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78 PANORAMA DA SEMIOTICA ‘A SEMIOTICA UNIVERSAL DE PEIRCE 9 ‘Segunda tricotomia no 6 qualquer existéncia particular e ainda no existéncia geral. Nesse momento, estamos ‘Baseada na categoria fundamental da secun ‘contemplando um icone (CP, 3.362). ‘Segunda tricotomia descreve os signos sob 0 ponto de vista ‘elagbes ete representa e objeto a 9 ‘ricotomia como “a diviséo mais importants dos signos” (CP, 2: Os trés elementos que a compiem sao determinados conforme: trés categorias fundamentais. Sa0 eles, 0 icone, 0 indice e o sin ‘Como tas fenimenos de iconicidade reduc & primi “seers ccorremna realidade semistca colina onde os signos |e parcipam sompre da prmeiidade —Peirce também defne ‘=i6Sie de um icone puro como sendo um caso de “degeneragdo ‘seca. Um icone puro seria, pois, um signo degenerado - no ‘sesentico de uma avaiacéo pejortiva ~ mas no sentido de estar sestto partcipar de apenas um constitunte do sign. Anés esses comentérios sobre a impossiblidade de uma ‘Genie pura, temos de chegarrealidade cottiana dos cones ‘see 20 signos genuinos. Em contraposigao ao icone puro, Perce ‘Seber se reforiu aos (cones que partcipam na secundidade @ ‘setereridade, denorrinando-os hipo-icones (CP, 2276). Umhipo- ‘Eee ¢ 04 um sin-signo icdnico ou um legi-signo icbnico. CO cfitério para dfs 6 0 da similaridade entre repre- ‘serra ¢ objeto, Peirce fla de um signo que é “semelhante® “sesseu cbjeto (CP, 3.962), mas também se refere a um signo que ‘perce vo caritr do objeto" (CP, 4.531) ¢, ainda, de um signo “eas catcades so semehantes as do jet eexctam sensagtes seesiogss na mente para a qual é uma semelhanca’. Os seus exem- ‘gs séo de retratos, pinturas (CP, 2.82), fotografias (CP, 2.280), spessioras, dlagramas, gréficos l6gloos (CP, 4418-420) 6 até Sew algtbricas, Muitos desses signos no so semelhantes aos seus ‘si, no sentido ordnéro da palavra. Porque, por exemplo, 2s ‘eres algébricas @ os ciagramas seriam icones? A chave da ‘eemicidade desses signos reside na nogdo das correspondéncles seecinais. Peis explca:‘mutos dagramas ndo se assemelham ‘= rose elgumaos seus objetos quanto. aparéncie;asemehanga "srt les consiste apenas da relapo entre suas partes" (CP, 2282) 0 ‘cone 0 icone patina da primeridade por ser “um signo ‘qualidade signfcante provém meramente da sua qualidede" (CP, 2.82), Conforms tal defni¢go,ofcane 6, ao mesmo tempo, um qi signo. Porém um qual-signoicénico —também denominado puro (CP, 2.276, 2.82) ~ que participa apenas da categoria primeiridade 6 6 uma possibildade hipatdtica da existncia de 'igno, pois osigno genuino participa necessariamente das catego da secundidade (qua objeto) # da tercsridade (qua intrpretant). Um icone puro seria, portato, um signo néo comunicdvel, Porque icone puro independent de qualquer fnaidade, serve ‘86 simpesmente como signo pelo fato de tera qualidade que o {az signifcar’. Assim entendido,o cone puro néo pode verdadel ramente exist; pode, no méximo, constituir ‘um fragmento de um signo mes completo". Um pequeno exemplo dado por Pere fomece «elementos para que possamos entender mehor como se d, num fendmeno semistico, a aproximagéo a0 icone puro: ‘Ao contemplar uma pintura, hd um memento em us perdemos a consciéncia do fato de que ola do 6 a coisa. A distingo do real e da cépia de- ‘saparece € por alguns momentos é puro sonho; Prem ee sta = 2 rz &0 PANORAMADA SEMIOTICA » 2°, fact A SEMIOTIOA UNIVERSAL DE PEIRCE at Prés e contras a iconicidade ‘mapens, diagramas © metéforas looniciade, como vimos, incl ‘simardade" entre abstratas © homologias astruturais. Muits ‘cones parti também, de outros modos de semiose: um signo ideogréficn, exempl, no és6 um signo por semelhanca, mas também Por arbitreriedade e conveno ~ portant, signo simbdlco, Peirce. Com essa interpretagéo mais ampla do signo ‘chegamas a um momento em que 6 preciso considera, ainda brevemente, 0s argumantos dos crioos do concetodesse tipo signo, Entre elas, Nelson Goodman @ Umberto Eco. oo (1976: 181-217) considera ingénua'ateorados ‘baseados na semethanga como objeto. Nainterpretagéodeleo ricismotem sua basenas convengdes cuturas 6" simlaidad diz respsito & relagdo entre imagem e objeto, mas entre i um conte previamente-compactuado pela cultura” (Eco, 1 204). Nelson Goodman (1972) no seuensaio Seven sticturas ons ‘ary, mantém posigéo ainda mais rdicl:na suainterpretagdo. latvsta, quase qualquerimagem pode signfcarquelqueroutra‘ Peirce mesmo antecipou tais argumentos icon quando explicou que iconicidade no 6 ume rlacdo de q realidade ontolégica entre dois fenémenos do mundo, mas, contréro,resuita de uma relagdo estebelecda no ponto de do intéprete do sign idnico: Na andlise das formas de iconicidade dos signos, Peirce -spieou novamente as tréscategorias fundamentals para dstinguir ‘eterocts de primeiridade com base nos fcones (CP, 2.277). Na ‘predate dos cones, sto, na consideragdo do representamen ‘ses pode haver, mals uma vez, prneirdade, secundidade & serenade. No primero caso, 0 representamen do icone & signo por ;quaidade @ tom o nome de imagem. Um exemplo 6 0 valor |SSeSeviagho da cor em uma pintura A arte minimalista deste ssicub inventou as pinturas monocromticas, um caso tipioo de ‘ss do tpo imagem. No segundo caso, o representamen é icone devido &s ssizoSes ciddicas existentes entre suas préprias partes, como ‘seontece num diagrama. A categoria, porém, no incl s6 os “Seq=res cos engenhsiros, mas qualquer cone cujasemelhanga see=rcenciadanas relagbes. Hé diagrams alé mesmona estutura ‘eter des frases; uma receita culinria 6 também um diagrama, sseecida am que @ soqléncia de fases instuindo o cozinelro ssarssponde & soqiéncia das apbes a serem executadas. Noteroeio caso, orepresentamen ésigno porque mantém ‘eects triddica na forma de paralelismo entre dois elementos ‘=sststvos paralalsmo que se resolve com uma teroerarelacdo. “Ge icone dessa categoria 6 a metéfora. Consideremos, como serobo, a metéfora ‘oho do cfu’, com a qual Shakespeare se seers 20 sol. Os trés elementos de sua composigdo séo, ‘sp=ctvamente, sentido teal do érgéo da percepeao, o sentido ‘mssirico do ‘so’ @o term comparations, o sentido comum & ‘so cos ds prmetros. Nessecas0, poderiamos anda relacond- ‘==com outros abuts, tas como o“tedondo”@ o “brihante’. (sts tpos de icone representantrés grausdeoonicidada ‘Seessscents 6, também, de dageneragao semidic Imagens so ‘mecietamente icdnicas, mas uma vez que signicam sem passar Quaisquer dois objtes na natureza se asseme- ‘ham e,defato,nsles mesros, tanto quanto quas- ‘quer outros dois cbjstos. sé com respeto aos ‘nossos sentdos ¢ necessidades que uma seme- ‘hanga conta mais que a outa, Semehanca éuma ‘dentitade de caractores.E isto é 0 mesmo que dizer que a mante retine as idéias semelhantes ‘numa s6 nagéo (CP, 1.385). 82 PANORAMA DA SEMIOTICA pela secundidade tercsridade so signos degenerados. ‘S40 ignos genuinos, mas por sereferirem indretamente ao ‘possuem menor grau de iconicidade. indices indice participa da categoria de secuncidade umm signo que estabelece relapbes didcicas entre ropes ‘objeto, Tas rlagbes tém,prncipalmenteo carter da cespacialidade e temporalidade. ‘Quantod causaldade, Peboe escreveu que toda forgal tua entre um pa de pariculas, deforma que qualquer uma ode servir de indice da out (CP, 2.200), Porlsso, 0 indie fisicamente conectado com seu objeto; famnam, ambos, um orpénico. Porém, & ments interpretativando tem nada a ver ‘essa conexao, axceto o fato de registré-la, depois de estabel (cP, 2298) — Enire os exemplos peiraanos de indice st800 uma fta métrica, uma fotografia, o ato debater & porta, um ingicador apontando numa diego e um gto de socoro. Indices também existe na linguagem. Nomes prd 6 pronomes pessoais so indices porque se reerem indi particulates, Outros pronomes, artigos @ preposig6es so! verbais porque estabelecem relagdes entre palavas dentro de text, ‘As caracteristcas do indice flcam mais patentes. comparamos esses signos aos signos ieGnicos e aos si Peirce fez tal comperegéo: indices podem dstinguir-se de outros signos ‘ou representapdesportré rapascaraceiscos: primeiro, no tém nenhuma semelhanca signif- cante com seus objtes; segun, referense a ‘A SEMIOTICA UNIVERSAL DE PEIRCE ‘ncividvais, unidades singulres,colepbessingue ‘ares de unidades oua continucs singulares;tr- cto, cirigem a atsngdo para os seus objetosata- vésde uma compulsdocega|..|Psicologiamente, «2 aro dos indices depende de uma associagao ‘por contigaidade e no de uma associagéo por semelhanga ou por operagées intelectuais (CP, 2306). CO simbolo 6 o signo da segunda tricotomia que partlpa “secsteporade terceridad. A relepo entre epresentamen objeto ‘#xbiréra e depende de convengtes socials. Sd0, portant, “Seeperss da tercirdads -como habit, aregra,alelea memoria ~gue se situam na relagdo entre representamen e objeto. Na de- SeicSopeiveana, ‘um simbolo é um signo que se refere ao objeto ‘pee éencta, em vitude de uma lei, normalmente uma associagso teins gorais"(CP, 2448). Cala simboloé,portanto e aomesmo ‘=rp0. um legisigno: "Todas as palavras, frases, vrs ¢ outros ‘Sips convencionals so simbolos' (CP, 2.292) Outros exemplos de simbolos so o estandarte, uma ‘=signe. uma senha, um eredo rlgioso, uma entrada de teatroou sm biete ou teléo qualquer (CP, 2.297). ‘© perspectivismo da classificapdo peirceana Neste ponto 6 preciso sublnher que atipologiaperceana sts signos nfo 6 uma classicagdoaristtélica no sentido de que sats sino pertence a uma sé classe dessa pologi. O que Petco mundo das cognigbas néo-verbals alargaram Oanheenen sre vérias formas de motivagdo no -arbiréia do signe ini No ‘quadro desses estudos, o papel da ionic aliases mals ¢ mals subinhado e as calegoras PerceanaS SEES tm sido um modelo fundamental. 0 {cone verbal e o seu objeto - Quaiss80 0s obstos aos ques um fone satan se referir? A primeira vista, a lingua falada~Com Sasesiratarstiner « acistica - parece pouco idénea para. ‘mutidimensional e multimedia. De fto, rolativamente babe, se considerarmos: representar 0 mundo por meio de imagens. dotermo. Na categoria de fcones que simples dos objetos, temos, em su onomatopéleas: mumirios, sussu, de palavras que particinam das qualidade objetos. ‘Na lingua escrita hd, além disso, ara a representagdo de estutuas 8 PANORAMA DA SEMIOTICA imagem, dervados da escrtura afabética,s80, por exemplo, as expressées decote em U, decoteem V, oucurva em, Porém, um maior potenial para criar imagens existe no terri das artes arias. Atemos mips possbiidedes de utizar letras pales de cares, cores ¢cisposi6es diferentes, de forma acrarcons- telagSes de corespondéncias com os cbetos do mundo. A poesia concreta tem exporado, de fomma mas sistema, esse potencal da lingua. (Os exempos de con dos até agora consttuem casos em que o epresentamen lingtistico possui, a na lingOlstica, como referéncia ex -semistica geral, trata-se de uma relacdo alo-referencial (p. 68). ‘Porém, uma fonte maior de iconicidade lingUistice esté nas estruturas _que nao se referem ao mundo extemno, mas ao mundo do préprio discurso. As referéncias aos segmentos precedentes ou conseqlen- ‘es no préprio discurso so denominadas referéncias endoféricas ‘ou auto-referenciais. Ioonicidade do tipo endoférico 6, dese modo, reteréncia icS- nica outros lugares de um mesmo texto, Tal referéncia éabase do principio da recorréncia da linguagem. Repetigbes, paralelsmos, Digresséo: iconicidade versus autonomia literéria Ainterpretagdo do principio da recorréncia como forma de ‘conicidade permite, em parte, reconciar duas teorias da iteratura {ue tradicionalmente foram considereds opostas: os principios a iconicidade 6 da autonomia iteréra ‘ASEMIOTICA APLICADA DE EXTRAGAQ PEIRCEANA 99 Ateoriacléssica da iconicidadeiteréria postulava uma "elapo de looncidade exoférica entre os signos do texto ferro ‘0 mundo representado nee. Piatéo usava o simile do espelho: Horéco, o simile da pintura (utpioturapolasis, “a poesia devia ser ‘como uma pintura”) pera ustrar suas teses de iconicidade iteréria® A somidtica do iuminismo (Lessing) seguu esse mesmo modelo 1a Sua estética iteréria(p. 50). ‘Umdos mais recentes proponentes de uma ieoriainica és teratura foi Jur Lotman 2 Na sua interpretagdo,Ieratura é um ‘sistema secundrio de modelizapdo" que efetua atransfommago e estrturas do signo em estruturas do conteddo. As estruturas sonoras da ate verbal so, portant, nterpretadas como um cone <éagramético de conotagbes (conteidos secundéos) que texto "evel paraalém dos conteddos do sauivel primero de sigicaro Emcontraponto 2 teorla da mimese Iteréria, desenvolveu- $82 teoria da autonomia semitica da ate verbal, cujos represen ‘entes mais eminentes foram Jakobson @ Mukarovsky. Em vez de semantizagdo, e882 eoria considera a auto-referencialidade como principio constituint da itereriedade, Na nterpretagao da post tradicional, arte verbal tal como a véem os aulonomistas ~n0 6 um espetho que reffte o mundo, mas uma limpada que produz luz por si mesma? Roland Barthes, outro proponente lustre da ‘ese autonomistautitzou simile mais modemo: para ele, aiteratura 6 um sistema semitico no qual ‘a matéria-prima do autor tem finalidade em si mesma’, de maneira que literatura , no fund, umaalvdede tutoégic,& manelradaquelas méquines cbemétioas construidas por simesmas'.** 22, Plat, Repdble X, 596; Horécio, Ars Pootica, 361. 22, Jur Lotman, The structure ofthe attic tex, Ann Arbor, Michigan Slave Contrbution, 1977, p21, 55,118 ‘24. C1.M.H. Abrams, The miorand the lamp, Oxford, Un. Press, 1953, 25, Roland Barthes, Creal essays, Evanston, Noth Westem Univ, Press, 1972, p. 144. 100 PANORAMA DA SEMIOTICA ‘Auto-referéncia ~ pelo principio estético de recorréncia verbal ~6, como vimos, uma forma de iconiidade endotérica. Apesar das dferengas entre os autonomistas e os conicistas na teoria da ‘eratura, vemos que as duas teorias tém em comum o principio dda iconiidade, na forma exotérica (para 0s iconicistas) ¢na forma endoférica (para os autonomistas). Formas da iconicidade diagramética na linguagem ‘Anteriormente haviamos conctuido que o potencial da linguagem para representar por melo de imagens — no sentido Peirceano ~ 6 mais ou menos rest. As dreas mais importantes dla conicidadelingistca sdo as representagbes ciagramaticas © metaféricas. Como 0 estudo das metéforas tem se desenvoWido certo dos estuds terésos ingstioes da etuaidade, podemos restringit o tema das estruturas diagramdticas a trés subdreas, a saber: 08 simbolos em estruturas diagraméticas, diagramas sintagmétios e diagrams paradigmatic. ‘Simbolos em estruturas diagraméticas Diagramas verbais séo icones fundamentados em elementos simbélioos. A natureza de tals estruturas fol expicada or Peirce com o exemplo da saguint formula algébrica: ax byy=m, x4 bay= me. Peirce dzia que esta férmula é um icone diagramatico Porque “faz parecerem semelhantes quantidades que mantém ‘elaoSes andlogas para com o problema. Em verdade, toda equagéo ‘algébrca é um icone, na medida em que mostra, por mio de signos [A SEMIOTICA APLICADA DE EXTRAGAO PEIRCEANA 101 algébricos (que em si mesmo nao séo icones), as relagbes das uantidades em causa” (CP, 2.282). Taisicones também existem em contextos no mateméticas nalingue eseita. A estruturatipagréfica de qualquer iro com sua subdlvisdo em capitulos e paragrafos e até em frases @ outros segmentos indicados pela pontuagdo e pelo espagamento constitu um diagrama das relagSes estrutuais do texto. Enquanto a lingua escrita pode ulilizar-se do esparo bidimensional do papel para representarrelagGes diagraméticas, © potencial diagramtco do discursofatado fica resto a relagSes lneares.Aineeridade da inguagem 6, porém, apenas uma de suas dimensdes estrturais; a outa é a estruura paradigmética, que 8 rafere &srelagdes dentro do sistema da inguagem. Conside- ‘remos, pois, algumas formas de diagramaticidade nessas duas cimensées do sistema lingOtstico. .gramas sintagméticos As estruturas diagramaticas que se desenvolvem na lnearidade da lingua reteren-se principalmente as relagbes tem- ora, espacialse concetuais.O protétipo de um dagraa temporal ¢ anarratvacdssioa:s@ a ordem das proposigbestexuaiscores- onde &ordem natura" dos eventos representados pelo texto, 0 resultado éum cone dagramdtico, Um exemplode dagrema espacial ¢adesorigo de um camino. Aordem de enunciacdo dos locals, no Bra “eleFax 011) 2128764 pnw anne corr Wiveieo NOTH PANORAMA DA SEMIOTICA DE PLATAO A PEIRCE

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