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16/08/2018 Relembre as guerras na antiga Iugoslávia nos anos 1990 | Superinteressante

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História

Relembre as guerras na antiga Iugoslávia nos anos


1990
Conheça detalhes do con ito que rede niu o mapa da Europa no m do século 20
Por Salus Loch
 4 nov 2016, 19h20 - Publicado em 25 maio 2015, 19h00

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Salus Loch (/)

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Após o m da Segunda Guerra Mundial, em 1945, a união de seis repúblicas (Sérvia, Eslovênia,
 Bósnia e Herzegovina, Montenegro e Macedônia), e de duas províncias autônomas
Croácia,  Assine
(Kosovo e Vojvodina), deu origem à República Federal Socialista da Iugoslávia. Instituída sob o
regime comunista, e governada com mão de ferro entre 1945 e 1980 pelo marechal Josip “Tito”
Broz, a Iugoslávia foi capaz de resistir por 35 anos às diferenças dos povos que a formavam.
Mas não foi para sempre. A morte de Tito, em 1980, e o enfraquecimento do sistema comunista
ao longo da década seguinte (culminando com a queda do muro de Berlim, em 1989), fez com
que os comunistas começassem a perder o controle do país. Com isso, divergências do
passado começaram a se agravar. O palco se tornou favorável para vários tipos de discursos, do
nacionalismo sérvio à crença de que era chegada a hora para eslovenos, croatas, bósnios e
kosovinos fundarem seu próprio país.

Os primeiros a agirem foram Eslovênia e Croácia, que em 25 de junho de 1991, via referendo,
declararam independência. A decisão desagradou o presidente sérvio Slobodan Milosevic. O
primeiro alvo de Milosevic foi a Eslovênia, numa guerra de “tiro curto” que durou 10 dias. Depois
de algumas bombas e ameaças, um acordo foi rmado pelo governo esloveno e a Iugoslávia.
Resolvida a questão da Eslovênia (que sempre foi mais “Ocidental” do que “Oriental”, e continha
pequena representatividade sérvia no país), o exército iugoslavo – sob o comando de Milosevic
– focou seus esforços na Croácia e, prontamente, invadiu o país com a ajuda das milícias
sérvias locais. Com o sangue respingando nas coberturas televisivas (mesmo que em doses
homeopáticas), ONU e Comunidade Europeia intervieram no con ito.

Seguindo os passos da Eslovênia e da Croácia, a Bósnia e Herzegovina foi a terceira república da


antiga Iugoslávia a declarar independência, em fevereiro de 1992 (também via referendo).
Contrários à decisão, os sérvios, que defendiam a permanência da Bósnia na Iugoslávia, deram
início aos confrontos na capital Sarajevo. Pelo país, integrantes de diferentes culturas e religiões
estavam se aniquilando. Começou um processo de limpeza étnica liderado pelos sérvios. Valia
tudo, desde massacres coletivos a estupros sistemáticos de mulheres bósnias, que, pela lei
vigente, tendo lhos de pais sérvios, dariam à luz a crianças “sérvias legítimas”.

Desde o m da guerra na Bósnia, em 1995, a tensão entre a província autônoma de Kosovo, de


maioria albanesa, e o que restou da Iugoslávia também começou a crescer. Em 1998, os
confrontos entre as forças de segurança sérvias e o Exército de Libertação de Kosovo (ELK) se
intensi caram. Na luta pela independência, separatistas de Kosovo chegaram a controlar parte
da província – quando tiveram sua autonomia ‘castrada’ por Milosevic, graças ao fechamento do
parlamento kosovino e a entrada em ‘campo’ das tropas sérvio/iugoslavas. A situação chegou
ao extremo em 1999, quando após uma tentativa fracassada de assinar um acordo de paz com
os sérvios, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) atacou a Iugoslávia em março
daquele ano – no centro de Belgrado, capital da Sérvia, até hoje prédios que foram alvo do
ataque restam intocados, e destruídos.

Em 2008 Kosovo conquistou, nalmente, sua independência. Porém, 13.500 pessoas foram
mortas no período, conforme levantamento do Humanitarian Law Center (HLC). Este episódio,

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ainda não bem resolvido, segue sendo um dos motivos que barram a entrada da Sérvia na

Comunidade Europeia.  Assine
Fruto desta série de episódios, a Iugoslávia deixou de existir, o cialmente, em 2003, dando lugar
a um ‘novo país’, chamado Sérvia e Montenegro. Em 2006, porém, as duas nações também se
separaram, após referendo, criando os hoje independentes países da Sérvia e de Montenegro. O
espólio da guerra, entretanto, cou com a Sérvia, por motivos óbvios. No total, nove
enfrentamentos armados foram registrados envolvendo as seis repúblicas da antiga Iugoslávia e
as duas unidades autônomas, num número aproximado de 140 mil mortos, outra centena de
milhares de desaparecidos e, pelo menos, 2,2 milhões de refugiados, entre 1991 e 2001.

Guerra na Croácia: Vukovar, símbolo de resistência

Entre 31 de março de 1991 e 12 de novembro de 1995, Croácia e Sérvia travaram, no território


croata, uma batalha que deixou mais de 23 mil mortos, e cicatrizes em ambos os povos. Para os
croatas, o episódio é chamado de “homeland war” (luta em defesa da terra e da
propriedade/casa). A versão sérvia da história trata o tema como uma das guerras civis que
resultaram no desmantelamento da antiga Iugoslávia.

A verdade é que, pelo caminho, restaram corpos de homens, mulheres, jovens e idosos. Estima-
se que até 40% das vítimas do con ito tenham sido civis. Mais de 700 mil pessoas tiveram que
deixar a Croácia, se refugiando em países vizinhos – dentre estes, mais de 250 mil sérvios que
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viviam na Croácia voltaram ao seu país de origem ou se abrigaram na vizinha Bósnia,



especialmente após a Operação “Storm” (Tempestade).  Assine

A guerra, que teve início paralelamente à declaração de independência da Croácia, colocou


frente a frente o exército croata (inicialmente constituído por apenas 1,5 mil homens), as milícias
rebeldes sérvias que viviam na Croácia (e eram contra a independência), e as forças do exército
iugoslavo (JNA), liderado pelo presidente sérvio, Slobodan Milosevic. O líder embasava seu
discurso intervencionista na necessidade de evitar que as minorias sérvias tivessem seus
direitos suprimidos, ao mesmo tempo em que buscava “manter a união” das repúblicas que
constituíam a Iugoslávia. Em outras palavras, para salvar os sérvios que moravam em outros
países, Milosevic estava disposto a tudo. Até invadir territórios e matar gente.

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Aproveitando-se da fragilidade inicial das forças de defesas do presidente croata Franjo Tudman,
os sérvios chegaram a ocupar um terço do território da Croácia – notadamente em áreas
habitadas pela população de origem sérvia. As forças leais a Tudman, no entanto, foram aos
poucos ganhando envergadura, até reconquistarem a totalidade de seu território. O governo
croata investiu cerca de 1 bilhão de dólares para equipar seu exército e formar novos
combatentes. Mas o prejuízo em infraestrutura e custos relacionados a refugiados foi bem
maior: 37 bilhões.

Entre os vários momentos da Guerra na Croácia, três episódios marcaram o con ito: a
destruição praticamente total da cidade patrimônio cultural da Unesco, Dubrovonik, no litoral sul
do país (dezembro de 1991); a Operação “Storm” (Tempestade) (agosto de 1995); e o cerco à
Vukovar.

Chamada de a “cidade dos heróis”, Vukovar é o símbolo da resistência croata e, ao mesmo


tempo, palco de um dos piores massacres do enfrentamento. Lá, cerca de 4 mil civis e militares
croatas defenderam a cidade dos ataques do exército iugoslavo/sérvio por três meses, entre
agosto e novembro de 1991. Do lado sérvio, havia 6,8 mil soldados e 15 tanques de armamento
pesado. Do lado croata, só a metade dos soldados improvisados tinha armas.

O resultado do embate, contudo, foi devastador: 1.739 pessoas morreram. A cada três vítimas
fatais, duas eram civis. Centenas de croatas foram encaminhados a campos de concentração na
Sérvia. Mais de duas mil pessoas caram feridas e 20 mil desalojadas. Apenas no dia 20 de
novembro de 1991, 260 pessoas foram retiradas do hospital de Vukovar e executadas pelos

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sérvios. Os corpos foram enterrados numa vala coletiva na localidade vizinha de Ocvara. As
 eram civis feridos, militares e o corpo médico do hospital da cidade, com
vítimas Assine
idades entre 16
e 72 anos. O local onde a vala coletiva foi descoberta é sede, hoje, de um memorial.

Atualmente, Vukovar tem 27 mil habitantes. E segue dividida. Há escolas especí cas para lhos
de croatas (que representam 60% população) e sérvios (35% dos moradores) e bares onde,
dependendo de sua origem, você não pode pisar.

Guerra na Bósnia e Herzegovnia: Cerco de Sarajevo e o túnel da esperança

A Guerra na Bósnia e Herzegovina durou três anos, oito meses e oito dias. Começou em 6 de
abril de 1992 (data em que o país foi admitido como membro da ONU) e só acabou em
dezembro de 1995. A independência da multiétnica república da Bósnia – então habitada por
bósnios muçulmanos (44%), sérvios ortodoxos (31%) e croatas católicos (17%) – havia sido
de nida por um referendo pouco tempo antes do início do con ito, em em 29 de fevereiro de
1992. Só que os sérvios não levaram a independência a sério e decidiram estabelecer, dentro da
Bósnia, sua própria República (Srpska). Estava lançada mais uma guerra no território da antiga
Iugoslávia.

O con ito deixou aproximadamente 100 mil mortos. Entre as vítimas, 40 mil civis. Cerca de 50
mil mulheres bósnias foram estupradas e 1,5 milhão de pessoas caram desabrigadas ou
refugiadas. Foi o primeiro caso de genocídio na Europa pós-Segunda Guerra Mundial. Campos
de concentração também se tornaram comuns.

Na linha de combate se enfrentaram os representantes de cada etnia da então República:


sérvios e bósnios de origem sérvia (representantes da República de Srpska, apoiados pelo
exército Iugoslavo (JNA), de Slobodan Milosevic), croatas e bósnios de origem croata, e bósnios
de origem muçulmana – grupo que registrou as maiores perdas.

O mundo acompanhou ao vivo os principais momentos do con ito. Especialmente, o cerco da


capital Sarajevo – o mais longo da história moderna, entre abril de 1992 e fevereiro de 1996
(cerca de dois meses após o m da própria Guerra na Bósnia). Sem água ou energia elétrica e
aprisionados em suas próprias casas, os moradores de Sarajevo estavam sendo dizimados
pelas forças sérvias, que se posicionaram ao longo das montanhas que circundam a capital. A
cobertura da imprensa fez com que a ONU tivesse que agir. Um acordo foi feito com as
lideranças sérvias para que o aeroporto de Sarajevo servisse de base para a chegada de
alimentos, roupas, cuidados de saúde e outros.

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Com a crianção da “zona livre de guerra”, representantes bósnios tiveram uma ideia: construir
um túnel debaixo da pista do aeroporto – o que permitiria o ingresso de mais comida e
utensílios que já não eram encontrados na cidade. O serviço foi executado por 133 pessoas,
entre militares e civis, e durou quatro meses e quatro dias, entre março e junho de 1993. Um dos
homens que trabalhou na construção do túnel, Abid Jasar, 58, falou com a equipe da SUPER.
“Tínhamos duas equipes cavando em lados opostos sob a pista do aeroporto. A ideia era nos
encontrarmos no meio do caminho abrindo, assim, o túnel para o transporte de mantimentos e
deslocamento de pessoas. Tivemos sucesso, e, certamente, a iniciativa garantiu a sobrevivência
da cidade, que estava completamente batida”, lembra o veterano que fez parte do exército
bósnio e hoje mantém uma loja de souvenirs ao lado do túnel. O lugar, inclusive, é um dos
principais pontos turísticos da cidade.

Mesmo duas décadas depois da Guerra, Sarajevo segue repartida e longe de ostentar o padrão
de vida europeu, ou de capitais próximas, como Belgrado e Zagreb. O cerco de Sarajevo deixou
cerca de 15 mil mortos (40% civis) e legou à Capital um impressionante número de cemitérios,
muitos estabelecidos em espaços que antes do con ito serviam como parques abertos ao
público.

Mostar: uma cidade, dois povos

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A “Ponte Velha” (Old Bridge) da cidade de Mostar é, talvez, o mais difundido e, certamente, um
dos mais belos pontos turísticos da Bósnia e Herzegovina. No entanto, poucos sabem que a
ponte, construída pelo Império Otomano no século XVI, foi destruída em 1993 durante a guerra
que cortou o País. Reinaugurada em 2004, ela segue representando a “divisão” entre os dois
lados da cidade, o ocidental (ocupado majoritariamente por croatas católicos) e o oriental
(habitado pelos bósnios muçulmanos). Conforme Sladja M., gerente de um restaurante
localizado ainda na “parte Ocidental”, é comum encontrar pessoas que até hoje não zeram a
travessia da ornamental Ponte Velha, justamente, por não saber o que poderiam encontrar “do
outro lado”. Sobre o período da guerra, ela ensina: “O melhor é esquecer”. Porém, nem todos
conseguem. E alguns simplesmente não querem.

TUDO SOBRE
EUROPA GUERRAS SÉCULO 20

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