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CARACTERÍSTICAS E DIMENSIONAMENTO
D. C. Urashima
Departamento de Engenharia Cívil - ITA
D. M. Vidal
Departamento de Engenharia Cívil - ITA
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meio poroso, porém geralmente não se aplicam manta, apresentam características distintas,
ao dimensionamento de casos onde ocorra dependendo do material que lhes dá origem.
filtração em suspensão. Há dois tipos básicos de geotêxteis,
Urashima (1996) analisou o problema por ilustrados na Figura 1:
meio de uma nova abordagem, em que se tecidos, material oriundo do enlaçamento de
aplicam teorias probabilísticas, já então fios, filamentos, laminetes ou outros
apontadas internacionalmente como um componentes, não-tecidos: material composto
caminho promissor. Esta metodologia é por fibras ou filamentos, distribuídos
particularmente importante para aplicação em aleatoriamente em um plano, e interligados por
obras ambientais, pois é a única que permite processos mecânicos, térmicos e/ou químicos.
avaliar e fixar o nível de confiança de retenção
da partícula e, uma vez estabelecida a
espessura do filtro, pode-se verificar a
probabilidade de passagem de cada partícula
contida no intervalo granulométrico do
material a filtrar (Urashima e Vidal, 1998a).
Na situação de filtração em suspensão de
material granular a teoria probabilística
poderia ser diretamente empregada, visto que
trata-se de material inerte e portanto o
problema passa a ser puramente geométrico. Já
no caso de materiais finos (argilas) temos que
inserir na análise a existência da atração
elétrica, desta forma a teoria probabilística
para ser utilizada deveria ser adaptada, de (a)
modo a considerar a probabilidade de atração
das partículas do material a ser filtrado pelos
filamentos (fibras).
O trabalho ora proposto apresenta as
considerações que devem ser feitas no
dimensionamento de filtros sintéticos,
discutindo os mecanismos de filtração, as
propriedades relevantes dos geotêxteis,
critérios de dimensionamento e a possibilidade
de se avaliar o comportamento do filtro na
situação de filtração em suspensão por meio de
técnicas de simulação.
(b)
2. MATERIAL SINTÉTICO UTILIZADO Figura 1- Principais tipos de geotêxteis: (a)
PARA FILTRAÇÃO geotêxtil tecido, (b) geotêxtil não-tecido
agulhado.
Atualmente, existe uma grande variedade de
produtos a disposição do projetista que Os geotêxteis não-tecidos podem ter suas
pretende utilizar filtros sintéticos. Os fibras ou filamentos interligados por:
geotêxteis são produtos têxteis permeáveis, agulhagem (entrelaçamento mecânico das por
utilizados predominantemente na engenharia meio de agulhas dentadas); termoligação
geotécnica, principalmente como elemento (ligação através de fusão parcial por
filtrante. Os geotêxteis, além de se aquecimento) e resinagem (ligação por meio de
diferenciarem pelo modo como as fibras ou produtos químicos).
filamentos combinam-se para constituir a Os não-tecidos apresentam uma estrutura
mais complexa que os tecidos, compondo-se
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de forma tridimensional, possuindo um migração de partículas do meio base e o livre
parâmetro complementar: a espessura. escoamento do fluido através do filtro.
Partículas em suspensão
3. MECANISMOS DE FILTRAÇÃO
Material depositado
3.1 Introdução filtro
Um grande número de trabalhos discute o
mecanismo de filtração dos geotêxteis; entre
uma série de artigos clássicos podemos citar
Gourc et Faure (1990), Rollin e Lombard
(1988), Rollin et al (1989).
Fatores tais como a estrutura do geotêxtil, a
(a) retenção de partículas carredas pela chuva
estrutura do meio a filtrar e as condições de
ou produto de lavagem.
solicitação, influenciam o comportamento em
filtração (Vidal e Urashima, 1999). dreno
resíduo
Pode-se considerar dois tipos básicos de filtro
mecanismos de filtração através das mantas
têxteis, em função das diferentes condições em
que ocorram a interação solo-geotêxtil:
filtração em meio poroso e filtração de
partículas em suspensão. A Figura 2 ilustra
algumas das aplicações voltadas à proteção
ambiental. Como se pode observar temos casos
de filtração de um meio poroso, de filtração de
partículas em suspensão e problemas nos quais (b) filtração de resíduos industriais granulares.
inicialmente a filtração é de partículas em dreno
suspensão e a primeira fase de deposição filtro
sedimento
passa-se a uma situação de filtração de meio
poroso.
A filtração de resíduos ou rejeitos,
considera situações complexas, tais como:
filtração de partículas em suspensão, risco de
colmatação química ou biológica (em aterros
sanitários, por exemplo) e reações químicas
alterando as propriedades do material a reter. (c) lagoas de sedimentação.
Os sistemas de controle de erosão que se
relacionam à proteção de encostas também
podem apresentar situação de partículas em
suspensão, nos quais o dimensionamento do
filtro é de especial importância. Neste caso o
problema é mais complexo pois o fluxo pode
estar paralelo ao filtro ou atravessá-lo nos dois
sentidos, podendo-se ter ainda o efeito
dinâmico das ondas.
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A ação de um gradiente hidráulico provoca em contato e não existe nenhuma estrutura
um fluxo que pode carrear algumas partículas rígida organizada, é filtrado. Para a retenção da
através do meio poroso e eventualmente do maioria das partículas em suspensão, a manta
filtro, o que induz a um rearranjo destas deve ser colocada transversalmente ao fluxo.
partículas. A adequada interação meio poroso/ Tal mecanismo de filtração ocorre em
geotêxtil/meio drenante, dependerá das algumas aplicações, por exemplo, filtração de
condições de fluxo, sentido do fluxo (único ou água em estações de tratamento e filtração de
reverso) e do gradiente hidráulico. rejeitos. Estes tipos de filtros requerem troca
No caso de fluxo em sentido único e meio ou manutenção periódica durante a vida útil do
poroso bem graduado, o geotêxtil não será o sistema.
único responsável pela filtração, mas sim o A filtração de partículas em suspensão é um
elemento que desencadeará a formação de pré- problema crítico, pois, conforme pode-se
filtro. observar na Figura 4, devido a perda de carga
Quando se utiliza um geotêxtil não-tecido, que ocorre quando a partícula carreada
nesta condição de fluxo, como elemento encontra o filtro, ela tende a se depositar em
filtrante, a manta reterá as partículas, segundo sua superfície, o que ocorre mesmo para
uma seleção natural; ou seja, as primeiras partículas muito pequenas, bem menores que a
partículas finas atravessam a manta no início abertura de filtração do elemento filtrante.
do processo, porém gradualmente vai O comportamento de um sistema de
ocorrendo a formação do pré-filtro, que filtração de partículas em suspensão pode
acontece devido a dois mecanismos: formação variar de acordo com o tipo de material. No
reticulada em arco e formação reticulada em caso de solo granular, as partículas retidas
abóboda. A situação de pré-filtro é podem formar uma camada de material ainda
representada na Figura 3. permeável, em fenômeno equivalente ao
No caso de fluxo reverso, solos uniformes aumento da espessura do filtro; já para solo
ou de granulometria descontínua, freqüentes coesivo, o problema da colmatação passa a ter
em obras de proteção ambiental, fica difícil a enorme importância.
formação de um pré-filtro, tornando-se A colmatação ocorre quando as partículas
indispensável que o filtro tenha boa capacidade carreadas pelo fluxo são depositadas na
de retenção de partículas finas. interface do filtro ou movidas para o interior
do mesmo, constituindo desta forma uma zona
de menor permeabilidade do que na região de
fluxo livre anterior ao filtro. Ou seja, a
colmatação é provocada pelo depósito de uma
camada pouco permeável a montante do filtro,
esta camada é constituída por partículas finas
bloqueadas pelo filtro. A estimativa do tempo
de troca ou de retrolavagem destes sistemas
poderia ser feita utilizando-se técnicas de
simulação.
4. PROPRIEDADES
Figura 4- Comparação da perda de carga nos casos de filtração em meio poroso e filtração em
suspensão.
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caso a simulação definirá imediatamente se a como branco na imagem (poros) e, os menores
partícula passa ou fica retida. Em um não- como preto (filamentos), conforme Figura 7 e a
tecido, além do confronto de superfície, a partir desta faz-se a leitura dos pixels.
partícula enfrentará outros confrontos durante
a passagem através da espessura da manta.
Cada frente de confronto será representada
por um banco de dados que conterá um arquivo
de presença ou não de filamentos, realizado a
partir de uma imagem processada, conforme
descrito no item 4.3, escolhida aleatoriamente
dentro de um conjunto de imagens
representativas do geotêxtil em estudo.
No estudo da retenção de partículas em
filtros têxteis por meio de simulação, há
também a necessidade de se definir as
estatísticas de chegada de partículas, tanto para
o caso de meio poroso interagindo com o Figura 6- Imagem de um determinado geotêxtil
sistema filtrante, quanto em situações onde não-tecido ampliado 50 vezes.
ocorram partículas em suspensão. O material
de base será representado por uma distribuição
probabilística, e a escolha da distribuição a ser
utilizada dependerá dos dados existentes.
A simulação também deverá permitir a
consideração do tipo e intensidade de fluxo
existente no sistema, inclusive a situação de
refluxo.
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se avaliar qual o método de dimensionamento retenção do filtro, a variação da
que apresentará melhores resultados. permeabilidade do sistema filtro/material
Atualmente, existe um grande número de retido com o tempo, de modo que o projeto
critérios propostos para o dimensionamento de contemple a variação das perdas de carga
filtros têxteis, apresentando diferentes impostas pelo sistema ao longo de sua vida
considerações. Christopher e Fischer (1992), útil, permitindo o conhecimento dos períodos
discutem a diversidade dos critérios propostos, de troca ou de retrolavagem dos filtros.
baseados na relação:
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desing, International Conference on Filtres de filtros em geotêxteis não tecidos. II
and Filtration Phenomena in Geotechnical Simpósio Brasileiro sobre Aplicação de
Gourc, J P, Faure, Y H (1990) Soil particles, Geossintéticos, São Paulo, 26 a 28 junho,
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now controlled, IVth International Urashima, D.C., (1996) Dimensionamento de
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Balkema, Rotterdam, pp. 947-972. José dos Campos, Brazil.
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Koerner, R (1998) Designing with Brazil, pp. 303-307.
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Rollin, AL, Lafleur, J. Milynarek, J, Faure, Y, de teoria Probabilística ao dimensionamento
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Vidal, D., Urashima, D. (1999) Urashima, D., Vidal, D. e Bernardes, G. (1999)
Dimensionamento de Filtros e Drenos em Abertura de Filtração de Geotêxteis:
Geossintéticos, , 3º Simpósio Brasileiro de Determinação das Características do
Geossintéticos, Rio de Janeiro, 20-22 out. Produto e Critérios de Dimensionamento, 3º
Urashima, D. C, Vidal, D. (1995) Simpósio Brasileiro de Geossintéticos, Rio
Dimensionamento por Teoria Probabilística de Janeiro, 20-22 out.
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