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ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA vante, mas também, quando for caso disso, os respectivos
contextos que, pelo seu valor de testemunho, possuam
com aqueles uma relação interpretativa e informativa.
Lei n.o 107/2001 7 — O ensino, a valorização e a defesa da língua por-
tuguesa e das suas variedades regionais no território
de 8 de Setembro nacional, bem como a sua difusão internacional, cons-
Estabelece as bases da política e do regime de protecção
tituem objecto de legislação e políticas próprias.
e valorização do património cultural
8 — A cultura tradicional popular ocupa uma posição
de relevo na política do Estado e das Regiões Autó-
A Assembleia da República decreta, nos termos da nomas sobre a protecção e valorização do património
alínea c) do artigo 161.o da Constituição, para valer cultural e constitui objecto de legislação própria.
como lei geral da República, o seguinte:
Artigo 3.o
TÍTULO I Tarefa fundamental do Estado
dade do Estado e com afectação permanente ao serviço h) Responsabilidade, garantindo prévia e sistemá-
da Igreja Católica, definido pela Concordata entre a tica ponderação das intervenções e dos actos
República Portuguesa e a Santa Sé. susceptíveis de afectar a integridade ou circu-
lação lícita de elementos integrantes do patri-
mónio cultural;
Artigo 5.o i) Cooperação internacional, reconhecendo e dando
efectividade aos deveres de colaboração, informa-
Identidades culturais ção e assistência internacional.
1 — No âmbito das suas relações bilaterais ou mul-
tilaterais com os países lusófonos, o Estado Português
contribui para a preservação e valorização daquele patri-
TÍTULO II
mónio cultural, sito no território nacional ou fora dele, Dos direitos, garantias e deveres dos cidadãos
que testemunhe capítulos da história comum.
2 — O Estado Português contribui, ainda, para a pre- Artigo 7.o
servação e salvaguarda do património cultural sito fora
do espaço lusófono que constitua testemunho de espe- Direito à fruição do património cultural
cial importância de civilização e de cultura portuguesas. 1 — Todos têm direito à fruição dos valores e bens
3 — A política do património cultural visa, em termos que integram o património cultural, como modo de
específicos, a conservação e salvaguarda do património desenvolvimento da personalidade através da realização
cultural de importância europeia e do património cul- cultural.
tural de valor universal excepcional, em particular 2 — A fruição por terceiros de bens culturais, cujo
quando se trate de bens culturais que integrem o patri- suporte constitua objecto de propriedade privada ou
mónio cultural português ou que com este apresentem outro direito real de gozo, depende de modos de divul-
conexões significativas. gação concertados entre a administração do património
cultural e os titulares das coisas.
3 — A fruição pública dos bens culturais deve ser har-
Artigo 6.o monizada com as exigências de funcionalidade, segu-
rança, preservação e conservação destes.
Outros princípios gerais
4 — O Estado respeita, também, como modo de frui-
ção cultural o uso litúrgico, devocional, catequético e
Para além de outros princípios presentes nesta lei,
educativo dos bens culturais afectos a finalidades de
a política do património cultural obedece aos princípios utilização religiosa.
gerais de:
Artigo 8.o
a) Inventariação, assegurando-se o levantamento
Colaboração entre a Administração Pública e os particulares
sistemático, actualizado e tendencialmente
exaustivo dos bens culturais existentes com vista As pessoas colectivas de direito público colaborarão
à respectiva identificação; com os detentores de bens culturais, por forma que estes
b) Planeamento, assegurando que os instrumentos possam conjugar os seus interesses e iniciativas com a
e recursos mobilizados e as medidas adaptadas actuação pública, à luz dos objectivos de protecção e
resultam de uma prévia e adequada planificação valorização do património cultural, e beneficiem de con-
e programação; trapartidas de apoio técnico e financeiro e de incentivos
c) Coordenação, articulando e compatibilizando o fiscais.
património cultural com as restantes políticas Artigo 9.o
que se dirigem a idênticos ou conexos interesses
públicos e privados, em especial as políticas de Garantias dos administrados
ordenamento do território, de ambiente, de edu- 1 — Aos titulares de direitos e interesses legalmente
cação e formação, de apoio à criação cultural protegidos sobre bens culturais, ou outros valores inte-
e de turismo; grantes do património cultural, lesados por actos jurí-
d) Eficiência, garantindo padrões adequados de dicos ou materiais da Administração Pública ou de enti-
cumprimento das imposições vigentes e dos dades em que esta delegar tarefas nos termos do
objectivos previstos e estabelecidos; artigo 4.o e do n.o 2 do artigo 26.o são reconhecidas
e) Inspecção e prevenção, impedindo, mediante a as garantias gerais dos administrados, nomeadamente:
instituição de organismos, processos e controlos
a) O direito de promover a impugnação dos actos
adequados, a desfiguração, degradação ou
administrativos e das normas emitidas no
perda de elementos integrantes do património desempenho da função administrativa;
cultural; b) O direito de propor acções administrativas;
f) Informação, promovendo a recolha sistemática c) O direito de desencadear meios processuais de
de dados e facultando o respectivo acesso tanto natureza cautelar, incluindo os previstos na lei
aos cidadãos e organismos interessados como de processo civil quando os meios específicos
às competentes organizações internacionais; do contencioso administrativo não puderem
g) Equidade, assegurando a justa repartição dos proporcionar uma tutela provisória adequada;
encargos, ónus e benefícios decorrentes da apli- d) O direito de apresentação de denúncia, queixa
cação do regime de protecção e valorização do ou participação ao Ministério Público e de
património cultural; queixa ao Provedor de Justiça.
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2 — É reconhecido, nos termos da lei geral, o direito 2 — Todos têm o dever de defender e conservar o
de participação procedimental e de acção popular para património cultural, impedindo, no âmbito das facul-
a protecção de bens culturais ou outros valores inte- dades jurídicas próprias, em especial, a destruição, dete-
grantes do património cultural. rioração ou perda de bens culturais.
3 — Sem prejuízo da iniciativa processual dos lesados 3 — Todos têm o dever de valorizar o património
e do exercício da acção popular, compete também ao cultural, sem prejuízo dos seus direitos, agindo, na
Ministério Público a defesa dos bens culturais e de medida das respectivas capacidades, com o fito da divul-
outros valores integrantes do património cultural contra gação, acesso à fruição e enriquecimento dos valores
lesões violadoras do direito, através, nomeadamente, do culturais que nele se manifestam.
exercício dos meios processuais referidos no n.o 1 do
presente artigo.
4 — O direito de acção popular inclui a utilização TÍTULO III
de embargo judicial de obra, trabalho ou serviço novo
iniciados em qualquer bem cultural contra o disposto Dos objectivos
na presente lei e nas restantes normas do direito do
património cultural, bem como o emprego de quaisquer Artigo 12.o
outros procedimentos cautelares adequados, nos termos
da alínea c) do n.o 1 do presente artigo. Finalidades da protecção e valorização do património cultural
1 — Logo que a Administração Pública tenha conhe- 1 — Os comproprietários, o Estado, as Regiões Autó-
cimento de que algum bem classificado, ou em vias de nomas e os municípios gozam, pela ordem indicada,
classificação, corra risco de destruição, perda, extravio do direito de preferência em caso de venda ou dação
ou deterioração, deverá o órgão competente da admi- em pagamento de bens classificados ou em vias de clas-
nistração central, regional ou municipal determinar as sificação ou dos bens situados na respectiva zona de
medidas provisórias ou as medidas técnicas de salva- protecção.
guarda indispensáveis e adequadas, podendo, em caso 2 — É aplicável ao direito de preferência previsto
neste artigo o disposto nos artigos 416.o a 418.o e 1410.o
de impossibilidade própria, qualquer destes órgãos soli-
do Código Civil, com as necessárias adaptações.
citar a intervenção de outro. 3 — O disposto no presente artigo não prejudica os
2 — Se as medidas ordenadas importarem para o direitos de preferência concedidos à Administração
detentor a obrigação de praticar determinados actos, Pública pela legislação avulsa.
deverão ser fixados os termos, os prazos e as condições
da sua execução, nomeadamente a prestação de apoio
financeiro ou técnico. Artigo 38.o
3 — Além das necessárias medidas políticas e admi- Escrituras e registos
nistrativas, fica o Governo obrigado a instituir um fundo
destinado a comparticipar nos actos referidos no n.o 2 1 — O incumprimento do dever de comunicação esta-
do presente artigo e a acudir a situações de emergência belecido nos artigos anteriores constituirá impedimento
ou de calamidade pública. à celebração pelos notários das respectivas escrituras,
bem como obstáculo a que os conservadores inscrevam
os actos em causa nos competentes registos.
Artigo 34.o 2 — Quando efectuadas contra o preceituado pelo
Usucapião
artigo 35.o e pelo n.o 1 do artigo 36.o, a alienação, a
constituição de outro direito real de gozo ou a dação
Os bens culturais classificados nos termos do em pagamento são anuláveis pelos tribunais sob inicia-
artigo 15.o da presente lei, ou em vias de classificação tiva do membro da administração central, regional ou
como tal, são insusceptíveis de aquisição por usucapião. municipal competente, dentro de um ano a contar da
data do conhecimento.
SECÇÃO II
Artigo 39.o
Alienações e direitos de preferência Registo predial
Bens imóveis
Artigo 36.o
SUBSECÇÃO I
Dever de comunicação da transmissão
Disposições comuns
1 — A alienação, a constituição de outro direito real
de gozo ou a dação em pagamento de bens classificados Artigo 40.o
nos termos do artigo 15.o da presente lei, ou em vias
de classificação como tal, depende de prévia comuni- Impacte de grandes projectos e obras
cação escrita ao serviço competente para a instrução 1 — Os órgãos competentes da administração do
do respectivo procedimento. património cultural têm de ser previamente informados
2 — A transmissão por herança ou legado de bens dos planos, programas, obras e projectos, tanto públicos
classificados nos termos do artigo 15.o da presente lei, como privados, que possam implicar risco de destruição
ou em vias de classificação como tal, deverá ser comu- ou deterioração de bens culturais, ou que de algum
nicada pelo cabeça-de-casal ao serviço competente refe- modo os possam desvalorizar.
rido no número anterior, no prazo de três meses con- 2 — Para os efeitos do número anterior, o Governo,
tados sobre a data de abertura da sucessão. os órgãos de governo próprio das Regiões Autónomas
3 — O disposto no número anterior é aplicável aos e os órgãos das autarquias locais estabelecerão, no
bens situados nas zonas de protecção dos bens clas- âmbito das competências respectivas, as medidas de pro-
sificados nos termos do artigo 15.o da presente lei, ou tecção e as medidas correctivas que resultem necessárias
em vias de classificação como tal. para a protecção do património cultural.
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Artigo 46.o quer dos casos, se não mostre viável nem razoável, por
Obras de conservação obrigatória
qualquer outra forma, a salvaguarda ou o deslocamento
do bem.
1 — No respeito dos princípios gerais e nos limites 3 — Verificado um ou ambos os pressupostos, devem
da lei, o Estado, as Regiões Autónomas, os municípios ser decretadas as medidas adequadas à manutenção de
e os proprietários ou titulares de outros direitos reais todos os elementos que se possam salvaguardar, auto-
de gozo sobre imóveis classificados nos termos do rizando-se apenas as demolições estritamente neces-
artigo 15.o da presente lei, ou em vias de classificação sárias.
como tal, devem executar todas as obras ou quaisquer 4 — A autorização de demolição por parte do órgão
outras intervenções que a administração do património competente da administração central, regional autó-
cultural competente considere necessárias para assegu- noma ou municipal não deve ser concedida quando a
rar a sua salvaguarda. situação de ruína seja causada pelo incumprimento do
2 — No caso de as obras ou intervenções não terem disposto no presente capítulo, impondo-se aos respon-
sido iniciadas ou concluídas dentro do prazo fixado, sáveis a reposição, nos termos da lei.
poderão as entidades previstas no n.o 2 do artigo 40.o 5 — São nulos os actos administrativos que infrinjam
da presente lei promover a sua execução coerciva nos o disposto nos números anteriores.
termos previstos na legislação em vigor.
Artigo 50.o
Artigo 47.o
Expropriação
Embargos e medidas provisórias
1 — Ouvidos os interessados e os órgãos consultivos
1 — O organismo competente da administração do competentes, pode a administração do património cul-
Estado, da administração regional autónoma ou da admi- tural promover a expropriação dos bens imóveis clas-
nistração municipal deve determinar o embargo admi- sificados nos termos do artigo 15.o da presente lei, ou
nistrativo de quaisquer obras ou trabalhos em bens imó- em vias de classificação como tal, nos seguintes casos:
veis classificados como de interesse nacional, de interesse
público ou de interesse municipal, ou em vias de clas- a) Quando por responsabilidade do detentor, decor-
sificação como tal, cuja execução decorra ou se apreste rente de violação grave dos seus deveres gerais,
a iniciar em desconformidade com a presente lei. especiais ou contratualizados, se corra risco sério
2 — O disposto no número anterior aplica-se também de degradação do bem;
às obras ou trabalhos em zonas de protecção de bens b) Quando por razões jurídicas, técnicas ou cien-
imóveis classificados nos termos do artigo 15.o da pre- tíficas devidamente fundamentadas a expropria-
sente lei, ou em vias de classificação como tal. ção se revele a forma mais adequada de asse-
3 — A lei determinará as demais medidas provisórias gurar a tutela do bem;
aplicáveis. c) Quando a expropriação tiver sido requerida pelo
Artigo 48.o interessado.
Deslocamento 2 — Ouvidos os interessados e os órgãos consultivos
Nenhum imóvel classificado nos termos do artigo 15.o competentes, podem ainda ser expropriados os bens
da presente lei, ou em vias de classificação como tal, imóveis situados nas zonas de protecção dos bens clas-
poderá ser deslocado ou removido, em parte ou na tota- sificados nos termos do artigo 15.o da presente lei, ou
lidade, do lugar que lhe compete, salvo se, na sequência em vias de classificação como tal, quando prejudiquem
do procedimento previsto na lei, assim for julgado a boa conservação daqueles bens culturais ou ofendam
imprescindível por motivo de força maior ou por mani- ou desvirtuem as suas características ou enquadramento.
festo interesse público, em especial no caso de a sal- 3 — No âmbito da aplicação dos n.os 1 e 2 do presente
vaguarda material do mesmo o exigir imperativamente, artigo, e tratando-se de bens imóveis classificados como
devendo então a autoridade competente fornecer todas de interesse municipal, ou em vias de classificação como
as garantias necessárias quanto à desmontagem, à remo- tal, enquadrados num instrumento de gestão territorial
ção e à reconstrução do imóvel em lugar apropriado. eficaz, os municípios podem promover a respectiva
expropriação, sendo a assembleia municipal competente
para a declaração de utilidade desta expropriação, nos
Artigo 49.o termos da lei.
Demolição
SUBSECÇÃO II
1 — Sem prejuízo do disposto nos artigos anteriores,
não podem ser concedidas licenças de demolição total Monumentos, conjuntos e sítios
ou parcial de bens imóveis classificados nos termos do
artigo 15.o da presente lei, ou em vias de classificação Artigo 51.o
como tal, sem prévia e expressa autorização do órgão Intervenções
competente da administração central, regional autó-
noma ou municipal, conforme os casos. Não poderá realizar-se qualquer intervenção ou obra,
2 — A autorização de demolição por parte do órgão no interior ou no exterior de monumentos, conjuntos
competente da administração central, regional autó- ou sítios classificados, nem mudança de uso susceptível
noma ou municipal tem como pressuposto obrigatório de o afectar, no todo ou em parte, sem autorização
a existência de ruína ou a verificação em concreto da expressa e o acompanhamento do órgão competente
primazia de um bem jurídico superior ao que está pre- da administração central, regional autónoma ou muni-
sente na tutela dos bens culturais, desde que, em qual- cipal, conforme os casos.
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2 — Em caso de incumprimento, por parte dos deten- 4 — No respeito pelos princípios gerais aplicáveis,
tores, de deveres gerais, especiais ou contratualizados, poderá ainda a lei estabelecer, atenta a situação concreta
susceptível de acarretar um risco sério de degradação do bem ou do tipo de bens em questão, um regime
ou dispersão dos bens, poderá o Governo, os órgãos diferenciado de limitações, designadamente espaciais.
de governo próprio das Regiões Autónomas e os órgãos 5 — Aos bens imóveis e móveis classificados como
municipais competentes nos termos da presente lei orde- de interesse público são correspondentemente aplicá-
nar que os mesmos sejam transferidos, a título de depó- veis, com as especificações a definir na legislação de
sito, para a guarda de bibliotecas, arquivos ou museus. desenvolvimento, as disposições do n.o 2 do artigo 31.o
Artigo 59.o e dos artigos 32.o e 40.o a 59.o da presente lei.
6 — As disposições dos artigos 40.o a 60.o da presente
Projectos e intervenções lei apenas são aplicáveis, com as necessárias adaptações,
1 — As intervenções físicas ou estruturantes em bens aos bens imóveis e móveis classificados como de inte-
móveis classificados nos termos do artigo 15.o da pre- resse municipal quando assim seja previsto na legislação
sente lei, ou em vias de classificação como tal, são obri- de desenvolvimento.
gatoriamente asseguradas por técnicos de qualificação
legalmente reconhecida.
2 — Nos termos da lei, e com as necessárias adap- CAPÍTULO III
tações, são aplicáveis aos bens móveis classificados, ou
em vias classificação, as disposições dos artigos 45.o, Protecção dos bens culturais inventariados
46.o, 47.o e 50.o da presente lei.
Artigo 61.o
Inventário geral
SECÇÃO V
Particularização de regimes 1 — Os bens inventariados gozam de protecção com
vista a evitar o seu perecimento ou degradação, a apoiar
Artigo 60.o a sua conservação e a divulgar a respectiva existência.
2 — O inventário geral do património cultural será
Outras disposições aplicáveis aos bens classificados assegurado e coordenado pelo Governo sem prejuízo
1 — O registo patrimonial de classificação abrirá aos da necessidade de articulação com os inventários já
proprietários, possuidores e demais titulares de direitos existentes.
reais sobre os respectivos bens culturais o acesso a regi- Artigo 62.o
mes de apoio, incentivos, financiamentos e estipulação
de contratos e outros acordos, nos termos da presente Inventário de bens de particulares
lei e da legislação de desenvolvimento.
2 — Os bens classificados como de interesse público 1 — Qualquer pessoa pode, mediante solicitação fun-
ficam sujeitos às seguintes restrições e ónus: damentada, requerer a inventariação de um bem, colec-
ção ou conjunto de que seja detentor, juntando todos
a) Dever, da parte do detentor, de comunicar a os elementos pertinentes.
alienação ou outra forma de transmissão da pro- 2 — A solicitação referida no número anterior deverá
priedade ou de outro direito real de gozo, para ser decidida no prazo de 90 dias.
efeitos de actualização de registo; 3 — A inclusão de qualquer bem, colecção ou con-
b) Sujeição a prévia autorização do desmembra- junto no inventário geral confere ao respectivo detentor
mento ou dispersão das partes integrantes do o direito a um título de identidade, sem prejuízo de
bem ou colecção; outros benefícios a reconhecer por lei, em especial
c) Sujeição a prévia autorização do serviço com-
quando as operações de inventariação tiverem sido pro-
petente de quaisquer intervenções que visem
movidas a expensas do particular.
alteração, conservação ou restauro, as quais só
poderão ser efectuadas por técnicos especiali-
zados, nos termos da legislação de desenvol- Artigo 63.o
vimento;
d) Existência de regras próprias sobre a transfe- Inventário de bens públicos
rência ou cedência de espécies de uma insti-
1 — Para o efeito da elaboração do inventário dos
tuição para outra ou entre serviços públicos;
e) Sujeição da exportação a prévia autorização ou bens públicos, os representantes das autarquias locais
licença; e das demais pessoas colectivas públicas não territoriais
f) Identificação do bem através de sinalética pró- devem apresentar à administração do património cul-
pria, especialmente no caso dos imóveis; tural competente instrumentos de descrição de todos
g) Obrigação de existência de um documento para os bens pertencentes às entidades que representam, sus-
registos e anotações na posse do respectivo ceptíveis de integrar o património cultural de acordo
detentor. com os n.os 1, 3 e 5 do artigo 2.o e o n.o 1 do artigo 14.o
da presente lei.
3 — Relativamente ao regime definido no número 2 — Idêntico dever de comunicação é extensível aos
anterior, os bens classificados como de interesse muni- bens que venham, por qualquer título, a integrar no
cipal poderão conhecer níveis menos intensos de limi- futuro o património da pessoa colectiva.
tações, nos termos a especificar na legislação de desen- 3 — A lei estabelecerá os termos e condições em que
volvimento. se deve processar a apresentação dos instrumentos de
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descrição por parte dos serviços da administração central 2 — A autorização ou a licença a que se refere o
do Estado, da administração regional autónoma e de número anterior podem sujeitar a exportação ou a expe-
outros organismos públicos. dição a condições ou cláusulas modais.
4 — A lei poderá estabelecer a classificação automá- 3 — A apresentação do pedido de exportação ou de
tica de certos bens públicos, na sequência do cumpri- expedição para venda concede ao Estado o direito de
mento do disposto nos números anteriores. preferência na aquisição.
4 — As leis de desenvolvimento regularão o regime
CAPÍTULO IV de exportação e expedição dos demais bens classificados,
assim como os procedimentos e formalidades aplicáveis.
Exportação, expedição, importação, 5 — A exportação e a expedição de bens inventariados
admissão e comércio pertencentes a entidades públicas depende de autori-
zação da administração do património cultural.
Artigo 64.o 6 — A autorização a que se refere o número anterior
Exportação e expedição sujeitar-se-á a condições especiais a definir por lei.
1 — A exportação e a expedição temporárias ou defi-
nitivas de bens que integrem o património cultural, ainda Artigo 67.o
que não inscritos no registo patrimonial de classificação
ou inventariação, devem ser precedidas de comunicação Exportação de bens culturais de Estados membros da União Europeia
à administração do património cultural competente com
a antecedência de 30 dias. As formalidades para efeito de exportação de bens
2 — A obrigação referida no número anterior res- pertencentes ao património cultural de Estados mem-
peitará, em particular, as espécies a que alude o n.o 3 bros da União Europeia regem-se pelo disposto no
do artigo 55.o, independentemente da apreciação defi- direito comunitário.
nitiva do interesse cultural do bem em causa.
3 — A administração do património cultural compe- Artigo 68.o
tente poderá vedar liminarmente a exportação ou a
expedição, a título de medida provisória, sem que de Importação e admissão
tal providência decorra a vinculação do Estado à aqui-
sição da coisa. 1 — É aplicável à importação e à admissão de bens
4 — As exportações e as expedições que não obede- culturais, com as necessárias adaptações, o disposto nos
çam ao disposto no n.o 1 do presente artigo e no n.os 1 e 2 do artigo 64.o
artigo 65.o, nos n.os 1 e 5 do artigo 66.o e no artigo 67.o 2 — Às importações e admissões de bens culturais
são ilícitas. promovidas por particulares que se efectuem em con-
Artigo 65.o formidade com a lei serão aplicáveis as seguintes regras:
Exportação e expedição de bens classificados a) O proprietário gozará do direito ao título de
como de interesse nacional identificação do bem, com equivalência ao esta-
1 — A saída de território nacional de bens classifi- tuto de bem inventariado;
cados como de interesse nacional, ou em vias de clas- b) Salvo acordo do proprietário, é vedada a clas-
sificação como tal, fora dos casos previstos nos n.os 2 sificação como de interesse nacional ou de inte-
e 3 do presente artigo é interdita. resse público do bem nos 10 anos seguintes à
2 — A exportação e expedição temporárias de bens importação ou admissão.
classificados como de interesse nacional, ou em vias de
classificação como tal, apenas pode ser autorizada, por 3 — A lei regulará os demais procedimentos e con-
despacho do membro do Governo responsável pela área dições a que deve obedecer a importação e a admissão,
da cultura, para finalidades culturais ou científicas, bem temporária ou definitiva, de bens culturais.
como de permuta temporária por outros bens de igual
interesse para o património cultural.
3 — A exportação e expedição definitivas de bens Artigo 69.o
classificados como de interesse nacional, ou em vias de
classificação como tal, pertencentes ao Estado, apenas Regime do comércio e da restituição
podem ser autorizadas, a título excepcional, pelo Con-
1 — Em condições de reciprocidade, consideram-se
selho de Ministros, para efeito de permuta definitiva
por outros bens existentes no estrangeiro que se revistam nulas as transacções realizadas em território português
de excepcional interesse para o património cultural incidentes sobre bens pertencentes ao património cul-
português. tural de outro Estado e que se encontrem em território
4 — As autorizações ou licenças de exportação ou nacional em consequência da violação da respectiva lei
de expedição de bens referidas nos números anteriores de protecção.
especificarão as condições ou cláusulas modais que 2 — Os bens a que se refere o número anterior do
forem consideradas convenientes. presente artigo são restituíveis nos termos do direito
comunitário ou internacional que vincular o Estado
Artigo 66.o Português.
3 — A restituição de bens pertencentes ao património
Exportação e expedição de outros bens classificados cultural dos demais Estados membros da União Euro-
1 — Dependem de autorização ou licença da admi- peia pode ser limitada às categorias de objectos rela-
nistração do património cultural a exportação e a expe- cionadas nos actos de direito comunitário derivado.
dição definitivas ou temporárias de bens classificados 4 — As acções de restituição correrão pelos tribunais
como de interesse público, ou em vias de classificação judiciais, nelas cabendo legitimidade activa exclusiva-
como tal. mente ao Estado de onde o bem cultural tenha saído
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ilegalmente e desde que se trate de Estado membro e) Os programas de apoio às formas de utilização
da União Europeia ou de Estado em condições de reci- originária, tradicional ou natural dos bens;
procidade na ordem interna portuguesa que lhe confira f) Os regimes de acesso, nomeadamente a visita
tal direito. pública e as colecções visitáveis;
5 — Na acção de restituição, discutir-se-á apenas: g) Os programas e projectos de divulgação, sen-
sibilização e animação;
a) Se o bem que é objecto do pedido tem a qua- h) Os programas de formação específica e con-
lidade de bem cultural nos termos das normas tratualizada;
aplicáveis; i) Os programas de voluntariado;
b) Se a saída do bem do território do Estado de j) Os programas de apoio à acção educativa;
origem foi ilícita nos termos das normas apli- l) Os programas de aproveitamento turístico;
cáveis; m) Os planos e programas de aquisição e permuta.
c) Se o possuidor ou detentor adquiriu o bem de
boa fé;
d) O montante da indemnização a arbitrar ao pos- TÍTULO VII
suidor ou detentor de boa fé;
e) Outros aspectos do conflito de interesses cuja Dos regimes especiais de protecção e valorização
discussão na acção de restituição seja consentido de bens culturais
pelas normas aplicáveis do direito comunitário
ou internacional. CAPÍTULO I
3 — A menos que seja possível apresentar uma cópia poderá ser estabelecido com carácter preventivo e tem-
de onde hajam sido expurgados elementos lesivos de porário, pelo órgão da administração do património cul-
direitos e valores fundamentais, não será objecto de tural competente, uma reserva arqueológica de protec-
acesso o documento que os contiver. ção, por forma a garantir-se a execução de trabalhos
4 — As restrições legais da comunicabilidade de docu- de emergência, com vista a determinar o seu interesse.
mentação integral do património cultural caducam 3 — Sempre que o interesse de um parque arqueo-
decorridos 100 anos sobre a data de produção do docu- lógico o justifique, o mesmo poderá ser dotado de uma
mento, a menos que a lei estabeleça prazos especiais zona especial de protecção, a fixar pelo órgão da admi-
mais reduzidos. nistração do património cultural competente, por forma
a garantir-se a execução futura de trabalhos arqueo-
CAPÍTULO II lógicos no local.
4 — A legislação de desenvolvimento poderá também
Do património arqueológico estabelecer outros tipos de providências limitativas da
modificação do uso, da transformação e da remoção
Artigo 74.o de solos ou de qualquer actividade de edificação sobre
Conceito e âmbito do património arqueológico e paleontológico
os mesmos, até que possam ser estudados dentro de
prazos máximos os testemunhos que se saiba ou fun-
1 — Integram o património arqueológico e paleon- damentadamente se presuma ali existirem.
tológico todos os vestígios, bens e outros indícios da 5 — Desde que os bens arqueológicos não estejam
evolução do planeta, da vida e dos seres humanos: classificados, ou em vias de o serem, poderão os par-
ticulares interessados promover, total ou parcialmente,
a) Cuja preservação e estudo permitam traçar a a expensas suas, nos termos da lei, os trabalhos arqueo-
história da vida e da humanidade e a sua relação lógicos de cuja conclusão dependa a cessação das limi-
com o ambiente; tações previstas nos n.os 2 e 4 do presente artigo.
b) Cuja principal fonte de informação seja cons- 6 — Depende de prévia emissão de licença a utili-
tituída por escavações, prospecções, descobertas zação de detectores de metais e de qualquer outro equi-
ou outros métodos de pesquisa relacionados pamento de detecção ou processo destinados à inves-
com o ser humano e o ambiente que o rodeia. tigação arqueológica, nos termos da lei.
7 — Com vista a assegurar o ordenamento e a gestão
2 — O património arqueológico integra depósitos dos parques arqueológicos, definidos no n.o 4 do
estratificados, estruturas, construções, agrupamentos artigo 74.o, a administração do património arqueológico
arquitectónicos, sítios valorizados, bens móveis e monu- competente deve, nos termos da lei, elaborar um plano
mentos de outra natureza, bem como o respectivo con- especial de ordenamento do território, designado por
texto, quer estejam localizados em meio rural ou urbano, plano de ordenamento de parque arqueológico.
no solo, subsolo ou em meio submerso, no mar territorial 8 — Os objectivos, o conteúdo material e o conteúdo
ou na plataforma continental. documental do plano referido no número anterior serão
3 — Os bens provenientes da realização de trabalhos definidos na legislação de desenvolvimento.
arqueológicos constituem património nacional, compe-
tindo ao Estado e às Regiões Autónomas proceder ao
seu arquivo, conservação, gestão, valorização e divul- Artigo 76.o
gação através dos organismos vocacionados para o
Deveres especiais das entidades públicas
efeito, nos termos da lei.
4 — Entende-se por parque arqueológico qualquer 1 — Constituem particulares deveres do Estado, sem
monumento, sítio ou conjunto de sítios arqueológicos prejuízo do disposto nos estatutos das Regiões Autó-
de interesse nacional, integrado num território envol- nomas:
vente marcado de forma significativa pela intervenção
humana passada, território esse que integra e dá sig- a) Criar, manter e actualizar o inventário nacional
nificado ao monumento, sítio ou conjunto de sítios, e georreferenciado do património arqueológico
cujo ordenamento e gestão devam ser determinados pela imóvel;
necessidade de garantir a preservação dos testemunhos b) Articular o cadastro da propriedade com o
arqueológicos aí existentes. inventário nacional georreferenciado do patri-
5 — Para os efeitos do disposto no número anterior, mónio arqueológico;
entende-se por território envolvente o contexto natural c) Estabelecer a disciplina e a fiscalização da acti-
ou artificial que influencia, estática ou dinamicamente, vidade de arqueólogo.
o modo como o monumento, sítio ou conjunto de sítios
é percebido. 2 — Constitui particular dever do Estado e das
Artigo 75. o Regiões Autónomas aprovar os planos anuais de tra-
balhos arqueológicos.
Formas e regime de protecção 3 — Constituem particulares deveres da Administra-
ção Pública competente no domínio do licenciamento
1 — Aos bens arqueológicos será desde logo aplicável, e autorização de operações urbanísticas:
nos termos da lei, o princípio da conservação pelo registo
científico. a) Certificar-se de que os trabalhos por si auto-
2 — Em qualquer lugar onde se presuma a existência rizados, que envolvam transformação de solos,
de vestígios, bens ou outros indícios arqueológicos, revolvimento ou remoção de terreno no solo,
5822 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 209 — 8 de Setembro de 2001
subsolo ou nos meios subaquáticos, bem como das operações de arqueologia preventiva e de salva-
a demolição ou modificação de construções, mento tornadas necessárias pela realização dos seus
estão em conformidade com a legislação sobre projectos.
a salvaguarda do património arqueológico; 4 — No caso de grandes empreendimentos públicos
b) Dotar-se de meios humanos e técnicos neces- ou privados que envolvam significativa transformação
sários no domínio da arqueologia ou recorrer da topografia ou paisagem, bem como do leito ou sub-
a eles sempre que necessário. solo de águas interiores ou territoriais, quaisquer inter-
venções arqueológicas necessárias deverão ser integral-
Artigo 77.o mente financiadas pelo respectivo promotor.
Trabalhos arqueológicos
CAPÍTULO III
1 — Para efeitos da presente lei, são trabalhos
arqueológicos todas as escavações, prospecções e outras Do património arquivístico
investigações que tenham por finalidade a descoberta,
o conhecimento, a protecção e a valorização do patri- Artigo 80.o
mónio arqueológico. Conceito e âmbito do património arquivístico
2 — São escavações arqueológicas as remoções de ter-
reno no solo, subsolo ou nos meios subaquáticos que, 1 — Integram o património arquivístico todos os
de acordo com metodologia arqueológica, se realizem arquivos produzidos por entidades de nacionalidade por-
com o fim de descobrir, conhecer, proteger e valorizar tuguesa que se revistam de interesse cultural relevante.
o património arqueológico. 2 — Entende-se por arquivo o conjunto orgânico de
3 — São prospecções arqueológicas as explorações documentos, independentemente da sua data, forma e
superficiais sem remoção de terreno que, de acordo com suporte material, produzidos ou recebidos por uma pes-
metodologia arqueológica, visem as actividades e objec- soa jurídica, singular ou colectiva, ou por um organismo
tivos previstos no número anterior. público ou privado, no exercício da sua actividade e
4 — A realização de trabalhos arqueológicos será conservados a título de prova ou informação.
obrigatoriamente dirigida por arqueólogos e carece de 3 — Integram, igualmente, o património arquivístico
autorização a conceder pelo organismo competente da conjuntos não orgânicos de documentos de arquivo que
administração do património cultural. se revistam de interesse cultural relevante e nomeada-
5 — Não se consideram trabalhos arqueológicos, para mente quando práticas antigas tenham gerado colecções
efeitos da presente lei, os achados fortuitos ou ocorridos factícias.
em consequência de outro tipo de remoções de terra, 4 — Entende-se por colecção factícia o conjunto de
demolições ou obras de qualquer índole. documentos de arquivo reunidos artificialmente em fun-
ção de qualquer característica comum, nomeadamente
Artigo 78.o o modo de aquisição, o assunto, o suporte, a tipologia
documental ou outro qualquer critério dos coleccio-
Notificação de achado arqueológico
nadores.
1 — Quem encontrar, em terreno público ou parti- Artigo 81.o
cular, ou em meio submerso, quaisquer testemunhos
arqueológicos fica obrigado a dar conhecimento do Categorias de arquivos
achado no prazo de quarenta e oito horas à adminis- 1 — Para efeitos do disposto no artigo anterior,
tração do património cultural competente ou à auto- devem os arquivos ser distinguidos, com base na res-
ridade policial, que assegurará a guarda desses teste- pectiva proveniência, em arquivos públicos e arquivos
munhos e de imediato informará aquela, a fim de serem privados.
tomadas as providências convenientes. 2 — São arquivos públicos os produzidos por enti-
2 — A descoberta fortuita de bens móveis arqueo- dades públicas ou por pessoas colectivas de utilidade
lógicos com valor comercial confere ao achador o direito pública administrativa.
a uma recompensa, nos termos da lei. 3 — Os arquivos públicos distinguem-se em arquivos
de âmbito nacional, regional e municipal.
Artigo 79.o 4 — São arquivos privados os produzidos por enti-
Ordenamento do território e obras dades privadas.
5 — Os arquivos privados distinguem-se em arquivos
1 — Para além do disposto no artigo 40.o, deverá ser de pessoas colectivas de direito privado integradas no
tida em conta, na elaboração dos instrumentos de pla- sector público e arquivos de pessoas singulares ou colec-
neamento territorial, o salvamento da informação tivas privadas.
arqueológica contida no solo e no subsolo dos aglo- Artigo 82.o
merados urbanos, nomeadamente através da elaboração
de cartas do património arqueológico. Critérios para a protecção do património arquivístico
2 — Os serviços da administração do património cul- Para a classificação ou o inventário do património
tural condicionarão a prossecução de quaisquer obras arquivístico, devem ser tidos em conta algum ou alguns
à adopção pelos respectivos promotores, junto das auto- dos seguintes critérios:
ridades competentes, das alterações ao projecto apro-
vado capazes de garantir a conservação, total ou parcial, a) Natureza pública da entidade produtora;
das estruturas arqueológicas descobertas no decurso dos b) Relevância das actividades desenvolvidas pela
trabalhos. entidade produtora num determinado sector;
3 — Os promotores das obras ficam obrigados a c) Relevância social ou repercussão pública da
suportar, por meio das entidades competentes, os custos entidade produtora;
N.o 209 — 8 de Setembro de 2001 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 5823
1 — Sem prejuízo do regime geral, devem ser objecto 2 — As séries de sons amadores podem ser incluídas
de classificação como de interesse público: no património fonográfico, nos termos da lei.
a) As espécies bibliográficas que possuam qual-
quer das características referidas no n.o 3 do CAPÍTULO VII
artigo 85.o e se encontrem, a qualquer título, Do património fotográfico
na posse do Estado;
b) As espécies bibliográficas que possuam qual- Artigo 90.o
quer das características referidas no n.o 3 do
Património fotográfico
artigo 85.o pertencentes a entidades privadas de
que não existam, pelo menos, três exemplares 1 — Integram o património fotográfico todas as ima-
em bibliotecas ou colecções bibliográficas de gens obtidas por processos fotográficos, qualquer que
titularidade pública; seja o suporte, positivos ou negativos, transparentes ou
N.o 209 — 8 de Setembro de 2001 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A 5825
4 — Sem prejuízo do regime geral, devem ser objecto 1 — Constitui especial dever do Estado e das Regiões
de classificação como de interesse público as espécies, Autónomas apoiar iniciativas de terceiros e mobilizar
colecções, séries e fundos fotográficos posteriores a 1865 todos os instrumentos de valorização necessários à sal-
abrangidos pela previsão do n.o 1 ou do n.o 2 do presente vaguarda dos bens imateriais referidos no artigo ante-
artigo quando se verifique em relação a eles algum dos rior.
seguintes pressupostos: 2 — Constitui especial dever das autarquias locais
a) Sejam anteriores a 1881 e se encontrem a qual- promover e apoiar o conhecimento, a defesa e a valo-
quer título na posse do Estado; rização dos bens imateriais mais representativos das
b) Sejam anteriores a 1881 e deles não existam comunidades respectivas, incluindo os próprios das
exemplares em arquivos de titularidade pública; minorias étnicas que as integram.
c) Possuam mais de 100 anos e tenham pertencido
a instituição ou pessoa notáveis cuja actividade
ou obra possam ajudar a conhecer. TÍTULO IX
5 — Devem ser objecto de inventário os fundos foto- Das atribuições do Estado, Regiões Autónomas
gráficos abrangidos pela previsão do n.o 1 do presente e autarquias locais
artigo em relação aos quais se verifique algum dos
seguintes pressupostos:
Artigo 93.o
a) Se encontrem a qualquer título na posse do
Estado; Atribuições comuns, colaboração e auxílio interadministrativo
b) Venham a ser voluntariamente apresentados
pelos respectivos possuidores, se outro não for 1 — As Regiões Autónomas e os municípios com-
o motivo invocado para a respectiva inventa- participam com o Estado na tarefa fundamental de pro-
riação nos termos do regime geral de protecção teger e valorizar o património cultural do povo por-
dos bens culturais; tuguês, prosseguido por todos como atribuição comum,
c) Tenham pertencido a instituição ou pessoa notá- ainda que diferenciada nas respectivas concretizações
veis cuja actividade ou obra possam ajudar a e sem prejuízo da discriminação das competências dos
conhecer. órgãos de cada tipo de ente.
5826 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 209 — 8 de Setembro de 2001
2 — Sem prejuízo das reservas das atribuições e com- b) Autorização, exercício do direito de preferência
petências próprias, o Estado, as Regiões Autónomas ou outras decisões motivadas pela alienação de
e os municípios articularão entre si a adopção e execução bens culturais;
das providências necessárias à realização de fins esta- c) Emissão de parecer vinculativo, autorização ou
belecidos na presente lei e os respectivos órgãos asse- asseguramento de intervenções de conservação,
gurarão a prestação recíproca de auxílio entre os serviços restauro, alteração ou de qualquer outro tipo
e instituições deles dependentes no tocante à circulação sobre bens culturais ou nas respectivas zonas
de informação e à prática de actos materiais que requei- de protecção;
ram conhecimentos ou utensilagem especializados.
d) Reconhecimento do acesso de detentores de
3 — O Estado, as Regiões Autónomas e os municípios
constituirão fundos e estabelecerão regimes de compar- bens culturais aos benefícios decorrentes da
ticipação, de modo a enquadrar as intervenções de con- classificação ou inventariação.
servação, restauro, manutenção e valorização dos bens
culturais por eles classificados ou inventariados e, tanto 2 — Na ausência de normas específicas de distribui-
quanto possível, de bens culturais que, não obstante ção da competência no seio da pessoa colectiva pública
haverem sido objecto de um tal acto por parte de outra apurada nos termos do número anterior, o poder para
pessoa colectiva pública, se encontrem na respectiva praticar os actos ali referidos caberá, consoante os casos,
área de jurisdição. ao organismo da administração central ou regional cujo
escopo corresponda à natureza do bem ou, na sua falta,
Artigo 94.o ao governo central ou regional ou ao município.
Atribuições em matéria de classificação e inventariação
Artigo 104.o
o
Artigo 99. Contra-ordenações especialmente graves
Outros apoios
Constitui contra-ordenação punível com coima de
1 — O Governo promoverá o apoio financeiro ou a 500 000$ a 5 000 000$ e de 5 000 000$ a 100 000 000$,
possibilidade de recurso a formas especiais de crédito, conforme sejam praticados por pessoa singular ou
em condições favoráveis, a proprietários ou outros titu- colectiva:
lares de direitos reais de gozo sobre bens culturais clas- a) O deslocamento ou a demolição de imóveis clas-
sificados ou inventariados com a condição de os mesmos sificados, ou em vias de classificação, fora das
procederem a trabalhos de protecção, conservação e condições referidas nos artigos 48.o e 49.o;
valorização dos bens, de harmonia com as normas esta- b) A realização de obras que hajam sido previa-
belecidas sobre a matéria e sob a orientação dos serviços mente embargadas de harmonia com o disposto
competentes. no n.o 1 do artigo 47.o;
2 — Os benefícios financeiros referidos no número c) A exportação e a expedição de bens classifi-
anterior poderão ser subordinados a especiais condições cados, ou em vias de classificação, em violação
e garantias, em termos a fixar, caso a caso, pela admi- do disposto no artigo 65.o;
nistração competente. d) A violação do disposto no n.o 1 do artigo 64.o,
quando o agente retirar um benefício econó-
mico calculável superior a 20 000 000$.
TÍTULO XI
Da tutela penal e contra-ordenacional Artigo 105.o
Contra-ordenações graves
CAPÍTULO I Constitui contra-ordenação punível com coima de
Da tutela penal 350 000$ a 3 500 000$ e de 3 500 000$ a 20 000 000$,
conforme sejam praticadas por pessoa singular ou
Artigo 100.o colectiva:
Infracções criminais previstas no Código Penal a) A violação do disposto no n.o 3 do artigo 45.o,
no artigo 51.o e no n.o 6 do artigo 75.o, bem
Aos crimes praticados contra bens culturais apli- como do regime de apresentação de licença de
cam-se as disposições previstas no Código Penal, com exportação de bens culturais para fora do ter-
as especialidades constantes da presente lei. ritório aduaneiro da União Europeia, tal como
prescrito no artigo 2.o do Regulamento
Artigo 101.o n.o 3911/92/CEE, do Conselho, de 9 de Dezem-
bro;
Crime de deslocamento b) A violação do disposto no artigo 32.o, nos n.os 1
Quem proceder ao deslocamento de um bem imóvel e 2 do artigo 36.o, no artigo 57.o e no n.o 1
do artigo 64.o, fora dos casos previstos na alí-
classificado, ou em vias de classificação, fora das con-
nea d) do artigo 104.o, bem como a violação
dições referidas no artigo 48.o, é punido com pena de
do disposto no n.o 1 do artigo 78.o;
prisão até 3 anos ou com pena de multa até 360 dias.
c) A violação do dever de comunicação de impor-
tação ou de admissão, decorrente do disposto
Artigo 102.o no n.o 1 do artigo 68.o;
d) A violação do disposto no n.o 3 do artigo 45.o
Crime de exportação ilícita
e no artigo 51.o, bem como o deslocamento ou
1 — Quem proceder à exportação ou expedição de a demolição ilícita, a realização de obras pre-
um bem classificado como de interesse nacional, ou em viamente embargadas ou a exportação ou expe-
vias de classificação como tal, fora dos casos previstos dição de bens realizadas em desconformidade
nos n.os 2 ou 3 do artigo 65.o, é punido com pena de com o disposto nos n.os 1 e 5 do artigo 66.o,
prisão até 5 anos ou com pena de multa até 600 dias. quando, em qualquer dos casos, a violação res-
2 — Em caso de negligência, o agente é punido com peite a bens classificados como de interesse
pena de prisão até 1 ano ou com multa até 120 dias. público.
Artigo 106.o
Artigo 103.o Contra-ordenações simples
Crime de destruição de vestígios Constitui contra-ordenação punível com coima de
Quem, por inobservância de disposições legais ou 100 000$ a 500 000$ e de 500 000$ a 5 000 000$, con-
regulamentares ou providências limitativas decretadas forme sejam praticadas por pessoa singular ou colectiva:
em conformidade com a presente lei, destruir vestígios, a) A violação do disposto no artigo 32.o e nos n.os 1
bens ou outros indícios arqueológicos é punido com pena e 2 do artigo 36.o, quando a mesma respeite
de prisão até 3 anos ou com pena de multa até 360 a bens classificados como de interesse muni-
dias. cipal;
5828 DIÁRIO DA REPÚBLICA — I SÉRIE-A N.o 209 — 8 de Setembro de 2001
5 — O Governo fica obrigado a apresentar à Assem- O Regulamento (CE) n.o 1260/99, de 21 de Junho,
bleia da República, de três em três anos e com início que estabelece as disposições gerais sobre os fundos
em 2001, um relatório circunstanciado sobre o estado estruturais, veio prever na alínea c) do n.o 1 do artigo 20.o
do património cultural em Portugal. a criação da iniciativa comunitária no domínio do desen-
volvimento rural LEADER+, co-financiada comunita-
Artigo 114.o riamente pelo FEOGA — Secção Orientação.
Esta iniciativa em interligação e complementaridade
Normas revogatórias e inaplicabilidade com os restantes instrumentos de política contribui para
1 — Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, são a concretização do objectivo geral de desenvolvimento
revogadas as Leis n.os 2032, de 11 de Junho de 1949, sustentável dos territórios rurais, nas vertentes ambien-
e 13/85, de 6 de Julho, bem como todas as disposições tal, económica e social.
de leis gerais da República que contrariem o disposto Com o presente diploma pretende-se estabelecer o
na presente lei. quadro legal de referência da iniciativa comunitária de
2 — São revogados a alínea b) do n.o 1 do artigo 9.o desenvolvimento rural LEADER+, para o período de
e os artigos 21.o a 30.o do Decreto-Lei n.o 16/93, de 2000-2006, sem prejuízo das matérias já reguladas pelo
23 de Janeiro, bem como os artigos 6.o e 46.o-A deste Decreto-Lei n.o 54-A/2000, de 7 de Abril, que define,
mesmo diploma, na redacção que lhes foi dada pela nomeadamente, a estrutura orgânica responsável pela
Lei n.o 14/94, de 11 de Maio. gestão, acompanhamento, avaliação e controlo das inter-
3 — O disposto no Decreto n.o 14 881, de 13 de venções estruturais de iniciativa comunitária.
Janeiro de 1928, no Decreto-Lei n.o 48 547, de 27 de Foram ouvidos os órgãos de governo próprio das
Agosto de 1968, e no Decreto Regulamentar n.o 90/84, Regiões Autónomas.
de 26 de Dezembro, que de algum modo interfira com Assim:
bens imóveis classificados ou em vias de o ser, sejam Nos termos da alínea a) do n.o 1 do artigo 198.o da
eles monumentos, conjuntos ou sítios, fica para todos Constituição, o Governo decreta, para valer como lei
os efeitos condicionado à presente lei e à legislação geral da República, o seguinte:
específica existente.
4 — Mantém-se em vigor a Lei n.o 19/2000, de 10
de Agosto. Artigo 1.o
Artigo 115.o Âmbito
Entrada em vigor
O presente diploma estabelece as regras gerais de
1 — Em tudo o que não necessite de desenvolvimento, aplicação da intervenção estrutural de iniciativa comu-
esta lei entra em vigor 60 dias após a respectiva nitária de desenvolvimento rural LEADER+, adiante
publicação. abreviadamente designado por Programa LEADER+,
2 — As demais disposições entram em vigor com os para o período de 2000-2006.
respectivos diplomas de desenvolvimento ou com a legis-
lação de que se mostrem carecidas.
Artigo 2.o
Aprovada em 17 de Julho de 2001.
Objectivos
O Presidente da Assembleia da República, António
de Almeida Santos. O Programa LEADER+ visa incentivar a aplicação
de estratégias de desenvolvimento sustentável, originais,
Promulgada em 22 de Agosto de 2001. integradas e de qualidade, cujo objecto seja a experi-
mentação de novas formas de valorização do património
Publique-se. natural e cultural, o reforço do ambiente económico,
O Presidente da República, JORGE SAMPAIO. no sentido de contribuir para a criação de postos de
trabalho, e a melhoria da capacidade organizacional das
Referendada em 30 de Agosto de 2001. respectivas comunidades.
O Primeiro-Ministro, António Manuel de Oliveira
Guterres. Artigo 3.o
Vectores
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA,
O Programa LEADER+ desenvolve-se através dos
DO DESENVOLVIMENTO RURAL E DAS PESCAS seguintes vectores: