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PIERRE THÉVENAZ
De Husserl à Merleau-Ponty. Qu’est-ce que la phénoménologie?
Être et Penser
Cahiers de Philosophie (52ème - Mai), Éditions de la Baconnière, Neuchatel,
1966 (Introd. Jean Brun)
79
III. LA PHÉNOMÉNOLOGIE DE SARTRE
1. De la phénoménologie à l’existentialisme
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Procura incansável de um fundamento sempre cada vez mais radical – Sartre
tem parecenças com Husserl – tal como Heidegger radicalizou a empresa de
Husserl
Heidegger orientou-se em direcção a uma ontol – abandona a noção demasiado
idealista de consc transcendental para a substituir por uma estrutura mais ontol
= o Dasein – le parvis do Ser
Sartre ataca primeiramente o Ego transcendental mas para o radicalizar num
sentido oposto – para acentuar o seu carácter de consc, para fazer ressaltar não
o ser mas a exist
2
Sartre concebe ao contrário – que a consc se def fen pela intenc, a duplicação de
um Eu transcendental é supérflua – inútil, nocivo…
82
«o Eu transcendental é a morte da consc.»
Para mostrar a consc é preciso proceder à redução radical não somente do
mundo, mas tb do Ego – rejeitar o Eu do lado do mundo, dado que o Eu é ainda
um obj para a consc como qq outro objecto
Rejeitar verdadeiramente tudo o que está en dehors da consc / a consc é vazia
de conteúdo
Não há a mínima interioridade – de um Ego ou de uma consc transcendental –
tudo é exterior (o avatar da exterioridade…)
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Em relação ao Ego-consc transcendental de Husserl, Heidegger rejeitava tudo
em proveito do Dasein / contra Husserl, Sartre expulsa o Ego para melhor
recuperar a consc husserliana contra Heidegger (contra Husserl, encontrar uma
fidelidade mais profunda à sua ppa intenção) – uma noção mais pura da consc
fen
De um lado – o Ser, o pleno que é tudo (o Ser-em si); do outro, a consc que se
desprende do ser, que descola, que é o nada ou o «para-si»
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2. A consc é consc de si
Em Husserl, por reflexão ou conversão da intencionalidade, vamos do Eu psi ao
Ego fonte
Em Sartre, a redução não é reflexão, mas nadificação – ela é conduzida a uma
consc irreflectida – tomada nela mma a consc é pura consc dela mma, mas «não
posicional», sem desdobramento: uma consc (de) si, ou uma consc-si – um saber
implícito de si = o modo de exist da consc é o de ser consc de si (EN, 20; TE, 90)
Sartre separa-se de Husserl já que admite uma outra dimensão da consc para
além da intencionalidade («posicional do objecto») – há intencionalidades não
posicionais – daí a pertinência de uma análise sobre as exps pré-predicativas
Fil e psi tradicionais – consideravam essa outra dimensão tb de ordem reflexiva,
idêntica a uma interioridade
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A reflexão não é um meio para reencontrar a consc fonte ou a consc absoluta (a
questão do reencontro – pensar – meu)
4
«A existência (da consc) precede a essência» - a essência está sempre aí, diante
de nós, «transcendente» - ela não é mais aquilo sobre que se apoia a nossa exist
(dinamismo ESSENCIAL… meu)
A exist não é mais o complemento da essência (complementum possibilitatis) –
ela aparece agora como a condição de possibilidade transcendental da essência
– o primado da exist sobre o conhecimento
Exist não tem aqui um sentido clássico – Heidegger critica Sartre de ter ficado
pelo sentido clássico ou metafísico de existentia, contentando-se em dar a volta
à relação tradicional entre essência e existência – engana-se redondamente
(Carta sobre o Humanismo, 72)
Exist não é aqui a actualização de um ser, a realidade de um ser por oposição à
sua simples possib lógica, o facto de ser, nem o sentido «existencial» da exist
vivida, nem o sentido kierkegaardiano de separação, de interioridade, ou de
relação à transcendência, mas um sentido propriamente fen: a exist designa o
surgimento da consc na redução nadificante
Exist=consc / concepção de exist que não tem nada de «existencialista»!
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Distinção entre a exist inautêntica, absurda, viscosa e nauseabunda (La Nausée,
161-172), que é uma exist «existencial» e vivida e a exist autêntica, dura, viril, da
«consc seca» (Lettres, 86), a do homem livre (a de Orestes em As Moscas, por
ex) – a exist no sentido fen – a consc
4. A consc é liberdade
5
A consc surge como a fonte do seu olhar – ruptura com todas as determinações
que fariam dela um objecto entre outros objectos, um ser, um em-si.
89
Projecto que é pura espontaneidade, pois a consc é o seu ppo fundamento / o
mundo e o ser inteiros são reduzidos, tornaram-se para a consc
verdadeiramente intencionais
90
Não há senão liberdade situacional – a «facticidade» - temas mais conhecidos,
fils e literários, da obra de Sartre
«Ter, fazer e ser são as categorias cardinais da realidade humana.» (EN, 507;
Situations, II, 262)
Pela 1ª vez a fen des no sentido de uma fil do fazer, da criação, da acção, de um
«pragmatismo» no sentido largo (Situations, III, 182) Ser = Fazer / tradicionais
querelas entre operari sequitur esse ou esse sequitur operari / OPERARI = ESSE
6
93
ENCONTRAR na consc senão o futuro (Situations, I, 79)
Projecto – movimento do futuro em direcção ao presente (causalidade final)
(ver…)
94
Husserl – Tarefa infinita do fil – tomar consc do que não é ainda dado, mas é já
presente de qq maneira – a fen apresenta-se como consagração do já lá, como
7
95
A redução fen descrita no abstracto opera-se de um golpe – interpretada ainda
como acção livre no mundo e na sociedade ou como libertação – revela-se
impossível de realizar inteiramente – enraíza-se aqui a Moral do final de EN –
toda a moral que não se dê explicitamente como impossível hoje contribui para
a mistificação e alienação dos homens – a Moral é para nós ao mmo tempo
inevitável e impossível (EN, 177) – (daí a dimensão do futuro como
absolutamente fundamental…)
96
A moral fen de Sartre parece apresentar de novo o rosto do método husserliano;
eterna retoma, tarefa infinita e jamais terminada
3. Humanismo e ateísmo
Concepção de homem – nova relação da consc ao mundo – duplo movimento
de arrachement ao mundo (pela nadificação)
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Diferença em relação a Descartes – essa consc não é distinta do mundo – ela é
toda inteira intenção do mundo – ela não é de maneira nenhuma um objecto,
mas toda inteira projecto – o homem define-se pelas suas investidas no mundo,
pelos seus actos
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Redução fen de Deus
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O tema da presença fascinante desse mesmo Deus ausente – proceder à
«psicanálise existencial» - «O homem é fundamentalmente desejo de ser Deus.»
(EN, 654) / «O homem é uma paixão inútil.» (EN, 708)
101
Deus é tb nadificado – ele devém um Deus puramente intencional,
«transcendente» no sentido fenomenológico de quando falamos da
transcendência do Mundo ou Ego por relação à consc
A consc de Deus (Deus visado pela consc)
102
Análise do compromisso, da acção, da história – em que se orienta a sua
reflexão (ver…), como a de Merleau-Ponty
103
IV. LA PHÉNOMÉNOLOGIE DE MERLEAU-PONTY
A minha exist não se reduz à consc que tenho de existir (critica Sartre por isto)
«L’idée d’une conscience qui serait transparente pour elle-même et dont
l’existence se ramènerait à la conscience qu’elle a d’exister n’est pas si différente
de la notion d’inconscient» (436)
No Cogito ergo sum não há o Eu Penso que contém eminentemente o Eu Sou: é
a consc que é reintegrada na exist (439) ou é ela que se apanha numa espécie de
ambiguidade ou de obscuridade que fazem precisamente que eu não seja pura
consc ou absoluto de exist (432) - «Je suis à moi en étant au monde» (466) / (ver
cits)
106
«Jamais je ne suis chose et jamais conscience nue» (517)
Crítica – parece que a neantização, assim como a reflexão idealista, «s’emporte
elle-même et se replace dans une subjectivité invulnérable» (p. IV)
Para Ponty a redução faz aparecer, ao contrário, o mundo, o mundo da
percepção (perçu), o mundo natural e social (418) – o mundo original
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Quanto mais radical é a reflexão, menos transparente aparecerá esse mundo –
mais a reflexão manifestará «sa dépendance à l’égard d’une vie irréfléchie» (p.
IX), mais nos damos conta de que a reflexão permanece incompleta, dado que
ela não tem consc do seu ppo começo (p. IV) = (QUANTO MAIS
TRANSLÚCIDA É A CONSC, MAIS IRREFLECTIDA É NO SEU ÍNDICE…)
10
O método fen – meio para reflectir sobre essa reflexão («réflexion du deuxième
degré», «réflexion radicale») – que se estabelece sobre um irreflectido (75, 77,
253, 278), mas que ela tende precisamente a fazê-lo aparecer COMO irreflectido
sem o absorver numa consc absoluta (porque a consc absoluta cega… meu)
«La réflexion n’est vraiment réflexion que si elle ne s’emporte pas hors d’elle-
même, se connaît comme réflexion-sur-un-irréflechi, et par conséquent comme
un changement de structure de notre existence» (76) (passível de críticas… na
minha análise síndrome do neurótico)
Para tal consc reflexiva não há sobrevoo possível (????) - «il n’y a pas de pensée
qui embrasse toute notre pensée» (p. IX) – fil que está sempre a descrever esse
começo (p. IX)
108
A redução mostra o irreflectido – vai no sentido de Sartre
Em Ponty a consc já não é sempre primeira – o «verdadeiro transcendental» é o
mundo (418), e não mais o ser (como para Heidegger) nem a consc (como para
Sartre)
109
O colocar do mundo entre () operado pela redução é o desvelamento e o pôr em
relevo do mundo como tal – a descrição fen devolve-nos o mundo «fenomenal»
- dá-nos o mundo como transcendental – a reflexão radical permanece uma
descrição, mas agora reduplicada – compreensão e reflexão mais radicais que o
11
A exp natural do mundo não pode ser esclarecida pela psi experimental e pela
epistemologia tradicionais
111
PP e La structure du Comportement
Crítica ao gestaltismo e ao behaviorismo – Ponty mostra que a percepção é a
nossa relação original com o mundo, «um tipo de experiência originária» (SC,
298; PP, 377)
O Mundo da percepção mostra-se «comme berceau des significations, sens de
tous les sens, et sol de toutes les pensées» (PP, 492)
113
Encontramos a mma ambiguidade sobre os planos da acção e da história
57
II. LA PHÉNOMÉNOLOGIE DE HEIDEGGER
1. De la phénoménologie à l’ontologie
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Husserl – essa investigação é transcendental – essa fil clama por uma teoria
geral do ser, uma ontologia
A fen é animada por um cuidado ontológico – é polarizada no sentido de uma
nova metafísica e a sua função é estabelecer os fundamentos
Ela era já desde o começo ontologia (explicar isto melhor…) que, por causa da
sua novidade, levou algum tempo a reconhecer-se
Mov incessante de ultrapassagem e de explicitação progressiva – isto vai
explodir em Heidegger
59
Na passagem da 1ª fen de Husserl à fen transcendental, alguns discípulos
quiseram fazer um volte-face do realismo ao idealismo – em Heidegger o mmo,
em Sartre tb – acusaram as suas fens de se evitarem ao devirem ontols
Mas não podemos ignorar o método e o aprofundamento do mesmo –
descobriremos essa coincidência, nessa «ontol fen»
O Ser aqui em questão não pode mais ser o Ser da ontol escolástica ou da ontol
hegeliana
13
60
A questão tanto para Husserl como para Heidegger – Qual é o sentido do Ser?
Até Heidegger, era admitido que o significado da palavra «ser» era
evidentemente indefinível
Hdg diz que o sentido da questão não é ele ppo claro – é o que nos é mais
próximo e ao mmo tempo mais obscuro… (pensar – é como a consc)
Fazer aparecer, o ser aparecer – tal é a tarefa da fen (a questão da pré-
compreensão)
Fazer surgir as estruturas e os modos do ser (SN, 34)
62
Em Husserl a procura do fundamento radical reenvia à consc transcendental ou
constituinte (fonte constitutiva de todo o mundo visado pela intencionalidade
dessa consc) – era em termos de consc que se expressava o fundamento / em
Heidegger a interrogação remonta en deçà da consc transcendental, até ao
«fundamento do fundamento» (ver cit.) – e anuncia-se já que essa «iteração»,
essa reduplicação da radicalidade pode conduzir-nos a uma espécie de «vazio
sem fundo» (Ab-grund) (pensar neste VAZIO…), em direcção a um NADA (é
neste sentido que Sartre trabalhará) – um nada mais radical que todo o ser ou
que todo o fundamento (por que razão há esta tendência??? Meu)
63
Ontologia fundamental – ontol do não-ser – néontologie (expressão de Jean
WAHL – tenho o artigo)
14
Num curso inédito de 1929 – Heidegger explica que esse LÀ é uma zona de
dévoilabilité, uma zona de abertura onde qq coisa pode manifestar-se (como
«fenómeno»)
Como autêntico fen, Heidegger até aqui desvelou o Ser a partir do homem,
como Husserl obteve o mundo a partir da consc intencional
Primazia do mundo vivido em Husserl / vemos em Heidegger a relação entre o
homem e o Ser trocar-se e tomar o seu significado real e definitivo… (… a
abertura do Ser ao homem – um acontecimento ou um avènement – Ereignis,
Ereignung) = abandono do método fen – mudança do centro de gravidade
68
Dp o que é mais imp não é tanto a intenc ou o projecto do Dasein (através de
uma linguagem kierkegaardiana…); é sim o Ser, concebido como uma espécie
de potência obscura e escondida, que consente em manifestar-se, que se traça a
si mesmo a partir do lugar da sua abertura, que condescende em dar-se assim
ao homem, como uma espécie de graça, a sair de si, a ex-primir-se, a fazer-se
sentido (teologia… meu)
DEIXA DE HAVER MÉTODO – o Ser vem ao homem, ao abrir-se faz surgir o
DA – o homem depara-se com a possibilidade de encontrar um caminho
A paixão do método que havia em Sein und Zeit deixa de existir, esse pathos de
exploração infinita herdado de Husserl desvanece-se
«Le langage n’est pas quelque chose que l’homme, entre autres facultes ou
instruments, possède aussi, mais ce qui possède l’homme»
Essa «voz do Ser», essa «parole non parlée», essa linguagem ontológica, não é
mais portadora de significações humanas – é uma espécie de linguagem
sagrada ou de símbolo misterioso – uma espécie de revelação do Ser no silêncio
de todas as paroles humaines
71
Exegese ontológico-filológica dos poetas (sbto Hölderlin) – os 1ºs Pré-socráticos
que diziam o Ser como quando se recita religiosamente uma fórmula sagrada
Ek-sistenz # Existenz
Seyn # Sein da metafísica clássica
Depositários de uma mensagem ontológica e supra-humana – silêncio essencial
– gravidade patética
72
Fen de Husserl – ultrapassagem incessante – na permanência de um método
Em Heidegger a fen foi ultrapassada – tornou-se metafísica, mas o último
Heidegger entende mmo que a Fundamentalontologie é «ultrapassagem da
metafísica» (ver) – condenação da redução da met para atender ao seu
fundamento
Depois de Platão, Heidegger pensa que a fil s’est égarée torando-se metafísica –
perdeu e esqueceu o Ser para se colar ao ente
A metafísica clássica pensa apenas o ente como ente, não pensa o ppo Ser
73
A fil não se recolhe mais sobre o seu fundamento, e ela fá-lo precisamente
através da metafísica
Remontando ao fundamento da metafísica, o pensamento «tornar-se-á mais
pensante» - pensar mais originalmente que a ppa metafísica
Trans-metafísica – que se exprime em imagens
74
A imagem passa a ter um valor ontológico – é como se a relação do símbolo ao
simbolizado se encontrasse invertida
17
75
Heidegger junta-se, por uma via détournée, e contra a sua intenção expressa, à
concepção clássica de ontologia metafísica – pq se o fundamento (o Ser) não é
transcendental e se a relação do Ser ao homem não se faz num plano de
igualdade (pela razão, por ex), nem pela redução, mas somente pelo truchement
de uma linguagem metafórica, que poderá ser esse fundamento senão
transcendente num sentido metafísico?
(Do transcendental ao transcendente – pensar nisto…)
Não há mais consc constituinte e o homem não constrói mais o Ser pelo seu
pensamento. Não é sequer o homem que pensa o ser / Heidegger usará uma
fórmula mais «neutra»: «la pensée de l’Etre se fait jour en l’homme»…
76
Trans-metafísica que é uma fen à rebours – é o Ser que faz aparecer o homem
fazendo-se aparecer a ele (novo dogmatismo?)
Ao desvelamento fen que fazia aparecer os conteúdos intencionais da consc
substitui-se a iluminação ou a revelação pura e simples (dp Heidegger não se
reclama mais do método fen)
77
De Deus à divindade, da divindade ao sagrado, do sagrado à verdade do Ser –
pretende ultrapassar o deus naïf do teísmo ou da fé do carvoeiro
Tb para Hegel…
10
A razão que define e que expõe não tem consc da sua ppa exposição, o homem
explicativo não sente necessidade de explicar a ppa explicação
A razão que abstrai, analisa e sintetiza, opera num domínio que é o do
sintáctico, mas nunca põe o problema do campo semântico no interior do qual
se exerce a sua actividade
A razão repousa e repousa-se sobre si mesma – é este repouso que Thévenaz
põe em questão exigindo à razão aquilo que ela ppa tem por hábito exigir
11
A contestação do sentido fez-nos esquecer de colocar o problema do sentido da
contestação
Ele pretende que a razão que contesta seja ela mma contestada
Pôr a razão «em condição»
Desabsolutização da razão – põe o problema de saber sobre que fundo se
destaca a regionalidade ontológica que ela define – a razão aspira naturalmente
à sua absolutização esquecendo que ela é ao mesmo tempo juiz e parte
interessada nos momentos que ela eleva à sua ppa glória – a razão pertence à
condição do homem mas será ela o todo dessa condição?
13
Uma fil sem absoluto convida-nos não a uma medida das coisas ou do homem
pelo homem ele mesmo, mas a uma medida do homem com a sua finitude
A absolutização do homem pela razão e a absolutização do homem pela história
Paradoxo de Pascal: «l’homme n’agit point par la raison qui fait son être» -
pondo em evidência que é conforme à essência do homem o de não se
conformar com a sua essência
14
Ora, pode a razão usar o seu critério de racionalidade para denunciar uma
acusação que põe precisamente em causa a racionalidade ela ppa? Que campo
semântico deverá usar a não ser o seu? A razão não tem outro fundamento
senão ela mma – provando a boa fundação da sua empresa por argumentos
racionais, a razão escreve um novo elogio da loucura
Diz Thévenaz: «En face de la possibilité de la folie, la raison fait […] une
expérience d’ignorance, mais d’une ignorance particulière qui est ignorance
19
15
em face não de uma aporia da consc mas antes diante de uma situação que
suscita a consc de uma aporia
hermenêutica da significação ela mma
«que significa significar?» - em face de uma epoché radical – aquela que põe em
() não os atributos do sentido, mas o sentido ele mesmo – tomar consc de que há
um sentido da loucura e uma loucura possível do sentido
- pôr em causa o ppo ser da razão e o estatuto da evidência racional
18
O Grande Inquisidor – toma tb a história como campo de exercício na medida
em que se entrevê como engenheiro do tempo
O fantasma da meta-história – é este que ressuscita o absoluto
19
A razão está sempre numa situação crítica – nenhuma auto-crítica poderá
reduzir-lhe o autismo nem instaurar uma verdadeira instância crítica – para que
o autismo se rompa é necessário um choque surgido do exterior
O pensamento de Thévenaz – uma crítica do criticismo
O método fen consiste não em pôr em dúvida, mas em colocar entre () – ele visa
não o reduzir à aparência e aos falsos semelhantes, mas em fazer aparecer para
iluminar verdadeiramente
Mérito de Husserl – aspirou a um fundamento objectivo absoluto e operou uma
análise da subjectividade da consc – a fil tornou-se um prob para si mma
20
A intenc em Brentano tinha apenas um teor psi – em Husserl encontra um porte
epistemológico depois transcendental e mmo ontológico
Através da redução o homem descobriu-se como ser exposto
Husserl – desvelar a partir da consc intencional
21
Com Sartre, tudo o que pode aproximar Heidegger de uma teologia negativa,
transforma-se numa méontologie onde a redução fen se aplica ao ppo Eu
transcendental tido como «a morte da consc» (o Eu T. seria ainda um resíduo de
transcendência… que asfixia Hdg)
Segundo a fórmula de Thévenaz: o EN não se nos apresenta como um método
de aproximação ao Ser mas como uma ontologia enquanto fen. No coração da
red fen, tal como Sartre a pratica, podemos encontrar preocupações idênticas às
de Nietzsche trabalhando «a golpes de martelo» para casser as tábuas dos
valores
22
Por muito dif que seja da empresa husserliana, a pesquisa nietszcheana da
genealogia coincide parcialmente com esta na medida em que as duas
pretendem ser «arqueologias», no sentido etimológico do termo, demandas
radicais do princípio e do fundamento (ver) – a fil sartriana da morte de Deus
aplica a red sobre a ppa ideia de princípio, e nesse sentido é nietzscheana – mas
21
é tb fen pois define a consc como puro surgimento que se desdobra em projecto
e projecção em direcção ao futuro = esse e operari são sinónimos
37
LA PHÉNOMÉNOLOGIE DE HUSSERL
Unidade e significado da fil husserliana
Devemos antes ver nas suas obras um esforço para levar à claridade uma visão
obscura e tacteante – as últimas obras são indispensáveis à verdadeira
inteligência das 1ªs (mais do que o inverso)
Interpretação de trás para a frente – a crítica do psicologismo e do relativismo
das IL (tomo I) só se compreende verdadeiramente à luz das análises sobre a
intencionalidade do tomo II / o conj das IL à luz do ponto de vista
transcendental das Ideen / a consc-«resíduo» da redução (das Ideen) à luz da
fen da actividade (Leistung) constituinte das obras ulteriores, etc.
38
Thévenaz diz que se vêem muitas vezes na evolução de Husserl
descontinuidades, volte-faces ininteligíveis, traições que não existem senão na
nossa imaginação
39
O problema que assombra Husserl desde a sua Philosophie der Arithmetik (1891)
até à sua morte é o dos fundamentos (ele é um matemático que se torna filósofo)
Interrogando-se sobre os fundamentos da matemática, é reenviado à lógica, à
epistemologia, à ontologia e até à filosofia da história, por esse movimento de
ultrapassagem perpétua que um dos caracteres mais marcantes dessa fil do
dinamismo intencional da consc (ver o resto…)
23
Cedo vê que as ciências, ainda que os seus resultados efectivos sejam sempre
aproximativos e imperfeitos, são orientados, em intenção, em direcção a uma
objectividade absoluta…
Assim é a intenção do savant, da intenc da consc, que é preciso analisar – o
fundamento só poderá ser encontrado do lado do sujeito
40
A dupla preocupação da fen – visão do fundamento objectivo absoluto e análise
da subjectividade da consc
Mas em 1900 – quem diz análise da consc, diz psi – é o momento em que a psi
reina – toda a explicação psi tende fatalmente a arruinar esse absoluto e a
dissolver a objectividade num subjectivismo relativista (o tomo I das IL deu-lhe
uma crítica clássica)
Em que é que a análise fen se distingue da análise psi ou lógica? Ela transporta
consigo a marca do espírito matemático que a concebeu – com efeito o
matemático manipula valores ou essências ideais sem nunca precisar de se
perguntar se elas correspondem ou não a uma realidade de facto
O fen pergunta: «que entendemos nós por…?» qual é o significado daquilo que
temos no espírito quando julgamos, afirmamos, sonhamos, vivemos, etc. (o
lógico procura as condições sob as quais um juízo é verdadeiro (Kant seria mais
lógico…) / o savant se é verdadeiro que… / o psi se o que se passa
efectivamente na consc…)
41
A fen não é uma investigação sobre factos internos ou externos – virar a atenção
simples e unicamente para a realidade NA consc, sobre os objs enquanto
intencionados por e na consc, sobre o que Husserl chama essências ideais –
entender por elas não simples representações subjectivas (estaríamos no plano
psi) nem realidades ideais («realizaríamos» ou faríamos hipóstase dos dados da
consc e seria já num plano metafísico) – mais precisamente os «fenómenos»
42
Fen – não ter em conta o valor, a realidade ou irrealidade dos objectos e dos
conteúdos da consc – o que interessa é descrevê-los simplesmente tal qual se
dão, como puros e simples olhares intenc da consc, como significados, a torná-
los visíveis e aparentes
24
43
Se há uma crise da lógica ou das ciências, é pq há tb uma crise da fil
«La connaissance, qui dans la pensée commune non encore philosphique, est la
chose la plus naturelle du monde, se dresse là d’un coup comme un mystère»
44
Não se tratava mais simplesmente de ver e descrever o simples «aparecer» das
coisas, nem apenas mais uma teoria do conhecimento no sentido de uma
epistemologia tal como o fim do séc. XIX o compreendia
Tratar-se-á antes de encontrar uma evidência absoluta que, como o
«fenómeno», transporta com ela mesma a sua legitimidade – fonte radical de
«apodicticidade» que dará o seu sentido à ciência e à razão em geral
O método fen tem ele ppo de ser radicalizado – momento decisivo em que
Husserl descobre e faz intervir a «redução fen», dando acesso no plano fil a uma
posição que não será nem objectivista (ou naturalista), nem metafísica, nem
psicologista nem subjectivista
45
Um campo novo abre-se = o campo transcendental
De uma análise não psi da consc, Husserl passa à análise da consc não psi, a
consc transcendental
É por um processo de redução (a contra-corrente das tendências naturais do
espírito), por uma ascese, tb radical, por um compromisso total, que ele conjura
o espectro da psi e as tentações subterrâneas do psicologismo = a fil torna-se
uma fil transcendental
47
Saída de si do mundo natural – como subjectividade transcendental = origem de
todas as significações, como sentido do mundo
Fazer aparecer o mundo como fen – o ser do mundo não é mais a sua exist ou
realidade, mas o seu sentido – o sentido do mundo é o de que ele é um
cogitatum visado pelo cogito – o que a red faz aparecer não é o cogito sozinho,
mas o ego-cogito-cogitatum (Meds Carts, 28) = a consc-deste-mundo, a consc
constituinte do sentido do mundo = o mundo não é uma exist, mas um simples
fen (Meds Carts, 27) = é significado
Intenc da consc – toda a consc é consc de qq coisa – mas isto não é uma
banalidade (que toda a consc tem um obj ou um conteúdo)
26
A ideia cartesiana, por ex, de uma consc fechada sobre si mesma que não
perceberá o mundo ele mesmo e que terá por primeira tarefa assegurar-se que
percebe bem a realidade «no original» - está excluída tb
Nota – mmo fils como Descartes e Kant ficaram presos na atitude natural
A originalidade do transcendentalismo husserliano reside numa nova espécie
de distância tida em relação à ciência enquanto conteúdos de conhecimento –
uma atitude decisiva com a atitude natural do savant – graças à red reencontrar
a intenção implícita e a significação da ciência, numa proximidade essencial
com ela que nenhuma epist, mmo positivista ou cientista, jamais conheceu
50
Intenc transcendental – entrelaçamento original dos temas cartesianos
(evidência, intuição, o ver) e dos temas kantianos (a constituição do obj na
consc, portanto a actividade constituinte ou criadora)
Husserl usa uma ling kantiana sbto na 1ª exposição da redução (A Ideia da
FEN) – não nos enganemos
O seu radicalismo é transcendental – de inspiração bem menos kantiana do que
cartesiana – contra toda uma tradição alemã anti-cartesiana – Husserl renova a
intenção de radicalidade na exp da dúvida metódica
Fen - «uma crítica da razão lógica e prática» - mas não quer nenhum tribunal
51
Como Kant, Husserl pensa que o obj reenvia ao sujeito e que o probl do
conhecimento é essencialmente um problema de constituição – é a partir da
consc (transcendental e não psi) que podemos compreender as estruturas do
mundo intencionado e sbto a unidade do seu sentido
Mas como Descartes, Husserl vê na consc, não apenas o elemento formal e
unificador do conhecimento, a condição de possibilidade do objecto, mas um
dado concreto (não empírico), vivido imediatamente como consc (mas não psi)
– o objecto não será construído por essa consc, ele dar-se-á ou desvelar-se-á à
visão dessa consc
27
53
Esse domínio é o da CONSCIÊNCIA DO SENTIDO (que é tb consc doadora de
sentido) – esse vivido trans é a ppa racionalidade
Intuição criadora do sentido que a consc transporta implicitamente csg mesma
pensar nisto…)
Dupla tarefa da red fen – afastar definitiv as tentações renascentes da consc psi,
permitir-nos ultrapassar a sua irremediável contingência e os diversos
relativismos ruinosos a toda a procura do sentido e de fundamento e de nos
fazer aceder à evidência apodíctica do fundamento radical / salvaguardar-nos
de todo o realismo naïf e de todo o naturalismo
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CONCLUSÃO
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Relação do homem ao mundo
Da consc ao Ser
A relação reflexiva da consc consigo mesma