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2018 © Thais O. Gomez - Todos os direitos reservados.

Esta é uma obra de ficção. Todos os personagens, nomes, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança com a realidade é pura coincidência.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou
reproduzida por quaisquer meios existentes sem autorização da autora. A
violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei n° 9.610/98, punido
pelo artigo 184 do código penal.

REVISÃO POR LUD OLIVEIRA


DIAGRAMAÇÃO POR TG DESIGN
CAPA POR TG DESIGN.
Junho de 2018.
Sumário
JENNER
JENNER
JENNER
JENNER
JENNER
CONNOR
CONNOR
CONNOR
CONNOR
JENNER
JENNER
CONNOR
JENNER
CONNOR
JENNER
CONNOR
JENNER
JENNER
AGRADECIMENTOS
JENNER

Eu sabia que papai não estava na plateia quando entrei na mesma,


nem tentei procura-lo. Apenas me posicionei e observei minhas sapatilhas
rosa clara novinhas em folha.

Ele não costumava faltar, mesmo assim, a falta dele ali doía.

A música lenta e cheia de melodia se iniciou, a professora de ballet


nos instruiu começar a apresentação e assim todas fizemos, rodando pelo
palco, dando “graciosos” saltos e com sorrisos enormes no rosto.

Até que tudo acabou e eu me pus ao chão, fincando os pés para não
cair ao ver papai entrar pela porta afobado, enquanto segurava as mãos de
uma mulher.

Enquanto Rafael Wright era branco, olhos castanho escuros — que eu


havia herdado com maestria —, a mulher ao seu lado era alta, loira e com os
olhos azuis. Sorria nervosa.
Minhas mãos suaram ao ver eles se sentarem na primeira fileira
mesmo depois da apresentação ter acabado. Todas as meninas deram meia
volta e saíram do palco, as acompanhei sentindo o medo e ansiedade para
saber o que estava acontecendo fora do auditório da escola.

Papai me esperava no topo da escada que dava ao auditório e eu


caminhei até ele, segurando minha mochila cor de rosa, enquanto ele sorria.

— Hey, princesa! Desculpe, não pude chegar mais cedo... — Ele


alisou os meus cabelos. — Eu tenho que conversar com você.

Gelei no mesmo instante. Poucas coisas no mundo me davam pavor,


mas uma conversa com o pai era sempre uma conversa.

Sou filha única, moro com meu pai desde os três anos, quando minha
mãe morreu. Seis anos se passaram e eu não tinha nenhuma lembrança dela,
até que encontrei uma foto jogada em um saco de lixo junto com coisas da
antiga mobília e a peguei, escondendo-a em uma caixa debaixo na cama. —
Oi, papai... — respondi baixinho, trocando as sapatilhas de ballet por tênis
escuros, eu os adorava, me dava toda a liberdade que uma criança pudesse
querer.

Assim que terminei, enlacei minha mão a do papai e saímos dos


bastidores, descemos as escadas rapidamente e quando eu olhei para cima,
dei de cara com a mulher, uma possível rainha má.

Eu me sentia na Branca de neve, meu conto de fadas preferido, onde


era levada a famosa rainha má, com quem seria sujeita a viver e...

— Essa é Jenner, minha princesa. — Papai disse, se colocando atrás


de mim, segurando meus ombros de forma delicada. — Jenner, essa é Dara,
minha noiva.

É. Nada poderia piorar, pensei, com medo de que minhas expressões


denunciassem meus pensamentos.

A mulher se abaixou, ficando cara a cara comigo e sorriu.

— Hey, Jenner! — Ela me cumprimentou, observei que os olhos dela


ficavam brilhando a todo instante. Era estranho. — Tudo bem? Nossa, você é
linda, parece a branca de neve...

E você a rainha má, quase mordi a língua para não responder,


enquanto a mulher passava a mão em meus cabelos.

— Jenner, Dara e Connor, seu filho, irão se mudar para nossa casa. —
papai jogou a bomba, fazendo-me controlar o gemido de sofrimento.

Sim, tudo ainda poderia ficar pior, só não sabia se meu conto de fadas
era Branca de Neve ou Cinderela. Agora tinha uma madrasta, ou melhor,
rainha má, que para completar, vinha com um filho, ou melhor, uma das
irmãs malvadas da cinderela.

Saiba bem, tudo pode sempre piorar. Palavras de Jenner Wright, uma
garota de nove anos em seu conto de fadas, sem um príncipe encantado na
perspectiva.
JENNER

Observei enquanto papai corria porta a fora para receber Dara, que
entrou segundo depois, ao lado dele e de um garoto.

O menino grudado a mão de Dara me encarou de forma estranha e eu


aproveitei para analisa-lo, não deveria ter mais que a minha idade, apenas
alguns centímetros mais alto, cabelos loiros claros penteados de forma
engraçada, as bochechas brancas estavam vermelhas pelo frio que fazia, os
olhos azuis desviaram de mim e analisou o ambiente ao seu redor. Vestia
calça jeans escuras, blusa preta com uma caveira e estava na maior pose eu
sou o deus do rock, não se mete comigo! A constatação quase me fez sorrir.
Papai não gostava nada nada de rock, o mesmo dizia que era coisa do diabo,
vai entender...

— Hey, Jenner! — Dara me cumprimentou da mesma forma quando


nos vimos pela primeira vez. A mesma continuava linda e elegante e eu me
perguntei se mamãe fora assim um dia. Na foto que eu guardava ela estava
sorrindo, mas vestia uma bata hospitalar. — Tudo bem com você? —
perguntou se abaixando em minha frente. Gostei do gesto, mesmo tentando
não gostar da mulher.

— Diga olá, Jenner. — Papai ordenou, me fazendo recuar alguns


passos. Durante as últimas horas tivemos muito o que conversar, eu só tinha
nove anos, mas papai sempre ouvia minha opinião, menos em relação a Dara,
ele estava decidido a me dar uma rainha má.

— Oi — disse baixinho, encarando minhas sapatilhas rosas com


lacinhos. Dara riu, bagunçando meus cabelos, no mesmo instante alisei-os de
volta, os alinhando novamente no lugar.

— Este é meu filho, Connor. Diga oi a Jenner, querido —– pediu,


alisando os cabelos do filho, que fez cara feia. Meu olhar vagou entre a
camisa que ele vestia e seu rosto, Dara me acompanhou notando meu olhar.

— Digamos que ele gosta um pouco de rock. — Ela disse com um


sorriso nervoso.

— Eu prefiro música clássica — resmunguei. Ora, uma criança pode


saber que é música clássica!

— Eu não quero ficar aqui, mãe! — O menino resmungou.

Papai interviu.

— Ora, eu acredito que podemos ouvir rock e música clássica sem


nenhum problema. — Ele disse.

— Mas é claro! — Dara exclamou, ficando abaixada na frente do


filho. Vi o rosto suave da mulher se tornar sério, quase severo. — Connor!
Diga olá a Jenner e pare de birra, já disse que é aqui que iremos morar e isso
não está em discussão.
Ele suspirou, deu meia volta e se jogou no sofá, como se a mãe não
tivesse falado.

Deu os ombros e eu ouvi um suspiro cansado de Dara, que claramente


não sabia lidar com o filho.

Eu acordei durante a noite, no segundo dia em que Dara e o filho


dormiram na minha — MINHA — casa. Tocava um rock pesado na caixa
amplificada de Connor ao quarto ao lado, Dara e papai acordaram e foi quase
uma hora de sussurros, nem tão baixos, que ouvi pela parede fina.

Na manhã daquele dia o garoto não apareceu para tomar café da


manhã e eu só o vi quando estava na sala de ballet no último andar da casa.

Ele estava parado na porta com uma expressão severa, caminhou até o
rádio que tocava uma das minhas melodias preferidas e arrancou a tomada da
parede.

— Eu não vou ouvir essa merda o dia inteiro! — resmungou, batendo


o pé como um garoto mimado.

Eu estava preparada para responder quando fui interrompida.

— Connor Mitchell, você está de castigo por um maldito mês! Nada


de músicas, computador ou vídeo game. — Ele gemeu em protesto. —
Continue nesse comportamento e eu serei obrigada a manda-lo de volta para
o internato.
Era assim que ela lidava com o filho? O mandando para longe?

O questionamento ficou na minha mente por vários dias e quanto mais


tempo eu convivia com Dara e Connor, eu via que eles tinham um péssimo
relacionamento, mas ela não era uma vaca — como a Tia Juju dizia —, tinha
apenas um péssimo hábito de achar que o menino era um boneco
manipulável — palavras da tia Juju.

— Papai! — resmunguei, o vendo caminhar para longe, suspirei e


cruzei os braços, cansada. — Eu quero ir para a casa da tia Juju!

Exclamei e ele me encarou, revirando os olhos.

— Não, você não vai para a casa da Julien, ela está me azucrinando
com essa história de Dara e Connor, Não quero você lá. — Connor apareceu
na sala, se sentando no chão. — Julien é minha irmã, mas é chata para
caralho!

Como se fosse uma força do universo para repreende-lo, Dara


apareceu também.

— Não xingue na frente das crianças! — ralhou e eu segurei o riso.

— Mas você falou "caralho!" quando brigou com Connor. — Dei


corda e a vi ficar sem graça.

— Ah! tanto faz! — Papai riu com embaraço da mesma. — Estou


indo no shopping e você e Connor irão comigo.

Não me deixou responder, saiu da sala me deixando estática. Eu não


vou a lugar nenhum!

Papai riu da minha cara e seguiu para fora, como se nada tivesse
acontecido.

— Olha, mamãe! — Connor exclamou, assustando todos ao redor,


soltou-se da mão da mãe, correndo pela calçada, parando em frente a uma
vidraça enorme. — Que lindinhos, mamãe.

O escutei falar, enquanto sua mão cobria a patinha do cachorrinho


dentro da loja, isso me fez dar passos ansiosos até lá.

Parando ao seu lado, observei os cachorrinhos de varias cores ficarem


agitados.

— Que lindos... — murmurei, vendo o cor de caramelo se jogar no


chão da gaiolinha, ficando de patas para cima.

— Sim! Podemos levar eles, mamãe?! — Connor exclamou, vendo


Dara se aproximar.

— Não! — Dara exclamou, com os olhos azuis arregalados.

— Por favor, mamãe! — Connor implorou, alongando a palavra,


enquanto juntava as mãozinhas em sinal de piedade. — Olha como eles são
fofos! — apontou para os cãozinhos, como se aquilo explicasse tudo, me
fazendo rir. — Vai, mamãe, só um...

A mesma olhou para os lados, procurando uma saída.

— Certo... acho que só um podemos levar — decidiu com um suspiro,


me fazendo soltar um gritinho de felicidade.

Enquanto Connor fazia um gesto de vitória, coisa de garotos.

— Olha esse, Jenner... — apontou para o mais pequeninho, cor de


preto e branco, que nem havia levantado do lugar.

— Ele parece triste — comentei, encarando o cachorrinho.

— Sim, vamos levar ele e dar muito amor, para que ele não fique
triste! — Connor deu uma solução e eu concordei de imediato.

Sim, a gente ia dar muito amor a ele, para que nunca mais ficasse
triste.
SEIS ANOS DEPOIS

JENNER

Sorri, vendo meu reflexo no espelho, enquanto minha mente voava


para o dia que eles chegaram aqui. Alisei meu vestido com a imagem de
Connor aos nove anos de idade, todo chateado com a mudança da mãe e
odiando o mundo ao seu redor.

Fazia seis anos desde que eles entraram nessa casa e virou tudo ao
contrário. A partir do dia em que Connor implorara a mãe para que
adotássemos um cãozinho, que logo se tornou um enorme guarda costa,
denominado de Hércules, passamos a ter uma relação de amor e ódio, em um
instante nós riamos um para o outro, no próximo minutos estávamos puxando
os cabelos um do outro.

Alguém bateu na porta, me fazendo pular de susto, Dara colocou


metade do corpo para dentro e sorriu. Ela se tornou minha madrasta oficial
alguns meses depois da mudança e diferente da cinderela e branca de neve, eu
tinha uma madrasta boa.

— Hey, Jenner. — Eu não evitei o sorriso ao ver que ela me chamava


da mesma forma que fez pela primeira vez que me viu. — Uau, você está tão
linda...

Fungou de repente, me deixando assustada.

— Está tudo bem, Dara? — indaguei, estendendo um dos lenços que


tinha na caixa ao lado da penteadeira. Ela riu, limpando as lagrimas.

— Oh, querida, está tudo bem, e só que... — tornou a suspirar. —


Você está tão linda, já tem quinze anos, daqui a pouco é uma mulher formada
e eu não sei lidar com os meus bebês crescendo.

Riu de si mesma, me fazendo ficar automaticamente tímida. Eu a


tinha como uma mãe, mas nunca conseguir dizer isso em palavras, sempre
tive medo dela não aceitar isso.

— Dara... — murmurei a abraçando. — Obrigada, por tudo.

Ela sorriu contra meu ombro.

— De nada, querida, eu sempre quis ter uma menina, mas meu único
filho foi Connor e apesar de ama-lo com todas as minhas forças, minha
relação com ele era péssima até nos mudarmos. — Sorriu e se afastou.
Alinhou meus cabelos e sorriu. — Aí, Rafael me apresentou você, era tão
linda e mandona, me apaixonei no mesmo instante. Meu coração a adotou
como filha, contrariando minha razão...

Fungou e as lágrimas voltaram, me fazendo ficar à beira delas.

— Ah, Dara, obrigada — falei com gentileza. — Bom, eu odeio toda


essas coisas que nos fazem ficar emotivos. — Ela riu. — Mas eu amo você,
ok? Quero que saiba disso, não sou de muitas palavras, porque para mim as
ações dizem mais, no entanto, quero deixar isso claro. — Fui falando o que
pensava. — Você é a mãe que eu nunca tive e eu sempre vou ser grata por
tudo. Nunca fez diferença entre Connor e eu e isso valeu mais do que tudo.
Amo você, apesar de ter achado você muito parecida com uma rainha má
quando chegou.

Ela riu alto, conhecia essa história quando eu acidentalmente deixei


escapar.

Escutamos alguém bater na porta e logo foi aberta, Connor passou por
ela e eu me vi suspirando, não devia achar meu meio irmão tão bonito, mas
era praticamente impossível quando ele exalava charme e todas as meninas
da escola deixava claro o quanto queria ter sua atenção.

— Ah, Deus, meus bebês! — Dara exclamou o abraçando, que riu da


emoção da mãe.

Connor vestia um terno preto feito sob medida, caia como uma luva
em seu corpo, já em formação. Os cabelos cor de ouro estavam penteados de
forma despojada e sorria, enquanto os olhos refletiam felicidade.

Era nosso primeiro baile, eu iria com Connor, dançaria com ele e
imaginaria que ele era apenas um garoto comum como qualquer outro,
mesmo que seja apenas por uma noite, pois na realidade, eu sabia que eu
nunca poderia tê-lo.

O baile estava incrível, tinha como tema máscaras e mantinha um


certo suspense no ar. Observei Connor conversar com Judite, sua última ex-
namorada. Sabia que poderia me aproximar, Connor até me agradeceria
depois, mas ficar na minha me parecia mais aceitável, ele e ela precisavam
colocar os pingos nos is.

Vi Paul McLaren caminhar na minha direção com um sorriso sacana


no rosto, suspirei, eu não deveria ter aceitado sair com ele, não poderia vir
algo bom daquilo...

— Uou... — Colocou a mão sob o coração, se inclinando para trás e


riu. — Acho que levei um tiro com tanta beleza.

Sorri, tentando não fazer careta

— Serio?! Deus, uma das suas modelos de revista pornô está no


baile? — Me fiz de desentendida, olhando ao redor. Ele revirou os olhos com
um sorriso brincalhão.

— Seria incrível, mas não, no momento eu só tenho olhos para a


menina mais bela do baile. — Se aproximou, me fazendo sentir o cheiro de
álcool. Bom, já estavam bebendo pela festa, nenhuma novidade. — Me
concede essa dança?

Olhei ao redor, Connor continuava a falar com Judite, não percebendo


o que rolava.

— Tudo bem — respondi contragosto e ele me levou para o meio do


salão, onde tocava uma música lenta – para combinar com a minha tortura.

Paul era um péssimo dançarino, pisava mais no meu pé do que no


chão. Eu rezava firmemente para um raio cair em cima da caixa de som e
acabar com a música infinita que tocava.

— Eu já disse o quanto está perfeita esta noite? — disse, se


inclinando, me fazendo sorrir de forma meiga.
— Sim, umas 300 vezes só nos últimos 30 minutos. — Ele riu, não
notando minha ironia. Seus lábios quase tocavam os meus quando eu dei um
passo atrás, me afastando.

— Jenner! Nossa vez... — Connor surgiu ao meu lado, segurando


meu braço de forma suave. Seu olhar estava tenso e direcionado a Paul, que
olhava sem entender. — Vem, vamos dançar.

Ele me arrastou para longe, enquanto Paul continuava a nos encarar


sem entender bulhufas, me fazendo rir.

— Aquele babaca! Quem ele pensa que é?! — resmungou, segurando


minha cintura enquanto sua mão nos guiava, contrariando a balada pop que
agora tocava no som.

— Obrigada por brotar do nada — respondi sorrindo, achando graça


da sua falta de paciência com o outro. Paul e Connor não eram lá os melhores
amigos, estudavam na mesma turma e tinham quase os mesmos objetivos, o
que fazia deles quase rivais.

O mesmo bufou e riu, me trouxe um pouco mais para perto e eu


alcancei seu ombro, onde encostei minha cabeça e fiquei ali, com nossos
corpos balançando numa música nada ver, logo depois de dançar com um dos
piores garotos que tive o desprazer de conhecer.

— Que ele mantenha as mãozinhas bem longe de você, senão,


ganhará um enfeite no olho. Acha que roxo combina com ele? — Sorriu
meigo e eu não evitei a gargalhada, parecia uma criança planejando seu plano
contra o mundo.

— Acho que vermelho combina mais — respondi, o encarando.

— Humpft! Nada a ver, vermelho é muito bonito para alguém tão feio
— resmungou, me rodando sob meus pés.
— Ah, claro, senhor deus do mundo. — Ele levantou uma das
sobrancelhas. — Ele não combina com roxo e nem é tão feio.

Ele cerrou os olhos em minha direção.

— O acha bonito? — Dei um risinho, parecia meu pai, prestes a surtar


com a ideia de namorados.

— Oh, sim, ele é bonito. — Coloquei lenha na fogueira, o vendo se


aproximar um pouco mais, nossos corpos completamente colados.

— Namoraria com ele? — indagou, rodando pelo salão, me levando


junto.

— Connor, beleza e caráter são coisas completamente diferentes. Paul


é o tipo de garoto lindo, que faz qualquer garota o olhar apaixonada, mas não,
eu não namoraria com ele, pois nada nele é sincero, falta caráter — falei
sincera, e ele riu, se afastou para longe, rodando sobre os próprios pés com
um sorriso sarcástico.

Eu ri da sua felicidade eminente e o imitei, rodando pelo salão e


pousando novamente em seus braços, enquanto atraiamos olhares de todos.

— Jenner Wright, eu terei um trabalho árduo para manter babacas


longe de você — murmurou, quando voltamos a dançar como pessoas
normais.

Era a dança mais improvisada e a melhor da minha vida. Ele estava


ali, sorrindo, falando dos babacas que eu atraia como se tivesse para-raios
para eles, enquanto dançávamos como se não existisse ninguém ao redor.
Com toda certeza, a melhor dança da minha vida.

— Por que você teria que fazer isso? Posso me cuidar muito bem
sozinha! — retruquei, não queria Connor andando atrás de mim feito um
papai ciumento.

— Sempre tão mandona! — retrucou, ainda sorrindo. — Eu irei fazer


isso Jenner, porque você é minha garota, nunca nenhum babaca vai tocar em
você, ir embora e lhe deixar de coração partido. Eu vou garantir isso.

Beijou minha testa e eu tive que conter o gemido em protesto. Eu não


queria sua proteção, eu queria algo mais, mas Dara via em mim uma filha,
éramos irmãos aos olhos dela e eu nunca a decepcionaria.

ANOS DEPOIS

JENNER
Encarei o homem em crescimento em minha frente, sentindo
vergonha do meu corpo, enquanto todo meu rosto ficava vermelho na medida
que eu me afastava apenas com roupas intimas para longe da cama.

Senti as lágrimas banhar meu rosto, enquanto a vergonha se alastrava


em níveis consideráveis, tudo que passava na minha cabeça era o seguinte
questionamento, “por que diabos eu não conseguia sentir uma única reação
quando Rick me tocava?”. Parecia tão errado sentir isso do seu próprio
namorado.

— Jenner, Está tudo bem? Fiz algo errado? — solucei, enquanto


vestia minhas calças e me xingava. Era Rick Copper! Filho único de um dos
maiores empresários de Nova Jersey, cursava direito junto comigo e tinha
um futuro promissor. O que mais uma garota poderia querer?

—Não... — respondi sufocada. — Não foi você...

Vesti minha blusa, enquanto respondia minha própria pergunta.


Simples, uma garota desejava amor, paixão, aquele desejo de se enrolar com
a pessoa e nunca mais solta-la.

Eu nunca teria isso com Rick. Meu coração, desejo e alma pertencia
a outra pessoa, que eu não poderia ter.

Meu coração se partiu um pouco mais no instante que corri para fora
do apartamento dele, sentindo a vergonha ainda em meu corpo.

O caminho até meu apartamento era terrivelmente longe e o taxista


não contribuía aos dirigir pela cidade como uma lesma nata.

Mas no instante que cheguei a porta do apartamento que dividia com


Connor, desde que decidimos que seriamos calouros independentes, me dei
conta do quanto era trágico e melancólico correr dos braços do meu
namorado para ir para o lugar que eu dividia com meu meio irmão, por quem
sempre fui apaixonada.

Melancólico, dramático e triste. Parecia até livro de romance meloso.

Abri a porta e corri pelo apartamento, me trancando em meu quarto,


que ficava apenas uma porta do seu. Não ouvi barulho, então me enrolei em
meio as cobertas, me escondendo do mundo, enquanto as lágrimas não
vinham.

Você deve estar se perguntando o porquê de eu manter um sentimento


tão vivo sobre Connor como se fosse um dos pecados capitais. Simples,
Connor não é para mim! Ele deve encontrar alguém que lhe completa e lhe
faça feliz. Nunca vou poder toca-lo, pois isso acabaria com a nossa família,
papai o mataria e Dara ficaria decepcionada.

Nem em um milhão de anos quero magoar os dois. Principalmente


Connor.

Não temos o mesmo sangue, mas antes de ama-lo como homem, eu o


amo como pessoa! O admiro! Acho incrível como ele consegue ser todo
simpático e ao mesmo tempo, tão chato. Como consegue iluminar a todos ao
seu redor.

Meu menino é um mistério e vai continuar sendo! Pois, não estou


disposta a abrir mão de toda a estrutura familiar apenas por um amor
caprichoso da minha parte.

Suspirei, limpando as lágrimas enquanto ouvia passos no corredor,


virei de costas, escondendo meu rosto vermelho no travesseiro.

Escutei uma batida na porta, mas ignorei, ver Connor neste momento
era a coisa que eu menos queria no mundo. Mas ele parecia não estar
disposto a ceder quando abriu a porta sem esperar resposta e entrou no
quarto, me olhando curioso.
— Jenner, o que houve? Seu Sebastião disse que você entrou no
prédio como se tivesse visto um fantasma. — Se sentou na beira da cama,
colocando a mão sobre meu ombro. — Foi o Rick babaca que lhe deixou
assim?

Suspirei chorosa. Eu odiava as lágrimas, me sentia tão fraca e


imponente com elas.

— Não foi nada, só quero ficar sozinha — murmurei. Ficar sozinha


sempre é a melhor opção e a presença dele não ajudaria em nada.

-— Você está chorando?! — esbravejou, indo até a outra extensão da


cama, ficando cara a cara comigo. — Que porra o Rick babaca fez agora?

— Nada! E me deixa em paz, por favor, Connor, quero ficar sozinha


— pedi, me escondendo dele em meio aos lençóis.

— Para merda essa história de ficar sozinha! Eu não saio daqui até me
falar o que o Rick babaca fez. E se não falar, irei ligar para o seu pai e nós
iremos quebrar a cara daquele mimado de merda — resmungou, cheio de
raiva. Em outros momentos eu achava fofo a personalidade estourada de
Connor, mas hoje não.

— Pare já com isso! Nada de ligar para o meu pai como se eu fosse
uma criança de cinco anos, porra! — suspirei nervosa, me sentando na cama
e o encarando furiosa. — Pare com essa merda de tudo quebrar a cara de
Rick, caralho, parece que é obcecado pelo cara. Parece ser apaixonado por
ele e fica morrendo de ciúmes pelo fato dele não curtir a mesma coisa que
você.

Ele ficou vermelho, da ponta das orelhas até o pescoço. Foi


engraçado irrita-lo, mas não sorri, estava realmente brava com ele.

— Como sabe o que ele curti se nunca dormiu com ele? — rebateu,
me encarando enquanto seus olhos brilhavam em desafio. Isso fez minha
mente voltar ao meu real problema. — Você não dormiu com ele, né? —
perguntou com voz vacilante.

Porra.

-—Eu tentei! — exclamei exasperada. — Vesti minha melhor roupa,


comprei uma nova lingerie e fui com a convicção que poderia ser uma garota
normal e dormir com meu namorado — sussurrei a última parte. — Só que
quando tudo começou, já nada pareceria certo, eu tinha a sensação que se
fosse até o fim iria cometer o pior erro da minha vida. Odiei perceber que os
toques de Rick não causava nada no meu corpo. Então eu fugi...

Ele me encarou estático por alguns instantes o suficiente para me


fazer corar de vergonha.

— Eu vou virar freira! — exclamei dramática. O fazendo rir. — O


que você está rindo, idiota!?

Ele riu ainda mais.

— Não, Jenner, você não precisa desejar morrer, bem, ficar morrendo
de medo do seu próprio namorado. Apenas se conforme que ele não era
certo, não era para ser. — Deu um sorriso de lado, dando os ombros. Ah!
Seu idiota prepotente bonito de merda! — E não precisa virar freira, seria
um grande desperdício.

Deu um sorrisinho safado, recebendo um tapa no braço.

— Ai! Eu te aconselho e você me bate!? — perguntou indignado. —


Grande amiga você.

— Por que você está me dando conselhos, seu babaca?! — Ele riu.
— É um homem! Não sabe nada, não pode me falar sobre amor.

Ele riu ainda mais.

— Não seja arrogante! — rebateu. — Garotos muitas vezes são


estúpidos, meio que está no DNA deles, mas isso não nos faz menos
humanos. Sentimos e amamos como qualquer pessoa, Jenner.

Ele pareceu viajar nas suas próprias palavras e eu me senti ainda mais
deslocada.

— Eu sei! São obras do universo mais babaca do mundo —


murmurei e ele riu. Alisou meus cabelos, jogando os fios para trás.

— Sim! Mas eu sou a exceção da sua vida. — Sorriu confiante.

— Convencido! — resmunguei, o fazendo rir.

Mas ele era. Connor era a exceção da minha vida em todos os


sentidos.

— Sei que me ama, sua mandona. — Alisou minha bochecha. — E


escute só... — Seus lábios tocaram minha orelha. — Você ainda vai casar
comigo, Jenner Wright, pois nenhum babaca vai ser suficiente para ter seu
coração...

Gargalhei, mas por nervoso, as palavras dele fez todo meu sistema
entrar em crise.

— Em seus sonhos mais bonitos. — Lhe lancei um sorriso espertinho,


enquanto o mesmo ria, beijando rápido o vão entre meu pescoço e o vale dos
meus seios, saindo da cama, enquanto caminhava para fora.
Suspirei levemente.

— Chocolate? — o escutei perguntar enquanto eu tentava me


recompor.

— Chocolate! — concordei, voltando a me enrolar na cama, me


permitindo um minuto de tristeza.

Era o garoto que chegou a minha casa aos nove anos, que eu insisti
odiar por mais um, mas quando eu vi ele se tornou um irmão, meu melhor
amigo.

Até eu ter idade suficiente para entender que não era apenas isso.
Nove anos depois

JENNER

Observei minha imagem refletida no espelho, que se estendia por toda


a parede do meu quarto.

Eu parecia bem.

Nem podia ser comparada com a implacável Jenner Wright no


tribunal. Essa era o meu objetivo da noite, que eu fosse apenas uma mulher,
disposta a tudo e sem a lembrança de todas as barbaridades que ouvia a cada
bendito dia.

Apesar do vestido de festa e a maquiagem forte, totalmente oposto da


minha habitual saia lápis preta e um terninho com ar sério, eu ainda me sentia
forte, como se pudesse determinar o que aconteceria em minha vida em
algumas horas.
Ah, por Deus, eu já tinha vinte e oitos anos, não poderia ficar virgem
para sempre!

Suspirei, enquanto passava o babyliss nas pontas do meu cabelo


cortado estilo channel, realmente, eu não poderia passar o resto da vida
virgem, pensei, enquanto analisava minhas opções.

Há uma semana eu estava saindo com Hunter, um juiz que conheci na


minha última viagem a Nova York, era um cara bacana, meio fechado, mas
aqueles olhos escuros e todo o seu conjunto de músculos compensava. Era o
sonho de consumo de qualquer mulher.

Ele estava de passagem a Nova Jersey, nos encontramos no início da


outra semana no fórum, tomamos um café e ele não parava de dá em cima de
mim. Modéstia à parte, sei que sou bonita, sei também que estaria com caras
maravilhosos se quisesse, mas o meu problema é um pouco mais complicado
que isso.

Hunter é a única pessoa que me beijou — na quinta-feira, quando


fomos a um barzinho — desde o episódio com Rick, nove anos atrás. Maggie
costumava dizer que eu tinha enormes teias de aranhas, não só lá em baixo,
como também na boca.

Sorri, enquanto terminava meu penteado e pensava na minha melhor


amiga. Ela é pediatra e trabalha com Connor no hospital, a conheci quando a
mesma fez uma aula junto com meu meio irmão, ela é falante, não para um
segundo, logo nos tornamos amigas.

A princípio, achei que ela e Connor estavam tendo algo, mas os dois
tinham interação como dois irmãos e Maggie só tinha olhos para uma pessoa,
Carter, um babaca de merda que não sabe perceber a garota que tem.

— Jenner! — Escutei Connor gritar, enquanto a porta batia atrás de si.


Peguei minha bolsa, enquanto terminava de passar um pouco de batom
vermelho.

Sai do quarto, descendo as escadas, o encontrando no início da


mesma.

Morávamos separados há dois anos, quando cada um decidiu que


precisava seguir o ares da vida adulta. Acabei alugando uma casa no centro
de Nova Jersey, era pequena em relação a dos nossos pais e a de todo mundo
que eu conhecia, mas era boa para mim, não me dava a chata sensação de
abandono.

Já Connor morava do outro lado da cidade, em uma área mais


urbanizada e tranquila, em uma casa digna de seriado de tv.

Ele sorriu, enquanto colocava a mão sob o coração, fingindo


desmaiar.

— Wow! Isso tudo para meu pobre coração? — Sorri, enquanto


descia as escadas e tentava não babar na visão dele naquela calça apertada,
ressaltando os músculos da perna, com a camisa social amarrotada e
levantada até o cotovelo. O sorriso chegava aos olhos, as bochechas estavam
coradas e o cabelo louro caindo levemente na testa.

Era uma visão dos infernos. Que eu tinha todos os dias da minha vida.

— Claro! Para quem mais séria? — Entrei na brincadeira, dando uma


voltinha, ficando a um degrau dele. Coloquei as mãos em seu ombro para me
equilibrar, o mesmo me segurou pela cintura.

Eu odiava a intimidade que tínhamos, pois cada vez que ele me


tocava, era como se um fogo passasse por todo meu corpo, acordando as
minúsculas células do mesmo.
— Está linda e é toda minha. — Me abraçou, em seguida rodando no
ar, para me pousar novamente no chão toda desgrenhada. O fazendo rir.

— Toda sua. — Brinquei, caminhando até a cozinha e fechando a


porta da varanda dos fundos. Ele me seguiu. — Como foi o plantão? Viu
Maggie?

Ele se encostou no balcão, enquanto comia uma das maças que estava
na fruteira, deixadas por dona Carla, antes de ir embora.

— Ah, foi bom, pelo menos não precisei salvar ninguém entre a vida
e a morte — suspiramos. Connor era médico cirurgião, estava sempre mal
por algo que via ou tinha que enfrentar em várias horas de trabalho. O
problema dele era que parecia sempre imparcial em frente de familiares, mas
quando se afastava, desmontava todo, sentia demais. — Maggie não apareceu
hoje, estava de folga, mas me ligou e eu realmente acho que vou ter que
quebrar a cara do Carter Babaca.

Sorri enquanto íamos para sala, eu tinha mais meia hora antes do
horário que marquei com Hunter.

— O que diabos ele fez agora? — Ele estava sempre fazendo alguma
coisa. Realmente não sabia como uma mulher tão cheia de si e independente
como Maggie fazia com um cara como ele.

— Parece que colocou mais um par de chifres em Mag, pelo menos, é


o que ela desconfia, está investigando. — Revirou os olhos. Investigar algo
era a cara dela.

— Você não vai quebrar a cara de ninguém Connor, você é médico,


como pode salvar vidas e querer tanto bater em alguém? — Ele revirou os
olhos, enquanto desabotoava os primeiros botões da camisa, deixando um
vão de pele exposta, mostrando o quanto estava bronzeado.
Suspirei, bendita seja as santinhas dos homens bonitos...

— Vou quebrar a cara do engomadinho do Hunter se ele continuar


cheio de mãozinhas para cima de você. — Revirei os olhos ainda mais.

— Você não vai! Pois eu não vou deixar — falei firme e ele levantou
a sobrancelha. A minha conclusão com o passar dos anos foi de que papai
treinou Connor muito bem, pois ele era um poço de ciúme, igual a ele.

— Vai tornar isso mais sério? — Me olhou inquisidor.

Ponderei por alguns instantes.

— Não diria sério. — Dei um sorrisinho de lado. Ficar serio com


Hunter não era bem o objetivo, conhecia sua fama e sabia que o mesmo não
assumia ninguém em um raio quadrado de cinquenta metros.

Era um canalha. Algo perfeito para os meus verdadeiros objetivos.

Perder um hímen.

— Serio mesmo que vai transar com ele? — perguntou calmo


enquanto abria um vinho e colocava um pouco em duas taças. Ele estava tão
calmo com a minha insinuação, que nem mesmo o reconheci.

Caminhou até mim, entregando uma taça e se sentando no sofá


oposto, enquanto apoiava os pés na mesinha de centro. Ele tinha mais
facilidade de encontrar as coisas dentro da minha própria casa do que eu. Que
beleza...

— Sim, sabe, Hunter é um canalha, ele conquista as mulheres, dorme


com ela e não quer mais papo. Perfeito para mim! — falei o obvio. — Meus
objetivos batem com as intenções dele.
— Que objetivos? — Cerrou os olhos, intrigado.

— Perder meu hímen. — O mesmo engasgou, derrubando boa parte


do vinho na camisa rosa clara.

— O QUE?! — gritou, pulando do sofá, para não mancha-lo de vinho.

Sorri e o empurrei até a cozinha.

— Isso mesmo, cara, é só um hímen. No fim, se tudo der certo, não


vou ter nem mesmo um coração partido — respondi prática, apesar daquilo
não fazer sentindo nem mesmo para mim.

— Não acredito que estou ouvindo isso — resmungou, pousando a


taça em cima da pia. — Droga, isso vai ficar manchado...

Ele praguejou, enquanto tirava a camisa social, desabotoando botão


por botão. Me vi estupidamente hipnotizada, enquanto os botões liberavam
pedaços de pele bronzeada pouco a pouco.

Suspirei.

— Serio, Connor, não vejo problema. Uma hora isso vai acontecer, de
um jeito ou de outro. — Ele negou com a cabeça, mas ficou em silencio.

Observei Connor limpar a camisa na pia todo atrapalhado, notando a


forma em que seus músculos ficavam tensos com o movimento, meu olhar
desenhou sua costa, notando uma marca de nascença no cos da calça.

Tinha formato oval e era marrom, destacando na pele branquinha e


homogênea.
Suspirei, contendo um gemido enquanto sentia todo meu corpo vivo,
apenas com a visão do que era um pedaço de pele daquele homem.

A perfeição.

— Eu ainda não acredito que você está cogitando dar algo tão
precioso ao babaca do Hunter — resmungou, largando a camisa na pia e se
virando para mim.

Ah, não. A visão do peitoral definido era ainda mais tentadora.


Tinha exatos seis gominhos, todos bronzeados e pareciam me chamar para
que eu deslizasse a mão sobre eles.

— Não é essa a questão, Connor. Virgindade não é mais tão


importante nos dias atuais e eu tenho que parar de fugir disso. Uma hora ou
outra vai acontecer, então que seja com alguém como Hunter, que não espera
nada em troca e tem experiência. — Fiz aspas no ar, enquanto colocava um
pouco de alvejante na camisa manchada. — Desisto. Vamos, no meu quarto
tem algumas roupas suas.

Eu resmunguei, seguindo para fora da lavanderia e fazendo o percurso


até meu quarto, com Connor em meu encalço.

— O que será que seu lindo Hunter vai achar com você tendo roupas
de outro homem em sua casa? — disse, se jogando na cama com um sorriso
presunçoso. Espaçoso.

— O que você está insinuando? — O encarei brava.

— Nada... — deu os ombros. — Só seria meio suspeito, digamos


assim.

— Hunter não tem que achar nada! Não somos um casal, isso serve
para você e eu. Somos irmãos, Connor, Hunter não tem nem como pensar
nada do fato que tenho roupas suas em minha casa. — Joguei uma blusa de
futebol americano em seu rosto.

— Não somos irmãos! — explodiu, me assustando. — Que porra.


Não temos o mesmo sangue Jenner, somos amigos que foram criados como
irmãos. Mas nunca seremos irmãos de sangue.

Me encarou bravo e eu fiquei sem entender bulhufas. Por que o fato


de que não éramos irmãos o deixava tão bravo? E por que a insinuação o
deixa ainda mais bravo?

Perguntas e mais perguntas.

— Ah! Que se dane. Eu não vou discutir isso com você, estou de
saída — decidi, me sentindo encurralada com a forma que ele me olhava.

— Vai, foge mesmo! Foge para os braços do Hunter babaca —


resmungou, descendo as escadas junto comigo. — Espero que ele tenha pau
pequeno e não saiba fazer uma mulher gozar.

Lhe lancei um olhar matador por cima do ombro, enquanto fugia da


minha própria casa. Corri para garagem, alcançando meu carro, onde entrei
feito um raio, me refugiando ali.

Não entendi o porquê da simples conversa sobre Hunter ter chegado


tão longe, falando sobre a forma em que eu e Connor nos relacionávamos.
Entretanto, a forma como ele explodiu pela simples insinuação de sermos
irmãos me assustou e fez a raiva inflar.

Sai cantando pneus pela rua principal, dirigindo acima da velocidade,


tentando fazer a raiva de Connor se esvaziar antes que eu chegasse ao meu
destino.
Quem ele pensa que é para ficar puto da vida com o fato que quero
dormir com Hunter? Isso mesmo, ninguém, esse garoto já estragou todos os
outros homens para mim desde meus quinze anos, ele não pode, em hipótese
alguma continuar me fazendo sentir tanto. E ver meu coração se partir a cada
vez que ele sai com alguma garota, ou que percebo que nunca o tocaria, pois
o medo de decepcionar Dara é maior que meu desejo.

Escutei carros buzinando alucinadamente, eu não estava prestando


atenção no trânsito quando meu carro entrou na contra mão e eu perdi
completamente o controle da situação.

O desespero tomou conta de mim e eu me sentia aliviada por não ter


ninguém em meu caminho, foi quando não tive tempo para controlar o
veículo, passando de uma vez no sinal aberto.

Ouvi mais uma buzina ensurdecedora, desta vez bem mais alta. No
instante seguinte meu carro foi arremessado longe, só sentir a primeira vez
em que ele capotou, minha cabeça tombou para frente, batendo contra o
volante.

Apaguei, apenas sentindo me corpo inteiro doer com o impacto.


Depois disso, não vi mais nada.
CONNOR

Encarei a parede branca da casa de Jenner sem entender o que havia


acabado de acontecer. Não acreditava que a mesma estava cogitando dormir
com Hunter.

Aquele cara é um babaca de marca maior, só não mais que Carter —


que era o babaca oficial dos babacas —, mas Hunter não ficava para trás. O
juizinho era cheio de marra e querendo bancar o misterioso.

Não ia nem um pouco com a cara dele, conclui, bufando enquanto


vestia a camisa que Jenner jogou na minha cara. A forma em que ela ficou
zangada me fez rir, sei que amanhã mesmo estará falando comigo novamente,
pois nossa amizade é assim.

Se bem, que se não fosse pelo bendito códigos dos meios irmãos, o
que tínhamos ia ser tudo, menos amizade.

Jenner Wright é meu tormento desde que tínhamos quinze anos, ela já
era perfeita quando tudo nela começou a desenvolver, o sorriso, o cabelo que
era a coisa mais brilhante do mundo, e os olhos. Eu amava cada parte daquela
garota, não havia uma só parte dela que minha mão não coçasse para toca-la.
Era meu vício. Jenner Wright é meu eterno ponto fraco.

Suspirei, pegando minhas coisas e sai da casa, trancando as portas e


levando a chave junto comigo. A maluca saiu com tanta raiva, que fugiu da
própria casa, me deixando dentro dela.

Entrei no carro, vendo meu celular apitar em um número


desconhecido, ignorei, fazendo a volta para tirar meu carro da garagem
apertada de Jenner.

O portão fechou com o comando do controle e eu logo estava


dirigindo para a parte menos movimentada da cidade. Fugindo do centro para
não pegar os semáforos.

Meia hora depois eu estacionava em frente de casa, essa rotina era


estranha, o hospital geral de Nova Jersey fica mais perto da minha casa, mas
sempre que eu saio do trabalho — não importa a hora que seja — vou
primeiro a casa dela, para vê-la e conversar um pouco, me faz bem, amo
esses momentos.

Suspirei e caminhei para dentro, jogando meu sapatos de forma


desajeitada no pé da porta. O celular tocou novamente, desta vez era Harry,
um amigo cirurgião que trabalhava comigo no hospital.

Atendi no mesmo instante, para ele me ligar durante o expediente


deveria ser sério.

— Oi, Harry — atendi, sentando no sofá, enquanto ligava a tv.

— Connor! Cara, vem correndo para o hospital — disse desesperado.


Gelei no mesmo instante, minha mão parou no ar e meu corpo não
funcionava. — É Jenner, ela acabou de ser trazida pela ambulância, ocorreu
um acidente na estrada principal, pelo que sei o carro dela capotou algumas
vezes, não sei o estado dela muito bem, mas a cara dos médicos não está nada
boa.

O controle caiu no chão, enquanto minha vista ficava turva. Não...


não podia ser. Jenner não. Ela é sempre tão responsável no transito, deveria
haver algum engano!

Perguntei a Harry se ele tinha certeza, o mesmo afirmou, e quando fez


isso novamente, corri para fora de casa, entrando no carro e arrancando para
o hospital, sentindo minha garganta fechar pelo medo e desespero.

Não. Deveria haver algum engano.

Jenner estava bem, estava com o babaca do Hunter. Ela poderia


perder o tal hímen se quisesse, eu só queria que minha menina estivesse bem.

A salvo. Sem nenhum arranhão.


CONNOR

Observei em choque a porta branca do hospital, sem saber o que


fazer, o que sentir ou como lidar com a sensação de desespero que se
apoderava do meu coração.

Ela não deveria estar ali. Deus, o que estava fazendo conosco?

Jenner é a pessoa que menos merece estar na cama de um hospital,


passando por uma cirurgia de risco, tudo causado pela raiva e emoções.

Por um instante me senti culpado, desejei retirar as palavras que


causaram nossa discussão mais cedo, mas infelizmente, nem tudo está ao
nosso alcance. Não havia como voltar atrás, estava feito.

Rafael e mamãe estavam em Nova York, liguei para eles e pedi que
pegasse o primeiro voo para Nova Jersey, não contei o que estava
acontecendo, pois se Rafael soubesse, ficaria louco e mamãe entraria em
estado de choque.

Tudo que não precisamos agora é deles tendo problemas para


controlar as próprias emoções. Precisamos ser a base, o conforto para manter
tudo sobre controle.

Com fé em Deus, Jenner sairá desta, sairá bem, e depois disso vou
poder brigar com a mesma e pedir desculpas por tudo que falei.

Suspirei e tomei um gole do café quente, que desceu queimando tudo


por dentro, não me importei com a dor, meu coração doía muito mais neste
momento. E nada poderia cura-lo.

A não ser ver minha menina bem, vê-la abrir os olhos e me lançar um
daqueles sorrisos que me quebrava inteiro.
Ouvi passos no corredor, levantei a cabeça dando de cara com
Maggie, que caminhava rápido em minha direção, com o rosto molhado pelas
lagrimas.

— Connor! — exclamou, se jogando nos meus braços, o abraço dela


me reconfortou, mas não foi a mesma coisa que o abraço de Jenner.
Entretanto, era bom compartilhar aquela dor com alguém, Mag amava Jenner
tanto quanto eu. — Eu acabei de saber...

Soluçou contra minha camisa. Alisei seus cabelos cor de ouro.

— Não consigo acreditar. Como ela está? — perguntou. A mesma não


estava trabalhando, vestia shorts jeans e uma blusinha de verão.

— Não sei muito, Harry está na cirurgia, é de risco, pelo que ele me
disse — suspirei. — Parece que na medida que o carro foi capotando ela
bateu a cabeça muitas vezes, criando uma situação complicada.

Ela se afastou, os olhos verdes estavam arregalados pelo medo e a


mão sobre a boca, para segurar o choro.

— Connor, ela vai ficar bem né? Ela é Jenner, a pessoa mais mandona
e obstinada que conheço. — Ela riu, totalmente nervosa. Os olhos estavam
mais claros que o normal, pelas lagrimas que os turvava.

A abracei, tinha Mag como uma irmã, diferente de Jenner, que a via
de formas que a mesma não conseguia nem mesmo imaginar.

— Ela vai ficar bem, Mag, ela é a pandinha. Cara, eu conheço essa
garota desde meus nove anos, ela competiu comigo entre rock e música
clássica, ela é a pessoa mais maravilhosa que conheço — murmurei, as
minhas palavras eram para me acalmar e distrair. — E ela não pode partir
agora. Não pode...
Minha voz sumiu, ouvi apenas um sorriso de Mag, seguido por um
fungado.

— Sim, ela vai ficar bem, ela precisa ficar bem para que vocês
tenham muitos filhinhos, tão teimosos e mandão como vocês. — Sorriu e
abraçou minha cintura. Me fazendo rir.

Ah, um sonho. Um monte de copias de Jenner. Poderia até imaginar,


os olhos azuis como os meus, o cabelo escuro como de Jenner, o mesmo
sorriso iluminado da mesma e o gênio dela, mandona e autossuficiente.

— Você nem nega mais.

— O que? — perguntei, voando em pensamentos.

— O quanto você a quer. É tão ridículo que ela não perceba — bufou.
Estávamos tentando nos distrair da atual situação, falando da nossa paixão
em comum, minha menina.

— Não tem porque negar isso — murmurei, nunca contei a Jenner o


quanto sentia ciúmes dela, o quanto queria ela toda para mim, o quanto o fato
dela ser intocada me deixava fora de foco, pois me fazia imaginar mil formas
de que um dia eu seria quem a teria.

Toda para mim.

Levantei a cabeça, vendo a figura imponente de Hunter caminhar até


nós, com um olhar preocupado e as mãos escondidas dentro do casaco de
couro.

— Connor. — Me saudou. — Eu fiquei sabendo o que aconteceu,


desculpe a demora para chegar, não fazia ideia onde ficava o hospital.
Deu um riso nervoso. Pelo menos ele estava aqui, talvez, no fundo —
bem no fundo — ele não fosse tão mal assim.

— Como ela está? Soube que foi feio. — Fez careta, observando Mag
abraçada a mim..

— Foi, ela está passando por uma cirurgia, bateu a cabeça muitas
vezes enquanto o carro capotava, não chegou nada bem — suspirei, cansado
de repetir isso.

Eu estava cansado da situação atual. Só queria que alguém me


beliscasse e eu percebesse que tudo não passava de um sonho.

— Nossa, eu nem sei o que dizer! — exclamou, se sentando em uma


das cadeiras no corredor. Parecia tão fora de foco quanto eu. — Você é
cirurgião geral, certo? — assenti. — Não pode acompanhar a cirurgia?

Suspirei, fechando os olhos enquanto Mag se desgrudava de mim e


caminhava até o fim do corredor, sem nem mesmo olhar para Hunter.

— Sim, mas eu não fui autorizado a participar da cirurgia. Disseram


que poderia influenciar em algo. — Ele assentiu, como se compreendesse.
Seu olhar foi para Mag, que olhava pela janela de vidro enorme do hospital.

— Quem é ela? Tenho a impressão que a conheço — murmurou,


olhando para a loira.

— Maggie Lawnon, pediatra. Talvez a conheça, ela é de Nova York


— respondi, entretanto, seu olhar não saiu da mesma.

Achei estranho, mas não comentei. Me curvei, pousando meu


cotovelo sobre os joelhos.
Ela vai ficar bem, repeti em pensamentos, esse é meu mantra até que
eu a veja, sem nenhum arranhão e sorrindo para mim.

Acordei assustado, com o celular vibrando no bolso, eu estava


cochilando de forma desajeitada na cadeira do hospital, com Mag dormindo
em meu ombro, a mesma tinha uma expressão serena, como se seu sono
espantasse todos os problemas que estávamos tendo.

Atendi a ligação, vendo o nome de mamãe na tela.

— Oi... — murmurei, abraçando os ombros de Mag para a mesma não


cair. Hunter cochilava na outra extensão da sala, com a cabeça escorada na
parede.

— O que está acontecendo, Connor? Acabamos de chegar, várias e


várias mensagens perguntando sobre o estado de Jenner. O que diabos
aconteceu com Jenner que não estamos sabendo?! — exigiu resposta. Parecia
uma leoa defendendo o filhote, mamãe amava Jenner como uma filha.

— Mamãe, estamos no hospital geral, Jenner sofreu um acidente, está


a muito tempo em cirurgia. — Massageei as têmporas, contendo a dor de
cabeça que avançava.

Escutei o celular cair, seguido pelo choro, depois gritos e em seguida


a voz embargada de Rafael apareceu.

— Estamos a caminho. — Mamãe chorava no fundo, senti por ela.


Sempre soube que mamãe desejava ter tido outro filho, mas ela não podia,
depois de mim, não pode mais engravidar, se isso acontecesse, seria um risco
a sua saúde e ela via em Jenner a filha que nunca poderia ter.

Eu achava tão bonita a relação das duas.

Suspirei, guardando o celular no bolso, vi a porta da sala de cirurgia


se abrir e Harry passou por ela. Tinha uma expressão cansada, com grandes
bolsas roxas embaixo dos olhos.

Também, já passava das três da manhã, quase oito horas naquela luta
não era fácil.

Mag acordou com o barulho da porta, e pulou ao ver Harry.

— Como ela está? — perguntamos ao mesmo tempo.

O mesmo cocou a nuca, desamarrando a touca hospitalar.

— Foi uma cirurgia e tanto, complicada, pois era uma área muito
delicada. Entretanto, ela foi bem sucedida — suspiramos. — Jenner ficará em
coma induzido até que o local atingindo esteja menos inchado. Pode ter
sequelas, quero que tenham ciência disto, percebemos algumas coisas
erradas, porem só posso ter um diagnostico final quando ela finalmente
estiver pronta para voltar...

Aquelas palavras entraram em meus ouvidos, acalmando e trazendo


uma nova angustia ao meu coração. Eu odiava todos os tipos de coma, desde
ao induzido, ao mais natural possível. E a possibilidade de alguma sequela
também não poderia ser esquecida.

Parecia que a pessoa estava ali, entre aquela linha da vida e a morte,
mas estávamos lutando, a trazendo para superfície, enquanto ela insistia em
se jogar.
— Bom, em breve ela vai ser transferida para uma área onde os
familiares possam vê-la — suspirou, caminhando para longe, possivelmente,
para atender um novo paciente.

Mag me abraçou novamente e não sei quanto tempo se passou, mas


deve ter sido muito, pois, mamãe e Rafael apareceram ao nosso lado. O pai
de Jenner parecia aéreo, mesmo afirmando que agora o perigo principal havia
passado, os dois ainda pareciam navegar de um plano para o outro.

Mamãe expressava sua tristeza de outra forma, com lagrimas e


querendo ver Jenner a todo custo.

Mag levantou, encarando a todos.

— Eu vou em casa tomar um banho, logo amanhece e eu começo a


trabalhar bem cedo. — Sorriu triste, Hunter pulou da cadeira em que estava
imóvel.

— Eu também estou indo, volto amanhã cedo para ver como ela está
— assentimos. Mag me abraçou, beijando minha bochecha, em seguida fez o
mesmo com mamãe e Rafael.

Hunter só sorriu, desejou bom dia e seguiu Mag para fora do hospital.

Suspirei, sentindo os braços da minha mãe me rodear, me trazendo


para um abraço.

— Ela vai sair dessa, quando ficar boa, eu vou colocar vocês dois em
uma igreja e casa-los logo, para que possam me dar netos o mais rápido o
possível, e pararem de me matar do coração — rimos.

Era assim que tentávamos ser uma base, fazendo piada e tentando não
desmoronar com a falta que ela fazia em nossas vidas.
— A ideia de vocês dois sendo marido e mulher me mata, mas você é
o único que serve para amar minha filha como ela merece, Connor, nem
mesmo aquele juiz vai conseguir tomar seu lugar. — Rafael disse, olhando
para o espaço em que Hunter havia ocupado. — Não gosto dele.

Ele resmungou, me fazendo rir.

— Também não, mas ele foi legal nas últimas horas, ficou aqui e se
fez presente, mesmo que Jenner não veja, mesmo que ela nunca saiba do
apoio que ele deu. — Sorri. — Talvez, no fundo, ele seja mesmo uma pessoa
legal.

— Ele olha muito para Mag. Também não gostei disso. — Voltou a
resmungar.

A convivência de Mag, eu e Jenner também incluía nossos pais, eles


adoravam a loira como uma filha. A verdade é que Rafael e dona Dara
adotavam todos como filhos.
UMA SEMANA DEPOIS

CONNOR

Observei seu rosto sereno enquanto tirava o jaleco e jogava em cima


da poltrona vazia no canto do quarto. Caminhei até ela, observando seu peito
calmo, sua mão parada ao lado do corpo e enlacei nossos dedos, sentindo
meus olhos se encherem de lagrimas na medida que meu coração se apertava
ao imaginar que ela poderia desistir.

Puxei a cadeira para perto da cama, me sentando nela, ficando ainda


mais perto do corpo imóvel de Jenner.

— Volta para mim, pandinha — pedi, beijando cada um dos seus


dedos. — Abra os olhos para mim, quero ver você gritando ordens e
colocando aqueles bandidos na cadeia. Salvando os inocentes, fazendo a
justiça.
Suspirei, vendo que nada acontecia, já estava na metade da segunda
semana, o coma induzido fora retirado na medida que a sequela diminuía,
mas ela continuava ali, imóvel.

A única explicação, é que ela não queria acordar, não queria


responder aos estímulos dos medicamentos.

Isso me matava. Estava cada dia pior viver com o medo e desespero
que a qualquer momento ela poderia desistir completamente.

— Não faça isso conosco, Jenner, não nos deixe aqui, minha menina
— pedi, beijando sua testa, não tinha mais o cheiro do seu habitual perfume,
tinha um odor neutro, não tinha nada que identificassem ela como minha
Jenner. — Estamos aqui. Toda a parte burocrática do acidente foi resolvida,
graças a deus, apenas multas — ri, ela odiava multas, dizia que era abuso de
poder. — Entretanto, a parte principal não voltou. Você precisa voltar, voltar
para todos nós.

Suspirei, ouvindo o monitor cárdico apitar da mesma forma que todos


estávamos acostumados. Qualquer mudança naquele som constante arrancava
um mundo de mim.

Era como enfiar uma faca em meu peito e enterra-la cada vez mais
forte.

Ouvi a porta se aberta, em seguida Mag apareceu ao meu lado. Ela


tinha bolsas enormes em baixo dos olhos, parecia anos mais velha.

— Os dias passam, e ela continua aí... — comentou, olhando triste


para a amiga. Mag passava muito tempo com ela, praticamente todas as
noites que eu estava de plantão. — Ela vai ficar bem, né?

Ela murmurou.
— Vai sim, Mag, talvez ela esteja nos dando umas férias das broncas
— brinquei, mas a mesma não sorriu, parecia conectada a Jenner naquela
cama.

Meu coração se partiu pelas duas.

Suspirei, beijei os cabelos de Jenner.

— Eu preciso ir, vai ficar com ela hoje? — perguntei, pegando


minhas coisas novamente. Meu plantão ainda não tinha acabado, eu ainda
tinha que procurar algo para comer, para conseguir forças para ir até o fim do
mesmo.

— Vou sim, tia Dara disse que viria, mas eu disse que não. Ela já fica
durante todo o dia, tem que desancar — assenti, beijei sua testa e sai calado,
não havia muito a dizer.

Estávamos inundados em tristeza, qualquer pessoa em raio de um


quilômetro conseguia ver isso.
Um mês depois

CONNOR

Encarei o nada, sem acreditar que já iria completar um maldito mês


desde que tudo acontecera.

Isso ainda não me entrara na cabeça, era inacreditável. A mesma não


acordava, dava alguns sinais, como um mexer nas pálpebras, ou apertar
minha mão levemente em algumas ocasiões, mas sempre que eu a instigava
por mais, era como se esse gesto não houvesse existido.

Agora eu e Harry éramos os médicos responsáveis pelo quadro dela,


então estávamos sempre por perto, mas Harry permitiu a entrada com uma
condição, caso a mesma acorde, ele cuidará de tudo, pois, segundo ele, não
tenho condição de fazer isso. Seria envolver o emocional com o profissional.

No fim, ele está certo, eu agiria completamente pelo meu lado


emocional.

Mas ele quer o que, porra?! É minha garota que está naquela cama de
hospital há um mês, uma semana e três dias, e ele ainda me pede calma?!
Bebi o restante do meu café e sai da lanchonete, caminhando pelo o
corredor, segui para o elevador, ele me levaria ao segundo andar, onde Jenner
estava.

Assim que pousei meu pé no piso dois, vi a movimentação na porta


do quarto três, onde eu dormi a maior parte das noites no último mês.

Corri para lá, com o sangue bombardeando em meus sentindo,


turvando minha visão, me tirando a capacidade de pensar racionalmente.

— Connor! — Fui barrado por Harry a um passo da bendita porta. —


Ela acordou...

Não o deixei terminar, apenas corri para dentro, mas a imagem dela
sentada, meio deitada, naquela cama. Muito mais magra, com grandes bolsas
em baixo dos olhos, e lagrimas descendo de forma descontrolada, me fez
perder completamente os sentidos.

— Por que eu não consigo senti-las? — perguntou desesperada, com


as mãos tremendo enquanto seu corpo sacudia pelo choro.

Me aproximei, sem entender completamente nada. Nos exames tudo


parecia bem, nenhuma sequela, nada preocupante.

— Por que eu não consigo sentir minhas pernas?! — exigiu com


raiva, enquanto chorava ainda mais.

— Jenner... — a chamei, recebendo sua atenção, seus olhos se


arregalaram. — Jenner.

Fui até ela, a trazendo para um abraço cuidadoso. A mesma soluçou


em meus braços.
— Connor. Por que não consigo senti-las? — perguntou contra meu
ombro, massageei suas costas, sentindo sua dor. — Não sinto minhas pernas,
Connor, não consigo, já tentei...

Disse desorientada. Lancei um olhar a Harry por cima do ombro, o


mesmo me encarou de volta, preocupado.

— Calma, querida, vamos examina-la. Calma, fique calma. — Beijei


sua testa, mas isso não surtiu o efeito esperado.

— Eu não consigo andar? É isso? — Sua voz estava carregada de dor.

— Não sabemos, minha menina, você estava dormindo há muito


tempo, mas nada constava em seus exames. Deve ser só efeito de algum
medicamento, fique calma. — Alisei seus cabelos, a trazendo para meu peito.

Ela ainda soluçava, mas não estava tão desesperada. Só com medo,
todo seu corpo tremia pelo medo.

O meu não estava diferente, agora meu coração estava dividido pela
felicidade de vê-la viva e pelo medo do que estava acontecendo.

Deus... tomara que não seja o que estamos pensando, pedi em


pensamento, enquanto a abraçava mais forte.

O importante é que ela estava ali. Viva.


JENNER

Tento entender o que se passa dentro de mim, enquanto todas as


emoções se afloram lentamente.

Primeiro o pavor de não sentir mais uma parte do meu corpo, de ficar
assim para sempre.

Depois vem as lagrimas, juntando-se a culpa, pois ela era inteiramente


minha. Com minha mente lucida, consigo ver que tudo aquilo só aconteceu
graças ao meu descontrole em sair desesperada pelas ruas de uma cidade
movimentada como Nova Jersey.

Logo em seguida, vem os pensamentos sobre em que isso mudaria


minha vida. Primeiro, eu não teria mais minha anatomia, nem independência,
logo em seguida seria vista como uma pessoa frágil, que está sempre prestes
a quebrar.

O ódio cresce nesta segunda visão, pois sei o quanto esses


pensamentos são horríveis, entretanto, não consigo evita-los, quando estou
com todo meu corpo tremendo por emoções descontrolada, sem sentir parte
do meu corpo.
Meu coração dói, junto com pequenas partes roxas em meu corpo.
Olho o calendário na parede, sem acreditar que dormir por quase um mês e
meio.

É bizarro, acordar depois de um mês e ver que nada mais será como
antes

Encaro o soro que tomo pela veia, sentindo uma vontade incontrolável
de fugir, correr, me refugiar bem longe, entretanto, nem mesmo consigo
sentir minhas pernas.

Solucei, enquanto tentava encontrar porquês para o que estava


acontecendo.

— Eu nunca fui uma pessoa má... — murmurei, olhando para minhas


mãos pálidas. — Isso não pode ser um castigo, não pode.

Falei com convicção, encarando a porta que se abriu de repente,


passando por ela uma loira toda agoniada.

— Mag! — exclamei, sentindo um bolo se formar em minha garganta.


— Ai meu Deus...

A mesma me abraçou, dando aquele famoso ombro abrigo conhecido,


para acalmar todas as dores do mundo, mas essa, infelizmente, não foi
embora.

— Ah, Jey, você acordou — murmurou contra meu cabelo, eu me


sentia terrivelmente nostálgica, chorei novamente, pois era tudo que eu
poderia fazer nas últimas horas.

— Mag, eu não as sinto. Eu não sinto minhas pernas, Mag! — contei,


com os olhos arregalados.
— Eu sinto muito Jey, calma, vai dar tudo certo, você vai ver. —
Alisou meu cabelo, sentando ao meu lado na pequena cama de hospital. —
Calma, ok? Não é o fim do mundo, sei que vai ser difícil, mas você vai ficar
bem...

Alisou meu cabelo de novo, a forma que ela falava deixou claro que
todas as nossas suspeitas eram verdades.

— Inclusive... — Ela ia dizer algo mais, entretanto, a porta se abriu


novamente, revelando Connor com uma expressão tensa. Totalmente fora do
feitio dele.

— Jenner... — Novamente fomos interrompidos, desta vez por Harry,


que entrou porta adentro com alguns papeis na mão.

O mesmo me encarou sério, nem parecia o mesmo Harry sorridente


que ia aos almoços de domingo.

Meu corpo tencionou.

— Jenner, sinto muito em lhe dar esta notícia. Entretanto, durante o


acidente, de alguma forma você adquiriu uma lesão na medula espinhal. —
Todas as lagrimas secaram, enquanto todo meu corpo entrava em um estado
de choque.

Não conseguia me mexer, como se todas as lagrimas tivessem


evaporado em um passo de mágica. Não conseguia sentir exatamente o que se
passava dentro de mim, pois tudo foi sugado naquele momento.

Eu só poderia desejar que minha alma não se esvaziasse


completamente com isso.
JENNER

Já havia passado quase uma semana desde que eu finalmente acordei


do coma, desde então, muitas coisas mudaram.

Eu já não me conhecia mais, não conhecia meu corpo, minha rotina e


a forma que eu lidava com tudo.

Andava prostrada a uma cadeira de rodas, na verdade, essa não era a


pior parte. Na verdade, com o tempo a dor de saber que nunca mais andarei
com meus próprios pés acabará, sei que vai. Entretanto, o que dói é ver todos
andar em torno de mim, como se eu fosse uma boneca

Eu não gostava disso, de depender das pessoas, odiava cada vez que
Connor insistia que tinha que me pegar no colo para levar para o carro,
mesmo que eu realmente precisasse.

— Você sabe que não precisa ir, né? — Connor perguntou pela
milésima vez, enquanto eu contornava a cadeira de rodas motorizada pela
casa, que fora toda reorganizada para meu novo estado.

— É claro que eu não preciso ir — respondi com ironia. — Meu


cliente apenas irá ficar sem a devida defesa no tribunal, enquanto aqueles
embustes se aproveitam da situação.

— Tão dócil... — Ele resmungou, andando atrás de mim. — Você


tem uma licença Jenner, poderia enviar ao tribunal, seria adiada com toda
certeza. Além do mais, você teria ainda mais tempo para se preparar e arrasar
fazendo a justiça.

Tentou me convencer.

— Não! Eu estou nesse caso há mais de seis meses, chegou a hora de


mostrar que eu só entro em um tribunal para mostrar o óbvio e saio
ganhando, — resmunguei, aceitando sua ajuda para entrar no carro. — Nada
me impedirá de concluir isso.

Eu falei persistente, me organizando na cadeira adaptada, enquanto


via Connor dar a volta, entrando no banco de motorista.

— Mas... — tentou intervir, mas o interrompi

— Mas nada, Connor — suspirei cansada. — Estou cansada de ficar


em casa, cansada de me sentir inútil...

— Não fale assim! — explodiu, ele odiava a palavra inútil, perdi a


conta de quantas vezes falei e ele explodiu de volta. — Você não é inútil,
Jenner, nem sei como está lidando com isso tudo sem surtar e mandar todo
mundo para puta que pariu!

Suspirei, ele, infelizmente, tinha razão.

Encarei o nada, sentindo tudo clarear em minha mente. De uma hora


para outra, como se uma luz divina descesse sobre mim.
Eu não era inferior só porque estava assim, não tinha nenhuma
limitação que não houvesse uma evolução. Eu ainda era uma mulher, como
sempre fui, ainda podia lutar pelos meus sonhos, querer a liberdade de
pessoas inocentes.

Entretanto, a única coisa que eu não poderia continuar fazendo, é


deixando todos imobilizados por isso. Eu não poderia prende-los a mim,
precisava aprender a ser independente. E eu já sabia exatamente como fazer
isso.

Mais tarde, naquele mesmo dia, recebi uma confirmação. Logo depois
de ganhar mais um caso no tribunal e conseguir inocentar meu cliente,
entretanto, essas não foram as maiores emoções do dia.

E sim ver o quanto as pessoas têm os olhos fechados em relação as


limitações dos outros.

— Você tem certeza? — Ele perguntou, se sentando em minha frente.


Hunter vestia uma jaqueta de couro preta.

Estava perfeito e automaticamente senti me voltando ao dia do


acidente, com toda aquela conversa de que havia chegado a hora de dar um
basta no tal hímen.

— Tenho sim. — Tentei sorrir. — Ouvi dizer que Nova York é muito
bem frequentada. — Meus lábios se curvaram ainda mais, mostrando a
malícia por trás das minhas palavras.

O mesmo sorriu, negando com a cabeça enquanto guiava minha


cadeiras de rodas para fora. Eu poderia fazer isso através do mecanismo da
mesma, mas Hunter parecia querer fazer o gesto a todo custo, então fiquei
quieta e aceitei.

Já estava tudo planejado, Nova York me faria bem, era uma cidade
grande, diferente. Que em meio a tantas pessoas, ninguém iria notar minha
presença.

Ainda estaria livrando todos do fardo que eu me tornara. Entretanto,


essa mudança não me fazia feliz, eu estava mais infeliz que nunca em partir e
deixar todos que amo para trás.

Principalmente Connor.
CONNOR

Bufei, enquanto entrava no avião, que me levaria a Nova York, onde


eu poderia gritar e extravasar toda a raiva contida em mim.

Nem sequer estava acreditando que ela fizera isso. Uma carta?! Uma
maldita carta!

Por algum acaso ela achava que uma carta iria sanar todas as minhas
preocupações com ela enquanto a mesma viajava para outra cidade com o
babaca do Hunter.

Neste momento eu não sabia definir o quanto eu estava bravo com


Jenner.

Primeiro, eu iria para Nova York e falaria tudo que está entalado na
garganta, depois, iria falar tudo que precisava para traze-la de volta.

Por último, eu iria beija-la e mostrar que a mesma não poderia sair da
minha vida assim, sem mais nem menos.

A aeromoça me entregou um uísque, que eu afundei garganta abaixo,


enquanto pensava no Hunter babaca ao lado da minha garota.

Ah, claro, se ele tocasse em um fio de cabelo dela, o mesmo era um


cara morto!

— O senhor deseja mais alguma coisa? — perguntou outra aeromoça,


desta vez, uma loira. Quem exibia um sorriso variando entre o sensual e
simpático.

Eu preferia o simpático, pois é a base de qualquer relação na


sociedade. O sensual eu deixava passar, entretanto, se ela fosse uma mandona
do cabelos curtos e negros feito a noite, eu aceitaria de bom grado.

— Não, obrigada. — Sorri, tentando não fazer uma careta escrota


para a mesma. Paquerar não arranca pedaços, pelo menos ela estava tentando,
enquanto eu já havia desistido de qualquer possibilidade de me encantar por
outra mulher.

A única que tinha algum efeito sobre mim era ela. Minha menina
mandona e de nariz empinado.

Uma viagem entre Nova Jersey e Nova York era questão de no


máximo uma hora e meia, mas isso se estendeu muito mais, pois peguei um
voo comercial e cheio de escalas.

Acabei chegando na abençoada, barulhenta e movimentada Nova


York, para pegar algo que me pertenciam.
Eu já havia vindo algumas vezes para cá, mas nunca por muito tempo,
odiava o tumulto, as luzes constantes e o barulho. Entretanto, estou em uma
missão e desistir não é uma opção.

O caminho até a residência de Hunter foi rápido, ele morava não


muito longe do centro e essa informação foi facilmente achada no Google.

Era quase duas da manhã quando bati na porta de Hunter, o mesmo


abriu alguns segundos depois, com cara de quem poderia me assassinar a
qualquer momento.

— Diabos, isso são horas? — resmungou encarando o relógio atrás de


si, enquanto me dava passagem para adentrar na sala da grande mansão.

— Cadê Jenner? — indaguei olhando ao redor. Tenho certeza que


parecia um psicopata.

— Dormindo — respondeu, coçando os olhos.

— Onde? — perguntei irritado. Se ele falasse que fosse a um metro


da cama dele, levaria um belo soco na cara.

— Ah, cara, sério que acha que eu a trouxe para cá apenas para
transar com ela? — Levantei a sobrancelha, querendo dizer que não estava
muito longe do que se passava na minha cabeça. — Eu sei, minha índole é
péssima, mas antes dela ser mulher, ainda é minha amiga. Eu a considero
como uma amiga, além do mais, nunca tocaria em nenhuma mulher sem seu
consentimento.

O encarei por alguns instantes, absorvendo suas palavras.

— Jenner estar no último quarto, a direita — respondeu, enquanto eu


não perdia tempo, percorria as escadas rumo ao bendito quarto.
Logo o encontrei, era a porta pintada de vermelha, que eu abri
lentamente, a vendo deitada na cama, toda encolhida em uma concha.
Enquanto os cabelos rebeldes cobria o rosto, onde eu desejei passar os dedos.

Caminhei para dentro, fechando a porta atrás de mim, meus passos


eram silenciosos no piso de madeira. Quando alcancei o pé da cama, me
sentei no colchão, a mesma se revirou em seu sono, mas não acordou.

Sorri, dormia feito uma pedra.

Tirei minhas botas, ficando apenas com as meias, alisei sua bochecha
com um sorriso brotando em meus lábios.

Eu não poderia ficar longe daquela garota nem se quisesse, conclui,


enquanto me inclinava, para beija-la na testa.

A mesma bateu em meu rosto, repelindo o gesto, depois sorriu,


virando para o lado contrário da cama, dando um grande espaço ali, onde me
deitei, a trazendo-a para meu peito, enquanto meu coração batia em um ritmo
desenfreado.

Jenner suspirou, se aconchegando ainda mais a mim e eu conclui que


poderia morrer naquele momento. Morreria feliz.

JENNER

Acordei com uma mão rodeando minha cintura, me puxando mais


para perto de um corpo quente e musculoso. Imediatamente, fiquei assustada,
pois não é todo dia que a gente deitava na cama e acordava com alguém lhe
abraçando do nada.

Misericórdia..., pensei enquanto me movimentava levemente para ver


de quem se tratava.

Sufoquei o grito ao ver o rosto perfeito e sereno de Connor, com um


suspiro de temor saindo pelos meus lábios. O mesmo dormia como uma
pedra ao meu lado.

Meu primeiro instinto foi um alivio, pois era Connor. Logo depois, foi
a confusão, pois o que diacho Connor estava fazendo na minha cama?!

— Connor. — O cutuquei, tentando chamar sua atenção. O sol lá fora


ainda não havia aparecido totalmente, mas já dava para ver pela fina cortina,
que o mesmo raiava lentamente. O loiro se remexeu, sonolento, entretanto,
não abriu os olhos.

Suspirei, afundando o rosto em seu peito, sentindo seu cheiro


impregnado na camisa de gola polo preta, sua cor preferida. Me senti
automaticamente mal por estar aproveitando-me da situação para sentir seu
cheiro, nem havia passado um dia, mas eu já sentia a falta dele.

Quem poderia me culpar? Eu conheço Connor desde meus nove anos,


ele sempre esteve ao meu lado, eu nem sequer me imaginava um dia da
minha vida sem aquela coisa implicante chamada Connor Mitchell.

— O plano era outro. — O escutei murmurar, automaticamente, quis


me afastar, mas seus braços me apertou, me trazendo mais para perto. —
Entretanto, uma cama e você é uma combinação tentadora demais para pensar
em algo que não seja isso.

Afundou sua cabeça em meu cabelo, beijando a mesma. Usei todo


meu auto controle para me afastar, dando espaço para encarar o contorno do
seu rosto no breu do quarto.

Suspirei mais uma vez, cansada só de tentar entender o que diabos ele
fazia ali.

— O que faz aqui, Connor? — indaguei, já o loiro apenas me lançou


um daqueles sorrisos irresistíveis.

— Vamos, primeiro, inverter as coisas — disse, se inclinando sobre


mim, com seu peitoral tocando meus seios por cima das roupas finas. —
Primeiro, você precisa entender que não pode sair da minha vida assim, sem
mais nem menos!

Minhas bochechas inflaram pela raivas que suas palavras me


causaram, e eu estava pronta para dizer que podia sim, pois eu tinha livre
arbítrio, poderia fazer o que bem entendesse e na hora que entendesse.

Entretanto, demorei muito tempo pensando, quando dei por mim, seus
lábios cobriam os meus de forma intensa. Eu diria até mesmo, brutal.

Senti o contato por todo meu corpo, atingindo cada miséria cédula e
fazendo todo minha pele entrar rapidamente em chamas. Seus lábios
suavizaram a pressão sobre os meus, sua língua pediu passagem, encontrando
a minha de forma sensual, me fazendo suspirar, enquanto meus dedos
desenhava sua costa a caminho dos seus cabelos loiros, onde afundei meus
dedos, sentindo a maciez dos fios.

Suas mãos desceram pelo meu corpo, desenhando minha cintura,


barriga, que ficou descoberta na medida que suas mãos avançavam, mas
parou antes de chegar ao meu seio, em uma forma estranha de respeito.

Seus lábios se afastaram, quebrando o contato, vi um sorriso pintar


em seu rosto, fazendo todo minha mente tomar consciência do que eu estava
fazendo.
— Se eu soubesse que seria assim, tão bom, teria feito a muito tempo.
— Ele desenhou meu rosto com o indicador, parando nos lábios inchados,
onde depositou um beijo rápido, observando todo meu rosto, que estava tenso
e assustado.

Dara e papai vieram rapidamente em minha mente, como um aviso do


subconsciente, foi nesse momento que me afastei, com dificuldade, para
longe dele, colocando uma distância segura entre nos.

— Jenner. — Ele me chamou, percebendo meu receio.

— Não! — exclamei irritada, comigo, com ele, com o fato de que


toda vez que ele me tocava parecia tão certo. — Não, isso não é certo!

Afirmei com convicção.

— Por que não seria? — indagou, claramente confuso. — Somos


humanos Jenner, sentimos tudo que está a nossa volta, dor, alegria, amor,
raiva, desejo e todos os sentimentos a mais que um ser humano sensível pode
sentir. Por que desejar um ao outro seria errado?

Exigiu uma resposta.

— Por que, Connor, fomos criados para sermos irmãos, apesar de não
termos o mesmo sangue. Isso nunca, em hipótese alguma, poderia acontecer.
— Eu fui franca com meus próprios ensinamentos.

O mesmo jogou a cabeça para trás, rindo da situação, deixando-me


ainda mais irritada.

— Eu não acredito no que estou ouvindo! — Ele parecia frustrado, até


parecia que estava perdendo um grande amor. Bobagem!
Era eu quem passará a vida toda o desejando, o vendo ir e vir com
outras pessoas, portanto, era eu quem tinha o coração trincado, não ele.

— Apenas vá embora, Connor — pedi, pois, neste momento, era mais


fácil lidar com Connor longe de mim.

— Não até leva-la comigo! — exclamou exaltado.

— Não irei, Connor. Preciso de um tempo para mim, você não vai
entender isso, mas no momento tudo que não preciso é de mais drama na
minha vida — suspirei. — Preciso pensar, me reorganizar, nada de grandes
decisões nem grandes sacrifícios.

Ele riu novamente, parecia que a situação não passava de uma grande
piada para ele.

— Na casa do babaca do Hunter? — retrucou chateado.

— Não seja assim! — exclamei desesperada.

— Você disse que ia transar com ele! — Me acusou, jogando minhas


próprias palavras contra mim. Queria dizer que nunca faria isso, não agora,
pois eu já tinha problemas demais, e me envolver com Hunter só iria piorar
tudo.

Entretanto, não foi isso que saiu da minha boca.

— E talvez não tenha mudado de ideia — respondi, sentindo o peso


dessas palavras refletindo em seu rosto bonito.

Ele pareceu em choque, instantaneamente se fechou para tudo ao


redor. Connor me encarou por alguns segundos, parecia sem fala, então eu
descobri que odiava seu silencio, era mais duro do que as piores palavras do
mundo.

— Quer saber? Estou farto! Cansado dessa merda, cansado de você


fugir e fingir que não sente isso. — Ele apontou para nos dois. — Cansado de
você sempre jogar na minha cara que um babaca irá tê-la, enquanto eu a toco
e você retruca, dizendo que é errado.

Seu rosto estava retorcido em dor, aquilo foi como apunhalar uma
faca em meu coração.

— Só que depois, não me procure quando as consequências chegar —


dizendo isso, se retirou do quatro, batendo a porta atrás de si.

Soube que era um adeus, isso doeu, pois pior que não tê-lo, era perder
sua amizade.
Um ano depois

JENNER

Observei a jovem mulher sair do tribunal, com as bochechas


vermelhas pela raiva, os olhos inchados pela lagrimas e um olhar suplicante
no rosto marcado pela idade.

Alina Damasceno era minha cliente, e pela primeira vez na vida me


senti tremendamente imponente ao não conseguir dar vitória aos meus
clientes.

Hoje, eu trabalhava na W & J Advocacia, em parceria com Alexandra


Johnson, uma advogada super competente que começara no mercado há dois
anos e estava em busca de um lugar de destaque.

Juntado o útil ao agradável, tínhamos a parceria perfeita.

Suspirei, olhando ao redor, encontrando Hunter parado em pé


enquanto arrumava as coisas na mesa do tribunal. Contornei minha cadeira
até ele, o mesmo notou minha presença, levantando o olhar.
— Hunter... — comecei. O mesmo sorriu, triste.

— Sinto muito, Jenner, fizemos o possível — suspirou, descendo do


palanque e entrando na sala ao lado. Encarei a porta fechada, aceitando aquilo
como um fim, enquanto manobrava minha cadeiras de rodas, para sair o mais
rápido possível, entretanto, não passei do corredor do tribunal, fui barrada por
Alexandra, que segurava Luna enrolada a uma manta rosa cheia de bichinhos
coloridos.

A mesma mordia as mãozinhas de forma doce, enquanto balançava os


pezinhos de forma inocente, sem notar todo o drama ao seu redor.

— Hey, Luna! — exclamei guiando a cadeira até elas, Alexandra


sorriu, me entregando a menina, que acalentei. — Nem acredito que você irá
para um orfanato, não é justo... — suspirei, ponderando sobre isso. Nada na
vida é justo. — Nem acredito que vou ficar em Nova York sem você,
princesa.

Alisei seu rostinho. Conheci Luna quando Alina fora em busca de


uma advogada, a mesma era tia da pequena, estava sofrendo um processo
pela família da pequena, que não a queria, mas também não queria que a
pequena bebê ficasse com alguém que a amasse e protegesse.

Eu me apaixonei por Luna no mesmo instante, ela tinha apenas dois


meses quando nos conhecemos, hoje, quatro meses depois, ela é a coisa mais
fofa do mundo. Aquela personificação de uma boneca em forma de bebê.

Ela bocejou, batendo a mãozinha no meu seio, a procura de leite.


Possivelmente, estava com fome.

Alina comentara que a mesma ainda procurava pelo peito da mãe e ela
usava todos os artifícios para que ele se acostumasse com a mamadeira o
mais rápido possível.
— Ah! Alina deixou uma mamadeira pronta. — Alexandra disse,
tirando a mamadeira toda atrapalhada de dentro da bolsa, entregando a mim.

Aceitei, abrindo a mesma com uma mão, enquanto a outra apoiava


Luna em minhas pernas.

A mesma aceitou a mamadeira ofertada, sugando com força enquanto


coçava os olhinhos, sonolenta.

Encarei o rostinho sereno, sem querer acreditar que já tão pequena


seria arrancada das suas raízes por pessoas que não tem amor no coração,
sendo entregue a mercê de um orfanato. Que muitas vezes, acontecem coisas
que ninguém pode prever.

— Já está decidido para onde ela irá? — perguntei acionando a


cadeira, fazendo ela se movimentar para fora do tribunal, já vazio.

— Ainda não é definitivo, mas ela ficará por alguns dias no


orfanato.... — Ouvi atenta, enquanto entravamos em um corredor, a caminho
da assistente social, quem agora seria responsável para levar Luna até seu
novo lá.

Suspirei, enquanto esperava ansiosa minha cadeira, que já deveria ter


chegado, pensei enquanto esfregava as mãos ansiosa.

Olhei as luzes de Nova York se estender, enquanto a cidade dormia


tranquila, com vários pontos brilhando, colorindo o breu que se estendia.
Fazia exatamente um ano, 365 dias, 12 meses e muita saudade.
Entretanto, quem estava contando?

Rolei os olhos, concluindo que não adiantava mentir para mim


mesmo.

Eu estava contando, cada misero segundo longe de tudo que amava,


minha família, meus amigos, minha casa.

E Connor, entretanto, sabia que o mesmo não teria uma boa reação ao
me ver, já estava ciente disto, só não estava preparada para isso.

Eu nunca estaria preparada para encarar a rejeição no olhar de


Connor, nunca. Era a mesma coisa que apunhalar uma faca em meu coração,
a afundando cada vez mais.

O rapaz da companhia aérea retornou, empurrando minha cadeira com


pressa, me ajudou a sentar na mesa e logo se foi, enquanto eu a guiava para
fora do aeroporto internacional, solicitando um dos vários táxis parados por
ali, enquanto todo o caminho, tentei não surtar ao imaginar que amanhã os
encontraria.

Hoje iria para minha casa, até estava com saudade da mesma, com
duas semanas morando com Hunter, não aguentava mais dividir o mesmo
espaço com alguém praticamente estranho. Então aluguei um apartamento
pequeno e voltei a ser sozinha, apenas eu e as paredes, ironias a parte.
CONNOR

Observei a cena sem qualquer reação, enquanto a mesma brincava e


ria com mamãe em uma expressão de êxtase puro. Meu corpo todo travou
com isso, parando na entrada da casa, enquanto eu tentava acreditar que
estava mesmo vendo aquilo.

Jenner. Meu deus, um ano se passou desde que ela me mandou


embora, e ficou na casa do babaca do Hunter.

Olhei ao redor, apenas para ter certeza que ele não estava aqui
também.

Eu entendia que ela precisava refazer sua vida sozinha, para ter a
certeza que conseguiria seguir em frente por conta própria, entretanto, não
entendia o porquê dela ter que me apagar para fazer isso.

Era apenas eu, sempre estaria ali para ela, para apoia-la, ama-la e
nunca desistiria dela.

E apesar de toda mágoa, não consegui conter o sorriso bobo ao ter


apenas sua presença novamente. Uma parte de mim gritava “babaca!
Correndo atrás de quem já lhe chutou mil e uma vez”, entretanto, essa parte
era sempre ignorada, pois na minha vida sempre teria espaço para ela, não
importa o que aconteça.

Tentei fazer meu coração parar de bater como um louco desenfreado,


enquanto observava seu corpo sentado na cadeira de rodas. Os cabelos
estavam soltos, cortados na mesma altura de quando foi embora, nos ombros,
entretanto, não era o habitual Chanel, tinha um leve repicado.

Estava com uma postura ereta, vestia calca jeans desbotada, uma
blusinha branca com uma jaqueta de couro jogada por cima. Toda aquela
cena era tão familiar, que fez todo meu corpo se apertar de saudade, queria
correr até ela e abraça-la, entretanto, não fiz, apenas a observei, sem fazer
barulho, tentando pôr em ordem a bagunça que Jenner criava em mim.

— Connor! — Mamãe exclamou, atraindo atenção para mim, que


continuava parado, atônico.

Jenner me encarou, o simples fato que sua atenção estava concentrada


em mim fez todo meu corpo entrar em chamas, então eu vi, o brilho nos olhos
e o minúsculo sorriso que nasceu em seus lábios rosados.

Foi a gota d’agua.

Meus lábios se estenderam, sorrindo aos ventos, mostrando o quanto


estava feliz só por ela estar ali.

— Olha quem voltou, filho! — mamãe continuou tagarelando,


enquanto Jenner me avaliava minuciosamente, e vice e versa.

Eu queria falar algo, qualquer coisa, entretanto, eu tinha falado


demais no nosso último encontro, desta vez, eu precisava ouvi-la.
Mesmo que fosse pedindo para que eu nunca mais olhasse para ela.

JENNER

Observei seu rosto sereno, enquanto seu sorriso sumia lentamente,


deixando apenas requisitos que ele havia existido.

Desejei me jogar sobre ele, jogar todos os meus medos para o ar,
entretanto, o encarei, com um sorriso, sabendo que desta vez, eu quem devia
dar um primeiro passo.

— Olá, Connor — disse, agradecendo por Dara estar entretida demais


na cozinha, para não notar nossa interação estranha. — Você está da mesma
forma de um ano atrás.

O avaliei, sustentando um sorriso bobo, enquanto sentia borboletas


baterem asas feito loucas em minha barriga.

O mesmo deu uma risadinha, mostrando os dentes brancos.

— Eu poderia dizer o mesmo, entretanto, estaria mentindo. — Ele


avaliou minha expressão, enquanto eu analisava suas palavras. — Você está
ainda mais linda, Jenner.

Conti o suspiro ao ouvir suas palavras, não era nem um pouco justa
ele me jogar isso do nada, entretanto, não reclamei, pois, no fundo, amei
ouvir.
Dara retornou à sala, nos chamando para almoçar, acionei a cadeira,
fazendo ela andar pela sala bem mobilada da casa do papai.

Já se passara um ano desde meu acidente, desde que assumi de vez o


posto de cadeirante, apesar de tudo, hoje era uma coisa simples, já fazia parte
de mim. Amava meu corpo, tinha uma boa relação com ele, apesar das suas
limitações e amava como tudo se encaixara em tão pouco tempo.
JENNER

Vesti uma máscara de coragem, enquanto batia na porta do seu antigo


quarto, aguardando ansiosa, falando a mim mesma para não fugir.

O jantar com todos demorara mais que nós pudéssemos prever,


quando caímos em si, já passava dá uma da manhã, nem eu e Connor
conseguimos sair de casa para nossas respectivas casas.

Dona Dara não deixou, fazendo cada um se acomodar nos antigos


quartos de solteiros, algo que fora, particularmente bem engraçado.

Nem sequer me imaginava no meu antigo quarto, era tão a cara de


uma Jenner de quinze anos de idade, entretanto, continha boas lembranças e
trazia aquela sensação de paz anterior.

Escutei a trava ser destrancada, logo a porta foi aberta, revelando


Connor apenas de cueca box vermelha, deixando todo seu corpo a mostra,
trazendo aquela velha sensação de peixe.

Observei seu peitoral esculpido, desejando passar a mão pelo mesmo,


enquanto seu rosto confuso pairava sobre mim, em completa dúvida.
— Jenner? — indagou olhando o corredor, a procura de algo. —
Aconteceu algo? — Deu passagem para o quarto escuro, manobrei a cadeira,
adentando o quarto em total breu.

Observei a cama bagunçada, enquanto sentia seu olhar avaliador em


minhas costas.

— Não aconteceu nada, eu só quero... — As palavras fizeram um


bolo em minha garganta. — Conversar com você — finalizei, obrigando
meu coração a parar com aquela bagunça louca que sempre está acontecendo
dentro de mim.

O mesmo sorriu, caminhando até a cama, onde se sentou, deixando as


pernas musculosas para fora. Desviei o olhar, não querendo demostrar que
estava completamente babando no seu corpo.

Entretanto, quem pode me culpar? Colocam uma delícia dessas


embaixo do mesmo teto que eu e ainda pedem sanidade, pura ironia.

— Posso lhe tirar da cadeira? Quero que se sente aqui, ao meu lado.
— Ele bateu na cama e eu encarei o gesto, pensativa.

Por fim, assenti, logo senti seus braços rodear minha cintura,
levantando-me e em seguida me pousando sobre as cobertas escuras. Onde
me sentei em posição melhor, para não ficar tão estranha.

Ele entrelaçou suas mãos na minha, enquanto nossos dedos se


enroscavam, dando novamente aquela sensação de conexão. Eu amava esse
laço inquebrável que tínhamos.

— Senti sua falta — confessei baixinho, sem encara-lo.

Senti seu dedo tocar meu rosto, fazendo-me levantar o olhar,


encarando aqueles olhos azuis que tirava a estabilidade de qualquer pessoa.

— Eu também, minha menina, eu também — respondeu, com seu


dedo traçando uma linha imaginaria na minha bochecha, fazendo-me inclinar
sobre seu toque, sentindo meus olhos pesados com isso.

Senti seu hálito próximo a minha boca e pela primeira vez em muito
tempo, nada além da vontade de beija-lo passou pela minha cabeça, então o
fiz.

Seus lábios tocaram os meus, me trazendo mais para perto, enquanto


seus dedos afundavam em meus cabelos, tentando sanar o desejo que
despertava cada vez mais entre nos.

Suspirei, enquanto sua língua bailava dentro da minha boca, dando a


sensação de que aquilo era a perfeição. Havíamos alcançado a perfeição com
um simples beijo.

Éramos um experimento científico, quando finalmente dá certo, é


como uma junção perfeita. Explode em fogos, de mil e uma sensações
diferentes.

Minha mão alcançou seu cabelo, se enterrando nos fios cor de ouro,
enquanto ele se deitava sobre a cama, me levando junto, enquanto meu corpo
cobria o seu.

— Eu esperei um maldito ano para tê-la novamente, não me peça para


parar agora — sussurrou, afastando nossos lábios. — Não me afaste agora,
por favor...

O tom de súplica partiu meu coração.

Então eu fiz o que eu mais desejei durante todos os meses que fiquei
longe dele, me despi, não só no sentido de roupas, mas despi minha alma.

Me deitando sobre ele, tocando-o de todas as formas que imaginei


durante anos, enquanto suas mãos faziam o mesmo com meu corpo.

— Eu vou amar você, Jenner, vou faze-la minha — sussurrou contra


meu pescoço, passando a língua de forma sensual na carne sensível. —
Porém, nunca mais você vai sair do meu lado, ouviu? Nunca mais vai fugir
de mim, minha menina...

Depositou beijos fazendo o caminho novamente para minha boca,


cobrindo a mesma de forma intensa.

Neste mesmo instante, soube que enfrentaria qualquer um só para tê-


lo. Eu já havia enfrentado várias coisas na vida, e a partir deste momento
enfrentaria até mesmo minha família para ficar com ele.

CONNOR

Observei seu rosto sereno, enquanto a mesma se perdia no mundo dos


sonhos.

Um sorriso bobo saiu dos meus lábios, ao vê-la nua por baixo das
minhas cobertas, completamente despida. Completamente minha.
Não me surpreendi ao ver que seria o primeiro a toca-la, já esperava,
apesar de entender caso ela já tivesse se entregado a alguém, não era meu
direito julgá-la.

Só ama-la.

Sim, amo essa garota, todo mundo sabe disso, está escrito em minha
testa com letras neon. Não é necessário nenhum mago do universo para saber.

Escutei a porta se aberta de supetão, encarei mamãe assustado,


enquanto ela entrava no quarto, tagarelando como sempre.

— Connor, café da manhã, querido... — Ela juntou algumas roupas


minhas em cima da penteadeira. — Rafael já saiu, pediu para você...

Se calou no mesmo instante em que seus olhos pousaram em Jenner,


deitada na minha cama, completamente nua.

— Meu Deus — sussurrou, enquanto Jenner se remexia na cama,


fazendo o lençol descer, mostrando seu peito desnudo, onde corri para cobrir.
— Vocês estão juntos?

Indagou de forma atônita, vi Jenner despertar, abrindo os olhos


lentamente, logo seu olhar parou na minha mãe, o que a fez arregalar os
olhos, completamente assustada com nossa belíssima intrusa.

— AI MEU DEUS! — Minha mãe deu um gritinho estridente. — Eu


não acredito, finalmente! — parecia uma adolescente, dando pulinhos
animados. — Olha, eu estou de saída, encomendem meus netos! — disse, já
dando meia volta e saindo do quarto, deixando Jenner atônica.

Só soube rir, enquanto voltava para cama, para fazer jus ao conselho
da minha mãe.
Seis meses depois

JENNER

Encarei Alexandra, enquanto a mesma caminhava até mim, com a


pequena Luna nos braços e um sorriso enorme estampado no rosto.

Já fazia seis meses desde que voltei, desde então, minha vida tem se
dividido entre Nova Jersey e aqui. Eu ia toda semana para lá, visitava Luna
no orfanato e voltava para minha antiga cidade, onde eu estava seguindo
minha vida e não tinha planos de mudar.

Tudo estava tão nos trilhos, nem sequer imaginava como pude viver
tanto tempo longe.

— Ai meu deus... — Connor sussurrou ao meu lado, enquanto sua


mão intensificava o aperto em minha mão. — Ela está cada dia mais linda...

Sorri, ao ver sua expressão por Luna, ele a conhecerá em alguma das
nossas idas a Nova Jersey, já que a mesma entrara oficialmente para as
crianças disponível para adoção, nós estávamos tentando ganhar a guarda na
justiça.

Até mesmo Alina concordou que eu adotasse a pequena Luna, por


quem eu já nutria um amor infinito, eu diria amor de mãe. Algo que nunca
me imaginei sentir.

Sim, eu e Connor estamos juntos, há praticamente cinco meses, desde


aquele dia, todos na casa e incluindo a vizinhança, ficaram sabendo que nós
estávamos juntos sem nem mesmo oficializar nada.

Culpa da senhora Dara.

Amanhã seria nosso primeiro dia dos namorados juntos, uma pilha de
nervos passava pelo meu corpo e ter Luna por perto tiraria um pouco desse
nervosismo. Pois quem diria que em seis meses eu estaria namorando meu
meio irmão, por quem eu sempre fui apaixonada?

— Jenner, Connor. — Alexandra se aproximou, estendendo Luna


para mim, que veio fácil, estendendo os bracinhos cheios de curvinhas
gostosas.

Cheirei sua bochecha, sentindo o cheirinho bom de bebê, enquanto a


mesma enroscava os dedinhos nos meus cabelos, enquanto balançava as
pernas para cima.

— Ei, pequena! — Connor disse, se abaixando ao meu lado para


brincar com ela, quem teve a reação mais terna possível, sorriu, daquela
forma sem dentes que ninguém consegue resistir e estendeu os bracinhos,
completamente apegada a Connor. — Ai, deus, é muito amor para algo tão
pequeno...

Ele murmurou, a embalando no colo, enquanto Alexandra começava a


fazer um relatório de como estava indo o pedido da guarda, algo que me
deixava nervosa.

Luna já fora adotada por todos da minha família de maneira


irreversível, todos a amavam, babavam na pequena garota, como se fosse
nosso sangue. Não conseguir a guarda dela seria como matar um amor pela
raiz.

Meu reflexo no espelho não deixou a desejar, todas as minhas curvas


eram abraçadas por um vestido vermelho intenso, meus cabelos estavam
soltos e definidos em cachos pequenos, enquanto uma maquiagem marcava
meus olhos e dava destaque em minha boca.

Antes de tudo, sempre pensei que uma pessoa cadeirante dependesse


de uma pessoa para tudo, depois que passei para essa situação, vi que
cadeirante não está limitado a apenas uma cadeira.

Podemos fazer coisas que nunca imaginei, para tudo tem um jeito no
nosso mundinho.

Suspirei, pegando minha bolsa de mão preta enquanto manobrava a


cadeira para fora do quarto.

Já estava na minha casa, que agora tinha passado por uma reforma e
adaptação. Algo que veio a calhar, pois até mesmo as escadas eram
adaptadas.

Desci, vendo Connor sentado no sofá, enquanto embalava Luna nos


braços, de forma terna. A mesma dormia tranquilamente, enquanto sugava a
chupeta, que ela aderira em um terrível hábito.

— Vamos? — indaguei parando no meio da sala, ele me encarou de


forma intensa, com seu olhar passeando por todo meu corpo.

— Você está ainda mais linda... — murmurou, e eu só soube rir e


olha-lo de volta.

Estava perfeito naquele terno feio sob medida, com os fios loiros
arrumados de forma desalinhada e o sorriso perfeito desenhando seus lábios.

— Você também. — Eu devolvi o elogio. — Mas não me disse onde


vamos.

Ele me lançou um sorriso travesso, enquanto escutávamos Dara


adentrar na sala, a mesma ficaria com Luna durante a noite. Já que só
tínhamos uma semana com a garota, dona Dara aproveitava todo segundo
para mima-la, assim como eu.

— Me entregue meu bebê — pediu, estendendo a mão para Connor,


nos fazendo rir. — Coisa mais linda da vovó.

Segurei ainda mais o riso ao vê-la se dirigir a Luna como avó, dona
Dara e sua mania de animar todos ao seu redor.

— Vamos, Jey? — Connor me chamou, estendendo a mão, que


aceitei, o seguindo com a cadeira de rodas.

O nervosismo borbulhava ao meu redor, já havia perdido as contas de


quantas vezes já havia passado uma data como o dia dos namorados com
Connor, entretanto, desta vez era nosso dia dos namorados.

Tudo mudava.
CONNOR

Sorri nervoso, vendo o quanto ela estava radiante naquela noite,


coberta de forma belíssima naquele vestido vermelho que destacava sua pele
cor de leite e os cabelos que hoje, especificamente, pareciam ainda mais
escuros.

Como se estivessem sorrindo para a noite.

E, pela milésima vez desde que Jenner Wright entrou na minha vida,
me apaixonei. Senti esse sentimento por todo o meu corpo, atingindo meu
coração, abrangido meu desejo e me marcando por inteiro.

Se ela me recusasse, juro que nunca mais conseguiria amar alguém


como amo essa menina. É algo de alma, um encontro de almas que foram
moldados um para o outro.

— O que foi? — Ela perguntou de repente, me encarando


intensamente enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha.

Nesse momento entendi o que os homens queriam dizer quando se


recusavam ao amor, dizendo que viramos completos bobões apaixonados.
Pois é assim que me sinto ao desejar passar as mãos pelos cabelos da mesma,
cabelos que eu amava, que tinha um aroma incrível.

Só que diferente de todos, eu estava amando me sentir um bobão.

— Connor! — Ela reclamou zangada. — Para de voar, menino...

Resmungou, me fazendo rir, enquanto minha mão cobria a dela por


cima da mesa.

— Estava pensando, desculpe... — respondi, alisando um anel que a


mesma mantinha no anelar despreocupadamente. — Irei ali na cozinha, ok?
Volto em um segundo.

Eu falei, apontando para a cozinha do restaurante que escolhi para


essa noite.

Estava mal iluminado, cheio de casais distribuído nas mesinhas de


madeira estilo retro, enquanto o local tinha a perfeita aparência romântica.
Constatando com os objetivos de cada um ali.

— Tudo bem. — Ela deu os ombros, sem notar nada, bebericando o


vinho tinto suave que fora servido com alguns tira-gosto, enquanto o prato
principal ainda não ficava pronto.

Levantei-me da mesa, sabendo que a mesma estava me odiando


naquele momento, entretanto, valeria a pena todo aquele ódio secreto.

Caminhei pelo restaurante, desviando da mesa, para chegar até a porta


da cozinha, onde peguei um atalho, saindo por uma entrada completamente
contraria.

Abri as cortinas cor de vinho só o suficiente para ver o breu que se


estabelecia, pulei de susto ao ouvir passos atrás de mim, o medo de ser pego
em completo flagrante me fez pular para trás, encarando o escuro como um
meliante em pleno gesto.

— Connor! — Escutei alguém falar em alegria, aparecendo no meio


das sombras. Uma cabeleira ruiva jogada sobre os ombros, com as curvas
sendo abraçadas por um vestido preto justo.

— Pheobe! — Eu a reconheci, a mesma era filha do dono do


restaurante, formada em gastronomia. Ela adorava viajar pelo mundo, gravar
vídeos para seu canal na internet de diversas culturas gastronômicas.

A ruiva riu do meu nervosismo.

— Calma lá, garanhão, vai dá tudo certo. — Ela piscou os cílios,


caminhando novamente para longe.

Sorri agradecido, enquanto apertava o temido controle, fazendo as


cortinas se abrirem completamente, enquanto eu me mexia nervoso. O único
holofote do palco se acendeu, focando-se em mim.

— Olá! — saudei, enquanto passava as mãos no cabelo de forma


nervosa. — Primeiro, confesso que nunca tremi tanto na vida. — Escutei
risos, encontrando o olhar curioso e espantado de Jenner. — Segundo, eu
estou aqui em uma missão, praticamente, a missão mais importante da minha
vida!

Eu suspirei, enquanto tentava acalmar meu coração.

— Eu já passei por várias situações, já vi várias pessoas morrer em


minha frente enquanto eu não podia fazer nada para ajudá-las. Já vi a vida
vencer a morte tantas vezes, apesar das exceções — calei-me por alguns
instantes. — Entretanto, eu juro que nunca senti o que estou sentindo. É
como se cada célula do meu corpo tivesse esperado uma vida por isso e agora
não conseguisse se conter, o que é, em partes, uma verdade.

Encarei o chão, enquanto todo meu discurso preparado fugia da


mente.

— Toda minha vida, vi você andar em torno de mim, não podia


sequer toca-la, mas podia protege-la, estar ao seu lado, e foi o que fiz. Só...
— fiz uma pausa, olhando além, encarando seus olhos turvos pelas lagrimas
contidas — que chegou um momento que eu não suportava mais, eu a queria,
era um tanto egoísta quando pedi para vir comigo, pois estava pensando só
em mim, entretanto, ninguém é perfeito — soltei um riso nervoso. — Mas eu
amo você, não me importo com o pouco tempo que temos juntos, apenas sei
que quero tudo com você, quero minha vida com você, quero você por
inteira. Quero estar para sempre ao seu lado, Jenner.

Jenner me encarava com atenção, enquanto eu descia do palco,


caminhando até ela de forma decidida — pois, não havia nenhuma dúvida
sobre mim —, ouvi suspiros ao meu redor.

Parei em frente à minha mulher, me ajoelhando em sua frente.

— Planejei isso de várias formas, mas acho que o nervosismo me fez


esquecer tudo... — Eu fiz careta, causando risos. — Porém, sei fazer essa
pergunta de forma simples e direta, casa comigo?

Estendi a caixinha vermelha aberta em sua direção, enquanto todo o


sangue fugia de mim, por puro nervosismo. Jesus coroado, isso não é de
Deus...

Jenner encarou minha mão estendida, com uma expressão variando


entre dúvida e contentamento.

— Eu... — disse de forma incerta, enquanto um coro se formava ao


meu redor. Fazendo sentir o quanto apoio moral fazia bem. — Eu aceito!
Gritou por cima de todas as vozes, me abraçando com rapidez com
seu corpo curvado para frente, no mesmo instante, meus braços rodearam sua
cintura, enquanto seus lábios cobriam os meus em um beijo apaixonado.

Senti suas mãos serem enterradas em meus cabelos, deixando claro


que era ali que eu pertencia.

Aquele era meu lugar no mundo. Nunca seria a mesma coisa se não
fosse com ela.

— Não sei o porquê você cogitou um não... — murmurou contra


meus lábios, com um sorriso brincalhão no rosto.

— Bom, digamos que estou acostumado a receber nãos. — A mesma


gargalhou, enquanto eu colocava o anel em seu dedo, deixando claro que ela
me pertencia.

Para sempre.

— Digamos que eu gostei da ideia do para sempre... — disse toda


tímida, algo incomum para ela. — A verdade, é que eu gosto muito do para
sempre ao seu lado...

Depositou um selinho rápido em meus lábios.

— Que bom, pois o para sempre ao seu lado não está aberto a
exceções. — Ela alisou minha barba por fazer, enquanto eu encostava sua
testa na dela, sentindo sua respiração calma contra meu rosto.

Tudo agora estava no seu devido lugar.


DOIS MESES DEPOIS

JENNER

Encarei o anel que brilhava em meu anelar, sentindo o medo se


apossar de mim. Durante esses dois meses, nem tive tempo para pensar ou
respirar direito, os preparativos para o casamento me levaram a loucura e
apesar de ter certeza de que amava Connor e o queria ao meu lado para
sempre, como o mesmo dissera, sempre temos nossas inseguranças.

E hoje, a poucas horas da união oficial, eu estava em uma pilha de


nervos. Meu coração batia desenfreado, como se fosse parar a qualquer
momento, minha mente não parava de rodar em situações hipotéticas que
poderiam acontecer depois deste dia.

Era um misto de sensação, cada uma diferente uma da outra, porém,


uma certeza eu tinha, não estava nada bem.

Eu queria vê-lo, abraça-lo e ter a certeza que estávamos fazendo o


certo, por outro lado, eu tinha medo, de que tudo isso se desfizesse depois dos
felizes para sempre.
Entretanto, esse é sempre um risco que estávamos destinados a correr.

Suspirei, contendo as lagrimas, não poderia chorar agora, em algumas


horas a maquiadora chegaria e eu não poderia estar com o rosto todo inchado.

— Querida... — Escutei a porta do quarto se abrir, enquanto levantava


o olhar, dando de cara com Dara, quem estava radiante.

— Oi... — murmurei forçando um sorriso. Ela não poderia perceber


minha tristeza, pois, o que pensaria, afinal?

Dara caminhou pelo quarto, sentando-se na cama, enquanto me


encarava atentamente.

— O que está lhe deixando triste, querida? — murmurou, segurando


minhas mãos suadas entre as suas.

— Eu... — engasguei, sentindo um nó na garganta. — Eu estou tão


confusa! — desabafei, a ouvindo ofegar.

— Confusa? — indagou.

— Sim, sabe, eu amo Connor. — Eu soltei uma risada sem graça. —


Nem tem como duvidar disso, o amo desde que tinha quinze anos, então isso
não tem espaço para dúvidas. Mas...

Parei no meio da frase, divagando.

— Você tem medo que a relação depois perca o brilho? — Ela


concluiu.

— Mais ou menos... — respondi, analisando as linhas de nascença em


minha mão. — Sabe, eu não sou uma pessoa “normal”, ando em uma cadeira
de rodas e isso, muitas vezes, não é nada fácil! — Arregalei os olhos com o
caminho dos meus pensamentos. — Sei que casamentos não são fáceis, e
imagine só como será comigo? Toda cheia de obstáculos, com ele livre e
desimpedido, em uma crise. Isso não...

Ela me cortou.

— Eu a proíbo de ter esses pensamentos! — ralhou comigo. —


Jenner, olhe para você!

Ela pediu e fiz obedeci, encarando meu corpo.

— Você só vê a casca, uma mulher, muito bonita por sinal, em uma


cadeira de rodas. — Eu fiquei muda. — Mas quem está ao seu redor, quem a
vê de verdade, percebe o quanto é forte, o quanto é determinada e leal. Meu
amor, desde a primeira vez que a vi, soube que seria uma mulher
excepcional... então, por favor, não se diminua assim.

Queria lhe dizer que estava errada, que eu não estava me diminuindo.
Mas não podia. Aquela era a verdade, doa a quem doer.

A verdade nua e crua.

— Connor ama você, desde que meu filho começou a entender o


mundo de outra forma, ele só tem olhos para você. E quando se tem um amor
desses, não pode ter medo de ariscar. — Ela alisou meu rosto. — Casamentos
são terríveis — rimos. — Mas quando há amor, quando há parceria,
compreensão e doação, tudo se supera. Não há como fugir de brigas, não há
métodos para evita-las, entretanto, há como curar as feridas que isso deixa.
Amando, essa é a única fórmula que cura as feridas da alma...

Ela sorriu para mim, antes de beijar meu rosto, se levantar e caminhar
para fora.
— Dara! — exclamei, saindo do estado de choque em que estava. —
Obrigada.

Murmurei, a vendo sorrir em seguida se foi. Não amenizou meu


medo, mas as palavras dela eram tudo que eu precisava ouvir.

Eu poderia amar para curar. Não parecia tão difícil...

Naquele mesmo dia, jurei que amaria, cuidaria e honraria aquele


homem que tinha roubado todo meu coração aos meus quinze anos.

Foi uma cerimônia simples, em uma igreja toda decorada em tons


claros e de forma simples, com os amigos e familiares mais próximos.

E, enquanto a mão de Connor segurava a minha, desviei meus olhos


para a imagem de Cristo, que pairava sobre nós, dando de cara com os olhos
castanhos.

Senti algo em mim mudar, como se todas as palavras de Dara entrasse


em meu coração e tirasse qualquer medo, e, quando aquela noite mudou, eu
nem sabia mais o que fora que tinha acontecido comigo.

— Eu amo você... — murmurou ele, enquanto seu corpo se conectava


ao meu, trazendo inúmeras formas de prazer para ambos.

Suspirei, enquanto focava em seu rosto bonito, que tinha uma


expressão de puro prazer.
— Eu amo você... — murmurei de volta, enquanto nossas mãos se
entrelaçavam, depositei um beijo sob seu peito nu, onde seu coração batia de
forma rápida e descompassada.

Amar para curar não seria difícil.

E curar para manter o para sempre também não.

Eu poderia fazer isso... com ele, claro, para sempre.

Dois anos depois

JENNER
Encarei o nada, enquanto minhas mãos suavam na medida em que
meus pensamentos se atropelavam, causando uma grande bagunça
sentimental.

Tentei ficar calma, não surtar completamente, pois não era algo tão
terrível assim. Era apenas uma pequena mudança, conseguimos há dois anos,
por que não conseguiremos agora?

Faz exato dois anos que Connor e eu nos casamos, dois anos desde
que minha vida mudou para sempre. Desde o início da minha felicidade.

Desde então, tudo tem sido como imaginamos, uma parceria, que cura
dores com amor, que precisa de doação e compreensão.

— Mamãe! — Escutei Luna gritar enquanto corria desajeitada pela


sala, estendendo os bracinhos para que a pegasse no colo.

Assim eu fiz, alisando seus cachinhos escuros enquanto depositava


um beijo desajeitado na bochecha suada e com cheiro de sorvete.

Connor passou pela porta, carregando a bolsa dela com algumas


sacolas, enquanto eu sorria com Luna tentando contar o que acontecera.

Conseguimos adota-la pouco tempo depois que nos casamos, agora


minha pequena Luna Wright Mitchell já tinha seus três anos e alguns meses
de pura fofura, era a razão do meu viver, completamente apaixonada pelo pai
e pela tia, que hoje já está em liberdade e vem visitar a sobrinha com
frequência.

— Boa noite, querida... — Connor disse, jogando as coisas em cima


do sofá, depositando um beijo rápido em meus lábios.

Rimos ao ouvir um resmungo ciumento de Luna, que correu para


afastar-me do seu querido pai.

— Nada disso, mamãe! Vovô disse que não pode... — disse trocando
as letras no meio da frase, me fazendo rir.

Essa menina...

— Pode sim, querida, eu e seu pai somos casados. Nós podemos, ok?
— Eu tentei explicar, ela apenas inflou as bochechas batendo os pés de forma
impaciente, me fazendo rir ainda mais. — Que tal tomar um banho, hein?

Pisquei, mudando de assunto, vendo a mesmo soltar um suspiro em


protesto.

— Vamos lá, princesa! Banho! — Connor disse, a pegando no colo,


fazendo cosquinhas, enquanto Luna gargalhava, pedindo para parar.

Suspirei, sentindo novamente meu mal astral voltar.

Amanhã viajaríamos para Nova York, para eu rever algumas coisas


no escritório de lá, entretanto, não queria ir para tão longe escondendo algo
tão importante de Connor.

Queria fazer a coisa certa, entretanto, o medo me matava.

Cobri meu rosto com as mãos, enquanto pensava em formas de falar


aquilo a ele sem deixá-lo ainda pior do que quando recusei a fazer o
tratamento para uma possível recuperação dos meus movimentos inferiores.

Não era algo concreto, apenas o médico que cuidava do meu “caso”
costumava acreditar que nem tudo estava perdido e vinha pesquisando há
muito tempo formas de reverter esses danos. Chegara a alguns resultados,
entretanto, isso não garantia que meus movimentos voltassem.
Resolvi não tentar, pois apesar de ainda não acreditar que minha vida
mudará tanto nos últimos tempos, porém, eu não queria criar toda uma
expectativa e depois ter meu coração quebrado novamente por não conseguir.

Mudei de posição na cama, enquanto ouvia passos no corredor, já


passava das dez da noite, quando finalmente conseguimos controlar Luna e
faze-la dormir, geralmente, quem fazia isso era eu, entretanto, ela era louca
pelo pai e amava quando ele tinha tempo sobrando para colocá-la na cama.

Suspirei, vendo a figura de Connor entrar no quarto, tirando a camisa


branca que vestia, jogando-a de forma desajeitada sobre a penteadeira.

Caminhando para cama, enquanto puxava a coberta e deitava-se ao


meu lado.

— Connor... — murmurei baixinho, sentindo seus braços me


envolver, trazendo-me mais para perto.

— O que houve, Jey? Está inquieta desde ontem. Conte-me, não gosto
de vê-la assim — suspirei, soltando o ar preso em meus pulmões.

— Eu tenho algo para contar a você — disse baixinho, esperando sua


reação. E quando nada veio dele, tomei iniciativa, segurando sua mão
enquanto a levava junto a minha. A pousando sobre minha barriga, traçando
traços imagináveis em sua palma.

— Estou tentando não ficar muito preocupado. — Ele riu baixinho,


claramente nervoso.
— Não sei como você vai reagir, nunca falamos sobre isso.
Entretanto, eu tenho tantas dúvidas sobre isso, que lidar com suas reação é
meu menor problema. — Recebi um olhar incerto do mesmo.

— Jenner, fale logo. Por favor.... — inspirei, enquanto abandonava


sua mão sobre meu ventre. O gesto por si só já poderia dizer muitos coisa,
então resolvi deixar ainda mais claro.

— Eu... estou gravida! — exclamei, sentindo o teor daquelas palavras.


— queria falar quando tivesse absoluta certeza e hoje recebi o exame de
sangue e...

Tagarelei sem parar, não prestando muita atenção em como Connor


reagira. Não queria ver. Sabia que ele nunca rejeitaria um bebê, ele amava
Luna e por que não amaria um filho nosso? Uma extensão de nós?

Entretanto, eu não sou uma mulher comum, tenho limitações e isso no


fundo pode ser um problema.

Senti algo tocar minha barriga com delicadeza, encarei sentindo o ar


fugir dos meus pulmões com a visão do homem da minha vida beijando meu
ventre liso, em uma completa expressão de arrebatamento enquanto
minúsculas lágrimas banhava seu rosto.

— Ah, Deus. Eu nem ouvi metade do que você falou, querida, estou
tão feliz com essa notícia que não faz a mínima diferença tudo que teremos
que enfrentar. Mas sei que vamos estar aqui, juntos, como prometemos um ao
outro perante Deus, para sempre. — Eu sorri nervosa, enquanto ele beijava
minha testa, a pontinha do meu nariz em seguidos dos meus lábios. — Eu
amo você, Jenner, cada dia que acordo e vejo o que construí ao seu lado, só
me faz ama-la ainda mais.

— Eu estou com tanto medo — confessei.


— Eu também. É louco, mas é fácil ser pai da Luna, sempre foi desde
o início, entretanto esse parece uma tarefa difícil, mas estaremos juntos para o
que der e vier. — Eu sorri ao ver nossas mãos enlaçadas sobre minha barriga
plana. — Eu, você, Luna e nossa sementinha.

— Sim! Nós quatro. Minhas vida... — Eu beijei seus lábios. — Eu sei


que não falo muito, mas eu amo você, Connor. Nem sei como seria viver sem
você. Você é a melhor parte de mim. E o para sempre que não estou disposta
a abrir mão. — Ele sorriu.

— Nem eu, marrentinha. Nem eu. — Ele me abraçou. Selando aquele


momento que não poderia ser mais perfeito.

Éramos apenas um, desde que ele chegou a minha casa há muitos
anos, nos tornamos um. Para amar, respeitar, cuidar e estar ao lado um do
outro.

Na nossa bolha chamada para sempre ao seu lado. Era nosso lugar no
mundo, nada mudaria isso. Nunca...

FIM.
AGRADECIMENTOS

Bom, escrever os agradecimentos de uma historia é sempre uma


dadiva e me deixa hiper nervosa. Como sempre, meus primeiros
agradecimento irá para Deus, pois ele quem me dá forças sempre. Depois,
para meu pai e minha mãe, quem não entende o porque de tanto tempo em
frente ao computador, mas me apoia independente de tudo. Amo vocês.

Depois a amigos, escritores, ou só amigos que a vida me deu


mesmo, apesar de ter passado por fases difíceis onde pensei que nunca mais
poderia ver algo bom no que escrevia, Deus colocou pessoas maravilhosas ao
meu lado, para mostrar que não estamos sozinhos.

Amo vocês, estou aqui para o que precisar. Bom, meu muito
obrigada a aquelas pessoas que não ajudam mais também não saem de perto,
você colaboraram para que eu nunca desistisse. Obrigada mesmo assim.

E a você, que leu e veio até aqui, espero que tenha gostado e se
puder, não deixe de avaliar. Serei eternamente grata. Amo vocês também.
THAIS O. GOMEZ
Uma pessoa que pensa em mais histórias do que consegue escrever. Tudo
pode virar uma história dentro da minha cabeça imperativa. E tudo pode se
tornar uma história de amor.
Thais O. Gomez é como eu apresento meus romances para o mundo, 17 anos
de pura leseira e muitos sonhos. Leitora voraz. Sedentária. Amiga.
Dramática. Amo series e filmes. Diagramadora. Capista.
Comecei a escrever em 2014, fazia fanfics das minhas bandas preferidas, até
que passou a não ser suficiente e no início de 2015 veio ideia para meu
primeiro romance, que saiu um horror - sinceridade é tudo -, então eu desisti
dele completamente e fiquei pulando de história para história, até que Amy e
Liam me encontraram e contaram a sua para mim. Meu primeiro romance
concluído, hoje estou finalizando o quarto, tirando os contos.
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