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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO SUDOESTE DA BAHIA – UESB


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS – DFCH
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL / JORNALISMO

ANDERSON FERREIRA DE SOUZA

OS VALORES-NOTÍCIA NO TELEJORNALISMO CATÓLICO:


UMA ANÁLISE DE CONTEÚDO DO CN NOTÍCIAS DA TV CANÇÃO NOVA

Vitória da Conquista
2013
1

ANDERSON FERREIRA DE SOUZA

OS VALORES-NOTÍCIA NO TELEJORNALISMO CATÓLICO:


UMA ANÁLISE DE CONTEÚDO DO CN NOTÍCIAS DA TV CANÇÃO NOVA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso


de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo,
da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB),
como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel
em Comunicação Social.

Orientadora: Profa. Ms. Elica Luiza Paiva

Vitória da Conquista
2013
2

ANDERSON FERREIRA DE SOUZA

OS VALORES-NOTÍCIA NO TELEJORNALISMO CATÓLICO: UMA


ANÁLISE DE CONTEÚDO DO CN NOTÍCIAS DA TV CANÇÃO NOVA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para obtenção


do título de Bacharel em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo, pela
Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB).

DATA DE APROVAÇÃO
____/____/____

Profa. Ms. Elica Paiva – Professora Orientadora – Universidade Estadual do


Sudoeste da Bahia – UESB

__________________________________________

Prof. Ms. Dirceu Góes - Professor Convidado – Universidade Estadual do Sudoeste


da Bahia – UESB

___________________________________________

Prof. Fabrício Cabral Gama - Professor Convidado – Universidade Estadual do


Sudoeste da Bahia – UESB

___________________________________________
3

DEDICATÓRIA

Esta etapa não teria sido concluída sem a ajuda de meus pais, Tião e Cida,
e da minha família, aos quais dedico esta monografia pela fé e confiança que em
mim depositaram.
Aos amigos pelo apoio incondicional.
Aos professores pelo simples fato de estarem dispostos a me ensinar.
A minha orientadora, professora Elica Paiva, pela paciência no decorrer
deste trabalho.
E acima de tudo, a Deus, criador de todas as coisas, por me presentear com
mais esta conquista.
Enfim, dedico a todos que de alguma forma tornaram este caminho mais
fácil de ser percorrido.
4

AGRADECIMENTOS

Ao concluir esta importante etapa da minha vida não poderia deixar de


agradecer a pessoas especiais que muito colaboraram comigo neste processo.
A Deus, em primeiro lugar, que me iluminou durante esta jornada e me
inspirou a escrever este trabalho, palavras não bastam para expressar tão grande
sentimento.
Aos meus pais, Tião e Cida, a quem dedico mais esta conquista, minha
eterna gratidão por me apoiarem nesta caminhada que me rendeu inúmeros
ensinamentos e a felicidade de saber que escolhi a profissão certa.
Aos meus nove irmãos e demais familiares, meu carinho pela compreensão
dispensada nos momentos em que precisei. Vocês foram fundamentais nesta minha
formação.
A minha professora orientadora, Elica Paiva, agradeço as horas que tirou de
seu tempo para corrigir este trabalho e o seu incentivo que tornaram possível a
conclusão desta monografia.
Aos professores do curso, que foram essenciais neste processo, meu
reconhecimento por terem me ensinado os caminhos desta maravilhosa profissão,
jornalista.
Aos funcionários da UESB, com os quais também convivi todos os dias,
mesmo que tenha sido com um simples bom dia, agradeço por terem participado
desta minha trajetória.
Aos amigos e colegas de curso, meu muito obrigado pela cumplicidade,
ajuda e amizade; pelos momentos que vivemos nestes quatro anos; pelas
brincadeiras e risadas, e foram muitas risadas que demos juntos.
Concluo esta etapa com a certeza de que a história construída nestes anos
ficará marcada para sempre em minha memória e em meu coração.
5

“A necessidade de se pensar sobre critérios de


noticiabilidade surge diante da constatação prática de
que não há espaço nos veículos informativos para a
publicação ou veiculação da infinidade de acontecimentos
que ocorrem no dia-a-dia”. (Gislene Silva)
6

RESUMO

O presente estudo faz uma análise de conteúdo de dez edições do telejornal CN


Notícias com o objetivo de identificar os valores-notícia mais utilizados pelo noticiário
exibido pela TV Canção Nova, emissora ligada ao movimento Renovação
Carismática Católica (RCC). A pesquisa verifica ainda a linha editorial seguida pelo
jornalístico, bem como as fontes presentes nos formatos do gênero informativo que
o compõem. Por se tratar de um telejornal vinculado à Igreja Católica, este trabalho
observa também a orientação que é dada pela referida instituição aos meios de
comunicação católicos. Diante dessa análise, a pesquisa conclui que o noticiário
analisado apresenta-se como um porta-voz da Igreja e do seu líder, o Papa, se
comparado a telejornais veiculados por emissoras não católicas.

Palavras-chave: Telejornalismo. Telejornalismo Católico. Valores-notícia. Linha


Editorial. Fontes.
7

ABSTRACT

This study makes a content analysis of ten editions of the TV news CN Notíciascom
in order to identify the most often used news values by the TV Canção Nova news
show, which station is associated with Catholic Charismatic Renewal movement
(CCR). The research also investigates journalism editorial line and sources in its
information genre formats as well. In view of studying TV news linked to the Catholic
Church, this work analyzes the way this institution deals with the Catholic media.
Through this analysis, the research finds that the examined TV news is presented as
a spokesperson of the Church and her leader, the Pope, when it is compared to TV
news that appear on non-Catholic broadcasters.

Keywords: TV Journalism. Catholic TV Journalism. News Values. Editorial Line.


Sources.
8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 9
1. METODOLOGIA .................................................................................................... 12
2. TELEJORNALISMO NO BRASIL .......................................................................... 16
2.1 Breve panorama das emissoras de TV católicas do Brasil .............................. 21
2.1.1 TV Aparecida ............................................................................................. 21
2.1.2 Rede Vida .................................................................................................. 22
2.1.3 TV Século 21 ............................................................................................. 23
2.2 Comunidade Canção Nova .............................................................................. 24
2.3 Sistema Canção Nova de Comunicação .......................................................... 26
2.4 Telejornal CN Notícias ..................................................................................... 29
2.5 A Comunicação e os meios de comunicação na Igreja Católica ...................... 30
2.6 A orientação da Igreja para os meios de comunicação católicos ..................... 33
3. CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE: OS VALORES-NOTÍCIA ............................ 36
3.1 Gênero informativo ........................................................................................... 36
3.2 Os valores-notícia: cenários históricos............................................................. 39
3.3 O que são valores-notícia ................................................................................ 42
3.4 O processo de produção de um telejornal ....................................................... 48
4. ANÁLISE E DESCRIÇÃO DE RESULTADOS ...................................................... 52
4.1 A linha editorial do CN Notícias........................................................................ 52
4.2 As fontes no CN Notícias ................................................................................. 55
4.3 Os valores-notícia no CN Notícias ................................................................... 58
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 69
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 72
ANEXOS ................................................................................................................... 77
9

INTRODUÇÃO

A televisão, desde que foi criada em 1950, sempre se mostrou como um forte
instrumento de comunicação de massa, superando seus concorrentes. Na
contemporaneidade, marcada pela presença das novas tecnologias da comunicação
e da informação, o telejornalismo ainda é uma das modalidades do jornalismo mais
presente na vida das pessoas, haja vista os altos índices de audiência dos principais
telejornais brasileiros das grandes emissoras de TV aberta, sobretudo à noite. Os
noticiários televisivos ocupam um importante papel na construção da realidade
social e na formação da opinião pública. De acordo com o Instituto Brasileiro de
Opinião Pública e Estatística (IBOPE), o Jornal Nacional da TV Globo, por exemplo,
transmitido de segunda a sábado às 20h30, registrou uma média de 25,4 pontos de
audiência no mês de outubro deste ano na Grande São Paulo 1, o maior mercado
publicitário do Brasil. Cada ponto, segundo o IBOPE, equivale a 62 mil domicílios,
aproximadamente. Alguns fatores podem justificar a supremacia do telejornalismo
com relação às outras mídias, como o pouco interesse pela leitura de jornais e o
ainda restrito acesso à internet.
Afora a grande mídia, este trabalho monográfico investiga um telejornal
diferenciado, tanto na maneira como aborda os assuntos em pauta, quanto no seu
público-alvo. O programa em questão é o Canção Nova Notícias, principal
informativo da TV Canção Nova, uma emissora católica com sede em Cachoeira
Paulista (SP) e gerenciada pela Fundação João Paulo II. Presente em quase todo o
território brasileiro, a TV Canção Nova tem em torno de 55 milhões de espectadores,
segundo o site institucional2.
Apresentado pelos jornalistas Adelita Stoebel e Reinaldo César, o telejornal
é veiculado de segunda a sexta-feira, das 19h às 19h30. Com o slogan “a serviço da
vida e da esperança” o noticiário busca fazer um jornalismo comprometido com a
ética e com os valores cristãos, tais como a vida, o amor, a família, a solidariedade,
entre outros. Além da cobertura dos principais acontecimentos do dia, o jornalístico
traz a visão e o posicionamento da Igreja Católica em relação aos fatos que essa
instituição considera de interesse público. Grande parte das notícias e reportagens é

1
Disponível em http://www.ibope.com.br/pt-br/conhecimento/TabelasMidia/audienciadetvsp/Paginas/TOP-5-
S%C3%83O-PAULO-SEMANA-44.aspx . Acesso em 29 de novembro de 2013.
2
Disponível em www.cancaonova.com . Acesso em 21 de outubro de 2013.
10

relacionada à Igreja e ao seu líder religioso, o Papa. A escolha pelo CN Notícias


como objeto empírico deste estudo foi feita devido a sua ligação com o catolicismo e
ao fato de que, entre os demais telejornais católicos, o noticiário da TV Canção
Nova, numa visão particular, é o que apresenta a cobertura mais ampla e
abrangente, já que possui repórteres em diversas partes do país e é transmitido para
quase todo o território nacional.
A presente pesquisa teve como objetivo analisar quais valores-notícia são
mais comuns no CN Notícias, por meio de estudos produzidos por acadêmicos como
Mauro Wolf (1995), Nelson Traquina (2005) e Thaís Mendonça Jorge (2010).
Especificamente, o propósito era verificar qual a linha editorial seguida pelo
telejornal e identificar as fontes das matérias3, além de averiguar qual a
recomendação da Igreja para veículos de comunicação católicos. Para corroborar a
pesquisa, foram gravadas dez edições do programa para posterior observação,
exibidas no período de 14 a 18 e 21 a 25 de outubro de 2013. As edições exibidas
nesses dias foram escolhidas em razão de se tratar, presumivelmente, de um
período sem muitas alterações na produção do telejornal, isto é, sem grandes
acontecimentos já agendados, os quais poderiam interferir nos resultados da
pesquisa. Diante do questionamento de quais critérios de noticiabilidade estão mais
presentes no noticiário da TV Canção Nova, este estudo levantou duas hipóteses: o
telejornal adota como prioridade as notícias relacionadas à Igreja Católica e o seu
posicionamento sobre esses acontecimentos; o jornalístico dedica pouco espaço à
cobertura de notícias sobre violência e tragédias, exceto às notícias internacionais
que, geralmente, abordam esses assuntos.
O primeiro dos quatro capítulos que compõem a estrutura desta monografia
foi dedicado ao procedimento metodológico empregado nesta pesquisa, o qual
utilizou o método da análise de conteúdo para explicar as mensagens implícitas nos
conteúdos da mídia. Esse método foi usado para identificar os valores-notícia mais
utilizados pelo CN Notícias.
O surgimento do telejornalismo no Brasil e os telejornais que fizeram história
são abordados no segundo capítulo que também trata das quatro emissoras de TV
católicas brasileiras em rede nacional e dos seus principais noticiários. No mesmo
capítulo são discutidos o surgimento da Comunidade Canção Nova e o trabalho

3
“O conjunto de texto, sons e imagens que compõem a informação que será noticiada” (YORKE, 1998, p. 197).
11

desenvolvido pelo Sistema Canção Nova de Comunicação. Além disso, foi


observada a orientação da Igreja a respeito do uso dos meios de comunicação,
tendo como referência o documento Communio et Progressio (maio de 1971)
divulgado pela Santa Sé4 sobre os meios de comunicação social, além de
bibliografia especializada.
Já o terceiro capítulo trouxe a definição dos formatos do gênero informativo -
notícia, reportagem, entrevista e nota - que compõem a estrutura do telejornal
escolhido para análise. Em seguida, foram discutidos os valores-notícia na visão de
diferentes autores e como os mesmos eram vistos em diferentes cenários históricos,
além do processo de produção de um telejornal.
Por fim, o quarto capítulo abarcou a descrição e análise dos resultados
obtidos com a pesquisa, mediante a observação de dez edições gravadas do
noticiário da TV Canção Nova. Assim, foi possível verificar qual a linha editorial
seguida pelo telejornal e identificar as fontes das matérias do CN Notícias. Não
obstante, os valores-notícia identificados no período pesquisado foram descritos e
analisados com base na bibliografia utilizada neste trabalho, a fim de chegar a uma
conclusão a respeito daqueles mais comuns no telejornal analisado.
Pressupõe-se, portanto, que entender como os noticiários televisivos são
construídos é uma forma de contribuir para o aperfeiçoamento da prática jornalística,
por meio da produção de novos conhecimentos científicos, e, no caso específico
desta pesquisa, para entender por que alguns fatos são noticiáveis e outros não,
dentro de uma produção vinculada a um grupo religioso. Este estudo justificou-se
ainda por um interesse particular em conhecer mais a fundo o jornalismo feito para a
televisão, tendo em vista que essa área pode, futuramente, servir como profissão.
Espera-se que as discussões aqui produzidas possam estimular ainda mais a
produção acadêmica sobre o assunto, como forma de aumentar os subsídios para
outras pesquisas sobre esta área no Brasil, em particular, no que tange aos meios
de comunicação católicos ou religiosos.
A temática deste trabalho, com foco em um veículo de comunicação católico,
tem caráter inédito no curso de Comunicação Social da UESB. Daí a importância da
presente pesquisa para estudos posteriores, bem como para alunos e professores
servirem-se da mesma em outras ocasiões.

4
“É a jurisdição eclesiástica do Papa que forma o ‘governo central’ da Igreja”. Disponível em
http://discoverybrasil.uol.com.br/ratzinger/santa_se/index.shtml. Acesso em 28 de novembro de 2013.
12

CAPÍTULO I

1. METODOLOGIA

Este primeiro capítulo trata, especificamente, do procedimento metodológico


utilizado em tal trabalho monográfico, no qual a opção adotada foi a análise de
conteúdo como método de pesquisa para a realização deste estudo, que pretende
analisar os valores-notícia mais frequentes no telejornal CN Notícias. Sendo assim,
a base teórica para a compreensão da metodologia empregada nesta investigação
partiu da bibliografia de Bardin (2004), Herscovitz (2007), Franco (2008) e Fonseca
Júnior (2008). A análise de conteúdo, na concepção de Bardin, consiste “no conjunto
de técnicas de análise das comunicações” (2004, p. 27), sendo, portanto, no
entendimento da autora, susceptível de se submeter a esse método toda produção
escrita ou falada, com o propósito de conhecer aquilo que está por trás das palavras
sobre as quais se debruça.

O funcionamento e o objetivo da análise de conteúdo podem resumir-se da


seguinte maneira [...]: um conjunto de técnicas de análise das
comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objectivos
de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou
não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens. (BARDIN, 2004,
p. 37)

Num contexto histórico, segundo Franco (2008), a primeira tentativa de se


entender o significado de uma mensagem, por meio da análise de conteúdo, ocorreu
ainda no século XIX, quando houve a tentativa de explicar as metáforas e parábolas
contidas nos textos bíblicos. No entanto, de acordo com Krippendorff citado por
Fonseca Júnior (2008), esse método já vinha sendo utilizado desde o século XVIII,
para tentar identificar alguma prova de heresia nos hinos religiosos. Todavia, a
adoção regular dessa metodologia só veio a ocorrer no início do século XX, período
em que passou-se a servir os vários campos do conhecimento.
Na ótica de Franco (2008, p. 12), “o ponto de partida da análise de conteúdo
é a mensagem, seja ela verbal (oral ou escrita), gestual, silenciosa, figurativa,
documental ou diretamente provocada”. A autora ressalta a importância de se fazer
comparações nesse processo, já que a informação torna-se irrelevante quando se
presta apenas a descrever o conteúdo analisado.
13

A análise de conteúdo requer que as descobertas tenham relevância


teórica. Uma informação puramente descritiva não relacionada a outros
atributos ou às características do emissor é de pequeno valor. Um dado
sobre o conteúdo de uma mensagem deve, necessariamente, estar
relacionado, no mínimo, a outro dado. O liame entre este tipo de relação
deve ser representado por alguma outra forma de teoria. Assim, toda
análise de conteúdo implica comparações textuais. Os tipos de
comparações podem ser multivariados. Mas, devem, obrigatoriamente, ser
direcionados a partir da sensibilidade, da intencionalidade e da competência
teórica do pesquisador. (FRANCO, 2008, p. 16)

A análise de conteúdo permite reunir elementos quantitativos e qualitativos


em um mesmo trabalho. Juntos, contribuem para compreender “não somente o
significado de um texto, mas também o significado implícito, o contexto onde ocorre,
o meio de comunicação que o produz e o público ao qual é dirigido” (HERSCOVITZ,
2007, p. 126).
A análise quantitativa é utilizada, geralmente, quando se tem uma grande
quantidade de material para ser analisado, o que exigirá a adoção de procedimentos
estatísticos. Nesse caso, destaca Fonseca Júnior (2008, p. 293), “ganha-se
abrangência, mas perde-se em profundidade”. Por outro lado, a análise qualitativa é
realizada quando o objetivo é aprofundar o conteúdo das mensagens analisadas.

Na análise quantitativa, o que serve de informação é a frequência com que


surgem certas características de conteúdo. Na análise qualitativa é a
presença ou a ausência de uma dada característica de conteúdo ou de um
conjunto de características num determinado fragmento de mensagem que
é tomado em consideração. (BARDIN, 2004, p. 18)

Nos estudos sobre jornalismo, a análise de conteúdo começou a ser


empregada nos Estados Unidos, em 1927, pelo cientista político e teórico da
comunicação norte-americano Harold Lasswell. Aplicada ao jornalismo, esse método
“recolhe e analisa textos, sons, símbolos e imagens impressas, gravadas ou
veiculadas em forma eletrônica ou digital encontradas na mídia” (HERSCOVITZ,
2007, p. 126). Dessa forma, a utilização de tal método contribui para entender como
se dá a produção de notícias e a recepção de quem as consome, além de explicar a
lógica por trás das mensagens transmitidas por essas informações, os efeitos que
causam e a quem são dirigidas. De grande utilidade na pesquisa jornalística, a
análise de conteúdo pode servir ainda “para detectar tendências e modelos na
análise de critérios de noticiabilidade” (HERSCOVITZ, 2007, p. 123), a exemplo do
presente trabalho.
14

Para a realização desta monografia, o primeiro procedimento adotado,


depois de formulados os objetivos e levantadas as hipóteses, foi a pesquisa
bibliográfica de autores que são referência em estudos sobre jornalismo,
telejornalismo, valores-notícia e gênero informativo. Além disso, foram consultadas
obras que tratam da comunicação social na Igreja Católica, como também
documentos publicados pelo Vaticano que abordam o mesmo assunto. Vale
salientar que, neste trabalho, referir-se-á a Igreja Católica, por diversas vezes,
somente como Igreja.
Num segundo momento, para verificar quais valores-notícia são mais
utilizados pelo CN Notícias, serão gravadas dez edições do noticiário entre os dias
14 a 18 e 21 a 25 de outubro, deste ano de 2013. Assim, com o objetivo de permitir
uma diversidade maior de assuntos nos materiais gravados, foram escolhidas datas
em que, pressupostamente, as pautas do telejornal não serão influenciadas por
acontecimentos já agendados, que possam interferir no resultado da pesquisa. Outro
procedimento a ser utilizado como subsídio neste trabalho será a entrevista5 do
editor-chefe do telejornal analisado, Osvaldo Luiz, e do editor assistente, Raphael
Leal, cedidas ao programa Trocando Ideias, exibido pela TV Canção Nova em 24 de
setembro de 2013, com o tema “Jornalismo e Evangelização”.
É importante ressaltar que este material, do Trocando Ideias, será utilizado
nesta pesquisa porque ao entrar em contato por e-mail e por telefone com a TV
Canção Nova, a fim de tentar entrevistas com profissionais do jornalismo, a
assessora de imprensa da emissora, Evelin Gomes, e o editor-chefe do CN Notícias,
Osvaldo Luiz, responderam que não será possível colaborar com entrevistas, por
decisão da Fundação João Paulo II, que rege a TV.
Para fins de análise quantitativa e qualitativa, o terceiro momento será
constituído pela análise e interpretação dos dados obtidos pelas edições gravadas
do objeto empírico deste estudo, os quais serão relacionados aos conceitos dos
critérios de noticiabilidade, presentes no referencial teórico deste trabalho. Sendo
assim, a análise quantitativa foi adotada para que se possa identificar a frequência
com que determinado valor-notícia aparece no telejornal pesquisado. Por outro lado,
a análise qualitativa se ocupará em descrever o sentido que está por trás de cada
produto noticioso e as condições para que o mesmo seja noticiado, além de

5
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Fl0HxnvLhBQ . Acesso em 25 de outubro de 2013.
15

contribuir para identificar as fontes e a linha editorial que norteia o noticiário


estudado.
As unidades de registro que fazem parte do processo de codificação de
textos da análise de conteúdo, conforme Herscovitz (2007), facilitam a identificação
das fontes, da linha editorial e dos valores-notícia presentes no material jornalístico
do CN Notícias. “Estas unidades são definidas a partir do tema da pesquisa, das
teorias que informam o trabalho, de estudos anteriores e dos próprios textos a serem
analisados” (HERSCOVITZ, 2007, p. 133). Esta pesquisa deve utilizar das seguintes
unidades de registro: frase, a partir das cabeças6 lidas pelos apresentadores no
telejornal antes da exibição do material jornalístico, e texto inteiro das notícias,
reportagens, notas e entrevistas.
Por fim, acredita-se que o método da análise de conteúdo seja uma
possibilidade de alcançar os objetivos propostos para esta pesquisa e investigar a
partir das teorias jornalísticas dos valores-notícia as singularidades do telejornalismo
produzido e veiculado por uma emissora católica.

6
“É o texto pé de uma reportagem ou de uma nota lida pelo apresentador no estúdio, com ajuda do teleprompter”
(CURADO, 2002, p. 55).
16

CAPÍTULO II

2. TELEJORNALISMO NO BRASIL

Segundo Matos (2000), o telejornalismo brasileiro tem sua história contada a


partir de 20 de setembro de 1950, quando foi ao ar o primeiro telejornal da TV aberta
- Imagens do Dia -, exibido pela TV Tupi, canal 3, em São Paulo, a primeira
emissora de televisão do país. Dois dias antes dessa data histórica, os brasileiros
acompanharam, pela primeira vez, uma transmissão televisiva, por obra do então
magnata das comunicações Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Melo,
dono dos Diários e Emissoras Associados.
TV na Taba, com apresentação de Homero Silva, marcou a estreia do novo
veículo e, entre os convidados, contou com a participação de Lima Duarte e Hebe
Camargo. Já o Imagens do Dia, apresentado por Maurício Loureiro Gama, trazia, por
meio de imagens sem edição, os fatos que foram destaque durante o dia. O
telejornal, recorda Matos (2000), não tinha um horário definido para começar, nem
tampouco para terminar, por isso era utilizado todo o tempo que fosse necessário
para a transmissão dos fatos e imagens.

O telejornalismo foi, em seu início, uma variante do jornalismo impresso. Era


uma espécie de leitura televisionada de notícias da imprensa. Como no
cinema, o apresentador não passava de um narrador, uma voz de fundo,
ilustrando as imagens. Com a criação da linguagem própria da TV, advinda
do desenvolvimento técnico (reportagens, videoteipes, criação de vinhetas,
do cenário específico), particularmente a partir dos anos 60, o telejornal
ganha uma roupagem própria, transformando a simples leitura de notícias
num show televisivo. (MARCONDES FILHO, 2002, p. 79)

Conforme Temer (2012), assim que surgiu, a televisão, que seguia os


paradigmas de produção usados no rádio, era uma novidade acessível apenas para
a elite. O telejornal era transmitido ao vivo com a entonação típica do veículo sonoro.
Adaptado para a TV, o Repórter Esso, que fazia sucesso no rádio da época, entrou
para a história do telejornalismo brasileiro ao ser transmitido pela TV Tupi, a partir da
década de 1950, e trazia como diferencial a pontualidade e a credibilidade.
Apresentado por Kalil Filho em São Paulo, e por Gontijo Teodoro no Rio de Janeiro,
o Repórter Esso tinha também edições locais nas nove retransmissoras do grupo
ligado a Assis Chateaubriand. O modelo de programa veiculado em vários países,
17

conforme Bistane e Barcellar (2010), era patrocinado pela empresa norte-americana


de petróleo, a Esso. A versão brasileira era produzida através de material de
agências de notícias dos Estados Unidos, mas chegou ao fim na década de 1970.
Concorrente da TV Tupi, a TV Excelsior passa a investir em modelos
inovadores para o jornalismo no início dos anos 1960. A criação do Jornal de
Vanguarda, por exemplo, trouxe do jornal impresso produtores, redatores e cronistas
especializados. Na versão de Temer (2012), o noticiário inovou ao produzir um texto
mais enxuto e rico em conteúdo, o que contribuiu para se tornar uma referência no
telejornalismo nacional e internacional. O estilo de locução também sofreu
mudanças: a leitura tornou-se mais emocional e, eventualmente, com toques de
humor. Mas o novo projeto durou pouco. A péssima relação da TV Excelsior com o
Governo Militar causou o fim do Jornal de Vanguarda, que saiu do ar por iniciativa
de seus produtores em 1968, após a implantação do Ato Institucional nº 5 7.
A estreia do Jornal Nacional da TV Globo, em 1969, inaugura a transmissão
em rede. Temer (2012) afirma que o jornalístico foi o primeiro dos telejornais a ser
transmitido para todo o país. O início do Jornal Nacional ainda “coincide com o
crescimento da indústria de eletrônicos no Brasil e a implantação do crédito direto ao
consumidor, fator essencial para ampliar o número de telespectadores” (TEMER,
2012, p. 13). Na visão de Temer, a criação de um noticiário nacional registra o
começo “da construção de um novo país, se não real, pelo menos um país
imaginado e, depois de exposto pelos largos territórios nacionais, desejado e imitado
pelos brasileiros de todas as regiões” (2012, p. 10).
Nos anos 1970, de acordo com Coutinho (2003), os telejornais passam a
contar com a figura do apresentador, que encaminha as notícias para o
telespectador. O repórter de TV ganha maior destaque nesse período ao afirmar sua
presença no local dos fatos e convidar o telespectador para acompanhá-los, bem
como ser testemunha do acontecimento noticiado. Além disso, nessa mesma época,
pondera Bistane e Bacellar:

7
“O Ato Institucional nº 5, AL-5, baixado em 13 de dezembro de 1968, durante o governo do general Costa e
Silva, foi a expressão mais acabada da ditadura militar brasileira (1964-1985). Vigorou até dezembro de 1978 e
produziu um elenco de ações arbitrárias de efeitos duradouros. Definiu o momento mais duro do regime, dando
poder de exceção aos governantes para punir arbitrariamente entre os que fossem inimigos do regime ou como
tal considerados”. Disponível em: http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/AI5 . Acesso em 25 de
outubro de 2013.
18

As redes se consolidaram e o jornalismo passou a ocupar mais espaço nas


programações televisivas, com telejornais na hora do almoço e fim da noite.
As redes se expandiram com várias afiliadas, mas a produção se
concentrou no eixo Rio-São Paulo. (2010, p. 108)

Nos anos 1990, o telejornalismo começa a escrever uma nova história com o
acréscimo de análises e comentários dos âncoras nos telejornais. O modelo
importado dos noticiários norte-americanos foi inaugurado no Brasil pelo Sistema
Brasileiro de Televisão (SBT), com a estreia do Telejornal Brasil, apresentado por
Boris Casoy. O jornalista, que dividia a função de âncora com a de editor-chefe,
intercalava a leitura de notícias com os comentários. A nova forma de fazer
apresentação foi logo copiada por outras emissoras, como a TV Cultura e a Rede
Bandeirantes, acrescenta Bonner (2009).
Com o avançar dos tempos, o cenário televisivo tem passado por inúmeras
transformações. As emissoras investiram em equipamentos de última geração e na
contratação de profissionais qualificados para fazer jornalismo. Com isso, os
telejornais têm levado o acontecimento para o seu público-alvo de forma cada vez
mais rápida e com a qualidade exigida, seja em coberturas locais, estaduais,
nacionais ou internacionais. O telejornal, destaca Vizeu (2008, p. 7), tornou-se “a
grande praça pública do Brasil”, ao dar visibilidade “aos grandes temas nacionais,
convertendo o exercício da publicização dos fatos com a possibilidade prática da
democracia”. Coutinho, por sua vez, argumenta que ao assistir os noticiários o
telespectador “entra em contato com o mundo e ‘abastece’ seu repertório com
informações e notícias capazes de possibilitar sua inserção nas conversas
cotidianas [...]” (2003, p. 2).
Por conseguinte, a concorrência com os demais meios se alterou. Enquanto
que, ao longo dos anos, os jornais impressos foram diminuindo o número de
tiragem, a área de abrangência da televisão aumentou. Além disso, a TV está mais
presente nos lares brasileiros que o rádio. O uso da internet se comparado ao da
televisão também é menor. De acordo com dados do Censo 20108, divulgados pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os aparelhos de TV estão
presentes em 95,1% das residências, contra 81,4% dos rádios. O mesmo
levantamento aponta que a internet é utilizada por 30,7% das pessoas. Os jornais de
circulação diária são lidos por 46,1% da população, aponta a pesquisa "Hábitos de

8
Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/imprensa/ppts/
00000008473104122012315727483985.pdf . Acesso em 25 de outubro de 2013.
19

informação e formação de opinião da população brasileira”9, encomendada pela


Secretaria de Comunicação da Presidência da República (Secom), em 2010.
No entanto, os números acima referentes a televisão não correspondem à
audiência obtida pelos telejornais da TV aberta brasileira nos últimos anos. De
acordo com dados obtidos pelo programa Ooops!10, transmitido todas às terças-
feiras, pelo portal UOL, os principais telejornais da TV aberta apresentaram perdas
de IBOPE entre janeiro e agosto de 2013 em comparação com o mesmo período do
ano passado. O Jornal Nacional, da TV Globo, por exemplo, maior noticiário do país
em termos de audiência e cobertura, perdeu 12% de sua audiência. A pior queda foi
do RedeTV! News, da RedeTV!, com menos 41% no IBOPE. Segundo a pesquisa,
os dois principais jornalísticos da TV Record foram os únicos que cresceram, mesmo
que pouco, no período analisado: Jornal da Record (+2%) e Cidade Alerta (+6%).
Para Carvalho (2010) é cada vez menor o número de pessoas que têm os
telejornais como única fonte de informação. A razão para tal constatação, segundo o
autor, é que além dos veículos impressos e do rádio, hoje, há uma infinidade de
sites da rede mundial de computadores com o noticiário sendo atualizado de minuto
a minuto. “A informação está disponível para o telespectador, leitor ou ouvinte em
todo o lugar, no suporte que desejarem, na hora em que quiserem, tudo isso ao
mesmo tempo” (CARVALHO, 2010, p. 24). Todavia, no entender de Rezende, a TV
ainda “assume a condição de única via de acesso às notícias e ao entretenimento de
grande parcela da população” (2000, p. 23).
A influência da TV e sua soberania com relação aos outros veículos de
comunicação são explicadas por Luiz Costa Pereira Júnior (2002) em A vida com a
TV: o poder da televisão no cotidiano, o qual classifica a televisão como uma
mediadora das relações sociais e destaca o que a diferencia dos demais meios:

A TV foi a mais importante revolução virtual: tem as imagens que o rádio


não possui e é capaz de fixar hábitos na rotina das pessoas, ao contrário da
internet. Como a porta na caverna de Platão, a TV é o contato com o ideal,
com o inalcançável, com o indireto. Senta-se em família diante dela como
os primitivos se sentavam em redor da fogueira. O convívio humano direto
não foi abolido e não perdeu seu poder maior de consequência sobre a vida
de cada um. (2002, p. 13)

9
Disponível em: http://oglobo.globo.com/economia/jornais-sao-lidos-por-46-da-populacao-do-pais-2992341.
Acesso em 25 de outubro de 2013.
10
Disponível em: http://celebridades.uol.com.br/ooops/ultimas-noticias/2013/09/17/jornais-da-tv-tem-queda-
recorde-de-ibope-a-culpa-e-da-internet-opine.htm . Acesso em 25 de outubro de 2013.
20

Ademais, a televisão apresenta facilidades que dão comodidade ao


espectador que outros meios, com exceção do rádio, não têm. Segundo Pereira
Junior (2002), é característica da TV, por exemplo, não exigir mobilidade, a não ser
a utilização do controle remoto, nem alfabetização de quem a assiste. Entretanto, o
que para muitas pessoas pode ser o diferencial e fascinante, para outras é motivo de
crítica, pois veem a TV como um veículo alienante e hipnótico. A razão da existência
de tal crítica é, talvez, porque “a TV pauta nossas conversas, dita nossa hora de
dormir, a decoração de nossas casas, a qualidade do que comemos e sabemos”
(PEREIRA JUNIOR, 2002, p. 15), ou seja, exerce uma influência sobre as pessoas,
muitas vezes, não atribuída até mesmo à família ou a amigos mais próximos.
Conforme Barbeiro e Lima (2002), a TV predomina porque é o meio de maior
penetração na sociedade e entre as suas virtudes está a formação crítica do
telespectador para o exercício da cidadania. Mas, por outro lado, os autores
consideram que a televisão é um meio superficial que contribui para a
desinformação. Portanto, “quem quiser se aprofundar vai ter que recorrer a outras
mídias, talvez às impressas, para conhecer melhor o que a TV apresentou na forma
de petisco” (BARBEIRO e LIMA, 2002, p. 47). Na lógica da superficialidade, Pierre
Bourdieu atribui a TV “uma formidável censura” resultante do fato de que nela “o
assunto é imposto, as condições da comunicação são impostas e, sobretudo, a
limitação do tempo impõe ao discurso restrições tais que é pouco provável que
alguma coisa possa ser dita” (BOUDIEU, 1997, p. 19). A mesma linha de
pensamento percorre Marcondes Filho (2002), para o qual na TV cada minuto é
medido, avaliado e estudado; as notícias não podem ser longas e os entrevistados
não podem falar mais de uma frase, caso contrário, a fala tem de ser cortada.
Tendo visto até aqui os principais acontecimentos que, sob uma ótica
particular, foram os mais marcantes para o telejornalismo brasileiro e compreendido
os argumentos de diversos autores que se debruçaram em estudos sobre a
televisão, o próximo tópico traça um panorama das quatro principais emissoras de
TV católicas do Brasil, em razão de o CN Notícias, objeto empírico deste estudo, ser
um noticiário exibido por um canal de televisão ligado à Igreja Católica.
21

2.1 Breve panorama das emissoras de TV católicas do Brasil


Primeiro os jornais, depois o rádio, em seguida a televisão e, por último, a
internet. Esse foi o caminho natural da Igreja Católica a respeito do uso dos meios
de comunicação no Brasil. Depois de uma longa trajetória no rádio e nos jornais, os
católicos conquistaram espaço na TV a partir dos anos 1990, a fim de conter o
crescimento e a popularização das igrejas pentecostais que já ocupavam as
transmissões televisivas há algum tempo. Com mais de duas décadas no ar, “as
emissoras católicas dispõem de uma boa infraestrutura e empregam centenas de
profissionais, mas lutam para ampliar uma audiência estagnada em baixos índices”,
segundo reportagem11 da Folha de São Paulo.
Atualmente, a Igreja Católica conta com quatro emissoras de TV com
cobertura nacional, as quais têm suas sedes concentradas no Estado de São Paulo.
As informações a seguir foram retiradas dos sites dessas emissoras, a fim de traçar
um panorama sobre a comunicação católica no Brasil. Entretanto, a TV Canção
Nova, onde está alocado o objeto de estudo desta pesquisa, será apresentada após
exposição da Comunidade Canção Nova e do seu Sistema de Comunicação.

2.1.1 TV Aparecida
No ar desde 2005 e sob o comando da Congregação Redentorista, a TV
Aparecida, com sede em Aparecida do Norte (SP), tem como principal objetivo fazer
crescer a devoção a Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil. Além de
conteúdos religiosos como a missa e novenas, a emissora oferece uma
programação diversificada, nem sempre ligada à religiosidade, mas com um viés
educativo e cultural. Entre jornalísticos, esportivos, musicais, femininos, filmes e
desenhos infantis, a TV Aparecida conta, atualmente, com 40 programas em sua
grade.
Segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), a Rede
Aparecida se destaca entre as 14 maiores redes de televisão do Brasil. Seu sinal
está disponível para todas as antenas parabólicas digitais e analógicas. Em canal
aberto, opera em 19 estados, sendo 17 capitais e 239 municípios, o que
corresponde a uma população de 70 milhões de pessoas, segundo informações do

11
Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/poder/2013/04/1269912-com-boa-estrutura-tvs-catolicas-lutam-
por-maior-audiencia.shtml. Acesso em: 23 de outubro de 2013.
22

site institucional12. Nas TVs por assinatura, o sinal está disponível em muitas
cidades por cabo e via satélite.
No jornalismo, a TV Aparecida exibe de segunda a sexta-feira, às 19h, com
duração de 15 minutos, o telejornal TJ Aparecida, apresentado pelo jornalista
Eduardo Miranda, com informações, notícias e reportagens do Brasil e do mundo,
inclusive com destaque sobre o Papa e a Igreja. Durante a programação são
exibidos boletins diários. O departamento de jornalismo da emissora conta com sete
profissionais entre editores, repórteres e produtores, sem contar a parte técnica e
operacional.

2.1.2 Rede Vida


A Rede Vida que traz como slogan “Canal da Família” ou ainda “Canal da
Boa Notícia”, foi criada em 1º de maio de 1995 pelo Grupo Independente, presidido
pelo empresário João Monteiro Barros Filho. Canal comercial, a emissora tornou-se
voz da Igreja Católica através da relação com o Instituto Brasileiro de Comunicação
Cristã (INBRAC), entidade que a mantém, no entanto, a emissora não se diz
católica, mas cristã. A Rede Vida tem sua sede em São José do Rio Preto (SP), com
estúdios auxiliares em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Porto Alegre. De acordo
com Limeira (2006), esses estúdios são mantidos por dioceses locais e têm espaço
garantido na programação jornalística da emissora. Além disso, qualquer diocese ou
paróquia do Brasil pode produzir e enviar matérias jornalísticas para serem
veiculadas pelo canal, desde que mantenha uma antena retransmissora do sinal da
TV na cidade. A Rede Vida está presente em quase todo o território nacional através
de sinal aberto (VHF-UHF). As 325 retransmissoras fazem com que o sinal da
emissora chegue a todas as capitais de Estado e às 500 maiores cidades brasileiras,
segundo informações disponíveis no site da emissora13.
A programação jornalística da Rede Vida é ampla e diversificada. O JCTV,
principal telejornal da emissora, traz diariamente as notícias e acontecimentos da
Igreja no Brasil e no mundo, de segunda a sábado. O telejornal é exibido em três
edições, com exceção do sábado, quando vai ao ar em apenas um horário. Às 7h, é
apresentado por Luiz Carlos Fabrini, exibindo matérias extraídas de outros
telejornais, como o Edição Nacional e o Jornal da NBR veiculados por outras

12
Disponível em: http://www.a12.com/tv-aparecida . Acesso em 25 de outubro de 2013.
13
Disponível em: http://www.redevida.com.br/somos.asp . Acesso em 25 de outubro de 2013.
23

emissoras. Às 12h30, reedita matérias da edição das 18h30 do dia anterior, com
roteiro alterado, e é apresentado pela jornalista Luciana Martins. A edição das 18h30
é editada e apresentada por Andréa Bonatelli, ao vivo. Aos sábados, o JCTV vai ao
ar às 12h30, reproduzindo matérias transmitidas pela edição das 18h30 da sexta-
feira, porém com novo roteiro. As edições veiculam, basicamente, notícias referentes
a acontecimentos da Igreja Católica e contam com a inserção de matérias
produzidas e editadas em diversos estados, enviadas por jornalistas desde os
estúdios do Rio de Janeiro, de Brasília, de São Paulo e de Porto Alegre, bem como
por colaboradores das dioceses de todo o país. O telejornal é dividido em dois
blocos de, em média, 15 minutos cada, compostos por notas peladas, notas
cobertas, reportagens e comentários.
Além do JCTV, de segunda a sexta-feira, das 21h30 às 22h15, vai ao ar o
Jornal da Vida, com apresentação do jornalista Luiz Antônio Monteiro. O telejornal
traz, além das principais informações do dia, a análise, interpretação e comentários
de especialistas sobre diversos assuntos e as informações dos correspondentes da
emissora em diferentes estados do país.

2.1.3 TV Século 21
A TV Século 21, com sede em Valinhos (SP), foi fundada em julho de 1999
pelo padre Eduardo Douherty, que pertence à Ordem dos Jesuítas. A emissora é
mantida pela Associação do Senhor Jesus (ASJ), que conta com a ajuda financeira
de milhares de benfeitores de todas as regiões do Brasil. Fundada em 1979 na
cidade de Campinas (SP), a associação ligada à Igreja Católica, especificamente, ao
movimento da Renovação Carismática Católica (RCC), trabalha com a
evangelização através dos meios de comunicação. Com a TV Século 21, a ASJ
produz vídeos e programas com conteúdos cristãos que percorrem vários países e
são exibidos pela emissora, como forma de anunciar o Evangelho.
Por via Satélite, a TV Século 21 está presente em todo o país. Em sinal
aberto chega apenas à região de Campinas, interior de São Paulo, e dispõe de
alguns serviços de TV a cabo, de acordo com o site da emissora14.
Entre os vários programas da grade, a TV Século 21 exibe de segunda a
sexta-feira o telejornal Século News que vai ao ar às 11h40, com duração de 20

14
Disponível em: https://www.rs21.com.br/?page_id=349 . Acesso em 25 de outubro de 2013.
24

minutos. Apresentado pela jornalista Renata Moretto, o jornalístico aborda assuntos


ligados à Igreja Católica, mas também os principais acontecimentos em destaque
durante a manhã e a noite anterior, além dos quadros semanais “Minha Carreira” e
“Faça a Conta”.

2.2 Comunidade Canção Nova


A Canção Nova, comunidade de vida católica pioneira no Brasil e ligada à
RCC, trabalha com a “formação de homens novos para um mundo novo com base
no Evangelho” (ABIB, 2012, p. 39). Fundada em 2 de fevereiro de 1978 pelo padre
salesiano Jonas Abib, hoje com o título de monsenhor, a comunidade iniciada com
apenas 12 jovens tem, atualmente, espalhados pelo Brasil e pelo mundo, “pouco
mais de mil membros, entre sacerdotes, seminaristas, leigos, celibatários, casados,
solteiros, homens, mulheres, pais, mães e filhos de diferentes idades, profissões e
nacionalidades” (ABIB, 2012, p. 37).

Nascemos de um documento sobre a evangelização e de uma experiência


concreta de evangelização. O que fazíamos com aquele catecumenato era
uma forte evangelização. Nascemos para isso. Não só para fazer o que já
fazíamos – os encontros de jovens -, mas para ousadamente usar os meios
de comunicação, que ampliam até o infinito o campo da Palavra de Deus,
para que seja ouvida, e fazem com que a Boa Nova alcance milhões de
pessoas. [...] Nascemos da evangelização e existimos para a
evangelização. (ABIB, 2012, p. 35)

Desde que se ordenou sacerdote em 1964, Monsenhor Jonas Abib


organizou e conduziu retiros para jovens, com a finalidade de lhes proporcionar um
encontro pessoal com Jesus Cristo. Os encontros começaram em Lorena (SP) e
eram realizados em colégios e na faculdade onde o padre era professor. Com a
necessidade de um local com capacidade apropriada para o número de jovens que
era cada vez maior, os retiros passaram a acontecer, por durante dois anos (1975 a
1976), na Fazenda Morada do Sol, na cidade de Areias, interior paulista. As
dificuldades encontradas na fazenda - a água insuficiente, a falta de energia e o
difícil acesso -, levaram Monsenhor Jonas e seus companheiros de missão, como a
cofundadora da comunidade Luzia Santiago, a buscar um outro local. Por meio de
doações, a primeira casa de missão começou a ser construída em Queluz (SP) e
recebeu o nome de “Canção Nova, a Casa de Maria”.
25

Até então os responsáveis pelos retiros espirituais não viviam em


comunidade. Diante dessa necessidade suscitada por Cristo, segundo relatos do
próprio Monsenhor Jonas, o sacerdote lançou um desafio à juventude que o
acompanhava: “iniciar um catecumenato (catequese para jovens) interno, no qual os
jovens deixariam a família, o trabalho, o namoro e os estudos para se entregarem ao
Espírito Santo” (ABIB, 2012, p. 33). Doze deles aceitaram a proposta. Tempos
depois, de Queluz a missão mudou-se para Cachoeira Paulista, no Vale do Paraíba,
interior do Estado de São Paulo, município sede da Canção Nova, hoje. A cidade é a
maior e mais importante frente de missão da Comunidade, “o centro propulsor da
missão” (ABIB, 2012, p. 41). Com a mudança, em 1979, quatro casas foram
construídas no novo endereço em uma pequena faixa de terreno, num local onde,
mais tarde, receberia o nome de Chácara de Santa Cruz. Regularizada em 29 de
janeiro de 1987, o local contava, no início, com três terrenos, onde foram
construídos um Capelão de Sapê – que abrigava os encontros de oração - e um
prédio, que servia de residência para jovens e casais, além do escritório
administrativo, da capela e da rádio.
Os anos se passaram e a comunidade possui agora 372 mil m², após novas
aquisições de terras. O espaço hoje comporta o Centro de Evangelização Dom João
Hipólito de Moraes (para 70 mil pessoas, sendo o maior vão livre coberto da América
Latina); o Rincão do Meu Senhor (para quatro mil pessoas); o Auditório São Paulo
(para 700 pessoas); os prédios da Rádio e da TV Canção Nova; a Casa de Maria
(lugar para confissão e reza do terço); Pousada Sérgio Abib (para abrigar
participantes de eventos); capelas; área de intercessão; posto médico; escola; a
Faculdade Canção Nova; restaurante; padaria; refeitório; postos bancários; lojas de
artigos religiosos; área de camping e, no entorno, prédios administrativos e obras
sociais.
Toda essa estrutura é sustentada, além da venda dos produtos religiosos,
pelo chamado “Clube da Evangelização”, que recebe ajuda dos “Sócios
Evangelizadores” (como são chamadas as pessoas que contribuem com a
Comunidade) espalhados por todo o Brasil e em outros países. Os mais de 600 mil
sócios da Canção Nova contribuem, em média, com 15 reais por mês.
Além da sede da Comunidade, a Canção Nova atualmente possui 25 Casas
de Missão em todas as regiões brasileiras e no exterior. No Brasil, das 20 frentes,
sete delas estão no Estado de São Paulo e as demais em Sergipe, Rio de Janeiro,
26

Mato Grosso, Paraná, Ceará, Pernambuco, Bahia, Rio Grande do Norte e Tocantins,
além do Distrito Federal. As cinco Casas no exterior estão em Toulon (França),
Roma (Vaticano), Jerusalém (Israel), Fátima (Portugal) e Marietta (EUA).
Segundo o site institucional, a Comunidade Canção Nova busca restaurar a
dignidade da família, priorizando o trabalho de formação espiritual. Nesse intuito,
uma média de 18 acampamentos (encontros) é realizada por ano pela Comunidade
– sem contar os eventos como Kairós, que acontecem aos domingos, quando não
há acampamento; e a Quinta-feira de Adoração. O “Território Eucarístico”, como é
chamada a Canção Nova, recebe em torno de 550 mil peregrinos anualmente, de
acordo com números da própria Comunidade.

O objetivo fundamental de nossos encontros, e de tudo o que fazemos, é


proporcionar o encontro pessoal das pessoas com Jesus, para que, em
seguida, recebam a graça de seu Batismo no Espírito e passem pela
experiência do derramamento do Espírito Santo, pela experiência de serem
pessoas plenas do Espírito. (ABIB, 2010, p. 65)

O enfoque dado à Comunidade Canção Nova neste tópico deve-se a fato de


o objeto empírico desta pesquisa ser um produto dessa Comunidade, transmitido
pela TV Canção Nova. No próximo tópico, a discussão recai sobre o Sistema
Canção Nova de Comunicação que, além da TV, abrange outros meios com o
objetivo maior de transmitir a católicos e não católicos a doutrina cristã baseada no
Evangelho deixado por Jesus Cristo.

2.3 Sistema Canção Nova de Comunicação


Evangelizar mediante os meios de comunicação é o principal objetivo da
Comunidade Canção Nova, seja pela TV, rádio, internet, revista, ou por meio da
comercialização dos produtos do Departamento de Audiovisual (DAVI). O Sistema
Canção Nova de Comunicação é mantido pela Fundação João Paulo II - entidade
sem fins lucrativos, que tem como fonte de recursos financeiros as doações dos
associados ao “Clube de Evangelização”. O sistema abrange diferentes mídias:
Revista, Rádio (AM e FM), TV, Portal, WebTV e Mobile15.

15
“Tecnologia que permite a transmissão de músicas, fotos, imagens, vídeos e pregações pelo celular, palmtops
e iPod”. Disponível em http://comunidade.cancaonova.com/meios-de-comunicacao . Acesso em 24 de outubro
de 2013.
27

Nas palavras de Abib (2012), a Canção Nova foi gerada para os meios de
comunicação. Segundo o fundador da Comunidade, as palavras abaixo que
integram a Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi16, publicada pelo Papa Paulo IV
em 21 de dezembro de 1975, contribuíram como inspiração para a missão
evangelizadora desenvolvida pela Canção Nova, servindo-se desses mesmos
meios.

No nosso século tão marcado pelos “mass media” ou meios de


comunicação social, o primeiro anúncio, a catequese ou o aprofundamento
ulterior da fé, não podem deixar de se servir destes meios [...]. Postos a
serviço do Evangelho, tais meios são susceptíveis de ampliar, quase até o
infinito, o campo para poder ser ouvida a Palavra de Deus e fazer com que
a Boa Nova chegue a milhões de pessoas. A Igreja se sentiria culpável
diante do seu Senhor, se ela não lançasse mão desses meios potentes que
a inteligência humana torna a cada dia mais aperfeiçoados. É servindo-se
deles que ela ‘apregoa sobre os terraços’ a mensagem de que ela é
depositária. Neles encontra uma versão moderna e eficaz de púlpito.
Graças a ele consegue falar a multidões. (Evangelii Nuntiandi, 1975, p. 17)

Atualmente, a Canção Nova produz e comercializa artigos religiosos, como


livros (mais de 1.270 títulos), CDs e DVDs (445 títulos), além de contar com uma
central de atendimento telefônico, o Call Center – que recebe, em média, 120 mil
chamadas mensais, segundo o site da Comunidade. O DAVI conta com uma
estrutura multicanal de comercialização com iniciativas no varejo, atacado, porta a
porta, catálogo e e-commerce.
Sem programação comercial, a Rádio Canção Nova, no ar desde 1980
através das faixas AM, FM, SW1, SW2, busca promover a dignidade humana e os
valores universais cristãos, veiculando informações de utilidade pública a católicos e
não católicos, além de formação espiritual mediante uma programação dinâmica e
variada, de acordo informações disponíveis no site da Comunidade. Como rede, a
Rádio Canção Nova existe desde 1995 – quando começou a operar via satélite -, e
conta atualmente com 28 emissoras, atingindo grande parte do território brasileiro,
por meio das ondas curtas, médias e tropicais, além da parabólica e internet. A
geradora de toda a programação da emissora localiza-se em Cachoeira Paulista
(SP) e tem filiais em Gravatá (PE), Vitória da Conquista (BA), Vacaria (RS), Bauru
(SP), Palmas (TO), São José dos Campos (SP), Curitiba (PR), Nova Esperança
(PR), Paulínia (SP), Campos dos Goytacazes (RJ), São José do Rio Preto (SP),

16
Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/paul_vi/apost_exhortations/documents/hf_p-
vi_exh_19751208_evangelii-nuntiandi_po.html . Acesso em 25 de outubro de 2013.
28

Cuiabá (MT), Natal (RN), Itabuna (BA), São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ).
Atualmente, de acordo com o site da Comunidade, na América Latina, a
programação é ouvida no Paraguai, México, Honduras, El Salvador, Guatemala e
Nicarágua.
Sabendo do grande crescimento da internet e do seu potencial junto ao
público, a Canção Nova também tem se utilizado desse meio para a evangelização,
por isso investe no conceito de Web 2.0, desde 1995, que permite ao usuário montar
sua própria programação na internet. Entre essas inovações estão o portal, webtv,
blogs, TV na web, secondlife e comunidade.cn. Ainda em fase de testes tem-se o
mobile, ensino à distância, wiki, podcast, web rádio e fórum. O Portal Canção Nova,
www.cancaonova.com, conta atualmente, em média, com 11 milhões de acessos
mensais, segundo o próprio portal.
A Revista Canção Nova é produzida como um instrumento a mais de
evangelização. Por meio dela, a Comunidade informa aos associados sobre os
acontecimentos da Igreja Católica, eventos, formação, atualidades e outros
assuntos. Toda pessoa que se torna um benfeitor da Canção Nova recebe a revista,
mensalmente, em casa.
O CN Notícias, objeto sobre o qual se debruça esta pesquisa, está alocado
na TV Canção Nova, que também integra o Sistema Canção Nova de Comunicação.
Inaugurada em 8 de dezembro de 1989, a TV conta, hoje, com uma audiência em
torno de 55 milhões de espectadores, conforme o site da Comunidade. A grade de
programação não tem vínculo com anunciantes, mas é possível constatar que a
mesma é uma porta-voz da Igreja Católica, uma vez que os programas são
direcionados pelos valores e princípios cristãos católicos, bem diferente dos demais
meios de comunicação. O conteúdo é voltado para a espiritualidade, jornalismo,
programas infantis, eventos, entrevistas, debates, música, entretenimento, cultura e
programas promocionais de produtos da própria Comunidade. A TV Canção Nova
possui em sua sede cinco estúdios e três espaços para eventos que servem de
cenários para os programas, além de três unidades móveis de geração e produção
via satélite.
Hoje, a emissora conta com 436 retransmissoras espalhas pelo Brasil e
cinco geradoras, as quais estão localizadas nas cidades de Belo Horizonte (MG),
Aracaju (SE), Cachoeira Paulista (SP), São José dos Pinhais (PR) e Florianópolis
(SC). Além das retransmissoras, a TV possui também cobertura em todo o país pela
29

parabólica e cerca de 200 operadoras de televisão por assinatura, através da Tecsat


e Sky Brasil. Sua programação ainda pode ser vista em toda América do Norte e
Sul, Europa, Norte da África, Médio Oriente, Egito, Austrália e Nova Zelândia. Com a
formação da Rede Canção Nova de Televisão, em 1997, a TV tornou-se a maior
emissora de televisão católica do Brasil, segundo a própria Comunidade.

2.4 Telejornal CN Notícias


Como exposto anteriormente, o objetivo deste trabalho monográfico é
analisar o CN Notícias na intenção de detectar os valores-notícia mais comuns nos
formatos do gênero informativo apresentados pelo noticiário. Exibido pela TV
Canção Nova de segunda a sexta-feira, o telejornal pode ser acompanhado em todo
o território nacional por TV aberta e operadoras de TV a cabo. Considerado o
principal programa de notícias da emissora, o noticiário é apresentado pelos
jornalistas Reinaldo César e Adelita Stoebel, das 19h às 19h30, e dividido em três
blocos de notícias, separados por intervalos sem comerciais externos, com exibição
apenas da propaganda dos produtos religiosos comercializados pela Comunidade.
A produção de jornalismo da TV Canção Nova é dividida em oito praças, isto
é, cidades em que a emissora possui equipes de reportagem: São Paulo (SP), Belo
Horizonte (MG), Aracaju (SE), Curitiba (PR), Rio de Janeiro (RJ), Brasília (DF),
Roma (Itália) e Jerusalém (Israel). A redação fica na sede da Comunidade Canção
Nova em Cachoeira Paulista, num prédio onde ficam alguns estúdios de programas
da TV.
A estrutura do telejornal é composta por um editor-chefe, um editor
executivo, um editor assistente, um pauteiro, 15 repórteres, aproximadamente, e 18
produtores, dos quais oito fazem parte da equipe de Cachoeira Paulista, sendo três
responsáveis pela editoria de internacional. Os outros dez produtores estão
espalhados pelas cidades onde a TV Canção Nova tem equipe de reportagem. É
importante ressaltar que em muitas dessas praças o jornalista se divide entre as
funções de produtor e repórter. Além disso, há ainda os funcionários da parte técnica
e operacional, de acordo com informações dos créditos do final do telejornal.
A maior parte das notícias e reportagens é produzida na região do Vale do
Paraíba, interior de São Paulo, em cidades como Cachoeira Paulista, Guaratinguetá,
São José dos Campos e Aparecida do Norte, por estarem situadas próximas à sede
da emissora e por concentrar, nessa região, o maior número de repórteres da TV.
30

As informações e imagens de notícias internacionais exibidas pelo CN


Notícias, com exceção de Roma e Jerusalém, são produzidas pela agência de
notícias europeia Reuters, devido à ausência de correspondentes da emissora na
maior parte do mundo. No Brasil, algumas notícias também são oriundas da mesma
agência, por falta de equipes de reportagens em diversas cidades brasileiras ou por
dificuldades de deslocamento das equipes próximas.
Segundo o editor-chefe do CN Notícias, Osvaldo Luiz, em entrevista17 ao
programa Trocando Ideias, exibido pela TV Canção Nova em 24 de setembro de
2013, com o tema “Jornalismo e Evangelização”, o telejornal começa a ser
produzido logo no início da manhã, quando as várias praças onde existem equipes
de reportagem já estão trabalhando nas matérias que serão exibidas na edição do
dia. No entanto, a reunião de pauta acontece às 14h, com participação, em média,
de sete pessoas, as quais vão reunir o que as equipes estão elaborando e discutir
outros assuntos do dia que poderão ganhar destaque no noticiário por meio de uma
nota pelada ou de nota coberta, termos que serão discutidos no próximo capítulo.
Além da cobertura dos principais acontecimentos do dia, o jornalístico traz
uma visão diferente dos fatos se comparado à mídia não católica, uma vez que o
objetivo é informar priorizando os valores cristãos e expondo o posicionamento da
Igreja em relação aos acontecimentos de interesse público. A discussão sobre o
telejornalismo produzido por emissoras como a TV Canção Nova é destrinchada nos
dois próximos tópicos deste capítulo.

2.5 A Comunicação e os meios de comunicação na Igreja Católica


Segundo Zolin, “comunicar-se é constitutivo do ser humano. Faz parte de
sua essência, de tal forma que é possível dizer que o homem não apenas comunica-
se, mas ele próprio é comunicação” (2010, p. 17). Ainda, de acordo com a mesma
autora, a comunicação é um processo social básico, que possibilita a vida em
sociedade, já que as pessoas têm necessidades de estarem em relação umas com
as outras. A Igreja Católica, durante sua história milenar, tem entendido muito bem
isso. Desde sua fundação, há mais de dois mil anos, tem se utilizado dos meios de
comunicação para disseminar sua mensagem e conquistar ainda mais seguidores.

17
Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Fl0HxnvLhBQ . Acesso em 25 de outubro de 2013.
31

Coerente com o princípio de utilizar todos os meios ao seu alcance para a


transmissão de sua mensagem, desde os primórdios a comunidade cristã
tem-se adaptado às condições da época, utilizando os melhores dispositivos
para anunciar o Reino de Deus. (FURTADO, 1999, p. 15)

Conforme Zolin (2010), o interesse da Igreja pelos meios de comunicação


não é recente. “Na realidade, trata-se de um tema que ocupa o pensamento eclesial
há muito tempo. Antes mesmo do surgimento de teorias da comunicação, a Igreja
chamava a atenção sobre a influência dos meios na vida das pessoas” (2010, p. 14).
Na idade Média, quando as notícias eram controladas pela Igreja e pelo Estado, “as
informações disponíveis para a população vinham embutidas em decretos,
proclamações, exortações e nos sermões das igrejas” (LAGE, 1999, p. 8).
No período em que só existia a imprensa escrita, o catolicismo chegou a
dominar a mídia impressa. “A tradição da Igreja Católica com relação ao uso dos
meios de comunicação é muito grande, remontando-se à imprensa escrita”
(GOMES, 2002, p. 355). Hoje, com a presença de diferentes meios, como o rádio, a
televisão e, mais recentemente, a internet, a realidade já não é a mesma. No
entanto, a Igreja ainda exerce uma forte influência sobre a mídia, além de ter a seu
favor um grande número de veículos católicos espalhados por todo o mundo, sejam
emissoras de rádio e TV, revistas, jornais impressos e portais da internet.

Desde o aparecimento do rádio, na década de 20, ela [Igreja] vem lutando


para dimensionar corretamente a sua relação com a mídia eletrônica. Se, de
uma maneira geral, a técnica da mídia impressa foi por ela dominada, o
mesmo não se pode dizer no que se refere à eletrônica, notadamente, o
rádio e a televisão. (GOMES, 2002, p. 355)

Para Gomes, o interesse e aproveitamento por parte das igrejas, em


particular da Igreja Católica, pela mídia eletrônica, desde o seu desenvolvimento no
final do século XIX e início do século XX, deve-se a finalidades pastorais, isto é, para
propagar os ensinamentos da doutrina cristã, assim como pode ser verificado no CN
Notícias, objeto de análise deste estudo.
Em Comunicação social na Igreja: documentos fundamentais (2003), Noemi
Dariva partilha do mesmo pensamento que Gomes. Segundo a autora, a
necessidade e obrigação de evangelizar, comunicar e proclamar a “Boa Notícia”
deixada por Jesus Cristo, fez com que a Igreja, ao longo dos anos, tentasse se
adaptar aos meios que surgiram em cada tempo histórico para cumprir com o
propósito de evangelizar.
32

A evangelização é parte constitutiva da missão da Igreja, enviada por Cristo


ao mundo para pregar o evangelho a toda criatura (cf. Mc 16,15). A Igreja
cumpre esta tarefa especialmente na vida litúrgica, mas esforça-se para
cumpri-la também por todos os caminhos e por todos os meios dos quais
pode usufruir em sua permanência entre os homens de cada continente.
(DARIVA, 2003, p. 315)

Entretanto, a posição da Igreja sobre a comunicação social, de acordo com


Gomes (2002), sofreu profundas modificações através dos tempos. Ao longo da
história, as manifestações eclesiais sempre estiveram ligadas a uma preocupação
pastoral que, muito embora tenha se manifestado desde os primórdios da imprensa,
tornou-se mais aguda com o desenvolvimento dos meios eletrônicos.
De acordo com Joana Puntel (2003), ao falar da relação Igreja e
comunicação, quatro fases podem ser definidas para explicar essa ligação. Na
primeira fase dá-se um confronto da instituição eclesial com os meios de
comunicação. O período definido pela autora como extenso e intenso, que se inicia
com a imprensa no século XV, é caracterizado por um comportamento da Igreja
orientado para o exercício da censura e da repressão, pela Inquisição18. Nesta fase,
a Igreja é a intermediária entre a produção do saber não somente o teológico e a
sua difusão na sociedade.
Na segunda fase, segundo Puntel (2003), a Igreja começa a aceitar os
novos meios, mas de forma desconfiada. Caracteriza-se pelo exercício do controle
da Igreja sobre a imprensa, com vigilância sobre o cinema e o rádio. Com a rápida
transformação da sociedade, no entanto, a Igreja é impelida a adaptar-se aos novos
tempos e o comportamento eclesial sofre alterações. Nesta fase, a Igreja começa a
servir-se dos meios para a difusão de suas mensagens.
Na terceira fase, as transformações sociais e tecnológicas passam a
acontecer em um ritmo ainda mais veloz. É nesse contexto que, conforme Marques
de Melo (apud Puntel, 2003, p. 2), a Igreja “assume a postura de que é preciso
evangelizar utilizando modernos meios de comunicação. Admite que a tecnologia da
reprodução eletrônica pode ampliar a penetração da mensagem eclesial”.
A quarta fase, destaca Puntel (2003, p. 2), é marcada pela “redescoberta da
comunicação, em toda a sua plenitude”. A Igreja adota uma postura crítica, iniciando
por repensar a comunicação, e por deixar de “acreditar que a tecnologia pode

18
“Praticada durante a Idade Média pela Igreja, a Inquisição ou Tribunal do Santo Ofício julgava os hereges (os
que interpretavam os ensinamentos cristãos de maneira diferente daquela que a Igreja pregava) e dissidentes,
punindo-os de maneira implacável e condenando-os à morte na fogueira” (FIGUEIRA, 2005, p. 86).
33

resolver os problemas da ação evangélica”. Sendo assim, a Igreja busca novas


experiências de comunicação como, por exemplo, o estímulo à criação de meios
populares, como rádios e TVs comunitárias, a fim de que os mesmos possam ser a
voz para aqueles que não têm voz.

2.6 A orientação da Igreja para os meios de comunicação católicos


Como já foi dito anteriormente, os meios de comunicação católicos, acima
de tudo, têm o objetivo de anunciar o Evangelho deixado por Jesus Cristo e de ser
um instrumento de formação cristã, diferente dos demais veículos.

A Igreja católica, fundada por Nosso Senhor Jesus Cristo para levar a
salvação a todos os homens, e por isso mesmo obrigada a evangelizar,
considera seu dever pregar a mensagem de salvação, servindo-se dos
meios de comunicação social, e ensina aos homens a usar rectamente
estes meios. (Communio et Progressio, 1971, p. 25)

Foi a partir do Concílio Ecumênico do Vaticano II, realizado de 1962 a 1965,


que o Magistério da Igreja elaborou e publicou dois importantes documentos sobre
os meios de comunicação social. Um deles denominado Inter Mirifica foi aprovado
em 4 de dezembro de 1963 como o segundo dos 16 documentos produzidos pelo
Vaticano II.

O Decreto – embora de pequena extensão – apenas 24 parágrafos, trata,


entre outras questões, da relação entre comunicação e ordem moral, e
entre a Igreja e os meios de comunicação; indica normas para o seu reto
uso; ocupa-se com a formação de uma consciência reta sobre a informação,
justiça e caridade no desenvolvimento da opinião pública e com os deveres
dos usuários dos meios de comunicação, dos produtores e autores e das
autoridades civis. (DARIVA, 2003, p. 9)

Publicado em 27 de maio de 1971 pela então Comissão Pontifícia para as


Comunicações Sociais, o Communio et Progressio19 é outro documento fruto do
Vaticano II, composto por 187 artigos e dividido em três partes diferenciadas: a
primeira expõe princípios doutrinários; a segunda é de caráter geral, destacando as
possibilidades e condicionamentos para que os meios de comunicação social sejam
fatores do progresso humano; e a terceira parte aborda a ação dos católicos em
relação aos meios.

19
Disponível em:
http://www.vatican.va/roman_curia/pontifical_councils/pccs/documents/rc_pc_pccs_doc_23051971_communio_
po.html . Acesso em 25 de outubro de 2013.
34

A Instrução Pastoral Communio et Progressio [...] é o primeiro documento


do Magistério Pontifício a analisar a comunicação sob a perspectiva da
revelação divina. Embora a sua abordagem esteja centrada nos meios de
comunicação – e não na própria comunicação em si -, o documento não se
limita a dar um valor simplesmente ético e pastoral a esses meios, mas vai
além, oferecendo elementos fundamentais para uma reflexão teológica.
(ZOLIN, 2010, p. 27)

Além dos dois documentos já citados, a instituição do Dia Mundial das


Comunicações foi uma das significativas heranças deixadas pelo Concílio Vaticano
II. A data, fixada em 24 de janeiro, é uma referência a São Francisco de Sales,
patrono dos jornalistas católicos, que é celebrado neste dia pela comunidade
católica.

O Dia Mundial foi celebrado pela primeira vez em 6 de maio de 1967. Trata-
se de um evento, desde então, regular, no qual o Papa publica uma
mensagem sobre o tema que foi escolhido para aquele ano. Os temas, na
maioria dos casos, estão ligados a fatos da atualidade, relacionados com a
Igreja e com a sociedade em geral e, ainda, com a comunicação social.
Muitas dessas mensagens, nos pressupostos principais, mostram
frequentemente um certo otimismo sobre o poder dos meios de
comunicação. No entanto, também frequentemente, alertam para possíveis
perigos. (DARIVA, 2003, p. 287)

Segundo a orientação expressa pela Igreja, os meios de comunicação


devem obedecer à lei fundamental da sinceridade, honestidade e verdade,
apresentando os fatos de acordo com a realidade. O comunicador, além de
competência profissional, deve dispor de adequada formação humana, uma vez que
os meios de comunicação, destaca o documento Communio et Progressio, foram
criados para servir ao homem.

É o homem que os comunicadores devem sempre ter presente no seu


trabalho; ora, servir o homem implica, antes de mais, conhecê-lo e amá-lo.
Portanto, quanto mais consciências tiverem de que, por detrás desses
instrumentos sem vida que transmitem as suas imagens e palavras, estão
homens reais, filhos do nosso tempo, tanto maior será o entusiasmo com
que se dedicarão à profissão e maior o serviço que prestarão ao seu
semelhante. Quanto melhor conhecerem o público a que se dirigem o seu
espírito e mentalidade, tanto melhor adaptarão as suas comunicações às
exigências e aspirações desse mesmo público. E então os meios de
comunicação contribuirão realmente para uma maior comunhão e
compreensão mútua entre os homens. (1971, p. 15)

A ideia de que os meios de comunicação devem se colocar a serviço dos


homens vem da inspiração em Jesus Cristo que, durante a sua permanência na
35

terra, manifestou-se como perfeito comunicador, conforme o documento. Sendo


assim:

O papel da Imprensa católica é enfrentar, por meio de informações,


comentários, debates, todos os problemas e interrogações do mundo em
que vivemos, à luz dos princípios cristãos. Também lhe compete comentar
e, se necessário, corrigir notícias e comentários referentes à fé e vida da
Igreja. Ela será ao mesmo tempo, um espelho em que se reflectem as
imagens do mundo e uma luz que o ilumine. Deverá ser também o lugar de
encontro e confronto de ideias e opiniões. Mas, a Imprensa católica precisa
de recursos e gente preparada, para alcançar a dignidade profissional
competente. (Communio et Progressio, 1971, p. 27)

Em consonância com o posicionamento da Igreja em relação aos meios de


comunicação, De La Paz (2009), ao fazer referência a Moreira Miguel, defende que
os meios católicos devem ser diferentes da imprensa não católica, tanto em relação
ao conteúdo como à postura.

A postura da mídia católica será eticamente outra [...] A mídia católica não
poderá concordar com tudo, e mais, terá que dizer que não concorda. Como
mídia evangelizadora terá que se caracterizar pela descoberta a fazer do
caminho a criar, das diferenças a se escolher, do rompimento com a lógica
natural. (MOREIRA MIGUEL apud DE LA PAZ, 2009, p. 13)

Pensando nisso, a Igreja, de acordo com o documento Communio et


Proressio (1971), conclama que se fomente e difunda uma imprensa genuinamente
católica, com a intenção de formar, afirmar e promover uma opinião pública em
conformidade com a doutrina e os princípios cristãos, como também com o dever de
divulgar e desenvolver adequadamente os acontecimentos relacionados com a vida
da Igreja, que têm repercussão no público, sublinhando o aspecto religioso dos
mesmos.
Diferente das discussões produzidas até aqui, o próximo capítulo parte para
o objeto teórico central desta pesquisa – os valores-notícia -, os quais são de
fundamental importância discutir para que se entenda a produção do telejornal CN
Notícias, objeto empírico do presente estudo.
36

CAPÍTULO III

3. CRITÉRIOS DE NOTICIABILIDADE: OS VALORES-NOTÍCIA

3.1 Gênero informativo


Antes de entrar na seara que diz respeito aos critérios de noticiabilidade, é
importante discutir os formatos do gênero informativo que serão objetos de análise
no último capítulo deste trabalho, a partir da observação do telejornal CN Notícias,
exibido pela TV Canção Nova. Na sociedade contemporânea, a informação, cada
vez mais disseminada, tornou-se item indispensável para quem quer se manter
atualizado sobre os acontecimentos que ocorrem no mundo. Com o advento das
novas tecnologias da comunicação e da informação, a quantidade de informações
oriundas de diferentes lugares e sobre diversos assuntos é cada vez maior, seja
através da internet, do rádio, da televisão e/ou dos veículos impressos.
Como instrumentos de informação, o objetivo do gênero informativo é
descrever ou aprofundar um fato que tenha valor-notícia. No jornalismo ocidental,
segundo Traquina (2005), informar pressupõe agir de forma imparcial e objetiva, ou
seja, a percepção do jornalista que escreve o texto e da empresa jornalística não
interessa ao público. A ideia de imparcialidade, por outro lado, é contestada por
outros autores, os quais acreditam que o jornalista deve buscar a isenção ao dar
uma notícia. “A objetividade é um mito, uma vez que os jornalistas apreendem os
fatos a partir da própria subjetividade. Uma prova disso é que alguns fatos são
reproduzidos e outros abandonados” (BARBEIRO E LIMA, 2002, p. 35). Os formatos
do gênero informativo, na visão de Marques de Melo (2010), são divididos em
quatro: a notícia, a reportagem, a nota e a entrevista.

A distinção entre nota, notícia e reportagem está exatamente na progressão


dos acontecimentos, sua captação pela instituição jornalística e
acessibilidade de que goza o público. A nota corresponde ao relato de
acontecimentos que estão em processo de configuração e por isso é mais
frequente no rádio e na televisão. A notícia é um relato de um fato que já
eclodiu no organismo social. A reportagem é um relato ampliado de um
acontecimento que já repercutiu no organismo social e produziu alterações
que já são percebidas pela instituição jornalística. Por sua vez, a entrevista
é um relato que privilegia um ou mais protagonistas do acontecer,
possibilitando um contato direto com a coletividade. (MARQUES DE MELO,
2003, p. 66)
37

Além de Marques de Melo, outros estudiosos deram diferentes conceitos


para cada formato do gênero informativo. Uma definição informal de notícia, por
exemplo, atribuída a vários autores, é muito comum no jornalismo: “Se um cachorro
morde um homem, não é notícia, mas se um homem morde um cachorro, então é
notícia, e sensacional” (TRAQUINA, 2008, p. 63). Para Nilson Lage, que considera o
texto noticioso “como um bem simbólico de consumo universal”, a notícia, enquanto
estrutura, “é o relato de uma série de fatos a partir do fato mais importante ou
interessante; e de cada fato, a partir do aspecto mais importante ou interessante”
(LAGE, 1999, p. 16). Diferentemente da notícia impressa, segundo o mesmo autor, a
notícia em televisão, que constitui um dos objetos de análise deste trabalho, é algo
em processo.

Nela [notícia na TV] se articula estruturas dificilmente compatíveis, como a


exposição por ordem decrescente de importância, a narração em
sequências temporais e a interpretação conceitual que fecha o discurso,
suprimindo a estimulante ambiguidade da imagem. Numa notícia, os
eventos estarão ordenados não por sua sequência temporal, mas pelo
interesse ou importância decrescente, na perspectiva de quem conta e,
sobretudo, na suposta perspectiva de quem ouve. (LAGE, 1999, p. 43)

A reportagem, por seu turno, é um formato diferente da notícia por vários


aspectos. Um deles é que a reportagem não cuida da cobertura de um fato ou de
uma série de fatos, mas do levantamento de um assunto sobre o qual se está
trabalhando há algum tempo. A pauta é outro ponto que distancia a notícia da
reportagem. Lage afirma que para as notícias, “as pautas são apenas indicações de
fatos programados, da continuação de eventos já ocorridos e dos quais se espera
desdobramento” (1999, p. 26). Já as reportagens, segundo o autor, supõem outro
nível de planejamento, uma vez que “os assuntos estão sempre disponíveis e
podem ou não ser atualizados por um acontecimento” (1999, p. 46).

Entre os gêneros de texto correntes nos jornais, a notícia distingue-se com


certo grau de sutileza da reportagem, que trata de assuntos, não
necessariamente de fatos novos; nesta, importam mais as relações que
reatualizam os fatos, instaurando dado conhecimento do mundo. A
reportagem é planejada e obedece a uma linha editorial, um enfoque; a
notícia, não. (LAGE, 2001, p. 25)

Cremilda Medina, em Notícia: um produto à venda (1988), distingue a notícia


da grande reportagem pelo tratamento que é dado ao fato jornalístico, no tempo de
ação e no processo de narrar. A reportagem, segundo Medina (1988, p. 62), “amplia
38

uma simples notícia de poucas linhas, aprofundando o fato no espaço e no tempo, e


esse aprofundamento do conteúdo informativo se faz numa abordagem estilística”.

As linhas de tempo e espaço se enriquecem: enquanto a notícia fixa o aqui,


o já, o acontecer, a grande reportagem abre o aqui num círculo mais amplo,
reconstitui o já no antes e depois, deixa os limites do acontecer para um
estar acontecendo atemporal ou menos presente. Através da contemplação
de fatos que situam ou exemplificam o fato nuclear, através da pesquisa
histórica de antecedentes, ou através do humano permanente no
acontecimento imediato a reportagem leva a um quadro interpretativo do
fato. (MEDINA, 1988, p. 134)

Outra definição de reportagem é dada por Luiz Amaral, para quem esse
formato “é a representação de um fato ou acontecimento enriquecida pela
capacidade intelectual, observação atenta, sensibilidade, criatividade e narração
fluente do autor” (AMARAL, 1997, p. 133).
Seguindo a descrição dos formatos do gênero informativo na opinião de
acadêmicos brasileiros, a entrevista figura-se como importante meio de comunicação
social muito utilizada pelos veículos noticiosos como matéria-prima para a produção
de notícias e reportagens. De acordo com Medina em Entrevista: o diálogo possível
(2000, p. 18), “a entrevista [...] é uma técnica de obtenção de informações que
recorre ao particular, por isso se vale, na maioria das circunstâncias, da fonte
individualizada e lhe dá crédito, sem preocupações científicas”. A autora defende
que uma boa entrevista se aproxima do diálogo interativo.

A entrevista pode ser apenas uma eficaz técnica para obter respostas pré-
pautadas por um questionário. Mas certamente não será um braço da
comunicação humana, se encarada como simples técnica. Esta – fria nas
relações entrevistado/entrevistador – não atinge os limites possíveis da
inter-relação, ou, em outras palavras, do diálogo. Se quisermos aplacar a
consciência profissional do jornalista, discuta-se a técnica da entrevista; se
quisermos trabalhar pela comunicação humana, propunha-se o diálogo.
(MEDINA, 2000, p. 05)

Além da importância para o aperfeiçoamento do trabalho jornalístico, até


mesmo para a comprovação daquilo que é dito pelos jornalistas, a entrevista
aparece como um instrumento “de interpretação informativa, pluralização de vozes e
de distribuição democrática da informação” (MEDINA, 2000, p. 07). Por outro lado,
Medina (2000) critica a forma como tem sido conduzida e produzida a entrevista
jornalística, sobretudo em televisão.
39

Na maior parte das circunstâncias, o jornalista (comunicador) imprime o


ritmo de sua pauta e até mesmo preestabelece as respostas: o interlocutor
é conduzido a tais resultados. A caricatura deste fato se difunde por aí em
entrevistas de televisão, cujo script é pré-montado, ensaiado, ficando pouca
margem para o entrevistado decidir qual o rumo de seu pensamento ou de
seu comportamento. O que menos interessa é o modo de ser e o modo de
dizer daquela pessoa. O que efetivamente interessa é cumprir a pauta que a
redação de determinado veículo decidiu. (MEDINA, 2000, p. 06)

Sobre o formato nota jornalística, Marques de Melo diz que a ela cabe
“antecipar um fato ainda não plenamente definido na estrutura da sociedade e em
relação ao qual o jornalista só dispõe de alguns dos seus elementos componentes”
(2006, p. 183). Por isso, uma das principais características da nota é a brevidade do
texto, sendo, portanto, uma informação rápida.

Para os jornalistas que trabalham na televisão, por exemplo, há dois tipos


de nota: coberta e pelada. A primeira corresponde a um texto lido em off
pelo apresentador e coberto por imagens referentes ao assunto. Já na
segunda, o apresentador lê um texto sem a cobertura de imagens, ou seja,
é sua própria imagem que vai ao ar. (PENA, 2008, p. 69)

Nos noticiários, por se tratar de uma notícia pequena, a nota geralmente


aborda um assunto de menor interesse ou ainda pouco conhecido pelos jornalistas.
Quanto à estrutura, a nota jornalística é um formato próximo da notícia, pois
geralmente responde as seis perguntas fundamentais do lide20. Para Marques de
Melo (2006, p. 187), “a distinção entre os gêneros nota, notícia e reportagem está na
progressão dos acontecimentos, na forma como a instituição jornalística os capta e
no modo como o público tem acesso a eles”.
Dada a diferenciação entre os formatos do gênero informativo que servirão
de embasamento teórico para a análise do CN Notícias, o próximo tópico direciona a
discussão para os valores-notícia que constituem componentes importantes deste
trabalho, por se tratar do objeto teórico da presente pesquisa.

3.2 Os valores-notícia: cenários históricos


Como forma de verificar que os valores-notícia têm variado pouco no
decorrer do tempo, Traquina (2008) faz um estudo acerca do que foi considerado

20
“Abertura do texto jornalístico, na qual se apresenta suscintamente o assunto ou se destaca o fato essencial, o
clímax da história. O lide torna possível, ao leitor que dispõe de pouco tempo, tomar conhecimento do
fundamental de uma notícia em rapidíssima e condensada leitura do primeiro parágrafo. Na construção do lide, o
redator deve responder às questões básicas da informação: o quê, quem, quando, onde, como e por que, embora
não necessariamente a todas elas em conjunto” (RABAÇA, 2001, p. 426).
40

notícia em três momentos históricos: os anos 70 do século XX, os anos 30 e 40 do


século XIX e as primeiras décadas do século XVII.
No ano de 1616, quando ainda não existiam jornais, segundo Traquina
(2008), as pessoas se informavam pelas chamadas “folhas volantes”. Diferente dos
periódicos, esse informativo não era publicado regularmente e se dedicava a um
único tema. Além disso, as notícias eram, sobretudo, avisos moralistas ou
interpretações religiosas. Do total de 25 “folhas volantes” publicadas nos primeiros
anos do século XVII, um terço delas foi dedicado a um tipo de acontecimento:
assassinatos; outro terço a notícias sobre celebridades.

Naquela época, celebridade referia-se a membros de famílias reais, como


reis e rainhas, e demais pessoas com títulos de nobreza, que
representassem importantes figuras em uma comunidade. (SOARES, 2007,
p. 17)

Na era das “folhas volantes”, eram assuntos de destaque os milagres,


abominações, catástrofes, acontecimentos bizarros e insólitos, monstruosidades,
feitiçarias e guerras.
Ainda no século XVII, destaca Silva (2004), as notícias eram selecionadas
de forma a separar o verdadeiro do falso. Outro ponto considerado era que as
consequências de um acontecimento eram decisivas para decidir se ele seria
divulgado ou não. Um dos primeiros acadêmicos a se dedicar aos estudos sobre
seleção de fatos noticiáveis, Tobias Peucer reconhecia já nessa época que o comum
e normal tinham pouco valor informativo.
Ao longo do século XVIII as publicações periódicas eram dominadas pelos
polos político e econômico e os meios de comunicação social eram essencialmente
vistos como uma arma política. Os jornais, de acordo com Traquina (2008), davam
ênfase às notícias locais, às histórias de interesse humano, e apresentavam
reportagens sensacionalistas de fatos surpreendentes, com histórias de crimes,
escândalos e tragédias.
Nos anos 1970 do século XX, não muito diferente de outras épocas, a
notoriedade do personagem principal do acontecimento e as atividades ligadas ao
Governo eram acontecimentos noticiáveis, sempre. Os crimes, escândalos e
investigações, os protestos – violentos e não violentos, os desastres, o insólito
continuavam em destaques nos jornais.
41

Em Comunicação e jornalismo: a saga dos cães perdidos (2002), Ciro


Marcondes Filho apresenta quatro diferentes etapas do jornalismo brasileiro no
decorrer da história. A primeira, de 1789 à metade do século XIX, foi caracterizada
por uma fase político-literária, com predominância da imprensa partidária, na qual os
próprios jornalistas eram os políticos e o jornal, seu porta-voz. Os jornais eram
escritos com fins pedagógicos e de formação política e ideológica. Nesta época, os
valores jornalísticos dominantes, segundo Marcondes Filho (2002), eram a razão
baseada na verdade e na transparência, o questionamento da autoridade, a crítica
da política e a confiança no progresso.
Num segundo momento, denominado pelo autor de imprensa de massa
(1830 a 1900), surge o jornal como grande empresa capitalista, a partir da inovação
tecnológica da metade do século XIX nos processos de produção do jornal. A fase
romântica do período anterior dá lugar aos jornais populares e sensacionalistas.
Essa nova imprensa manteve as características originais da atividade jornalística: “a
busca da notícia, ‘o furo’, o caráter de atualidade, a aparência de neutralidade, em
suma, o caráter libertário e independente” (MARCONDES FILHO, 2002, p. 14).
Já a terceira etapa do jornalismo (1900 a 1960), de acordo com Marcondes
Filho (2002), foi marcada pelo desenvolvimento e crescimento das empresas
jornalísticas, isto é, a fase de monopólios. Apesar disso, diz o autor, foi um período
de desintegração da atividade jornalística, de enfraquecimento e decadência, devido
à crescente indústria publicitária e de relações públicas como novas formas de
comunicação que competiram com o jornalismo até descaracterizá-lo. Segundo
Marcondes Filho (2002), nessa época, os valores jornalísticos dominantes eram as
grandes rubricas políticas ou literárias. Nas páginas dos magazines predominavam
notícias sobre esporte, cinema, rádio, teatro, turismo, infantil e do universo feminino.
Marcondes Filho (2002) afirma que por volta dos anos 1970 na chamada Era
Tecnológica surge um quarto momento do jornalismo, que se estende até os dias
atuais. Segundo o autor, esse momento configura-se pelo acesso e disseminação da
informação eletrônica e interativa. Além disso, a atuação das assessorias de
imprensa junto aos jornais e a substituição do jornalista pelos sistemas de
comunicação eletrônicos são dois dos processos desencadeados por esse novo
jornalismo. A partir de então, as novas tecnologias favoreceram a visibilidade
técnica, com qualidade de imagem, inicialmente na televisão.
42

O fascínio da imagem, definido como critério principal dos meios visuais,


passa a ditar a hierarquia dos meios de comunicação: primeiro, uma cena
tecnicamente perfeita; depois, um texto, uma narrativa, uma notícia.
(MACONDES FILHO, 2002, p. 31)

Seguindo essa nova orientação do jornalismo, assuntos associados ao


curioso, ao insólito, ao imageticamente impressionante ganharam mais espaço no
noticiário.

3.3 O que são valores-notícia


Segundo Traquina, “compreender por quê as notícias são como são tem
sido objeto de longa pesquisa e têm surgido diferentes teorias para explicar as
notícias” (2005, p. 25). Que critérios adotar para selecionar as notícias que vão
ganhar destaque no telejornal? Esse questionamento é feito todos os dias por
produtores, editores e outros profissionais do jornalismo, logo no início da rotina de
trabalho. Uma tarefa que, à primeira vista, parece fácil, mas é complexa, segundo a
socióloga norte-americana Gaye Tuchman, referenciada por Mauro Wolf (1999).
Selecionar os acontecimentos que vão entrar na pauta do dia de um
telejornal é uma atividade que deve ser feita no menor período de tempo, já que o
jornalismo é uma profissão que trabalha contra o tempo e, na opinião de Traquina
(2005), condicionada a inúmeros fatores.

A atividade jornalística é altamente condicionada, marcada por múltiplas


incertezas e situações difíceis. O trabalho jornalístico é condicionado pela
pressão das horas de fechamento, pelas práticas levadas a cabo para
responder às exigências da tirania do fator tempo, pelas hierarquias
superiores da própria empresa, e, às vezes, o(s) próprio(s) dono(s), pelos
imperativos do jornalismo como um negócio, pela brutal competitividade,
pelas ações de diversos agentes sociais que fazem a “promoção” dos seus
acontecimentos para figurar nas primeiras páginas dos jornais ou na notícia
de abertura dos telejornais da noite. (Traquina, 2005, p. 25)

Diante da enorme quantidade de acontecimentos de todos os dias, os


veículos de comunicação precisam filtrar os fatos de maior importância para a
opinião pública e que merecem o status de notícia. “O objetivo declarado de
qualquer órgão de informação é fornecer relatos dos acontecimentos significativos e
interessantes” (TUCMAN apud WOLF, 1999, p. 188). Portanto, para delimitar o que
é ou não é importante noticiar, os jornalistas utilizam o que no jornalismo é
denominado de critérios de noticiabilidade. Diversos estudiosos da comunicação têm
se ocupado em estudar esse tema, como Mauro Wolf (1999), Nelson Traquina
43

(2008) e Thaís Mendonça Jorge (2010), entre outros. Contudo, somente estes
autores mencionados serão utilizados para embasamento teórico deste trabalho.

A necessidade de se pensar sobre critérios de noticiabilidade surge diante


da constatação prática de que não há espaço nos veículos informativos
para a publicação ou veiculação da infinidade de acontecimentos que
ocorrem no dia-a-dia. (SILVA, 2004, p. 04)

Para Wolf, entende-se por noticiabilidade “o conjunto de elementos através


dos quais o órgão informativo controla e gere a quantidade e o tipo de
acontecimentos que irão selecionar para se tornar notícia” (1999, p. 195). Segundo o
autor, os valores-notícia entram nesse processo como componente dessa
noticiabilidade.

A noticiabilidade é constituída pelo conjunto de requisitos que se exige dos


acontecimentos – do ponto de vista da estrutura do trabalho nos órgãos de
informação e do ponto de vista do profissionalismo dos jornalistas – para
adquirirem a existência pública de notícias. Tudo o que não corresponde a
esses requisitos é excluído, por não ser adequado as rotinas produtivas e
aos cânones da cultura profissional. Não adquirindo o estatuto de notícia,
permanece simplesmente um acontecimento que se perde entre a matéria-
prima que o órgão de informação não consegue transformar e que, por
conseguinte, não irá fazer parte dos conhecimentos do mundo adquiridos
pelo público através das comunicações de massa. Pode também dizer-se
que a noticiabilidade corresponde ao conjunto de critérios, operações e
instrumentos com os quais os órgãos de informação enfrentam a tarefa de
escolher, quotidianamente, entre um número imprevisível e indefinido de
fatos, uma quantidade finita e tendencialmente estável de notícias. (WOLF,
1999, p. 190)

Traquina, por sua vez, tratando do mesmo assunto, levanta algumas


questões importantes para este trabalho: “Qual é o papel dos jornalistas na
produção das notícias? Por que as notícias são como são?” (2005, p. 145).

As notícias são o resultado de um processo de produção definido como


percepção, seleção e transformação de uma matéria-prima (os
acontecimentos) num produto (as notícias). Os acontecimentos constituem
um imenso universo de matéria-prima; a estratificação deste recurso
consiste na seleção do que irá ser tratado, ou seja, na escolha do que se
julga ser matéria-prima digna de adquirir a existência pública de notícia –
numa palavra – ter noticiabilidade. Aliás, a questão central do campo
jornalístico é precisamente esta: o que é notícia?, ou seja, quais os critérios
e os fatores que determinam a noticiabilidade dos acontecimentos.
(TRAQUINA, 2005, p. 180)

Para Traquina, os meios de comunicação não apenas definem o que deve


ser noticiado para a maioria da população, “mas também oferecem poderosas
44

interpretações de como compreender esses acontecimentos” (TRAQUINA, 2005, p.


177).
Como parte da noticiabilidade e sendo um aspecto fundamental da cultura
profissional para a comunidade jornalística, segundo Traquina, em Teorias do
jornalismo. A tribo jornalística – uma comunidade interpretativa transnacional (2008),
os valores-notícia são determinantes no processo de construção da notícia, ao
passo que são eles que vão determinar quais acontecimentos são interessantes,
significativos e relevantes para serem transformados em um produto noticioso.

Os valores-notícia fornecem critérios nas práticas de rotina do jornalismo


que permitem aos jornalistas, diretores e agentes noticiosos decidir
rotineiramente e regularmente sobre quais as ‘estórias’ que são ‘noticiáveis’
e quais não são, quais as ‘estórias que merecem destaque e quais as que
são relativamente insignificantes, quais as que são para publicar e quais as
que são para eliminar. (TRAQUINA, 2005, p. 176)

Corroborando a discussão sobre valores-notícia, Jorge (2010) também se


ocupou em trabalhar com os critérios que definem as notícias. Para a autora, valor-
notícia “é o conjunto de características que desperta a atenção, provoca o interesse
ou confere relevância a determinados fatos que serão reunidos sob a forma de um
produto específico do jornalismo, a notícia” (JORGE, 2010, p. 28).
Nos estudos sobre valores-notícia, Wolf (1999) teve como ponto de partida a
pesquisa norte-americana de Golding e Elliott (1979), na qual é feita uma análise
comparativa das rotinas produtivas na informação quotidiana das televisões de
países como a Suécia, Eire e Nigéria. Para Wolf (1999), a importância e o
interesse da notícia são fatores essenciais para determinar o valor de um
acontecimento. Portanto, ao buscar um fato noticiável, devem ser considerados,
entre outros critérios:

O nível hierárquico dos indivíduos envolvidos no acontecimento, o grau do


poder institucional, a visibilidade do fato e o peso das organizações sociais
e econômicas envolvidas [...]. Histórias de pessoas comuns encontradas em
situações insólitas, de homens públicos surpreendidos no dia-a-dia da sua
vida privada; histórias em que se verifica uma inversão de papéis, como por
exemplo, o homem que morde o cão; histórias de interesse humano;
histórias de feitos excepcionais e heróicos (sic). (WOLF, 1999, p. 184)

Na percepção de Wolf (1999) pesa na escolha de uma notícia o


acontecimento que diz respeito ao impacto sobre a nação e sobre o interesse
nacional. Dentro desta variável, o autor associa o valor-notícia da proximidade, seja
45

ele geográfico ou cultural. Destaca ainda o critério da brevidade no que diz respeito
à objetividade jornalística; a negatividade, aqui entendida como uma infração, um
desvio, uma ruptura do uso normal das coisas; a atualidade, já que “as notícias
devem referir-se a acontecimentos o mais possível em cima do momento da
transmissão do noticiário” (GOLDING – ELLIOTT apud WOLF, 1999, p. 208); a
qualidade da história presente na notícia e, por último, o equilíbrio, isto é, seja o
jornal ou o telejornal devem ter notícias que cubram, dentro do possível, todo o
território nacional e que possam, ao mesmo tempo, interessar todas as camadas da
população.
Traquina (2008), ao discutir os critérios que dão condições a um fato de se
tornar noticiável, faz uma abordagem muito semelhante daquela apresentada por
Wolf. O professor português buscou respaldo teórico nas escritoras canadenses
Johan Galtung e Mari Holmboe Ruge (1965), pioneiras em estudos sobre valores-
notícia, as quais discutem os fatores que influenciam o fluxo de notícias do
estrangeiro, tendo como referência a estrutura de quatro jornais noruegueses, a
partir das crises do Congo, Cuba e Chipre. No estudo, as acadêmicas enumeram
doze valores-notícia que determinam a noticiabilidade de um acontecimento:

1) A freqüência (sic), ou seja, a duração do acontecimento; 2) a amplitude


do evento; 3) a clareza ou falta de ambigüidade (sic); 4) a significância; 5) a
consonância, isto é, a facilidade de inserir o “novo” numa “velha” idéia (sic)
que corresponda ao que se espera que aconteça; 6) o inesperado; 7) a
continuidade, isto é a continuação como notícia do que já ganhou
noticiabilidade; 8) a composição, isto é, a necessidade de manter equilíbrio
nas notícias com uma diversidade de assuntos abordados; 9) a referência a
nações de elite; 10) a referência a pessoas de elite, isto é, o valor-notícia da
proeminência do ator do acontecimento; 11) a personalização, isto é, a
referência a pessoas envolvidas; e 12) a negatividade, ou seja, segundo a
máxima “bad News is good News”. (GALTUNG e RUGE apud TRAQUINA,
2008, 69)

Nos estudos sobre os quais Traquina se debruçou, a morte é o primeiro dos


valores-notícia apontados por ele, que compreende que os acontecimentos com
esse critério são sempre de grande visibilidade para a comunidade jornalística e
“explicam o negativismo do mundo jornalístico que é apresentado diariamente nas
páginas do jornal ou nos écrans da televisão” (2008, p. 79). A novidade, segundo
Traquina, é outro conceito fundamental para o jornalismo. Por isso, é dever do
jornalista voltar à redação com novos elementos sobre a investigação ou o
acontecimento que está cobrindo. De acordo com Traquina (2008, p. 81),
46

“geralmente tem que ter algo de novo para voltar a falar sobre o assunto”. A
dramatização também figura na lista de valores-notícia destacados pelo escritor
português, o qual a entende como “o reforço dos aspectos mais críticos, o reforço do
lado emocional, a natureza conflitual” do acontecimento (TRAQUINA, 2008, p. 92). A
notoriedade é elencada pelo autor como sendo um critério de crucial importância
como fator de noticiabilidade, pois refere-se ao nome e à posição da pessoa
envolvida no acontecimento. Sendo assim, conforme Traquina, o Presidente da
República, por exemplo, sempre será notícia por ser uma figura importante.
Além do mais, a disponibilidade, ou seja, a facilidade de cobertura do
acontecimento é um valor-notícia indicado pelo escritor português. O autor entende
que as empresas jornalísticas possuem recursos limitados e não são capazes de
cobrir a todos os fatos que acontecem diariamente. Daí a necessidade de saber
quais os meios e o dispêndio que determinada cobertura exige. O “furo jornalístico” 21
se encaixa dentro do valor-notícia denominado concorrência, conforme aponta
Traquina. “O ‘furo’ dá maior noticiabilidade ao assunto e as organizações
jornalísticas fazem questão de mostrar aos espectadores que determinada notícia é
um ‘furo’, superando a concorrência” (TRAQUINA, 2008, p. 89).
Em diálogo com as discussões apresentadas pelos já citados autores, Jorge
(2010), que se dedicou por último aos estudos sobre noticiabilidade, considera três
valores fundamentais para a comunidade jornalística, sem os quais o jornalista não
vive:

A atualidade, pois o novo é o primeiro quesito da notícia; a proximidade,


entendida como o que está mais próximo, seja no sentido físico, seja no
psicológico é o que comove mais; e a notoriedade, no que tange a pessoas
famosas, notórias ou com algum destaque na sociedade. (JORGE, 2010, p.
30)

Afora os três critérios citados acima, Jorge (2010) acredita que o mistério é
um valor-notícia importante para a comunidade jornalística. Segundo a autora, “o
desconhecido, o inexplicado, o fantástico, novas descobertas, o raro, o inusitado e o
exótico” (2010, p. 31) são condições que ajudam a explicar a existência desse
critério no acontecimento.

21
“Notícia importante publicada em primeira mão por um jornal ou qualquer outro meio de comunicação de
massa” (RABAÇA, 2001, p. 337).
47

Os valores-notícia listados no quadro abaixo são discutidos por Wolf,


Traquina e Jorge, no entanto, somente alguns deles foram utilizados para
embasamento teórico desta pesquisa. Além dos autores referenciados neste estudo,
é importante salientar que outros acadêmicos também se debruçaram em pesquisas
sobre as características dos acontecimentos merecedores de serem conhecidos
pelo público, como Manuel Carlos Chaparro, Mário Erbolato e Nilson Lage, entre
outros.

 Importância do indivíduo (nível hierárquico);


 Impacto sobre a nação;
 Número de pessoas envolvidas;
 Relevância quanto à evolução futura;
 Grau do poder institucional; *
 Visibilidade do fato; *
 Peso das organizações sociais e econômicas; *
Wolf (1999)
 Histórias de pessoas comuns e situações insólitas; *
 Homens públicos surpreendidos no dia-a-dia (sic) de sua vida
privada;*
 Histórias em que verifica uma inversão de papéis; *
 Histórias de interesse humano; *
 Histórias de feitos excepcionais e heróicos; *
 Proximidade; *
*Estes valores-notícia foram
discutidos por Wolf, porém, os
 Brevidade; *
conceitos são de Golding e  Negatividade; *
Elliott (1979), conforme texto  Atualidade; *
de Wolf (1999).
 Equilíbrio. *

 Freqüência; *
 Amplitude;*
 Clareza; *
 Significância; *
 Consonância; *
 Inesperado; *
 Continuidade; *
 Composição (equilíbrio); *
 Referência a nações de elite; *
 Referência a pessoas de elite; *
Traquina (2008)  Personalização; *
 Negatividade; *
 Morte;
 Notoriedade;
 Proximidade;
 Relevância;
 Novidade;
 Tempo;
 Notabilidade;
 Conflito ou controvérsia;
 Infração;
*Estes valores-notícia foram
discutidos por Traquina,  Escândalo;
porém, os conceitos são de  Disponibilidade;
Galtung e Ruge (1965),  Visualidade;
conforme texto de Traquina
(2008).
 Concorrência;
48

 Dia noticioso;
 Simplificação;
 Personalização;
 Dramatização.

 Atualidade;
 Proximidade;
 Notoriedade;
 Mistério;
 Sexo;
 Poder;
 Dinheiro;
 Morte;
 Lazer;
Jorge (2010)
 Saúde;
 Trabalho;
 Religião;
 Meio Ambiente;
 Amor;
 Confidências;
 Educação;
 Ciência;
 Arte;
 Moda;
 Contrastes.

As discussões suscitadas até aqui contribuem para pensar a maneira como


são construídos os programas noticiosos na televisão, partindo do pressuposto de
que o conteúdo jornalístico, durante o processo de produção, sofre influências de
fatores tanto internos quanto externos, independente da empresa onde é produzido.

3.4 O processo de produção de um telejornal


Cada veículo de comunicação tem uma maneira particular de transmitir a
informação. Segundo Olga Curado (2002), em telejornalismo, a linguagem, o tempo
e o ritmo são peculiares, em comparação a outros meios. O processo de produção
da notícia na TV envolve a estruturação da pauta, apuração, entrevistas, edição e,
por último, apresentação. Bistane e Bacellar explicam como se dá esse processo,
que pode sofrer alterações minutos antes do telejornal ser veiculado:

O ranking provisório das notícias começa na reunião de pauta, no início do


expediente. O editor-chefe deixa o encontro com a ideia do que vai abrir,
fechar ou preencher o miolo do jornal. Elabora um pré-espelho, distribui os
assuntos por bloco e estabelece um tempo aproximado para cada matéria.
Se essa previsão vai se confirmar, só o desenrolar dos fatos poderá dizer.
Tomadas de decisão são feitas o tempo todo, mesmo durante a exibição do
programado. (2010, p. 44)
49

Ao contrário dos jornais, por exemplo, na TV o espectador não tem a


possibilidade de voltar para ver novamente aquilo que não entendeu. Daí a
necessidade, de acordo com Ivor Yorke (1998), de se usar uma linguagem que seja
clara, precisa, simples e direta. “A televisão visa a todos e deve ser entendida por
todos. Portanto, não pode ser nem muito intelectual, nem insultar a inteligência”
(YORKE, 1998, p. 61).
Em A notícia na TV: o dia-a-dia de quem faz telejornalismo, Curado (2002)
apresenta o tripé pelo qual deve passar a informação exibida pela televisão: clareza,
precisão e imparcialidade. A autora observa que a notícia dada pela TV não pode
confundir quem a escuta nem despertar dúvidas quanto ao seu significado, ou seja,
deve ser clara. Sobre a precisão, é necessário demonstrar a boa apuração e a
verdade dos fatos. É importante manter o equilíbrio, ressalta Curado (2002). Apesar
de alguns acadêmicos e profissionais defenderem a imparcialidade como um ideal
impossível para a profissão, o jornalista deve confrontar os lados de uma questão
para esclarecer os pontos obscuros e não para favorecer uma das partes.
Na opinião de Vizeu (2008), as informações devem ser transmitidas de
forma a não suprimir os detalhes, os quais ajudam na compreensão do material
jornalístico. Os vários lados de uma história devem ser ouvidos para que o
espectador tenha diferentes versões e possa chegar a conclusões mais precisas.
Com relação à construção da notícia, o jornalista deve ter o cuidado de não alterar
textos e documentos que comprovem a veracidade de uma informação, bem como
não deve se ocultar ou silenciar diante de determinada realidade.
No jornalismo feito para a TV, a imagem é elemento diferenciador no que
concerne aos demais meios, ao mesmo tempo em que dá apoio e maior
esclarecimento a uma informação. Para Curado, o recurso da imagem, “em
situações contextualizadas, chega a dispensar qualquer texto” (2002, p. 106).
Carvalho (2010), partilhando da mesma ideia acredita que, ao construir um produto
que tenha interesse jornalístico, as imagens devem ser pensadas desde o início do
processo, pois “alguns assuntos são ricos em informação textual, mas pobres em
informação visual” (CARVALHO, 2010, p. 37). Vizeu, por seu turno, afirma que a
imagem é o que dá veracidade ao fato narrado.

A televisão dá prioridade ao componente visual, de maneira a causar


fascinação ao público. Ela aumenta o peso da imagem em relação ao valor
da palavra. E o telespectador decodifica, mais facilmente, os códigos visuais
50

do que os verbais. Se alguém diz que “isso apareceu na TV”, o outro aceita,
passivamente, a situação como um fato real: “Se apareceu na TV, então
aconteceu”. (2008, p. 51)

Em telejornalismo, todo o trabalho é feito em equipe. A decisão de quais


acontecimentos merecem cobertura e quais assuntos dar destaque no telejornal
parte do editor-chefe ainda na reunião de pauta, como já mencionado anteriormente.

A decisão do editor que seleciona as notícias depende de muitos fatores –


desde a independência com que exerce a sua escolha em relação a
interesses não-jornalísticos, a sua formação pessoal e profissional, a
experiência, e o tempo de que dispõe para decidir ou selecionar as notícias.
Todos esses fatores juntos ou isolados contribuem para que as escolhas
editoriais sejam feitas dentro de uma maior ou menor margem de erro.
(CURADO, 2002, p. 173)

A notícia ou reportagem, até chegar à forma de apresentação, passa pelas


mãos e cabeça de vários profissionais, que exercem diferentes funções dentro de
uma redação. A pauta, que “é o conjunto de dados que dão partida a uma
reportagem” (CURADO, 2002, p. 40), depois de pensada pelo pauteiro e discutida
na reunião que ganha o mesmo nome, é passada para o produtor, o qual tem a
função de encontrar os entrevistados e marcar as entrevistas, fazer o levantamento
das imagens, reunir o arquivo sobre o assunto, propor a forma como a matéria deve
ser estruturada e, finalmente, encaminhá-la para a equipe de reportagem. Com a
pauta em mãos, repórter e cinegrafista vão a campo para coletar as informações,
fazer as entrevistas e aprontar o texto da reportagem que, depois de pronto, é
entregue para o editor de texto corrigir os possíveis erros. As imagens feitas pelo
cinegrafista vão para edição, a fim de fazer o casamento texto e imagem. Segundo
Curado (2002) é importante que repórter, cinegrafista e editor estejam entrosados,
pois a comunicação entre eles ajuda na eficácia do processo. Depois de finalizada a
matéria pela edição, o material estará pronto para ir ao ar.

A matéria jornalística é uma história contada pela ótica do repórter, com as


imagens captadas pelo cinegrafista. Na edição, o jornalista faz escolhas,
optando por uma e não por outra cena, por este e não por aquele trecho da
resposta do entrevistado. TV é edição, é recorte, é fragmento. O desafio de
quem trabalha nela é escolher certo, com responsabilidade, critério, ética e,
principalmente, honestidade. Existe imparcialidade jornalística? É claro que
não. A ótica do jornalista, do cinegrafista, do fotógrafo, do diretor da
empresa e dos interesses que ela representa, sempre estará de algum lado.
(VIZEU, 2008, p. 51)
51

Explorado os caminhos que norteiam a produção de um telejornal, o próximo


capítulo, pretende, por meio da observação das dez edições gravadas do objeto
empírico deste estudo, produzir inferências capazes de explicar as escolhas dos
acontecimentos que se tornarão notícia no principal noticiário da TV Canção Nova.
52

CAPÍTULO IV

4. ANÁLISE E DESCRIÇÃO DE RESULTADOS

4.1 A linha editorial do CN Notícias


Entende-se por linha editorial “o caminho seguido por uma publicação ou
programa, na execução das pautas e reportagem, redação de textos e edição das
matérias” (COTTA, 2005, p. 84). Para Cotta (2005), qualquer programa jornalístico
de televisão, assim como de outros meios de comunicação, antes de iniciar a
produção de um conteúdo noticioso, deve definir sua linha editorial. Dessa forma,
determinam-se as prioridades na cobertura dos acontecimentos e define-se a
filosofia da empresa.
Os critérios que determinam o que é notícia, os quais foram discutidos no
capítulo anterior, não são os únicos fatores que dão condição a um fato de ser
noticiado, nem tampouco surgem ao acaso as notícias veiculadas a todo instante.
Segundo Amaral (1997), a produção de notícias passa por um processo de seleção
desde a confecção da pauta até o momento da edição, ou seja, a posição da
empresa de comunicação é o que, antes de qualquer outro fator, determina a
noticiabilidade de um acontecimento.

Durante essa trajetória, [as notícias] passam por diversas verificações a fim
de se conhecerem as implicações que possam provocar, e a abordagem é
feita segundo critérios específicos da empresa, com aproveitamento dos
fatos que convém ressaltar e o abandono daqueles sobre os quais é
interessante silenciar. (AMARAL, 1997, p. 76)

Rompendo mais uma vez com a lógica da imparcialidade, “toda e qualquer


notícia é um recorte da realidade, contaminado com valores sociais, pessoais e
empresariais” (CARVALHO, 2010, p. 15). Confirmando os argumentos apresentados
por esses autores, Curado defende a posição de que não existe notícia neutra e que
o jornalista tem sua própria ideologia. Isto, segundo a autora, “revela uma forma de
pensar, ou pontos de vista a respeito de uma determinada questão” (2002, p. 169).
As discussões levantadas a esse respeito contribuem para embasamento
teórico a respeito da linha editorial seguida pelo CN Notícias, que constitui objeto
empírico deste estudo. A observação de dez edições gravadas do telejornal, no
período de 14 a 18 e 21 a 25 de outubro, deste ano, possibilitou verificar que o
53

noticiário dá ênfase, sobretudo, aos principais acontecimentos da Igreja no Brasil e


no mundo, como, por exemplo, as datas comemorativas em razão da canonização
de santos católicos e da ordenação de novos bispos para a instituição religiosa. Ao
verificar aleatoriamente as edições analisadas, observa-se tais exemplos nas
seguintes reportagens: 150 mil fiéis prestaram homenagem a Nossa Senhora
Aparecida em visita ao Santuário de Aparecida, exibida no dia 14 de outubro por
ocasião do dia dedicado à santa Padroeira do Brasil; na edição de 24 de outubro, a
reportagem Papa Francisco preside ordenação de dois novos bispos para a Igreja
desperta interesse jornalístico para o CN Notícias por se tratar de um acontecimento
religioso, além de ser a primeira Ordenação Episcopal22 celebrada pelo novo
Pontífice.
As duas primeiras reportagens da edição de 25 de outubro referem-se ao
Santo Frei Galvão que é celebrado nesse dia: Igreja no Brasil celebra o dia de Frei
Galvão e O Mosteiro da Luz, em São Paulo, recebeu grande número de fiéis em
homenagem ao santo brasileiro. O posicionamento da Igreja concernente a
acontecimentos de interesse social é verificado nas reportagens: Papa Francisco
afirma ser um escândalo que ainda exista fome e desnutrição no mundo, exibida em
16 de outubro, e Entidades religiosas reunidas em Brasília discutem com o Governo
Federal a grave questão da fome e da pobreza no país, que foi ao ar em 17 de
outubro.
O editor-chefe do CN Notícias, Osvaldo Luiz, confessa o posicionamento
favorável do noticiário em relação a assuntos inerentes à Igreja Católica e afirma
não existir imparcialidade no jornalismo:

Antes de ser um jornalista, existe um ser humano e um cristão. Ninguém faz


jornalismo imparcial, longe da sua história, longe da sua vivência, da sua
experiência. No jornalismo a gente tem aquele mito do ideal da
imparcialidade, mas que é algo impossível de se chegar. Ninguém é
imparcial, todos nós temos uma história que nos leva para um lado [...]
Dentro desse contexto que eu faço, é importante que a pessoa que assiste
o nosso programa saiba que nós somos Canção Nova e é dentro dessa
perspectiva que vamos fazer jornalismo. Dentro dessa perspectiva de quem
tem fé, e não só tem fé, mas tem uma missão de levar uma experiência com
23
Deus as outras pessoas.

22
“Cerimônia religiosa na qual se conferem as ordens sacras, neste caso, a um padre, que recebe o título de
bispo”. Disponível em http://www.dicio.com.br/ordenacao/ . Acesso em 2 de dezembro de 2013.
23
Entrevista cedida ao programa Trocando Ideias da TV Canção Nova, em 24 de setembro de 2013.
54

Para Raphael Leal, editor assistente do CN Notícias, em entrevista ao


programa Trocando Ideias da TV Canção Nova, o telejornal, por meio das
reportagens sobre a Igreja, busca esclarecer acontecimentos e realidades, muitas
vezes, distorcidas por outros meios de comunicação que não têm ligação com a
religião católica. Nesses casos, o jornalístico procura ouvir a opinião de autoridades
da Igreja, como cardeais e/ou representantes da Santa Sé.
A observação do noticiário da TV Canção Nova permitiu constatar que no
telejornal há pouco espaço para notícias que envolva a violência humana. No
período pesquisado, a única notícia com mortes como consequência da violência
tratou-se de uma ocorrência internacional: No Egito, homens armados mataram a
tiros quatro cristãos em igreja, veiculada em 21 de outubro. O fato de o
acontecimento ter envolvido cristãos, provavelmente, deve ter pesado na escolha da
notícia. Além dessa reportagem, os outros fatos noticiados que se enquadram na
categoria hard news24 são desastres ambientais, quase todos ocorridos fora do
Brasil, a exemplo de 115 pessoas morreram na Índia durante a passagem de um
dos maiores ciclones registrados no país, exibida em 14 de outubro; Nas Filipinas,
ao menos 93 pessoas morreram após um terremoto de sete graus na Escala
Richter, que foi ao ar em 15 de outubro; e O mais grave incêndio dos últimos 40
anos na Austrália causou a morte de duas pessoas, exibida em 24 de outubro.
Entre as poucas notícias com informações densas, sobressaem as que
transmitem vida e esperança, compactuando com o lema que norteia o jornalismo da
TV Canção Nova, segundo os editores do telejornal em entrevista já citada neste
trabalho. É o caso das reportagens exibidas, respectivamente, nos dias 18 e 25 de
outubro: Mulher dá a luz em meio a um terremoto nas Filipinas e Igreja proporciona
meios para que dependentes químicos deixem o vício das drogas. Para Osvaldo
Luiz é um desafio não deixar de dar uma informação importante e, ao mesmo tempo,
não “ferir” a quem assiste ao telejornal.

A gente tem essa missão de não fazer com que as pessoas entrem num
desespero, temos que no final de um jornal sempre passar essa perspectiva
de esperança. Isso não quer dizer que nós vamos fazer um jornal cor-de-
rosa, um jornal distante da realidade. É importante que nós sejamos luz
numa sociedade que está violenta, com tantas pessoas que sofrem. A
nossa missão é bastante desafiadora.

24
“Expressão que designa o noticiário de fatos relevantes, densos e complexos. Oposto a soft news que se refere
a informações mais leves e amenas” (RABAÇA, 2001, p. 360).
55

Além da linha editorial que orienta o jornalismo da TV Canção Nova, as


fontes são elementos que contribuem para distinguir a produção da notícia no CN
Notícias dos diversos telejornais exibidos por outras emissoras de TV. Nesse
sentido, a discussão do próximo tópico tem a finalidade de verificar quais fontes
podem ser encontradas no objeto empírico desta pesquisa.

4.2 As fontes no CN Notícias


Na definição utilizada por Aldo Antônio Schmitz (2011, p. 9), fontes “são
pessoas, organizações, grupos sociais ou referências de quem os jornalistas obtêm
informações para transmitir ao público, por meio de uma mídia”. Segundo o autor, as
fontes estão direta ou indiretamente envolvidas nos fatos e eventos noticiados, e são
“ora confiáveis e fidedignas, ora duvidosas” (SCHMITZ, 2011, p. 9). Para Traquina
(2005), as fontes estão, em muitos casos, ligadas a setores da atividade política,
econômica, social ou cultural, mas isso não quer dizer que outra pessoa que não
tenha ligação com essas áreas não possa servir como fonte de informação. De
acordo com Traquina (2005, p. 190), “a fonte é uma pessoa que o jornalista observa
ou entrevista e que fornece informações. Pode ser potencialmente qualquer pessoa
envolvida, conhecedora ou testemunha de determinado acontecimento ou assunto”.
Na visão de Pena, “a fonte de qualquer informação nada mais é do que a
subjetiva interpretação de um fato”, que exprime “sua cultura, sua linguagem, seus
preconceitos” (2008, p. 57). No entanto, ressalta o autor, existem pessoas
desinteressadas e dispostas a fornecer informações corretas e isentas. Wolf (1999)
classifica as fontes utilizadas pelos jornalistas em dois tipos: as oficiais e as
agências de notícias. As primeiras “estão ligadas a instituição de que são a
expressão” e, na maior parte dos casos, “não se dedicam exclusivamente a
produção de informação” (WOLF, 1999, p. 222). As agências de notícias, por outro
lado, “são empresas especializadas que executam um trabalho de confecção e
posterior divulgação das notícias para a imprensa” (WOLF, 1999, p. 222).
Pena utiliza uma classificação não muito distinta, porém mais abrangente.
Para ele, existem fontes independentes que “não têm nenhum vínculo direto com o
assunto” (2008, p. 62) abordado pela notícia ou reportagem; e fonte testemunhal
“que tem relação direta com o fato, sendo, portanto, sua testemunha” (PENA, 2008,
p. 64). Entretanto, lembra o autor, a fonte testemunhal nem sempre apresenta uma
exata e fiel representação do ocorrido.
56

Outra classificação de fonte, de acordo com Schmitz, é a institucional, que


na definição do autor:

É quem representa uma organização sem fins lucrativos ou grupo social.


Geralmente ostenta uma fé cega naquilo que defende, o que coloca sob
suspeita as informações que fornece, embora seja considerada espontânea
e desvinculada de qualquer interesse próprio. Normalmente, busca a mídia
para sensibilizar e mobilizar o seu grupo social ou a sociedade como um
todo e o poder público, para defender uma causa social ou política, tendo os
meios de comunicação como parceiros. (SCHMITZ, 2011, p. 25)

No que tange às fontes presentes no CN Notícias, observou-se, por meio


das dez edições gravadas do telejornal, a presença dos cinco tipos de fontes
apresentados acima. No período pesquisado, foram observadas fontes oficiais nas
seguintes reportagens: Senado aprova projeto que proíbe escolas de colocarem
materiais de uso coletivo nas listas escolares, veiculada em 16 de outubro. Na
reportagem, a senadora Ana Rita (PT/RS) aparece como fonte oficial por ser a
autora do projeto de lei. Na edição do dia 17 de outubro há outro exemplo: Pesquisa
do Ministério da Justiça aponta o perfil das vítimas do tráfico de pessoas. Na
matéria, a fonte oficial é o ministro da justiça, José Eduardo Cardoso, por se tratar
do representante maior do órgão ligado ao Estado, do qual se trata a reportagem.
As fontes testemunhais foram identificadas nas reportagens: Em São Paulo,
hospital referência em ortopedia amanhece com as portas fechadas, que foi ao ar
em 14 de outubro. A matéria exibe entrevistas com pessoas que procuravam
atendimento no hospital, mas foram surpreendidas com a suspensão dos serviços
naquele dia, sem aviso prévio. Na reportagem Papa Francisco envia carta a jovens
brasileiros, exibida em 17 de outubro, o telejornal conversou com um desses jovens
que recebeu o agradecimento do líder religioso pela recepção no Rio de Janeiro,
durante a Jornada Mundial da Juventude. Além disso, no jornalismo da TV Canção
Nova é comum a identificação de fontes testemunhais em matérias que mostram a
cura de enfermidades e a superação de dificuldades, mediante a intercessão de
santos católicos: Santuário de Confins, em Minas Gerais, celebra veneração a
Maria, Mãe Rainha de Schoenstatt, veiculada no dia 21 de outubro, e Igreja celebra
festa de Santa Edivirgens, padroeira dos endividados, exibida em 16 de outubro.
As fontes independentes estão presentes nas duas reportagens
exemplificadas abaixo, que foram ao ar nos respectivos dias 16 e 17 de outubro: No
Rio de Janeiro, manifestação de professores terminou em confronto entre policiais e
57

baderneiros. A reportagem ouviu transeuntes que se disseram assustados com a


situação de desordem que o protesto ocasionou à cidade. O gás de cozinha está
mais caro em cinco estados brasileiros é outro exemplo de reportagem com fonte
independente. A matéria traz a opinião de quem foi prejudicado com a elevação do
preço do produto.
Como já mencionado neste trabalho, é recorrente no CN Notícias a
utilização de informações das agências de notícia para a produção de material
jornalístico. Exemplos assim são verificados nas seguintes notícias: Incêndio no
Porto de Santos destruiu armazéns da maior exportadora de açúcar do Brasil, no dia
17 de outubro. A nota dada pelo apresentador é coberta com imagens da Agência
Reuters. Na Áustria, um show de coragem e de aventuras espetaculares abre a
temporada anual de esportes na neve, no dia 14 de outubro. A matéria com
narração de um dos repórteres da emissora é coberta com imagens da Agência
Reuters.
As fontes institucionais são, frequentemente, utilizadas no CN Notícias, as
quais são, geralmente, autoridades ou representantes da Igreja que trazem o
posicionamento da mesma a respeito de determinada questão ou ainda algum
evento ou campanha proporcionada pela instituição religiosa. É o caso, por exemplo,
da entrevista exibida em 21 de outubro com o padre Vladimir Porreca, assessor da
Comissão para a Vida e a Família da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), em que o sacerdote fala sobre o Dia Nacional de Valorização da Família,
com o objetivo de despertar a atenção do Governo e da sociedade para o papel das
famílias nos dias de hoje, segundo a doutrina cristã-católica. A entrevista com o
arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Pedro Scherer, sobre a Campanha Mundial de
Combate a Fome, que foi ao ar em 21 de outubro é outro exemplo. As mensagens
proferidas pelo Papa nas catequeses todos os domingos e quartas-feiras são
também fontes institucionais em destaque no jornalístico da TV Canção Nova.
Com esta breve análise a respeito das fontes utilizadas para a construção
dos formatos do gênero informativo no CN Notícias e identificá-las com base nos
critérios estabelecidos pelos autores Wolf (1999), Traquina (2005), Pena (2008) e
Schimtz (2011) foi possível observar que as fontes presentes nas matérias do
jornalístico são comuns àquelas acessadas pelos telejornais não católicos, com
exceção das fontes específicas de que se valem as matérias de cunho católico
verificadas nas dez edições analisadas.
58

4.3 Os valores-notícia no CN Notícias


A análise e descrição dos valores-notícia a seguir foram feitas utilizando o
método análise de conteúdo dos formatos do gênero informativo presentes no CN
Notícias. Rememorando, o principal informativo da TV Canção Nova é exibido de
segunda a sexta-feira, às 19h, com duração de meia hora. Nas dez edições
pesquisadas foram encontradas 67 reportagens, 50 notícias, 48 notas peladas, 14
notas cobertas, sete entrevistas e quatro stand up25. Um total de 190 matérias nas
duas semanas de pesquisa. O quadro abaixo mostra os formatos que compõem o
gênero informativo, segundo Marques de Melo (2003), com exceção do stand up,
que, neste trabalho, é definido por Yorke (1998).

Formatos do gênero informativo no CN Notícias


Entrevista Stand up
2%
Nota coberta 4%
7%

Reportagem
35%
Nota pelada
25%

Notícia
27%

A identificação dos valores-notícia foi baseada em bibliografia sobre o


mesmo assunto, já referenciada neste trabalho no capítulo anterior, a partir de
estudos produzidos por Wolf (1999), Traquina (2008) e Jorge (2010). Assim sendo,
no período pesquisado foram identificados 19 critérios (ver quadro abaixo) que
determinam o valor de uma notícia, os quais serão descritos e analisados de forma

25
“Consiste numa comunicação direta com a câmera e por meio dela com o público. [...] Considerado uma das
técnicas fundamentais da reportagem de televisão, o stand up estabelece a presença do repórter no local; não
requer muito tempo; e é versátil, pois pode ser usado como único recurso na transmissão da notícia” (YORKE,
1998, p. 87).
59

aleatória, de acordo com os teóricos já mencionados. Dessa amostra, foi observado


que os critérios significância, atualidade, notoriedade e personalização foram os
mais comuns nas edições estudadas. Por outro lado, histórias de interesse humano
aparece como o critério menos utilizado pelo telejornal. É importante ressaltar ainda
que cada formato do gênero informativo analisado foi classificado com mais de um
valor-notícia, salvo algumas poucas exceções.
Na observação dos resultados, um dado causou surpresa. Dos 190 produtos
noticiosos veiculados nos dias em que foram gravados os programas, somente 42
deles referiram-se a Igreja Católica, o que representa um percentual de 22,10% dos
formatos do gênero informativo que compõem o CN Notícias. As 148 matérias
restantes, que correspondem a 77,90% da amostragem, dizem respeito ao contexto
social, político e econômico brasileiro e internacional. Além disso, o telejornal, no
período analisado, abordou assuntos referentes ao Papa Francisco em 19 produtos
noticiosos dos 42 citados acima. Abaixo, os valores-notícia encontrados na pesquisa
divididos por autores, seguido do percentual com que o mesmo foi identificado.
60

Valores-notícia
 Visibilidade do fato; *
Wolf (1999)  Peso das organizações econômicas; *
 História de interesse humano; *
*Estes valores-notícia foram discutidos por
Wolf, porém, os conceitos são de Golding e  Negatividade; *
Elliott (1979), conforme texto de Wolf  Impacto sobre a nação.
(1999).

Percentual de valores-notícia obtido na pesquisa segundo critérios de Wolf


(1999)

25
História de interesse
humano
20
Impacto sobre a
nação
15
Peso das
organizações
econômicas
10
Visibilidade do fato

5
Negatividade

0
61

Valores-notícia
 Significância; *
 Continuidade; *
 Morte;
 Amplitude; *
Traquina (2008)  Novidade;
 Referência a nações de elite;*
 Inesperado; *
*Estes valores-notícia foram discutidos por Traquina,  Conflito;
porém, os conceitos são de Galtung e Ruge (1965),  Dramatização;
conforme texto de Traquina (2008).  Personalização.

Percentual de valores-notícia obtido na pesquisa segundo critérios de


Traquina (2008)

100

90
Dramatização
80
Conflito
70 Inesperado
60 Referência a nações de elite
Novidade
50
Amplitude
40 Morte
30 Continuidade
Personalização
20
Significância
10

0
62

Valores-notícia
 Atualidade
Jorge (2010)  Notoriedade
 Proximidade
 Mistério

Percentual de valores-notícia obtido na pesquisa segundo critérios de Jorge


(2010)

80

70

60

50 Proximidade
Mistério
40
Notoriedade
30 Atualidade

20

10

0
63

A seguir propõe-se discutir sobre cada valor-noticia observado na análise,


acima demonstrada, buscando exemplificar cada critério com cabeças de matérias
que compõem o material investigado.
Os números obtidos nesta pesquisa revelam que o critério significância
aparece em 96,84% dos formatos do gênero informativo. Tem-se como exemplo a
seguinte cabeça O tradicional pãozinho francês está mais caro, veiculada em 22 de
outubro. A reportagem mostra que o preço do quilo do pão chega a R$ 12,00 em
algumas regiões do país, devido ao reajuste no valor do trigo que está em falta no
Brasil. O valor-notícia identificado nas reportagens que se enquadram neste critério
“responde à preocupação de informar ao público dos acontecimentos que são
importantes, porque têm um impacto sobre a vida das pessoas” (TRAQUINA, 2008,
p. 80). Vale ressaltar ainda que parte da amostragem referente ao critério
significância diz respeito a assuntos e eventos de importância para a Igreja Católica,
a exemplo da reportagem Nove santuários marianos de todo o mundo participaram,
simultaneamente, da oração do terço com o Papa Francisco, exibida em 14 de
outubro. Entre os santuários estava o de Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida
do Norte, interior de São Paulo.
A atualidade figura entre os critérios mais importantes e utilizados pelo CN
Notícias. O critério, identificado em 75,26% dos formatos do gênero informativo
veiculados nesses dez dias em que o jornalístico foi acompanhado, é predominante
no jornalismo em geral, haja vista se tratar de notícias quentes, com base em
informações do dia anterior ou do mesmo dia da edição, o que atrai o telespectador
por ser tão recente. É o que se nota, por exemplo, em Naufrágio de uma
embarcação deixa uma pessoa morta e um casal ferido na Bahia de Guanabara, no
Rio de Janeiro, que foi ao ar em 14 de outubro. O fato ocorreu no início da manhã do
mesmo dia em que foi notícia no telejornal. Um outro exemplo em que se utilizou o
critério atualidade foi exibido nessa mesma edição: Depois de 23 dias parados, os
bancários resolveram voltar ao trabalho. A reportagem mostra as agências bancárias
da capital paulista lotadas e funcionando normalmente, além de ter ouvido populares
sobre os prejuízos ocasionados pela greve.
O valor-notícia notoriedade se destaca na pesquisa com 28,94% dos
formatos do gênero informativo utilizados pelo CN Notícias. Encaixam-se nesse
critério, assuntos referentes a personalidades políticas, celebridades, ou seja, que
diz respeito às pessoas da elite social, instituições governamentais e/ou ao nível
64

hierárquico dos indivíduos envolvidos no acontecimento. É o caso da notícia Papa


Francisco decide afastar bispo alemão temporariamente, veiculada em 23 de
outubro. Dom Franz-Peter Tebartz-van Elst, de 53 anos, foi retirado de seu ministério
devido aos gastos excessivos e ao estilo luxuoso que o caracterizava. A presidente
Dilma Rouseff também foi notícia em quase todas as edições analisadas: Em
cerimônia no Palácio do Planalto, a presidente Dilma sancionou hoje a lei do
Programa Mais Médicos, exibida em 22 de outubro. Com o mesmo critério, ganhou
espaço no noticiário, nessa mesma edição, a seguinte notícia: O ministério Público
do Rio denunciou hoje outros 15 policiais militares por envolvimento na tortura e
morte do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza.
O quarto valor-notícia mais comum nos dias pesquisados foi a
personalização, que esteve presente em 25,26% do material jornalístico analisado.
Na ótica de Traquina (2008), a personalização é um critério importante para
conquistar audiência, tendo em vista que as pessoas se interessam por outras
pessoas. Segundo o autor, personalizar “é valorizar as pessoas envolvidas no
acontecimento” (2008, p. 92). Entre os vários exemplos desse critério no CN
Notícias, um deles foi veiculado em 16 de outubro: Com discursos simples, fortes e
corajosos, o Papa Francisco tem chamado à atenção de cristãos e não cristãos. A
reportagem se apoia em uma pesquisa realizada pela Universidade Católica de
Milão para comprovar a popularidade do Pontífice. Conforme este levantamento,
86% dos jovens apreciam o empenho do novo Papa pelos pobres. Além disso, a
pesquisa mostra também que 84% da juventude partilham das palavras do líder
católico em favor da paz.
Esta investigação sobre o CN Notícias revelou que o valor-notícia
negatividade esteve presente em 19,47% dos produtos noticiosos. Segundo
Traquina (2008), esse critério está relacionado ao desvio da norma, à ruptura na
ordem social, à violação e à transgressão das regras. Assim sendo, insere-se nesse
critério a seguinte matéria, que foi ao ar em 18 de outubro: Operação realizada pela
polícia, no Rio de Janeiro, para combater fraudes no DETRAN, prendeu hoje 88
pessoas em 17 cidades. Na operação foram presos funcionários do DETRAN,
policiais militares e despachantes, por crimes como corrupção ativa e falsificação de
documentos.
O valor-notícia visibilidade do fato aparece dentro do universo estudado com
10,52% de presença. Tal critério é verificado na matéria Campanha de
65

amamentação nas Filipinas reúne cerca de 300 mulheres, veiculada em 24 de


outubro. A nota coberta com imagens informa que a atividade visou conscientizar as
mães sobre a nutrição adequada para crianças. De acordo com informações da
nota, 16 mil crianças ainda sofrem desnutrição no país. Na China, uma corrida de
camelos reuniu mais de mil animais e entrou para o livro dos recordes mundiais é
também um exemplo desse critério, que foi ao ar em 22 de outubro, devido à
curiosidade do fato e ao resultado que obteve. A competição teve um trajeto de
cinco quilômetros e durou cerca de três horas.
O valor-notícia continuidade também é enumerado no levantamento com
8,94% de uso. Esse critério dá continuação a um fato que ganhou repercussão como
notícia. É o caso de Incêndio florestal em Nova Gales do Sul, na Austrália, atingiu o
equivalente a 120 mil campos de futebol. Duas pessoas morreram, veiculada em 25
de outubro. O acontecimento foi noticiado pela primeira vez no CN Notícias em 17
de outubro e, desde então, ganhou repercussão em todas as edições seguintes, até
o encerramento desta pesquisa.
Conforme o estudo, o valor-notícia morte aparece com percentual de 6,84%.
De acordo com Traquina (2008, p. 79), “onde há morte, há jornalistas”. Entretanto,
diferente de grande parte dos noticiários de televisão e do jornalismo como um todo,
no telejornal analisado, a morte, com exceção de uma única notícia já mencionada
anteriormente neste trabalho, não é ocasionada como consequência da violência,
mas em decorrência dos acontecimentos naturais como terremotos, incêndios e
tempestades. É exemplo desse critério a notícia exibida em 16 de outubro: Subiu
para 144 o número de mortos nas Filipinas por causa do terremoto que atingiu o
país ontem.
Com 6,31% de frequência no CN Notícias, o valor-notícia amplitude refere-
se à magnitude, à abrangência do evento ou acontecimento e à quantidade de
pessoas atingidas. Nesse critério, encaixa-se a reportagem, que traz como cabeça
Mais de sete milhões de estudantes vão fazer a prova do Exame Nacional do Ensino
Médio (ENEM) neste fim de semana, veiculada em 25 de outubro. Criada em 1998,
a prova que avalia o desempenho de estudantes do Ensino Médio bateu o recorde
de inscritos neste ano.
Presente em todas as edições pesquisadas, o valor-notícia peso das
organizações econômicas foi utilizado também em 6,31% do universo pesquisado, o
que significa dizer que nas dez edições do CN Notícias observou-se que 12 matérias
66

adotaram este critério por ser a economia o centro propulsor de produção,


distribuição e consumo do país. Os produtos noticiosos identificados com este
critério, salvo duas exceções, trataram-se, nos dias pesquisados, da cotação
econômica da Bolsa de Valores do Estado de São Paulo (BOVESPA) e de moedas
internacionais.
Tal como identificado por Traquina (2008, p. 81), “para os jornalistas, uma
questão central é precisamente o que há de novo”. Dessa forma, a novidade é o
valor-notícia que aparece em 5,78% dos formatos do gênero informativo analisados.
A reportagem exibida em 22 de outubro sobre uma feira tecnológica em São Paulo é
um exemplo desse critério: Feira de Tecnologia traz projetos de escolas e
faculdades técnicas que mostram soluções simples e baratas para problemas do
cotidiano. Entre os 256 projetos inovadores, a reportagem mostra uma impressora
3D, um carrinho que automatiza o tratamento de quimioterapia e um bastão
automatizado com luzes e som para facilitar a vida de pessoas com deficiência
visual.
Outro valor-notícia observado nesta pesquisa é a referência a nações de
elite, que aparece em 5,26% dos produtos noticiosos. Referenciando Galtung e
Ruge, Wolf (1999, p. 201) considera que “quanto mais o acontecimento disser
respeito aos países de elite, tanto mais provável se transformará em notícia”. Em
todas as edições analisadas, o CN Notícias deu espaço a informações sobre nações
importantes para a política e a economia mundial. Os Estados Unidos, por exemplo,
maior potência mundial da atualidade, foram notícia em quase todas as edições. É o
caso de Acusações da França e da Alemanha sobre espionagem dos Estados
Unidos está entre os assuntos da Cúpula Europeia que começou hoje em Bruxelas,
veiculada em 24 de outubro.
Outro critério de noticiabilidade é o inesperado. Esse valor-notícia foi
verificado em apenas 3,15% dos formatos do gênero informativo. O inesperado é, de
acordo com Traquina (2008, p. 84), “aquilo que irrompe e que surpreende a
expectativa da comunidade jornalística, ou seja, um acontecimento com enorme
noticiabilidade que subverte a rotina e provoca um caos na sala de redação”. É
exemplo desse critério, no período pesquisado, a seguinte notícia que foi ao ar em
24 de outubro: Explosão na casa das máquinas no Ministério das Comunicações e
dos Transportes, em Brasília, gerou pânico no fim da tarde.
67

Segundo esta análise, o valor-notícia mistério aparece em menor escala,


com 2,63% de frequência, se comparado aos critérios já citados anteriormente.
Entende-se por mistério o que é incomum, raro, isto é, que irrompe com a
normalidade, com a lógica natural das coisas. Esse critério foi observado na
reportagem Cisto gigante foi retirado do umbigo de uma paciente no Hospital das
Clínicas, em São Paulo, exibida no dia 23 de outubro. A cirurgia inédita no Brasil
retirou do umbigo da mulher um cisto do tamanho de duas melancias de sete quilos
cada.
Identificado em 2,10% dos produtos noticiosos veiculados pelo CN Notícias
no período pesquisado, o valor-notícia proximidade, como já discutido neste trabalho
por Jorge (2010), abarca acontecimentos que são próximos cultural e
geograficamente ao público a que se destina. No caso desta pesquisa, a notícia
escolhida para exemplificar esse critério deve-se ao fato de o acontecimento ser
próximo da sede da TV Canção Nova, onde se concentra o maior número de
repórteres da emissora. Em Guaratinguetá, no interior de São Paulo, uma estátua de
Frei Galvão será levada ao santuário dedicado ao primeiro santo brasileiro foi ao ar
em 15 de outubro.
O valor-notícia conflito aparece em 1,57% dos formatos do gênero
informativo presentes no CN Notícias. Segundo Traquina (2008, p. 84), esse critério
envolve a violência seja física ou simbólica “que fornece mais noticiabilidade e ilustra
de novo como os critérios de noticiabilidade, muitas vezes, exemplificam a
importância da quebra do normal”. É o caso, por exemplo, da reportagem sobre
manifestação no Rio de Janeiro que acabou em conflito entre policiais e
manifestantes, exibida em 21 de outubro. Contrários à realização do leilão de Libra,
manifestantes tomaram as ruas da Barra da Tijuca. A Força Nacional de Segurança
foi acionada. A confusão começou devido à presença de mascarados entre os
manifestantes. Policiais usaram bombas de gás lacrimogênio para dispersar o grupo,
que revidou com ataques de pedras.
A dramatização é o valor-notícia presente em 1,57% das matérias
veiculadas pelo CN Notícias no período analisado. Como o próprio nome já diz, esse
critério é detectado em notícias que exploram o drama vivido por pessoas, o lado
emocional da situação que é mostrada. Enquadra-se nesse critério, a notícia
veiculada no dia 25 de outubro sobre a imigração no mediterrâneo: É grande a
quantidade de pessoas que buscam recomeçar a vida em outros países. O texto
68

dessa matéria reforça ainda mais o caráter dramático da situação vivida pelos
imigrantes, “[...] todos os dias, o mar mediterrâneo é testemunha da agonia de
dezenas de famílias. São pessoas que deixam sua pátria em guerra para enfrentar
as ondas da madrugada numa travessia perigosa e que nem sempre é completada”.
Assim como a dramatização e o conflito, o valor-notícia impacto sobre a
nação é verificado em 1,57% do universo pesquisado. Conforme Wolf (1999, p.
2002), esse critério está relacionado “a capacidade de influir ou de incidir no
interesse do país”. As notícias com esse critério são de interesse nacional, em razão
das consequências que carregam. Além disso, notícias sobre o país são mais
interessantes por serem mais próximas do público a que se destinam
preferencialmente. Segundo a pesquisa, no CN Notícias apenas três matérias
carregam esse critério nos dias analisados. Uma delas foi exibida na edição de 25
de outubro: Reportagem da agência de notícias Reuters alerta sobre a insegurança
e possíveis ataques de facções criminosas durante a Copa do Mundo de 2014 no
Brasil. De acordo com informações da notícia, os ataques serão praticados pelo
Primeiro Comando da Capital (PCC), se caso os líderes dessas facções criminosas
forem transferidos para presídios de segurança máxima do país.
Um último valor-notícia identificado na pesquisa diz respeito às histórias de
interesse humano. Esse critério aparece em apenas 1,05% dos produtos noticiosos.
É o caso da reportagem Igreja proporciona meios para que pessoas abandonem
vícios das drogas, que foi ao ar em 25 de outubro. A reportagem contou a história
de pessoas que, por muito tempo, lutaram contra o vício das drogas e encontraram
na Pastoral da Sobriedade, movimento que pertence a Igreja Católica, o apoio para
recomeçar a vida.
Assim, conclui-se nesta pesquisa a análise de conteúdo referente aos
valores-notícia utilizados como critérios de noticiabilidade no CN Notícias, veiculado
pela TV Canção Nova, no período de 14 a 18 e 21 a 25 de outubro de 2013. Para
chegar a esses dados, as 190 matérias veiculadas durante este período foram
observadas criteriosamente, contudo, ressalta-se novamente que, neste último
momento da análise, apenas algumas cabeças foram mencionadas para
exemplificar cada um dos 19 critérios identificados nestas dez edições analisadas.
69

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A realização deste trabalho de conclusão de curso teve como foco


identificar, por meio do método da análise de conteúdo, os valores-notícia mais
frequentes no telejornal CN Notícias, objeto empírico deste estudo. Para tanto, foram
analisadas dez edições do jornalístico, o que também permitiu investigar a linha
editorial adotada pelo mesmo, bem como averiguar as fontes utilizadas nas matérias
veiculadas, que se enquadram no gênero informativo. Ademais, por se tratar de um
noticiário vinculado à Igreja Católica, abordou-se ainda a orientação da referida
instituição para veículos de comunicação católicos.
Para chegar a esta análise, a presente pesquisa trouxe uma breve
contextualização histórica do telejornalismo no Brasil enfocando os principais
noticiários que contribuíram e ainda contribuem para os formatos do telejornalismo
atual. Posteriormente, traçou-se um panorama das emissoras de TV católicas,
nacionais, no intuito de justificar a escolha pela TV Canção Nova, onde está alocado
o objeto de estudo deste trabalho. Além disso, discutiu-se sobre os processos de
produção de um telejornal com o objetivo de trazer à tona as particularidades do
jornalismo de TV, a fim de entender melhor o telejornal estudado. Somados a isso,
teceu-se teorização a respeito dos critérios de noticiabilidade para embasar, mais
precisamente, a análise do material.
Antes de iniciar esta investigação foram levantadas duas hipóteses: a
primeira de que o CN Notícias adotaria como prioridade as notícias relacionadas à
Igreja e seu posicionamento sobre esses acontecimentos, e a segunda, de que
dedicaria pouco espaço para a cobertura de ocorrências sobre violência e tragédias,
com exceção dos fatos internacionais que advêm de agências de notícias. A partir
da análise do conteúdo veiculado chegou-se ao resultado de que dos 190 produtos
noticiosos exibidos nas duas semanas de pesquisa, apenas 42 deles abordaram
algum assunto referente à Igreja Católica, o que equivale a 22,10%, do universo
pesquisado. As 148 matérias restantes, que correspondem a 77,90% da
amostragem, narram sobre o contexto social, político e econômico brasileiro e
internacional. Por o telejornal se apresentar como um porta-voz dos interesses da
instituição religiosa e do seu líder, o Papa, causou surpresa de a primeira hipótese
não ser comprovada, nesse período. Mesmo com tal constatação pode-se dizer que,
ainda assim, o noticiário prioriza os acontecimentos que dizem respeito à Igreja, se
70

comparado a outros telejornais transmitidos por emissoras não católicas. Observa-se


ainda que, a linguagem jornalística utilizada nas 148 matérias que compõem o
universo narrativo sócio-político e econômico brasileiro e internacional, já
mencionados, compactua com a linha editorial do jornalístico. Já a segunda hipótese
foi comprovada ao verificar que de fato no telejornal pouco espaço é destinado a
notícias que envolvam a violência humana. Nas edições analisadas somente uma
notícia com mortes foi ao ar, e relatava um acontecimento internacional.
Tomando por base as discussões sobre os critérios de noticiabilidade foi
possível identificar, nas edições averiguadas, que as matérias que as compõem se
enquadram em 19 valores-notícia. Para demonstrar o percentual de matérias
referentes a cada valor-notícia optou-se por expor os dados quantitativos em
gráficos, sendo que cada gráfico corresponde aos valores-notícia teorizados por
autores específicos. O mesmo procedimento foi empregado de acordo com a
classificação dos formatos do gênero informativo, também demonstrados em um
gráfico que aponta a quantidade de matérias pertencentes a cada subgênero.
Cabe aqui destacar alguns valores-notícia que podem ser evidenciados por
meio da análise realizada. Entre a enorme quantidade de acontecimentos diários, o
CN Notícias dá preferência a fatos significativos e atuais, considerando que a
significância e a atualidade foram os valores-notícia mais detectados nos produtos
noticiosos, 96,84% e 75,26% respectivamente. Por sua vez, a notoriedade e a
personalização aparecem em terceiro e quarto lugar entre os valores-notícia mais
comuns no jornalístico, devido à importância dada pelo noticiário, por exemplo, a
personalidades como o Papa Francisco e a presidente Dilma Rousseff, que foram
notícia em quase todas as edições.
O percentual expressivo do valor-notícia negatividade, que ganhou o quinto
lugar na pesquisa, chamou atenção porque, à primeira vista, pensava-se que
acontecimentos com esse critério tivessem pouco destaque no telejornal que se diz
“a serviço da vida e da esperança”. Por fim, outro critério que merece evidência é
histórias de interesse humano, que teve 1,05% de frequência, o que quer dizer que
das 190 matérias, duas foram classificadas com este valor-notícia. Apesar de não ter
uma hipótese a este respeito acreditava-se, a princípio, que este critério seria mais
utilizado pelo telejornal, levando em conta as orientações expressas nos
documentos que norteiam a comunicação católica, mencionados no segundo
capítulo.
71

Diante dessas constatações conclui-se este trabalho de pesquisa


considerando que este objeto de estudo e as questões abordadas, que o envolvem,
continuam com possibilidades investigativas em aberto, tendo em vista o
crescimento do jornalismo feito por emissoras ligadas a grupos religiosos e o
reconhecimento delas junto ao público.
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ANEXOS
78

Anexo 1 – DVD com as dez edições do CN Notícias analisadas para este trabalho.
79

Anexo 2 – DVD com a entrevista com os editores do CN Notícias cedida ao programa Trocando
Ideias da TV Canção Nova, exibido em 24 de setembro de 2013.

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