano deve conter, desta forma, o fluxo de caixa, a demonstração de resultados e o balanço
patrimonial para o intervalo de tempo considerado.

Sistema de informações gerenciais


Muito se fala sobre os benefícios proporcionados pela integração entre os sistemas de informações
das organizações. Sem dúvida, os sistemas se tornam mais úteis quando a integração entre eles é
maior. A empresa ganha em termos de qualidade de informações e diminuição de erros. O fato de
uma informação ter uma única entrada dentro do sistema afeta favoravelmente o compartilhamento
de dados e o potencial de rapidez no trato da informação, essenciais à qualidade do seu
gerenciamento.

Algumas das dimensões importantes ao sistema de informação gerencial:

Seleção da informação

Inclui as seguintes características qualitativas: relevância, confiabilidade e materialidade.

Apresentação da informação

Inclui as características qualitativas de comparabilidade e compreensibilidade (esta última também


denominada abrangência).

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Restrição para uma informação confiável e relevante

Leva em consideração:

• A confiabilidade: utilização de informações fidedignas


• A abrangência ou compreensibilidade: as informações gerenciais devem permitir uma ideia
ampla da situação econômico-financeira da empresa, fazendo uso, em determinadas situações,
de comentários adicionais.
• A tempestividade: a informação deve chegar no momento necessário para a tomada de
decisão.

Neste módulo, você conheceu princípios e etapas para elaborar ou avaliar um planejamento, que
são essenciais para guiar os procedimentos de contabilidade a fim de se alcançar e verificar metas
financeiras para a empresa.

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REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

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GONÇALVES, Eugênio Celso; BAPTISTA, Antônio Eustáquio. Contabilidade Geral. 3ª. ed. São
Paulo: Editora Atlas S.A., 1996.

IUDÍCIBUS, Sérgio de.; MARTINS, Eliseu; GELBCKE, Ernesto Rubens. Manual de Contabilidade
das Sociedades por Ações. 6ª. ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2003.

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