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PIERRE THÉVENAZ
De Husserl à Merleau-Ponty. Qu’est-ce que la phénoménologie?
Être et Penser
Cahiers de Philosophie (52ème - Mai), Éditions de la Baconnière, Neuchatel,
1966 (Introd. Jean Brun)

79
III. LA PHÉNOMÉNOLOGIE DE SARTRE
1. De la phénoménologie à l’existentialisme

Proposta de Heidegger – a evol «da fen à ontol» / compreender agora a


passagem da fen ao que se designa pelo nome ambíguo de existencialismo
O mov da fen francesa que vai desde a TE de Sartre à Fenomenologia da
Percepção de Merleau-Ponty

Na origem da fen – uma fil das essências, um «essencialismo» mais do que um


exist (destacava essências ideais) – Husserl – a consagração do mundo vivido e
a inserção da consc no mundo aparecia cada vez mais indestrutível
Enraizamento na exist vivida que a fen transcendental mostrava cada vez mais
claramente
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«o regresso às coisas mesmas» - fidelidade ao concreto e à existência = anti-
idealismo
A redução permite o salientar a intenc da consc / a intenc leva a consc às coisas
e ao mundo - «o ser-no-mundo» existencialista – já implicitamente contido no
método fen = a possib de uma passagem contínua de Husserl a Sartre via
Heidegger
Sartre leva a fen a vias inéditas
Sartre não é tanto heideggeriano – é mais husserliano (será o inverso de
Merleau-Ponty)

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Procura incansável de um fundamento sempre cada vez mais radical – Sartre
tem parecenças com Husserl – tal como Heidegger radicalizou a empresa de
Husserl
Heidegger orientou-se em direcção a uma ontol – abandona a noção demasiado
idealista de consc transcendental para a substituir por uma estrutura mais ontol
= o Dasein – le parvis do Ser
Sartre ataca primeiramente o Ego transcendental mas para o radicalizar num
sentido oposto – para acentuar o seu carácter de consc, para fazer ressaltar não
o ser mas a exist
2

Sartre, diferentemente de Heidegger – localiza-se no coração da red fen


Husserl – destacar à margem do mundo um Eu transcendental que intenciona e
o constitui na sua significação de mundo – esse Ego terá uma espécie de
«campo» transcendental e poderá ser descrito como um Eu pessoal – princípio
transcendental de unificação, de constituição e de significação (entrever o Eu e a
noção de «campo» - não serão o mesmo?)
O Eu psi que apenas tombava sob o golpe da redução em proveito de um moi
transcendental – que ao longo de reduções sucessivas aparecia cada vez mais
como a fonte do sentido e da intenc da consc em direcção ao mundo

Sartre concebe ao contrário – que a consc se def fen pela intenc, a duplicação de
um Eu transcendental é supérflua – inútil, nocivo…
82
«o Eu transcendental é a morte da consc.»
Para mostrar a consc é preciso proceder à redução radical não somente do
mundo, mas tb do Ego – rejeitar o Eu do lado do mundo, dado que o Eu é ainda
um obj para a consc como qq outro objecto
Rejeitar verdadeiramente tudo o que está en dehors da consc / a consc é vazia
de conteúdo
Não há a mínima interioridade – de um Ego ou de uma consc transcendental –
tudo é exterior (o avatar da exterioridade…)

Redução radical – recuo da consc em relação ao Ser – «o cogito afirma demais»


(TE, 96) – é «impuro» - o Eu está no mundo - «há consciência» (TE, 96) –
SARTRE faz éclater o moi (Varet, 101)

83
Em relação ao Ego-consc transcendental de Husserl, Heidegger rejeitava tudo
em proveito do Dasein / contra Husserl, Sartre expulsa o Ego para melhor
recuperar a consc husserliana contra Heidegger (contra Husserl, encontrar uma
fidelidade mais profunda à sua ppa intenção) – uma noção mais pura da consc
fen

Sartre inscreve-se na tradição francesa da fil da consc, mas opõe-se à concepção


cartesiana, biraniana e bergsoniana de interioridade (ver a interp de
BEAUFRET…)

A consc é mais nua do que uma tábua rasa (VARET, 178)


A red fen será baptizada de «neantização» (pensar nisto – não será a consc a
ppa redução?) – a consc dirige-se ao mundo através do golpe da neantização
(ao contrário das aproximações sucessivas e indefinidas que caracterizam a
abordagem de Husserl)
84
3

De um lado – o Ser, o pleno que é tudo (o Ser-em si); do outro, a consc que se
desprende do ser, que descola, que é o nada ou o «para-si»

Esse nada não é o não-ser metafísico de Parménides, não é um nada absoluto =


é um nada fen ou transcendental (não se trata sempre aqui do índice da
relatividade, de uma dependência deste falso nada…) – um nada definido não
por ele mmo, mas na sua relação com o ser, caracterizado pela redução que o
separa e pela intencionalidade que o imbrica em si (recuo e intenc – o direito e o
avesso da neantização)

A meta da marcha fen nunca se alcança nem nunca se resolve em ontologia


acabada
Por efeito da nadificação radical – a dicotomia entre o ser-em-si e o ser-para-si
(nada) é abrupta, imediata – a ontol fen de Ser e Nada não é um método de
aproximação progressiva ao ser – é ontologia enquanto fen
O método fen em Sartre esgota-se enquanto método – o que dá à ontol sartriana
um rosto dogmático, mesmo escolástico – é como se o método da redução, no
momento em que pela nadificação «descomprime» o em-si em para-si, o ser em
consc, se apanhasse ele mmo, por um movimento inverso, em ontol massiva
(citar)

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2. A consc é consc de si
Em Husserl, por reflexão ou conversão da intencionalidade, vamos do Eu psi ao
Ego fonte
Em Sartre, a redução não é reflexão, mas nadificação – ela é conduzida a uma
consc irreflectida – tomada nela mma a consc é pura consc dela mma, mas «não
posicional», sem desdobramento: uma consc (de) si, ou uma consc-si – um saber
implícito de si = o modo de exist da consc é o de ser consc de si (EN, 20; TE, 90)
Sartre separa-se de Husserl já que admite uma outra dimensão da consc para
além da intencionalidade («posicional do objecto») – há intencionalidades não
posicionais – daí a pertinência de uma análise sobre as exps pré-predicativas
Fil e psi tradicionais – consideravam essa outra dimensão tb de ordem reflexiva,
idêntica a uma interioridade

Sartre opõe-se à unidimensionalidade intencional da consc husserliana e à


interioridade das fils reflexivas caras à tradição francesa (de Descartes a Maine
de Biran, a Bergson e a Lavelle)

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A reflexão não é um meio para reencontrar a consc fonte ou a consc absoluta (a
questão do reencontro – pensar – meu)
4

É preciso compreender a reflexão a partir da consc irreflectida ou não-


posicional obtida pelo método da redução (mas como a redução que é uma
reflexão chega verdadeiramente ao irreflectido? – meu)
Sartre – toda uma nova teoria da reflexão – distinção entre «reflexão pura» e
«reflexão impura» (EN, 201)

3. A consc é exist sem essência

A consc é puro surgimento, pura existência – ligeireza, translucidez, consc de


parte a parte (mas teria que haver o signo da dif, senão não se saberia sequer
que é consc, há qq coisa de ser na consc – na exp de tipo pré-predicativo haverá
ainda um ser de tipo qq – meu) / o existente absoluto à força da inexistência
(TE, 91) - «Toda a exist consciente existe como consc de existir» - «a consc é um
pleno de existência», um «absoluto de exist» (EN, 20, 22, 23) – A sua essência é o
que visa a sua intencionalidade – a consc é projecto de essência – ela não é o que
ela é – é um nada de essência – ela é o que não é – é nisso que é projecto

«A existência (da consc) precede a essência» - a essência está sempre aí, diante
de nós, «transcendente» - ela não é mais aquilo sobre que se apoia a nossa exist
(dinamismo ESSENCIAL… meu)
A exist não é mais o complemento da essência (complementum possibilitatis) –
ela aparece agora como a condição de possibilidade transcendental da essência
– o primado da exist sobre o conhecimento

Exist não tem aqui um sentido clássico – Heidegger critica Sartre de ter ficado
pelo sentido clássico ou metafísico de existentia, contentando-se em dar a volta
à relação tradicional entre essência e existência – engana-se redondamente
(Carta sobre o Humanismo, 72)
Exist não é aqui a actualização de um ser, a realidade de um ser por oposição à
sua simples possib lógica, o facto de ser, nem o sentido «existencial» da exist
vivida, nem o sentido kierkegaardiano de separação, de interioridade, ou de
relação à transcendência, mas um sentido propriamente fen: a exist designa o
surgimento da consc na redução nadificante
Exist=consc / concepção de exist que não tem nada de «existencialista»!

88
Distinção entre a exist inautêntica, absurda, viscosa e nauseabunda (La Nausée,
161-172), que é uma exist «existencial» e vivida e a exist autêntica, dura, viril, da
«consc seca» (Lettres, 86), a do homem livre (a de Orestes em As Moscas, por
ex) – a exist no sentido fen – a consc

4. A consc é liberdade
5

A consc surge como a fonte do seu olhar – ruptura com todas as determinações
que fariam dela um objecto entre outros objectos, um ser, um em-si.

89
Projecto que é pura espontaneidade, pois a consc é o seu ppo fundamento / o
mundo e o ser inteiros são reduzidos, tornaram-se para a consc
verdadeiramente intencionais

Essa liberdade é toda inteira projecto, olhar sobre o mundo


A autonomia da consc não é uma liberdade a-cósmica, sem mundo. A redução
nadifica o mundo, mas ela não suprime o ser-em-si, ela permite retomá-lo de
outro modo, a consc faz do mundo consc de mundo, consc de situação

A fen de Sartre, ao red o mundo radicalmente e tb o Ego, interdita-se a «tirar


uma parcela de homem hors du monde» (TE, 123), parcela que será por ex o Eu
livre – pois o moi está no mundo, determinado
(a liberdade, tal como o nada, é transcendental) – é relação da consc ao mundo,
é transcendental (pensar nesta relação, e ver como a técnica poderia suprimir a
consc (de) si por uma consc alienada, que, não obstante, passaria por pessoal))
A liberdade é relação da consc ao mundo, e não do Eu ao mundo… / a lib não é
uma nova qualificação da consc – ela é toda inteira «projecto» de um mundo

90
Não há senão liberdade situacional – a «facticidade» - temas mais conhecidos,
fils e literários, da obra de Sartre

2. Ultrapassagem ou abandono da fen: liberdade e acção

A consc nunca é totalmente dada à liberdade humana – essa angustiante e total


liberdade – se ela é ontol ou transcendental, não é somente mais um dado
empírico de partida – ela é o resultado de uma red fen radical
91
O estado de partida é uma «liberdade enlisée» (Situations, II, 116), a exist
engluée ou empâtée de La Nausée

A liberdade descobre-se no acto, e como ela é espontaneidade pura ela tem de


escolher-se e inventar-se

«Ter, fazer e ser são as categorias cardinais da realidade humana.» (EN, 507;
Situations, II, 262)
Pela 1ª vez a fen des no sentido de uma fil do fazer, da criação, da acção, de um
«pragmatismo» no sentido largo (Situations, III, 182) Ser = Fazer / tradicionais
querelas entre operari sequitur esse ou esse sequitur operari / OPERARI = ESSE
6

Mas fazer-se é fazer-se outro, é transformar / o recuo nadificante da consc não é


a fuga na atitude contemplativa ou a do «espectador desinteressado» de
Husserl – é projecto de retomar e transformar

Em Husserl – redução = transformação de intencionalidade


92
Em Sartre: a nadificação é intenção de transformar o mundo (ou intenção de se
transformar dado que o Eu faz parte do mundo) – levar até ao fim a red fen, de
red o ppo Ego e de chegar a uma consc-nada transcendental, para que a fil
intuitiva, contemplativa, dévoilante que era a fen se volva em fil da acção, em
«fil do trabalho», em «fil revolucionária» (Situations, III, 182 e 193)
(pôr a fil em andamento através de um dinamismo intencional que não seja
sequer limitado pela travagem de uma fonte – Ego… meu)
Já em Husserl a noção de operação constitutiva ou de criação (Leistung) tinha
uma grande imp – o problema da acção na perspectiva fen permanece um prob
aberto (ver…)

Não há acção que nos permita ver, conhecer…


O recuo nadificante é uma forma de se désengluer de uma situação para a ver,
para a compreender, a tranformar (o prob da observação afastada – meu –
criação de um mundo demasiado distante do em-si) – a compreensão e a acção
vão a par (Situations, III, 194)

A teleologia da fen – a consc é projecto – mergulha antes de si mesma no futuro


Não podemos compreender o que ela é senão por aquilo que ela será
(Situations, I, 79)

93
ENCONTRAR na consc senão o futuro (Situations, I, 79)
Projecto – movimento do futuro em direcção ao presente (causalidade final)
(ver…)

Implicação recíproca da noção de nada e de futuro na concepção sartriana da


consc
Consc do presente – a necessidade de uma distância para tomar nota da
dimensão do projecto em direcção ao futuro
2 movimentos fens complementares: do passado e da intencionalidade – a def
da consc do presente por esse duplo movimento
O presente carrega toda a importância (EM, 188)

94
Husserl – Tarefa infinita do fil – tomar consc do que não é ainda dado, mas é já
presente de qq maneira – a fen apresenta-se como consagração do já lá, como
7

respeito ao real (ver Desclée de Brouwer, Problèmes actuels de la


phénoménologie, Paris, 1952, 54, 26-27)

Sartre, proveito da crítica bergsoniana da finalidade – não há o já lá, a redução


vai até ao «nada» / a intenção visa o «ainda não», o que não é, não é o que é o
latente, mas o futuro (a questão da elisão do virtual implica a questão da elisão
do futuro – meu)
O valor nunca é – a consc-projecto cria os valores / o homem – criador dos
valores e transformador do real
Resistência à liberdade enquanto projecto de libertação – os limites de uma
situação de facto (a facticidade) / as tentações da má-fé que nos incitam a fugir
diante da responsabilidade e da solidão no momento da decisão livre

95
A redução fen descrita no abstracto opera-se de um golpe – interpretada ainda
como acção livre no mundo e na sociedade ou como libertação – revela-se
impossível de realizar inteiramente – enraíza-se aqui a Moral do final de EN –
toda a moral que não se dê explicitamente como impossível hoje contribui para
a mistificação e alienação dos homens – a Moral é para nós ao mmo tempo
inevitável e impossível (EN, 177) – (daí a dimensão do futuro como
absolutamente fundamental…)

96
A moral fen de Sartre parece apresentar de novo o rosto do método husserliano;
eterna retoma, tarefa infinita e jamais terminada

3. Humanismo e ateísmo
Concepção de homem – nova relação da consc ao mundo – duplo movimento
de arrachement ao mundo (pela nadificação)

Redução fen – a mais radical concepção anti-naturalista (a mais anti-


materialista, provavelmente) do homem – a consc, esvaziada do mundo, pura
exist sem essência, pura subjectividade (não no sentido de subjectivismo) –
suporta ela mma a nossa humanidade – é por ela que somos homens, como em
Descartes

97
Diferença em relação a Descartes – essa consc não é distinta do mundo – ela é
toda inteira intenção do mundo – ela não é de maneira nenhuma um objecto,
mas toda inteira projecto – o homem define-se pelas suas investidas no mundo,
pelos seus actos

Anti-naturalismo / recusa da interioridade (será mesmo? meu) = ateísmo


8

A consc é translucidez, nunca descobriremos um intimior intimo meo (é isso tb o


que a UTA quer dizer… meu)

98
Redução fen de Deus

Para a fen o problema da realidade do mundo exterior não se põe, tb não há


problema da existência de Deus - mesmo que Deus existisse isso não mudaria
nada (O exist é um humanismo, 95)

99
O tema da presença fascinante desse mesmo Deus ausente – proceder à
«psicanálise existencial» - «O homem é fundamentalmente desejo de ser Deus.»
(EN, 654) / «O homem é uma paixão inútil.» (EN, 708)

Noção da realidade do nada / esse ateísmo desemboca numa espécie de teologia


negativa e junta-se a certos temas clássicos da mística: a noite do não-saber, a
coincidência dos contrários, o nada super-essencial, etc. (ver…)

101
Deus é tb nadificado – ele devém um Deus puramente intencional,
«transcendente» no sentido fenomenológico de quando falamos da
transcendência do Mundo ou Ego por relação à consc
A consc de Deus (Deus visado pela consc)

O método fen não se esgotou totalmente em Sartre, o mesmo aconteceu em


Heidegger

102
Análise do compromisso, da acção, da história – em que se orienta a sua
reflexão (ver…), como a de Merleau-Ponty

103
IV. LA PHÉNOMÉNOLOGIE DE MERLEAU-PONTY

1. La «réflexion radicale» ou la «phénoménologie de la phénoménologie»

Ponty concebe a radicalidade da redução num sentido inverso ao de Sartre – ela


é para ele o modo de tomar consc da nossa relação com o mundo, de fazer
aparecer o mundo e a sua «presença inalienável» (PP, Avant-propos, p. 1).
«Nous ne demeurons jamais en suspens dans le néant. Nous sommes toujours
dans le plein, dans l’être, comme un visage, même au repôs, même mort, est
9

toujours condamné à exprimer quelque chose… et comme le silence est encore


une modalité du monde sonore» (PP, 516)
«Nous sommes de part en part rapport au monde» (p. VIII)

Ponty não quer retirar-se para o território de uma consc pura


É impossível tornarmo-nos inteiramente consc (76) / há um fundo sempre
presente que é o mundo, radicalmente 1º
Redução – não será nem uma manobra idealista, um «retorno à nossa consc
transcendental diante da qual o mundo se estende numa transparência
absoluta» (p. V), nem um retorno reflexivo a uma fonte interior, ao «homem
interior» de Santo Agostinho, mas «a fórmula de uma fil existencial», de um
«sujeito votado ao mundo» (pp. IX e V)

A minha exist não se reduz à consc que tenho de existir (critica Sartre por isto)
«L’idée d’une conscience qui serait transparente pour elle-même et dont
l’existence se ramènerait à la conscience qu’elle a d’exister n’est pas si différente
de la notion d’inconscient» (436)
No Cogito ergo sum não há o Eu Penso que contém eminentemente o Eu Sou: é
a consc que é reintegrada na exist (439) ou é ela que se apanha numa espécie de
ambiguidade ou de obscuridade que fazem precisamente que eu não seja pura
consc ou absoluto de exist (432) - «Je suis à moi en étant au monde» (466) / (ver
cits)

O cogito tem de estar comprometido numa situação histórica total, equívoca –


essa exist não será angústia ou «inquietude viril» como para Sartre, mas
AMBIGUIDADE (PP, 231, 397, 418, 432, etc. – ver discussões sobre a
ambiguidade…)

106
«Jamais je ne suis chose et jamais conscience nue» (517)
Crítica – parece que a neantização, assim como a reflexão idealista, «s’emporte
elle-même et se replace dans une subjectivité invulnérable» (p. IV)
Para Ponty a redução faz aparecer, ao contrário, o mundo, o mundo da
percepção (perçu), o mundo natural e social (418) – o mundo original

107
Quanto mais radical é a reflexão, menos transparente aparecerá esse mundo –
mais a reflexão manifestará «sa dépendance à l’égard d’une vie irréfléchie» (p.
IX), mais nos damos conta de que a reflexão permanece incompleta, dado que
ela não tem consc do seu ppo começo (p. IV) = (QUANTO MAIS
TRANSLÚCIDA É A CONSC, MAIS IRREFLECTIDA É NO SEU ÍNDICE…)
10

O método fen – meio para reflectir sobre essa reflexão («réflexion du deuxième
degré», «réflexion radicale») – que se estabelece sobre um irreflectido (75, 77,
253, 278), mas que ela tende precisamente a fazê-lo aparecer COMO irreflectido
sem o absorver numa consc absoluta (porque a consc absoluta cega… meu)

«La réflexion n’est vraiment réflexion que si elle ne s’emporte pas hors d’elle-
même, se connaît comme réflexion-sur-un-irréflechi, et par conséquent comme
un changement de structure de notre existence» (76) (passível de críticas… na
minha análise síndrome do neurótico)
Para tal consc reflexiva não há sobrevoo possível (????) - «il n’y a pas de pensée
qui embrasse toute notre pensée» (p. IX) – fil que está sempre a descrever esse
começo (p. IX)

Se a reflexão toma consc de um irreflectido irredutível como se se tratasse do


seu ppo solo – o irreflectido não é o que ainda não foi reflectido (porque ainda
inconsciente e proposto à nossa reflexão) – mas um irreflectido que a reflexão
faz aparecer como o seu ppo suporte e o seu ponto de apoio, como ponto de
partida radical – o mundo ou a nossa relação originária com o mundo

108
A redução mostra o irreflectido – vai no sentido de Sartre
Em Ponty a consc já não é sempre primeira – o «verdadeiro transcendental» é o
mundo (418), e não mais o ser (como para Heidegger) nem a consc (como para
Sartre)

O que interessa a Ponty não é o mundo exterior, objecto da cosmologia, mas a


relação existencial do homem com o mundo (para toda a fen, o mundo
compreende-se a partir da estrutura fundamental do «ser-no-mundo» e não o
inverso)
Ponty faz do «ser-no-mundo» de Heidegger (mais originário que a consc) a
verdadeira meta da redução husserliana (mas há sempre uma operação, um
corte…) – ele espera reencontrar a unidade profunda da ambição fen e da
ambição existencial
O verd transcendental ou «existencial» (para falar como Heidegger) é a «vida
ambígua) (418), dado que «nous sommes mêlés au monde et aux autres dans
une confusion inextricable» (PP, 518; Sens et Non-sens, 72)

109
O colocar do mundo entre () operado pela redução é o desvelamento e o pôr em
relevo do mundo como tal – a descrição fen devolve-nos o mundo «fenomenal»
- dá-nos o mundo como transcendental – a reflexão radical permanece uma
descrição, mas agora reduplicada – compreensão e reflexão mais radicais que o
11

pensamento objectivo (há áreas de pensamento que se situam ainda numa


reflexão primitiva – meu…)
Fen entendida como descrição directa – deve juntar-se uma fen da fen –
devemos regressar ao cogito para nele encontrarmos um Logos mais
fundamental que o do pensamento objectivo (419)

Reflexão sobre o fundamento da reflexão – chegamos não a «une couche


d’expériences prélogiques» (419), mas ao fen do fen (77)
Reduplicação infinita, será, como diz Husserl, um diálogo ou uma meditação
infinitos – nunca saberá para onde vai
110
Fen – tarefa de revelar o mistério do mundo e da razão (p. XVI)

2. De la «perception» à l’expression et à l’histoire (ver cit. 1)

A exp natural do mundo não pode ser esclarecida pela psi experimental e pela
epistemologia tradicionais
111
PP e La structure du Comportement
Crítica ao gestaltismo e ao behaviorismo – Ponty mostra que a percepção é a
nossa relação original com o mundo, «um tipo de experiência originária» (SC,
298; PP, 377)
O Mundo da percepção mostra-se «comme berceau des significations, sens de
tous les sens, et sol de toutes les pensées» (PP, 492)

Logos ambíguo mas fundamental – já presente na nossa relação original com o


mundo
«Il y a du sens» (PP, 342, 454), não UM sentido
112
O sentido é ambíguo, misturado como não-sentido dado que a redução nunca é
completa (e esse sentido que é racionalidade irreflectida, nós agarramo-la pela
reflexão, prolongamo-lo…)
«L’idée d’une expression complète fait non-sens» (ver)

Linguagem e estética – a presença de um sentido nos signos, depois a passagem


da significação gestual das palavras à significação conceptual (PP, 229) – entre
os dois a mma relação entre a percepção e o pensamento científico

113
Encontramos a mma ambiguidade sobre os planos da acção e da história

Recusa sempre a tentação de sobrevoar o mundo


«nous naissons dans la raison comme dans le langage» (Sens et Non-sens, p. 8)
12

«Nous sommes de parte en part historiques» (Sens et Non-sens, 156)


Ambiguidade inevitável (Humanisme et Terreur, 12)
114
Nós embarcámos na exp – e a fil não é senão uma consc mais aguda dessa exp
(Humanisme et Terreur, p. 206)
Aqui Ponty defende como Sartre um humanismo
O herói do mundo é o homem (PP, 520)

57
II. LA PHÉNOMÉNOLOGIE DE HEIDEGGER
1. De la phénoménologie à l’ontologie

Na sua fonte a fen era anti-metafísica – contra os sistemas ela preconizava um


método, contra toda a especulação ou construção met defendia uma fil que
fosse uma «ciência rigorosa»
Contra o realismo metafísico – procedia a um salutar colocar entre () dos juízos
de existência e de realidade
Fen – zona metafisicamente neutra, onde «as coisas mmas», antes de qq
intervenção do espírito, se mostram e se dão elas mesmas

Será que a fen se orientava para um fenomenismo? (o fen concebido como a


única realidade?) NÃO – pq o fen em Husserl não se opõe ao ser, não é uma
coisa para nós em face de uma coisa em si… (pensar…) – não é uma realidade
menor, nem uma aparência, nem uma simples representação

58
Husserl – essa investigação é transcendental – essa fil clama por uma teoria
geral do ser, uma ontologia
A fen é animada por um cuidado ontológico – é polarizada no sentido de uma
nova metafísica e a sua função é estabelecer os fundamentos
Ela era já desde o começo ontologia (explicar isto melhor…) que, por causa da
sua novidade, levou algum tempo a reconhecer-se
Mov incessante de ultrapassagem e de explicitação progressiva – isto vai
explodir em Heidegger

59
Na passagem da 1ª fen de Husserl à fen transcendental, alguns discípulos
quiseram fazer um volte-face do realismo ao idealismo – em Heidegger o mmo,
em Sartre tb – acusaram as suas fens de se evitarem ao devirem ontols
Mas não podemos ignorar o método e o aprofundamento do mesmo –
descobriremos essa coincidência, nessa «ontol fen»
O Ser aqui em questão não pode mais ser o Ser da ontol escolástica ou da ontol
hegeliana
13

60
A questão tanto para Husserl como para Heidegger – Qual é o sentido do Ser?
Até Heidegger, era admitido que o significado da palavra «ser» era
evidentemente indefinível
Hdg diz que o sentido da questão não é ele ppo claro – é o que nos é mais
próximo e ao mmo tempo mais obscuro… (pensar – é como a consc)
Fazer aparecer, o ser aparecer – tal é a tarefa da fen (a questão da pré-
compreensão)
Fazer surgir as estruturas e os modos do ser (SN, 34)

A orientação fen da investigação heideggeriana – vários signos distintivos do


método fen: método de mostração, de desvelamento ou de desocultação, de
explicitação (ver…), que devem remeter ao ser «esquecido»
Essa hermenêutica – na linha transcendental de Husserl nas Ideen – Hdg –
destacar as estruturas fundamentais do ser que são as «condições de
possibilidade» do nosso mundo empírico, que são o fundamento constitutivo
de tudo o que é

A oposição do real e do seu sentido, do empírico e do transcendental, sob a


forma de oposição que é a chave de ST entre o ôntico e o ontológico (tb há aqui
uma separação)
Há tb a procura de um fundamento verdadeiramente radical – um fundamento
que seja um sentido (daí a vocação hermenêutica) (não só do conhecimento,
mas tb da qualidade de ser…)

A ontologia heideggeriana é uma FUNDAMENTALONTOLOGIE, que amaria


responder à questão fundamental (Fundamentalfrage) – qual é o sentido do
ser?, e devolver uma Fundamentalstruktur (SN, 5, 41)

62
Em Husserl a procura do fundamento radical reenvia à consc transcendental ou
constituinte (fonte constitutiva de todo o mundo visado pela intencionalidade
dessa consc) – era em termos de consc que se expressava o fundamento / em
Heidegger a interrogação remonta en deçà da consc transcendental, até ao
«fundamento do fundamento» (ver cit.) – e anuncia-se já que essa «iteração»,
essa reduplicação da radicalidade pode conduzir-nos a uma espécie de «vazio
sem fundo» (Ab-grund) (pensar neste VAZIO…), em direcção a um NADA (é
neste sentido que Sartre trabalhará) – um nada mais radical que todo o ser ou
que todo o fundamento (por que razão há esta tendência??? Meu)
63
Ontologia fundamental – ontol do não-ser – néontologie (expressão de Jean
WAHL – tenho o artigo)
14

Novidade essencial do transcendentalismo de Heidegger em relação ao seu


mestre Husserl – tentar resolver o prob do fundamento sem recorrer à consc,
mmo transcendental, que é sem dúvida a seus olhos ainda demasiado
«idealista», «subjectivista»
Para além da consc, ele apoiar-se-á numa estrutura ainda mais nitidamente
ontológica – o DASEIN – somente a partir do qual poderemos compreender a
possibilidade e o sentido de uma consc ou de um Ego transcendental

O que é o DASEIN? Problemas (parece que há uma tendência para o


compreender antropologicamente – ver)
Hdg ultrapassa não só o empírico e o psi em direcção ao transcendental, mas
mesmo a consc em direcção a qq coisa de menos pessoal e mais ontológico
(PENSAR NISTO…)
64
Être-là = este là é o que torna possível que qq coisa exista ou esteja presente
num determinado lugar (é formal? É o denominador comum?)
Biemel – esse là é uma estrutura fundamental para a qual o homem está aberto
sobre qq coisa – plano mais radicalmente ontol - «irrupção» - «abertura do
aberto» (DA ESSÊNCIA DA VERDADE, 85)

Num curso inédito de 1929 – Heidegger explica que esse LÀ é uma zona de
dévoilabilité, uma zona de abertura onde qq coisa pode manifestar-se (como
«fenómeno»)

Analítica do Dasein – método fen original da ontol heideggeriana – a


compreensão vaga e sumária do sentido de É torna possível a interrogação
ontol radical (a ambiguidade é fundamental)
Como uma reminiscência – re-devolver o ser
65
(SORGE)
O campo das estruturas ontológicas da existência humana (ser-no-mundo,
cuidado, temporalidade, historicidade, tonalidade afectiva, etc.)
- a influência decisiva de Kierkegaard…
66
Heidegger – perda provisória (pelo menos) do homem concreto – em relação a
Husserl, o colocar fora de cena da consc

A ontol de Heidegger funda-se sobre uma antropologia


Trata-se sempre do Ser-sentido e não da realidade metafísica e transcendente do
Ser supremo da fil clássica

2. Ultrapassagem ou abandono da fen: Ser e linguagem


15

Como autêntico fen, Heidegger até aqui desvelou o Ser a partir do homem,
como Husserl obteve o mundo a partir da consc intencional
Primazia do mundo vivido em Husserl / vemos em Heidegger a relação entre o
homem e o Ser trocar-se e tomar o seu significado real e definitivo… (… a
abertura do Ser ao homem – um acontecimento ou um avènement – Ereignis,
Ereignung) = abandono do método fen – mudança do centro de gravidade

A conversão do ente ao Ser – comparável à »redução» de Husserl, marcava


como o colocar entre () do mundo dos entes, que permite um destaque do Ser
num olhar mais explícito

68
Dp o que é mais imp não é tanto a intenc ou o projecto do Dasein (através de
uma linguagem kierkegaardiana…); é sim o Ser, concebido como uma espécie
de potência obscura e escondida, que consente em manifestar-se, que se traça a
si mesmo a partir do lugar da sua abertura, que condescende em dar-se assim
ao homem, como uma espécie de graça, a sair de si, a ex-primir-se, a fazer-se
sentido (teologia… meu)
DEIXA DE HAVER MÉTODO – o Ser vem ao homem, ao abrir-se faz surgir o
DA – o homem depara-se com a possibilidade de encontrar um caminho
A paixão do método que havia em Sein und Zeit deixa de existir, esse pathos de
exploração infinita herdado de Husserl desvanece-se

As consequs da evicção da consc husserliana (revelações do Ser fulgurantes mas


fugitivas)
Se o Ser em Heidegger se torna em objecto de intencionalidade do homem, isso
será de uma forma segunda:
69
A consc humana intencional que o visa (parece que há sempre uma distância…)

O Ser não é mais um fundamento transcendental (não há o transcendental para


uma consc que é fonte de sentido, constitutiva do mundo) (quando falamos de
Eu transcendental é porque estamos do lado do Eu empírico, e vice-versa? Meu)
Em Hdg o Ser tende a tornar-se simplesmente transcendente – o mundo do Ser
deixa de ser humano
O acento passa depois para a LINGUAGEM – centro novo da relação Ser-
homem – o Ser abre-se, exterioriza-se, exprime-se = mas quem fala não é mais o
homem, é o Ser…

A fen tinha sido já conduzida ao prob da linguagem e a uma renovação da fil da


linguagem (Husserl – IL; Sartre e sbto Merleau-Ponty)
16

Husserl procurava significados no quadro da intencionalidade da consc, como


realidade ideais ou essências, ele não se interessava na ling como tal
70
– estudava a linguagem como comportamento significativo do homem e os
significados como «fenómenos»
Em ST Heidegger fazia uma espécie de fen das palavras…

«Le langage n’est pas quelque chose que l’homme, entre autres facultes ou
instruments, possède aussi, mais ce qui possède l’homme»

Essa «voz do Ser», essa «parole non parlée», essa linguagem ontológica, não é
mais portadora de significações humanas – é uma espécie de linguagem
sagrada ou de símbolo misterioso – uma espécie de revelação do Ser no silêncio
de todas as paroles humaines

71
Exegese ontológico-filológica dos poetas (sbto Hölderlin) – os 1ºs Pré-socráticos
que diziam o Ser como quando se recita religiosamente uma fórmula sagrada

Ek-sistenz # Existenz
Seyn # Sein da metafísica clássica
Depositários de uma mensagem ontológica e supra-humana – silêncio essencial
– gravidade patética

72
Fen de Husserl – ultrapassagem incessante – na permanência de um método
Em Heidegger a fen foi ultrapassada – tornou-se metafísica, mas o último
Heidegger entende mmo que a Fundamentalontologie é «ultrapassagem da
metafísica» (ver) – condenação da redução da met para atender ao seu
fundamento

Depois de Platão, Heidegger pensa que a fil s’est égarée torando-se metafísica –
perdeu e esqueceu o Ser para se colar ao ente
A metafísica clássica pensa apenas o ente como ente, não pensa o ppo Ser
73
A fil não se recolhe mais sobre o seu fundamento, e ela fá-lo precisamente
através da metafísica
Remontando ao fundamento da metafísica, o pensamento «tornar-se-á mais
pensante» - pensar mais originalmente que a ppa metafísica
Trans-metafísica – que se exprime em imagens
74
A imagem passa a ter um valor ontológico – é como se a relação do símbolo ao
simbolizado se encontrasse invertida
17

Saímos aqui claramente da fenomenologia


A fen não tem necessidade nenhuma de metáforas para operar a passagem ao
plano do fundamento: a redução fen basta-lhe

75
Heidegger junta-se, por uma via détournée, e contra a sua intenção expressa, à
concepção clássica de ontologia metafísica – pq se o fundamento (o Ser) não é
transcendental e se a relação do Ser ao homem não se faz num plano de
igualdade (pela razão, por ex), nem pela redução, mas somente pelo truchement
de uma linguagem metafórica, que poderá ser esse fundamento senão
transcendente num sentido metafísico?
(Do transcendental ao transcendente – pensar nisto…)

Não há mais consc constituinte e o homem não constrói mais o Ser pelo seu
pensamento. Não é sequer o homem que pensa o ser / Heidegger usará uma
fórmula mais «neutra»: «la pensée de l’Etre se fait jour en l’homme»…

76
Trans-metafísica que é uma fen à rebours – é o Ser que faz aparecer o homem
fazendo-se aparecer a ele (novo dogmatismo?)
Ao desvelamento fen que fazia aparecer os conteúdos intencionais da consc
substitui-se a iluminação ou a revelação pura e simples (dp Heidegger não se
reclama mais do método fen)

O oculto ou dissimulado que se trata de desvelar não é mais o implícito ou o


latente como em Husserl, mas o misterioso, o sagrado, o numinoso… (pensar
nisto…) – inflexão para um pensamento religioso… (meu) – mas o Ser não é
DEUS, pois este último era na tradição clássica apenas um ente, o ente dos
entes…

77
De Deus à divindade, da divindade ao sagrado, do sagrado à verdade do Ser –
pretende ultrapassar o deus naïf do teísmo ou da fé do carvoeiro
Tb para Hegel…

Chegamos a uma espécie de mística especulativa ou de teologia negativa


78
Husserl via a fen como sobre e objectiva – deveria pôr entre () o pathos humano
– Heidegger ao exacerbar esse objectivismo despojou o Ser de tudo o que é
humano demasiado humano – desvelou a sua longínqua proximidade, um
mundo de ressonâncias patéticas, poéticas e místicas
Husserl tentou restituir para uma consc sempre mais lúcida e reflectida, uma
plenitude de sentido que era a ppa racionalidade
18

Heidegger mergulha-nos na plenitude de um nada místico, mas a racionalidade


desse Ser-sentido foi sacrificada a um «pensamento» que se vê como mais
radical e mais pensante que a ppa razão (fazer crítica… meu)

INTRODUÇÃO DE JEAN BRUN – A PIERRE THÉVENAZ

10
A razão que define e que expõe não tem consc da sua ppa exposição, o homem
explicativo não sente necessidade de explicar a ppa explicação
A razão que abstrai, analisa e sintetiza, opera num domínio que é o do
sintáctico, mas nunca põe o problema do campo semântico no interior do qual
se exerce a sua actividade
A razão repousa e repousa-se sobre si mesma – é este repouso que Thévenaz
põe em questão exigindo à razão aquilo que ela ppa tem por hábito exigir

11
A contestação do sentido fez-nos esquecer de colocar o problema do sentido da
contestação
Ele pretende que a razão que contesta seja ela mma contestada
Pôr a razão «em condição»
Desabsolutização da razão – põe o problema de saber sobre que fundo se
destaca a regionalidade ontológica que ela define – a razão aspira naturalmente
à sua absolutização esquecendo que ela é ao mesmo tempo juiz e parte
interessada nos momentos que ela eleva à sua ppa glória – a razão pertence à
condição do homem mas será ela o todo dessa condição?

13
Uma fil sem absoluto convida-nos não a uma medida das coisas ou do homem
pelo homem ele mesmo, mas a uma medida do homem com a sua finitude
A absolutização do homem pela razão e a absolutização do homem pela história
Paradoxo de Pascal: «l’homme n’agit point par la raison qui fait son être» -
pondo em evidência que é conforme à essência do homem o de não se
conformar com a sua essência

14
Ora, pode a razão usar o seu critério de racionalidade para denunciar uma
acusação que põe precisamente em causa a racionalidade ela ppa? Que campo
semântico deverá usar a não ser o seu? A razão não tem outro fundamento
senão ela mma – provando a boa fundação da sua empresa por argumentos
racionais, a razão escreve um novo elogio da loucura
Diz Thévenaz: «En face de la possibilité de la folie, la raison fait […] une
expérience d’ignorance, mais d’une ignorance particulière qui est ignorance
19

radicale de soi. Voilá ce qui la trouble: elle est impuissante à savoir, et à se


prouver à elle-même, si elle est folle ou non.»

15
em face não de uma aporia da consc mas antes diante de uma situação que
suscita a consc de uma aporia
hermenêutica da significação ela mma
«que significa significar?» - em face de uma epoché radical – aquela que põe em
() não os atributos do sentido, mas o sentido ele mesmo – tomar consc de que há
um sentido da loucura e uma loucura possível do sentido
- pôr em causa o ppo ser da razão e o estatuto da evidência racional

«porquê o sentido em vez da loucura?»


Kant pensava que o juiz (a razão) podia estar fora do tribunal – é ela ppa que se
encontra em causa
A razão não pode sair de si para se justificar (a consc tb)
Há uma subjectividade da razão que não é outra coisa senão o autismo da sua
ppa objectividade – é o seu autismo que impede a razão de se ver… (o mmo
com a consc)
A redução da razão faz-lhe ver a experiência da sua ppa opacidade (só
podemos falar da translucidez da consc em abstracto…)
Thévenaz aplicou o método kantiano ao kantismo – Kant mostrara o
condicionamento do objecto pelo sujeito – Thévenaz põe a ppa razão em
condição – não é o homem que é um animal racional, é a razão que é um animal
humano
A razão humana é em situação – pois ela não pode sobrevoar nenhuma da
situações que o homem pode conhecer, e que ela (a razão) trabalha nelas
permanecendo delas estreitamente solidária
17
A finitude da razão é ilimitada – não se trata de converter a razão do homem
metamorfoseando-a, mas antes de converter o homem à razão situando-a

Deixar o homem a descoberto não é relativizá-lo, mas evitar o espectro do


absolutismo metafísico e o do relativismo anti-metafísico
A razão mergulhada na historicidade da consc humana
O homem não é uma essência em si, nem um ponto de vista absoluto – é ppo da
inconsciência de si crer-se um ser que é íntimo a si mesmo e que se apercebe
absolutamente a si mmo – a verdadeira consc de si é a do ser que se descobre
sempre sem essência e em caminho sem cessar

Converter o homem à razão é reduzi-lo, sem o diminuir, a esse encaminhar de


si a si que ele faz de si – um ser que se descobre vulnerável
20

18
O Grande Inquisidor – toma tb a história como campo de exercício na medida
em que se entrevê como engenheiro do tempo
O fantasma da meta-história – é este que ressuscita o absoluto

Um acontecimento tem sempre de ter um sentido reconhecido pela consc – o


sentido está sempre em suspenso e reconhecê-lo é afirmar ao mmo tempo que o
homem não está no não-sentido

19
A razão está sempre numa situação crítica – nenhuma auto-crítica poderá
reduzir-lhe o autismo nem instaurar uma verdadeira instância crítica – para que
o autismo se rompa é necessário um choque surgido do exterior
O pensamento de Thévenaz – uma crítica do criticismo

O método fen consiste não em pôr em dúvida, mas em colocar entre () – ele visa
não o reduzir à aparência e aos falsos semelhantes, mas em fazer aparecer para
iluminar verdadeiramente
Mérito de Husserl – aspirou a um fundamento objectivo absoluto e operou uma
análise da subjectividade da consc – a fil tornou-se um prob para si mma
20
A intenc em Brentano tinha apenas um teor psi – em Husserl encontra um porte
epistemológico depois transcendental e mmo ontológico
Através da redução o homem descobriu-se como ser exposto
Husserl – desvelar a partir da consc intencional

21
Com Sartre, tudo o que pode aproximar Heidegger de uma teologia negativa,
transforma-se numa méontologie onde a redução fen se aplica ao ppo Eu
transcendental tido como «a morte da consc» (o Eu T. seria ainda um resíduo de
transcendência… que asfixia Hdg)
Segundo a fórmula de Thévenaz: o EN não se nos apresenta como um método
de aproximação ao Ser mas como uma ontologia enquanto fen. No coração da
red fen, tal como Sartre a pratica, podemos encontrar preocupações idênticas às
de Nietzsche trabalhando «a golpes de martelo» para casser as tábuas dos
valores
22
Por muito dif que seja da empresa husserliana, a pesquisa nietszcheana da
genealogia coincide parcialmente com esta na medida em que as duas
pretendem ser «arqueologias», no sentido etimológico do termo, demandas
radicais do princípio e do fundamento (ver) – a fil sartriana da morte de Deus
aplica a red sobre a ppa ideia de princípio, e nesse sentido é nietzscheana – mas
21

é tb fen pois define a consc como puro surgimento que se desdobra em projecto
e projecção em direcção ao futuro = esse e operari são sinónimos

O ateísmo de Sartre está obcecado ao mmo tempo pela presença e ausência de


Deus, pela «presença fascinante do Deus ausente» - temas clássicos da mística e
de teologia negativa tais como o da noite do não-saber, a coincidência dos
contrários ou o nada super-essencial
23
Ocasião de uma ruptura do autismo da consc

Crítica do criticismo – epopeia da red fen – Thévenaz


A conversão fil consiste em passar de uma razão absoluta em Deus a uma razão
humana diante de Deus – a transcendência que égare, e onde se refugiam todos
os sonhos de divinização do homem por ele mesmo, é a Transcendência em
direcção ao exterior
Tomando consc do seu ppo nada e do do mundo, o crente filósofo sente-se, por
causa disso, imerso numa responsabilidade maior à vista de si mesmo e à vista
dos outros
24
xxx fazer do desespero um simples momento dialéctico de que os optimismos
sistemáticos serão encarregados de superar em ultrapassagens reconciliadoras
26
Kant decidira fazer a «geografia da razão» - concluiu que o país do
Entendimento é uma ilha, que o nosso conhecimento não é comparável a um
plano que se estende ao infinito, mas antes a uma esfera onde nos cabe procurar
o raio a partir do arco de la courbure apresentado pela superfície explorada
Encontrou-se assim o problema do campo semântico em que a razão não é mais
do que uma região no interior da qual se define a humanitas do homem – a
razão encontra-se assim descentrada

Paradoxalmente – descentrar a razão desabsolutizando-a – o único meio de não


lhe dar ocasião para se tornar excêntrica e a única maneira de lhe permitir
tomar-se como relação a si – o homem não é um ser que seja imediatamente
íntimo a si mesmo (essa intimidade reveste-se de meandros…) – a necessidade
hermenêutica da razão

O secular abismo que separa a árvore do conhecimento e a árvore da vida


27
Ver a árvore de Descartes
Hoje não temos do saber mais do que um conceito residual – um Restbegriff
segundo expressão de Husserl – os ramos foram separados do tronco – trabalho
de deslocação – Heidegger - «a ciência não pensa»
22

Crítica que Jaspers endereçou a Descartes – hipertrofia da objectividade em


detrimento do prob existencial
Afastamentos de todos os fanatismos racionalistas
Thévenaz convida-nos a uma ascese do sentido

37
LA PHÉNOMÉNOLOGIE DE HUSSERL
Unidade e significado da fil husserliana

- não considerar as suas obras isoladamente – não ver nelas a aplicação


sucessiva de um método original a propósito de assuntos diversos – lógica,
tempo, estrutura da consc, evidência, intencionalidade, crise das ciências, etc.

Devemos antes ver nas suas obras um esforço para levar à claridade uma visão
obscura e tacteante – as últimas obras são indispensáveis à verdadeira
inteligência das 1ªs (mais do que o inverso)
Interpretação de trás para a frente – a crítica do psicologismo e do relativismo
das IL (tomo I) só se compreende verdadeiramente à luz das análises sobre a
intencionalidade do tomo II / o conj das IL à luz do ponto de vista
transcendental das Ideen / a consc-«resíduo» da redução (das Ideen) à luz da
fen da actividade (Leistung) constituinte das obras ulteriores, etc.

38
Thévenaz diz que se vêem muitas vezes na evolução de Husserl
descontinuidades, volte-faces ininteligíveis, traições que não existem senão na
nossa imaginação

1º objectivo – cortar radicalmente os laços entre a lógica e a psicologia, mas dp


parece recorrer sem cessar à psi e à análise da consc para fundar a sua lógica e a
sua fen
Um realista em que o choque revolucionário, no contexto do idealismo
neokantiano do fim do séc XIX, consiste precisamente na sua «Wendung zum
Objekt» (le tournant vers l’objet) e no seu famoso «Zu den Sachen selbst»
(retorno às coisas mesmas) – mas que se vê auto-pressionado a analisar o
sujeito, a consc, e a elaborar um idealismo transcendental

39
O problema que assombra Husserl desde a sua Philosophie der Arithmetik (1891)
até à sua morte é o dos fundamentos (ele é um matemático que se torna filósofo)
Interrogando-se sobre os fundamentos da matemática, é reenviado à lógica, à
epistemologia, à ontologia e até à filosofia da história, por esse movimento de
ultrapassagem perpétua que um dos caracteres mais marcantes dessa fil do
dinamismo intencional da consc (ver o resto…)
23

Cedo vê que as ciências, ainda que os seus resultados efectivos sejam sempre
aproximativos e imperfeitos, são orientados, em intenção, em direcção a uma
objectividade absoluta…
Assim é a intenção do savant, da intenc da consc, que é preciso analisar – o
fundamento só poderá ser encontrado do lado do sujeito

40
A dupla preocupação da fen – visão do fundamento objectivo absoluto e análise
da subjectividade da consc
Mas em 1900 – quem diz análise da consc, diz psi – é o momento em que a psi
reina – toda a explicação psi tende fatalmente a arruinar esse absoluto e a
dissolver a objectividade num subjectivismo relativista (o tomo I das IL deu-lhe
uma crítica clássica)

Em que é que a análise fen se distingue da análise psi ou lógica? Ela transporta
consigo a marca do espírito matemático que a concebeu – com efeito o
matemático manipula valores ou essências ideais sem nunca precisar de se
perguntar se elas correspondem ou não a uma realidade de facto
O fen pergunta: «que entendemos nós por…?» qual é o significado daquilo que
temos no espírito quando julgamos, afirmamos, sonhamos, vivemos, etc. (o
lógico procura as condições sob as quais um juízo é verdadeiro (Kant seria mais
lógico…) / o savant se é verdadeiro que… / o psi se o que se passa
efectivamente na consc…)
41
A fen não é uma investigação sobre factos internos ou externos – virar a atenção
simples e unicamente para a realidade NA consc, sobre os objs enquanto
intencionados por e na consc, sobre o que Husserl chama essências ideais –
entender por elas não simples representações subjectivas (estaríamos no plano
psi) nem realidades ideais («realizaríamos» ou faríamos hipóstase dos dados da
consc e seria já num plano metafísico) – mais precisamente os «fenómenos»

Esquecer a oposição kantiana fenómeno/coisa-em-si = pq se a fen põe entre () a


realidade (em si), como é que o fen poderá ainda ser concebido por relação a
um em si, como uma realidade de segunda zona, para nós?
O fen é o que se manifesta imediatamente na consc – compreendemos que ele
saia de uma intuição antes de toda a reflexão ou de todo o juízo (pensar nisto…)
Le phénomène est ce qui se donne soi-même (Selbstgebung)

42
Fen – não ter em conta o valor, a realidade ou irrealidade dos objectos e dos
conteúdos da consc – o que interessa é descrevê-los simplesmente tal qual se
dão, como puros e simples olhares intenc da consc, como significados, a torná-
los visíveis e aparentes
24

Nessa Wesensschau, a essência (Wesen) não é nem realidade ideal nem


realidade psicológica, mas visée ideal, objecto intenc da consc, imanente à consc

Era possível renovar toda a ciência de objectos pelo método fenomenológico –


abertura de um vasto terreno inexplorado – contra todos os filósofos com
preconceitos anti-metafísicos

43
Se há uma crise da lógica ou das ciências, é pq há tb uma crise da fil
«La connaissance, qui dans la pensée commune non encore philosphique, est la
chose la plus naturelle du monde, se dresse là d’un coup comme un mystère»
44
Não se tratava mais simplesmente de ver e descrever o simples «aparecer» das
coisas, nem apenas mais uma teoria do conhecimento no sentido de uma
epistemologia tal como o fim do séc. XIX o compreendia
Tratar-se-á antes de encontrar uma evidência absoluta que, como o
«fenómeno», transporta com ela mesma a sua legitimidade – fonte radical de
«apodicticidade» que dará o seu sentido à ciência e à razão em geral

O método fen tem ele ppo de ser radicalizado – momento decisivo em que
Husserl descobre e faz intervir a «redução fen», dando acesso no plano fil a uma
posição que não será nem objectivista (ou naturalista), nem metafísica, nem
psicologista nem subjectivista

45
Um campo novo abre-se = o campo transcendental
De uma análise não psi da consc, Husserl passa à análise da consc não psi, a
consc transcendental
É por um processo de redução (a contra-corrente das tendências naturais do
espírito), por uma ascese, tb radical, por um compromisso total, que ele conjura
o espectro da psi e as tentações subterrâneas do psicologismo = a fil torna-se
uma fil transcendental

Qual o significado aqui do termo transcendental?


Red fen – atingir O MUNDO COMO FENÓMENO – fazê-lo surgir na sua
realidade imanente à consc (pensar nisto…) – o que é reduzido será o mundo, o
conj de todos os juízos empíricos, racionais e mmo científicos que aplicamos ao
mundo na atitude natural
Não há nada da etapa céptica aqui (não poderia tb haver neste plano? Meu),
semelhante à que atravessa um Descartes para recuperar depois, peça a peça, o
mundo eliminado pela dúvida
46
25

O pôr entre () - «o coeficiente de nulidade» atribuído ao mundo – Husserl não


mergulha momentaneamente, como Descartes fez, o mundo no não-ser
A redução tem por tarefa essencial e primordial fazer aparecer essa ligação
intencional essencial entre a consc e o mundo, relação que permanece vedada
na atitude natural
Cedo se percebe que todos os conhecimentos de facto reenviam a um sujeito (o
Ego transcendental) como a um termo último e primeiro que é a origem, o
suporte e o fundamento último do sentido

A redução conduz à evidência apodíctica do je (ao cogito, à consc de si) e ao


mundo-fen intencionado por essa consc transcendental – a ligação deles é
absolutamente fundamental e indissolúvel (intenc da consc transcendental)
Mas esse cogito não é, como em Descartes, o conhecimento indubitável de um
ser, de uma coisa pensante (isso seria ainda permanecer ao nível do mundo, do
conhecimento psi e do conhecimento natural de facto)

47
Saída de si do mundo natural – como subjectividade transcendental = origem de
todas as significações, como sentido do mundo
Fazer aparecer o mundo como fen – o ser do mundo não é mais a sua exist ou
realidade, mas o seu sentido – o sentido do mundo é o de que ele é um
cogitatum visado pelo cogito – o que a red faz aparecer não é o cogito sozinho,
mas o ego-cogito-cogitatum (Meds Carts, 28) = a consc-deste-mundo, a consc
constituinte do sentido do mundo = o mundo não é uma exist, mas um simples
fen (Meds Carts, 27) = é significado

Não há senão um mundo e o transcendental deve ser entendido como um outro


nome da intenc constituinte da consc – Thévenaz (pensar sobre isto)

Mostrar como a noção de intenc veio transformar os dados tradicionais do prob


fil
Em Brentano – a noção de intenc tinha apenas uma marca psi (era a caract de
todo o fen psíquico)
48
Em Husserl – tem uma marca imediatamente epistemológica, depois
transcendental, mesmo ontol – uma nova rel entre suj e obj, entre o pensamento
e o ser, uma ligação essencial onde os 2 são insep e sem a qual nem a consc nem
o md poderiam ser saisissables

Intenc da consc – toda a consc é consc de qq coisa – mas isto não é uma
banalidade (que toda a consc tem um obj ou um conteúdo)
26

Em virtude da intenc a noção da realidade em si ou de um obj absoluto torna-se


absurda (se Husserl nas IL trata de realidades ideais, de significações
susceptíveis de uma descrição fen – não podemos aí ver qq realismo platónico)

A ideia cartesiana, por ex, de uma consc fechada sobre si mesma que não
perceberá o mundo ele mesmo e que terá por primeira tarefa assegurar-se que
percebe bem a realidade «no original» - está excluída tb

Do mmo modo, a fil tb não poderá consistir em instalar-se no mundo natural


existente e do conhecimento natural, entre o sujeito e o obj, numa atitude
«crítica» que visaria estabelecer se o sujeito alcança ou não a objectividade em
si, se o obj é visto ou construído pelo sujeito, que se interrogaria sobre a
realidade do mundo exterior…
49

Nota – mmo fils como Descartes e Kant ficaram presos na atitude natural
A originalidade do transcendentalismo husserliano reside numa nova espécie
de distância tida em relação à ciência enquanto conteúdos de conhecimento –
uma atitude decisiva com a atitude natural do savant – graças à red reencontrar
a intenção implícita e a significação da ciência, numa proximidade essencial
com ela que nenhuma epist, mmo positivista ou cientista, jamais conheceu

50
Intenc transcendental – entrelaçamento original dos temas cartesianos
(evidência, intuição, o ver) e dos temas kantianos (a constituição do obj na
consc, portanto a actividade constituinte ou criadora)
Husserl usa uma ling kantiana sbto na 1ª exposição da redução (A Ideia da
FEN) – não nos enganemos
O seu radicalismo é transcendental – de inspiração bem menos kantiana do que
cartesiana – contra toda uma tradição alemã anti-cartesiana – Husserl renova a
intenção de radicalidade na exp da dúvida metódica
Fen - «uma crítica da razão lógica e prática» - mas não quer nenhum tribunal

51
Como Kant, Husserl pensa que o obj reenvia ao sujeito e que o probl do
conhecimento é essencialmente um problema de constituição – é a partir da
consc (transcendental e não psi) que podemos compreender as estruturas do
mundo intencionado e sbto a unidade do seu sentido
Mas como Descartes, Husserl vê na consc, não apenas o elemento formal e
unificador do conhecimento, a condição de possibilidade do objecto, mas um
dado concreto (não empírico), vivido imediatamente como consc (mas não psi)
– o objecto não será construído por essa consc, ele dar-se-á ou desvelar-se-á à
visão dessa consc
27

Ultrapassagem do realismo e do idealismo (psi ou subjectivista) graças à noção


de Selbstgebung que alia o tema cartesiano da intuição e o tema kantiano da
constituição
Todo o transcendentalismo implica essa ultrapassagem
É uma espécie de VER TRANSCENDENTAL ou de VIVIDO
TRANSCENDENTAL

(como no caso da intuição bergsoniana – é um ver imediato reflexivo e não o


simples ver da percepção imediata – é tb uma intuição criadora, um ver que é
ao mmo tempo um querer e um agir)

Um retorno à evidência, depois de todos os construtivismos neo-kantianos –


um retorno à evid apodíctica pela qual a consc se saisit a si mma no cogito
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Essa consc «vive»-se imediatamente como doadora de sentido, como fonte de
significado para o mundo – nessa dupla evidência – o objecto ou a coisa (o
mundo) é já dado, essencialmente ligado à consc pela intenc – o mundo dá-se
ele mesmo à consc que lhe dá o seu sentido

A redução é uma conversão da intenc – em vez de nos perdermos no objecto


visado, reflectimos sobre o acto intencional
Abertura de um novo campo de exp fazendo aparecer uma nova consc, dado
que esse Ego transcendental não é um moi vazio e formal, mas um moi
concreto

Anti-psicologismo de Husserl até no plano transcendental


Se se pode conceber o campo transcendental como um campo de experiências,
como qq coisa de concreto e de vivido, não se trata de uma exp rara, de um
refinamento inédito da exp íntima de si, mas verdadeiramente de um domínio
não psi – o do sentido, do fundamento apodíctico, de uma verdadeira evidência
racional e fil

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Esse domínio é o da CONSCIÊNCIA DO SENTIDO (que é tb consc doadora de
sentido) – esse vivido trans é a ppa racionalidade
Intuição criadora do sentido que a consc transporta implicitamente csg mesma
pensar nisto…)

Dupla tarefa da red fen – afastar definitiv as tentações renascentes da consc psi,
permitir-nos ultrapassar a sua irremediável contingência e os diversos
relativismos ruinosos a toda a procura do sentido e de fundamento e de nos
fazer aceder à evidência apodíctica do fundamento radical / salvaguardar-nos
de todo o realismo naïf e de todo o naturalismo
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A intenc tem igualmente um duplo mérito – fazer éclater o idealismo


projectando a consc em direcção ao mundo, e assegurar a junção entre o vivido
contingente e o sentido necessário desse vivido

Fen = «filosofia primeira» (ver) – duplo sentido de fil essencialmente incoactiva,


de débutant, e de fil dos princípios fundamentais
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Pela 1ª vez filosofia 1ª e experiência (no sentido não empírico que Husserl lhe
dá) não se excluem mutuamente
Essa Filosofia Primeira permanece um «empirismo radical» (expressão de
Eugen Fink) – apesar de todos os () o vivido permaneceu intacto e presente até
ao fim – a ligação 1ª e indestrutível da consc com o vivido – não podemos
sequer falar de «retorno ao vivido» pela redução – aprendemos a viver o vivido
e a vê-lo de outra maneira – a ver o seu sentido, na sua apodicticidade, na sua
racionalidade funcional

A este nível de radicalidade, empirismo e racionalismo não se excluem mais


Apoteose da Lebenswelt à qual chega a fen transcendental – grandiosa
consagração do vivido como fundamento radical da fil (bergsonismo –
profundo respeito pelo real) – não se trata aqui de um vitalismo mais ou menos
irracionalista
Supera a exigência racional do lógico, de uma fil austeramente intelectualista
que implacavelmente reduz o psi, o vital, o empírico, o relativo – isto permite
compreendera continuidade da fen pós-husserliana com algumas formas de
existencialismo
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Não podemos deixar de viver o mundo só pq nele reflectimos – a reflexão é
ainda uma forma de intencionar o mundo
O mundo vivido não é nunca estrangeiro à razão para Husserl – o que acontece
é que essa razão permanece mtas vezes latente e são necessárias asceses e até
rupturas para a fazer aparecer
A tomada de consc do sentido do mundo e do sentido da razão (não fazem
senão um) permanecem uma tarefa infinita para a fil
À tout reprendre ab ovo – a fil finalmente consc dela mma

CONCLUSÃO
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Característica um pouco obsessiva – o método fil da fen é animado de uma


potência de ultrapassagem desconcertante – perpétua retoma – leva-nos a uma
retoma incessante do que nós considerávamos adquirido
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29

Essa ultrapassagem manifesta-se na passagem à ontologia e ao existencialismo


que traçámos
Renovar probs tradicionais e fundamentais da fil, aqueles que o positivismo e a
epistemologia do séc. XIX perderam de vista – por ex, o prob do ser que a fen
permite recolocar de forma original e não sem qq intrepidez metafísica
Ela vai juntar-se, por caminhos ppos, à corrente recente do existencialismo de
Kierkegaard e de G. Marcel – oferecendo-lhes um método de «ciência rigorosa»

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Relação do homem ao mundo
Da consc ao Ser
A relação reflexiva da consc consigo mesma

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