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5808 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.

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ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA vante, mas também, quando for caso disso, os respectivos
contextos que, pelo seu valor de testemunho, possuam
com aqueles uma relação interpretativa e informativa.
Lei n.o 107/2001 7 — O ensino, a valorização e a defesa da língua por-
tuguesa e das suas variedades regionais no território
de 8 de Setembro nacional, bem como a sua difusão internacional, cons-
Estabelece as bases da política e do regime de protecção
tituem objecto de legislação e políticas próprias.
e valorização do património cultural
8 — A cultura tradicional popular ocupa uma posição
de relevo na política do Estado e das Regiões Autó-
A Assembleia da República decreta, nos termos da nomas sobre a protecção e valorização do património
alínea c) do artigo 161.o da Constituição, para valer cultural e constitui objecto de legislação própria.
como lei geral da República, o seguinte:
Artigo 3.o
TÍTULO I Tarefa fundamental do Estado

Dos princípios basilares 1 — Através da salvaguarda e valorização do patri-


mónio cultural, deve o Estado assegurar a transmissão
de uma herança nacional cuja continuidade e enrique-
Artigo 1.o cimento unirá as gerações num percurso civilizacional
singular.
Objecto
2 — O Estado protege e valoriza o património cultural
1 — A presente lei estabelece as bases da política e como instrumento primacial de realização da dignidade
do regime de protecção e valorização do património da pessoa humana, objecto de direitos fundamentais,
cultural, como realidade da maior relevância para a com- meio ao serviço da democratização da cultura e esteio
preensão, permanência e construção da identidade da independência e da identidade nacionais.
nacional e para a democratização da cultura. 3 — O conhecimento, estudo, protecção, valorização
2 — A política do património cultural integra as e divulgação do património cultural constituem um
acções promovidas pelo Estado, pelas Regiões Autó- dever do Estado, das Regiões Autónomas e das autar-
nomas, pelas autarquias locais e pela restante Admi- quias locais.
nistração Pública, visando assegurar, no território por- Artigo 4.o
tuguês, a efectivação do direito à cultura e à fruição
cultural e a realização dos demais valores e das tarefas Contratualização da administração do património cultural
e vinculações impostas, neste domínio, pela Constituição
e pelo direito internacional. 1 — Nos termos da lei, o Estado, as Regiões Autó-
nomas e as autarquias locais podem celebrar com deten-
tores particulares de bens culturais, outras entidades
Artigo 2.o interessadas na preservação e valorização de bens cul-
turais ou empresas especializadas acordos para efeito
Conceito e âmbito do património cultural da prossecução de interesses públicos na área do patri-
mónio cultural.
1 — Para os efeitos da presente lei integram o patri-
2 — Entre outros, os instrumentos referidos no
mónio cultural todos os bens que, sendo testemunhos
número anterior podem ter por objecto a colaboração
com valor de civilização ou de cultura portadores de
interesse cultural relevante, devam ser objecto de espe- recíproca para fins de identificação, reconhecimento,
cial protecção e valorização. conservação, segurança, restauro, valorização e divul-
2 — A língua portuguesa, enquanto fundamento da gação de bens culturais, bem como a concessão ou dele-
soberania nacional, é um elemento essencial do patri- gação de tarefas, desde que não envolvam a habilitação
mónio cultural português. para a prática de actos administrativos de classificação.
3 — O interesse cultural relevante, designadamente 3 — Com as pessoas colectivas de direito público e
histórico, paleontológico, arqueológico, arquitectónico, de direito privado detentoras de acervos de bens cul-
linguístico, documental, artístico, etnográfico, científico, turais de excepcional importância e com as entidades
social, industrial ou técnico, dos bens que integram o incumbidas da respectiva representação podem o
património cultural reflectirá valores de memória, anti- Estado, as Regiões Autónomas ou as autarquias locais
guidade, autenticidade, originalidade, raridade, singu- acordar fórmulas institucionais de composição mista
laridade ou exemplaridade. destinadas a canalizar de modo concertado, planificado
4 — Integram, igualmente, o património cultural e expedito as respectivas relações no domínio da apli-
aqueles bens imateriais que constituam parcelas estru- cação da presente lei e da sua legislação de desen-
turantes da identidade e da memória colectiva por- volvimento.
tuguesas. 4 — O disposto nos números anteriores aplica-se a
5 — Constituem, ainda, património cultural quaisquer todas as confissões religiosas e no que diz respeito à
outros bens que como tal sejam considerados por força Igreja Católica, enquanto entidade detentora de uma
de convenções internacionais que vinculem o Estado notável parte dos bens que integram o património cul-
Português, pelo menos para os efeitos nelas previstos. tural português, com as adaptações e os aditamentos
6 — Integram o património cultural não só o conjunto decorrentes do cumprimento pelo Estado do regime dos
de bens materiais e imateriais de interesse cultural rele- bens de propriedade da Igreja Católica ou de proprie-
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dade do Estado e com afectação permanente ao serviço h) Responsabilidade, garantindo prévia e sistemá-
da Igreja Católica, definido pela Concordata entre a tica ponderação das intervenções e dos actos
República Portuguesa e a Santa Sé. susceptíveis de afectar a integridade ou circu-
lação lícita de elementos integrantes do patri-
mónio cultural;
Artigo 5.o i) Cooperação internacional, reconhecendo e dando
efectividade aos deveres de colaboração, informa-
Identidades culturais ção e assistência internacional.
1 — No âmbito das suas relações bilaterais ou mul-
tilaterais com os países lusófonos, o Estado Português
contribui para a preservação e valorização daquele patri-
TÍTULO II
mónio cultural, sito no território nacional ou fora dele, Dos direitos, garantias e deveres dos cidadãos
que testemunhe capítulos da história comum.
2 — O Estado Português contribui, ainda, para a pre- Artigo 7.o
servação e salvaguarda do património cultural sito fora
do espaço lusófono que constitua testemunho de espe- Direito à fruição do património cultural
cial importância de civilização e de cultura portuguesas. 1 — Todos têm direito à fruição dos valores e bens
3 — A política do património cultural visa, em termos que integram o património cultural, como modo de
específicos, a conservação e salvaguarda do património desenvolvimento da personalidade através da realização
cultural de importância europeia e do património cul- cultural.
tural de valor universal excepcional, em particular 2 — A fruição por terceiros de bens culturais, cujo
quando se trate de bens culturais que integrem o patri- suporte constitua objecto de propriedade privada ou
mónio cultural português ou que com este apresentem outro direito real de gozo, depende de modos de divul-
conexões significativas. gação concertados entre a administração do património
cultural e os titulares das coisas.
3 — A fruição pública dos bens culturais deve ser har-
Artigo 6.o monizada com as exigências de funcionalidade, segu-
rança, preservação e conservação destes.
Outros princípios gerais
4 — O Estado respeita, também, como modo de frui-
ção cultural o uso litúrgico, devocional, catequético e
Para além de outros princípios presentes nesta lei,
educativo dos bens culturais afectos a finalidades de
a política do património cultural obedece aos princípios utilização religiosa.
gerais de:
Artigo 8.o
a) Inventariação, assegurando-se o levantamento
Colaboração entre a Administração Pública e os particulares
sistemático, actualizado e tendencialmente
exaustivo dos bens culturais existentes com vista As pessoas colectivas de direito público colaborarão
à respectiva identificação; com os detentores de bens culturais, por forma que estes
b) Planeamento, assegurando que os instrumentos possam conjugar os seus interesses e iniciativas com a
e recursos mobilizados e as medidas adaptadas actuação pública, à luz dos objectivos de protecção e
resultam de uma prévia e adequada planificação valorização do património cultural, e beneficiem de con-
e programação; trapartidas de apoio técnico e financeiro e de incentivos
c) Coordenação, articulando e compatibilizando o fiscais.
património cultural com as restantes políticas Artigo 9.o
que se dirigem a idênticos ou conexos interesses
públicos e privados, em especial as políticas de Garantias dos administrados
ordenamento do território, de ambiente, de edu- 1 — Aos titulares de direitos e interesses legalmente
cação e formação, de apoio à criação cultural protegidos sobre bens culturais, ou outros valores inte-
e de turismo; grantes do património cultural, lesados por actos jurí-
d) Eficiência, garantindo padrões adequados de dicos ou materiais da Administração Pública ou de enti-
cumprimento das imposições vigentes e dos dades em que esta delegar tarefas nos termos do
objectivos previstos e estabelecidos; artigo 4.o e do n.o 2 do artigo 26.o são reconhecidas
e) Inspecção e prevenção, impedindo, mediante a as garantias gerais dos administrados, nomeadamente:
instituição de organismos, processos e controlos
a) O direito de promover a impugnação dos actos
adequados, a desfiguração, degradação ou
administrativos e das normas emitidas no
perda de elementos integrantes do património desempenho da função administrativa;
cultural; b) O direito de propor acções administrativas;
f) Informação, promovendo a recolha sistemática c) O direito de desencadear meios processuais de
de dados e facultando o respectivo acesso tanto natureza cautelar, incluindo os previstos na lei
aos cidadãos e organismos interessados como de processo civil quando os meios específicos
às competentes organizações internacionais; do contencioso administrativo não puderem
g) Equidade, assegurando a justa repartição dos proporcionar uma tutela provisória adequada;
encargos, ónus e benefícios decorrentes da apli- d) O direito de apresentação de denúncia, queixa
cação do regime de protecção e valorização do ou participação ao Ministério Público e de
património cultural; queixa ao Provedor de Justiça.
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2 — É reconhecido, nos termos da lei geral, o direito 2 — Todos têm o dever de defender e conservar o
de participação procedimental e de acção popular para património cultural, impedindo, no âmbito das facul-
a protecção de bens culturais ou outros valores inte- dades jurídicas próprias, em especial, a destruição, dete-
grantes do património cultural. rioração ou perda de bens culturais.
3 — Sem prejuízo da iniciativa processual dos lesados 3 — Todos têm o dever de valorizar o património
e do exercício da acção popular, compete também ao cultural, sem prejuízo dos seus direitos, agindo, na
Ministério Público a defesa dos bens culturais e de medida das respectivas capacidades, com o fito da divul-
outros valores integrantes do património cultural contra gação, acesso à fruição e enriquecimento dos valores
lesões violadoras do direito, através, nomeadamente, do culturais que nele se manifestam.
exercício dos meios processuais referidos no n.o 1 do
presente artigo.
4 — O direito de acção popular inclui a utilização TÍTULO III
de embargo judicial de obra, trabalho ou serviço novo
iniciados em qualquer bem cultural contra o disposto Dos objectivos
na presente lei e nas restantes normas do direito do
património cultural, bem como o emprego de quaisquer Artigo 12.o
outros procedimentos cautelares adequados, nos termos
da alínea c) do n.o 1 do presente artigo. Finalidades da protecção e valorização do património cultural

1 — Como tarefa fundamental do Estado e dever dos


Artigo 10.o cidadãos, a protecção e a valorização do património
cultural visam:
Estruturas associativas de defesa do património cultural
a) Incentivar e assegurar o acesso de todos à frui-
1 — Para além dos contributos individuais, a parti- ção cultural;
cipação dos cidadãos interessados na gestão efectiva do b) Vivificar a identidade cultural comum da Nação
património cultural pela Administração Pública poderá Portuguesa e das comunidades regionais e locais
ser assegurada por estruturas associativas, designada- a ela pertencentes e fortalecer a consciência da
mente institutos culturais, associações de defesa do participação histórica do povo português em
património cultural, e outras organizações de direito realidades culturais de âmbito transnacional;
associativo. c) Promover o aumento do bem-estar social e eco-
2 — Para os efeitos da presente lei, entende-se por nómico e o desenvolvimento regional e local;
estruturas associativas de defesa do património cultural d) Defender a qualidade ambiental e paisagística.
as associações sem fins lucrativos dotadas de persona-
lidade jurídica constituídas nos termos da lei geral e 2 — Constituem objectivos primários da política de
em cujos estatutos conste como objectivo a defesa e património cultural o conhecimento, a protecção, a valo-
a valorização do património cultural ou deste e do patri- rização e o crescimento dos bens materiais e imateriais
mónio natural, conservação da natureza e promoção da de interesse cultural relevante, bem como dos respec-
qualidade de vida. tivos contextos.
3 — As estruturas associativas de defesa do patrimó-
nio cultural são de âmbito nacional, regional ou local Artigo 13.o
e de representatividade genérica ou específica, nos ter- Componentes específicas da política do património cultural
mos da lei que as regular.
4 — As estruturas associativas de defesa do patrimó- A política do património cultural deverá integrar
nio cultural gozam do direito de participação, informa- especificamente, entre outras, as seguintes componen-
ção e acção popular, nos termos da presente lei, da tes:
lei que as regular e da lei geral.
5 — A Administração Pública e as estruturas asso- a) Definição de orientações estratégicas para todas
ciativas de defesa do património cultural colaborarão as áreas do património cultural;
em planos e acções que respeitem à protecção e à valo- b) Definição, através de planos, programas e direc-
rização do património cultural. trizes, das prioridades de intervenção ao nível
6 — As administrações central, regional e local pode- da conservação, recuperação, acrescentamento,
rão ajustar com as estruturas associativas de defesa do investigação e divulgação do património cul-
património cultural formas de apoio a iniciativas levadas tural;
a cabo por estas últimas, em particular no domínio da c) Definição e mobilização dos recursos humanos,
informação e formação dos cidadãos. técnicos e financeiros necessários à consecução
7 — As estruturas associativas de defesa do patrimó- dos objectivos e das prioridades estabelecidas;
nio cultural gozam dos incentivos e benefícios fiscais d) Definição das relações e aplicação dos instru-
atribuídos pela legislação tributária às pessoas colectivas mentos de cooperação entre os diversos níveis
de utilidade pública administrativa. da Administração Pública e desta com os prin-
cipais detentores de bens culturais e com as
populações;
Artigo 11.o e) Definição dos modelos de articulação da política
Dever de preservação, defesa e valorização do património cultural
do património cultural com as demais políticas
sectoriais;
1 — Todos têm o dever de preservar o património f) Definição de modelos de aproveitamento das
cultural, não atentando contra a integridade dos bens tecnologias da informação e comunicação;
culturais e não contribuindo para a sua saída do ter- g) Adopção de medidas de fomento à criação
ritório nacional em termos não permitidos pela lei. cultural.
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TÍTULO IV 3 — A aplicação de medidas cautelares previstas na


lei não depende de prévia classificação ou inventariação
Dos bens culturais e das formas de protecção de um bem cultural.
Artigo 17.o
Artigo 14.o
Critérios genéricos de apreciação
Bens culturais
Para a classificação ou a inventariação, em qualquer
1 — Consideram-se bens culturais os bens móveis e uma das categorias referidas no artigo 15.o, serão tidos
imóveis que, de harmonia com o disposto nos n.os 1, em conta algum ou alguns dos seguintes critérios:
3 e 5 do artigo 2.o, representem testemunho material
com valor de civilização ou de cultura. a) O carácter matricial do bem;
2 — Os princípios e disposições fundamentais da pre- b) O génio do respectivo criador;
sente lei são extensíveis, na medida do que for com- c) O interesse do bem como testemunho simbólico
patível com os respectivos regimes jurídicos, aos bens ou religioso;
naturais, ambientais, paisagísticos ou paleontológicos. d) O interesse do bem como testemunho notável
de vivências ou factos históricos;
e) O valor estético, técnico ou material intrínseco
Artigo 15.o do bem;
Categorias de bens f) A concepção arquitectónica, urbanística e pai-
sagística;
1 — Os bens imóveis podem pertencer às categorias g) A extensão do bem e o que nela se reflecte
de monumento, conjunto ou sítio, nos termos em que do ponto de vista da memória colectiva;
tais categorias se encontram definidas no direito inter- h) A importância do bem do ponto de vista da
nacional, e os móveis, entre outras, às categorias indi- investigação histórica ou científica;
cadas no título VII. i) As circunstâncias susceptíveis de acarretarem
2 — Os bens móveis e imóveis podem ser classificados diminuição ou perda da perenidade ou da inte-
como de interesse nacional, de interesse público ou de gridade do bem.
interesse municipal.
3 — Para os bens imóveis classificados como de inte-
resse nacional, sejam eles monumentos, conjuntos ou Artigo 18.o
sítios, adoptar-se-á a designação «monumento nacional» Classificação
e para os bens móveis classificados como de interesse
nacional é criada a designação «tesouro nacional». 1 — Entende-se por classificação o acto final do pro-
4 — Um bem considera-se de interesse nacional cedimento administrativo mediante o qual se determina
quando a respectiva protecção e valorização, no todo que certo bem possui um inestimável valor cultural.
ou em parte, represente um valor cultural de significado 2 — Os bens móveis pertencentes a particulares só
para a Nação. podem ser classificados como de interesse nacional
5 — Um bem considera-se de interesse público quando a sua degradação ou o seu extravio constituam
quando a respectiva protecção e valorização represente perda irreparável para o património cultural.
ainda um valor cultural de importância nacional, mas 3 — Dos bens móveis pertencentes a particulares só
para o qual o regime de protecção inerente à classi- são passíveis de classificação como de interesse público
ficação como de interesse nacional se mostre des- os que sejam de elevado apreço e cuja exportação defi-
proporcionado. nitiva do território nacional possa constituir dano grave
6 — Consideram-se de interesse municipal os bens para o património cultural.
cuja protecção e valorização, no todo ou em parte, repre- 4 — Só é possível a classificação de bens móveis de
sentem um valor cultural de significado predominante interesse municipal com o consentimento dos respec-
para um determinado município. tivos proprietários.
7 — Os bens culturais imóveis incluídos na lista do Artigo 19.o
património mundial integram, para todos os efeitos e
na respectiva categoria, a lista dos bens classificados Inventariação
como de interesse nacional.
8 — A existência das categorias e designações refe- 1 — Entende-se por inventariação o levantamento sis-
ridas neste artigo não prejudica a eventual relevância temático, actualizado e tendencialmente exaustivo dos
de outras, designadamente quando previstas no direito bens culturais existentes a nível nacional, com vista à
internacional. respectiva identificação.
2 — O inventário abrange os bens independente-
Artigo 16.o mente da sua propriedade pública ou privada.
Formas de protecção dos bens culturais
3 — O inventário inclui os bens classificados e os que,
de acordo com os n.os 1, 3 e 5 do artigo 2.o e o n.o 1
1 — A protecção legal dos bens culturais assenta na do artigo 14.o, mereçam ser inventariados.
classificação e na inventariação. 4 — O inventário abrange duas partes: o inventário
2 — Cada forma de protecção dá lugar ao corres- de bens públicos, referente aos bens de propriedade
pondente nível de registo, pelo que existirá: do Estado ou de outras pessoas colectivas públicas, e
o inventário de bens de particulares, referente aos bens
a) O registo patrimonial de classificação; de propriedade de pessoas colectivas privadas e de pes-
b) O registo patrimonial de inventário. soas singulares.
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5 — Só a título excepcional, e mediante despacho 2 — Sobre os proprietários, possuidores e demais titu-


devidamente justificado do membro do governo central lares de direitos reais sobre bens que tenham sido clas-
ou regional responsável pela área da cultura, os bens sificados incidem ainda os seguintes deveres:
não classificados pertencentes a pessoas colectivas pri-
a) Observar o regime legal instituído sobre acesso
vadas e as pessoas singulares serão incluídos no inven-
e visita pública, à qual podem, todavia, eximir-se
tário sem o acordo destas.
mediante a comprovação da respectiva incom-
6 — Ficarão a constar do inventário independente-
patibilidade, no caso concreto, com direitos,
mente do desfecho do procedimento os bens que se
liberdades e garantias pessoais ou outros valores
encontrem em vias de classificação.
constitucionais;
b) Executar os trabalhos ou as obras que o serviço
competente, após o devido procedimento, con-
TÍTULO V siderar necessários para assegurar a salvaguarda
do bem.
Do regime geral de protecção dos bens culturais
Artigo 22.o
CAPÍTULO I Deveres especiais da Administração

Disposições gerais 1 — O Estado deverá promover a existência e ade-


quada estruturação e funcionamento de um sistema
SECÇÃO I nacional de informação do património cultural, através
da implantação, compatibilização e progressiva intero-
Direitos e deveres especiais peratividade das diferentes redes de bases de dados.
2 — A legislação de desenvolvimento deverá obriga-
Artigo 20.o toriamente regular a constituição, organização e fun-
Direitos especiais dos detentores
cionamento das redes nacionais de arquivos, bibliotecas
e museus.
Os proprietários, possuidores e demais titulares de 3 — Serão assegurados os direitos e as garantias esta-
direitos reais sobre bens que tenham sido classificados belecidas na Constituição e na lei geral em matéria de
ou inventariados gozam, entre outros, dos seguintes protecção de dados pessoais e os imperativos de segu-
direitos específicos: rança dos bens, designadamente através do estabele-
cimento de níveis de acesso e gestão adequados.
a) O direito de informação quanto aos actos da 4 — A administração do património cultural deverá
administração do património cultural que pos- promover a cooperação entre os seus serviços e ins-
sam repercutir-se no âmbito da respectiva esfera tituições, a qual poderá incluir a cedência e troca de
jurídica; bens culturais sempre que se trate de integrar ou com-
b) O direito de conhecer as prioridades e as medi- pletar colecções ou fundos de natureza histórica ou de
das políticas já estabelecidas para a conservação especial interesse literário, artístico, científico ou téc-
e valorização do património cultural; nico.
c) O direito de se pronunciar sobre a definição
da política e de colaborar na gestão do patri- SECÇÃO II
mónio cultural, pelas formas organizatórias e
Procedimento administrativo
nos termos procedimentais que a lei definir;
d) O direito a uma indemnização sempre que do
acto de classificação resultar uma proibição ou Artigo 23.o
uma restrição grave à utilização habitualmente Direito subsidiário
dada ao bem;
e) O direito de requerer a expropriação, desde que Em tudo quanto não estiver expressamente regulado
a lei o preveja. neste título, são aplicáveis aos procedimentos adminis-
trativos previstos na legislação do património cultural
os princípios e as disposições do Código do Procedi-
Artigo 21.o mento Administrativo.
Deveres especiais dos detentores

1 — Os proprietários, possuidores e demais titulares Artigo 24.o


de direitos reais sobre bens que tenham sido classificados Prazos gerais para conclusão
ou inventariados estão especificamente adstritos aos
seguintes deveres: 1 — Sempre que a natureza e a extensão das tarefas
o permitam, deve o procedimento de inventariação ser
a) Facilitar à administração do património cultural concluído no prazo máximo de um ano.
a informação que resulte necessária para exe- 2 — O procedimento de classificação deve ser con-
cução da presente lei; cluído no prazo máximo de um ano.
b) Conservar, cuidar e proteger devidamente o 3 — Sempre que, no âmbito do mesmo procedimento,
bem, de forma a assegurar a sua integridade estejam em causa conjuntos, sítios, colecções, fundos
e a evitar a sua perda, destruição ou dete- ou realidades equivalentes, pode o instrutor prorrogar
rioração; os prazos até ao limite dos prazos máximos corres-
c) Adequar o destino, o aproveitamento e a uti- pondentes.
lização do bem à garantia da respectiva con- 4 — É de 18 meses o prazo máximo para a definição
servação. de zona especial de protecção.
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5 — Transcorridos os prazos referidos nos números Artigo 29.o


anteriores, pode qualquer interessado, no prazo de Notificação, publicação e efeitos da decisão
60 dias, denunciar a mora, para efeitos de a Adminis-
tração decidir de forma expressa e em idêntico prazo, 1 — A decisão final é notificada aos interessados, bem
sob pena de caducidade do procedimento. como ao município da área a que o bem pertença,
quando não seja deste o serviço instrutor, e ainda às
Artigo 25.o associações que tenham participado na instrução do
procedimento.
Início do procedimento 2 — Toda a decisão final deve ser publicada.
1 — O impulso para a abertura de um procedimento 3 — Os efeitos da decisão produzem-se a partir da
administrativo de classificação ou inventariação pode data da notificação da mesma às pessoas directamente
provir de qualquer pessoa ou organismo, público ou interessadas.
privado, nacional ou estrangeiro. Artigo 30.o
2 — A iniciativa do procedimento pode pertencer ao Procedimento para a revogação
Estado, às Regiões Autónomas, às autarquias locais ou
a qualquer pessoa singular ou colectiva dotada de legi- O disposto nesta secção, com as necessárias adap-
timidade, nos termos gerais. tações, é aplicável aos procedimentos extintivos de actos
3 — Para efeito de notificação do acto que determina que tenham instituído alguma forma de protecção.
a abertura do procedimento, considera-se também inte-
ressado o município da área de situação do bem.
4 — Os bens em vias de classificação ficam sujeitos CAPÍTULO II
a um regime especial, nos termos da lei. Protecção dos bens culturais classificados
5 — Um bem considera-se em vias de classificação
a partir da notificação ou publicação do acto que deter- SECÇÃO I
mine a abertura do respectivo procedimento, nos termos
do n.o 1 do presente artigo, no prazo máximo de 60 dias Bens móveis e imóveis
úteis após a entrada do respectivo pedido.
Artigo 31.o
Artigo 26.o Tutela dos bens

Instrução do procedimento 1 — Todo o bem classificado como de interesse nacio-


nal fica submetido a uma especial tutela do Estado,
1 — A instrução do procedimento compete ao serviço a qual, nas Regiões Autónomas, deve ser partilhada com
instrutor da entidade competente para a prática do acto os órgãos de governo próprios ou, quando for o caso,
final, em conformidade com as leis estatutárias e orgâ- com as competentes organizações internacionais, nos
nicas e a demais legislação de desenvolvimento. termos da lei e do direito internacional.
2 — As tarefas e funções específicas do procedimento 2 — A classificação de um bem como de interesse
podem ser cometidas a entidades não públicas, desde nacional consome eventual classificação já existente
que excluída a prática de actos ablativos. como de interesse público, de interesse regional, de valor
3 — Na instrução do procedimento são obrigatoria- concelhio ou de interesse municipal, devendo os res-
mente ouvidos os órgãos consultivos competentes, nos pectivos registos ser cancelados.
termos da lei. 3 — O registo patrimonial de classificação abrirá, aos
Artigo 27.o proprietários, possuidores e demais titulares de direitos
Audiência dos interessados
reais sobre os bens culturais classificados, o acesso aos
regimes de apoio, incentivos, financiamentos e estipu-
1 — Os interessados têm o ónus de carrear para a lação de acordos e outros contratos a que se refere
instrução do procedimento todos os factos e elementos o n.o 1 do artigo 60.o, reforçados de forma proporcional
susceptíveis de conduzir a uma justa e rápida decisão ao maior peso das limitações.
e devem ser ouvidos antes de tomada a decisão final, 4 — Os bens classificados como de interesse nacional
nos termos do Código do Procedimento Administrativo. e municipal ficarão submetidos, com as necessárias
2 — Quando o número de interessados for superior adaptações, às limitações referidas nos n.os 2 e 4 do
a 10 proceder-se-á a consulta pública, nos termos do artigo 60.o, bem como a todos os outros condiciona-
Código do Procedimento Administrativo. mentos e restrições para eles estabelecidos na presente
lei e na legislação de desenvolvimento.
Artigo 28.o
Forma dos actos
Artigo 32.o
Dever de comunicação das situações de perigo
1 — A classificação de um bem como de interesse
nacional reveste a forma de decreto do Governo. O proprietário ou titular de outro direito real de gozo
2 — A classificação de um bem como de interesse sobre um bem classificado nos termos do artigo 15.o
público reveste a forma de portaria. da presente lei, ou em vias de classificação como tal,
3 — A forma dos demais actos a praticar obedecerá deve avisar imediatamente o órgão competente da admi-
ao disposto na legislação aplicável. nistração central ou regional, os serviços com compe-
4 — Todo o acto final de um procedimento sobre uma tência inspectiva, o presidente da câmara municipal ou
determinada forma de protecção deverá ser devida- a autoridade policial logo que saiba de algum perigo
mente fundamentado, identificando com rigor o bem que ameace o bem ou que possa afectar o seu interesse
ou as partes componentes da universalidade em questão. como bem cultural.
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Artigo 33.o Artigo 37.o


Medidas provisórias Direito de preferência

1 — Logo que a Administração Pública tenha conhe- 1 — Os comproprietários, o Estado, as Regiões Autó-
cimento de que algum bem classificado, ou em vias de nomas e os municípios gozam, pela ordem indicada,
classificação, corra risco de destruição, perda, extravio do direito de preferência em caso de venda ou dação
ou deterioração, deverá o órgão competente da admi- em pagamento de bens classificados ou em vias de clas-
nistração central, regional ou municipal determinar as sificação ou dos bens situados na respectiva zona de
medidas provisórias ou as medidas técnicas de salva- protecção.
guarda indispensáveis e adequadas, podendo, em caso 2 — É aplicável ao direito de preferência previsto
neste artigo o disposto nos artigos 416.o a 418.o e 1410.o
de impossibilidade própria, qualquer destes órgãos soli-
do Código Civil, com as necessárias adaptações.
citar a intervenção de outro. 3 — O disposto no presente artigo não prejudica os
2 — Se as medidas ordenadas importarem para o direitos de preferência concedidos à Administração
detentor a obrigação de praticar determinados actos, Pública pela legislação avulsa.
deverão ser fixados os termos, os prazos e as condições
da sua execução, nomeadamente a prestação de apoio
financeiro ou técnico. Artigo 38.o
3 — Além das necessárias medidas políticas e admi- Escrituras e registos
nistrativas, fica o Governo obrigado a instituir um fundo
destinado a comparticipar nos actos referidos no n.o 2 1 — O incumprimento do dever de comunicação esta-
do presente artigo e a acudir a situações de emergência belecido nos artigos anteriores constituirá impedimento
ou de calamidade pública. à celebração pelos notários das respectivas escrituras,
bem como obstáculo a que os conservadores inscrevam
os actos em causa nos competentes registos.
Artigo 34.o 2 — Quando efectuadas contra o preceituado pelo
Usucapião
artigo 35.o e pelo n.o 1 do artigo 36.o, a alienação, a
constituição de outro direito real de gozo ou a dação
Os bens culturais classificados nos termos do em pagamento são anuláveis pelos tribunais sob inicia-
artigo 15.o da presente lei, ou em vias de classificação tiva do membro da administração central, regional ou
como tal, são insusceptíveis de aquisição por usucapião. municipal competente, dentro de um ano a contar da
data do conhecimento.

SECÇÃO II
Artigo 39.o
Alienações e direitos de preferência Registo predial

Artigo 35.o 1 — Os prédios classificados nos termos do artigo 15.o


da presente lei, ou em vias de classificação como tal,
Transmissão de bens classificados devem ter esta qualidade inscrita gratuitamente no res-
pectivo registo predial.
A lei estabelecerá as limitações incidentes sobre a 2 — O disposto no número anterior aplica-se aos pré-
transmissão de bens classificados ou em vias de clas- dios incluídos em conjuntos classificados ou em vias de
sificação pertencentes a pessoas colectivas públicas ou classificação.
a outras pessoas colectivas tituladas ou subvencionadas
pelo Estado ou pelas Regiões Autónomas. SECÇÃO III

Bens imóveis
Artigo 36.o
SUBSECÇÃO I
Dever de comunicação da transmissão
Disposições comuns
1 — A alienação, a constituição de outro direito real
de gozo ou a dação em pagamento de bens classificados Artigo 40.o
nos termos do artigo 15.o da presente lei, ou em vias
de classificação como tal, depende de prévia comuni- Impacte de grandes projectos e obras
cação escrita ao serviço competente para a instrução 1 — Os órgãos competentes da administração do
do respectivo procedimento. património cultural têm de ser previamente informados
2 — A transmissão por herança ou legado de bens dos planos, programas, obras e projectos, tanto públicos
classificados nos termos do artigo 15.o da presente lei, como privados, que possam implicar risco de destruição
ou em vias de classificação como tal, deverá ser comu- ou deterioração de bens culturais, ou que de algum
nicada pelo cabeça-de-casal ao serviço competente refe- modo os possam desvalorizar.
rido no número anterior, no prazo de três meses con- 2 — Para os efeitos do número anterior, o Governo,
tados sobre a data de abertura da sucessão. os órgãos de governo próprio das Regiões Autónomas
3 — O disposto no número anterior é aplicável aos e os órgãos das autarquias locais estabelecerão, no
bens situados nas zonas de protecção dos bens clas- âmbito das competências respectivas, as medidas de pro-
sificados nos termos do artigo 15.o da presente lei, ou tecção e as medidas correctivas que resultem necessárias
em vias de classificação como tal. para a protecção do património cultural.
N.o 209 — 8 de Setembro de 2001 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 5815

Artigo 41.o 4 — As zonas de protecção são servidões adminis-


trativas, nas quais não podem ser concedidas pelo muni-
Inscrições e afixações
cípio, nem por outra entidade, licenças para obras de
1 — É proibida a execução de inscrições ou pinturas construção e para quaisquer trabalhos que alterem a
em imóveis classificados nos termos do artigo 15.o da topografia, os alinhamentos e as cérceas e, em geral,
presente lei, ou em vias de classificação como tal, bem a distribuição de volumes e coberturas ou o revestimento
como a colocação de anúncios, cartazes ou outro tipo exterior dos edifícios sem prévio parecer favorável da
de material informativo fora dos locais ali reservados administração do património cultural competente.
para a exposição de elementos de divulgação das carac- 5 — Excluem-se do preceituado pelo número anterior
terísticas do bem cultural e das finalidades e realizações as obras de mera alteração no interior de imóveis.
a que corresponder o seu uso, sem autorização da enti-
dade responsável pela classificação. Artigo 44.o
2 — A lei pode condicionar a afixação ou instalação
de toldos, de tabuletas, de letreiros, de anúncios ou de Defesa da qualidade ambiental e paisagística
cartazes, qualquer que seja a sua natureza e conteúdos, 1 — A lei definirá outras formas para assegurar que
nos centros históricos e outros conjuntos urbanos legal- o património cultural imóvel se torne um elemento
mente reconhecidos, bem como nos locais onde possa potenciador da coerência dos monumentos, conjuntos
prejudicar a perspectiva dos imóveis classificados. e sítios que o integram, e da qualidade ambiental e
paisagística.
Artigo 42.o 2 — Para os efeitos deste artigo, o Estado, as Regiões
Autónomas e as autarquias locais promoverão, no
Efeitos da abertura do procedimento âmbito das atribuições respectivas, a adopção de pro-
vidências tendentes a recuperar e valorizar zonas, cen-
1 — A notificação do acto que determina a abertura
tros históricos e outros conjuntos urbanos, aldeias his-
do procedimento de classificação de bens imóveis nos
tóricas, paisagens, parques, jardins e outros elementos
termos do artigo 15.o da presente lei opera, além de
naturais, arquitectónicos ou industriais integrados na
outros efeitos previstos nesta lei, a suspensão dos pro-
paisagem.
cedimentos de concessão de licença ou autorização de
3 — Relativamente aos conjuntos e sítios, a legislação
operações de loteamento, obras de urbanização, edi-
de desenvolvimento estabelecerá especialmente:
ficação, demolição, movimento de terras ou actos admi-
nistrativos equivalentes, bem como a suspensão dos efei- a) Os critérios exigidos para o seu reconhecimento
tos das licenças ou autorizações já concedidas, pelo legal e os benefícios e incentivos daí decor-
prazo e condições a fixar na lei. rentes;
2 — Enquanto outro prazo não for fixado pela legis- b) Os parâmetros a que devem obedecer os planos,
lação de desenvolvimento, o mesmo será de 120 dias os programas e os regulamentos aplicáveis;
para efeito de aplicação do disposto neste artigo. c) Os sistemas de incentivo e apoio à gestão inte-
3 — As operações urbanísticas que se realizem em grada e descentralizada;
desconformidade com o disposto no número anterior d) As medidas de avaliação e controlo.
são ilegais, podendo a administração do património cul-
tural competente ou os municípios ordenar a recons-
trução ou demolição, pelo infractor ou à sua custa, nos Artigo 45.o
termos da legislação urbanística, com as devidas adap- Projectos, obras e intervenções
tações.
4 — A classificação dos bens a que se refere o n.o 1 1 — Os estudos e projectos para as obras de con-
gera a caducidade dos procedimentos, licenças e auto- servação, modificação, reintegração e restauro em bens
rizações suspensos nos termos deste preceito, sem pre- classificados, ou em vias de classificação, são obriga-
juízo de direito a justa indemnização pelos encargos toriamente elaborados e subscritos por técnicos de qua-
e prejuízos anormais e especiais resultantes da extinção lificação legalmente reconhecida ou sob a sua respon-
dos direitos previamente constituídos pela Adminis- sabilidade directa.
tração. 2 — Os estudos e projectos referidos no número ante-
rior devem integrar ainda um relatório sobre a impor-
Artigo 43.o tância e a avaliação artística ou histórica da intervenção,
Zonas de protecção da responsabilidade de um técnico competente nessa
área.
1 — Os bens imóveis classificados nos termos do 3 — As obras ou intervenções em bens imóveis clas-
artigo 15.o da presente lei, ou em vias de classificação sificados nos termos do artigo 15.o da presente lei, ou
como tal, beneficiarão automaticamente de uma zona em vias de classificação como tal, serão objecto de auto-
geral de protecção de 50 m, contados a partir dos seus rização e acompanhamento do órgão competente para
limites externos, cujo regime é fixado por lei. a decisão final do procedimento de classificação, nos
2 — Os bens imóveis classificados nos termos do termos definidos na lei.
artigo 15.o da presente lei, ou em vias de classificação 4 — Concluída a intervenção, deverá ser elaborado
como tal, devem dispor ainda de uma zona especial e remetido à administração do património cultural com-
de protecção, a fixar por portaria do órgão competente petente um relatório de onde conste a natureza da obra,
da administração central ou da Região Autónoma as técnicas, as metodologias, os materiais e os trata-
quando o bem aí se situar. mentos aplicados, bem como documentação gráfica,
3 — Nas zonas especiais de protecção podem fotográfica, digitalizada ou outra sobre o processo
incluir-se zonas non aedificandi. seguido.
5816 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 209 — 8 de Setembro de 2001

Artigo 46.o quer dos casos, se não mostre viável nem razoável, por
Obras de conservação obrigatória
qualquer outra forma, a salvaguarda ou o deslocamento
do bem.
1 — No respeito dos princípios gerais e nos limites 3 — Verificado um ou ambos os pressupostos, devem
da lei, o Estado, as Regiões Autónomas, os municípios ser decretadas as medidas adequadas à manutenção de
e os proprietários ou titulares de outros direitos reais todos os elementos que se possam salvaguardar, auto-
de gozo sobre imóveis classificados nos termos do rizando-se apenas as demolições estritamente neces-
artigo 15.o da presente lei, ou em vias de classificação sárias.
como tal, devem executar todas as obras ou quaisquer 4 — A autorização de demolição por parte do órgão
outras intervenções que a administração do património competente da administração central, regional autó-
cultural competente considere necessárias para assegu- noma ou municipal não deve ser concedida quando a
rar a sua salvaguarda. situação de ruína seja causada pelo incumprimento do
2 — No caso de as obras ou intervenções não terem disposto no presente capítulo, impondo-se aos respon-
sido iniciadas ou concluídas dentro do prazo fixado, sáveis a reposição, nos termos da lei.
poderão as entidades previstas no n.o 2 do artigo 40.o 5 — São nulos os actos administrativos que infrinjam
da presente lei promover a sua execução coerciva nos o disposto nos números anteriores.
termos previstos na legislação em vigor.
Artigo 50.o
Artigo 47.o
Expropriação
Embargos e medidas provisórias
1 — Ouvidos os interessados e os órgãos consultivos
1 — O organismo competente da administração do competentes, pode a administração do património cul-
Estado, da administração regional autónoma ou da admi- tural promover a expropriação dos bens imóveis clas-
nistração municipal deve determinar o embargo admi- sificados nos termos do artigo 15.o da presente lei, ou
nistrativo de quaisquer obras ou trabalhos em bens imó- em vias de classificação como tal, nos seguintes casos:
veis classificados como de interesse nacional, de interesse
público ou de interesse municipal, ou em vias de clas- a) Quando por responsabilidade do detentor, decor-
sificação como tal, cuja execução decorra ou se apreste rente de violação grave dos seus deveres gerais,
a iniciar em desconformidade com a presente lei. especiais ou contratualizados, se corra risco sério
2 — O disposto no número anterior aplica-se também de degradação do bem;
às obras ou trabalhos em zonas de protecção de bens b) Quando por razões jurídicas, técnicas ou cien-
imóveis classificados nos termos do artigo 15.o da pre- tíficas devidamente fundamentadas a expropria-
sente lei, ou em vias de classificação como tal. ção se revele a forma mais adequada de asse-
3 — A lei determinará as demais medidas provisórias gurar a tutela do bem;
aplicáveis. c) Quando a expropriação tiver sido requerida pelo
Artigo 48.o interessado.
Deslocamento 2 — Ouvidos os interessados e os órgãos consultivos
Nenhum imóvel classificado nos termos do artigo 15.o competentes, podem ainda ser expropriados os bens
da presente lei, ou em vias de classificação como tal, imóveis situados nas zonas de protecção dos bens clas-
poderá ser deslocado ou removido, em parte ou na tota- sificados nos termos do artigo 15.o da presente lei, ou
lidade, do lugar que lhe compete, salvo se, na sequência em vias de classificação como tal, quando prejudiquem
do procedimento previsto na lei, assim for julgado a boa conservação daqueles bens culturais ou ofendam
imprescindível por motivo de força maior ou por mani- ou desvirtuem as suas características ou enquadramento.
festo interesse público, em especial no caso de a sal- 3 — No âmbito da aplicação dos n.os 1 e 2 do presente
vaguarda material do mesmo o exigir imperativamente, artigo, e tratando-se de bens imóveis classificados como
devendo então a autoridade competente fornecer todas de interesse municipal, ou em vias de classificação como
as garantias necessárias quanto à desmontagem, à remo- tal, enquadrados num instrumento de gestão territorial
ção e à reconstrução do imóvel em lugar apropriado. eficaz, os municípios podem promover a respectiva
expropriação, sendo a assembleia municipal competente
para a declaração de utilidade desta expropriação, nos
Artigo 49.o termos da lei.
Demolição
SUBSECÇÃO II
1 — Sem prejuízo do disposto nos artigos anteriores,
não podem ser concedidas licenças de demolição total Monumentos, conjuntos e sítios
ou parcial de bens imóveis classificados nos termos do
artigo 15.o da presente lei, ou em vias de classificação Artigo 51.o
como tal, sem prévia e expressa autorização do órgão Intervenções
competente da administração central, regional autó-
noma ou municipal, conforme os casos. Não poderá realizar-se qualquer intervenção ou obra,
2 — A autorização de demolição por parte do órgão no interior ou no exterior de monumentos, conjuntos
competente da administração central, regional autó- ou sítios classificados, nem mudança de uso susceptível
noma ou municipal tem como pressuposto obrigatório de o afectar, no todo ou em parte, sem autorização
a existência de ruína ou a verificação em concreto da expressa e o acompanhamento do órgão competente
primazia de um bem jurídico superior ao que está pre- da administração central, regional autónoma ou muni-
sente na tutela dos bens culturais, desde que, em qual- cipal, conforme os casos.
N.o 209 — 8 de Setembro de 2001 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 5817

Artigo 52.o daquele, sem prejuízo do dever de comunicar à admi-


nistração do património cultural competente, no prazo
Contexto
máximo de 15 dias, as licenças concedidas.
1 — O enquadramento paisagístico dos monumentos 3 — Os actos administrativos que infrinjam o disposto
será objecto de tutela reforçada. nos números anteriores são nulos.
2 — Nenhumas intervenções relevantes, em especial
alterações com incidência no volume, natureza, mor- SECÇÃO IV
fologia ou cromatismo, que tenham de realizar-se nas
proximidades de um bem imóvel classificado, ou em Dos bens móveis
vias de classificação, podem alterar a especificidade
arquitectónica da zona ou perturbar significativamente Artigo 55.o
a perspectiva ou contemplação do bem. Bens culturais móveis
3 — Exceptuam-se do disposto no número anterior
as intervenções que tenham manifestamente em vista 1 — Consideram-se bens culturais móveis integrantes
qualificar elementos do contexto ou dele retirar ele- do património cultural aqueles que se conformem com
mentos espúrios, sem prejuízo do controlo posterior. o disposto no n.o 1 do artigo 14.o e constituam obra
4 — A existência de planos de pormenor de salva- de autor português ou sejam atribuídos a autor por-
guarda ou de planos integrados não desonera do cum- tuguês, hajam sido criados ou produzidos em território
primento do regime definido nos números anteriores. nacional, provenham do desmembramento de bens imó-
veis aí situados, tenham sido encomendados ou distri-
buídos por entidades nacionais ou hajam sido proprie-
Artigo 53.o dade sua, representem ou testemunhem vivências ou
factos nacionais relevantes a que tenham sido agregados
Planos
elementos naturais da realidade cultural portuguesa, se
1 — O acto que decrete a classificação de monumen- encontrem em território português há mais de 50 anos
tos, conjuntos ou sítios nos termos do artigo 15.o da ou que, por motivo diferente dos referidos, apresentem
presente lei, ou em vias de classificação como tal, obriga especial interesse para o estudo e compreensão da civi-
o município, em parceria com os serviços da adminis- lização e cultura portuguesas.
tração central ou regional autónoma responsáveis pelo 2 — Consideram-se ainda bens culturais móveis inte-
património cultural, ao estabelecimento de um plano grantes do património cultural aqueles que, não sendo
de pormenor de salvaguarda para a área a proteger. de origem ou de autoria portuguesa, se encontrem em
2 — A administração do património cultural compe- território nacional e se conformem com o disposto no
tente pode ainda determinar a elaboração de um plano n.o 1 do artigo 14.o
integrado, salvaguardando a existência de qualquer ins- 3 — Os bens culturais móveis referidos no número
trumento de gestão territorial já eficaz, reconduzido a anterior constituem espécies artísticas, etnográficas,
instrumento de política sectorial nos domínios a que científicas e técnicas, bem como espécies arqueológicas,
deva dizer respeito. arquivísticas, áudio-visuais, bibliográficas, fotográficas,
3 — O conteúdo dos planos de pormenor de salva- fonográficas e ainda quaisquer outras que venham a
guarda será definido na legislação de desenvolvimento, ser consideradas pela legislação de desenvolvimento.
o qual deve estabelecer, para além do disposto no regime
jurídico dos instrumentos de gestão territorial: Artigo 56.o
a) A ocupação e usos prioritários; Classificação de bens culturais de autor vivo
b) As áreas a reabilitar; A classificação feita nos termos do artigo 15.o da pre-
c) Os critérios de intervenção nos elementos cons- sente lei de bens culturais de autor vivo depende do
truídos e naturais; consentimento do respectivo proprietário, salvo situa-
d) A cartografia e o recenseamento de todas as ções excepcionais a definir em legislação de desen-
partes integrantes do conjunto; volvimento.
e) As normas específicas para a protecção do patri-
mónio arqueológico existente; Artigo 57.o
f) As linhas estratégicas de intervenção, nos planos Dever de comunicação de mudança de lugar
económico, social e de requalificação urbana e
paisagística. Os proprietários e possuidores de bens móveis clas-
sificados nos termos do artigo 15.o da presente lei, ou
em vias de classificação como tal, devem comunicar pre-
Artigo 54.o viamente ao serviço competente para a classificação a
mudança de lugar ou qualquer circunstância que afecte
Projectos, obras e intervenções
a posse ou a guarda do bem.
1 — Até à elaboração de algum dos planos a que
se refere o artigo anterior, a concessão de licenças, ou Artigo 58.o
a realização de obras licenciadas, anteriormente à clas- Depósito
sificação do monumento, conjunto ou sítio dependem
de parecer prévio favorável da administração do patri- 1 — Os proprietários e possuidores de bens móveis
mónio cultural competente. classificados nos termos do artigo 15.o da presente lei,
2 — Após a entrada em vigor do plano de pormenor ou em vias de classificação como tal, podem acordar
de salvaguarda, podem os municípios licenciar as obras com a Administração Pública a respectiva cedência para
projectadas em conformidade com as disposições depósito.
5818 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 209 — 8 de Setembro de 2001

2 — Em caso de incumprimento, por parte dos deten- 4 — No respeito pelos princípios gerais aplicáveis,
tores, de deveres gerais, especiais ou contratualizados, poderá ainda a lei estabelecer, atenta a situação concreta
susceptível de acarretar um risco sério de degradação do bem ou do tipo de bens em questão, um regime
ou dispersão dos bens, poderá o Governo, os órgãos diferenciado de limitações, designadamente espaciais.
de governo próprio das Regiões Autónomas e os órgãos 5 — Aos bens imóveis e móveis classificados como
municipais competentes nos termos da presente lei orde- de interesse público são correspondentemente aplicá-
nar que os mesmos sejam transferidos, a título de depó- veis, com as especificações a definir na legislação de
sito, para a guarda de bibliotecas, arquivos ou museus. desenvolvimento, as disposições do n.o 2 do artigo 31.o
Artigo 59.o e dos artigos 32.o e 40.o a 59.o da presente lei.
6 — As disposições dos artigos 40.o a 60.o da presente
Projectos e intervenções lei apenas são aplicáveis, com as necessárias adaptações,
1 — As intervenções físicas ou estruturantes em bens aos bens imóveis e móveis classificados como de inte-
móveis classificados nos termos do artigo 15.o da pre- resse municipal quando assim seja previsto na legislação
sente lei, ou em vias de classificação como tal, são obri- de desenvolvimento.
gatoriamente asseguradas por técnicos de qualificação
legalmente reconhecida.
2 — Nos termos da lei, e com as necessárias adap- CAPÍTULO III
tações, são aplicáveis aos bens móveis classificados, ou
em vias classificação, as disposições dos artigos 45.o, Protecção dos bens culturais inventariados
46.o, 47.o e 50.o da presente lei.
Artigo 61.o
Inventário geral
SECÇÃO V
Particularização de regimes 1 — Os bens inventariados gozam de protecção com
vista a evitar o seu perecimento ou degradação, a apoiar
Artigo 60.o a sua conservação e a divulgar a respectiva existência.
2 — O inventário geral do património cultural será
Outras disposições aplicáveis aos bens classificados assegurado e coordenado pelo Governo sem prejuízo
1 — O registo patrimonial de classificação abrirá aos da necessidade de articulação com os inventários já
proprietários, possuidores e demais titulares de direitos existentes.
reais sobre os respectivos bens culturais o acesso a regi- Artigo 62.o
mes de apoio, incentivos, financiamentos e estipulação
de contratos e outros acordos, nos termos da presente Inventário de bens de particulares
lei e da legislação de desenvolvimento.
2 — Os bens classificados como de interesse público 1 — Qualquer pessoa pode, mediante solicitação fun-
ficam sujeitos às seguintes restrições e ónus: damentada, requerer a inventariação de um bem, colec-
ção ou conjunto de que seja detentor, juntando todos
a) Dever, da parte do detentor, de comunicar a os elementos pertinentes.
alienação ou outra forma de transmissão da pro- 2 — A solicitação referida no número anterior deverá
priedade ou de outro direito real de gozo, para ser decidida no prazo de 90 dias.
efeitos de actualização de registo; 3 — A inclusão de qualquer bem, colecção ou con-
b) Sujeição a prévia autorização do desmembra- junto no inventário geral confere ao respectivo detentor
mento ou dispersão das partes integrantes do o direito a um título de identidade, sem prejuízo de
bem ou colecção; outros benefícios a reconhecer por lei, em especial
c) Sujeição a prévia autorização do serviço com-
quando as operações de inventariação tiverem sido pro-
petente de quaisquer intervenções que visem
movidas a expensas do particular.
alteração, conservação ou restauro, as quais só
poderão ser efectuadas por técnicos especiali-
zados, nos termos da legislação de desenvol- Artigo 63.o
vimento;
d) Existência de regras próprias sobre a transfe- Inventário de bens públicos
rência ou cedência de espécies de uma insti-
1 — Para o efeito da elaboração do inventário dos
tuição para outra ou entre serviços públicos;
e) Sujeição da exportação a prévia autorização ou bens públicos, os representantes das autarquias locais
licença; e das demais pessoas colectivas públicas não territoriais
f) Identificação do bem através de sinalética pró- devem apresentar à administração do património cul-
pria, especialmente no caso dos imóveis; tural competente instrumentos de descrição de todos
g) Obrigação de existência de um documento para os bens pertencentes às entidades que representam, sus-
registos e anotações na posse do respectivo ceptíveis de integrar o património cultural de acordo
detentor. com os n.os 1, 3 e 5 do artigo 2.o e o n.o 1 do artigo 14.o
da presente lei.
3 — Relativamente ao regime definido no número 2 — Idêntico dever de comunicação é extensível aos
anterior, os bens classificados como de interesse muni- bens que venham, por qualquer título, a integrar no
cipal poderão conhecer níveis menos intensos de limi- futuro o património da pessoa colectiva.
tações, nos termos a especificar na legislação de desen- 3 — A lei estabelecerá os termos e condições em que
volvimento. se deve processar a apresentação dos instrumentos de
N.o 209 — 8 de Setembro de 2001 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 5819

descrição por parte dos serviços da administração central 2 — A autorização ou a licença a que se refere o
do Estado, da administração regional autónoma e de número anterior podem sujeitar a exportação ou a expe-
outros organismos públicos. dição a condições ou cláusulas modais.
4 — A lei poderá estabelecer a classificação automá- 3 — A apresentação do pedido de exportação ou de
tica de certos bens públicos, na sequência do cumpri- expedição para venda concede ao Estado o direito de
mento do disposto nos números anteriores. preferência na aquisição.
4 — As leis de desenvolvimento regularão o regime
CAPÍTULO IV de exportação e expedição dos demais bens classificados,
assim como os procedimentos e formalidades aplicáveis.
Exportação, expedição, importação, 5 — A exportação e a expedição de bens inventariados
admissão e comércio pertencentes a entidades públicas depende de autori-
zação da administração do património cultural.
Artigo 64.o 6 — A autorização a que se refere o número anterior
Exportação e expedição sujeitar-se-á a condições especiais a definir por lei.
1 — A exportação e a expedição temporárias ou defi-
nitivas de bens que integrem o património cultural, ainda Artigo 67.o
que não inscritos no registo patrimonial de classificação
ou inventariação, devem ser precedidas de comunicação Exportação de bens culturais de Estados membros da União Europeia
à administração do património cultural competente com
a antecedência de 30 dias. As formalidades para efeito de exportação de bens
2 — A obrigação referida no número anterior res- pertencentes ao património cultural de Estados mem-
peitará, em particular, as espécies a que alude o n.o 3 bros da União Europeia regem-se pelo disposto no
do artigo 55.o, independentemente da apreciação defi- direito comunitário.
nitiva do interesse cultural do bem em causa.
3 — A administração do património cultural compe- Artigo 68.o
tente poderá vedar liminarmente a exportação ou a
expedição, a título de medida provisória, sem que de Importação e admissão
tal providência decorra a vinculação do Estado à aqui-
sição da coisa. 1 — É aplicável à importação e à admissão de bens
4 — As exportações e as expedições que não obede- culturais, com as necessárias adaptações, o disposto nos
çam ao disposto no n.o 1 do presente artigo e no n.os 1 e 2 do artigo 64.o
artigo 65.o, nos n.os 1 e 5 do artigo 66.o e no artigo 67.o 2 — Às importações e admissões de bens culturais
são ilícitas. promovidas por particulares que se efectuem em con-
Artigo 65.o formidade com a lei serão aplicáveis as seguintes regras:
Exportação e expedição de bens classificados a) O proprietário gozará do direito ao título de
como de interesse nacional identificação do bem, com equivalência ao esta-
1 — A saída de território nacional de bens classifi- tuto de bem inventariado;
cados como de interesse nacional, ou em vias de clas- b) Salvo acordo do proprietário, é vedada a clas-
sificação como tal, fora dos casos previstos nos n.os 2 sificação como de interesse nacional ou de inte-
e 3 do presente artigo é interdita. resse público do bem nos 10 anos seguintes à
2 — A exportação e expedição temporárias de bens importação ou admissão.
classificados como de interesse nacional, ou em vias de
classificação como tal, apenas pode ser autorizada, por 3 — A lei regulará os demais procedimentos e con-
despacho do membro do Governo responsável pela área dições a que deve obedecer a importação e a admissão,
da cultura, para finalidades culturais ou científicas, bem temporária ou definitiva, de bens culturais.
como de permuta temporária por outros bens de igual
interesse para o património cultural.
3 — A exportação e expedição definitivas de bens Artigo 69.o
classificados como de interesse nacional, ou em vias de
classificação como tal, pertencentes ao Estado, apenas Regime do comércio e da restituição
podem ser autorizadas, a título excepcional, pelo Con-
1 — Em condições de reciprocidade, consideram-se
selho de Ministros, para efeito de permuta definitiva
por outros bens existentes no estrangeiro que se revistam nulas as transacções realizadas em território português
de excepcional interesse para o património cultural incidentes sobre bens pertencentes ao património cul-
português. tural de outro Estado e que se encontrem em território
4 — As autorizações ou licenças de exportação ou nacional em consequência da violação da respectiva lei
de expedição de bens referidas nos números anteriores de protecção.
especificarão as condições ou cláusulas modais que 2 — Os bens a que se refere o número anterior do
forem consideradas convenientes. presente artigo são restituíveis nos termos do direito
comunitário ou internacional que vincular o Estado
Artigo 66.o Português.
3 — A restituição de bens pertencentes ao património
Exportação e expedição de outros bens classificados cultural dos demais Estados membros da União Euro-
1 — Dependem de autorização ou licença da admi- peia pode ser limitada às categorias de objectos rela-
nistração do património cultural a exportação e a expe- cionadas nos actos de direito comunitário derivado.
dição definitivas ou temporárias de bens classificados 4 — As acções de restituição correrão pelos tribunais
como de interesse público, ou em vias de classificação judiciais, nelas cabendo legitimidade activa exclusiva-
como tal. mente ao Estado de onde o bem cultural tenha saído
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ilegalmente e desde que se trate de Estado membro e) Os programas de apoio às formas de utilização
da União Europeia ou de Estado em condições de reci- originária, tradicional ou natural dos bens;
procidade na ordem interna portuguesa que lhe confira f) Os regimes de acesso, nomeadamente a visita
tal direito. pública e as colecções visitáveis;
5 — Na acção de restituição, discutir-se-á apenas: g) Os programas e projectos de divulgação, sen-
sibilização e animação;
a) Se o bem que é objecto do pedido tem a qua- h) Os programas de formação específica e con-
lidade de bem cultural nos termos das normas tratualizada;
aplicáveis; i) Os programas de voluntariado;
b) Se a saída do bem do território do Estado de j) Os programas de apoio à acção educativa;
origem foi ilícita nos termos das normas apli- l) Os programas de aproveitamento turístico;
cáveis; m) Os planos e programas de aquisição e permuta.
c) Se o possuidor ou detentor adquiriu o bem de
boa fé;
d) O montante da indemnização a arbitrar ao pos- TÍTULO VII
suidor ou detentor de boa fé;
e) Outros aspectos do conflito de interesses cuja Dos regimes especiais de protecção e valorização
discussão na acção de restituição seja consentido de bens culturais
pelas normas aplicáveis do direito comunitário
ou internacional. CAPÍTULO I

6 — A acção de restituição não procederá quando Disposições comuns


o bem cultural reclamado constitua elemento do patri-
mónio cultural português. Artigo 72.o
7 — A legislação de desenvolvimento regulará a com- Disposições gerais
pra, venda e comércio de antiguidades e de outros bens
culturais móveis. 1 — As normas do presente título aplicam-se aos bens
culturais e aos demais elementos integrantes do patri-
mónio cultural previstos nos capítulos seguintes.
2 — Em tudo o que não estiver previsto neste título,
TÍTULO VI aplicam-se os princípios e disposições da presente lei,
salvo os que se mostrem incompatíveis com a natureza
Do regime geral de valorização dos bens culturais dos bens.
3 — As leis de desenvolvimento poderão estabelecer
Artigo 70.o formas de protecção, e correspondentes regimes, espe-
Componentes do regime de valorização cialmente aplicáveis aos bens culturais ou a certo tipo
de elementos integrantes do património arqueológico,
São componentes do regime geral de valorização dos arquivístico, áudio-visual, bibliográfico, fonográfico ou
bens culturais: fotográfico ou a novos tipos de bens culturais, nomea-
damente os que integrem o património electrónico ou
a) A conservação preventiva e programada; o património industrial.
b) A pesquisa e a investigação; 4 — As disposições respeitantes ao património arqui-
c) A protecção e valorização da paisagem e a ins- vístico aplicam-se subsidiariamente aos bens culturais
tituição de novas e adequadas formas de tutela e aos demais elementos integrantes do património
dos bens culturais e naturais, designadamente áudio-visual, bibliográfico, fonográfico e fotográfico, na
os centros históricos, conjuntos urbanos e rurais, medida em que se mostrem compatíveis com a natureza
jardins históricos e sítios; dos bens.
d) O acesso e a fruição; 5 — Para a classificação ou o inventário do patrimó-
e) A formação; nio áudio-visual, bibliográfico, fonográfico e fotográfico
f) A divulgação, sensibilização e animação; valerão também algum ou alguns dos seguintes critérios
g) O crescimento e o enriquecimento; de apreciação:
h) O apoio à criação cultural;
i) A utilização, o aproveitamento, a rendibilização a) Proximidade da matriz ou versão originais;
e a gestão; b) Processos utilizados na criação ou produção;
j) O apoio a instituições técnicas e científicas. c) Estado de conservação.

Artigo 71.o 6 — Não carece do consentimento exigido pelo


artigo 56.o desta lei a classificação dos elementos matri-
Instrumentos ciais de bens áudio-visuais ou fonográficos ou, na falta
daqueles, de uma das respectivas cópias.
Constituem, entre outros, instrumentos do regime de
valorização dos bens culturais:
Artigo 73.o
a) O inventário geral do património cultural; Acesso à documentação
b) Os instrumentos de gestão territorial;
c) Os parques arqueológicos; 1 — A lei promove o acesso à documentação inte-
d) Os programas e projectos de apoio à musea- grante do património cultural.
lização, exposição e depósito temporário de 2 — O acesso tem, desde logo, por limites os que
bens e espólios; decorram dos imperativos de conservação das espécies.
N.o 209 — 8 de Setembro de 2001 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 5821

3 — A menos que seja possível apresentar uma cópia poderá ser estabelecido com carácter preventivo e tem-
de onde hajam sido expurgados elementos lesivos de porário, pelo órgão da administração do património cul-
direitos e valores fundamentais, não será objecto de tural competente, uma reserva arqueológica de protec-
acesso o documento que os contiver. ção, por forma a garantir-se a execução de trabalhos
4 — As restrições legais da comunicabilidade de docu- de emergência, com vista a determinar o seu interesse.
mentação integral do património cultural caducam 3 — Sempre que o interesse de um parque arqueo-
decorridos 100 anos sobre a data de produção do docu- lógico o justifique, o mesmo poderá ser dotado de uma
mento, a menos que a lei estabeleça prazos especiais zona especial de protecção, a fixar pelo órgão da admi-
mais reduzidos. nistração do património cultural competente, por forma
a garantir-se a execução futura de trabalhos arqueo-
CAPÍTULO II lógicos no local.
4 — A legislação de desenvolvimento poderá também
Do património arqueológico estabelecer outros tipos de providências limitativas da
modificação do uso, da transformação e da remoção
Artigo 74.o de solos ou de qualquer actividade de edificação sobre
Conceito e âmbito do património arqueológico e paleontológico
os mesmos, até que possam ser estudados dentro de
prazos máximos os testemunhos que se saiba ou fun-
1 — Integram o património arqueológico e paleon- damentadamente se presuma ali existirem.
tológico todos os vestígios, bens e outros indícios da 5 — Desde que os bens arqueológicos não estejam
evolução do planeta, da vida e dos seres humanos: classificados, ou em vias de o serem, poderão os par-
ticulares interessados promover, total ou parcialmente,
a) Cuja preservação e estudo permitam traçar a a expensas suas, nos termos da lei, os trabalhos arqueo-
história da vida e da humanidade e a sua relação lógicos de cuja conclusão dependa a cessação das limi-
com o ambiente; tações previstas nos n.os 2 e 4 do presente artigo.
b) Cuja principal fonte de informação seja cons- 6 — Depende de prévia emissão de licença a utili-
tituída por escavações, prospecções, descobertas zação de detectores de metais e de qualquer outro equi-
ou outros métodos de pesquisa relacionados pamento de detecção ou processo destinados à inves-
com o ser humano e o ambiente que o rodeia. tigação arqueológica, nos termos da lei.
7 — Com vista a assegurar o ordenamento e a gestão
2 — O património arqueológico integra depósitos dos parques arqueológicos, definidos no n.o 4 do
estratificados, estruturas, construções, agrupamentos artigo 74.o, a administração do património arqueológico
arquitectónicos, sítios valorizados, bens móveis e monu- competente deve, nos termos da lei, elaborar um plano
mentos de outra natureza, bem como o respectivo con- especial de ordenamento do território, designado por
texto, quer estejam localizados em meio rural ou urbano, plano de ordenamento de parque arqueológico.
no solo, subsolo ou em meio submerso, no mar territorial 8 — Os objectivos, o conteúdo material e o conteúdo
ou na plataforma continental. documental do plano referido no número anterior serão
3 — Os bens provenientes da realização de trabalhos definidos na legislação de desenvolvimento.
arqueológicos constituem património nacional, compe-
tindo ao Estado e às Regiões Autónomas proceder ao
seu arquivo, conservação, gestão, valorização e divul- Artigo 76.o
gação através dos organismos vocacionados para o
Deveres especiais das entidades públicas
efeito, nos termos da lei.
4 — Entende-se por parque arqueológico qualquer 1 — Constituem particulares deveres do Estado, sem
monumento, sítio ou conjunto de sítios arqueológicos prejuízo do disposto nos estatutos das Regiões Autó-
de interesse nacional, integrado num território envol- nomas:
vente marcado de forma significativa pela intervenção
humana passada, território esse que integra e dá sig- a) Criar, manter e actualizar o inventário nacional
nificado ao monumento, sítio ou conjunto de sítios, e georreferenciado do património arqueológico
cujo ordenamento e gestão devam ser determinados pela imóvel;
necessidade de garantir a preservação dos testemunhos b) Articular o cadastro da propriedade com o
arqueológicos aí existentes. inventário nacional georreferenciado do patri-
5 — Para os efeitos do disposto no número anterior, mónio arqueológico;
entende-se por território envolvente o contexto natural c) Estabelecer a disciplina e a fiscalização da acti-
ou artificial que influencia, estática ou dinamicamente, vidade de arqueólogo.
o modo como o monumento, sítio ou conjunto de sítios
é percebido. 2 — Constitui particular dever do Estado e das
Artigo 75. o Regiões Autónomas aprovar os planos anuais de tra-
balhos arqueológicos.
Formas e regime de protecção 3 — Constituem particulares deveres da Administra-
ção Pública competente no domínio do licenciamento
1 — Aos bens arqueológicos será desde logo aplicável, e autorização de operações urbanísticas:
nos termos da lei, o princípio da conservação pelo registo
científico. a) Certificar-se de que os trabalhos por si auto-
2 — Em qualquer lugar onde se presuma a existência rizados, que envolvam transformação de solos,
de vestígios, bens ou outros indícios arqueológicos, revolvimento ou remoção de terreno no solo,
5822 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 209 — 8 de Setembro de 2001

subsolo ou nos meios subaquáticos, bem como das operações de arqueologia preventiva e de salva-
a demolição ou modificação de construções, mento tornadas necessárias pela realização dos seus
estão em conformidade com a legislação sobre projectos.
a salvaguarda do património arqueológico; 4 — No caso de grandes empreendimentos públicos
b) Dotar-se de meios humanos e técnicos neces- ou privados que envolvam significativa transformação
sários no domínio da arqueologia ou recorrer da topografia ou paisagem, bem como do leito ou sub-
a eles sempre que necessário. solo de águas interiores ou territoriais, quaisquer inter-
venções arqueológicas necessárias deverão ser integral-
Artigo 77.o mente financiadas pelo respectivo promotor.
Trabalhos arqueológicos
CAPÍTULO III
1 — Para efeitos da presente lei, são trabalhos
arqueológicos todas as escavações, prospecções e outras Do património arquivístico
investigações que tenham por finalidade a descoberta,
o conhecimento, a protecção e a valorização do patri- Artigo 80.o
mónio arqueológico. Conceito e âmbito do património arquivístico
2 — São escavações arqueológicas as remoções de ter-
reno no solo, subsolo ou nos meios subaquáticos que, 1 — Integram o património arquivístico todos os
de acordo com metodologia arqueológica, se realizem arquivos produzidos por entidades de nacionalidade por-
com o fim de descobrir, conhecer, proteger e valorizar tuguesa que se revistam de interesse cultural relevante.
o património arqueológico. 2 — Entende-se por arquivo o conjunto orgânico de
3 — São prospecções arqueológicas as explorações documentos, independentemente da sua data, forma e
superficiais sem remoção de terreno que, de acordo com suporte material, produzidos ou recebidos por uma pes-
metodologia arqueológica, visem as actividades e objec- soa jurídica, singular ou colectiva, ou por um organismo
tivos previstos no número anterior. público ou privado, no exercício da sua actividade e
4 — A realização de trabalhos arqueológicos será conservados a título de prova ou informação.
obrigatoriamente dirigida por arqueólogos e carece de 3 — Integram, igualmente, o património arquivístico
autorização a conceder pelo organismo competente da conjuntos não orgânicos de documentos de arquivo que
administração do património cultural. se revistam de interesse cultural relevante e nomeada-
5 — Não se consideram trabalhos arqueológicos, para mente quando práticas antigas tenham gerado colecções
efeitos da presente lei, os achados fortuitos ou ocorridos factícias.
em consequência de outro tipo de remoções de terra, 4 — Entende-se por colecção factícia o conjunto de
demolições ou obras de qualquer índole. documentos de arquivo reunidos artificialmente em fun-
ção de qualquer característica comum, nomeadamente
Artigo 78.o o modo de aquisição, o assunto, o suporte, a tipologia
documental ou outro qualquer critério dos coleccio-
Notificação de achado arqueológico
nadores.
1 — Quem encontrar, em terreno público ou parti- Artigo 81.o
cular, ou em meio submerso, quaisquer testemunhos
arqueológicos fica obrigado a dar conhecimento do Categorias de arquivos
achado no prazo de quarenta e oito horas à adminis- 1 — Para efeitos do disposto no artigo anterior,
tração do património cultural competente ou à auto- devem os arquivos ser distinguidos, com base na res-
ridade policial, que assegurará a guarda desses teste- pectiva proveniência, em arquivos públicos e arquivos
munhos e de imediato informará aquela, a fim de serem privados.
tomadas as providências convenientes. 2 — São arquivos públicos os produzidos por enti-
2 — A descoberta fortuita de bens móveis arqueo- dades públicas ou por pessoas colectivas de utilidade
lógicos com valor comercial confere ao achador o direito pública administrativa.
a uma recompensa, nos termos da lei. 3 — Os arquivos públicos distinguem-se em arquivos
de âmbito nacional, regional e municipal.
Artigo 79.o 4 — São arquivos privados os produzidos por enti-
Ordenamento do território e obras dades privadas.
5 — Os arquivos privados distinguem-se em arquivos
1 — Para além do disposto no artigo 40.o, deverá ser de pessoas colectivas de direito privado integradas no
tida em conta, na elaboração dos instrumentos de pla- sector público e arquivos de pessoas singulares ou colec-
neamento territorial, o salvamento da informação tivas privadas.
arqueológica contida no solo e no subsolo dos aglo- Artigo 82.o
merados urbanos, nomeadamente através da elaboração
de cartas do património arqueológico. Critérios para a protecção do património arquivístico
2 — Os serviços da administração do património cul- Para a classificação ou o inventário do património
tural condicionarão a prossecução de quaisquer obras arquivístico, devem ser tidos em conta algum ou alguns
à adopção pelos respectivos promotores, junto das auto- dos seguintes critérios:
ridades competentes, das alterações ao projecto apro-
vado capazes de garantir a conservação, total ou parcial, a) Natureza pública da entidade produtora;
das estruturas arqueológicas descobertas no decurso dos b) Relevância das actividades desenvolvidas pela
trabalhos. entidade produtora num determinado sector;
3 — Os promotores das obras ficam obrigados a c) Relevância social ou repercussão pública da
suportar, por meio das entidades competentes, os custos entidade produtora;
N.o 209 — 8 de Setembro de 2001 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 5823

d) Valor probatório e informativo do arquivo, informática ou informatizada, também em suporte vir-


decorrente, nomeadamente, da sua relevância tual, acompanhadas ou não de som, as quais, sendo
jurídica, política, económica, social, cultural, projectadas, dão uma impressão de movimento e que,
religiosa ou científica. tendo sido realizadas para fins de comunicação, distri-
buição ao público ou de documentação, se revistam de
Artigo 83.o interesse cultural relevante e preencham pelo menos
um de entre os seguintes requisitos:
Formas de protecção do património arquivístico
a) Hajam resultado de produções nacionais;
1 — Devem ser objecto de classificação como de inte- b) Hajam resultado de produções estrangeiras dis-
resse nacional: tribuídas, editadas ou teledifundidas comercial-
a) Os arquivos públicos de âmbito nacional, con- mente em Portugal;
servados a título permanente na sequência de c) Integrem, independentemente da nacionalidade
um processo de avaliação concluído nos termos da produção, colecções ou espólios conservados
da lei; em instituições públicas ou que, independen-
b) Os arquivos públicos com mais de 100 anos; temente da natureza jurídica do detentor, se
c) Os arquivos privados e colecções factícias que, distingam pela notabilidade.
em atenção ao disposto no artigo 82.o, se reve-
lem de inestimável interesse cultural. 2 — Integram, nomeadamente, o património áudio-
-visual as produções cinematográficas, as produções tele-
2 — Devem ser objecto de classificação como de inte- visivas e as produções videográficas.
resse público: 3 — Sem prejuízo do regime geral, devem ser objecto
a) Os arquivos públicos de âmbito regional ou de classificação como de interesse nacional:
municipal, conservados a título permanente na a) Os elementos matriciais das obras de produção
sequência de um processo de avaliação con- nacional abrangidas pela previsão do n.o 1 do
cluído nos termos da lei; presente artigo ou das que para este efeito lhes
b) Os arquivos privados produzidos por pessoas sejam equiparadas pela legislação de desen-
colectivas de direito privado integradas no sec- volvimento;
tor público, quando conservados a título per- b) Cópias conformes aos elementos matriciais refe-
manente; ridos na alínea anterior, quando estes já não
c) Os arquivos privados e colecções factícias que existirem;
possuam qualquer das características referidas c) Cópias de obras de produção estrangeira, mas
nas alíneas b), c) e d) do artigo 82.o e se encon- que foram distribuídas em território nacional,
trem, a qualquer título, na posse do Estado; integrando novos elementos — escritos ou
d) Outros arquivos privados e colecções factícias orais — que os diferenciam dos elementos
que, em atenção ao disposto no artigo 82.o, se matriciais, nomeadamente por lhe terem sido
mostrem possuidores de interesse cultural rele- agregados, por legendagem ou dobragem em
vante e cujos proprietários nisso consintam.
língua portuguesa, elementos naturais da rea-
lidade cultural portuguesa.
3 — Devem ser objecto de inventário os arquivos e
colecções factícias abrangidos pela previsão do
artigo 80.o e em relação aos quais se verifique algum 4 — Devem ser objecto de inventário todas as obras
dos seguintes pressupostos: abrangidas pela previsão do n.o 1 do presente artigo e
as séries de imagens amadoras apresentadas volunta-
a) Se encontrem a qualquer título na posse ou à riamente pelos respectivos possuidores que sejam por-
guarda do Estado; tadoras de interesse cultural relevante.
b) Venham a ser voluntariamente apresentados
pelos respectivos possuidores, se outro não for
o motivo invocado para a respectiva inventa- CAPÍTULO V
riação nos termos do regime geral de protecção
dos bens culturais. Do património bibliográfico

4 — Cada arquivo inventariado, ou apresentado para Artigo 85.o


inventariação, deverá ser descrito de acordo com as Nor-
mas Gerais Internacionais de Descrição Arquivística, Património bibliográfico
providenciando-se para que as respectivas descrições 1 — Integram o património bibliográfico as espécies,
sejam compatibilizadas e validadas pelos serviços nacio- colecções e fundos bibliográficos que se encontrem, a
nais. qualquer título, na posse de pessoas colectivas públicas,
CAPÍTULO IV independentemente da data em que foram produzidos
ou reunidos, bem como as colecções e espólios literários.
Do património áudio-visual 2 — Devem igualmente integrar o património biblio-
gráfico:
Artigo 84.o
a) As espécies, colecções e fundos bibliográficos
Património áudio-visual
de pessoas colectivas de utilidade pública, pro-
1 — Integram o património áudio-visual as séries de duzidos ou reunidos há mais de 25 anos, se outro
imagens, fixadas sobre qualquer suporte, bem como as não for o valor invocado para a respectiva
geradas ou reproduzidas por qualquer tipo de aplicação inventariação;
5824 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 209 — 8 de Setembro de 2001

b) As colecções e espólios literários pertencentes c) As colecções e fundos bibliográficos que, inde-


a pessoas colectivas de utilidade pública, se pendentemente da sua titularidade, tenham sido
outro não for o valor invocado para a respectiva reunidos há mais de 150 anos e tenham per-
inventariação; tencido a instituições ou pessoas notáveis pela
c) As espécies, colecções e fundos bibliográficos respectiva actividade ou obra, na medida em
que se encontrem, a qualquer título, na posse que possam contribuir para o reconhecimento
privada, produzidos ou reunidos há mais de 50 destas.
anos, bem como as colecções e espólios lite-
rários, se outro não for o valor invocado para 2 — Para efeitos da alínea b) do número anterior,
a respectiva inventariação. presume-se a existência de mais de três exemplares para
as obras impressas em Portugal depois de 1935, salvo
3 — Podem ser objecto de classificação as espécies se oriundas de prelos clandestinos.
bibliográficas com especial valor de civilização ou de
cultura e, em particular: Artigo 88.o
a) Os manuscritos notáveis; Inventariação do património bibliográfico
b) Os impressos raros; 1 — Devem ser objecto de inventário todas as espé-
c) Os manuscritos autógrafos, bem como todos os cies enunciadas nas alíneas a) e b) do n.o 3 do artigo 85.o,
documentos que registem as técnicas e os hábi- bem como as referidas nas alíneas c) e d) da mesma
tos de trabalho de autores e personalidades disposição, que venham a ser voluntariamente apresen-
notáveis das letras, artes e ciência, seja qual for tadas pelos respectivos possuidores, se outro não for
o nível de acabamento do texto ou textos neles o motivo invocado para a respectiva inventariação, nos
contidos; termos do regime geral de protecção de bens culturais.
d) As colecções e espólios de autores e persona- 2 — Cada espécie bibliográfica inventariada, ou apre-
lidades notáveis das letras, artes e ciência, con- sentada para inventariação, deverá ser descrita de
siderados como universalidades de facto reu- acordo com as Regras Portuguesas de Catalogação, pro-
nidas pelos mesmos ou por terceiros. videnciando-se para que as respectivas descrições sejam
compatibilizadas e validadas pelos serviços nacionais.
Artigo 86.o
Classificação do património bibliográfico como de interesse nacional CAPÍTULO VI
Sem prejuízo do regime geral, devem ser objecto de Do património fonográfico
classificação como de interesse nacional:
Artigo 89.o
a) As espécies bibliográficas que possuam qual-
Património fonográfico
quer das características referidas no n.o 3 do
artigo 85.o, se encontrem, a qualquer título, na 1 — Integram o património fonográfico as séries de
posse do Estado e como tal venham a ser sons, fixadas sobre qualquer suporte, bem como as gera-
registadas; das ou reproduzidas por qualquer tipo de aplicação
b) As espécies bibliográficas que possuam qual- informática ou informatizada, também em suporte vir-
quer das características referidas no n.o 3 do tual, e que, tendo sido realizadas para fins de comu-
artigo 85.o, pertencentes a entidades privadas, nicação, distribuição ao público ou de documentação,
de que não exista mais que um exemplar em se revistam de interesse cultural relevante e preencham
bibliotecas ou colecções bibliográficas de titu- pelo menos um de entre os seguintes requisitos:
laridade pública; a) Hajam resultado de produções nacionais ou de
c) As colecções e fundos bibliográficos que, inde- produções estrangeiras relacionadas com a rea-
pendentemente da sua titularidade, tenham sido lidade e a cultura portuguesas;
reunidos há mais de 200 anos e tenham per- b) Integrem, independentemente da nacionalidade
tencido a instituições ou pessoas notáveis pela da produção, colecções ou espólios conservados
respectiva actividade ou obra, na medida em em instituições públicas ou que, independen-
que possam contribuir para o reconhecimento temente da natureza jurídica do detentor, se
destas. distingam pela sua notabilidade;
Artigo 87.o c) Representem ou testemunhem vivências ou fac-
tos nacionais relevantes.
Classificação do património bibliográfico como de interesse público

1 — Sem prejuízo do regime geral, devem ser objecto 2 — As séries de sons amadores podem ser incluídas
de classificação como de interesse público: no património fonográfico, nos termos da lei.
a) As espécies bibliográficas que possuam qual-
quer das características referidas no n.o 3 do CAPÍTULO VII
artigo 85.o e se encontrem, a qualquer título, Do património fotográfico
na posse do Estado;
b) As espécies bibliográficas que possuam qual- Artigo 90.o
quer das características referidas no n.o 3 do
Património fotográfico
artigo 85.o pertencentes a entidades privadas de
que não existam, pelo menos, três exemplares 1 — Integram o património fotográfico todas as ima-
em bibliotecas ou colecções bibliográficas de gens obtidas por processos fotográficos, qualquer que
titularidade pública; seja o suporte, positivos ou negativos, transparentes ou
N.o 209 — 8 de Setembro de 2001 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 5825

opacas, a cores ou a preto e branco, bem como as colec- TÍTULO VIII


ções, séries e fundos compostos por tais espécies que,
sendo notáveis pela antiguidade, qualidade do conteúdo, Dos bens imateriais
processo fotográfico utilizado ou carácter informativo
sobre o contexto histórico-cultural em que foram pro-
Artigo 91.o
duzidas, preencham ainda pelo menos um de entre os
seguintes requisitos: Âmbito e regime de protecção
a) Hajam sido produzidas por autores nacionais 1 — Para efeitos da presente lei, integram o patri-
ou por estrangeiros sobre Portugal; mónio cultural as realidades que, tendo ou não suporte
b) Contenham imagens que possuam significado
em coisas móveis ou imóveis, representem testemunhos
no contexto da história da fotografia nacional
ou da fotografia estrangeira quando se encon- etnográficos ou antropológicos com valor de civilização
trem predominantemente em território portu- ou de cultura com significado para a identidade e memó-
guês há mais de 25 anos; ria colectivas.
c) Se refiram a acontecimentos, personagens ou 2 — Especial protecção devem merecer as expressões
bens culturais ou ambientais relevantes para a orais de transmissão cultural e os modos tradicionais
memória colectiva portuguesa. de fazer, nomeadamente as técnicas tradicionais de cons-
trução e de fabrico e os modos de preparar os alimentos.
2 — As fotografias inseridas em álbuns ou livros 3 — Tratando-se de realidades com suporte em bens
impressos, incluindo imagens originais ou em reprodu- móveis ou imóveis que revelem especial interesse etno-
ção fotomecânica, integram o património fotográfico gráfico ou antropológico, serão as mesmas objecto das
quando correspondam à previsão do número anterior formas de protecção previstas nos títulos IV e V.
e constem de edições portuguesas ou de edições estran- 4 — Sempre que se trate de realidades que não pos-
geiras reproduzindo obras de autores nacionais ou de suam suporte material, deve promover-se o respectivo
estrangeiros sobre Portugal. registo gráfico, sonoro, áudio-visual ou outro para efei-
3 — Sem prejuízo do regime geral, devem ser objecto tos de conhecimento, preservação e valorização através
de classificação como de interesse nacional as espécies, da constituição programada de colectâneas que viabi-
colecções, séries e fundos fotográficos anteriores a 1866 lizem a sua salvaguarda e fruição.
abrangidos pela previsão do n.o 1 ou do n.o 2 do presente 5 — Sempre que se trate de realidades que associem,
artigo quando se verifique em relação a eles algum dos também, suportes materiais diferenciados, deve promo-
seguintes pressupostos: ver-se o seu registo adequado para efeitos de conhe-
a) Tenham pertencido a instituição ou pessoa notá- cimento, preservação, valorização e de certificação.
veis cuja actividade ou obra possam ajudar a
conhecer;
b) Se encontrem, a qualquer título, na posse do Artigo 92.o
Estado. Deveres das entidades públicas

4 — Sem prejuízo do regime geral, devem ser objecto 1 — Constitui especial dever do Estado e das Regiões
de classificação como de interesse público as espécies, Autónomas apoiar iniciativas de terceiros e mobilizar
colecções, séries e fundos fotográficos posteriores a 1865 todos os instrumentos de valorização necessários à sal-
abrangidos pela previsão do n.o 1 ou do n.o 2 do presente vaguarda dos bens imateriais referidos no artigo ante-
artigo quando se verifique em relação a eles algum dos rior.
seguintes pressupostos: 2 — Constitui especial dever das autarquias locais
a) Sejam anteriores a 1881 e se encontrem a qual- promover e apoiar o conhecimento, a defesa e a valo-
quer título na posse do Estado; rização dos bens imateriais mais representativos das
b) Sejam anteriores a 1881 e deles não existam comunidades respectivas, incluindo os próprios das
exemplares em arquivos de titularidade pública; minorias étnicas que as integram.
c) Possuam mais de 100 anos e tenham pertencido
a instituição ou pessoa notáveis cuja actividade
ou obra possam ajudar a conhecer. TÍTULO IX
5 — Devem ser objecto de inventário os fundos foto- Das atribuições do Estado, Regiões Autónomas
gráficos abrangidos pela previsão do n.o 1 do presente e autarquias locais
artigo em relação aos quais se verifique algum dos
seguintes pressupostos:
Artigo 93.o
a) Se encontrem a qualquer título na posse do
Estado; Atribuições comuns, colaboração e auxílio interadministrativo
b) Venham a ser voluntariamente apresentados
pelos respectivos possuidores, se outro não for 1 — As Regiões Autónomas e os municípios com-
o motivo invocado para a respectiva inventa- participam com o Estado na tarefa fundamental de pro-
riação nos termos do regime geral de protecção teger e valorizar o património cultural do povo por-
dos bens culturais; tuguês, prosseguido por todos como atribuição comum,
c) Tenham pertencido a instituição ou pessoa notá- ainda que diferenciada nas respectivas concretizações
veis cuja actividade ou obra possam ajudar a e sem prejuízo da discriminação das competências dos
conhecer. órgãos de cada tipo de ente.
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2 — Sem prejuízo das reservas das atribuições e com- b) Autorização, exercício do direito de preferência
petências próprias, o Estado, as Regiões Autónomas ou outras decisões motivadas pela alienação de
e os municípios articularão entre si a adopção e execução bens culturais;
das providências necessárias à realização de fins esta- c) Emissão de parecer vinculativo, autorização ou
belecidos na presente lei e os respectivos órgãos asse- asseguramento de intervenções de conservação,
gurarão a prestação recíproca de auxílio entre os serviços restauro, alteração ou de qualquer outro tipo
e instituições deles dependentes no tocante à circulação sobre bens culturais ou nas respectivas zonas
de informação e à prática de actos materiais que requei- de protecção;
ram conhecimentos ou utensilagem especializados.
d) Reconhecimento do acesso de detentores de
3 — O Estado, as Regiões Autónomas e os municípios
constituirão fundos e estabelecerão regimes de compar- bens culturais aos benefícios decorrentes da
ticipação, de modo a enquadrar as intervenções de con- classificação ou inventariação.
servação, restauro, manutenção e valorização dos bens
culturais por eles classificados ou inventariados e, tanto 2 — Na ausência de normas específicas de distribui-
quanto possível, de bens culturais que, não obstante ção da competência no seio da pessoa colectiva pública
haverem sido objecto de um tal acto por parte de outra apurada nos termos do número anterior, o poder para
pessoa colectiva pública, se encontrem na respectiva praticar os actos ali referidos caberá, consoante os casos,
área de jurisdição. ao organismo da administração central ou regional cujo
escopo corresponda à natureza do bem ou, na sua falta,
Artigo 94.o ao governo central ou regional ou ao município.
Atribuições em matéria de classificação e inventariação

1 — A classificação de bens culturais como de inte- Artigo 96.o


resse nacional incumbe, nos termos da lei, aos com-
petentes órgãos e serviços do Estado, a classificação Providências de carácter organizatório
de bens culturais como de interesse público incumbe
aos competentes órgãos e serviços do Estado ou das No âmbito dos organismos existentes ou a criar, fun-
Regiões Autónomas quando o bem ali se localizar, nos cionarão obrigatoriamente as seguintes estruturas e
termos da lei e dos estatutos político-administrativos, cargos:
e a classificação de bens culturais como de interesse
municipal incumbe aos municípios. a) Uma estrutura de coordenação, a nível infra-
2 — A classificação de bens culturais pelos municípios governamental, das administrações estaduais do
será antecedida de parecer dos competentes órgãos e ambiente, do ordenamento do território, do
serviços do Estado, ou das Regiões Autónomas se o equipamento, das obras públicas e da cultura;
município aí se situar. b) Serviços de inspecção e observação dos bens
3 — Se outra coisa não for disposta pela legislação classificados;
de desenvolvimento, o silêncio do órgão competente c) Serviços que especificamente acompanhem o
pelo prazo de 45 dias vale como parecer favorável. comércio de arte e das antiguidades;
4 — Os registos de classificação das Regiões Autó- d) Um centro de estudos do direito do património
nomas serão comunicados ao Estado, e os registos de cultural e da promoção, no plano técnico, da
classificação dos municípios serão comunicados ao sua consolidação, actualização e aperfeiçoa-
Estado, ou ao Estado e à Região Autónoma.
5 — A classificação de bens culturais pertencentes a mento.
igrejas e a outras comunidades religiosas incumbe exclu-
sivamente ao Estado e às Regiões Autónomas. TÍTULO X
6 — Sem prejuízo de delegação de tarefas permitida
pelo n.o 2 do artigo 4.o, a inventariação de bens culturais Dos benefícios e incentivos fiscais
incumbe aos competentes órgãos e serviços do Estado
e das Regiões Autónomas e, bem assim, aos municípios,
devendo processar-se com recurso a bases de dados nor- Artigo 97.o
malizadas e intercomunicáveis, nos termos do disposto
pela legislação de desenvolvimento. Regime de benefícios e incentivos fiscais
7 — À competência para classificar e inventariar cor-
responde a de emitir actos em sentido oposto. A definição e estruturação do regime de benefícios
e incentivos fiscais relativos à protecção e valorização
do património cultural são objecto de lei autónoma.
Artigo 95.o
Outras atribuições
Artigo 98.o
1 — Salvo disposição da lei em contrário, incumbirá
às pessoas colectivas públicas cujos órgãos hajam pro- Emolumentos notariais e registrais
cedido, por esta ordem, à classificação ou inventariação,
ou tenham pendentes procedimentos para esse efeito, 1 — Os actos que tenham por objecto bens imóveis
a tomada das seguintes decisões, quando a elas haja ou móveis classificados, bem como a contracção de
lugar na base de normas que as prevejam: empréstimos com o fim da respectiva aquisição, estão
a) Expropriação de bens culturais ou de prédios isentos de quaisquer emolumentos registrais e notariais.
situados na zona de protecção de bens culturais 2 — A isenção emolumentar prevista no número ante-
imóveis; rior não abrange os emolumentos pessoais nem as
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importâncias correspondentes à participação emolu- CAPÍTULO II


mentar devida aos notários, conservadores e oficiais do
registo e do notariado pela sua intervenção nos actos. Da tutela contra-ordenacional

Artigo 104.o
o
Artigo 99. Contra-ordenações especialmente graves
Outros apoios
Constitui contra-ordenação punível com coima de
1 — O Governo promoverá o apoio financeiro ou a 500 000$ a 5 000 000$ e de 5 000 000$ a 100 000 000$,
possibilidade de recurso a formas especiais de crédito, conforme sejam praticados por pessoa singular ou
em condições favoráveis, a proprietários ou outros titu- colectiva:
lares de direitos reais de gozo sobre bens culturais clas- a) O deslocamento ou a demolição de imóveis clas-
sificados ou inventariados com a condição de os mesmos sificados, ou em vias de classificação, fora das
procederem a trabalhos de protecção, conservação e condições referidas nos artigos 48.o e 49.o;
valorização dos bens, de harmonia com as normas esta- b) A realização de obras que hajam sido previa-
belecidas sobre a matéria e sob a orientação dos serviços mente embargadas de harmonia com o disposto
competentes. no n.o 1 do artigo 47.o;
2 — Os benefícios financeiros referidos no número c) A exportação e a expedição de bens classifi-
anterior poderão ser subordinados a especiais condições cados, ou em vias de classificação, em violação
e garantias, em termos a fixar, caso a caso, pela admi- do disposto no artigo 65.o;
nistração competente. d) A violação do disposto no n.o 1 do artigo 64.o,
quando o agente retirar um benefício econó-
mico calculável superior a 20 000 000$.
TÍTULO XI
Da tutela penal e contra-ordenacional Artigo 105.o
Contra-ordenações graves
CAPÍTULO I Constitui contra-ordenação punível com coima de
Da tutela penal 350 000$ a 3 500 000$ e de 3 500 000$ a 20 000 000$,
conforme sejam praticadas por pessoa singular ou
Artigo 100.o colectiva:
Infracções criminais previstas no Código Penal a) A violação do disposto no n.o 3 do artigo 45.o,
no artigo 51.o e no n.o 6 do artigo 75.o, bem
Aos crimes praticados contra bens culturais apli- como do regime de apresentação de licença de
cam-se as disposições previstas no Código Penal, com exportação de bens culturais para fora do ter-
as especialidades constantes da presente lei. ritório aduaneiro da União Europeia, tal como
prescrito no artigo 2.o do Regulamento
Artigo 101.o n.o 3911/92/CEE, do Conselho, de 9 de Dezem-
bro;
Crime de deslocamento b) A violação do disposto no artigo 32.o, nos n.os 1
Quem proceder ao deslocamento de um bem imóvel e 2 do artigo 36.o, no artigo 57.o e no n.o 1
do artigo 64.o, fora dos casos previstos na alí-
classificado, ou em vias de classificação, fora das con-
nea d) do artigo 104.o, bem como a violação
dições referidas no artigo 48.o, é punido com pena de
do disposto no n.o 1 do artigo 78.o;
prisão até 3 anos ou com pena de multa até 360 dias.
c) A violação do dever de comunicação de impor-
tação ou de admissão, decorrente do disposto
Artigo 102.o no n.o 1 do artigo 68.o;
d) A violação do disposto no n.o 3 do artigo 45.o
Crime de exportação ilícita
e no artigo 51.o, bem como o deslocamento ou
1 — Quem proceder à exportação ou expedição de a demolição ilícita, a realização de obras pre-
um bem classificado como de interesse nacional, ou em viamente embargadas ou a exportação ou expe-
vias de classificação como tal, fora dos casos previstos dição de bens realizadas em desconformidade
nos n.os 2 ou 3 do artigo 65.o, é punido com pena de com o disposto nos n.os 1 e 5 do artigo 66.o,
prisão até 5 anos ou com pena de multa até 600 dias. quando, em qualquer dos casos, a violação res-
2 — Em caso de negligência, o agente é punido com peite a bens classificados como de interesse
pena de prisão até 1 ano ou com multa até 120 dias. público.
Artigo 106.o
Artigo 103.o Contra-ordenações simples
Crime de destruição de vestígios Constitui contra-ordenação punível com coima de
Quem, por inobservância de disposições legais ou 100 000$ a 500 000$ e de 500 000$ a 5 000 000$, con-
regulamentares ou providências limitativas decretadas forme sejam praticadas por pessoa singular ou colectiva:
em conformidade com a presente lei, destruir vestígios, a) A violação do disposto no artigo 32.o e nos n.os 1
bens ou outros indícios arqueológicos é punido com pena e 2 do artigo 36.o, quando a mesma respeite
de prisão até 3 anos ou com pena de multa até 360 a bens classificados como de interesse muni-
dias. cipal;
5828 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 209 — 8 de Setembro de 2001

b) A violação do disposto no artigo 21.o e no n.o 1 TÍTULO XII


dos artigos 41.o e 46.o, e a violação de algum
dos deveres ou restrições previstos nas alíneas Disposições finais e transitórias
a), b) e c) do n.o 2 do artigo 60.o
Artigo 111.o
Artigo 107.o
Legislação de desenvolvimento
Negligência
1 — Sem prejuízo dos poderes legislativos regionais,
A negligência é punível.
no prazo de um ano, deve o Governo aprovar, pre-
ferencialmente de forma unitária e consolidada, a legis-
Artigo 108.o lação de desenvolvimento.
Sanções acessórias 2 — No prazo de um ano, devem o Governo central
e os Governos Regionais aprovar as alterações das leis
1 — Conjuntamente com a coima prevista no tipo orgânicas dos vários institutos e serviços da adminis-
legal de contra-ordenação, pode ser aplicada ao infractor tração do património cultural competente que se reve-
uma das seguintes sanções acessórias: lem necessárias à compatibilização daqueles diplomas
a) Apreensão dos bens objecto da infracção; com as orientações formuladas na presente lei.
b) Interdição do exercício da profissão de antiquá-
rio ou leiloeiro; Artigo 112.o
c) Privação do direito a subsídio ou benefício
outorgado por entidade ou serviço público para Anteriores actos de classificação e inventariação
efeitos de salvaguarda ou valorização de bem
cultural; 1 — Mantêm-se em vigor os efeitos decorrentes de
d) Privação do direito de participar em arrema- anteriores formas de protecção de bens culturais móveis
tações ou concursos públicos; e imóveis da responsabilidade da administração central
e) Encerramento do estabelecimento cujo funcio- ou da administração regional autónoma, independen-
namento esteja sujeito a autorização ou licença temente das conversões a que tenha de se proceder por
de autoridade administrativa; força da presente lei.
f) Suspensão de autorizações, licenças e alvarás. 2 — Os bens imóveis anteriormente classificados pelo
Estado ou pelas Regiões Autónomas como valores con-
2 — As sanções referidas nas alíneas b) e c) do celhios passam a considerar-se bens classificados de inte-
número anterior terão a duração máxima de dois anos,
resse municipal.
que se contarão a partir da decisão condenatória.
3 — A legislação de desenvolvimento determinará as
demais regras necessárias à conversão para novas formas
Artigo 109.o de protecção e designações.
Responsabilidade solidária

Quando tiverem sido executados trabalhos de con- Artigo 113.o


servação ou restauro que impliquem dano irreparável Disposições finais e transitórias avulsas
ou destruição ou demolição em bens classificados ou
em vias de o serem, sem prévia autorização do serviço 1 — Consideram-se feitas para as correspondentes
competente, as pessoas a quem se achem vinculados, disposições desta lei todas as remissões para normas
por contrato de trabalho, de prestação de serviços ou
da Lei n.o 13/85, de 6 de Julho, contidas em leis ou
de empreitada, aqueles que cometerem qualquer das
contra-ordenações previstas nesta lei são subsidiaria- regulamentos avulsos.
mente responsáveis pelo pagamento da importância 2 — Enquanto não for editada a legislação de desen-
igual à da coima àqueles aplicável, salvo se provarem volvimento da presente lei, no território do continente
ter tomado as providências necessárias para os fazer considerar-se-ão em vigor as normas até agora aplicáveis
observar a lei. do Decreto n.o 20 985, de 7 de Março de 1932, com
as sucessivas alterações, em tudo o que não contrarie
Artigo 110.o
princípios ou disposições fundamentais da presente lei.
Instrução e decisão 3 — Os representantes das autarquias locais e das
demais pessoas colectivas públicas não territoriais deve-
1 — A instrução do procedimento por contra-orde- rão remeter ao Governo, no prazo de dois anos a contar
nação cabe ao serviço da administração do património da entrada em vigor da presente lei, os instrumentos
cultural competente para o procedimento de classi-
ficação. de descrição a que se refere o artigo 63.o
2 — A aplicação da coima compete ao órgão dirigente 4 — Legislação especial assegurará um regime tran-
do serviço referido no número anterior, cabendo o mon- sitório de protecção urbanística aplicável aos conjuntos
tante da coima em 60 % ao Estado e em 40 % à entidade e sítios já classificados e àqueles que o venham a ser
respectiva, salvo quando cobradas pelos organismos até à entrada em vigor da legislação e dos instrumentos
competentes dos Governos Regionais, caso em que que tornem exequível o disposto nos artigos 53.o, 54.o
revertem totalmente para a respectiva Região. e 75.o da presente lei.
N.o 209 — 8 de Setembro de 2001 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 5829

5 — O Governo fica obrigado a apresentar à Assem- O Regulamento (CE) n.o 1260/99, de 21 de Junho,
bleia da República, de três em três anos e com início que estabelece as disposições gerais sobre os fundos
em 2001, um relatório circunstanciado sobre o estado estruturais, veio prever na alínea c) do n.o 1 do artigo 20.o
do património cultural em Portugal. a criação da iniciativa comunitária no domínio do desen-
volvimento rural LEADER+, co-financiada comunita-
Artigo 114.o riamente pelo FEOGA — Secção Orientação.
Esta iniciativa em interligação e complementaridade
Normas revogatórias e inaplicabilidade com os restantes instrumentos de política contribui para
1 — Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, são a concretização do objectivo geral de desenvolvimento
revogadas as Leis n.os 2032, de 11 de Junho de 1949, sustentável dos territórios rurais, nas vertentes ambien-
e 13/85, de 6 de Julho, bem como todas as disposições tal, económica e social.
de leis gerais da República que contrariem o disposto Com o presente diploma pretende-se estabelecer o
na presente lei. quadro legal de referência da iniciativa comunitária de
2 — São revogados a alínea b) do n.o 1 do artigo 9.o desenvolvimento rural LEADER+, para o período de
e os artigos 21.o a 30.o do Decreto-Lei n.o 16/93, de 2000-2006, sem prejuízo das matérias já reguladas pelo
23 de Janeiro, bem como os artigos 6.o e 46.o-A deste Decreto-Lei n.o 54-A/2000, de 7 de Abril, que define,
mesmo diploma, na redacção que lhes foi dada pela nomeadamente, a estrutura orgânica responsável pela
Lei n.o 14/94, de 11 de Maio. gestão, acompanhamento, avaliação e controlo das inter-
3 — O disposto no Decreto n.o 14 881, de 13 de venções estruturais de iniciativa comunitária.
Janeiro de 1928, no Decreto-Lei n.o 48 547, de 27 de Foram ouvidos os órgãos de governo próprio das
Agosto de 1968, e no Decreto Regulamentar n.o 90/84, Regiões Autónomas.
de 26 de Dezembro, que de algum modo interfira com Assim:
bens imóveis classificados ou em vias de o ser, sejam Nos termos da alínea a) do n.o 1 do artigo 198.o da
eles monumentos, conjuntos ou sítios, fica para todos Constituição, o Governo decreta, para valer como lei
os efeitos condicionado à presente lei e à legislação geral da República, o seguinte:
específica existente.
4 — Mantém-se em vigor a Lei n.o 19/2000, de 10
de Agosto. Artigo 1.o
Artigo 115.o Âmbito
Entrada em vigor
O presente diploma estabelece as regras gerais de
1 — Em tudo o que não necessite de desenvolvimento, aplicação da intervenção estrutural de iniciativa comu-
esta lei entra em vigor 60 dias após a respectiva nitária de desenvolvimento rural LEADER+, adiante
publicação. abreviadamente designado por Programa LEADER+,
2 — As demais disposições entram em vigor com os para o período de 2000-2006.
respectivos diplomas de desenvolvimento ou com a legis-
lação de que se mostrem carecidas.
Artigo 2.o
Aprovada em 17 de Julho de 2001.
Objectivos
O Presidente da Assembleia da República, António
de Almeida Santos. O Programa LEADER+ visa incentivar a aplicação
de estratégias de desenvolvimento sustentável, originais,
Promulgada em 22 de Agosto de 2001. integradas e de qualidade, cujo objecto seja a experi-
mentação de novas formas de valorização do património
Publique-se. natural e cultural, o reforço do ambiente económico,
O Presidente da República, JORGE SAMPAIO. no sentido de contribuir para a criação de postos de
trabalho, e a melhoria da capacidade organizacional das
Referendada em 30 de Agosto de 2001. respectivas comunidades.
O Primeiro-Ministro, António Manuel de Oliveira
Guterres. Artigo 3.o
Vectores
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,
O Programa LEADER+ desenvolve-se através dos
DO DESENVOLVIMENTO RURAL E DAS PESCAS seguintes vectores:

Decreto-Lei n.o 244/2001 a) Vector 1: estratégias territoriais de desenvol-


vimento rural, integradas e de carácter piloto;
de 8 de Setembro b) Vector 2: apoio à cooperação entre territórios
Os programas de iniciativa comunitária LEA- rurais;
DER — Ligações entre Acções de Desenvolvimento da c) Vector 3: colocação em rede do conjunto de
Economia Rural — têm assumido um papel fundamen- territórios rurais da comunidade europeia, bem
tal na definição e implementação de estratégias de como de todos os agentes do desenvolvimento
desenvolvimento rural. rural.

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