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fomparivel com a realidade existente no mercado dg implica investimentos sigr de ensino, Mesmo assim, os dados do MEC ™mostram, tas dessas faculdades foram abertas. Isso se explica que os gastos relativany cursos have sados com a quantidade de alunos m; anos 1990 e inicio deste século a rela de que as escolas apostavam com a infraestrucura desses iam de sep! atriculados. No, 140 cai Os vestibulares de comunicagio social nas univers fais era uma das maiores entre todas as carreras espago com cursos tradicion, nota de corte* era alta, sel tados p ais, como medicina, Alémy ‘cionando alunos mais bem para o teste. Nesse cenétio, muitos estudanteg ingressavam no ensino superior piiblico acabav vaga nas escolas privadas. /am pr 5:1. Posisdes e opinides sobre a formacio do jomalis © crescimento exponencial lismo chamou a atengo de atores sociais preocupados! formacio desse profissional. As manifescacies malig nentes em defesa da qualidade da formagdo e conte ‘ura indiscriminada de faculdades foram provenientad| ica e do meio sindical: os primeiros, embasad ntos pedagégicos, e os segundos, dos, também, coma situagao do mercado de trabalho pO do excesso de oferta de mao de obra Eniretanto, as preocupagdes das entidades de rep Profissional ndo se estringiram a questdes relativas a 60 ta, emprego, saldtios e condigdes de trabalho, Conform de cursos superiores de tudo em argumen le corte” separa 0s aprovador ereprovaded fil fa Pode vriar de curso para cursa ede ano para ano, Oreonedatal feo as\ag3s dspontessucessiamente segundo o descopenho a al Para Ficar entre os primeiroscolocados no vestibule de pedal do que 85% da nota. Matos tornandoa concorénca aciadace, des chances dees icativos por parte das ing monstrat, as aspiragdes desse grupo de jorna Ipsisido™ muito conectadas com as Brasil sempre estiveram as "° Bee ic jorvalismo, passando pelas discussbes cur. —— rls = eae incerferénc ™ onsideradas como: ecionais de modo algum podem serconsiderad pas professores © pes BoxE que do po Be muitos atores sociais transita e abriga a dupla Henidade de muitos 3 feondiciodeeng Berio in corso ambton pode fier pare dealguma ie coqaamea concorey Bet deoraisas do seu Estado ou cidade lem de poder questio da obrigatoriedade do diploma, ae mporineo de explosao do ensino superio as dos sindicatos e da Fenaj nos assuntos e intrusive no ambito do ensino, embora nto de vista da realidade coridiana nao existe as duas esferas, j4 que a ado sindicale professor universirio.O mesmo mm momento, pode estar na sala de aula ou Be nae hs caso ncn ne sacs pep Un iesmo individuo poce manejar todos eles sem se sentir des fonfortivel com isso, da mesma forma que o grupo dos jorna listas pode abrigar heterogencidades sem que isso signifique Bis fragmentacio definitiva. Os processos identitarios equi Balem a uma amalgama de componentes distintos, que sob Bettas concicies de temperatura e pressio reagem ou deixam ME reagir entre si Nese sentido, a atuacdo dos subgrupos #EStx0 do campo joralistco pode se rornar mais ou menos Blinhada em corno de inceresses e crengas especificos ou em Paitde das conexes ou afastamentos entre os agentes acerca #Equestses eclementos da construgio identitara AS formacacdes do campo dependem dos modos como se PeuPam ou se repelem diferentes arores sociais dentro daque: Beets, alem de rer relagio com o magnetisimo com seus Bi ir0s do que outros, e vale perceber que tais movimentos BRO corre zinhos, Ha aproximacdes e afastamentos que sao mais Dor meto acaso, mas por razées circunstanciais, as quais envolvem, em maior ou menor grau, as podem estar relacionados tanto com os préprios a interesses, suas estratégias politicas, seus objetivos sfo a certas imagens, suas crencas, seus valores, seus te poder) quanto com conjuncuras intemnas e externas a9 ¢ Tropismos desse tipo podem ser vetificados em r discussdes sobre a qualidade da formagio para jorn Brasil, Em 1997, diferentes associages do meio ui assinaram, juntamente com a Fenaj, um documento ef foram sistematizadas orientagdes para o ensino de jon no pais. Algumas dessas sugestdes, segundo a propria chegaram a ser aproveitadas na “Proposta de Diretriagg riculares da Area de Comunicasio e Habilitagoes Bi documento no qual o MEC se embasou para defini trizes curriculares de 2001 (Fenaj, 2008). Esse docume teor plural (expresso pela assinatuta de varias org foi chamado “Programa Nacional de Estimulo a Quali Formacio em Jornalismo” Além da Fenaj, as outras institui Associagao Brasileira de Escolas de Comunicagio (Ab Associagio Nacional de Programas de Pés-Gradk Comunicaséo (Compés), a Executiva Nacional dos tes de Comunicagdo (Enecos) e a Sociedade Brasi Estudos Interdisciplinares da Comunicacio (Intercom) tanto, a Fenaj foi a nica que manteve alto grau de ateng documento, posteriormente acolhendo-o sob seus enquanto os outros signatérios esqueceram-no dest © episddio & um dos muitos fats relacionados com o contest da ade da década de 1990, quando o curcuio minimo de 1984 ainda mas © MEC se preparaia para a implaneagao de dretries cure ‘essa época,organizagoes de ensino, de pesquisa, 0 movimento esti sindicaros dejornaitas euniam-se em tomo das discusses sobre a formagao superior em comunicagio. Moura (2002) lembra que em 1995 | Seminéio pela Quaidade de Ensino, evento que deu ongem 20 MO "Nacional pela Qualidade do Ensina em Comunicagso, que reunia 0 i 4d documento apresentado pela Fena. Cada um desses atores real ‘modo eem sua esfera de atuagao, aguas discusses proposes Pal ‘aslo univesitria nessa drea, mas, eonforme tambem nota Mow (208 Jornaitas fram os que mais se envoheram nas discusses Ce otidade nao foi 56 a guards do documento : yeinuo de Bie, Assim, em eventos da Fenaj, como Congreso jonas. AS ie seu Departamento de Educagio e Assuntos stas, em 2002, além de dois Biss Extraordinario dos Jornalistas, ' eo at lizagio Jo Programa Naina de Eno dade da Formagio em Jornalismo, foram promovidas Ns reformulagdes e acréscimos de novos conteidos 30 8 posteriores, nao houve form, nesses momentos posteriores, on Maina do sculo XX para 0 XX, Comps, principal 12 gestio de 2005 a 2007, ja nao comungava com o Mile defomarto dos joralistasdefendido pela ena faquele periodo, ganhavam impulsoe visibilidade as tentativas « professores, pesquisadores e jornalistas em fancar reconhecimento do jornalismo como campo especi code conhecimento - e, segundo alguns defensores, conhe fico. O incémodo gerado por esse ponto de vista politico, e nao apenas epistemoldgico, jé que aria a possibilidade de o jornalismo ganhar um nicho Réprio (Comunicacio, embora dentro da grande area de Cién- Sociais Aplicadas) na tabela classificatéria utilizada pela Na opinido da Compés, isso representaria fragmenta- eenfraquecimento da area ~ Entio, se cm 1997 as duas associagdes (Fenaj e Compés) ima assinar conjuntamente um documento, posterior -vietam a se posicionar de modo bem discrepante acerca satus do jornalismo dentro da Area de Comunicacio, o que macio do jornalisa. Precisamente em 2009 essa discor hea apareceu de modo explicito no documento da Compés © curso de jomalismo que foi entregue ao MEC na, uel ang Por uma comissdo de especialistas designada p: a ara tal (cy Que 0 pontay ‘om mais eas ‘mentagoes de especial relevo, entre as quais podemos citar a ctiagdo, em 2003, da Associacio Brasileira de Pesquie sadores em Jornalismo (SBPJor); em 2004, a insticuigao formal do Férum Nacional dé Professores de Jornalismo (ENP); em 2007, 0 inicio do funcionamento do primeiro mee trado em jornalismo na UFSC; ‘em 2009, a proposta d res para jornalismo separadamente da comunicaga0” A SBPJor, o FNP] e 0 mestrado em Santa Catarina forall concretizagdes de um grupo de atores sociais que vinhams cer ra atuaslo ae empenhando em defender uma auconomi — demica do joralismo. A proposta de diretrizes curticWee também reverberou tais desejos, mas se consrituiu em 048 Forgas motrizes, que serdo analisadas em capitulo a parte entanto, dizer que o tinico propésito dessas entidades e trado em jornalismo se limita a criagio de um nicho fe autOnomo para o jornalismo em relagdo a comuni- féarriscado e redutor, pois ignora as complexidades das constitutivas e das contradigdes internas proprias lum deles. Certamente ha pesquisadores da SBPJor ou pres associados ao Férum que ali esto com o objetivo flgar suas pesquisas sobre jornalismo ou discutir com esas praticas de sala de aula, mas que nao necessitam fro jornalismo como ciéncia ou como campo de conhe- fo, ou Seja, concebem 0 jornalismo como um objeco de B da comunicacdo e nao vem nisso um problema. De ermodo, a despeito da diversidade de posigaes politicas jpantes de tais fendmenos, estes deixam sobressair 0 de um grupo que busca o apartamento do jornalismo de comunicacao, jentidades, porém, nao querem ser associadas a conota fvas que uma posicio separatista pode denotat, Nu somos”, a SBPJor’ se apresenta da seguinte forma: ciacdo Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo busca Bar etudiosos de ums res expecca do conhecentae tem como atuar em conunto com tds as demas asscagbecentfies ou cs ou profisionasjé existences [..], A entidade pretende imular a articulagdo de uma rede nacional de pesquisadores Gomalismo a fim de que se possa constiuir um lugar pre anto para a apresentacio de trabalhos quanto para a for lo deredes para pesquisas expe. (Grifos meus) Mentrevista a aurora deste livro, em 2009, o entao presi da SBPJor, Carlos Franciscato, também reiterou as pos- onexwes dos pesquisadores de jornalismo com a drea € des da comunicagio. Mas é interessante perceber nto o faz, cle sempre deixava cransparecer os obje- Hla fundacao da SBPJor como espaco destinado a fomen: representa apenas um tema a ser observado pelos pesquisa- does, mas reiine um conjunto de conhecimentos te6ricos que o Fundam como campo especifico de conhecimento com cariter ‘ou melhor, “teorias, no plural”, cuja sistematizacio contari ‘com a ajuda da sociedade. f partindo da defesa e salvaguarda desse posicionamento que ele justifica a relevancia epistemo- ogica da associacao. Sua fala aponta para um movimento de uta em favor da legitimagao académica por meio da defesa cientifico. No seu entender, existe uma teoria do jornalismo, de um arcabougo tedrico que vai sendo dialeticamente criado delimitado a partir dessa mesma luta. [2] Sommns trma conpunidade al pea enone et jorEeonc densa, ample, a0 mesmo tempo, dispersa em antdades impor tants. A SBPjrsaiu da Intercom, mas ndo s6.Até a propria ‘Compés, em 2000, fundamos um grupo de trabalho de estado de oralismo, Iso vio com certasressahas em relagio a ideia de uma. drea especfica de conhecimento do jomalismo. Hoje hi uma visio dominance na Compés que poe em divida a exstncia ate eee eae tee eee Compés sio exemplos de que a comunidade de estudo de jorna lismo € densa ever devirios anos. Ea gente comegou a perceber que 0 campo da comunicagio estava se expandindo a ponto de abrigarvérasdreas specifias. Eas dreasespecificas comesaram a olhar para dentro de sie perceber que o campo de comunica Go crescia por causa do crescimento desss dreas. O cinema € tim grande exemplo diss, ele deu uma ligio de como fazer sua autonomia enquanto subérea de conhecimento. ie {A SBPtor surge com a missio de agluinar esses pesquisadores que esto dspersce nos wirios espagoe de pesquisa para que padessem ter um esparo institucional de corverginci, Ela ndo surge rompendo espagos, ciando fronteras. Nao. O objetivo € (0s pesquisadoresterem didlogo constante. Eo papel da entidede & tans esa cmpo do jaan, rar eres pre us metre pare capa de comico a forge do cape de jal; que oe no fis dtspers,cpens come um objte, Queremos que 0 movimento sia omergente e que no processo de dscussiointema e no espaso insteucional possamos constr um corpo tdi - muita gente nfo gosta da expresso teorias do jomalsmo - para essa dreaespect fea de atuagdo que € 0 jomalismo, (Carlos Franciscato, presi dente da SBPJor, 2009, em entrevista & autora. Grifos meus) ‘A produgao de um corpo teérico que possa ser considerado especifico e exclusive ao jornalismo ~ e nao diretamente deri- vyado da comunicacao - & um dos modos pelos quais os pes- quisadores desse tema procuram delimitar um lugar para si ‘mesmos dentro da academia, Tendo em vista o recorte conjun- ‘tural sobre a realidade brasileira e tendo percebido as trajet6rias de consolidacao de instincias institucionais e epistemologicas relativas a ambos, considera-se que o primeiro constituiu stia identidade, até agora, muito mais como atividade profissional (cuja trajetéria inegavelmente passa pelas escolas, incluindo ‘ensino e pesquisa), e a segunda na qualidade de conhecimento académico (as figuras do comunic6logo ou comunicador social profissional nao vigoraram como identidades profissionais) Entretanto, no inicio do século XXI, os esforgos de deli- near um reconhecimento académico para o jornalismo tém se tornado mais ostensivos com a criasio de instituigées como 4 SBPJor e o Forum Nacional dos Professores de Jornalismo. O site do FNP", por sua ver, expressa intengBes que, a prin- cipio, nao o vinculam a qualquer tomada de posigao acerca da auronomizagio do jornalismo. Nao se menciona ou se insinua nenhuma vontade nesse sentido. Pelo contratio, na seco do site intitulada “Historico” relata-se sobre vinculos ‘com a maior entidade da comunicagio no pais, a Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicagio (Intercom), que, de certo modo, funcionou como uma espécie de incubadora do Forum. Mas nao é dificil perceber o alinhamento ideol6gico dessa organizacio com a Fenaj e com a SBPJor. Por ocasiao de dis- cussdes politicas, em 2004, 2005 e 2006", a relagao entre essas 410, Em “nsiucional” eem *Histérco”.Dispontve em: . Consultado em 16 de feverero de 2011 11. Como visto, expansio quantativa do ensno superior no Brasil estee loca lads no contesto do governo neoliberal de Ferando Henrique Cardoso (1995, 8 1998 « 1999 a 2002), tendo, também, continuado durante 0 govemo de Lula (2003 » 2006; 2007 a 2010), A busca por caminhos parandar com as consequen {as desse crescimento na stor prvado bem como as tentatnasconeretizadas na politica nacional de superar amas crises da unversidade pba fearam conhe das como “eforma unversitina” g tice entidades aparece de modo explicito em um documento sobre a chamada “reforma universitéria”, coassinado em abril de 2005. Em dezembro de 2004 o Ministério da Educacao entre. sgava & Casa Civil os parimetros para essa reforma, descritos no anteprojeto de Lei Organica da Educacao Superior. O tema foi encaminhado para debate no Congresso Nacional, mas, a0 fim € a0 cabo, 0 projeto de lei nio chegou a ser votado. De qualquer forma, midia e representantes da sociedade civil orga. nizada estiveram atentos a tais discussoes daquele momento. As entidades do campo jornalistico se mobilizaram, fazendo enconttos entre elas e escrevendo as suas “Contribuigdes de campo do jomnalismo ao debate sobre o anteprojeco de lei deed cago superior”, para serem entregues aos legisladores. Nesse documento, a SBPJor, a Fenaj e o FNP] buscavam agregar ques- tes especificas da formagao de jornalismo aquelas discusses de ambito nacional e geral. Em relagio a esse assunto, a Fenaj, a SBPJor e o FNPJ entre garam ao MEC dois documentos assinados conjuntamente (um em outubro de 2004, antes do anéincio formal do projeto da reforma universitaria pelo governo, e outro em 2005, apés a primeira versio do anteprojeto). De modo genérico, as orga nizagbes fizeram apelos para que 0 governo contivesse “acres: cente privatizagio do ensino superior brasileiro”, Também ‘manifestaram preocupagio quanto a chamada formagao con tinuada, seja por meio dos chamados “cursos sequenciais””, seja mediance “curso de estudos posteriores ao ensino médio ou equivalentes, que nao configurem graduagio” (apud FNP, Fenaj, SBPJor, 2005) De maneira mais pontual, o documento de 2005 dedicou alguns pardgrafos as “preocupagies especificas do campo do 42, AFenaj jase manfestara sobre o assuntoperante o ME durante o govern de Ferando Henrique Cardoso, denunciando um eueo sequencal de joralismo {ve fora ofrecido pela Universidade Essicio de Sa. Na orasdo,criicaram bre chas e omisbes da legilagdo vigente (Resolusio CES nt 1, de 27 de janeiro de 1999) eargumencaram que o exerci profesional dojomalismo estava legalmente ‘ondiconade 4 formagio superior. ACE o momento exava. A obrigatoriedsde terminara em 2009 com a decisio do STF sobre o process judial, que sera ‘studado no capielo seguine jornalismo”. Nesse texto, as entidades reforgaram a retorica do conhecimento especifico e promoveram uma critica a0 conceito de interdisciplinaridade referenciado no projeto do govern. Ao mesmo tempo, fizeram desse documento entre- gue 20 MEC mais uma frente de batalha acerca da autono- ‘miizagao do jornalismo em relago a comunicagao: [«] interdisciplinaridade [...] tem de ser lida como a comunicagdo ‘entre dsciplina endo a fisdo delas, porque afsdo signcaasua dlc, 4 transformagao delasem algo noo. Em alguns casos, é 0 que precisa ‘ocorer[...], mas em outros 6 0 que precisa ser evitado. [...] Anu lara dicplina jornalismo como um campo de conhecimentoe uma pritica profsionalespecfcos, por exemplo, em favor de uma hipotticadisiplina ‘comunicagdo, certamente trad prejulas muito séios para a qualidade da {farmagdo profssonale, consequentemente, para a socedade.(...] APs imposigaes de varios propésitos - sempre politicos, mercadol6- {gicos ou ditados por ondas do momento, mas quase nunca de sérios propésitos pedagégicos, inclusive com o interesse ideo- logico de esvaziar a profissio de jornalisca de sev contetido € carater critica -, 08 outrora cursos de jornalismo polivalences ‘ou de comunicadores sociais genéricos sempre mantiveram um enorme abismo entre © que se ensinava no terreno da teoria (genérica) e aquilo que era trabalhado no espago da técnica jor- nalistica.[...] A proposta do MEC retoma isso e impede que os tenormes progressos - alcancados 3 custa de enormes dificulda- des, pois se tratava de remar contra a maré - se consolidem & ppermitam que ao lado da necessaria abertura conceitual nao se pperca de vista também a necessiria reflexio sobre 0 préprio ‘objeto. (Contribuigdes do campo do jornalismo ao debate sobre © anteprojeto de lei da educagao superior: FNP), Fenaj, SBPJor, 2005. Grifos meus) A tematica da reforma universitéria ocupou o debate piiblico durante alguns meses entre dezembro de 2004 € meados de 2005, sendo amplamente veiculada pelos meios de comunicagao. Foram feitas trés versbes do anteprojeto de lei: a primeira no fim de 2004; a segunda, em maio de 2005; € a iiltima, em julho de 2005, cuja apresentagao coincidiu com a saida de Tarso Genro do MEC ea entrada de Fernando Haddad como novo ministro. Nao houve, porém, atéo final do governo Lula, em 2010, nenhuma retomada dessa discuss $ Serjoraticte no Bracit ®). por parte do Congresso Nacional ou da midia. Depois das reformulacdes, o destino do anteprojeto foi a Casa Civil, onde permaneceu inerte. Apesar do arquivamento, as tematicas abordadas direta mente naquele texto, além dos assuntos correlatos, nao dei- xaram de circular entre os atores sociais ligados 20 universo académico; porém, deslocaram-se para outras arenas e se con: figuraram com outros contornos. No caso da forma¢4o supe- riot dos joralistas, o debate permaneceu avivado em entidades comoa Fenaj,a SBPJoreo FNPJ, mas foi socialmente ampliado durante os momentos-chave da disputa judicial sobreo diploma de jornalista, no inicio do século XXI, tematica que sera tra tada na parte 3 deste livro. Mesmo que o governo e a imprensa jf nao estivessem discutindo a questao da reforma universi taria, de qualquer forma essas entidades continuaram a tra balhar em seus pleitos relativos ao assunto, reiterando sempre 2 importancia de se estabelecer formacao especifica para 0 jornalismo. Em 2007, a Carta de Goiénia, produzida pelo 10? Encontro do ENP), sistematizou uma reivindicagao que veio a ser atendida pelo MEC em 2009: a criagao de diretrizes curriculares para o curso de jornalismo. ‘Sem avangar, ainda, paraa tematica das diretrizes curricul tes, vale comentar aquele outro fato no ambito académico que também refletiu um “desejo emancipatério”® por parte do jornalismo: criacdo do primeiro mestrado em jornalismo, em 2007, na Universidade Federal de Santa Catarina. Até entao as pesquisas relacionadas a jomnalismo eram acolhidas pelos cur- sos de pés-graduagao em comunicagao, 0 jornalismo também € assunto de trabalhos de hist6ria, sociologia, ancropologia, citncia politica e éreas correlatas no espectro das ciéncias huma- nas e sociais aplicadas. ( fato de a UFSC ainda nao possuir uma pés-graduacdo stricto sensu em comunicacio naquela época foi um fato favoravel 13, O jomaliemo € uma forma de comunicagio, N4o st pode denvincular esas duns pratcasnesse nel dio. A emancipagso ou autonomia que refo aqui ésobretudo uta por poder, econheciment, recursos em nel academic, paneipalments jpara que os docentes ligados ao ensino de jornalismo no curso ide comunicagao social daquela escola, muitos deles presen- ese atuantes em espagos como a SBPJor, a Fenaj eo FNPI", se articulassem para implancar ali um projeto que favo esse as lutas pelo reconhecimento académico do jornalismo fe uma relativa autonomia em relagio a comunicagao. E, como iss0 ainda nao era possivel no nivel da graduacao, con- Seguiram autorizagao para fazé-lo na ps. Inauguraram, por ano, um novo nicho, ou, em outros termos, uma nova drea de concentracio: ‘A produgaio de conhecimento e a formacio de pesquisadores no Mestrado em Jomnalismo da UFSC direcionam-se a uma tnica rea de concentracao, a do Jornalismo. [...] No Brasil a pes- Qquisa em jornalismo conta com uma tradicdo de cem anos, em ‘um primeira momento feita por pesquisadores isolados e, desde (09s anos 1960, em cursos de pés-graduagao [...]. A Area de Con: centragao em Jornalisme, a0 mesmo tempo em que delimita 0 ‘objeto de especialidade da producto de conhecimento ¢ da formacdo de pesquisadores pelo programa, em coeréncia com 0 histérica da instituicaa, as trajetdrias e a producao cientifica do corpo docente, representa uma diversificagao do Sistema Nacional de P6s-Graduagio. [...] (Site do curso, segao “Area de Concentracio”") De fato, a experiéncia de Santa Catarina inaugurou no pais a modalidade de pés-graduagao na area de concentracio de jornalismo. Todavia, nenhum outro curso com os mesmos JA. Para exemplar ligagio da UFSC com entidades, cto alguns docentes do Iestrado em 2071, com respectvasconexbes com enidades do campo do jorna: smo: Elas Machado (presidente da SBPJor nas duasprimeiras gests), Edvardo Mecitch (diretorcientfico da SBPjr), Francisco Karam (membro do conseho Administrative da SBPjr), Tatiana Teiscra (dretora edicoral da SBPJor, 2007. 2003), Roger Christofoe (canseheira cietfico da SBPJor, 2009-2011). Na graduasio, a professora Vali Zuculoto tem engajamento com entidades de classe {ejomalstas, tendo astumido pape de coordenadora nacional da campanka em efesa do diploma promovia pela Fena}, A Uigagio dessa univeridade com 2 Fenaj €ancenor a cragio do mestrado em jomalsmo e pode se exempliiada pela ciago da citedra Fenaj/UFSC, em 2001, que resultou no oferecimento de diciplina optativa aos alunos de graduaca. 15, . Consultado em 16 de fever de 2011 Emporraticte ro Braet ® moldes foi criado até 2012", apesar de terem surgido, perfodo, muitos outros mestrados stricto sensu em comunica- do. Um detalhe importante é que, de acordo com o sistema de classificagao adotado no Brasil (regulado pela Coordena. cao de Aperfeigoamento de Pessoal de Nivel Superior Capes), aquele curso de jornalismo nao significou ruptura com a comunicagao, ja que consistiu em um programa de pés- graduacao dentro da area da comunicagao, a qual, por sua vvez, est sob o abrigo da grande area das chamadas ciéncias sociais aplicadas. Ainda acerca dos mestrados e doutorados ja existentes nessa drea, vale destacar que algumas universidades optaram por destinar espagos especiais aos estuclos de jornalismo por meio da criagao de linhas de pesquisa em que se desenvolves: sem exclusivamente trabalhos com essa tematica. Foi 0 caso da Universidade de Brasilia, com a linha de pesquisa “jorna- lismo e sociedade”; da UFRGS, com a linha ‘jornalismo ¢ processos editoriais”; e da Unisinos, “linguagens e priticas jornalisticas”. Em geral, os outros programas brasileiros de pos-graduagio stricto sensu em comunicagao absorvem os pro: jetos de pesquisa que tenham relacao com jornalismo através de linhas de pesquisa com classificagdes mais genéricas, como: processos, produtos, praticas, mediagdes, meios, poli ticas, tecnologias, estética, linguagem, midia; enfim, catego rias que podem abarcar manifestagdes comunicacionais de diferentes ordens. A procura pela pés-graduagao a partir da iiltima década do século XX nao pode ser vista como resultado do interesse individual pela carreira de pesquisador e/ou professor uni versitdrio. E claro que alguns dos que enfrentam 0 processo 6. Em 2007, fram ciados mesradosna area de comunicado em quatro univer sidades: UFSC jornalsmo}, PUCMG (interagBes midis); UFJ (comurics G0); UFG (comunicagao). Em 2008, cinco novos mestradox: Ucar (imagem Som); Ufam (etnias da comunicagto); UFPO/J.P. (comunicapa0 © cults tidivicas); UFC (comunicagto); UCB (eomunicagio) Em 2008, ts instiugbes: UEL (comumicaso}; USCS (comunicago}; URN (estos de mii). Em 2010 USP (mesrada em meios e processor auiovisuais). Em 2011: UEMS (comur acto}, UFPA (comunicagto, cultura e Amazénia) seletivo para adentear um curso de mestrado ou doutorado, principalmente em uma universidade puiblica, em realmente ‘ameta de sguirt a vida académica, Mas vatios outros - ¢ cada vyex mais -,yeem a pos-graduacdo como alternativa as poucas ‘oportuhidades no mercado de trabalho ow a possibilidade de melhoria salarial. Assim, muitos recém-graduados ja se plane- jam para continuar os estudos imediatamente a formatura de preferénda, recebendo uma bolsa de pesquisa. Por Sutro lado, profisionais jé aruantes retornam a sala de aula para se Sreciclarem’, se “qualificarem” ‘Vale também destacar que o aumento do niimero de cutsos de graduacio, principalmente em instituigées particulares, gerou uma demanda por proféssores universitérios, muitos dos quais foram recrutados no mercado de trabalho em virtude de seus conhecimencos adquiridos com a experiéncia pritica. ‘Algumas dessas pessoas, ainda sem titulo académico, depen: dendo do envolvimento na atividade de ensino, acabaram também sentindo a “necessidade” de consegui-lo e somaram-se ‘408 outros candidatos a selecao para mestrado ¢ doutorado. Essa necessidade pode ser parcialmente explicada pelos crité- do MEC de avaliacio dos cursos de graduagao, que exigia ‘uma quantidade minima de mestres e doutores por faculdade. Tal explicago é parcial, porque algumas instituigSes, espe- cialmente asparticulares sem abundancia de recursos, se limi taram a contratar apenas a quantidade minima exigida pelo governo, js que o salario que teriam que pagara mestres e dou- tores obrigaroriamente seria maior do que o pago a graduados. Nesse sentido, para os profissionais, ter o titulo tornavarse também, urna faca de dois gumes. Ha diferentes aspectos da conjuntura educacional no Brasil, por exemplo, a diversificagao das modalidades de for- macio, o cescimento da oferta da formacio superior, 0 sentimento de necessidade de aperfeigoamentos em nivel de pés-gradsagao lato ou stricto sensu, que estio relacionados a questies do universo do trabalho, nao s6 aquelas que afe- tam a ofert de emprego, mas as que chegam a interferit na propria ideatidade das categorias profissionais. © préximo feuaacint © item procura observar a profissao de jornalista no Brasil con temporaneo ~ a configuragao atual, os desafios, as mudaneas, as instabilidades -, tendo em vista que muitos parametros para © ensino de jornalismo sio delineados a partir das “necessi dades” ou do “perfil” do mercado, mas nao s6, pois também no espaco educacional é que se tem a possibilidade de pos. cular visdes criticas elaborar formulas criativas e alternativas a0s ditames mercadologicos. 5.2. Profissio e mercado de trabalho para o jornalista no Brasil Antes de observar as qualidades e as caracteristicas do mer- cado do trabalho jornalistico na contemporaneidade, lancei a pergunta sobre a questo da quantidade: afinal, quantos sio 60 jornalistas brasileiros do inicio do século XXI? Uma lista divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego, em abril de 2009, contabilizava cerca de 80.000 pessoas detentoras desse registro profissional no pais. Entretanto, encontrei mimeros, radicalmente diferentes ao fazer algumas contas com dados relativos & quantidade de pessoas formadas nessa graduacao, Estimei"” que apenas nos dez primeiros anos deste século 0 mercado de trabalho no Brasil recebeu quase 180.000 novos bacharéis em jornalismo. Dentro desse contingente de potencial mao de obra certa mente hé muitos que, mesmo com diploma, nao podem ser contabilizados entre os jornalistas, porque se afastaram del beradamente da carreira ances mesmo de tentar uma vaga no mercado, Entretanto - ¢ estes so numericamente rele vantes no contexto contemporaneo -, ha os que tampouco foram absorvidos pelos empregos formais, mas que efetiva mente aderiram a identidade jornalistica, podendo estar entre 0s freelancers, os desempregados, os empreendedores, os que se dedicam a alguma atividade jornalistica néo remunerada 17 Aestimatia toma por base os dados do nso Nacional de Estudos e Pesquisas EdicaconaisAnisio Tenis (Iep), que conabiizou em 2001 aprosimadamente 13,000 concluines do cizo de jomaizmo; em 2002, 15.000; ecm 2003, 18.000. Quando se compara o ntimero de graduados e de efetivos detentores de registro profissional, o que se vislumbra é que, dos que concluiram a faculdade, a maior parte nao se enca- minhou para a atuacdo profissional formalizada. * Otro aspecto que chama a atenio acerca da lista de re tros profissionais no Ministério do Trabalho e Emprego éa data de divulgacao (abril de 2009), que é anterior a uma mudanga radical nas regras para a obten¢ao do registro profissional de jornalista, Como se sabe, a exigéncia do diploma especifico para o exercicio profissional do jornalismo foi extinta em julho de 2009, ap6s decisio do Supremo Tribunal Federal. De qual: ‘quer forma, ainda com todas essas observacbes, os dados do MTE permite uma visio geral sobre o ambito profissional do jornalismo brasileiro, A referida lista nao deixa de ser uma importante fonte de pesquisa de ambito nacional, j4 que se apresentou, no contexto de realizacio desta pesquisa, como a finica contabilidade de tamanha abrangéncia." No que diz respeito& concentragao dos jornalistas no teri trio brasileiro, pode-se notar uma consoniincia com a pro pria distribuicio populacional do pais. Além disso, é possivel justificar a concentragao de profissionais em certas regides tendo em conta o jé conhecido adensamento de empresas de midia no Sudest. ‘Tabela ~ “Distrbuigho dos jornalistas com registro profissional por regio do pals” Nordeste| Sul | Sudeste | Cenero-Oeste| Sem tassifcaston 1294 | 8.01 roses | 1158 v6.18 | 134% 1s 18. Em 2011, um gro de pesquisa da Universidade Federal de Santa Catarina Sinalzouintengio de realar um tabalno sobre © unverso do jomalista baste; rtm act conclsto destlo, nfo foram dwugados esutados essa pesquisa, @ & (Os dados também oferecem uma visio acerca de quantos, registros foram concedidos em cada época, Grifico - “Registros profissionais de jornalistas ‘concedidos em cada década” ates ‘aad ‘Ska "cada" aad" deta "dads "sem Ge 1589 Ge 1980 de 1960 ce 1970 de 1980 de 1990 de 2000 csifocio 1 Waeregs Quando detectei registros profissionais anteriores a década de 1950, alguns, por exemplo, de 1938 ¢ 1939, desconfiei que a lista do MTE pudesse conter muitos nomes de pessoas jé falecidas. A questio da morte aplica-se também, obviamente, a individuos de todos os periodos, de modo que € necessério considerar aexisténcia de um desvio numérico dessa natureza, ‘embora nao se possa mensuré-lo, Apesar disso, considero que a contabilidade feita com base nesses dados ainda apresentou ‘uma perspectiva satisfatoria sobre a cotalidade de jornalistas com registro profissional efetivamente existentes, jé que quase 80% dos registros foram concedidos nos iltimos dezoito anos. (Os dados também foram organizados a fim de se contabi lizar o niimero de jornalistas que conseguiram registro profis- sional por forga de liminar judicial, “Tabela -“Registros profissionais conseguidos ‘com liminar judicial por década” ‘Antes de] 1950- | 1960-] 1970- | 1980- "1949 | 1959 | 1969 | 1979 | 1989 Seem 2 [si] [|e jem relag0 0 02 | on | 02 | os de repro ‘Como se pode notar, a concessio de registro por meio de fiminat ao longo das décadas ocorreu de modo muito esporé- ico, mas, no ltimo periodo analisado, houve um aumento extraordinario em relagio aos anteriores (de 8 para mais de 8.000). As razdes disso esto particularmente ligadas a0 pro- {e550 contemporineo de disputas sobre a necessidade do diploma em jornalismo. Antes que o Supremo Tribunal Fede- tal decidisse, em 2009, pelo fim da obrigatoriedade, muitas pessoas, impulsionadas e embaladas pelo proceso judicial ini- ado em 2001 que questionava essa regra®, aproveitaram para ajuizar acdes individualmente e alcancar o que vinha sendo pleiteado de modo mais amplo. ‘Ao encarat o fato de que milhares de pessoas - mais de 15% do total - receberam registro de jornalista por forca judicial, fiquei incrigada com algumas questdes: qual a escolaridade dos registrados por forca de liminar? Possuem algum diploma superior? Possuem pelo menos o ensino médio completo? Infe lizmente, nio foi possivel responder a isso com os dados entio disponiveis. Agora, com a lei de acesso a informagao promul- gada em 2012, talvez seja mais facil para os pesquisadores realizar investigagdes sobre esse teor. Além disso, futuros tra- balhos rambém poderiam mapear o impacto do fim da obriga- toriedade do diploma sobre o universo jomaltstico brasileiro. Qual sera o perfil dos detentores de registro profissional de jJornalismo? De que forma o mercado de trabalho vai absorver a mio de obra de jornalistas nao graduados? A configurasio 19. nformagées dtalhadas sobre o proceso judicial entre 2001 € 2009, eencon ‘rama lima pare deste ir Profissional dos jornalistas no Brasil vai se assemelhar a de paises que nunca exigiram 0 diploma? Sio questdes para serem investigadas no futuro. De volta, entio, ao olhar sobre a profisso ¢ 0 mercado de trabalho para jornalistas no Brasil, é interessante avancar para outros lados da questao. Se até aqui foram perscrutados alguns aspectos quantitativos relativos aos profissionais, a partir de agora sero analisados aspectos relativos aos var dos loc de vivencia profissional do jornalismo. Os parigrafos seguintes abordam alguns sintomas do mundo contempo- Fineo, apontando para reorganizagdes das priticas e das ins- tituigdes jornalisticas. No inicio do século XXI, 0s veiculos impressos enquadra- dos como jomnalismo de referéncia tém apresentado sintomas graves de declinio econémico nao apenas no Brasil, mas em diferentes lugares do mundo, Grandes jornais de varios paises tém sofrido com a diminuigao das vendas em face do advento da internet e se deparado com as dificuldades de manter 0 interesse do piblico e dos anunciantes diante da abundante oferta de produtos jornalisticos - ou nao ~ omline que apre sentam 0 mesmo grau, ou maior, de novidade, exclusividade ¢ capacidade interpretativa da informasio. Nos Estados Unidos, 20. Em euros pases, como Estados Unidos, Porta, Ingatra, Fang, 0 acesso 230 univrsoproisional do jomaliamo no passou pel rstalzasao da obrige ‘oriedade do diploma especco nessa dea: hf muitos posts em veluls de com ‘casa ocupados por gaduados em economia, hr, ecologic polis ou outras reas, sem que iso tenha consttuide problem para a eniades de classe deses locas. Uma ver enquadradas nas Gndmicas corpratias - rece bendo sli de jomalsta, camprndo hordro de trabalho, tendo os mesmo> patre,consvndo com as mesmas presses de tempo, partihando a necensiae deaendimentoeseduao deum pbc esa pessoas pssam a ser absorvs como membres grupo, eno coma cancorente eters, O carder prfsorsl Conferido po reconhecmento da clase eno, fea grand. ‘A questio da nto obrgatoneade do diploma nox pales desewohidos deve se obserada tendo em vita a reaidadeeducacional eos indices de eur de ora agus locals, alm do reve Social do jomaeme come rst crac pra . Edigho 2132, de 11 de novembro de 2009 Srpomatitano Boat ® ‘Como resultado parcialmente* derivado do fendmeno ala, vancado pela politica petista, que ampliou radicalmente a contratagao de pessoal para o setor puiblico (em oposigao a0 que ocorria no periodo neoliberal, anterior), vagas para jor nalistas foram criadas por prefeicuras; cimaras municipais assembleias legislativas; ministérios; érgaos piblicos em geral fundagdes culturais, de pesquisa, de satide ete; empresas de carater piblico como companbias de égua, luz, gas, sanea mento, exploragao mineral, petroliferas, entre outras, ofere: cendo salarios, em gera, significantemente acima do piso reco- mendado pelas associagSes de classe. Entre os concursos dos, anos de 2010 ¢ 2011 alguns vencimentos despontavam como grandes atrativos, por exemplo, 0 da Petrobras, de 5.770 reais dda Empresa Brasil de Comunicacio, 5.803 reais (cargo de gestio, 40 horas semanais) ¢ 2.843 reais (30 horas semanais); Fun- dagio Estadual de Pesquisa de Agropecusria do Rio Grande do Sul, 3.109 reais “Apesar do atumenta da quantidade de vagas para jomalistas no servigo pablico, vale ressaltar que tais processos selerivos am extremamente concarridos, a que, em comparagao com outras areas ~ como administracao, engenharia, informatica ~ em termos numéricos, a quantidade de vagas para jornalis tas nfo foi tio abundante. Houve - e continua havendo ~ insimeros casos de concursos em que havia apenas uma vaga, ow em que se pleiteava formar o chamado “cadastro reserva Nesse cendtio, as acirradas disputas nos concursos para jorna lista figuraram como mais uma evidéncia da competitividade excessiva do universo profissional para boa parte dos jornalis: tas deste inicio de século. Ainda pensando sobre os espagos de vivéncia profissional do jomalismo na contemporaneidade, mas buscando ampliar a presente reflexdo para outras nuances identitérias, é impres cindivel refletir sobre a construcio da identidade jornalistica os ae 26, aber de aa para orang no mera consequat mon deve ae cote as for ivetimento govername gto pubicos ‘no mundo das tecnologias digitais. O ambiente digital, em suas mais diversas manifestagdes e funcionalidades, vem se tor nando cada vez mais importante para as comunicagdes sociais € para as relagSes humanas de diferentes ordens, por isso pre- cisa ser considerado como aspecto essencial na reflexio sobre © universo jomnalistico contemporaneo. Na proxima seco, vere- ‘mos que muitos saberes, fazeres, valores, modelos, imagens, rotinas, habitus da profissao de jornalista so alterados em Virtude no apenas da apropriagao tecnolégica como também em razdo dos novos fluxos informacionais e alceragdes na ordem do discurso social estimulados pelas dindmicas das redes e da convergéncia. 5.3. Identidade jornalistica no mundo das tecnologias digitais Este capitulo comegou com uma apresentagao estatistica dos jornalistas brasileiros a partir de dados oficiais, que conta Bilizavam, em abril de 2009, aproximadamente 80.000 pessoas Com registro profissional. Como visto, foram levantados alguns questionamentos a respeito da universalidade de tais infor magies, tendo em conta que nenhum pesquisador da identi ade jornalistica pode negligenciar a existéncia de jornalistas fora dos critétios oficiais, sobretudo em tempos de internet ¢ convergéncia midiatica. Assim, busquei métodos para encon- far algum indicador numérico sobre jornalistas brasileiros Ao necessariamente contabilizados naquela lista do Minis {ério do Trabalho, Sem nenhuma pretensio de oferecer estatisticas seguras, fiz uma busca na internet usando sites de busca e palavtas. “thave. Nao tive sucesso. Depois, eentei uma busca mais focal, base no perfil de usuarios de uma plataforma de blogs [Smnwv blogger.com>”). Ao pesquisar 0 campo “profissio”, na By APlataforma & um dos espagos da web destinados 4 produgdo hospedagem Incernautas que querer ter uma pagina pessoal no precsam, neces. ot, rexistrar um dominio e pagar por ele, mas poder faze uso dessa plata das, que oferecem feramentas simples paras construgsoe uma pina umn eservem de hoxpedeira para cla inpmatitanoBincit ®) pagina de identificagao dos blogueiros, depare-me com ugh dos dados mais inceressantes da minha pesquisa: mais qu 1,2 milhio de pessoas haviam preenchido 0 campo “profisggi com a palavra “jornalista”. Por curiosidade, ampliei a busca, ‘oram cerca de 103,000 perfis preenchidos com a palavra “journalist” eaprgs ximadamente 418.000 com “periodista”®. Embora nio sag possivel precisar a nacionalidade dos proprietarios de blog com base nesse critério, vale destacar que foi, no minimo, espans inserindo a mesma palavra em outros idiomas. F toso encontrar tantos blags cujos autores tenham referido ag ‘mesmos como jornalistas, em portugués, em comparasio eom (0s que o fizeram em inglés e espanhol. Deixando de lado a questio estatistica, o mais relevanteasep discutido com base nesses dados esté relacionado aos possiveg ‘motivos que levaram milhares de proprietarios de blogs ~ falane tes da lingua portuguesa, mais especificamente ~ a se autodeno# minarem jornalistas. Nao é do interesse desta pesquisa discuti se anatureza daquelas paginas era ou nao jornalistica™.O quest quer enfatizar aqui € que os mais de 1,2 milhao de blogueiras da plataforma que preencheram o campo “pros fissdo” com a palavra ‘jornalista” so um ponto de partida pata aprofundar a reflexdo sobre os critérios de construcao identi taria do grupo dos jornalistas na contemporaneidade. Esses sujeitos e sua ago autorreferencial remetem a uma série de instabilidades muito proprias do momento contempo= neo, as quiais dizem respeito, entre outras coisas, 20s abal de parimetros que j4 foram mais fortes, para enquadratem 28, Pesquisa feta no dia 25 de agosto de 2010. 29, Presume-se que, entre os milhdes de bogs contabilzados, dev hv Cujo propretarios ederim como jomalstas (possi devarents A tmados, egstrados, asalrados em empresa de comuricaco, enim rng ‘mente enguadrado como um profssional),mas no sto dedicados 20 jal Poder ser bogs de poesia culindria ou qualquer outro vdpico, Um jorais precisa produc apenas oralimo na vida “Tampoucocabe, nese caminhoargumentatho, a eens da discusso tes relativas ds caractericas decurshas do jomalsmo pratado Aigeal.Sabe-se que 0 tema € pertinent, sendo abordado por diver ‘ores queinvestgam o bie como expas0 ov génerojomalisic. Tod fe pretends elucidar nesse momento tal dscusedo nao va val des para que ‘ame posi nowt 's0b 0 “r6rulo” de jornalista. As atitudes aurorrefe Gesses individuos também so, em certa medida, reflexo fp que foi proporcionado pelas novas tecnologias de infor fe comunicacao, sobrecudo a internet. Cameras digitais fevideo; computador pessoal com programas de diagra byedicio de texto e imagem; espaco (virtual) para dispo- ide contetido; acesso a rede mundial de computadores; Bs relativamente baixos para ter acesso a esses recursos; B, tudo isso permitiu que mais pessoas - aquelas digital fe incluidas - pudessem se identificar como produtores e dores de informacio, atividades que até antes da popu- das NTICs, estavam fortemente associadas a0 jorna ipraticado por empresas de comunicag Jembrar que, no auge da era da chamada comunicagio sa, a forma mais comum de um individuo realizar tarefas 0, produsio ¢ distribuigio em larga escala de infor Bera via veiculos de comunicagao. A figura da corporasao, 9, tornava-se quase indispensivel para o exercicio de tais Mesmo as iniciativas independentes ~ como jornais, vos e radios livres (algumas que nam até sem legal) -, para chegarem até o piblico, exigiam parafer como copiadotas para o material impresso, montagem fs clandestinos e de antena para emissio de frequen 45 radios; enfim, uma logistica relativamente com- Se comparada & simplicidade das pequenas cameras que BI no bolso ou aos mintisculos per-drives 3G, conectando dores, telefones celulares e outros gadgets & internet tavelocidade feito, nao é preciso muito esforco para perceber que odas aquelas pessoas que preencheram 0 campo “profis: 60m a palavra “jornalista”, na plataforma le 12 milhio), exercem 0 jornalismo profissionalmence. BS delas podem ter se identificado dessa maneira apenas a questo de satus, para angariar mais credibilidade ao de Seu biog. Deve-se considerar ainda que algumas pes feriham se definido dessa forma porque vivenciam a atv PPinalistica como um hobby ou um bico. Nesse sentido, é te perceber a emergéncia de um certo tensionamento inpomatete no Brvct ®) do sentido de profissionalismo da atividade jorn: ‘outsiders a algumas dimensdes dos fazeresesaberesjoralistiggg Isso nao quer dizer, contudo, que o interesse de alguns ugyg rios de internet em serem chamados de jornalista sejaautp maticamente derivado das potencialidades técnicas dos n meios. Iso se deve muito mais a capital simbico acumulag ao longo do tempo e incorporado a identidade jornalistigg no decorrer de uma série de processos politicos, econtmigg sociais, culcurais, e também técnicos, 0s quais, em grande parge se desenvolveram na chamada “era da comunicagao ce massag De qualquer forma, nao se pode negligenciar que a materia lidade dos meios cibernéticos e da tecnologia das redes era condigdes para que individuos que assim 0 desejarem se come portem, se sintam e se definam como jornalistas. Sabendo que o sentimento de pertencimento” & um das pilares da construgio identitaria de um grupo (Pollak, 1992), entdo € forcoso admitir que © campo jornalistico nao est imune ds forcas, influéncias ¢ pressdes exercidas por esse cone tingente confuso e incerto de sujeitos ocupantes do espaco dige tal que se autorreferenciaram como jomnalistas. Por outro lady Pollak (1992) acrescenta que a construcio identicitia nao s® cesgota na sensagio de pertenga, A identidade também € com: posta pela continuidade do grupo no tempo ¢ pela sensaga de coeréncia e unidade grupal, aspectos que, no caso dos joma listas, ainda esto extremamente arraigados na dimensio pro fissional. A hist6ria de consolidagao do campo jornalisticos i modernidade, esta vinculada aos processos de profissionalie ° : de unidade modo mult indo ess zacio da atividade, de modo que o sentimento que o permeia como grupo continua a remeter eloquente, a ideologia do profissionalismo. Seg erese ated 30. No no Mont eid il, Polak reso conceit de ei forma una “imagem desparate para. ores” ese ag tuehd ot clementcrinpntants acon del: primer, ota Fai Srna no tempo una permanence, morale pics Pi pono arse vel peep! 08 oro po i tent de undnde ou sesagio de core, (Po, 1982) Mnento, € preciso ponderar, portanto, que a vinculagio de um grupo que nio esté profissionalmente com- Fido com a atividade que realiza parece ser muito menos do que aquela que foi construida historicamente em p do profissionalismo e com base nas ancotagens inst (empresas, escolas, entidades de classe et.) mera ponderacao a ser feita em relaglo a esses inumerd- duos que se autorreferenciam como jornalistas.na {@ exemplo dos usuarios da plataforma ) femora muitos, eles representam uma pequena parcela menos que vm ganhando espaco no ambiente digital também podem impactar a imagem profissional do fra: claro que nem todos os que desenvolvem online dades com semelhangas discursivas e pragmaticas com fismo sio (c/ou manifestam vontade de ser) reconhecidos yjomnalistas. Boa parte dos que se apropriam, em seu coti- 9, das ferramentas, linguagens, recursos da hipermidia dir, divulgar, trocar informagdes que antes s6 che; 0 piiblico por incermédio dos meios de comunicacio ga ¢ dos comunicadores profissionais esto, mesmo uma sensagao de pertenga ao grupo dos jornalistas, do parte das forcas que tém abalado o lugar de fala e 0 tio status desses profissionais e instituicdes. s diversas situagdes sio ilustrativas da queda do mono- ide jornalistas/organizagées jomalisticas sobre competén- es vistas como pertencentesa experts; sobre qualificagdes squalificadores dos ingressantes na atividade jornalis- Bobre os espacos de divulgacao daquilo que pode ser, no leomum, entendido como noticia; sobre a prerrogativa de Faro”. Acdes de consumidores/clientes sobre 0 grupo , questionando fazeres e se apropriando de saberes, Pra repliicar, vale a pena recordar o olemico se Wiss ado Som abv dco 0 ripe nome wn gn ar Bos inormagies seit Vale mbar que st paou mas reper O10, quand foram diulgadas iformagses conidenciale do goveno| Brain de documento sndercando rrr uo mes 6 Botraue. Nese meso an, oder dost Jlan Aang, passou a5? peta pocia sb acsngoes de cme sen Joratitsne Bet ®) podem ser entendidas como razdes para o enfraquecimen por novos entendimencos legas acerca da propriedade CO dg auonomia dessa profissio.Além disso, é interessante dn | ¢ importante saber que tais jogos de Fora, ainda Srupo profissional ¢ a ocupagio de lugares de fal sea como mediador profissional entre o piiblico e os a reservadag Por parte dag consumidores dos formatos jornalisticos, desde 05 seus fog! ‘comunicativos no ambiente digital pode ser visto juma forca a “impelir os jornalistas para a sua di8solucdo as jornalistas sio movimentos que se do tanto {(Qamplo compartilhamento em rede de certos saberes € matos tradicionais (impresso, radio, TV), quanto p jomalismo. Entre os atores sociais que nao se consolidaram coma jos midiaticos caracteristicos do capitalismo informa piiblico efetivo dos produtos jomalisticos da midia de mass ledas suas mercadorias imateriais” (Garcia, 2009, p. 41). esto 08 jovens que jé nasceram com a internet a pleno vapore 1 dissolucéo completa das fronteiras jornalisticas que tém nela [internet] sua principal forma de contato coma) iro longe de ser uma realidade. Em outras palavras, 173 mundo. Esse grupo, daqui em diante,s6 tende a aumentar {que alguns sintomas de enfraquecimento sejam nota- Um dos fendmenos de destaque no contexto das nowas fmuito precoce e ingénuo fazer afirmagées radicais, como micias para o qual John Pavlik (2001) chama atencao € a mul iprevé a morte do jornalismo, o fim da profissdo de jorna- tiplicasio do plagio, que passa a ser extremamente simplesde Becvisas do género. f vital destacar que, concomitante- ser feito com as facilidades das cecnologias digicais. Em um fa todos esses fendmenos que podem ser incerpretados Sirpmatite noBrct ® PC, cam a acionamento das teclas de atalho “control + e@ fforgas a tensionar o cariter profiesional da atividade jor “control + v", um internauta pode copiar praticamente quak ica, no sentido de alargar suas fronteiras, existem elemen: quer texto (com excegao dos que usam mecanismos de proreglo indicam exatamente 0 contrario do que vem sendo contra c6pia). Tamanha praticidade, associada a facilidade dé mntado até aqui. O ambiente digital também esta num encontrar informagées na web, representa uma “séria ameagad jem que o profissionalismo ¢ estimulado a todo 0 vapor, boa e velha reportagem produzida com gasto de sola de sapatol fem vista a exploracio comercial na internet, a corrida (Pavlik, 2001, p. XIV, eraducio livre) finovasio, a maximizacio do uso de novas tecnologias, a AA pratica do pligio de textos é apenas um fragmento dé fOMizacio, a internacionalizacao de negécios, a interagio novas realidades que vim ganhando espago na culeura digi io da convergéncia. Em consonancia com tais tendén- Movimentos de reproducao, distribuigao e consumo dos prt Muitas experiéncias refletem instancias de preservacao € tos digitais vém causando abalos nas tradicionais nogbesde vo da imagem profissional dos jomnalistas. copyright e de propriedade inteleccual (Pavlik, 2001 trabalho produzido em 2004, Mark Deuze se esforca Ao pensar sobre os intimeros tensionamentos impulsionle Hiscutir os impactos da convergéncia para a pratica jor dos pela proliferagio das cépias e pela atuagio de aivistas 446 listica e para a autopercepeio dos jomnalistas como profis: multimidia®. De fato, os conceitos de convergéncia & edo 88 ares de aque clamam pela completa fuider ie le infor ‘movimento: socal ariculados com base no ambiente dial, 0:6 foram representados por voses que se manifestaram durante 2 di a incemetextio ot chama ema das conformagoesientarias Be para ese autor. Em trabalho de 2001, como Bardo! vest is jomalsas na rede, em 2002, com Steve Paulussen,estudou na Holanda, da obvigatoredade do diploma no Brasil. Mais dados sobre es ‘tes me capita segue ea, ccupacionais «profisionas dos joralsas on em rede, que receberam investimentos e cuid, 7 dos grupos miditicos que as lange por exemple od Globo; UOL, do mesmo grup qu ete Fe de Sa ¢ 0 Tera da matinaciona espana Tenia contemporéneo em pauta: andlise dos debates do initio te steulo KAT sobre diploma e formagéo wndversithria no Brasil bes, qua de vivéncia da profign so de jomnalista e tém grande influéncia na conformacioidg mercado formal cle empregos, impulsionam a corrida. ply aquisigao de comperé ‘nao deixam de ser importantes espagos as, por parte dos profissionais, agg auarem nesses espagos ou para se lapidarem confome gy 176 modelos que essas empresas apregoam. Ness senido, da @ a faculdade,o aspiraneajomalista demonstra esta eetog pressbes para ser polivalente, adquirir expertise para vs maximo possivel de recursos tecnol6gicos, ser capaz de pros dduzir para varias plataformas e trabalhar com aucliéncia parte cipativa; enfim, estar plena ¢ profissionalmente apto a see uum jornalista bem-sucedido no conteato da convergencia € da multimidialidade, Escolher estudar a identidade jornalistica com base nos _gbates contemporaneos no campo jomalistico significa reco- “ghecer, concordando com Simmel (1964), que a dimensao do “conflito é crucial para a percepgio de identidades sociais. Situa- _gies de competicao e até de disedrdia mostram o grau de inte- ‘nsio entre os membros de um grupo, apontam posicbes dos paticipantes, distancia entre eles, formas de elasticidade nas selagdes estabelecidas intra e entre grupos. O conflito, embora possa ter fortes conotagdes de quebra ou destruigao, possui ‘uma funcao coesiva de suma importancia, por estimular agru: ‘jamentos por similitudes, vinculos de solidariedade e forta- Ircimentos de estratégias combativas. Observar situagies de ‘ensionamento remete, pois, mais uma vez, as metaforas geo- sificas (pace Barth, 2000), que prestam atengio as bordas e suas possiveis reorganizagdes. Tai circunstancias S40, portanto, serreno fértil para que se possam evidenciar as lutas pela deli- mitagao de Fronteiras da identidade jomalistica As Fontes de pesquisa que embasaram as reflexes dos capi- tulos 6 ¢ 7 associam-se a disputas no inicio do século XX € {foram selecionadas com base em duas ancoragens em parti- cular: a agao judicial que culminou, em 2009, no fim da obi atoriedade do diploma e as discussdes sobre a implantagio de diretrizes curriculares especificas para o curso de jorna- lismo, separadamente da comunicagao social ier © Os conflitos do inicio do século XI sobre o diploma ea formagao do jornalista abrigaram, metonimicamente, diversos ‘embates sobre a prépria identidade jornalistica, na medida em ‘que consticu‘ram mais uma arena para tensées ¢ movimentos caracteristicos do jogo de forgas, da luta pelo lugar de fala, que, por sua vez, referem-se a momentos de autoafirmagées ¢ construgdes de auroimagem. Mantendo sempre isso em mente, € possivel fazer andlises pontuais dos argumentos usados por diferentes atores sociais durante os momentos de discussio, procurando enxergar os pontos nevralgicos sobre os quais ¢ por meio dos quais algumas caracteristicas do jornalista bra- sileiro sio formuladas, compartilhadas, rejeitadas, reorgani- zadas, eventualmente aceitas e, quigé, incorporadas aum ideal tipico do qual sobressai uma ilusio de permanéncia, cons tancia, homogeneidade. Trés ambicos gerais foram considerados para se chegar a ‘uma anélise abrangente acerca das tematicas do diploma ¢ da formagao superior: 1) © meio académico (incluindo docentes, discentes ¢ pesquisadores); 2) as associagbes de classe (abrangendo entidades dos tra balhadores e dos patrdes); 3) 0 mercado de trabalho (pontos de vista de empresas jormalisticas) Buscow-se, em cada um deles, selecionar discursos que manifestassem diferentes vozes ¢ posigdes, representando a diversidade e heterogeneidade de envolvidos na construgio da identidade jornalistica ‘A abordagem te6rico-metodolégica adotada para dat suporte a anzlise do corpus empirico desta pesquisa esta prio- ritariamente constituida das reflexdes e estudos sobre retrica, sobretudo os de viés aristotélico, j4 que esse caminho abarca liteis ferramentas de observacio do desenrolar argumentative de qualquer relagao politico-social. A retorica, segundo Arist6- teles, nao é mero sinénimo de persuasio, e sim uma techn, que ‘consiste em encontrar, em cada caso, 0 que é mais perstasivo, essa forma, ela voluntariamente se encaminha para alcangar 0 nivel do publico, dando énfase no verossimil, mais que no provivel (Barthes, 2001). Empreender uma andlise retorica com base nessa nogio basilar significa procurar, nas dimen: sbes do discurso ~ que esto descritas em trés partes da obra ‘Arte Retérica: ethos (do onador), patbos (do piblico) logos (da men sagem) ~ 0s elementos eestratégias que podem set mobilizados, ordenados, concatenados, articulados, de modo a se alcangar vyerossimilhanga, atributo que, na conce muito mais a ver com 0 que o receptot aceita como possivel do {que o que efetivamente pode ser provado. Parte da anilise focaliza a dimensao légica, isto &, do logos, da argumentacio propriamente dita, a qual inclui,além do con: teiido dos argumentos, as formas de arranjos deles. O olhar aristotélica, tem para o retoricismo das mensagens também abrange a dimensio patética (do pathos), ja que um discurso é sempre ditigido, ainda {que implicitamente, a um audit6rio, sea ele particular, eja uni- versal, presente ou presumido (Perelman e Olbrechts-Tyteca, 2005), Sabendo-se que a palavra grega pathé remete a paixdes, sentimentos, a analise ret6rica percebe que, ao operar com ‘elementos para moldar o verossimil, 0 orador ou construtor ‘da mensagem mexe com os afetos de quem ouve ou lé a argu- mentacao (Barthes, 2000). Ao mapear os modos como as vozes se manifestam na discussio, também se observaré a adocio de estratégias argumentativas que se voltam ao efeito psicolégico buscam convencimento por essa via, menos que pelo enca deamento logico do contetido a respeito do qual se debate. Por fim, é extremamente pertinente ~ mais do que isso, fundamental aos estudos identitarios -, acrescentar a terceita dimensio retrica, a do etbos, que se refere ao orador e a todas as qualidades que este procura trabalhar diante do pablico para gerar convencimento sobre si mesmo. Em termos de pro- duo de uma autoimagem, a relevancia discursiva recai menos sobre o que se fala e mais sobre quem fala. Assim como no ethos da retérica aristotélica, é uma questao de autoridade. ‘Tudo isso sera discutido nos capitulos desta terceita parte Snporattaro Bret ® Diseussies contermporineas sobre a obrigatoriedade be diploma ~ Em 17 de junho de 2009 chegava 20 fim um processo judi cial de quase uma década a respeito da obrigatoriedade do diploma de jornalista para 0 exercicio dessa profissio. O Supremo Tribunal Federal (STF) determinava, em tiltima ins- tancia, o fim dessa exigéncia. Os pardgrafos a seguir descre- vem o caudaloso ire vir de recursos e sentencas que marcaram, 2 disputa, ao mesmo tempo em que apontam atores sociais, nela envolvidos. f preciso um pouco de pac panhar essa trajetéria tantas vezes cansativa e burocritica, permeada de idiossincrasias do universo do direito. Contudo, 6 frutifero ter em mente que o desennrolar desse processo serve basicamente como pano de fundo para uma multiplicidade de outras forcas e vores inseridas no debate e envolvidas no processo de construcio da identidade do jornalista, as quais também serio mencionadas em momento oportuno. Em 23 de outubro de 2001 a juéza federal substicuta Carla Abrantkoski Rister emitiu uma decisio liminar suspendendo em todo o pais a obrigatoriedade da posse do diploma para 0 exercicio profissional de jornalisme. A sentenga, pronunciada no Tribunal Regional Federal (TRF) da 3* Regio, em Sio Paulo’ 1. Embora loalzado no Estado de S40 Patio, © proceso foi movido numa das sesGesjudicrias da usta Federal valde, prortano, para todo opal | significava a concessio de cutela antecipada? a uma agio civil piiblica que havia sido proposta menos de uma semana antes (17 de outubro de 2001) pelo procurador regional dos Direitos do Cidadao, André de Carvalho Ramos. Na peti¢éo, 0 procura. dor, acompanhado pelo Sertesp, também responsavel pela agio, dirigiu o pleito contra a Uniao, solicitando que o governo dei- xasse de exigir o diploma especifico para o registro profissional de jornalista no Ministério do Trabalho, contrariando o que era estabelecido pela Lei 972/69. O argumento principal versava sobre a inconstitucionalidade de tal norma. A liminar concedida favoravelmente as partes pleiteantes ainda por cima com tanta eficicia - obviamente nio agra dou aos réus do proceso’, os quais articularam reagbes a deci- sao. A Fenaj entrou com um pedido de agravo de instrumento com efeito suspensivo’, mas seus advogados nao conseguiram derrubar a liminar, Durante quase todo 0 ano de 2002 nao houve movimenta- «Ges importantes relativas ao proceso, mas em dezembro (com publicacao no Dirio Oficial da Unido em janeito de 2003) houve a decisio em primeira instancia, confirmando a liminar de 2001. Mesmo em face da reiteragao da derrota, a Fenaj nio se deu por vencida e encaminhou, em julho de 2003, uma ape. lacio ao tribunal. Dessa vez, a desembargadora federal Alda Basto sustentou argumentos legalmente fundamentados para 2.Atatela antecipada & um mecanisma juridico que nfo € a sentenca de mérco propriamence die, mas antecipa a deciso antes da completude do processo e do profeimenco da setenca. €imporantelembrar que 0 julgamento no significa, Recessanamente, 0 julgamento fil, pois depois dessa decisio em primeira ins "inca podem se posular recursos. E, como veremas adiante fo justamente sso ‘qe ocoreu 3. A sentenga que elminoy os efitos da Lei 972/69 condenou a Unido (fomec ‘dora dos repstrosprofisionae através do Minisén do Trabalho) ea Federacto Nacional dos Jormalists ~Fenaj(fornecedora de carsrnhasajormalitasj ep trades e sindcaiados) 4. Esse tipo de recurso fie uma especie de blindagem do processo, Caso conce ‘ido, no posehel que as partes demandem outros atos (como decises lina es, recursos et.) tts deceto em lima inetancia. Para mais detales sobre est grave, €possvel consular o ste do TRF da 3* Regio, tendo como refetncia timer 2001, 03,00.034677-0, desobrigar a Fenaj da decisio de emitir carteiras a nao diplo- mados’ Porém, em dezembro de 2003, nesse mesmo Tribunal Regional Federal, o juiz Manoel Alvares encontroujustificati- vas legais para suspender as consideragbes de Alda Basto ¢ fazer ‘com que a Fenaj voleasse a ser obrigada a conceder documen- tacio sem exigéncia do curso superior. Nada de muito significativo se passou comesse processo no ano de 2004. As partes em desacordo com o fim da exigén- cia nfo mobilizaram nenhuma contraofensiva aos dltimos acontecimentos de 2003. E possivel que isso se deva ao fato de a Fenaj terse ocupado nesse perfodo de outta questio, relativa 4 regulamentacao da profissio: a proposta de criagio do Con: selho Federal de Jornalismo* ‘No ano de 2005, em 21 de outubro, um novo attificio ju dico foi interposto pela Fenaj a fim de que o Tribunal Regio nal Federal de Sao Paulo revisasse a decisio de Carla Rister. ‘Assim, a 42 curma do TRE, composta pelo juiz Manoel Alvares (relator) ¢ pelas desembargadoras Salette Nascimento e Alda Basto, concordou com o argumento da Fenaj de que nao havia ‘contradicao legal entre o principio da liberdade de expressio e a exigincia do diploma. Assim, em 26 de ourubro de 2005, proferiu a decisio em segunda instancia, segundo a qual a.exi- géncia de formacio superior para o exercicio do jornalismo 5. Para fondamentar a decist, Alda Basto escreve em sua argumentagio: “Pr Irciramence & dese sar que a 'entenga’ da ago civil publica no tem forga de Icbem relagio a terceros que nfo integraram o polo passive, porque 0 comando judicial nao atinge pessoas que nfo sio réus na lie coletva, mesmo porque quer hes foi dado 0 dircivo de defesa ou do contraditrio. [1] Num fucuro € Possvel que aqueles que nio tim diploma universitario posam ser joralistas, E presente acto for confirmada nos recursos & Segunda instanca do udicirio, nas esta nfo ¢a realidade de hoje. Preacupar-nos come Fara os hares de ovens que lograrem obter a Carcera de Joenalsas, em vite da sentenga de pr Icio gra, e conseguir emprego, pos, amas, podem tudo perder” (recohido fo ste “wn tr gov sab @ numero 2003,03,00,042570-8 AG 183911»), {6A emidade orgarizou um projet de ei propondo a criagao de uma autarguia Federal nor moldes do Conselho Federal de Medicina ou da OAB eo apresentou A presidencia para que ela 0 encaminhasse para aprovacto nas instncias lens lative. O Congresso Nacional avaiou a propestae acabou decidndo pela nfo aprovasio, o que fustrou os aneios da Fena), CF. Lopes, Fernanda Lima, Aare: renin comin dered rai. Dsaragao de estado. Universidase Federal do Rio de Janeizo, 2007 Srponattaro Bnet ® nao feria nenhum preceito da Constituigio Brasileira de 1988” Na pritica, isso representou o retorno da obrigatoriedade do diploma que escava suspensa desde 2001, além de ter determi: nado que qualquer reagio contraria jé nao caberia aquele eib nal, mas sim proxima instancia: 0 Supremo Tribunal Federal Ni se passou muito tempo e o lado perdedor da causa, insatisfeito com a decis4o do tribunal, voltou a se manifes- tar. Em 13 de dezembro de 2005, 0 Sindicato das Empresas de Radio e Televisio no Estado de Sao Paulo elaborou um recurso extraordinario (RE), pedindo julgamento em instancia superior, o que foi reiterado pelo Ministério Pablico em margo de 2006. Os dois pedidos foram acolhidos pelo TRE no més de junho e, em 6 de julho de 2006, o denominado RE/S11961 foi encaminhado para o STF Embora conste nos documentos de acompanhamento pro- cessual do TRE que o recurso tenha sido encaminhado no més de julho, os documentos de acompanhamento processual do STF informam que a data de autuagdo é 16 de dezembro. Mas nesse interim a disputa sobre o diploma adentrou o Supremo ‘Tribunal Federal por meio de um novo estratagema juridico: «em outubro de 2006, o procurador-geral da Repiblica Ant6nio Fernando de Souza ajuizou uma ago cautelar (AC/1406)\ T ncérdto: "Viton, relatados edscutidos estes auos em que sio pares as acim rndcadas,deige a8" Turma do Tribunal Regional Federal da 3 Regio, 8 unani ‘Sade rear a peliminres, eo mer, dar prvimento aos recursos de apelasio de Undo ds Feng), do Sindiato dos omalease emessa ofc, julgando peu ‘Tuadeo recurso de apeagdo do Minna Pablco Federal, nos ermos do relacio ‘oro do SenhorJui Federal Convocado Relator na conformidade da ata de jug santo, qe eam farendo parce ineegrante do present lgado Sho Paulo, 26 de outubro de 2005 Manoel Atvares Jue Federal Convocado Relate” 8. Aacdocautlar um processo «ue possi carter acessio a um proceso prin ‘ipa En serve para que se consign a decetagao de medidas urgents, que sjam™ JRlgadar esencnis ou apenas nectsiris 20 desenoar dese outro process, O sees cautelar € autonome. Nada impede a prolacao de sentengafavoriel ra Meo cauciar, « desfavrdel na principal evicewer; esa autonomia € relat, plea exingao do process principal mplicaa exingio da ‘ago cautelar’, que dele Paependene”informagbescoleradas no st

. Consuado em 26 dejancro de 2012 ser um direcionamento dos desejos ¢ expectativas dos esti dantes de comunicacao dessas escolas do Rio de Janeito. Isso também foi verificado em outro momento do questionstio, quando os 134 alunos de jornalismo entrevistados foram ins- tigados a escolher (marcando um X nas respostas predefinidas ‘ou escrevendo livremente) suas preferéncias e desejos em rela- sao ao préprio futuro profissional..A metade dos discentes (67 pessoas) indicou que queria conseguir um emprego em empresa jornalistica reconhecida. Comunicasio organizacio: naal/assessoria de imprensa (14 pessoas) e emprego piiblico na firea de comunicacdo (11 pessoas) também foram opgies bastante mencionadas. A tabela abaixo elenca as categorias consultadas na pesquisa e expde os resultados, apresentando ‘uma divisio entre ingressantes e concluintes. ‘Tabela ~ “Expectativas/desejos dos estudantes dejornalismo fm relagio a Futura carreira” ‘© que querem Ingrestantes|Condintes Emprege em empresa reconhecida (Outro tipo de wabaho-en jomalama «que nto sea: emprego pic em ‘omunicaga, assessor de imprens _emprego em grande empresa jrnalistica Teabalhar com comunicayao organizacional/aseessona de imprensa Emprego pico na area de Segui careira acadérica ‘Outro tipo de trabalho, fora do joralismo ‘Nao sabe / nie respandeu inespecico ‘Avie préprio negscio ‘Qualquer emprego publica, desde que pague bom TOTAL Como se pode observar, o valor do emprego na empresa jornalistica reconhecida é bastante expressivo entre os que acabaram de entrar na faculdade: 70,1% deles vislumbram a sua trajetéria nesse caminho. Para estes, nem sequer se cogita abrir © proprio negécio ou trabalhar com algo fora do jornalismo. Nota-se ainda que os recém-chegados ao curso superior tam- bém nao tém muita familiaridade com outras possibilidades da carreira que os concluintes demonstram apreciar, como a comunica¢io organizacional (1 ingressante interessado para 13 concluintes) ou 0 concurso piiblico na area de comunicagio (Lingressante para 10 coneluinces). Esses dados sio bastante significativos, pois mostram a forga que os meios de comunicagao social ligados a grandes nomes cempresariais exerce na construcio da identidade jornalistica do pais. Ainda que o contexto contemporaneo traga para o debate nas salas de aula dos cursos de jornalismo iniimeras questoes relacionadas as mudangas estimuladas pelas novas tecnologias de comunicacao e informagao, a internet, a convergéncia midié tica, nao ha como negar, mediante o resultado desse questio- nario, que muitas imagens que os fututos jornalistas fazem sobre sua profissio esto ancoradas num padrio de reconhe- cimento vinculado a estrucuras empresariais de grande porte. (Os questionarios também mostram que, além da empresa jornalistica, o ambiente universitario se apresenta como uma grande referéncia para os alunos em termos de definigao do ethos profissional. Nao me afetou muito [o fim da exigéncia do diploma]. Jéera uma prética comum nos veculos de comunicagdo e sé foi ofcializada, Creio que o diploma em si nao é cdo importante, masa formag30 Universitaria ainda faz muita diferenca. (Concluince da UFR)) Independentemente da opiniao acerca da objetividade do diploma, os universitatios entrevistados demonstraram estar imbuidos da crenga de que a passagem pelo curso superior 6 um facor diferencial para o exercicio profissional do jorna- starem ali) lismo (ora, se ndo estivessem, qual 0 propésito de Entretanto, é bom lembrar que esse tipo de erene: para os estudantes universitérios nao é necessariamente com: partilhado consensualmente. Serpornaliste no Brasil ®) ‘Mesmo bastante difuundida e largamente aceita no espaco social, a distingao pela via do curso superior foi um ponto nevrlgico das discussdes sobre aexigéncia do diploma, tal como demonstra trecho do editorial do jornal Folha de Paulo que questionoue peso do mundo académico para a construgao do ethos do joralista: “Ei diance do pablico, e nao de um comité cartorial do Estado ou da academia, que o jornalista tem de legitimar-se” (editorial da Folhs de S.Paulo, de 28 de setembro de 2008). Em momentos como esses, o debate nao discorreu, como se pensava, sobre o ethos do jornalista exatamente, mas sim sobre oetbos da propria universidade, sobreeudo no que diz respeito a forga dessas instituigdes para conferir autoridade e legitimidade ao jornalista. Uma fala interessante para contra- por & posigio expressa no edicorial da Folha de S.Paulo foi a do jornalista Alberto Dines, publicada no Jornal da ABI, em 2009 © jornalista 6 deste quarto poder, ele tem que ser treinado para iss0, Ele nfo vai ser teinado na Redacio, no corre-corre; ele tem ‘que parar para pensar, ouvir outras pessoas para que ele possa se conscientzar da importincia do seu papel sv 96 pode acontecer numa universidade boa, porque numa universidade ruim, ele vai ganar o diploma e nunca mais vai parar para discutira qualidade do que aprendeu. [..] E curioso, mas nao fiz nenhuma faculdade ra vida. Poréem, ao longo de mais de cinquenta anos de carreira, comvenci-me de que 0 Unico lugar onde o jornalista pode refletir sobre a sua profisio e compreender as especifcidades dessa pro: fissdo € numa Escola de Jornalismo. (Depoimento de Alberto Dines ao Jornal da ABI, 342, junho de 2008, p, 20) (0 discurso de Dines admite a existéncia de faculdades que no serio capazes de formar um jornalista de qualidade, mas nem por isso minimiza a importancia do curso superior como espago de formacao de um profissional que deve ter atributos intelectuais,além das competéncias exigidas pelo trabalho cot iano, Mesmo tendo se rornado jornalista em vireude da pratica laboral, ele desautoriza, isso sim, 0 suposto valor pedagogico da empresa jornalistica, enfatizando que no ambiente de uma redacio agitada 0 sujeito nao tem tempo ou incentivo paca pensar sobre si mesmo e seu trabalho. No texto de auroria dos professores universitarios e ram bém jornalistas Anténio Fausto Neto e Gilson Piber (Favoraveis 4 exigeneia do diploma), os académicos procuram opor inte- esses empresariais a escolares, defendendo uma perspectiva hhumanista e um cardter ndo instrumental para o saber fomen- tado pelas instancias de formagao tniversitéria: Nao se trata apenas de um reconheciment®'tartorial, mas de um ‘reinamento que foi ministrado aqueles que se candidataram a0 jornalismo e que, neste caso, receberam da universidade o “passe” para fazerem novos rituas, tl A formas universitaria nunca vai repetir o que dela exge 0 mercado, ¢ 8 equivocam aqueles que julgam que @universidade deve serum apéndice dos mercados profsionas, eu status é 0 de perseguir outros tempos, producir reflexdes ¢ ensinamentos acerca dos ofiios para os quais pre param ética, intelectual e humanisticamente futures quadros a servgo dh sociedade, (Texto publicado no site da Fenaj em 18 de agosto de 2008, Grifos meus). A tensio em toro do ethos académico expressa esse con- flito é, em suma, uma luta para saber quem cem mais forca para definir os modelos de attuacio, de pensamento, de conhe cimento para 0s jornalistas que vo atuar no espaco social. Os dois textos apresentam suas coincidéncias, no entanto. A lei- tura mais direcionada de ambos da conta de que eles carregam uma imagem coincidente acerca da identidade do jornalista, justamente relacionada ao papel desse profissional ea sua res- ponsabilidade em face do piiblico, da sociedade. A figura do prestador de servicos emerge nas duas falas. Esse fazer jorna listico, entio, é reforgado, ainda que inconscientemente, por meio dos indicios que o atrelam a0 papel de servidor do pablico. © compartilhamento desse tipo de percepsio por grupos antagonicamente posicionados no debate nao deixa de resultar no reforgo, na perpetuacio, na reprodugao de caracteristicas do jornalista que indicam a esse profissional - com ou sem diploma - um lugar de destaque na ordem do discurso, lugar {que nio é um dado prévio ou automético, mas construido em ‘momentos como esse. SejonatinroBnct ® Ha ainda algumas nuances da identidade jornalistica no debate contemporanco sobre os jornalistas e seus fazeres, seus valores, seus saberes, seu poder, sua presenca nos lugares de visbitidads ede cieulao de nforma;ao, suas cre, sunt transformagdes. O capitulo a seguir, que toma como objevo de andlise as discussdes sobre novas diretrizes curriculares para o curso de jornalismo no Brasil, vai procurar abordar mais alguns desses aspectos. ts primeiras divetrizes curviculares pare o curso de jornalicmna no Brasil Ahistoria da elaboracao das primeiras dirtrizes curricula res para 0 curso de jornalismo no Brasil precisa ser contada paralelamente & do diploma, pois elas estdo politicamente conectadas. Isso porque a “decisio” do entéo ministro da Educagio, Fernando Haddad, de conclamar uma “comissio de especialistas” para elaborar o texto-base dessas diretrizes, rio pode ser encarada como um ato espontineo ¢ direta mente derivado do representante do Estado. Na verdade, ela esteve diretamente relacionada as pressoes feitas por alguns atores sociais empenhados na Campanha Nacional em Defesa do Diploma, encabecada pela Feng} Em audiéncia com representantes da FENAJ, do Forum Nacional de Pro- [essores de Jomalsmo (FNP) e da Sociedade Brasileira de Pesquisadores ‘em Jornalismo (SBPJor)realizada quinta-feira (23/10), o ministro da Educagio, Femando Haddad, admiiu que regulamentago e exer- cicio profissional nao competem 20 MEC. A preocupagio do rministério & com a formacio do jornalista, Por isso, propés a for mago de uma Comissdo para revisar as dretrzes curiculares dos cursos de Jornalismo, A audigncia foi solicitada pelas entidades apés circularem na imprensa informacdes atribuidas ao ministro {que interferiam na regulamentago da profissio e sobre o debate {que hoje se trava em forno da constitucionalidade da exigencia do diploma de curso superior de Jomalismo para o exerccio da profis: 80. (Noticia do ste da Fen, 28 de outubro de 2008. Grifos meus) Essa matéria da a entender que o ministro fez uma “pro- posta” de “revisio” das diretrizes; entretanto, conhecendo os anomalies noBrmet ® relacionados & proposta de criagio das primeitas diretrizes curriculares para o curso de jornalismo. As minticias do ensino e do curriculo ganharam destaque dai por diante, enquanto debate sobre o diploma caminhou paralelamente ao desento- lar desse proceso. De certo modo, as discusses da primeira década do século XXI sobre as normatizasées educacionais para formacio superior em jornalismo estiveram submetidas as do diploma, mas a comissio de especialistas convocada pelo MEC para ditigir os trabalhos se dedicou mais a dar con tomos préprios 3 discussio curricula. Colateralmente, isso resultou no esquecimento ou apaga mento ~ se proposital ou nao, nao se sabe ~ da dimensio de articulacdo politica concreta que associou, desde a proposta de criagdo das direttizes, os dois debates. As pressdes realizadas pela Fenaj, pelo FNPJ e pela SBPJor contra o MEC, as tentativas do ministro de sair das “saias justas” resuleantes de suas decla rages sobre o diploma publicadas na imprensa, além de outros pormenores que estiveram na génese da proposta de elabora ‘10 das ditetrizes, s4o aspectos que acabaram silenciados. ‘Ao acompanhar o desenrolar das discusses, nao foi dificil perceber a intengao do Ministério da Educagao de desarticular possiveis vinculagdes feitas entre a questio das direttizes curriculares e as discussdes do diploma. Tal posicio se fez bastante clara no dia 20 de margo de 2009, quando um fun ciondrio do MEC, Paulo Wollinger,ligado a Secretaria de Edu: cacio Superior, proferiu a fala de abercura da primeira de trés audiéncias puiblicas que foram organizadas para que a comis- sio consultasse setores da sociedade antes de comesat a tedi- sir o relatorio, O representante do ministério iniciou dizendo que, naquele momento de crise mundial o governo brasileiro 2. Haviam passado poucos meses depos da crise de 2008 no serorimobilsio amercano que afetou profundamene todo o sistema de eredito nos Estados Un trade po divesos pales, romando proporsdes mundias, aterando,sobretudo, as bolas de valores. Naquele momenta, 0 Bras, sob o govern de Luis Insc Lia da Siva, procurava demonstrar um oimisme em reagao ao fat, usando © dscurso de investimento na economia brasileira e de seguranca promovia pel soldez das opgaes econémicas da politica governamental irigia especial atengao a trés setores estratégicos: comunica- ao, satide ¢ engenharia. E continuou explicando que, levando isso em consideracéo, o MEC apreciava revises em diretrizes curriculares para os cursos de medicina e engenharia civil, além do jornalismo. De qualquer forma, a questao da obrigatoriedade do diploma no permaneceu silenciada ou esquecida. Ela teimou em apare- cernas falas dos participantes dessa primeira audiéicia pitblica, chegando a desviar, inicialmente, o propésito da reuniio. Mas, para evitar 0 fracasso do debate programado para se realizar naquela ocasio e naquele espago, 0 representante do MEC (que, segundo o protocolo, nao deveria intervir depois de sua ‘manifestasio inicial) recomou a palavra para, pragmaticamente, reiterar sua fala, enfatizando o distanciamento em telagao as discusses do diploma, e redirecionar o rumo da conversa e fazer cumprit a agenda da audiéncia publica Para que a continuacio do evento saisse como planejada, \Wollinger ainda reve que podar um segundo tipo de questio- namento feito pelos académicos contrarios a0 cardter impo- sitivo da iniciativa de criagio de diretrizes. Algumas vozes se levantaram contra a riagio de diretrizes especificas para o jor nalismo, discordando da separagao dele da area de comuni- cagao. Em resposta a essa opinio, o representante do MEC argumentou que os outros cursos para os quais também ela- boravam novas diretrizes naquele momento ~ no caso, medi: cina e engenharia civil - eram pertencentes a grandes areas, que agrupavam diferentes profissées, cada qual com suas res- pectivas ditettizes. De acordo com sua argumentagio, nio existia um curso chamado “satide” nem outro puramente de “engenharia”, Pela mesma ética, a comunicasio social nlo era uma profissio, mas sim uma érea, donde se fazia necessiria a criagio de direcrizes especificas a cada tipo de formacio pro- fissional. Apesar dos protestos, ao fim e ao cabo a audiéncia piiblica teve que continuar eos trabalhos da comissio de espe- cialistas também seguiram em frente. Ficou patente que nio houve, exatamente, a persuasio pela via argumentativa, mas a imposicaio de uma decisio politica pela forca do Estado, @ a © documento final produzido pela dita comissio também denota um silenciamento acerca dos fatores preliminares que serviram de gatilho imediato para o “surgimento” da proposta de criagao das diretrizes curriculares para 0 curso de jorna- lismo. No preambulo do texto, em que caberiam observagdes desse tipo, hd, na verdade, o teor oficial que procura demons- trar que a proposi¢io nasceu de politicas governamentais. Nio se advoga, aqui, que a redagao teria que considerar aqueles aspectos. Entende-se que 0 tom usado em documentos com direcionamento para. leitura e aplicagao por parte do Estado precisa estar conformado a ret6rica pertinente ao discurso dessa instituicdo. Entretanto, nunca é demais que os trabalhos criticos apontem o esquecido, jogando luz ao que frequente mente ¢ obscurecido pela naturalizagio de concepgdes e sentidos coperada por agentes imersos na ordem do discurso. Para isso, é interessante seguir um caminho metodolégico de investiga- «sao das origens, algo que ajuda a demonstrar a movimentacio, as posturas e 05 posicionamentos discursivos dos diferentes atores sociais que se envolveram na tematica. Assim, voltando a andlise do texto das propostas para diretrizes curriculares do curso de jornalismo, vale continuar analisando seus modos de dizer, de apresentar a questo, sempre tendo em mente os impulsos, interesses, jogos de forca, sistemas de saberes, valores que ajudam a encontrar os porqués de determinadas crengas, atitudes e decisdes, Segundo 0 documento produzido pelos especial nomeagao da comissio responsavel por redigi-lo é atribuida 4 um sujeito impessoal (uma portaria do ministério), de modo que se sugere que ela (comissio) nao agiu em beneficio préprio ou no interesse de grupos particulares, mas obedeceu a dindmi- «as estatais na promocao de politicas para a educagao superior. ‘Como se pode notar, atarefa é encarada como “missio” que vai atender a necessidades da sociedade democrética: ‘A Comissio de Especialistas nomeada pela Portaria MEC-SES 203/2009 recebeu do Ministro Fernando Haddad a missio de repensar 0 ensino de Jornalismo no contesto de uma sociedade em processo de transformacio. Trata-se de fendmeno decorrente do fortalecimento da democracia, no qual o Jomalismo, assim como utras areas do conhecimento, desempenha papel decsivo, infor mando os cidadios e formando as correntes de opiniao publica (Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Jornalismo, Relatério da Comissio de Especialstas, 18 de setembro de 2009) Até aqui foram clucidados alguns aspectos importantes sobre a génese da decisio que “props” a criacao dessas diretri 22s no Brasil, destacando-se personagens centrais, suas moti vacbes ideol6gicas, articulagdes politicas, interesses ¢ crencas relacionados nao apenas a questao das diretrizes, em particular, ‘mas aos modelos e politicas de formacio do jornalista no Brasil, ‘mais amplamente. Também se comentou sobre as estratégias de esfumacar, velar, tirar do debate os jogos de forca que foram 0s propulsores imedtiatos da constituigao da comissao de espe- cialistas responsavel pela produgao de relat6rio para tais dire trizes. Com essa reflexao inicial, assentou-se um terreno s6lido para acontinuacio das anélises sobre o material empirico rela- tivo a esse capitulo, que inclui 0 texto do relatério, além de outros discursos que se manifestaram em diferentes situa- es sobre a questo (audiéncias puiblicas, cartas escritas por entidades, sites institucionais etc). Dando continuidade, portanto, & analise do corpus relativo as direcrizes curriculares mantive a mesma inspiraao te6- rico-metodolégica adotada na investigacio do debate sobre © diploma, comando como base os estudos sobre retSrica. Nesse caminho, cheguei a resultados muito semelhantes nas duas anilises, sobretudo no que diz respeito a detecgaio de dois pon- trais:a presenca de uma forte disputa de teor mais acad ‘ico pelo reconhecimento do jomnalismo como campo de conhe: cimento especifico dentro da érea de comunicagao ea reiterada conexo do papel e da importancia do jornalismo e dos jorna- listas com os valores da liberdade, democracia e cidadania. Nos proximos pargrafos, fragmentos de discursos que corrobo- ram a percepgao desses dois aspectos serao reproduzidos. Nao pretendo me alongar no detalhamento analitico desses extra: tos em relagao as mobilizagdes ret6ricas nos ambitos do ethos, @ } 4 § &

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