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imperiatismo 242 Midia global, neoliberalismo popular — um papel maior em suas plataformas. Esto desco- brindo que este & um assunto de boa aceitagio no conjunto da populagio, Outros ativistas tém dado énfase consideravel ao de- senvolvimento de meios de comunicacao independentes e ditos “piratas” para contrabalangar o sistema empresarial, Por toda parte na esquerda antineoliberale socialista hé o reconhecimen- to de que a importancia da questo da midia cresceu radicalmente enenhum movimento social bem-sucedido pode deixi-le de lado como questéo para ser abordada “depois da revolucio”. A orga- nizagao da midia democritica deve fazer parte da luta atual, se queremos ter uma possibilidade vidvel de sucesso. 0 poder midiatico IGNACIO RAMONET Como consequéncia da revolusdo digital, é extremamente diffi hoje em dia, intelectual e objetivamente extabelecermos dstngdes nitdas entre o mundo da midia,o mundo da comunicagd0,o mun. do que poderiamos denominar cultura de massas e o mundo da Publicidade. Cada dia existe menos fronteiras entre esses tes se, tores. Até alguns anos atrés, no universo da comunicagto em geral, Podiamos distinguir tes eseras autdnomas e praticamente inde- Pendentes. Por um lado, a esfera daquilo que chamamos de infor. macdo: imprensa, informagao radiofonica, agéncias de noticias, Roticiérios de televisio, cadeias de informagio continua — este Universo, dos jornalistas, um mundo a parte, uma esfea 3 parte, A outta esfera é a esfera que vamos chamar de comunicaggo institucional: a publicidade, a propaganda no sentido politico da Palavra, todo esse universo que se desenvotveu enormemente. Na atualidade, os governos comunicam, as empresas comunicam, Possuem jornais, ridios, tim porta-vozes midiaticos, tim estrutu ‘as de imprensa e € cada vez mais dflcl para nds ndo identifcay Stes elementos como parte formadora do mundo da comunicagao, A publicidade faz parte do mundo da comunicaglo, aparato 244 0 poder midiético ideol6gico do sistema. A publicidade € aquilo que a propagenda éna politica, A terceira esfera é aquilo que chamamos em geral de cultura de massa, em seu sentido mais amplo: a telenovela, os quadti- ‘hos, a edigao literéria de massa, 0s livros de massa, o cinema de ‘massa, 0 esporte etc. Poderiamos, hi dez anos, falar dos meios de comunicacdo como um universo fechado, com sua propria légica, com sua propria di- nimica, auténomo em relagao 20 resto do universo da comunica- ‘40, mas hoje isso nao é mais posstvel. E por que nao é possivel? Por causa da revolugio digital. A revolugao digital, que obviamen- tendo itei explicar aqui, ¢ essencialmente a mescla do texto, do som da imagem, Antes havia um universo do texto, um universo do ‘som, um universo da imagem; hoje isso esta totalmente mistura- do, Podemos observar, por exemplo, que nao existem mais méqui- nas de comunicar exclusivamente sonoras. Se Vocts recordam, hé uns 10 ou 15 anos, um telefone era um aparelho de duas pecas, negro, que servia apenas para o som, ¢ ndo, por exemplo, para trans mitir um texto ou uma imagem. Hoje pegamos o telefone celular e verificamos que ele ainda tem som, mas que também tem imagem, que tem texto, ¢ tem uma tela. O rédio, por exemplo, antes era uramente sonoro e um cego poderia owvi-lo; hoje, ele jé ndo pode ouvir rédio tao facilmente, porque o rédio também tem uma tela, ena tela ha texto e amanha haverd imagem eo texto do rédio nos diz quem esté falando, como se chama, que estacao estamos ou- vindo, que cancao é aquela que escutamos etc. J4 nao hi, portanto, o universo do escrito, o universo do som, © universo da imagem, tudo est misturado. Da mesma forma, ainda no marco da comunicagio, 0 que observamos & que as ‘méquinas de comunicar se fundem: 0 telefone, otelevisor, 0 com- putador, Essas novas maquinas nos permitem fazer, cada vez mais, Por uma outra comunicagso 245 6 due cada aparelho nos possibilitava em separado. Com o tele: MOF Podemos realizar as fangdes do computador, com o com, Pitador as fangdes do telefone ¢ com o telefone as funsbes da ‘elevisto sempre mais. Esse € 0 universo da Internet, A Tnteret nto sabe distinguir entre texto, imagem e som, nao sabe dstinguirenteas tes esfeas das quaisfalamos, Na Tntcrnet. fast esfera da informacto,esfra da publicidade eesfera da cul. tara de massa, Na Internet hé cadaver mais televisto, hécads ves ‘mais informaslo, hé cada vez mais publicidade;¢ nao ha diferenga 89 Time Warnes, e uma empresa recente, a America On Line. E preciso refletie sobre o que isso significa em termos de di. ‘uso quantos milhares de pessoas em todo o mundo tem rela- $0 como grupo Time, coma revista Time com. cinema Warnes com a televisio Warner ou com o canal a cabo Warner, ou ainda Ban LCN, du faz parte do grupo, agora, com @ AOL, que & lim Portal de entrada na Internet para centenas de milhoes de * usudtios pelo mundo afora, ‘Vimos aparecer mais recenternente umn segundo grupo euro- Smericano, ou franco-americano, o Vivendi Universal. Ele se as. 246 0 poder midistico semelha a0 grupo Murdoch, nfo tem especialidade no campo da comunicagao. Faz de tudo: edigao musical, edigio sinematogrs- fica, flmess possui, é evidente, editoras, agéncias de publicidade, todo tipo de servigos de lazer, além de, obviamente, estar presen- te também no esporte, ; O esporte raat 40s grandes grupos de comunicasto americanos ¢ europeus ow a um grupo como Murdoch (que jé nao sabemos que nacionaliade tom, e€ australia, se ébritinic, se & american), 0 qual por exemplo, pretendia comprar o time de fute- bol mais célebre do mundo, o Manchester United. Um time de fa- tebol nao tem, hoje, interesse esportivo: é muito menos uma prova esportiva que se desenrola em uma cancha do que um espetéculo ‘que se difunde pela televisto, Um time de futebol nada tem a ver,ou tem cada dia menos, com o esporte cada vez mais com o espetdcu- lo, Daf as importantes somes em dinheiro pagas aos atores dessas equipes, como aos atores deste ou daquele filme ou telenovela, Em tal context, o que temos diante de nés nao é 0 mundo da informagao apenas, mas um universo bem complexo, no qual ‘08 atores principais da globalizagdo, as grandes empresas, desem- penham além do mais um papel muito importante no campo da informagto, £ 0 que tento distinguir no mundo atual quando fago referéncia a0 primeiro e ao segundo poder — e nenhum desses poderes € politico, : © primeiro € 0 poder econdmico e financeiro, E o segundo é 9 poder midldtico, Porque o sistema mididtico, da maneira come o define, 0 aparatoideoldgico da globalizag. Bo sistema que, em certa medida, constitui o modo de inscrever, no disco rigido de nosso cérebro, o programa para que aceitemos a globalizacao. Esse sistema ideolégico, esse aparato ideolbgico global, é 0 aparato mididtico em seu conjunto. Quer dizer, o que a imprensa diz a televisdo repete,a rédio repete, e nao apenas nos noticidrios, mas Por uma outra comunicagio 247 também nas fcsdes, na apresentaco de um tipo de modelo de vida que se deve apresentar, A informacao hoje No universo da informagto, especificamente, esta caracteristica fambém & encontrada, O que surg como caracteristica impor. tante, primeizo, é que hoje a informagao é considerada essencial- nente uum mercadoria. Nao é um discurso que tenha a vocagdo Stica de educar 0 cidadio ou de informar, no bom sentido ds Pelavra, o cidadiéo, pois tem essencialmente e antes de mais nada lima Petspectiva comercial. Compra-se e vende-se informagdo com 0 objetivo de obter lucros, Esta é uma lei importante, de modo que a informasto no se move em fungdo das regras da informarto — o que faria da verdade, por exemplo, uma refe, réncia suprema —, mas em fangdo das exigencias do comércio, ue fazem do ganho, ou do interesse,o imperative supremo. ‘A segunda caracterstca da informasao, € 6bvio é que ela se acelerou até aleangaro limite absoluto de aceleracdo, A que velo. Sidade circula ainformacto hoje? A velocidade da luz, ou sje, 300 mil quilémetzos por segundo, Passamos de um mundo de Jomalismo para um mundo do imediatismo, do instantaneismna, io hé tempo para estudar a informacio. A informasio é feta cada vez mais de impressoes, de sensacoes, Qual €a terceira caracteristica da informacéo hoje? Essencial- mente, € que tende a ser cada dia mais gratuita, As ‘grandes firmas ‘micidticas presenteiam informacao. Se pensarmos sobre a infor, ‘ago que consuimimos, veremos que recebemosa maior parte dela Sratuitamente, ou aparentemente gratuitamente, Quando ouvimos dio, quando vemos televisio, a informago é gratuita, Quando 248 0 poder midistico Temos a imprensa, pagamos, porém é um pagamento simbélico, ue ndo cobresequer 0 prego do peso em papel do jornal. Por qué? Porque quem paga a informasao na realidade é a publicidade, Entio, sobretudo com os megagrupos que apareceram agora, entramos em um universo no qual a cireulasio da informacio de ‘massa se faz.com esse critério. Antes podfamos dizer que uma em- Presa jornalistica vendia informagio aos cidados, Eraa sua forma normal, enquanto hoje uma empresa midistica vende consumido- esa seus anunciantes, Quer dizer, AOL-Time Warner, por exemn- plo, vende a seus anunciantes — Nike, Ford, General Motors — 0 niimero de consumidores que possui. Esa € a relacio dominante, Discurso infantilizante © que significa tudo isso que estou dizendo? Significa que a luta contra tais grupos se tornou extremamente dificil Poderfamos dizer, por exemplo, que uma atitude militante diante da pressdo ‘mididtica consisiria em dar gratuitamente a informagdo que eles vencem, mas na realidade eles 0 fizem: se difundirmos gratui- tamente a nossa informasto, nio feremos nada além do que eles fazem; a gratuidade JA nfo é critério de: distingao, Os grupos de midia se dirigem a massas que sio planetitias, enquanto n6s, muitas vezes, seguimos pensando o contradiscurse de forma demasiado local ou demasiado citcunstancial Aqui tam- bém existe uma diferenga enteeilustrar aqueles que jé sabem ¢ icigir-se a um pablico geral. Outta diferenca 6 que, por vezes, 0 discurso miitante ou de contra-informacao nao € suficientemen- te pedagégico ou nao tem os critérios de sedusao que Ihe permi- tiriam competir com o discurso dominante, Poisbem, qual éa caracterstica do discurso das grandes empre- Por uma outra comunicagéo 249 sas mididticast E a retérica. Analisando o discurso da informacio out da publicidade ou da cultura de massas, observa-se que ele apre- Sent, retoticamente, as mesmas caracteristicas, Em primeiro lugar, € um discuso répido, no a efitoslongos; na imprensa, os artigos S20 cada vez mais curtosas frases sao breves, os titwlosimpactantes, como um modelo publicitétio ou qualquer dliscurso da cultura de ‘massa. Primeira caracteristica: a rapidez para evitar 0 tédio, Segunda caracteristica: a simplicidade. O discurso dominan- {© nos grandes sistemas midiaticos, é muito elementar, é um vo- cabulétio que todo mundo possui, é uma construgao sintatica, ‘uma construcio retérica que todo mundo pode entender. No ci. ema, no rédio, na literatura de massa, as caracteristicas so as ‘mesmas, ou seja, a simplicidade da construsao, A terceira ¢ utilizar constantemente algo que poderfamos chamar de elementos de espetaculatizacao, de dramatizaci tiso, por exemplo, no discurso publictério; o discurso eufbrico ow a tragédia no discurso do noticiério. Fazer rir ou fazer cho- tar, Em todo caso, expressar-se através das emogGes. Quando refletimos sobre esse discurso, que € um discurso de massa, logo descobrimos que fala, na realidade, tem essas carac- ‘eristicas: é aquela que, em geral, dirige-se as ctiangas. As criangas {fala-se com simplicidade, brevemente e de maneira emocional. De uma maneira geral, 0 discurso que recebemos ¢ um discurso infantilizante, Qual , porém, problema? que nio podemos fazer con- ‘tra-informagio com um discurso efetivamente infantilizante. E 2 dificuldade esta em construir um discurso de contra-informa- S40 que apresente também caracteristicas de seduco, ou seja, que- ‘ao se dirja a uma pequena minotia, mas que possa dirigir-se também as massas, sem ser, definitivamente, um discurso dows {tinério, dogmético, um discurso de pura retérica, artificial, 250 0 poder midiatico Queremos a verdade Dirao vocés que tudo isso é muito pessimista. £ verdade, a situa- ‘40 ndo ¢ fil, eu jé o dissera no inicio, E qual seria a perspectiva menos pessimista? Eu nao disse otimista, disse menos pessimis- ta, O que constatamos em nossas sociedades, na maioria das so-

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