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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ITAJUBÁ Ensaio nº 2

Laboratório de Resistência dos Materiais 19/09/2018

Determinação da curva tensão-deformação de um aço SAE1020

Nome: Felipe Henrique Rafael Matrícula: 33754 Turma: 06

1. JUSTIFICATIVA
Este ensaio possui larga aplicação uma vez que permite a obtenção, de forma
relativamente fácil, de um amplo conjunto informações quantitativas e qualitativas a respeito
do material e indispensáveis às aplicações em processos de fabricação e projetos.

2. OBJETIVO
Determinar, em acordo com a norma ASTM E8M-01, o comportamento mecânico de
um corpo de prova de aço 1020 submetido ao carregamento uniaxial por meio de ensaio de
tração e, obtendo-se para isso, o diagrama de tensão – deformação a partir do qual pretende-se
extrair dados quantitativos referentes ao limite elástico aparente, limite de escoamento, limite
de resistência a tração, módulo de elasticidade, módulo de resiliência, módulo de tenacidade,
alongamento e tensão de ruptura.

3. MATERIAIS E MÉTODOS
3.1.Materiais
Foi utilizado um corpo de prova de perfil retangular com dimensões de 12,98 mm x 3,30
mm na seção transversal e comprimento útil de 50 mm.

3.2.Equipamentos
Os equipamentos utilizados no ensaio seguem conforme a descrição:

 Máquina universal de ensaios


Marca: EMIC / Modelo: DL 3000 / Máxima carga: 30kN
 Paquímetro analógico
Marca: DIGIMESS / Resolução: 0,02 mm / Faixa de medição:150,00 mm
 Extensômetro;
 Software TESC de aquisição e tratamento de dados instalado no microcomputador
disponível no laboratório.
3.3. Métodos
Os ensaios foram realizados a temperatura ambiente e sem um controle rígido das
condições ambientais. O procedimento de ensaio para cada corpo de prova consistiu na
reprodução da sequência de etapas:

1) Mediu-se o diâmetro da seção transversal do corpo de prova por meio de um


paquímetro. Nesta etapa, a medida foi realizada por um integrante do grupo presente
e revisada por um segundo integrante.
2) Fixou-se o corpo de prova na garra da máquina de ensaio, de forma a manter o maior
comprimento posicionado na direção da carga aplicada, e procurando, por meio do
auxílio de uma alavanca durante o aperto de fixação, garantir que não houvesse
escorregamento entre as superfícies de contato da garra e o corpo de prova.
3) Fixou-se o extensômetro nas extremidades do comprimento útil.
4) Zerou-se os valores de leitura no software.
5) Iniciou-se o ensaio que prosseguiu aplicando a carga movendo-se a uma velocidade
𝑚𝑚
de 5 𝑚𝑖𝑛 .

A máquina de ensaio forneceu os dados de força aplicada ao longo do alongamento


medido pelo extensômetro à velocidade constante. Os dados foram registrados em intervalos
de 1/60 segundos pelo software TESC e plotados em tempo real em um gráfico de força em
função do deslocamento. A Figura 1 mostra a garra utilizada na fixação do corpo de prova.

Figura 1 – Garra utilizada na fixação do corpo de prova

Diversos fatores influenciam nos resultados do experimento tais como temperatura,


velocidade de ensaio, anisotropia, microestrutura, tratamento térmico do material e ambiente.
No entanto, os procedimentos adotados bem como as características dos corpos de prova são
padronizados segundo normas, a fim de estabelecer uma garantia de confiabilidade dos dados.
Contudo, em geral, mais de um ensaio é realizado de modo a reduzir o nível de incerteza do
comportamento observado.

Além das implicações citadas, Souza (1982) ressalta que a boa condução do ensaio é
indispensável para se evitar erros nos resultados, como por exemplo, o mau alinhamento do
corpo de prova irá gerar esforços assimétricos que provocarão erros na leitura. Deve-se também
certificar-se da fixação do extensômetro, garantindo axialidade no deslocamento e não
ocorrência de escorregamento.

Parte das observações foram consideradas durante a montagem do experimento, uma


vez que o intuito é didático, não se preocupou em realizar diversas medições, no entanto tomou-
se todos os cuidados necessários durante a montagem do experimento, além de ser feito o uso
de um corpo de prova conforme padrão estabelecido na norma ASTM E8M-01.

Ao final de todos os ensaios, os dados foram exportados e disponibilizados para análise.

4. RESULTADOS
A partir dos dados de força por alongamento obtidos pelo ensaio calculou-se a tensão
normal por meio da equação (1), bem como a deformação submetida pelo corpo de prova a
partir da equação (2).

𝐹
𝜎= (1)
𝐴

𝛿
𝜀= (2)
𝐿0
Onde:
𝜎: Tensão normal [Pa];
𝐹: Força [N];
𝐴: Área da seção transversal [m²];
𝜀: Deformação [adimensional];
𝛿: Alongamento [mm];
𝐿0 : Comprimento útil inicial [mm].

Com base nos valores calculados, foi obtido o diagrama de tensão por deformação (σ -
ε), conforme apresentado na Figura 2.
400
350
300

Tensão (MPa)
250
200
150
100
50
0
-10.00% -500.00% 10.00% 20.00% 30.00% 40.00%
Deformação - ε

Figura 2 – Diagrama tensão – deformação obtido pelo experimento

Evidenciando o caráter destrutivo do ensaio, a Figura 3 mostra o aspecto do corpo de


prova antes e o resultado após a ruptura.

Figura 3 – Corpo de prova antes e depois de ser submetido a ensaio de tração

Os resultados extraídos no experimento estão disponibilizados na Tabela 1. Nas seções


4.1 até 4.5 descreve-se os procedimentos utilizados no cálculo desses resultados.

Tabela 1 - Propriedades mecânicas do aço 1020


Propriedade Valor experimental Valor teórico*
Módulo de elasticidade (E) 151,6 GPa 207 Gpa
Módulo de resiliência (Ur) 206,1 KPa -
Módulo de tenacidade (UT) 87,32 MPa -
Limite de proporcionalidade (σp) 250 MPa -
Limite de escoamento (σe) 272,5 MPa 345 Mpa
Limite de resitência a tração
342,4 MPa 440 Mpa
(σmáx)
Limite de ruptura (σr) 226,2 MPa -
Alongamento percentual 35,0% 38,5%
*Dados teóricos retirados de Callister (2008)
4.1. Determinação do módulo de elasticidade

A módulo de elasticidade representa a rigidez do material e é determinado pela razão


entre a tensão a qual submete-se o material e a deformação que este sofre na região elástica
conforme a equação (3).

𝜎
𝐸= (3)
𝜀
Onde:
𝐸: Módulo de elasticidade [Pa]

Segundo Souza (1982), um valor conveniente para ε na determinação do módulo de


elasticidade é de 0,1%, pois representa a metade da distância tomada para se calcular o limite
de escoamento convencional, 0,2%. Sendo assim, substituindo na equação (1) os valores de
tensão e deformação experimentais referentes a deformação que mais se aproxima de 0,1%,
obtém-se:

169,3 × 106
𝐸= [𝑃𝑎] = 167,7 𝐺𝑃𝑎
0,00100908

A Figura 4 é uma ampliação do diagrama σ – ε na região elástica e ilustra o


procedimento de obtenção dos valores utilizados no cálculo do módulo de elasticidade.

300

250

200
Tensão (MPa)

169,3
150

100

50

0
-0.05% 0.00% 0.05% 0.10% 0.15% 0.20% 0.25% 0.30% 0.35%
Deformação - ε

Figura 4 – Ampliação na região linear do diagrama tensão-deformação

4.2. Determinação do limite de proporcionalidade

Em Hibbeler (2004), define-se o limite de proporcionalidade como a tensão máxima


onde a deformação permanece proporcional ao valor da tensão, enquanto que o limite elástico
é definido como o valor máximo de tensão no qual o material não sofre nenhuma deformação
plástica. Segundo Souza (1982), sua determinação é muito trabalhosa e não compõe os ensaios
de rotina, sendo realizada por “carregamentos e descarregamentos sucessivos do corpo de prova
até que seja alcançada uma carga onde se possa observar, com uma precisão suficientemente
boa, uma deformação permanente no caso do limite elástico, ou onde a tensão deixa de ser
proporcional a ela, no caso do limite de proporcionalidade.” (Souza, 1982)

Hibbleler (2004) afirma ainda que, no caso dos aços, esses limites são muitos próximos
e, portanto, difíceis de serem determinados. Uma alternativa descrita por Souza (1982) permite
determinar um ponto na curva de σ - ε denominado limite elástico aparente, segundo o qual
pode ser atribuído ao limite elástico bem como ao limite de proporcionalidade. Condizente com
tais afirmações, calculou-se o limite de proporcionalidade e o limite elástico determinando
simplesmente o limite elástico aparente.

O procedimento constitui de determinar o ponto sobre a curva onde a inclinação da reta


tangente a ela fosse 50% maior que a inclinação da reta tangente na origem. As etapas seguidas
estão ilustradas na Figura 5. Incialmente extrapolou-se a reta OE tangente a curva na origem, e
obteve-se, no ponto E, sua intersecção com a reta vertical correspondente a deformação de
0,1750%. Traçou-se um segmento horizontal passando pelo ponto E e estendido até o ponto D
de interseção com a reta vertical correspondente a deformação de 0,2625%, cuja qual é 50%
maior que a primeira. Sendo assim, determinou-se a reta OD que possui inclinação 50% menor
que o segmento OE. A partir do segmento OD, traçou-se o segmento paralelo MN, tangente a
curva no ponto P, sendo este determinado por inspeção e correspondente ao limite elástico
aparente cujo valor encontra-se na Tabela 1.

300
F E N D
250
P
200
Tensão (MPa)

M
150

100

50

0
O 0,1750% 0,2625%
-0.05% 0.00% 0.05% 0.10% 0.15% 0.20% 0.25% 0.30% 0.35%
Deformação (ε)

Figura 5 – Método de obtenção do limite elástico aparente


4.3. Limite de escoamento

Segundo Hibbeler (2004), a partir do limite de elasticidade, um pequeno aumento na


tensão faz com que o material se deforme permanentemente, entrando em uma região de
transição entre a zona elástica e a zona plástica denominada escoamento, na qual o material
sofre uma deformação relativamente grande sem aumento da tensão. Nota-se na Figura 6 que o
corpo de prova sofre um alongamento na região de escoamento muito superior ao alongamento
sofrido na região elástica, porém sem que ocorra uma variação significativa na tensão quando
comparada a variação da zona elástica.

“Nos ensaios de rotina a determinação do limite de proporcionalidade é substituída pelo


limite de escoamento que se observa nitidamente no aço doce, ou aço de baixo carbono,
recozido, ou pelo limite n.” (Souza, 1982)

Confirmando essa afirmação, o corpo de prova apresentou uma região de escoamento


bem definida conforme pode ser visto na Figura 6, podendo ser obtida diretamente a partir dos
dados, uma vez que, estabelecida a região de escoamento, a tensão se manteve dentro de um
intervalo menor que 6 MPa. Evidentemente que, no início do escoamento, qualquer variação
na tensão até cerca de 1% de deformação é imperceptível no gráfico da Figura 6. De fato, a
variação fornecida pelos dados nessa região permaneceu em um intervalo menor que 1 MPa.
Desse modo, a determinação do limite de escoamento foi feita calculando-se um valor médio
das tensões no interior desse intervalo, onde considerou-se a região de 0,25% a 0,90% de
deformação. O valor calculado para o limite de escoamento está disponível na Tabela 1.

350

300
273,7
268,3
250
Tensão (MPa)

200

150

100

50

0
-1.00% 0.00% 1.00% 2.00% 3.00% 4.00% 5.00% 6.00% 7.00%
Deformação - ε

Figura 6 – Destaque à região de escoamento no diagrama de tensão-deformação


4.4. Módulo de resiliência

O módulo de resiliência, segundo Souza (1982), é um indicativo da capacidade de um


metal absorver energia quando deformado elasticamente cujo cálculo corresponde a energia de
deformação por unidade de volume, necessária para tensionar o metal da origem até a tensão
do limite de proporcionalidade.

“Uma vez que a tensão é aplicada gradualmente, o trabalho exercido para tensionar até
o limite de proporcionalidade é igual a tensão média multiplicada pela deformação, εp, causada”
(Souza, 1982). Portanto, seu cálculo pode ser determinado pela equação (4).

𝜎𝑝
𝑈𝑟 = ∙𝜀 (4)
2 𝑝
Onde:
𝑈𝑟 : Módulo de resiliência;
𝜎𝑝 : Tensão de proporcionalidade;
𝜀𝑝 : Deformação gerada no limite de proporcionalidade.

Isolando o valor de ε na equação (2) e substituindo em εp na equação (4), chega-se a


uma expressão conveniente para o módulo de resiliência conforme a equação (5).

𝜎𝑝 2
𝑈𝑟 = (5)
2
4.5. Módulo de tenacidade

Por outro lado, a capacidade de absorver energia dentro da zona plástica é, segundo
Souza (1982), definido como tenacidade, e é medida pelo módulo de tenacidade, que
corresponde a quantidade de energia absorvida por unidade de volume no ensaio de tração até
a fratura. A equação (6) fornece um modo aproximado para o cálculo do módulo de tenacidade.

𝜎𝑒 + 𝜎𝑟
𝑈𝑇 = ∙ 𝜀𝑓 (6)
2
Onde:
𝑈𝑇 : Módulo de tenacidade [Pa];
𝜎𝑒 : Tensão de escoamento [Pa];
𝜎𝑟 : Tensão de ruptura [Pa];
𝜀𝑓 : Deformação sofrida até a ruptura [adimensional].

Outros valores foram facilmente obtidos diretamente dos dados de tensão e


alongamento, sendo estes, o limite de resistência a tração onde extraiu-se o maior valor de
tensão do experimento, o limite de ruptura onde ocorreu a queda abrupta da tensão, e o
alongamento máximo correspondente ao alongamento onde ocorreu a ruptura.

5. CONCLUSÃO
A partir dos dados gerados no ensaio de tração, foi possível obter o diagrama 𝜎 – 𝜀 por
meio do qual verificou-se regiões bem definidas referentes a zona elástica e a zona plástica,
podendo-se identificar nesta última a região de escoamento, a região de endurecimento por
deformação e a região de estricção. Esses padrões identificados na curva do diagrama servem
como referência qualitativa do comportamento mecânico do material, podendo ser utilizados
como um de parâmetro de orientação na seleção de materiais e na definição de processos aos
quais esses serão submetidos, uma vez que fornece uma a percepção imediata da ordem de
grandeza das propriedades do material ensaiado.

Além de informações qualitativas, obteve-se dados quantitativos referentes ao limite


elástico aparente, limite de escoamento, limite de resistência a tração, módulo de elasticidade,
módulo de resiliência, módulo de tenacidade, alongamento e tensão de ruptura. Esses
parâmetros são fundamentais no dimensionamento de componentes e estruturas, já que
determinam os limites aos quais é garantido o comportamento mecânico desejado. Pela
metodologia observou-se que, uma vez de posse dos dados, a determinação das propriedades é
de fácil obtenção, justificando seu uso, já que apesar de simples, garantem informações
suficientes para uma ampla gama de aplicações em engenharia. Enfatiza-se a comparação com
os valores teóricos apresentados na Tabela 1, uma vez que houve consideráveis divergências
entre os resultados deste experimento e os valores presentes na literatura. Isso se deve, em boa
parte, a possíveis diferenças entres a estrutura dos materiais utilizados na comparação, ou seja,
não é possível garantir que o material ao qual se dispõe possui características idênticas ao
material de referência, evidenciando a importância e a necessidade de se verificar as
propriedades por meio de ensaios sempre que se pretende garantir a confiabilidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CALLISTER, Jr. William D. Ciência e engenharia dos materiais: uma introdução,


7ª edição. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

HIBBELER, Russell Charles. Resistência dos materiais. São Paulo: Pearson


Educación, 2004.

SOUZA, Sergio Augusto de. Ensaios mecânicos de materiais metálicos:


Fundamentos teóricos e práticos. São Paulo, Edgard Blucher, 1982.

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