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Comportamento e
Cognição
Volume 24
Sobre
Comportamento
e Cognição
Desafios, soluções e questionamentos
Volume 24
ESETec
Editores Associados
2009
Copyright© desta edição:
ESETec Editores Associados, Santo André, 2009.
Todos os direitos reservados
Wielenska, R.C.
416 p. 23cm
ISBN 978-85-7918-004-0
CDD 155.2
CDU 159.9.019.4
No ano em que a ABPMC completa 18 anos, tive a honra de ser convidada pela
sua Diretoria a organizar os volumes 23 e 24 da coleção Sobre Comportamento e
Cognição e a indicação do meu nome foi referendada em assembléia anual. Aceitei
com prazer a tarefa de organizar os trabalhos referentes ao Encontro da ABPMC em
2009. Era um desafio grande, considerando-se a demanda dos presentes à assem
bléia de que fossem implantadas algumas mudanças na política editorial norteadora
da coleção.
Ao término de meses de trabalho, examino cada um dos artigos que compõem
estes novos volumes, e reafirmo minha certeza, com base neste material, de que a
comunidade brasileira de analistas do comportamento, e de terapeutas nas abordagens
comportamental e cognitiva, se caracteriza por uma saudável diversidade, em termos de
linha de investigação, objetivos a alcançar, local de atuação, afiliação acadêmica, popu
lação com a qual trabalha, entre outros atributos. Esta riqueza, de conteúdos e perspec
tivas, nos levou a publicar os artigos sem divisão temática, obedecendo apenas à ordem
alfabética do nome do primeiro autor. Foi uma decisão estratégica, cercada de algumas
desvantagens, mas certamente suplantadas pelos benefícios, uma medida partilhada
com a presidente Maria Martha Hübner. Acreditamos que inserir determinado artigo, por
exemplo, entre os “casos clínicos”, de certo modo desconsideraria que esse mesmo
trabalho poderia, também, ser corretamente classificado como um exemplo de “interven
ções na comunidade” ou de “atuação em serviços de saúde”. Talvez não tenhamos uma
classificação perfeita, e quisemos evitar que cada capítulo ficasse restrito ao rótulo sob o
qual estaria abrigado. Vamos deixar que os próprios capítulos sejam faróis que orientem
a navegação dos leitores ao longo da obra.
Conforme decidido na Assembléia da ABPMC em 2008, manteríamos uma
postura editorial de inclusão, procurando cuidar sistematicamente dos aspectos for
mais e de conteúdo (o segundo grupo, deliberadamente em menor escala). Precisei
lidar com a qualidade das imagens, completude e precisão das referências bibliográ
ficas, prazos para submissão compatíveis com a necessidade de revisar os artigos e
fornecer feedback aos autores. Estes, pela primeira vez, foram instados a aderir a
regras mais rígidas, no intuito de homogeneizar o aspecto formal de cada artigo, para
estabelecer alguma harmonia estrutural entre os textos da coleção, sem comprometer
a originalidade e riqueza de cada um. Muitos equívocos foram cometidos por mim: levei
tempo demais para encontrar um bom sistema de nomeação dos arquivos de textos e
de imagens, queria agrupá-los de modo a evitar que algum material ficasse “perdido”
nos meandros de quatro computadores e nas pastas dos três programas de troca de e-
mails que utilizei ao longo do trabalho. Hoje sei, por doloroso contato com as contingên
cias que controlaram meu desempenho, que é prudente restringir o uso de alternativas
tecnológicas (webmail OU Outlook Express, por exemplo, nunca ambos), sei agora que
é preciso salvar sistematicamente tudo, em locais distintos, sincronizar pastas... Tais
falhas provavelmente incomodaram autores, precisei inclusive solicitar o reenvio de
materiais já editados e aprovados! Faço questão de agradecer muito aos autores; todos
foram pacientes, disponíveis, empenhados e colaborativos.
A vantagem de organizar a Sobre Comportamento e Cognição é estudar, ainda
que brevemente, temas que não fariam parte das minhas leituras regulares. Tão rico
substrato ampliou meus conhecimentos. Recomendo a cada leitor que se disponha a
interagir com artigos com os quais habitualmente não entraria em contato, tenho certe
za de que a experiência será enriquecedora.
Nos presentes volumes há predomínio de artigos que, à primeira vista, poderi
am ser denominados “clínicos”. A leitura deles nos revela que a terapia pode ser um
trabalho desenvolvido em hospital-geral, consultório particular, clínica-escola, centro
comunitário de atendimento à saúde mental, entre outros contextos, e com pessoas de
diferentes idades e enfrentando problemas bastante distintos. Felizmente, não há uma
clínica uniforme e pasteurizada
Por sua vez, encontramos artigos supostamente conceituais ou filosóficos, e
eles necessariamente subsidiam toda forma de trabalho aplicado, promovem avanços
do nosso entendimento dos problemas que a área atravessa atualmente e/ou propõem
um novo olhar sobre temas já conhecidos. Outros artigos poderiam, ainda, ser vistos
como descrições funcionais do desenvolvimento humano; são análises dos processos
envolvidos na aquisição de habilidades complexas, fenômenos ocorridos no meio da
família, no universo da escola ou em outras situações. Apreendemos o homem quando
entendemos como e o que ele aprende?
Quem tiver olhos atentos, conseguirá reconhecer que alguns dos artigos esca
pam do terreno remediativo ou terapêutico, porque nos sugerem principalmente manei
ras de prevenir problemas graves, relacionados a contingências aversivas, que afetam
tanto indivíduos como grupos.
Em suma, temos aqui volumes que são excelente matéria prima para cursos
de psicologia, educação, medicina, entre outras áreas, seja em níveis introdutórios ou
bastante avançados. A educação continuada se beneficia com o lançamento de obras
como a Sobre Comportamento e Cognição, estas facilitam a disseminação do conheci
mento entre profissionais que vivem distantes dos grandes centros produtores e
difusores do conhecimento sobre as ciências do comportamento.
Mais uma vez agradeço à Diretoria da ABPMC e aos presentes à assembléia
pela oportunidade que me foi concedida. Aprendi muito, os desafios valeram a pena.
Avaliar globalmente o resultado é agora dever da comunidade que usufruir dos volumes
agora lançados.
Ao organizar o material submetido à publicação, tenho certeza que contribuí
para nossa comunidade de forma infinitamente inferior à dos autores, estes é que se
dedicaram, corajosa e disciplinadamente, à produção de artigos e a partilhar conosco
seu extenso saber, inquietações, acertos e ocasionais equívocos.
Por fim, reconheço o grande apoio da ESETEC ao projeto da Coleção. Trata-se
de uma casa editorial que se dispõe a publicar regularmente nossos novos volumes,
mesmo sabendo que lhes impomos prazos restritos para a execução do complexo
trabalho de editoração gráfica. E mais, consumimos tiragens modestas de cada obra,
num período relativamente longo de tempo e atuamos de forma artesanal, por vezes
sob efeito de contingências conflitantes ou que não estão suficientemente claras para
que os envolvidos possam tomar decisões com tranqüilidade e certeza do acerto.
Aos leitores, meus votos de que os capítulos da coleção eliciem em vocês um
estado de encantamento e inquietude, e que funcionem eficazmente como operação
estabelecedora para a emissão de comportamentos relacionados ao crescimento inte
lectual e ampliação, no Brasil, da ciência que escolhemos praticar (ou que nos esco
lheu, como diriam alguns).
O estudo é parte de um projeto de pesquisa cadastrado no BANPESQ. na Universidade Federal do Paraná, em 2006. A pesquisa contou com
bolsas do Tesouro Nacional para alunos de Iniciação Científica. No Encontro da ABPMC, realizado em 2006, comentou-se que o estudo seria
iniciado, de modo que o presente capítulo apresenta os pontos que nos atraíram a atenção até 2008. Os estudos de Silveira, Callaghan e Veer
(2007); Perón e Silveira (2007) e Silveira, Callaghan, Stradioto, Maeoka, Maurício e Goulin (2008) foram descritos detalhamente em manuscritos
submetidos em periódicos e estão em fase de avaliação.
“Um operante é uma classe que pode ser modificada pelas conseqüências das
respostas incluidas na classe. Essa definição de classe de respostas depende de
propriedades comportamentais do responder [...] As propriedades comportamentais
de classes operantes são baseadas na operação denominada reforço diferencial,
isto é, o reforço de apenas algumas das respostas que se incluem em uma deter
minada classe. Essa operação torna o responder subseqüente cada vez mais
estreitamente ajustado às propriedades definidoras da classe. A característica
A Psicoterapia Analítica Funcional (FAP ; Kohlenberg & Tsai, 1991), é uma estraté
gia que avalia o comportamento do cliente em três classes de respostas : uma classe de
fuga/esquiva, cuja freqüência alta relaciona-se com o sofrimento do cliente (CRB 1); a
classe concorrente, cuja freqüência baixa relaciona-se ao problema clínico (CRB2) e a
classe de descrições de relações entre o responder e suas variáveis controladoras (CRB3).
A FAP tem sido alvo de diferentes investigações e seu uso, com recomenda
ções e limitações, vem sendo discutido para diversos problemas clínicos (Beckert,
2002; Brandão, & Silveira, 2004; Callaghan, 2006; Callaghan, 2006a; Callaghan, Summer,
& Weidman, 2003; Kanter, Schildcrout, & Kohlenberg, 2005; Kanter, Landes, Busch,
Rush, Brown, & Baruk, 2006; Silveira, Callaghan, & Veer, 2007; Vandenberghe, 1999;
Vandenberghe, 2008; Vandenberghe, & Ferro, 2005)
O presente capítulo visa comentar os resultados de estudos feitos pelas auto
ras e colegas sobre o efeito de uma supervisão em FAP que acabaram chamando a
atenção para a relevância DE aspectos muito sutis do responder do cliente, na compre
ensão do processo de mudança clínica. Já há muito tempo a importância dos detalhes
do responder e o efeito da modelagem direta sobre eles vêm sendo explicitada por
analistas do comportamento (Kohlenberg, & Tsai, 1987, 1991) desde as célebres des
crições feitas por Ferster (1967, 1972).
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S essão
F ig jra 2 - Indicação feita pelo terapeuta de. CRB 1 , 2 e 3 ao longp das nove sessões
Considerações finais
Os conceitos de indução, diferenciação, generalização e discriminação, assim
como a noção de classe de resposta têm ajudado a delimitar pontos para a investiga
ção do comportamento no contexto da clínica. Os estudos citados nesse capítulo
adotaram as classes de resposta sistematizadas pela FAP para balizar unidades de
análise ou de medida. Acreditamos que conduzir pesquisas na clínica comportamental
que aumentem a compreensão sobre como aferir classes de resposta relevantes clini
camente pode ser uma maneira promissora de geração de novas questões empíricas,
as quais motivarão novos estudos.
A mudança clínica tende a ser esclarecida, entre outras maneiras possíveis,
com observações de dimensões do responder dentro de uma classe operante crítica
nas metas do tratamento. Ainda percorremos um estágio incipiente quanto ao desen
volvimento de instrumentos para observar e medir eventos sutis na relação terapeuta/
cliente. Somente a modelagem foi discutida nesse capítulo, mas outras possibilidades
de compreensão da mudança clínica podem ser investigadas, apoiando-se nos pro
cessos de estabelecimento de classes operantes não focados aqui, como o desvane-
cimento e o estabelecimento de classes de ordem superior, citados por Todorov (2002).
Referências
Descrição do Caso
Rafaela1tinha 22 anos quando procurou pela terapia. Cursava o terceiro ano de
um curso de graduação e trabalhava com vendas. Morava com sua mãe, mas mantinha
mais contato com a irmã e com o pai, em função da loja desta irmã, onde os três
trabalhavam. Namorava há aproximadamente um ano.
Na primeira sessão, a psícoterapeuta observou que a cliente estava visivel
mente nervosa, suas mãos tremiam, chegava a gaguejar ao falar. Disse à psícoterapeuta
que como já sabia que não conseguiria lhe contar o que estava acontecendo, havia lhe
trazido uma lista com seus problemas. O conteúdo da lista foi lido pela psicoterapeuta
em voz alta e cada item foi sendo comentado com a cliente. Eram, de acordo com a
percepção da psicoterapeuta, problemas gerais e comuns à maioria das pessoas,
como por ex: dificuldade em lidar com sentimentos e emoções; alto nível de exigência
em relação a si mesma e um relato sobre acordar, sentindo-se, freqüentemente, sem
1Nome fictício.
História de Contingências
Os pais de Rafaela se separaram quando ela tinha 16 anos. Ela descreveu o
episódio como tendo sido premeditado por sua mãe, que teria surpreendido toda a
família. Acreditava que a mãe havia se preparado para a separação, pois estudou,
arrumou um emprego e se separou quando tinha condições de se manter sozinha. Por
este motivo, Rafaela chamava a mãe de “psicopata”, durante as sessões. Explicou que
ela era muito próxima da mãe até a separação, mas que desde então, elas nunca mais
se falaram. O rompimento parecia ter sido bastante brusco. Quando chegou à terapia,
Rafaela morava com a mãe, mas mal se viam, falavam-se por bilhetes e apenas o
necessário (rotina da casa, pagamentos de contas).
Na mesma época da separação dos pais, Rafaela também rompeu brusca
mente com uma melhor amiga e com o namorado. A cliente descreveu ambos os rom
pimentos como tendo acontecido de repente, sem que ela percebesse quaisquer si
nais de mudança. Com a amiga, estavam falando pela internet, pois esta havia se
mudado para um estado distante, quando a amiga começou a chamá-la de “sangues
suga” e a dizer que não agüentava mais seu mau-humor e tantos problemas. Quanto ao
2A bola de cristal faz referência às adivinhações que eram realizadas por ciganos e bruxas (aspecto cultural) e pode ser utilizada como analogia
ao ato do terapeuta ter que adivinhar os comportamentos privados do seu cliente.
2. Colocando-se à disposição
Como estes clientes apresentam sentimentos de impotência e confusão, seus
comportamentos (tanto públicos, quanto privados) tendem a ser contraditórios e mu
dam rapidamente. Diante de situações de escolha, tendem a ter dificuldades para
tomar decisões, sendo comuns tentativas de suicídio, em função da intensidade do
sofrimento. Desta forma, o psicoterapeuta deveria deixar claro que está à disposição
para ajudar, tanto no contexto clínico quanto fora dele. Algumas opções interessantes
são deixar o número de telefone com o cliente, caso ele necessite ligar, e ligar para o
cliente, algumas vezes antes, pois em alguns casos é preciso modelar o comporta
mento para que ele seja emitido. No caso de Rafaela, a psicoterapeuta deu seu celular
pessoal e pediu que a cliente a ligasse na sexta sessão. Aproximadamente na semana
anterior à nona sessão, como a cliente não havia ligado, a psicoterapeuta ligou apenas
para lembrá-la que estava esperando sua ligação. Na décima sessão a cliente comen
tou com a psicoterapeuta que havia tentado ligar, mas o celular desta estava ocupado.
A psicoterapeuta procurou elogiar sua tentativa e descreveu que havia ficado chateada
por ela não ter ligado em outro momento em que o celular não estivesse ocupado. Foi
apenas a partir da décima primeira sessão que a cliente começou a ligar, realmente,
para a psicoterapeuta.
Em situações de crise é importante disponibilizar ajuda imediata, uma vez que
o cliente pode estar apresentado sentimentos negativos intensos. Sugere-se resolver o
problema para o cliente, entendendo-se que tal ajuda deve ser focal e relacionada ao
momento da crise (Aguilera, 1990 apud Freeman, & Fusco 2004).
Isto pode implicar em sessões fora dos horários combinados, em vários aten
dimentos telefônicos e até mesmo em supervisão ou atendimento domiciliar. Deve-se
avaliar a gravidade da situação da crise, tendo uma idéia do perigo físico imediato para
o cliente. Sugere-se que o psicoterapeuta nunca vá sozinho até o cliente, pois em
alguns casos de tentativa de suicídio, por exemplo, pode implicar em risco de vida para
o psicoterapeuta.
Referências
1Parte da dissertação da primeira autora apresentada ao Mestrado em Análise do Comportamento/ UEL. Contato: jugavazzoni@yahoo.com.br
2Contato: malumarinho@pq.aipq.br
3 - Analisar antecedentes e conseqüentes Pedir para que o participante descreva, com base
do comportamento de fumar na análise do auto-registro da semana anterior, os
principais antecedentes e conseqüentes do seu
comportamento de fumar. Discutir sobre as
situações descritas pelos participantes.
7 - Propor estratégias para aliviar os Entregar aos participantes, uma lista com as
sintomas da síndrome de abstinência principais estratégias para aliviar os sintomas da
síndrome de abstinência, tais como: beber bastante
água, sucos; reduzir o consumo de álcool e café;
fazer atividade física; fazer inspirações profundas e
depois expulsar lentamente o ar; chupar balas ou
chicletes sem açúcar; substituir o cigarro da mão
por outro objeto; e realizar atividades prazerosas
que sempre foram adiadas.
8 - Avaliar a rede de apoio dos participantes Analisar como foram as reações das pessoas e
Discutir a tarefa realizada sobre contar para reações dos participantes frente às opiniões e
alguém que estão participando de um sugestões do seu meio social.
programa para parar de fumar.
3aSESSÃO Procedimento
1 - Revisar as tarefas da semana Idem 2aSessão.
2 - Discutir sobre o efeito da diminuição do Neste momento, os participantes já podem estar
cigarro na condição física observando algumas melhoras nas condições
físicas. Explicar que algumas sensações
desagradáveis, como tosse e pigarro, também
podem surgir, em conseqüência do organismo estar
recuperando sua função de limpeza das vias
aéreas.
3 - Analisar antecedentes e conseqüentes Idem 2a sessão.
do comportamento de fumar
4 - Propor estratégias para reduzir a Idem 1asessão
dependência fisiológica do cigarro
5 - Propor estratégias para reduzir o Continuar com as estratégias estabelecidas na
consumo de cigarros sessão anterior, no entanto, a partir desta semana
deixar a metade do cigarro sem fumar; aumentar o
tempo sem fumar depois do almoçar ou acordar
para 30 minutos e atrasar 15 minutos o cigarro após
o jantar, café e ceia.
6 -Técnica de controle de estímulos Pedir para que o participante escolher mais três
situações para não fumar na próxima semana. Se
algum participante não conseguiu cumprir esta
atividade durante a semana, este deverá
permanecer com as mesmas situações já
escolhidas na sessão anterior.
7 - Discutir as estratégias para aliviar os Verificar quais foram as estratégias escolhidas para
sintomas da síndrome de abstinência aliviar os sintomas da síndrome de abstinência e se
estas tiveram resultados. Propor que aplique as
mesmas ou outras novas.
8 - Discutir sobre a influência do meio social Perguntar aos participantes, se algum evento
cotidiano, tal como programa de televisão, matérias
em revista, afetou positiva ou negativamente o
programa que estão participando. Levantar uma
discussão sobre os fatos.
9 - Feedback Fisiológico Idem 1asessão
Tarefas de casa:
1 - Fazer o auto-registro do comportamento Idem 1a sessão
de fumar durante a semana
2 - Fazer o gráfico dos cigarros consumidos Idem 1a sessão
diariamente
6 - Ensinar como lidar com os impulsos para Explicar que o desejo incontrolável de fumar tende
fumar a diminuir de intensidade e freqüência, com o
passar do tempo.
Orientar os participantes a utilizar as mesmas
estratégias já expostas para controlar os sintomas
da síndrome de abstinência.
7 - Diferenciar caída de recaída A caída significa a ocorrência de um episódio
isolado de consumo de cigarro, sem que a pessoa
volte a fumar regularmente, enquanto que a
recaída, o retorno ao consumo regular de cigarros.
Em um momento de caída, o participante deve ser
orientado a refletir sobre os eventos antecedentes
que o levaram a fumar, e, assim, lembrar das
técnicas já utilizadas para lidar com situações
semelhantes, como por exemplo: sair do ambiente,
fazer alguma outra coisa, etc. Informar que o
segundo cigarro deve ser evitado para que o
processo de dependência não se desenvolva
novamente, o que seria a recaída.
8 - Discutir sobre problemas que podem Orientar o participante, como proceder diante de
surgir nesta altura do tratamento alguns problemas, tais como: estar mais lento do
que o previsto; retroceder no programa; falta de
motivação ou apoio social.
5a e 6a SESSÕES Procedimento
3 - Informar sobre sensações físicas que Explicar que os participantes podem sentir a boca
podem ocorrer nas primeiras semanas sem seca ou sabor da nicotina na boca, em função da
nicotina eliminação da nicotina através da saliva. Além
disso, revisar as estratégias já expostas para lidar
com a vontade incontrolável de fumar.
4 - Discutir algumas regras inadequadas em Algumas regras inadequadas sobre o abandono de
relação à cessação do tabagismo cigarros devem ser expostas, tais como: ao deixar
de fumar a saúde piora; ao deixar de fumar fica-se
mais ansioso ou nervoso; ao deixar de fumar
ganha-se peso; ao deixar de fumar fica-se
agressivo; ao deixar de fumar perde-se a
concentração; ao deixar de fumar, se ocorre de
fumar um cigarro, volta-se a ser fumante
novamente. Discutir sobre a inadequação de cada
uma das regras.
Feedback fisiológico
Outra estratégia que parece ter tido efeito sobre o comportamento de fumar
durante o programa se refere ao feedback fisiológico. Esta estratégia se caracteriza
pelo fornecimento, aos fumantes, dos resultados obtidos nas avaliações do índice de
monóxido de carbono (CO) do ar expirado, feita através de um aparelho denominado
medidor de monóxido de carbono. O resultado da avaliação ocorre imediatamente após
a expiração de ar no bocal do aparelho. Esta avaliação foi realizada semanalmente
durante as sessões. Quando o participante efetuava a redução do consumo de cigarro,
conforme proposto pelo programa, os valores de CO também diminuíam a cada sema
na. Desta forma, tanto a informação da diminuição nos valores de CO, como os compor
tamentos de aprovação emitidos pelos dois terapeutas e outros participantes podem
ter funcionado como conseqüências reforçadoras para o comportamento de fumar
menos. Em contrapartida, quando o participante não realizava a redução do consumo
de cigarros, os valores de CO permaneciam iguais ou mesmo aumentavam; neste
caso, a informação destes valores pode ter funcionado como conseqüência punitiva
para o comportamento de continuar fumando a mesma quantidade.
Portanto, parece que tanto a parada gradual quanto o feedback fisiológico são
estratégias que aumentam a probabilidade de conseqüências reforçadoras do com
portamento de fumar menos, o que, por sua vez, pode aumentar as chances da retirada
total do cigarro. Estas técnicas podem ser consideradas eficientes na medida em que
promovem o reforço natural do comportamento, ao contrário de técnicas que utilizam
reforços arbitrários, como a gratificação monetária, por exemplo.
Controle de estímulos
A identificação dos estímulos ambientais que funcionam como estímulos ante
cedentes do comportamento de fumar também possibilita a implementação do controle
de estímulos, ou seja, que o indivíduo reduza sua exposição a estímulos que podem
estar associados ao comportamento alvo (Rimm, & Masters, 1983). Várias atividades
propostas pelo programa se fundamentam na evitação inicial de estímulos que exer
cem forte controle sobre o comportamento de fumar do indivíduo ou na realização de
comportamentos alternativos ao fumar.
Uma das orientações se refere a aumentar gradualmente o tempo entre deter
minadas situações e o fumar. Os participantes são orientados a fazer um intervalo entre
situações como acordar, fazer uma refeição ou tomar café e o fumar. Na primeira sema
na, deve estabelecer um intervalo de 15 minutos, passando para 30 minutos e 45
Conclusão
Procurou-se, no decorrer do texto, descrever as estratégias de intervenção utiliza
das em um programa multicomponente comportamental para parar de fumar, assim
como iniciar uma discussão a respeito da funcionalidade destas estratégias a partir da
perspectiva da análise do comportamento. Observa-se, na literatura, que a maioria dos
programas de intervenção para cessação do tabagismo vêm sendo descritos em forma
de pacotes de técnicas sem a preocupação com os fundamentos teóricos envolvidos em
cada uma delas. Acredita-se que para o analista do comportamento, é necessário o
conhecimento das relações que se estabelecem durante uma intervenção para entender
a modificação do comportamento, não se restringindo, desta forma, apenas à avaliação
de resultados. Sem dúvida alguma, conhecer os resultados é extremamente importante e
útil para a aplicação prática de um programa de tratamento. No entanto, entender os
princípios de aprendizagem envolvidos em cada estratégia pode possibilitar maior con
trole sobre as variáveis ambientais relacionadas com o comportamento de fumar.
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Formulação Comportamental
Dados da Cliente
Carla (nome fictício), 27 anos, solteira, estudante universitária, nascida no inte
rior, e a oitava filha de nove irmãos. Quando procurou terapia, trabalhava como secretá
ria em uma clínica.
Queixas/Demandas
No início do acompanhamento psicológico, a cliente trouxe as seguintes queixas:
- Dificuldade de relacionamento com o namorado;
- Baixa auto-estima;
- Baixa tolerância à frustração;
- Estava emocionalmente e financeiramente desequilibrada; e
- Dificuldade em tomar decisões.
Carla trouxe como objetivos: (a) superar os medos (de morte, de se apaixonar,
de sofrer); (b) “enxergar o que realmente quero” (com relação ao namorado); e (c)
“entender porque sofro quando imagino que poderei ser trocada por outra”. As deman
das identificadas pela terapeuta a partir das queixas da cliente foram: necessidade de
Histórico
a) Familiar
Carla relatou ter crescido com “pânico” do pai, por ver “toda a grosseria dele”
com a família. O pai foi definido como muito calado, ausente, com grande envolvimento
3O sím bolo'! indica que o comportamento ocorria em alta frequência, enquanto o sím bolo'! indica o oposto.
b) Social
Sentia-se rejeitada na escola, gostava de estudar, mas não gostava do ambien
te escolar, pois havia um grupinho que sempre brigava com ela (eles zombavam, dizen
do que era feia, por exemplo, e nunca brincavam com ela). Depois dos 5 anos de idade,
começou a se soltar mais. Na adolescência, foi muito sociável, adorava ir a festas e
boates - às vezes, ia escondido do pai, tendo a ajuda dos irmãos.
Depois que conheceu o atual namorado, Emanuel (nome fictício), perdeu o
contato com muitos amigos e afastou-se de seus irmãos. Passou a não ter acesso a
muitos reforçadores positivos e nem ter com quem conversar quando se sentia sozi
nha. Depois de 3 meses de terapia, este quadro mudou: ela passou a sair mais e a ter
contato com outros reforçadores positivos.
c) Afetivo
Teve o primeiro namorado aos 12 anos. Não queria esse namoro, pois não o
achava tão interessante, mas depois acabou se apaixonando. Afastou-se após ele
inventar para os colegas que haviam tido relação sexual. Aos 13 anos, teve sua primeira
“desilusão amorosa”, pois este mesmo namorado começou a namorar outra menina
(os dois se casaram). Carla relatou que ainda não o havia esquecido.
Aos 14 anos, teve um namorado mais velho, o denominou como “galinha”, pois
ele sempre a traía. Depois voltava atrás, pedindo desculpas e ela aceitava (descreveu-
se nessa época como chata e brigona). O namorado resolveu terminar com ela para
ficar com outra pessoa. Aos 15, teve seu primeiro contato sexual, com um rapaz com
quem havia começado a namorar recentemente: decepcionou-se com este namorado,
ao descobrir que ele estava com outra garota.
Aos 16, foi morar em Brasília, conheceu várias pessoas, e envolveu-se
afetivamente com elas. Teve sua primeira relação sexual “concreta”, aos 17 anos, e
novamente se decepcionou, pois o rapaz se afastou logo em seguida, com a justificativa
de que ela estava se apegando demais.
Até os 22 anos, conheceu outras pessoas. Dentre elas, João (nome fictício), um
rapaz que denominou como “a pessoa mais negativa com quem já me envolvi”. Desco
briu que ele era casado, tiveram várias brigas e nunca mais se falaram. Segundo ela,
esta foi a maior decepção da sua vida, e chegou a entrar em depressão. Por fim, conhe
ceu José (nome fictício), namoraram e terminaram depois de 6 meses de relaciona
mento (relatou ter gostado dele, mas ele era pobre). Após alguns dias do término,
conheceu Emanuel, o atual namorado, com quem estava há quase 2 anos. No início da
terapia, morava com Emanuel em uma casa e ele custeava todas as suas despesas.
Após 8 meses de terapia, estava se envolvendo esporadicamente com José
(porque gostava dele e era com quem mais sentia prazer sexual) e duas outras pesso
e) Médico/Psicológico
Apresentava boa forma física, praticava atividades físicas, fazia acompanha
mento com dermatologista (devido a manchas no rosto). Esta foi sua primeira terapia,
embora já tenha apresentado sintomas de depressão (descreveu como sendo uma
tristeza profunda), após ter terminado o namoro com João.
Análises Funcionais
a) Análises Micro
O Quadro 1 apresenta exemplos de micro-análises funcionais realizadas ao
longo das sessões terapêuticas.
b) Análise Macro
Diante dos antecedentes de ficar sem os amigos e não poder sair sem Emanuel,
Carla sentia-se sozinha e cobrava mais atenção e contato dele. Após as cobranças, ele
se aproximava (reforçador positivo imediato), brigavam novamente (punição positiva e
negativa atrasada) e, com o tempo, o relacionamento foi ficando desgastado. Os esque
mas de reforçamento nesta relação eram intermitentes, visto que os reforços eram
apresentados de acordo com a passagem de tempo e/ou com o número de respostas
de cobrança emitidas.
As traições do namorado ocasionavam duas respostas distintas. Ao mesmo
tempo em que ela ameaçava ir embora, aceitava os pedidos de desculpa. Uma das
respostas (ameaçar ir embora) fazia com que as traições baixassem momentanea
mente de freqüência (o reforço era imediato, e Carla sempre usava isto como forma de
ataque ao namorado). Entretanto, o fato de aceitar as desculpas fazia com que ele
sempre “aprontasse” de novo, pois “aprendeu” que ela sempre iria desculpá-lo, inde
pendente do que ele fizesse (esta análise foi realizada pela própria cliente, após 4
meses de terapia).
Após várias ameaças, cada vez menos bem-sucedidas, houve uma tentativa
mais “drástica” de chamar a atenção de Emanuel, por meio da tentativa de suicídio (2
meses antes da terapia). Isto foi totalmente aversivo para ela, pois ele simplesmente riu.
Ordem do namorado para - Liga para o ex,- - Conhecer pessoas (homens),- Sexo f Refoi
que volte à casa das irmãs Busca novos prazeroso,- Sentir-se bem (desejada, li
relacionamentos,- Sai realizada e feliz) E
para festas - 0 relacionamento deles (namorado e
- Náo há cobranças cliente) fica bom, sem brigas ou
com o namorado, não desconfianças.
‘,mexe,, nas coisas
dele procurando
indícios de traições
Objetivos Terapêuticos
Após 5 meses de terapia, os primeiros objetivos foram atingidos:
- Os medos (de morte, de se apaixonar, de sofrer) diminuíram;
- Passou a discriminar o que, de fato, sentia por Emanuel e esperava dessa
relação (assumiu que gostava do conforto que ele proporcionava, e que só abri
ria mão disso caso encontrasse outra pessoa que fizesse o mesmo por ela);
- Avaliou que o sofrimento de ser trocada decorria de suas relações anteriores;
- Estava sendo mais assertiva com o namorado durante as brigas, o que dimi
nuiu consideravelmente as agressões verbais e físicas sofridas por ela;
- Seu círculo social estava sendo ampliado; e
- Estava freqüentando mais constantemente a casa de seus familiares.
Após uma avaliação da terapia, o foco foi alterado, trabalhando-se com os
seguintes temas:
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66 Leonardo Brandão Marques, Olavo de Faria Galvão, Olívia Misae Kato, Thiago Dias Costa
aluno a continuar no curso por apresentar tarefas possíveis de serem realizadas, apre
senta-se como uma alternativa aos métodos coercitivos de “motivação” empregados nos
sistemas de ensino tradicionais. Nestes últimos, em geral, poucas avaliações são apli
cadas e não se exige domínio completo do conteúdo para que o aluno passe de uma
unidade para outra. A divisão das tarefas em unidades pequenas, como é proposto no
PSI, busca uma aprendizagem com menos erros desnecessários. Exigir que o aluno faça
uma avaliação para a qual ele não está preparado é forçá-lo a se engajar em tarefas
frustrantes, que, poderão, até mesmo, atrapalhar futuras aprendizagens. Além disso, em
cursos PSI os objetivos são definidos claramente e estimula-se o estudante a tomar uma
postura ativa em seu processo de aprendizagem. (Lamwers, & Jazwinski, 1989; Buskist,
Cush, & De Grandpre, 1991).
A proposta de Keller compartilha alguns objetivos comuns com a instrução
programada e máquinas de ensino desenvolvidos por Skinner (1958; 1972) (Sherman,
1992; Saville, Zinn, & Elliot, 2005). São características comuns: a análise detalhada de
cada tarefa; a divisão das tarefas em pequenas partes; a seqüenciação das tarefas; a
ênfase no feedback imediato ao aluno e a garantia que o progresso do estudante
ocorra em seu próprio ritmo.
Porém, Keller (1968) afirma que apesar da base comum entre PSI e instrução
programada há diferenças entre as duas propostas. Uma diferença apontada por Keller
(1968) entre o PSI e a Instrução Programada é que no primeiro, as etapas do progresso
correspondem a exercícios, similares a tarefas de casa convencionais, diferentemente
dos desempenhos requeridos pelas máquinas de ensinar e pela instrução programa
da que são tarefas mais simples e pontuais. No PSI as unidades que segmentam o
curso podem ser tão amplas como a análise de um texto base, uma análise de caso ou
um exercício de laboratório (Teixeira, 2004).
Em seu trabalho sobre instrução programada, Skinner se valia das máquinas
de ensinar para controlar o ritmo dos estudantes no curso e gerenciar mais efetivamente
o feedback aos alunos. Suas máquinas podem ser consideradas as precursoras dos
softwares de ensino atuais. Keller considerava essas máquinas, ou computadores,
como ferramentas úteis em um programa PSI. Todavia, tanto os softwares como as
máquinas não são exigências para o ensino pelo sistema PSI (Keller, 1967)
No PSI as principais etapas do progresso correspondem a exercícios, simila
res às tarefas de casa convencionais. O monitor pode discutir com o estudante sobre
uma questão de estudo e conta com autonomia para decidir se o aluno efetivamente
entendeu o problema, mesmo que não tenha escrito a resposta da maneira esperada.
Na instrução programada, por sua vez, a máquina de ensino oferecia algumas limita
ções a um feedback mais flexível, uma vez que o diálogo entre aluno e máquina era
limitado (Keller, 1983).
Existem trabalhos que adaptaram cursos no formato PSI para ambientes
informatizados com bons indicadores de sucesso (i.e. Crowell et a i, 1981; Pear, &
Kinsner, 1988, Brothen, & Wambach 2000; Brothen, & Bazarre 1998). Nas décadas de
desenvolvimento do ensino programado, Skinner não dispunha das facilidades atuais
de uso e acesso aos microcomputadores e à internet. É possível que algumas das
limitações para a avaliação dos exercícios da instrução programada apontadas por
Keller (1968) possam ser remediadas com o uso dos softwares e interfaces
informatizadas atuais (Liu, 2003; Kelly, & Crosbie, 1997; Munson, & Crosbie, 1998; Martin,
Pear, & Martin, 2002b; Pear, & Crone-Todd, 1999; Ray, & Belden, 2007).
Keller vislumbrava a utilização de computadores em cursos planejados com
seu sistema, mas alertava que a informatização dos exercícios ou das correções não
Método
Foram analisados dez estudos de cursos de Psicologia ministrados pelo siste
ma PSI com algumas adaptações para meios informatizados. Em todos os trabalhos,
as variáveis investigadas foram: a forma da apresentação do conteúdo aos estudantes;
a topografia de resposta exigida nas avaliações, a quantidade de avaliações requeridas
por curso; a informatização ou não da apresentação das avaliações do curso; a forma
de monitoria e duração dos cursos.
Os artigos foram selecionados a partir da pesquisa no Journal of Applied Behavior
Analysis, no ERIC e no Web of Science por artigos com as palavras-chave “personalized
instruction”, “PSI”, “programmed instruction” em cruzamento com “computer-based”,
“computer-aided”, “online course” e “web-based”. Após essa primeira busca selecionou-
se os artigos publicados nos últimos 10 anos (1997 a 2007) visando garantir uma amos
68 Leonardo Brandão Marques, Olavo de Faria Galvão, Olívia Misae Kato, Thiago Dias Costa
tra recente dessa temática. A partir deste ponto foram acrescentados artigos anteriores a
1997 que foram citados em pelo menos dois dos artigos já selecionados com os critérios
anteriores. Este critério foi adicionado para garantir que artigos não recentes mas impor
tantes nas pesquisas sobre informatização de cursos PSI fossem analisados.
Todas as disciplinas apresentadas nos artigos faziam parte de cursos de gra
duação em Psicologia, sendo seis de Análise do Comportamento (Pear, & Crone-Todd,
1999; Martin, Pear, & Martin, 2002a; Martin, Pear, & Martin, 2002b; Crosbie, & Kelly, 1993;
Pear, & Novak, 1996), três de bases históricas e filosóficas de teorias da Psicologia
(Pear & Crone-Todd, 1999; Brothen, & Wambbach, 2000) e um curso sobre desenvolvi
mento infantil (Buzhardt, & Semb, 2002).
Behavior
70 Leonardo Brandão Marques, Olavo de Faria Galvão, Olívia Misae Kato, Thiago Dias Costa
tos concomitantes e relacionados, o de ensinar e o de aprender. De acordo com ele, o
que define a aprendizagem é a análise das contingências planejadas para que o aluno
aprenda e não a forma de apresentação das avaliações.
A análise dos artigos selecionados não permite uma conclusão com relação a
melhor forma de apresentação das avaliações em cursos PSI informatizados. Apesar
das disciplinas estruturadas pelo método CAPSI permitirem que os monitores avalias
sem com mais flexibilidade as respostas, o estudante demorava para receber esse
feedback, e, às vezes, a correção era imprecisa como já foi citado.
A correção contingente das respostas, por sua vez, direciona mais rapidamente
o estudante em um conceito. Essa técnica é uma alternativa para a instrução de concei
tos básicos de uma disciplina. Estes conceitos iniciais devem ser mais simples, pois
servirão de base para as explicações mais complexas posteriores. Além disso, como o
feedback do desempenho no sistema CAPSI depende exclusivamente dos monitores,
o custo geral de implementação do sistema compromete sua aplicabilidade em locais
com poucos recursos. A uma grande demanda por monitores ou auxiliares capacitados,
sujeitos raros em quase todas as áreas especializadas no país, exigindo cuidados
adicionais no treinamento destes.
Tipo do feedback
Alguns estudos indicam que o feedback imediato melhora o desempenho aca
dêmico (Beeson, 1973; Kulik & Kulik, 1988; Leeds, 1970 apud Buzhardt & Semb, 2002),
outros apontam que o feedback com atraso melhora o desempenho dos estudantes
em testes de retenção da informação mais do que o feedback imediato (0 ’Neill, Rasor,
& Bartz, 1976; Sassenrat & Yonge, 1969; Strang & Rust, 1973; Sturges, 1978; Webb,
Stock & McCarthy, 1994).
O trabalho de Buzhardt e Semb (2002) indica que há boa eficácia tanto em
sistemas de feedback item-a-item, onde a correção ocorre a pós cada resposta do
estudante, como naqueles onde a correção é apresentada ao final de todo o teste.
Entretanto, há um melhor desempenho dos estudantes quando suas respostas às
questões são corrigidas imediatamente após a emissão das mesmas, (feedback item-
a-item). Seus resultados indicam que há diferença entre os 3 tipos de feedback estuda
dos com relação à retenção imediata do conteúdo pelos alunos. Com relação à reten
ção atrasada, os índices foram de 73.47% para o grupo que recebeu feedback a cada
item respondido sem apresentação fixa dos itens, 73.53% quando a apresentação dos
itens era fixa e 71.33% se o feedback era apresentado apenas ao final dos testes.
Além da imediaticidade do feedback a qualidade de como o desempenho do
estudante é corrigido é essencial. Kluger & DeNisi’s (1996) consideram três pontos
centrais característicos de feedbacks mais efetivos, quando estes são: (1) específicos
à tarefa que o estudante desempenhou, (2) corretivo com capacidade de análise inteli
gente da resposta do estudante e (3) é executado de um contexto familiar para a mode
lagem do comportamento.
Respostas genéricas como “você quase acertou” devem ser substituídas por
feedbacks como “seus resultados indicam que você deve estudar mais sobre reforçador
primário e secundário”. O ideal é que o sistema busque identificar o domínio do conteú
do ou o desenvolvimento de um raciocínio coerente por parte do estudante. Neste caso
o uso de algoritmos que identifiquem as estratégias anteriores - como escolha por
exclusão, comparação de padrões de resposta com seus colegas e outras variáveis,
Procrastinação
O controle do tempo é um dos fatores essenciais para viabilizar cursos PSI.
Apesar do PSI incentivar que os estudantes avancem no conteúdo em seu próprio ritmo,
a maioria dos cursos programados nesta modalidade tem data de início e término. Esses
prazos limites são naturais e dificilmente não existirão em cursos de formação profissio
nal ou escolar. Decorrente desses limites a procrastinação deve ser evitada, visando
garantir o término dos cursos. O fato dos cursos PSI permitirem uma maior flexibilidade
quanto aos períodos de avaliação não deve ser confundido com incentivo à procrastinação.
Estudos recentes têm demonstrado que a maioria dos atrasos nos cursos são devidos
mais ao não engajamento nas tarefas das disciplinas do que por dificuldade em entender
o assunto apresentado na mesma (Brothen, & Wambbach, 2000; Fox, 2004).
Uma vez que cursos PSI aplicam uma quantidade consideravelmente maior de
avaliações do que nos cursos tradicionais é possível controlar com maior precisão os
níveis de procrastinação1. Por isso, estratégias específicas para diminuir a
72 Leonardo Brandão Marques, Olavo de Faria Galvão, Olívia Misae Kato, Thiago Dias Costa
procrastinação em cursos PSI têm sido estudadas. Um bom exemplo foi a solução
encontrada por Brothen e Wambbach (2000). Estes autores pontuavam diferencialmen-
te os estudantes que respondiam as questões de estudo nos prazos médios estipula
dos para cada unidade. Dessa forma conseguiram que 82% dos estudantes comple
tassem todas as questões de estudo no prazo médio estipulado. A bonificação dos
alunos que conseguiam seguir o ritmo médio da turma é um bom exemplo de solução
para as dificuldades de implantação de cursos PSI (Fox, 2004). Esse tipo de estratégia
é condizente com as propostas de Keller (1968) e Skinner (1972) para uma educação
pautada na visão das variáveis motivacionais enquanto relações ambientais,
inidentificáveis nos históricos da interação do estudante com a disciplina.
O uso de pontuações adicionais para os estudantes que cumprem os prazos,
a diversificação da tarefa e o monitoramento constante da freqüência são algumas das
estratégias utilizadas para diminuir a procrastinação e o abandono dos cursos PSI
(Wesp, 1986; Wilkinson, & Sherman, 1990; Tuckman, 1998; Koen, 2001).
Conclusão
O presente trabalho tenta contribuir para o desenvolvimento de metodologias
de ensino à distância, ainda incipiente nas publicações de Psicologia no Brasil (Bell, &
Goodie, 1997 apud Machado, & Silva, 1998). O método PSI já foi aplicado em diversos
cursos informatizados, e sua eficácia foi verificada em cursos com propósitos de treina
mento técnico, ensino de línguas e ensino universitário, e algumas conclusões já co
meçam a ser possíveis.
1Atrasos relevantes nas avaliações com relação à média da turma, dos estudantes
Referências
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Uma vez que um comportamento seja colocado sob controle de um dado estímulo,
freqüentemente verificamos que outros estímulos também são eficazes...... A ex
tensão do efeito a outros estímulos denomina-se generalização ou indução. O
processo sugere que um estímulo discreto é uma noção tão arbitrária quanto a de
um operante discreto. Os ‘elementos idênticos’ de uma resposta têm seus parale
los nos valores ou propriedades de um estímulo que são separadamente eficazes.
Se reforçamos uma resposta a um ponto vermelho redondo de um centímetro
... este princípio é importante para qualquer organismo na vida diária. Como o
meio-ambiente é um fluxo contínuo, é pouco provável que um estímulo qualquer
retorne com forma idêntica... A generalização de estímulos empresta estabilidade
e coerência ao nosso comportamento em um ambiente mutável (Keller & Schoenfeld,
1950/1973, p. 131).
Generalização recombinativa
Diferentes processos podem estar na origem de comportamento novo e a no
vidade pode estar envolvida em qualquer um dos elementos das contingências de três
1“Generalization will be considered to be the occurrence of relevant behavior under different, nontraining conditions (i.e., across subjects, settings,
people, behaviors, and/or time) without the scheduling of the same events in those conditions as had been scheduled in the training conditions. Thus,
generalization may be claimed when no extratraining manipulations are needed for extratraining changes; or may be claimed when some extra
manipulations are necessary, but their cost or extent is clearly less than that of the direct intervention. Generalization will not be claimed when similar
events are necessary for similar effects across conditions".
2 Uma extensa revisão sobre assunto pode ser encontrada em Suchowierska (2006).
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Learning to read in a miniature linguistic system: Some variables that affect behavior control by
compound elements. Journal of the Experimental Analysis of Behavior.
O presente artigo tem por objetivo proceder à revisão dos aspectos teóricos
envolvidos no ensino de habilidades maternas a mulheres vítimas de violência conju
gal, de acordo com a literatura da área.
A violência contra a mulher consiste em uma grave violação dos Direitos Huma
nos. Tal tipo de violência, freqüentemente denominada por violência doméstica é, se
gundo Saffiotti, & Almeida (1995), um fenômeno internacional que assume proporções
epidêmicas, cujo estudo científico teve início apenas nas décadas mais recentes. Difi
cilmente será construída uma sociedade não violenta se a devida cultura de paz não for
propagada, desde o início, no âmbito privado de cada família.
O Laboratório de Análise e Prevenção da Violência (LAPREV), vinculado ao
Departamento de Psicologia da UFSCar tem desenvolvido inúmeros projetos de pes
quisa, intervenção e prevenção da violência em geral, e em específico, da violência
praticada contra a mulher vítima de violência intrafamiliar (ver portal do laboratório para
uma descrição detalhada dos objetivos, projetos e publicações do mesmo:
www.ufscar.br/laprev). Tal trabalho é vinculado ao grupo de Pesquisa do CNPq “Impacto
da Violência sobre o Desenvolvimento Humano: Prevenção e Intervenção”, liderado pela
presente autora, divulgado internacionalmente por Williams, Gallo, & Brino (2005).
O estudo da violência intrafamiliar foi possibilitado com as contribuições do
movimento feminista (Soares, 1998) que alertou sobre o impacto nocivo do sistema
patriarcal nas construções de gênero. Williams (2001a) cita a revisão de Meichenbaum
(1994), apontando as seqüelas verificadas na literatura por mulheres agredidas pelo
parceiro conjugal, sendo essas: alto nível de depressão, ideação suicida, dependência
de álcool ou drogas, sintomas de Transtorno de Estresse Pós-Traumático, ansiedade
crônica, sensação de perigo iminente, distúrbios do sono e/ou alimentação, freqüentes
1Artigo referente a projeto de pesquisa financiado pelo CNPq - Bolsa Produtividade da primeira autora
‘ Professora Titular, Departamento de Psicologia, UFSCar, Coordenadora do Laboratório de Análise e Prevenção da Violência - LAPREV
“ Pesquisadora Pós-Doutorado FAPESP/LAPREV, Departamento de Psicologia, UFSCar
1Fonte de busca: Web of Science, CAPES, Medline, Sage, SpringerLink, Lilacs, Psych. Info, Bireme, Psych. Doc., acervo do LAPREV; palavras-
chave: parentalstyle & dcmestic violence; domestic violence & parenting/mothering; parent intervention; familv intervention: abuseri women &
n arp n tin n : child behavior n ro b le m s & abused women e tradução das mesmas em português.
O problema de pesquisa
Um aspecto a ser esclarecido diz respeito ao trabalho exclusivo com as mulhe
res e não com os parceiros, quando a ênfase sistêmica atual recomenda o envolvimento
de todos os membros da família. O proposital não envolvimento do agressor conjugal
nesse momento se dá por diversas razões: a) a necessidade de um trabalho de inter
venção específico com o agressor no sentido de diminuir seus comportamentos agres
sivos antes de uma intervenção conjunta com a mulher (ver, por ex. Cortez, Padovani, &
Williams, 2005; Padovani, & Williams, 2002); b) uma porcentagem considerável das
mulheres agredidas encontra-se separada dos parceiros em função da própria violên
cia sofrida (ver Williams, 2001c); e c) há poucos dados disponíveis, no momento, sobre
a relação parental de homens que agridem suas parceiras (Guille, 2004).
Feitas tais considerações, a questão decorrente seria: que características de
veriam ter um programa de ensino de habilidades parentais voltado para a mulher
vítima de violência? Tal programa seria útil na prevenção de problemas de comporta
mento nos filhos de tais mulheres? No entendimento das autoras não seria suficiente
a proposta de um programa de natureza exclusivamente educacional, direcionado ao
ensino de habilidades parentais, como os descritos anteriormente.
Pressupõe-se que seria necessário um programa, mesclado com componen
tes psicoterapêuticos e educacionais. A intervenção psicoterapêutica seria fundamental
para lidar com os aspectos emocionais associados ao histórico prévio de violência e
outras experiências traumáticas de forma a gerar autoconhecimento e, assim, maximizar
os aspectos educacionais sobre manejo de comportamento infantil. Além disso, tal
programa deveria prever o desenvolvimento e a adaptação de instrumentos e materiais
educativos para as mães (por ex. cartilhas para a mulher vítima de violência), a adapta
ção e validação de instrumentos estrangeiros úteis para a aferição de medidas envolvi
das na pesquisa e a avaliação da sua eficácia com rigor metodológico. Outra conside
ração a ser feita, é que a intervenção teria que ter uma filosofia de acolhimento de mães
que as vissem como parceiras do profissional e não subalternas, tal como proposto por
Williams e Aiello (2004).
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110 Maria Martha Hubner, Augusto Amato Neto, Renata F. dos Santos Coelho, Luciana Ono Shima
Note-se que aqui persuadir já determina um efeito do comportamento verbal do
falante sobre o comportamento não verbal do ouvinte. Esta relação é aquela estudada
pelos Analistas do Comportamento em toda uma área denominada “comportamento
governado por regras” ou “comportamento governado verbalmente” (Catania, 2003).
Em outro momento da definição do dicionário de Aurélio Buarque de Holanda,
encontra-se um aspecto complexo da persuasão: quando falante e ouvinte são a mes
ma pessoa, possibilidade essa aventada por Skinner (1957); vejamos o que aponta a
definição:
“adquirir persuasão ou convicção; convence r-seno exemplo fica clara essa
possibilidade de auto-persuasão:
Tersuadira-se de que já estava condenada ao inferno". (Inglês de Sousa, p. 65,
em Aurélio Buarque de Holanda, 2005).
Neste exemplo, verifica-se que o ouvinte e falante, sendo a mesma pessoa,
busca efeitos no próprio comportamento verbal e no não verbal, a partir de sua auto-
verbalização.
Américo de Sousa (2001) é um autor português bastante citado quando o
assunto é persuasão. Para o autor, persuadir (do lat. persuadere) é convencer, levar
alguém a crer, a aceitar ou decidir (fazer algo), sem que daí decorra, necessariamente,
prejuízos ao outro. Américo de Sousa busca retirar do conceito uma certa desqualificação
do persuadido, como se esse fosse manipulado, Alerta para o fato, porém, de que como
qualquer outra interação envolvendo um confronto de opiniões, a manipulação (no
sentido de engodo ou dissimulação) sempre pode se instalar nos discursos persuasi-
vos.
A manipulação na persuasão, mencionada pelo autor, remete-nos ao que nós,
analistas de comportamento, chamamos de distorções nos operantes verbais: as topo
grafias podem enganar. Um operante verbal com topografia de tato, por exemplo, pode
indicar um mando sutil (Skinner, 1957). Um exemplo dessa “manipulação” é o de uma
mãe dizer para o seu bebê : “Hum, que comida gostosa!”. Embora a topografia possa
sugerir um tato, pode ter a função de mando para que o bebê coma. Um outro exemplo
dessa manipulação do comportamento verbal, manipulação aqui no sentido de um
possível engodo ou dissimulação, é o que pode ser encontrado na ironia. Um elogio,
em tom irônico, pode ter a função de uma crítica velada.
Américo de Sousa (2001) comenta também que a persuasão pode ocorrer de
maneira pacífica (verbalmente) ou até mesmo de maneira quase coercitiva (com o uso
de graves ameaças e/ou uso de violência). Dependendo do seu objeto e forma de
manipulação, pode acarretar efeitos jurídicos, podendo configurar crime. Alguém pode
responder por crime alheio se for demonstrado “nexo causai” (relação entre causa e
efeito) entre a persuasão e o delito, diz o autor.
Vale ressaltar, ainda na seara jurídica, que persuadir (em forma de coação)
alguém a fazer algo que a lei não permita ou que ela não obrigue, também é crime.
“Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver
reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei
permite, ou a fazer o que ela não manda.” (Art. 146, Código Penal Brasileiro)
Vê-se, portanto, que é necessário discutir-se uma ética da persuasão, colocan
do-se limites até para o comportamento verbal. Skinner (1957) aponta que palavras não
removem montanhas. Mas as questões persuasivas do comportamento verbal nos
apontam que ele pode levar pessoas a derrubarem montanhas por nós (Hübner, 1997).
112 Maria Martha Hubner, Augusto Amato Neto, Renata F. dos Santos Coelho, Luciana Ono Shima
1. Erincíoio da amizade (Cialdini. 2002)
"Para influenciar pessoas, ganhe amizades, descubra semelhanças e elogie
sinceramente. As pessoas preferem dizer “SIM” àqueles que eles conhecem e têm
amizade9’
Nesta orientação de Cialdini, fica claro que o sucesso da persuasão está clara
mente relacionado com a história de vida de reforçamento nas interações entre falante
e ouvinte e, sobretudo, na relação com reforçadores sociais para o ouvinte, emitidos por
aquele que quer persuadir. Skinner (1953) comenta, nesse sentido, os “perigos” de um
reforçador positivo, lembrando da possibilidade de sedução que ele traz.Um a”boa”
persuasão levaria, sem dúvida, em conta os poderes de reforçadores sociais positivos,
que tem a possibilidade de aumentarem a probabilidade de que respostas desejadas
aumentem de freqüência.
2 .0 Princípio da Consistência
“As pessoas seguem e perseguem compromissos claros e consistentes”.
Nesse momento, Cialdini (2002) aponta que o ouvinte (ou suposto cliente) olha
para resultados anteriores, para a relação resposta-conseqüência antes de ser persu
adido ou convencido a comprar.
3. O Princípio da Autoridade
Segundo Cialdini (2002), as pessoas reconhecem o notório saber e têm mais
boa vontade em seguir direções e recomendações de um comunicador no qual enxer
guem uma autoridade reconhecida ou com um conhecimento significativo.
O autor nos remete, neste princípio, ao falante como fonte de credibilidade em
sua história de vida com o ouvinte (ou , como diz Skinner, na crença do ouvinte na
acurácia e precisão do falante). A reação do ouvinte ao falante dependerá dessa história
de vida. O falante deverá ser confiável para o ouvinte.
5. Princípio da Raridade
As pessoas precisam mais daquilo que elas têm menos, diz Cialdini. A Análise
do Comportamento têm incontáveis demonstrações dos efeitos da saciação e privação
como operações estabelecedoras que aumentam ou diminuem a probabilidade de
ocorrência de comportamentos. Penso ser a estes fenômenos que o princípio da rari
dade de Cialdini se refere.
Apesar dos princípios da persuasão de Cialdini (2002) parecerem coadunantes
com muitos dos princípios comportamentais descobertos em laboratórios de análise
experimental do comportamento, discussões e pesquisas em Análise do Comporta
mento apontarão, adiante, as relatividades destes aspectos / princípios empregados
pela área publicitária.
114 Maria Martha Hübner, Augusto Amato Neto, Renata F. dos Santos Coelho, Luciana Ono Shima
contingência é fraco (Torgrud e Holborn, 1990) e se não está claro o reforçador positivo
e se não estão claros os elementos aversivos da contingência (Braam, & Mallot, 1990).
Dito de outra forma, instruções ou controles verbais não podem substituir as sutilezas
de um contato direto com as contingências, pois estas acabam por se imporem (feliz
mente!). Mas as sutilezas persuasivas podem distanciar o contato com as contingênci
as e aumentar a obediência ou evocar a emissão do comportamento, ainda que uma
única vez (e, por vezes, uma única vez é decisiva e irreversível- tomar um remédio, fazer
uma cirurgia, matar, suicidar-se, ter relações sexuais, engravidar, comprar, dentre ou
tros comportamentos). O controle verbal pode se instalar rapidamente e persuadir o
ouvinte. Costuma-se dizer, pelos dados que temos encontrado em nossos experimen
tos, que o controle verbal é temporário e não permanente. Mas, reitero, há situações em
que basta uma única emissão de uma resposta a uma persuasão para que seu efeito
seja deletério. Isso, por si só, justifica nossa preocupação e interesse em estudar as
condições em que a persuasão é efetiva e aquelas em que ela não é.
No que diz respeito à função do comportamento verbal de estabelecer relações
de equivalência, Catania (1999) organiza os achados nos estudos de relações de equi
valência dando-lhes um destaque em sua relação com o comportamento verbal. Para
Catania (1999), o poder instrucional do comportamento verbal, como já mencionamos
anteriormente, é amplificado pela capacidade que temos em estabelecer relações de
equivalência. Analisemos o que diz o autor:
“As comunidades verbais estabelecem certas correspondências entre as pala
vras e os eventos. As correspondências operam em ambas as direções, como
nas classes de equivalência; nomeamos as coisas que vemos e localizamos as
coisas que nomeamos.
Outra correspondência importante para a comunidade verbal é a existente entre o
que dizemos e o que fazemos. Nesse caso, também, a correspondência pode
operar em ambas as direções: se fizemos alguma coisa, podemos dizer que a
fizemos e, se dissermos que faremos algo, então poderemos fazê-lo. Na medida
que a comunidade verbal estabelece certas contingências para tais correspon
dências, podemos modificar o comportamento não apenas por meio de instruções,
mas também modelando o que se diz acerca do mesmo. Se forem reforçados tanto
o dizer quanto a correspondência entre o dizer e o fazer, o fazer poderá ocorrer.
Por meio de tais contingências, o próprio comportamento verbal de cada um pode
se tornar eficaz como estímulo instrucional. ” (Catania, 1999, p.280).
Observem que neste momento Catania (1999) nos traz um aspecto novo sobre
o controle verbal e que pode se relacionar com o que estamos analisando na persua
são: modificar o comportamento de alguém não apenas por meio de instruções, mas
modelando o que se diz acerca do mesmo. Seria a modelagem do comportamento
verbal um procedimento persuasivo?
Em outro trecho de seu texto, Catania (1999) nos aponta para um possível efeito
potencial persuasivo do comportamento verbal:
“A modelagem do comportamento verbal é uma técnica potente para modificar o
comportamento humano, especialmente, sabendo-se aue a distinção entre o com
portamento governada verbalmente .e.o çeim ortm entQ governado qoí çontingéit
cias é relevante tanto para o comportamento, verbal como-para o nã o -ve rb a l, Q
comportamento verbaI modelado ou governado oor contingências é. como o com
portamento não-verbal modelado, sensível às suas conseqüências, mas é. tam
bém. acompanhado pelo comportamento não-verbal correspondente: se o aue
dizemos é modelado, fazemos o aue dizemos.” (Catania, 1999, p. 282)
116 Maria Martha Hübner, Augusto Amato Neto, Renata F. dos Santos Coelho, Luciana OnoShima
Cabe aqui, antes de descrever nossas pesquisas, uma pequena explicação
sobre o termo autoclítico de Skinner (1957): são arranjos que o falante faz de sua própria
fala. Skinner (1957) comenta que qualquer falante não é um mero expectador de sua
fala, mas um ser ativo que organiza e arranja o modo de dizer, explicitando os controles
sobre o seu próprio comportamento. Se alguém diz, por exemplo, “Eu leio e gosto
muito”, o tato sobre o ler é modificado pelo autoclítico “gosto muito”, que qualifica (adjetiva)
o tato de um modo positivo, dando ao ouvinte pistas sobre o valor reforçador do evento
descrito no tato.
Neste sentido, os autoclíticos são partes do comportamento verbal, que modi
ficam a outra parte que os acompanha. Um dos efeitos apontados por Skinner (1957),
para os autoclíticos, é o de aumentar a precisão do controle sobre o comportamento do
ouvinte.
Se o falante é o próprio ouvinte, o tato com autoclítico poderia aumentar o con
trole sobre o próprio comportamento. Se o falante é outra pessoa, o autoclítico pode ter
o mesmo efeito e pode-se descrever o operante em questão como um mando
Se o autoclítico for qualificador e a qualificação for positiva, poder-se ia supor
um aumento na probabilidade do valor reforçador do evento qualificado? E, com isso,
poderia haver um aumento na probabilidade de emissão do comportamento não verbal
descrito e qualificado pelo tato com o autoclítico? Estabelecer-se-ia uma relação
“motivacional” entre o evento qualificado e o comportamento não verbal a ele referente?
Os autoclíticos acrescentariam aspectos persuasivos ao comportamento verbal?
Mandos com autoclíticos qualificadores positivos que têm o efeito aqui descrito
podem ser compreendidos como persuasivos, no sentido de que levariam o outro a
fazer algo, mesmo que uma única vez, para ações de baixa probabilidade de emissão
na história do indivíduo.
Condições em que mandos ou auto-mandos com estas características têm
maior ou menor poder de persuasão serão descritos adiante.
ESTUDO I
Participantes
Participaram da pesquisa quatro estudantes universitários, sendo dois do sexo
feminino - Thaís e Bianca, nomes fictícios - com idade de 17 e 19 anos, respectivamente
e dois do sexo masculino - Marcos e Adriano, nomes fictícios - com 18 e 20 anos,
respectivamente. Os participantes não tinham familiaridade com os conceitos de análi
se do comportamento e não praticavam atividade física regularmente.
Procedimento
As coletas de dados foram realizadas em dois ambientes:
• Uma sala com um microcomputador, em que foram apresentadas fotos de
pessoas realizando atividades como ler, fazer origami, assistir vídeo, pular cor
da, pular na cama elástica e brincar com bambolê.
• Uma sala de espelho unidirecional em que foram disponibilizados: corda de
118 Maria Martha Hubner, Augusto Amato Neto, Renata F. dos Santos Coelho, Luciana Ono Shima
pular, bambolê, cama elástica, revistas, fitas de vídeos diversas (clipes musi
cais, seriados, desenhos animados, instruções de exercícios físicos), papéis e
instruções para fazer origamis. Além desse material, havia disponível uma mesa,
cadeira, televisão e videocassete.
Figura 1. Tempo despendido com exercício físico antes e após sessões com CD, das sessões
realizadas por Thais.
Figura 2. Tempo despendido com exercício físico antes e após sessões com CD, das sessões
realizadas por Bianca.
120 Maria Martha Hubner, Augusto Amato Neto, Renata F. dos Santos Coelho, Luciana Ono Shima
I
1
Figura 3. Tempo despendido com exercício físico antes e após sessões com CD, com Marcos
I
Fiaura 4. Tempo despendido com exercício físico antes e após sessões com CD, das sessões
realizadas por Adriano.
ESTUDO II
O objetivo inicial deste estudo era verificar se as condições ambientais da sala
de atividades eram desfavoráveis à prática de exercícios físicos. Entretanto, a partir dos
resultados parciais, verificou-se que os participantes realizavam atividades físicas e
passou-se a estudar a relação entre o comportamento verbal e não verbal na prática do
origami.
Participantes
Participaram da pesquisa dois estudantes universitários, um do sexo masculi
no - Hugo, 19 anos - e uma do sexo feminino - Suzana, 18 anos. Os participantes não
tinham familiaridade com os conceitos de análise do comportamento e praticavam
atividade física regularmente.
122 Maria Martha Hübner, Augusto Amato Neto, Renata F. dos Santos Coelho, Luciana Ono Shima
Procedimento
O mesmo do Estudo I.
Resultados
Os dois participantes selecionados para este estudo já apresentaram, em Li
nha de Base, o comportamento de fazer exercício físico (como cama elástica e alonga
mento). Sendo assim, foi selecionado o comportamento de menor freqüência - origami
- para o estudo. Nesta fase de Linha de Base ambos os participantes realizaram todas
as atividades possíveis da sala: leitura, origami, assistir TV e fazer exercício físico, tendo
sido a de fazer origami a de freqüência mais baixa (as figuras, descritas a seguir, só
apresentarão os dados relativos à atividade de origami, por ser a atividade de interesse
neste Estudo II).
O objetivo inicial deste estudo era verificar se as condições experimentais eram
desfavoráveis à prática de exercícios físicos. Para tanto, foram escolhidos participantes
que declarassem gostar de atividades físicas e realizá-las com regularidade. Ambos os
participantes realizaram atividades físicas já nas sessões de Linha de Base, indicando
que a sala não era uma condição inibidora para a prática de exercício físico. Com base
nesses resultados parciais, decidiu-se por aplicar o método à atividade de menor
freqüência observada na Linha de Base, que foi para a atividade de fazer origami, como
já apontado.
EiflUjaJL Tempo despendido com origami antes e após sessões com CD, das sessões realizadas por
Hugo.
Discussão
O procedimento de modelagem do comportamento verbal não gerou o efeito de
fazer emergir o comportamento não verbal a ele referente, quando a resposta requerida
foi exercícios físicos. O procedimento de instrução e de instrução com anúncio de
reforçador generalizado poderoso (dinheiro) gerou o efeito de fazer emergir o comporta
124 Maria Martha Hubner, Augusto Amato Neto, Renata F. dos Santos Coelho, Luciana Ono Shima
mento não verbal referente.
Quando se trata da resposta de origami, o procedimento de modelagem do
comportamento verbal parece ter efeitos semelhantes (pelo menos para um dos parti
cipantes) aos encontrados nos estudos de Hübner e Dias (2003), em que a resposta
era leitura.
Uma possível interpretação dos resultados pode estar relacionada com o custo
da resposta e aspectos aversivos envolvidos: quando o custo é alto e há conseqüências
aversivas envolvidas (desgaste físico, por exemplo), apenas a modelagem do compor
tamento verbal mostrou-se insuficiente para fazer o exercício físico ocorrer.
Entretanto, mesmo para respostas de alto custo, o controle verbal ocorreu na
forma de instruções, sobretudo instruções com anúncio de reforçador generalizado
poderoso (dinheiro).
Já com a resposta de origami, que existia na história do participante, embora
em freqüência menor do que outras respostas, a modelagem do comportamento verbal
aumentou a freqüência do comportamento não verbal a ele referente.
Tais resultados estão de acordo com Catania (1999) e Braam e Malott (1990),
que afirmam ser o controle verbal da instrução eficaz quando a resposta envolve compo
nentes aversivos.
No tocante à modelagem do comportamento verbal, o presente estudo aponta
novas condições em que este procedimento pode não apresentar o “sucesso” previsto
por Catania (1999), ao afirmar que ela é uma técnica poderosa de modificação do
comportamento não verbal. A persuasão embutida nesta técnica só parece funcionar
quando a resposta envolvida contém reforçadores intrínsecos ou mais naturais como o
da leitura.
Cazatti e Hübner (2007) realizaram um estudo com seis crianças, cursando o
segundo ano do ensino fundamental, da rede pública de ensino, todas com oito anos
de idade e pertencentes à mesma sala de aula, com objetivos semelhantes àqueles
dos estudos até aqui relatados. Entretanto, a resposta alvo era a leitura e as resposta
modelada verbalmente era a de escolher frases pró-leitura em uma tela de computador.
Foi utilizado um notebook, equipado com mouse e um software especialmente
construído para a pesquisa, programado na linguagem Delph por Andrade, Barros e
Carnevale1.
Nas sessões de livre escolha, foram utilizados lápis de cor, papel sulfite, livros
infantis, massinha de modelar e jogo da memória.
Na linha de Base - Escolha de Atividades de Cazatti e Hübner (2007), os partici
pantes escolhiam as atividades de seu interesse. O objetivo desta fase foi verificar que
tipo de atividades a criança escolhia, se havia alguma preferência entre as atividades
disponíveis e quanto tempo permanecia em cada uma delas.
Três sessões foram realizadas, com duração de 20 minutos cada. As sessões
foram realizadas com intervalo de 24 horas entre elas, totalizando quatro dias, uma por
dia. Os objetos disponíveis para escolha eram: livros infantis, lápis de cor, papel sulfite,
massinha e jogo da memória. Três sessões de Linha de Base II foram realizadas em
seqüência, totalizando 36 tentativas ao longo das três sessões.
A etapa de treino: Reforçamento Diferencial de Escolhas de Frases referentes a
Ler, no estudo de Cazatti e Hübner (2007), envolvia a apresentação de uma tela do
computador na qual apareciam quatro frases diferentes compostas por verbo no infinitivo,
verbo ser no presente e adjetivo (ver Quadro I, extraído de Cazatti e Hübner, 2007).
126 Maria Martha Hubner, Augusto Amato Neto, Renata F. dos Santos Coelho, Luciana Ono Shima
Neste sentido, o poder persuasivo do comportamento verbal parece estar liga
do diretamente à liberação de reforçadores. Se estes são poderosos, na história do
indivíduo, e se o comportamento verbal os anuncia, ao requerer a resposta, este ocorre
na direção do que o falante propõe ou solicita, direta ou indiretamente. Os princípios de
Cialdini sobre pesuasão abordam, ainda que de modo leigo e sutil, esta questão, mas,
obviamente, não empregam o termo técnico que aqui destacamos. Os autocliticos,
embora não tenham sido manipulados diretamente nos estudos, podem ter tido algum
efeito maximizador do poder verbal encontrado, mas não como uma condição suficien
te, pois, se os fossem, os adultos teriam se engajado nas atividades que foram valori
zadas. Há mais estudos a serem conduzidos, para que as sutilezas dos autocliticos
possam ser compreendidas.
Uma boa ilustração, a nosso ver, desta íntima relação entre persuasão e
reforçadores, podem ser encontradas em dois textos da literatura brasileira. Apreciem e
estabeleçam relações entre o fracasso persuasivo do pai da menina, no primeiro conto
e do sucesso persuasivo de Chicó, no segundo texto de Ariano Suassuna à questão
que aqui apresentamos: persuadir verbalmente requer o anúncio de reforçadores posi
tivos (ou negativos). E estamos, assim, de volta ao bom e velho princípio comportamental.
No Restaurante
Carlos Drummond de Andrade
CHICÓ:
- Mandaram avisar para o senhor não sair, porque vem uma pessoa aqui trazer
um cachorro que está se ultimando para o senhor benzer.
PADRE:
128 Maria Martha Hubner, Augusto Amato Neto, Renata F. dos Santos Coelho, Luciana Ono Shima
- Pra eu benzer?
CHICÓ:
- Sim.
PADRE, com desprezo,:
- Um cachorro?
CHICÓ:
- Sim.
PADRE:
- Que maluquice! Que besteira!
JOÃO GRILO:
- Cansei de dizer a ele que o senhor não benzia. Benze porque benze, vim com
ele.
PADRE:
- Não benzo de jeito nenhum.
CHICÓ:
- Mas padre, não vejo nada de mal em se benzer o bicho.
JOÃO GRILO:
- No dia em que chegou o motor novo do Major Antonio Morais o senhor não o
benzeu?
PADRE:
- Motor é diferente, é uma coisa que todo mundo benze. Cachorro é que eu nunca
ouvi falar.
CHICÓ:
- Eu acho cachorro uma coisa muito melhor do que motor.
PADRE:
- É, mas quem vai ficar engraçado sou eu, benzendo cachorro. Benzer motor é
fácil, todo mundo faz isso, mas benzer cachorro?
JOÃO GRILO:
- É Chicó, o padre tem razão. Quem vai ficar engraçado é ele e uma coisa é
benzer o motor do Major Antonio Morais e outra benzer o cachorro do Major Anto
nio Morais.
PADRE, mão em concha no ouvido:
-Como?
JOÃO GR/LO:
- Eu disse que uma coisa era o motor e outra o cachorro do Major Antonio Morais.
PADRE:
- E o dono do cachorro de quem vocês estão falando é Antonio Morais?
JOÃO GRILO:
- É. Eu não queria vir, com medo de que o senhor se zangassse, mas o Major é
rico e poderoso e eu trabalho na mina dele. Com medo de perder meu emprego,
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Capítulo 10
Livro de histórias: uma proposta de
intervenção com o paciente
ocológico infantil
Maria Rita Zoéga Soares1
Mariana Amaral2
UEL
' Doutorado em Psicologia Escolare do Desenvolvimento Humano (USP), Pós-Doutorado em Psicologia da Saúde (Universidade de Valência
- Espanha). Participa do Programa de Mestrado em Análise do Comportamento (Universidade Estadual de Londrina - UEL).
2 Mestranda em Análise do Comportamento - UEL.
Programa de Intervenção
O programa foi desenvolvido em um hospital especializado em oncologia. Mu
lheres participantes do grupo haviam recebido o diagnóstico de câncer de mama recen
temente e ainda não haviam se submetido ao tratamento. Encaminhadas ao setor de
psicologia através de médicos e enfermeiros, as pacientes passaram por uma entre
vista individual e foram convidadas a participar das atividades. Foi utilizada intervenção
breve e em grupo, por ser uma alternativa viável para a atuação do psicólogo no contexto
hospitalar. Tal programa foi aplicado em oito sessões semanais, com duração média
de 90 minutos.
A intervenção utilizada foi do tipo multimodal, onde os conteúdos trabalhados
foram distribuídos entre as sessões e abrangeram: educação para a saúde (informa
ção sobre a doença, tratamento, qualidade de vida, comunicação e expressão emocio
nal); gestão do estresse; ensino de habilidades de enfrentamento; avaliação de rela
ções familiares e incentivo ao suporte do grupo. Para tanto, foram utilizados role-play,
feedback positivo, tarefas entre sessões, auto-observação, treino comportamental e
treino em relaxamento.
Os objetivos foram elaborados a partir das necessidades das pacientes. No
contato inicial, as participantes foram informadas sobre a atuação dos profissionais da
Resultado e Discussão
O programa realizado buscou fornecer informação a respeito do câncer de
mama e ensinar estratégias de relaxamento e de enfrentamento de situações
estressantes, com o objetivo de auxiliar na adaptação ao tratamento. Tal condição pos
sibilitou que pacientes emitissem respostas apropriadas às alterações impostas pela
doença e às exigências resultantes desta.
O fato de pacientes se organizarem em atividades extrasessão proporcionou
maior desenvolvimento em habilidades sociais. O contato com ex-pacientes também
Referências
Eileen P. Flores
UniCEUB, IBAC
Agências Controladoras
Agências controladoras podem ser definidas como grupos responsáveis pela
manipulação de determinado conjunto de variáveis. São melhor organizadas que o
grupo como um todo e, por isso, são mais efetivas no que se refere ao controle ético, ao
poder de estabelecer reforçadores e punidores para os comportamentos dos indivídu
os. Dentre elas, podem-se citar família, escola, religião, governo, psicoterapia e Medici
na (Baum, 1994/1999; Skinner, 1953/2000). No caso específico relatado neste capítulo,
a Geriatria e a Gerontologia Social podem ser consideradas agências controladoras,
tendo em vista o fato de serem grupos formados por diversos especialistas de áreas
afins, com o objetivo de legitimar o envelhecimento como um campo de estudo e inter
venção separado dos estudos envolvendo outras fases da vida.
O Viés da Negatividade
Ao longo do tempo, diversos eufemismos foram utilizados para abordar os
sujeitos alvos de seus estudos e intervenções: “idoso”, “pessoa idosa”, “adulto madu
ro”, “felizidade”, “melhoridade”. A utilização desses “eufemismos” sugere o quão difícil é
tratar a pessoa mais velha sem se reportar a problemas, sejam eles de saúde ou
Considerações Finais
O tema do envelhecimento não teve destaque nas apresentações dos encon
tros da ABPMC, e muito mais se produziu sobre infância. Talvez seja relevante o fato de
serem as crianças sujeitos privilegiados no estudo da aquisição de repertório
comportamental. Há que se levar em conta que os profissionais da infância atendem
também a demanda de ajustar o futuro produtor e (atual) consumidor, e que a socieda
de seleciona trabalhos que ensinam o que os pais devem fazer para que seus filhos
tenham um desenvolvimento “pleno”. Um estudo mais elaborado poderá apontar pos
síveis variáveis que controlaram o estabelecimento de um cenário em que o estudo da
infância foi priorizado. Certamente, tal estudo deverá investigar as demandas sociais
que controlam também o analista do comportamento.
O cenário atual da investigação sobre o envelhecimento poderia contar com
mais estudos que atentassem às diversas variáveis que controlam nosso comporta
mento de produzir conhecimento sobre velhice, e esta é uma tarefa para a qual os
analistas do comportamento podem contribuir. Se temos o propósito de, com as ferra
mentas em que tanto confiamos, transformar o mundo em um lugar mais justo, em que
a ciência possa servir a todos, podemos começar olhando para nossa própria produ
ção científica, nunca abandonando os questionamentos sobre o que produzimos e as
conseqüências sociais dos nossos estudos.
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Introdução
Nos últimos anos, o ensino especial passou por transformações com o objetivo
de reduzir o seu caráter segregacionista em favor de uma proposta pedagógica
integradora das diferenças individuais, privilegiando a educação aos alunos com ne
cessidades educacionais especiais ou deficiências (física, sensorial ou mental) dentro
das classes regulares, isto é, ao lado de alunos considerados normais nas chamadas
classes inclusivas (Feitosa, 2007). A atual Política Nacional da Educação Especial (Bra
sil, 2008) enfatizou ainda mais a garantia do direito à escolarização, à convivência e
aprendizagem em ambientes heterogêneos aos alunos da Educação Especial.
Assim, a importância em focalizar o conjunto de respostas de interações soci
ais de crianças com necessidades educacionais especiais baseia-se na compreen
são de que a sua permanência em sala de aula regular propicia o aprendizado de
comportamentos socialmente mais habilidosos e aumenta a aceitação por pares e
professores (Del Prette & Del Prette, 2005). Por outro lado, repertório social substanci
almente deficitário, como se observa nessa população, pode se tornar uma barreira
para a sua inclusão no ensino regular (Merrell & Gimpel, 1998).
O aprendizado de respostas descritas como de habilidades sociais está pri
meiramente sob a responsabilidade mais direta da família e depois de outros ambien
tes responsáveis pela educação da criança, como a pré-escola, a escola e as agências
de assistência e atendimento à criança (Del Prette & Del Prette, 2001). Assim, entende-
se como primordial o papel da família para a inclusão de alunos com necessidades
educacionais especiais, pois enquanto parte do contexto social do filho, tem influência
na sua preparação para o mundo escolar (Freitas, 2005) e precisa aprender a ser um
agente do processo de integração/inclusão (Lopes & Marquezan, 2000).
maurafreitas@sercomtel.com.br
Considerações Finais
Referências
Leitura Dialógica
A leitura dialógica consiste em um treino focalizado no uso de estratégias evocativas
de comportamentos verbais, utilizando como instrumentos livros ilustrados e a
apresentação de modelos verbais sutis contingentes as verbalizações da crian
ça. É um programa caracterizado pela troca de papéis durante a leitura de livros,
no qual a criança gradualmente torna-se o contador da história, enquanto o cuidador
(pais, irmãos, professores) passa a atuar como um ouvinte ativo, estimulando,
recompensando e expandindo a fala da criança (Whitehurst et a i, 1988).
1Head Starts são programas nos EUA que objetivam o aumento da aprendizagem escolar de crianças de baixa-renda, possuindo como público
alvo crianças de zero a cinco anos de idade; mulheres grávidas e suas respectivas famílias.
2Habilidades precursoras da leitura e escrita, assim como o ambiente que sustenta esses precursores (Whitehurst & Lonigan, 1998,2001). No
presente trabalho tais habilidades são abordadas como tendências ou tipos de categorias disposicionais que identificam a probabilidade de
que ocorram certas ações (Ribes,2000; Ryle, 1949).
Considerações Finais
Os resultados gerais dos estudos de Whitehurst e colaboradores apontam que
os precursores de leitura acurada e compreensiva devem ser trabalhados durante a
pré-escola, evitando assim possíveis problemas no processo de aprendizagem da
leitura no início do processo formal de alfabetização. Para esses autores não é adequa
do esperar que a criança primeiro aprenda as competências relacionadas com símbo
los, tais como consciência fonológica e conhecimento de impressos, para posterior
mente começar as instruções da “linguagem oral” (ex. sintaxe e vocabulário). “A lingua
gem oral” deveria ser parte integral das instruções iniciais de leitura na pré-escola e
durante a escola primária, pois ela não apenas está vinculada a competência relaciona
da com símbolos, que promovem a leitura de palavras, como também proporciona a
fundação para o desenvolvimento de uma “linguagem oral” mais aprimorada, necessá
ria para o sucesso da leitura compreensiva.
Por outro lado, há evidências de que a consciência fonológica associada ao
ensino das relações entre grafemas e fonemas é indispensável para o desenvolvimen
to da leitura, e que a aquisição dessa competência pode prevenir possíveis atrasos
nesse repertório (Byrne & Fielding-Barnsley, 1991; 1993; Capovilla & Capovilla, 2000,
2004; Cardoso-Martins & Batista, 2005). Byrne e Fielding-Barnsley (1989, 1990), ressal
tam que tal competência permite o desenvolvimento do princípio alfabético, o qual con
siste em reconhecer que fonemas podem ser representados por letras específicas,
independente da posição que ocupa em uma palavra. Para esses autores, a aquisição
do princípio alfabético é considerada imprescindível para o desenvolvimento da leitura.
No caso do idioma português deve-se ressaltar que alguns estudos têm desta
cado que a aquisição da leitura e escrita se beneficia mais do ensino da identificação e
manipulação de segmentos silábicos do que treinos de consciência fonêmica, que
enfatizam a discriminação de fonemas (Barrera & Maluf, 2003; Capovilla & Capovilla,
1998, 2000, 2004; mas ver Cardoso-Martins & Batista, 2005).
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Teoria e Pesquisa, 24, 45-58.
1 Diante da apresentação de um estímulo modelo o participante deve selecionar entre os estímulos comparações apresentados aquele que foi
relacionado condicionalmente ao modelo pelo experimentador.
2 Resposta verbal controlada por um estímulo verbal escrito anterior, ocorrendo correspondência ponto-a-ponto entre a resposta e o estímulo
(Skinner, 1957). Por exemplo, diante da palavra escrita MESA uma pessoa diz “M ESA".
3A leitura generalizada ou recombinativa consiste no responder adequadamente a diferentes combinações das unidades lingüísticas que
compõem os estímulos verbais complexos (palavras) previamente ensinados (Mueller, Olmi, & Saunders, 2000). Neste trabalho será usadc o
termo leitura recombinativa pois esse termo tem sido usado de forma mais consistente na área.
4Os estudos mencionados neste item e nos seguintes estão apresentados de forma detalhada no Anexo 1 da dissertação de mestrado de Mislene
Lima Camelo, disponível online em:http://www.ufpa br/ppgtpc/dmdocuments/MisleneCamelo pdf
5Nos testes ortográficos os participantes tinham que escreverem uma folha de papel cada palavra ditada.
6No treino de cópia pela construção de palavras com modelo atrasado, uma palavra impressa era apresentada como modelo e em seguida removida
para o participante iniciara seleção de letras móveis para reproduzi-la. Depois que o participante finalizava a sua resposta, a palavra modelo era
reapresentada para a criança compará-la com a palavra construída.
7A leitura com compreensão sob controle textual das unidades verbais mínimas que compõe as palavras ensinadas.
9 O fading outdo modelo oral é caracterizado pela redução gradual do volume de voz do experimentador ao nomear a palavra impressa e pelo aumenlc
do tempo entre a apresentação do modelo visual e o modelo auditivo.
9No estudo de Stromer et al. (1993) sondas eram avaliações realizadas através de procedimentos de emparelhamento com o modelo (simultâneo
ou com atraso) que identificavam se o responder do indivíduo estava sob controle de todos os componentes de um estímulo complexo ou se estava
restrito a um desses componentes.
10As tentativas eram representadas por um sistema de três letras de Cox e D’Amato, 1982 (citado em Stromer et al., 1993). “S" se referia a um
estímulo composto de um elemento (estímulo simples) e “C", a um estímulo constituído de dois elementos (estímulo complexo). As tentativas
utilizadas no estudo foram sss, css, scc, ccc, csc, ccs, ccc*, scs e ssc, nas quais a primeira letra fazia referência ao estímulo modelo (ordem
da esquerda para a direita), a segunda ao estímulo comparação positivo, e a terceira ao estímulo comparação negativo.
11 Nestas sondas os estímulos complexos (C) foram substituídos por palavras dissílabas (D), e os estímulos simples (S) por palavras monossílabas
(U).
Nesta linha de pensamento, o presente texto conclui sugerindo que novas in
vestigações que usem esta combinação de procedimentos sejam realizadas. Suge
rem-se como propostas iniciais de novos estudos, os seguintes procedimentos: 1)
replicações dos estudos sobre a aplicação conjunta dos procedimentos de equivalên
cia de estímulos (com procedimentos de oraiização, cópia e ditado combinados) e de
consciência fonológica (com treino de relação grafosilábica) e 2) o uso do procedimento
de equivalência de estímulos com a substituição dos procedimentos combinados por
tarefas de consciência fonológica (com treino de relação grafosilábica) (ver Connell, &
Witt, 2004, para um estudo nesta linha no idioma inglês, e Barros, 2007, no idioma
português). Acredita-se que experimentos nesta direção ajudarão na identificação de
métodos mais eficazes para o ensino de leitura.
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1Este relato aponta para um possível diagnóstico de ejaculação precoce, definida como uma ejaculação persistente ou recorrente devido à
estimulação sexual mínima, antes, durante ou logo após a penetração, e no tempo não desejado pelo indivíduo (Associação Americana de
Psiquiatria, 2002; Martins Filho & de-Farias, no prelo).
Análise Funcional
Como apresentado esquematicamente no Quadro 1 (página seguinte), a quei
xa inicial de ejaculação precoce estava acompanhada por ansiedade, gerada no mo
mento de estar com a amante (geralmente, em locais inapropriados); pela cobrança de
separação, por parte da amante; pelas desconfianças, em diversos momentos, por
parte da esposa e dos filhos; pelo medo de ser descoberto mais uma vez pela esposa.
Todas estas contingências (passadas e atuais) favoreciam a ocorrência da ejaculação
precoce com a amante. Além disso, deve-se frisar que Roberto culpava a amante pela
disfunção sexual, afirmando coisas do tipo: “essa sua pressão é que me faz ficar as
sim”.
Observa-se que o relacionamento com a amante se mantinha não pela relação
sexual, mas como uma fuga-esquiva do ambiente familiar: estar com a esposa e os
filhos apresentava contingências aversivas. Estar com a amante era reforçado pelo
carinho, atenção e, em suas palavras, pela “valorização, aumento da auto-estima e
auto-realização”.
Durante a psicoterapia, Roberto atingiu alguns objetivos. O nível de ansiedade
diminuiu, chegando a ter diversas relações sexuais satisfatórias com a amante. Com o
passar do tempo, rompeu este relacionamento, pois as cobranças de separação esta-
vam cada vez maiores. No momento em que o presente trabalho foi redigido, o cliente
estava buscando maior autoconhecimento, assim como mudanças em relação à espo
sa e aos momentos de lazer com os filhos.
Considerações Finais
A manutenção de um comportamento operante (e.g., manter-se em um relacio
namento extraconjugal) pode ocorrer de duas formas: (a) apresentação ou acréscimo
de estímulos reforçadores positivos - neste caso, relacionamento sexual diversificado,
ser valorizado, elogios dos colegas, contato sexual contingente a uma resposta ou
situação; e (b) remoção ou adiamento de algum estímulo aversivo, por exemplo, man
ter-se fora de casa diminuía o contato com as brigas constantes com a esposa (embora
tenha passado a gerar cobranças por parte da amante). Em ambos os casos, o efeito
do reforço será o mesmo: ele será responsável pelo aumento da probabilidade de
resposta, ou seja, eventos que são reforçados no passado têm a probabilidade de
ocorrer no futuro (Catania, 1998/1999; Moreira, & Medeiros, 2007; Skinner, 1953/2000).
Referências
1. Definição e epidemiologia
A palavra obesidade é composta por ob (excesso) e edere (comer), comer em
excesso. Pode ser definida como o excesso de gordura corporal, ou seja, é o excesso
de gordura resultado de sucessivos balanços energéticos positivos, em que a energia
ingerida é maior do que a energia gasta.
A epidemiologia da obesidade estuda a freqüência e distribuição dessa doen
ça nos indivíduos, bem como os possíveis fatores que determinam o seu aparecimento
ou desenvolvimento, que podem ser ambientais e genéticos. A obesidade é uma reali
dade que atinge todas as faixas etárias da população e é comumente avaliada como
um dos transtornos nutricionais mais freqüentes nas crianças e adolescentes. Sua
prevalência tem aumentado de forma gradual nos países desenvolvidos e em vias de
desenvolvimento (Mello, Luft, & Meyer, 2000; Oliveira, & Fisberg, 2003).
O interesse em registrar dados epidemiológicos está em localizar graus de
risco, que aceitem programar linhas de atuação específicas para um determinado gru
po. Dessa forma, existe uma correlação clara entre a gravidade da obesidade e o índice
de desenvolvimento de complicações, principalmente quando o índice de massa cor
poral ultrapassa valores de 40kg/m2 (Damiani, 2000).
O índice de Massa Corporal (IMC - peso em quilos divididos pela altura em
metros ao quadrado) é o parâmetro de escolha para identificar e classificar os tipos de
obesidade. O termo sobrepeso é aplicado quando o IMC excede o percentil 95 para
crianças da mesma idade e sexo, enquanto que o risco para sobrepeso é aplicado para
crianças ou adolescentes cujo IMC está entre os percentis 85 e 95. Em países desen
volvidos a obesidade é considerada um problema de saúde pública e pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) é uma epidemia global. Nos Estados Unidos a prevalência de
obesidade representou cerca de 15% na população infantil e adolescente no período de
2. Etiologia e Complicações
Embora a etiologia da obesidade seja ainda desconhecida, alguns fatores
conhecidos podem favorecer o excesso de peso, classificando a obesidade como uma
doença multifatorial: (1) fatores genéticos (obesidade endógena); (2) fatores ambientais
como: ausência de atividade física e maus hábitos alimentares (obesidade exógena);
(3) fatores psicológicos, psicossociais e culturais (obesidade psicogênica), (Azevedo, &
Spadotto, 2004; Coutinh, & Dualib, 2006).
Os autores ainda afirmam que a obesidade infantil está associada a inúmeras
conseqüências adversas e, atualmente, provou ser um fator de risco para co-morbidades
na idade adulta. As pesquisas indicam que 60% das crianças obesas, de 5 a 10 anos,
apresentam no mínimo um fator de risco para doenças cardiovasculares tais como:
aumento da pressão arterial, dos níveis de insulina sérica ou da dislipidemia, sendo
que 25% das crianças têm dois ou mais fatores de risco. As alterações metabólicas que
ocorrem nos adultos definidas como Síndrome Metabólica (SM) também é diagnosticada
em crianças e adolescentes obesos (Oliveira, Mello, Cintra &, Fisberg, 2004).
Os parâmetros são modificados para adolescentes, nesses identifica-se uma
prevalência de 4,2% de SM e o risco aumenta para quase 50% entre os jovens severa
mente obesos. As doenças crõnico-degenerativas estão aparecendo nos grupos mais
jovens quando associadas com obesidade. Existe forte associação entre obesidade na
juventude e diabete melito tipo 2. Nos adolescentes e adultos jovens, o excesso de gordu
ra abdominal está associada à hiperandrogenemia. Essas alterações hormonais colo
cam a adolescente em alto risco para distúrbios menstruais e síndrome dos ovários
policísticos. A obesidade está correlacionada a diversas alterações hepáticas. E tanto a
obesidade quanto a SM, podem estar ligadas ao desenvolvimento de litíase biliar.
inúmeras outras alterações podem afetar a criança obesa, entre elas: maior
predisposição a problemas ortopédicos (artrose, epifisiólise da cabeça femoral, genu
valgo)', idade óssea avançada; problemas dermatológicos (acantose nigricans); altera
ções neurológicas (pseudotumor cerebri) e problemas psicossociais como isolamen
to e discriminação.
3. Diagnóstico
A antropemetria é um método diagnóstico muito eficiente, dando estimativa da
prevalência e riscos das alterações nutricionais. Alguns métodos diagnósticos podem
classificar o indivíduo em obeso e com sobrepeso. O IMC é o padrão internacional para
classificação de obesidade para adultos. Em crianças e adolescentes, a classificação
de sobrepeso e obesidade a partir do IMC é mais arbitrária, não se correlacionando
com morbidade e mortalidade, como se define para adultos. A classificação da obesida
de de adultos, de acordo com o IMC, segundo a Metropolitan Life Insurance Company,
pode ser verificada no Quadro 1 (Halpern, et al., 1988). Sobre a classificação para
crianças e adolescentes, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos
Estados Unidos desenvolveu curvas que são padrões de referência mais empregados,
para gênero-específico entre as idades de 2 a 19 anos. Esses critérios permitem definir
que crianças com o percentil acima de 95 são classificadas com obesidade e as que se
situam entre os percentis 85-95 são ditas com sobrepeso (Halpern, & Rodrigues, 2006).
190 Myriam Christina Alves Rodrigues, Doralice Oliveira Pires, Sônia Maria Mello Neves
IMC (kg/m*) Classificação Risco para a saúde
18J0 - 243 Peso saudável Sem risco
25JO - 293 Sobrepeso Moderado
30JO - 343 Obesidade Grau I Alto
35JO - 393 Obesidade Grau II Muito alto
>40,0 Obesidade Grau III Extremo
ou Mórbida
Quadro N° 1- Classificação da obesidade segundo o risco para a saúde para adultos
192 Myriam Christina Alves Rodrigues, Doralice Oliveira Pires, Sônia Maria Mello Neves
cia de transtornos emocionais e comportamentais entre os familiares. Para tanto, foram
utilizados alguns instrumentos de medida como o CDI - Inventário de Depressão Infantil,
MASC - Escala Multidimensional de Ansiedade para Crianças e ECAP - Escala de Compulsão
Alimentar Periódica. As escalas de Beck: BDI - Inventário de Depressão Beck e BAI - Inventário
de Ansiedade Beck. Os autores responsáveis pela validação, tradução e adaptação para a
população brasileira, dessas escalas, serão abordados no método a seguir.
Método
Participantes
Participaram desse estudo seis crianças, cinco adolescentes e seus respecti
vos cuidadores (11), todos pacientes de um programa de atendimento multidisciplinar
no tratamento da obesidade infanto-juvenil, oferecido pela Santa Casa de Misericórdia
de Goiânia. As crianças e adolescentes foram identificados pelos números de 1 a 11,
sendo que do 1 ao 5 os sujeitos são os adolescentes (Ad) e seus cuidadores (C) e do
6 ao 11 os sujeitos são as crianças (Cç) e seus cuidadores (C). As idades, sexo e IMC
dos adolescentes constam na Tabela 1 e das crianças na Tabela 2. O IMC dos adoles
centes e crianças foi classificado segundo o Centro de Controle e Prevenção de Doen
ças (CDC) dos Estados Unidos (Halpern, & Rodrigues, 2006) e dos adultos, segundo o
Metropolitan Life Insurance Company (Halpern, et ai 1988).
Materiais/ Ambiente
A aplicação dos testes aconteceu na Santa Casa de Misericórdia, em três dife
rentes salas igualmente apropriadas para essa finalidade. Os testes utilizados foram
BDI, BAI, BES, MASC e CDI cuja descrição e validação são apresentadas a seguir;
Golfeto, Veiga, Souza, & Barbeira (2002) avaliaram as propriedades psicométricas
do Inventário de Depressão Infantil (CDI) adaptado para o Brasil, por meio da análise
fatorial e de consistência interna, com uma amostra de 287 escolares de Ribeirão Preto
na faixa etária de 7 a 14 anos. Os resultados indicaram que o CDI é um bom instrumento
para analisar sintomas gerais de depressão.
Freitas, Lopes, Coutinho, & Appolinário (2001) tiveram como objetivo traduzir,
adaptar e avaliar a aplicabilidade da versão para o português da Binge Eating Scale
(BES) da Escala de Compulsão Alimentar Periódica (ECAP), que avalia a gravidade da
compulsão alimentar periódica em pessoas obesas. Participaram da avaliação 32 pa
cientes obesos com transtornos da compulsão alimentar periódica (TCAP), os resulta
dos indicaram que a escala é adequada para uso clínico.
A escala MASC - Escala Multidimensional de Ansiedade para Crianças foi pro
duzida p por John March (1997) e validada por Michelle Moreira Nunes, cujo estudo, no
entanto, aguarda publicação (http://www.psiauiatriainfantil.com.br/escalas2.htmn. E,
Cunha (2001) traduziu e adaptou as escalas Beck (BDI e BAI) com a permissão de The
Psychological Corporation, U.S.A., com direitos reservados a Aaron Beck (1991).
Foram disponibilizados aos participantes lápis, canetas e borrachas.
Procedimento
1C 34 F 34 Obesidade Grau I
2C 39 F 29? Sobrepeso
3Ad 12 M 2B Obesidade
4C 33 F 27j8 Sobrepeso
5C 34 F 25 Sobrepeso
6Cç 9 F 25 Obesidade
7Cç 11 F 28 Obesidade
7C 46 F 28,8 Sobrepeso
90 34 F 40 Obesidade Mórbida
11Cç 11 M 29 Obesidade
11C 27 F 23 Peso saudável
194 Myriam Christina Alves Rodrigues, Doralice Oliveira Pires, Sônia Maria Mello Neves
um para os cuidadores. Antes dos encontros todos os participantes são pesados e
medidos, com a finalidade de acompanhamento do peso e avaliação do tratamento.
Após a autorização dos cuidadores, para que esse, como também as crianças
e adolescentes participassem desse estudo, deu-se a aplicação dos testes, que acon
teceu em apenas uma tarde, sem mensuração do tempo, com cada grupo de atendi
mento em suas respectivas salas.
Aos adolescentes e adultos foram aplicados o BDI, BAI e BSE; o MASC e CDI
foram aplicados nas crianças. O BSE foi aplicado nos cuidadores das crianças, mesmo
não tendo um inventário para avaliar a compulsão periódica em crianças. Estes foram
corrigidos por duas psicólogas e uma estagiária; após a correção, os dados foram
tabulados e analisados.
Resultados
Comparando os resultados do BDI dos adolescentes e cuidadores, pode-se
perceber que em apenas um caso, de adolescente com traços de depressão modera
da, o cuidador, também, apresenta elevado índice de traços que caracterizam essa
desordem. Os demais dados comparativos entre adolescentes e cuidadores são pare
cidos, mas com predominância de níveis mínimos e leves. Não pode ser observada
uma relação entre os resultados do IMC e do BDI, ou seja, o alto nível do IMC parece não
estar diretamente relacionado aos traços de depressão (vide Tabela 3).
No Inventário de Ansiedade de Beck, foi observado que os resultados dos ado
lescentes quando comparados com os de seus cuidadores também são similares;
11 Cç 29 4 Ausente 49 Presente
196 Myriam Christina Alves Rodrigues, Doralice Oliveira Pires, Sônia Maria Mello Neves
Dos seis pares de crianças e cuidadores, quatro apresentam resultados coe
rentes, quando se compara BDI/CDI e BAI/MASC. Quando se compara os dados dos
adultos, os resultados do BAI e o do BES são similares em metade dos casos e análise
comparativa entre os dados do BDI e do BES mostra coerência na grande maioria dos
pares (vide Tabela 4).
Em geral, não foi possível observar relações entre o IMC e os resultados dos
testes de depressão, ansiedade ou compulsão das crianças, adolescentes e seus
cuidadores. Não foram verificadas, também, relações entre os dados das crianças ou
adolescentes e seus cuidadores quanto aos fatores psicológicos avaliados.
Discussão
No presente estudo os resultados não mostraram uma correlação significativa
entre índices altos de IMC com os escores que indicam ansiedade e depressão nos
participantes. Apenas o cuidador da criança 6C teve (BDI grave) e os cuidadores de
adolescentes 1C (BAI grave) e 2 C (BDI e BAI grave) apresentou TCAP de moderado a
grave. E o adolescente 2Ad que apresentou a ocorrência de escore moderado em todos
os testes, indicando a presença de sintomas de depressão, ansiedade e TCAP e nível
de IMC que indica obesidade. Os demais participantes não tiveram alteração nos testes
de avaliação emocional e comportamental em comparação ao nível elevado do IMC que
indica quadros de sobrepeso e obesidade.
Os resultados de outros estudos como de Pastore, Fisher, & Friedman (1999)
com estudantes de ensino médio que comparou a obesidade com auto-estima e ansi
edade (utilizando o IDATE), indicaram que tanto a autoestima quanto a ansiedade dos
estudantes obesos também não apresentaram diferenças em relação aos não obe
sos. Assim como Caetano et al. (2005) que observaram a ocorrência de sofrimento
psicológico nas crianças de ambos os grupos (obesos e não obesos). Os autores
concluíram que os dados dos instrumentos utilizados não indicaram correlação entre
obesidade e problemas psicológicos ou comportamentais.
Interessante ressaltar se os sintomas de depressão e ansiedade já existiam
na história precedente do indivíduo, antes da obesidade, ou se esses sintomas foram
produzidos após a obesidade, devido aos problemas biopsicosociais gerados pela
obesidade. Damiani (2000) relatou que crianças e adolescentes obesos são grave
mente afetados pela mudança no padrão estético, pelo surgimento de patologias de
correntes da obesidade, que alteram e prejudicam a qualidade de vida e agravam a
situação (a incidência de discriminação social pelos pares é muito alta). Com freqüência,
iniciam-se déficits nas habilidades sociais e transtornos psicológicos. Segundo o au
tor, tais situações podem levar à depressão e a outros transtornos da ansiedade.
A amostra de participantes utilizada nesse experimento não permitiu concluir
estatisticamente a significância dos dados, foi observado pelas pesquisadoras a ne
cessidade de replicação em novas amostras e com a possibilidade de inserção de um
grupo controle. Ainda fica a questão: “Afinal, são, a depressão, a ansiedade e a compulsão
alimentar “causas”, “conseqüências” ou são traços que independem da obesidade?”
Referências
Assumpção Junior, F. B., & Coletty, I. M. S. (2005). Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica
(TCAP) e Ansiedade em Adolescentes Obesos. Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e
Medicina Legal, 99 (03), 5-9.
198 Myriam Christina Alves Rodrigues, Doralice Oliveira Pires, Sônia Maria Mello Neves
Capítulo 18
Intervenção Comportamental em casos
de bulímía nervosa
Myrna Elisa Chagas Coelho-Matos
UEL, IACEP
A literatura acerca do tema bulimia nervosa apresenta, desde 1979, uma gran
de quantidade de pesquisas e estudos controlados que visam descrever, avaliar e
sistematizar tratamentos para o transtorno em questão (Bacaltchuk, & Hay, 1999). Es
ses estudos foram estruturados tendo como base diversas abordagens, tais como
terapia cognitivo-comportamental, terapia interpessoal, psicoterapia de orientação psi-
canalítica, terapia psicodinâmica, abordagem familiar, farmacoterapia, entre outras.
Entretanto artigos fundamentados na teoria da análise do comportamento são escas
sos na literatura.
E -m a iís d o s a u to re s : m \/m an siG o@ b Q l.com .br (a u to r p rin cip a l); ca rin a @ ia c e D .c o m .b r: b ru n a tD @ h o tm a il.c Q m :
Autoconhecimento
200 Myrna Elisa Chagas Coelho-Matos, Carina Paula Costelini, Bruna Troia Pitelli
tificar os eventos antecedentes e conseqüentes dos comportamentos em questão atra
vés da análise funcional.
A análise funcional permite um entendimento das dificuldades que o cliente apre
senta, correlacionando todas as queixas apresentadas entre si, e evidenciando os fato
res de desenvolvimento e manutenção dos comportamentos em questão (Duchesne
1998).
Uma análise funcional ainda envolve o conhecimento da história de vida, a iden
tificação de padrões de comportamento que se repetem, o contexto em que tal comporta
mento ocorre, a identificação da sensibilidade às contingências e de possíveis regras
que governem o comportamento, além da identificação da classe de resposta mais am
pla da qual o comportamento em questão é uma subclasse. Como afirma Lettner (1995),
“a terapia comportamental eficaz depende claramente da especificação precisa das vari
áveis funcionais de desenvolvimento e manutenção uma vez que o procedimento de
modificação é ditado por tal análise” (p. 30). É somente a partir da análise funcional que o
terapeuta pode, com clareza, selecionar e utilizar estratégias alternativas.
Sendo assim, é importante que o cliente desenvolva autoconhecimento para
que, compreendendo as causas de seus comportamentos, ele possa se esforçar para
empreender mudanças comportamentais e buscar interferir nas contingências externas
das quais seus comportamentos são função.
Autocontrole
Outro fator importante no processo terapêutico é trabalhar com o cliente o
autocontrole e as estratégias para a solução de problemas.
Inicialmente orienta-se o cliente a registrar suas refeições diárias, de alimen
tos e líquidos, em um “diário alimentar”. Aconselha-se que o registro seja feito logo
depois da ingestão para maior precisão dos dados. O cliente deve registrar horário,
situação em que se encontrava, pensamentos e sentimentos presentes no momento. A
utilização deste diário é importante para detectar horários e momentos que aumentam
a suscetibilidade do cliente aos ataques bulímicos e identificar a relação destes episó
dios com contingências atuais em operação, colaborando para a elaboração de estra
tégias de intervenção para mudanças de comportamento (Wilson, & Pike, 1999).
Identificadas as contingências atuantes, é o momento de se elaborar estratégi
as de atuação, dentre elas, trabalhar autocontrole com o cliente. O treino de solução de
problemas pode ser muito efetivo. É importante identificar com o cliente quais são os
sinais indicadores de uma situação-problema, qual é o problema em si, as possíveis
alternativas e viabilidade de cada uma delas. Assim, escolhida uma alternativa, deve-se
identificar quais os passos necessários para sua execução e avaliar as conseqüênci
as, (depois de colocada em prática), para verificar a eficácia da escolha realizada.
Quando identificadas as contingências que tornam o indivíduo mais susceptí
vel ao episódio, outra alternativa de autocontrole é tentar retardar o episódio de compulsão:
envolver-se em atividades prazerosas, telefonar para algum amigo, comer acompanha
do, tentar relaxar ou ouvir música quando estiver ansioso, engajar-se em atividades
incompatíveis com o comportamento compulsivo e compensatório. Neste caso, o clien
te pode elaborar uma lista de comportamentos (Duchesne, & Appolinário, 2001).
Assim, mudanças de hábitos e rotinas podem levar a uma exposição maior a
reforçadores sociais e dim inuir o engajam ento em episódios de com er com pulsivo,
vômitos e em atividades físicas exageradas compensatórias (Duchesne, & Appolinário,
Aceitação e Compromisso
Pessoas acreditam que seus sentimentos dolorosos são as causas de seus
problemas e que, por esse motivo, precisam evitar eventos que os provoquem. Essas
auto-regras são organizadas a partir de um contexto sócio-verbal e, por isso, aprendi
das. Assim, demonstram expectativas no sentido de ficarem livres de sentimentos jul
gados por elas como “ruins” como, por exemplo, decepção, vergonha, rejeição, medo,
comportando-se, então, no sentido de evitá-los. De acordo com Hayes (1987), perceber
os sentimentos como problema é, em si, o problema.
Na opinião de Sidman (1995), o problema real não é um controle fraco pelo
"self" mas um controle fraco pelo ambiente. O que a pessoa precisa não é fortalecer a
vontade interior, mas rearranjar o ambiente externo, enfraquecendo as contingências de
esquiva ou promovendo outros reforçadores para o comportamento que se deseja ter.
Segundo Hayes (1987), a comunidade sócio-verbal transmite a idéia de que se
deve controlar pensamentos e sentimentos. Aprende-se que sentimentos negativos
são problemas e que é preciso modificá-los, controlá-los ou eliminá-los. Essa perspec
tiva reforça e mantém auto-regras disfuncionais, tais como “sinto-me triste e como para
aliviar minha tristeza ou ansiedade”, ou ainda, “sinto-me culpado por ter comido e vomi
to para aliviar a culpa”.
Cabe ao terapeuta quebrar o contexto sócio-verbal de que o cliente não pode
sentir, ou que precisa se comportar de maneira a evitar sentimentos e pensamentos
ruins, e ajudá-lo a discriminar que os sentimentos servem para mostrar quais contin
gências estão atuando em sua vida, e que ele é capaz de suportá-los, de tolerá-los e de
se comportar mesmo na presença deles.
Habilidades Sociais
Ao descrever o padrão familiar tipicamente encontrado em casos de bulimia,
Hodes, Eisler, & Dare (1991) citam que os membros da família costumam apresentar
dificuldade de comunicação e de expressão de sentimentos. Assim, percebe-se que
não só o bulímico, como outras pessoas de seu contexto familiar, tendem a apresentar
déficit no repertório de habilidades sociais.
Bolsoni-Silva, & Marturano (2002) colocam que o modo como os pais interagem
e educam seus filhos é crucial à promoção de comportamentos socialmente adequa
dos. Verifica-se que a família do paciente bulímico não fornece um modelo socialmente
habilidoso e, provavelmente, não reforça comportamentos desse tipo, dificultando o
desenvolvimento de habilidades sociais nos filhos. Dessa forma, cabe ao terapeuta
incentivar e favorecer o desenvolvimento de tais habilidades no cliente.
Uma alternativa nesta direção é a Psicoterapia Analítico - Funcional (FAP), a
qual propõe que a condução do processo terapêutico seja através de uma relação
envolvente, sensível, genuína e de cuidado com o cliente, enquanto se beneficia das
definições lógicas e precisas do Behaviorismo Radical (Kohlenberg, & Tsai, 2001).
A FAP utiliza a relação terapêutica como meio para modificar os comportamen
tos clinicamente relevantes do cliente. O entendimento central da FAP é de que o cliente
se comporta em relação ao terapeuta de forma semelhante ao modo como se comporta
202 Myrna Elisa Chagas Coelho-Matos, Carina Paula Costelini, Bruna Troia Pitelli
em outros contextos de sua vida (Kohlenberg & Tsai, 2004).
Baseados na proposta da FAP, Vermes, & Zamignani (2002) citam, como uma
das estratégias possíveis para o desenvolvimento do repertório social, a modelagem a
partir da própria interação terapêutica. Assim, experiências clínicas têm mostrado que
as mudanças de comportamento trabalhadas durante a própria sessão terapêutica têm
grande probabilidade de ser generalizadas para outras situações sociais, contribuindo
efetivamente para a ampliação do repertório de habilidades sociais.
Sessão Educativa
Inicialmente, é importante que o terapeuta forneça informações e explicações
acerca do transtorno (descrições e aspectos psicológicos), dos métodos compensató
rios e da ocorrência dos episódios. Além disso, é importante que o cliente esteja infor
204 Myma Elisa Chagas Coelho-Matos, Carina Paula Costelini, Bruna Troia Pitelli
visam possibilitar que os membros familiares, aliados ao cliente e ao terapeuta, se
tornem colaboradores e facilitadores das mudanças desejadas. Assim, o objetivo das
sessões é aumentar a capacidade de comunicação entre os membros da família,
melhorar as estratégias para solução de conflitos e fazê-los estabelecer, juntos, novos
limites entre si. Para isso, é fundamental discutir as percepções e regras distorcidas,
transmitir informações sobre o transtorno e passar orientações sobre a importância da
empatia, da valorização e da aceitação (Hodes et al.. 1991)
Nem sempre a família é colaborativa. Algumas vezes, a família é resistente às
mudanças necessárias e, em alguns casos, chega até a se recusar a participar do
atendimento. Nessas situações, deve-se trabalhar com o cliente a aceitação e diminui
ção da expectativa em relação à família, além de estimular comportamentos mais inde
pendentes e autônomos (Duchesne, & Appolinário, 2001).
Considerações Finais
O processo terapêutico tem como objetivo identificar os eventos antecedentes
e conseqüentes dos comportamentos em questão através da análise funcional, seja
em casos de bulimia ou em qualquer outro caso, para compreender as dificuldades
que o cliente apresenta.
É somente a partir disso que o terapeuta pode, baseado na análise de antece
dentes e mantenedores do comportamento, selecionar e utilizar estratégias alternati
vas, tendo assim condições de trazer resultados benéficos para o cliente.
Referências
Azevedo, A. M. C., & Abuchaim, A. L. G. (1998). Bulimia nervosa: classificação diagnostica e quadro
clínico. In M. A. Nunes; J. C. Appolinário; A. L. G. Abuchaim, & W. Coutinho. Transtornos alimentares
e obesidade. Porto Alegre: ArtMed.
Bacaltchuk, J., & Hay, P. (1999). Tratamento da bulimia nervosa: síntese das evidências. Revista
Brasileira de Psiquiatria, 21(3).
Banaco, R. A. (1997). O impacto do atendimento sobre a pessoa do terapeuta 2: experiências de
vida. In M. Delitti. (Org.). Sobre Comportamento e Cognição, vol. 2. Santo André, SP: ESETec.
Banaco, R. A. (1999). Técnicas cognitivo-comportamentais e análise funcional. In R. R. Kerbauy e R.
C. Wielenska (Orgs.). Sobre Comportamento e Cognição, vol.4. Santo André, SP: ESETec.
Bolsoni-Silva, A. T., & Marturano, E. M. (2002). Práticas educativas e problemas de comportamento:
uma análise à luz das habilidades sociais. Estudos de psicologia 7(2), Julho.
Borges, N. J. B. G., Sicchieri, J. M. F., Ribeiro R. P. P., Marchini, J. S., & dos Santos, J. E. (2006).
Transtornos alimentares - quadro clínico. Simpósio, 39 (3): 340-8.
Duchesne, M. (1998). Abordagem cognitivo-comportamental. In M. A. A. Nunes, J. C. Appolinário, A.
L. G. Abuchaim, & W. Coutinho (Orgs.). Transtornos alimentares e obesidade; Porto Alegre: ArtMed.
Duchesne, M., & Appolinário, J. C. (2001). Tratamento dos transtornos alimentares. In B. Rangé
(Org.). Psicoterapias cognitivo-comportamentais, Porto Alegre: ArtMed.
Duchesne, M., & Almeida, P. E. M. (2002). Terapia cognitivo-comportamental dos transtornos
alimentares. Revista brasileira de psiquiatria, 24 (supl III); 49-53.
206 Myrna Elisa Chagas Coelho-Matos, Carina Paula Costelini, Bruna Troia Pitelli
Capítulo 19
O desenvolvimento de comportamentos
de civilidade e a orientação de
país na psícoterapia infantil.
Myma Elisa Chagas Coelho-Matos
UEL, IACEP
1. Considerações iniciais
Os problemas de conduta anti-social em crianças fazem parte das queixas
mais freqüentes no cotidiano clínico. Muitos pais buscam a psicoterapia com a expec
tativa de que o psicólogo possa ajudá-los a entender as causas dos comportamentos
anti-sociais de seus filhos e fornecer orientações sobre como lidar com esses com
portamentos, já que, muitas vezes, os pais não conseguem exercer um efetivo controle
sobre seus filhos.
O termo “problemas de conduta” pode ser considerado um termo polissêmico
referindo-se, geralmente, a problemas de baixo autocontrole, incluindo comportamen
tos agressivos e oposicionais, hiperatividade, acessos de raiva, lamentações, irritação
e discussões excessivas (Kazdin,1991). Esses comportamentos podem variar signifi
cativamente quanto ao tipo e à severidade, variando desde um comportamento indócil
de crianças pequenas até a delinqüência entre adolescentes sentenciados (Stoff,
Breiling, & Maser, 1997; Kazdin, 1991).
Marinho, & Caballo (2001), baseados em pesquisas sobre o tema, corrobo
ram com esta idéia e afirmam que há evidências sugerindo que condutas de oposição,
como desobediência, sejam precursoras do desenvolvimento de formas mais graves
de comportamento anti-social. Estes autores afirmam que os problemas de conduta
tendem a progredir dos comportamentos relativamente menos graves (como desobe
decer, gritar) para outros mais disruptivos (agredir, roubar); dos explícitos (como desa
fiar, agredir) para os ocultos (como mentir, roubar); e do ambiente familiar para a escola
e para outros contextos da comunidade.
A análise de centenas de casos nas últimas décadas (Patterson, 1986;
Patterson, De Baryshe, & Ramsy, 1989; Patterson, Reid, & Dishion, 1992) tem indicado
que os membros familiares, inadvertidamente, provêem contingências reforçadoras
Referências
1nataliamara@vahoQ.com.br
2ariela oliveira@hQtmail.CQm
3 lavnesmeraldo@Qmail.cQm
Agradecemos a Anderson de Moura Lima - Professor de Psicologia da Universidade Estadual do Piauí, pela formulação da proposta original da
Associação, em parceria com a Liga do Comportamento - UFC.
212 Natália Santos Marques, Ariela Oliveira Holanda, Elaine Esmeraldo Nogueira
ligas acadêmicas, a Liga do Comportamento - UFC, sua história e atividades, e discutir
eventuais estratégias como forma de contribuição para o fortalecimento da Análise do
Comportamento na Região Nordeste.
Atividades realizadas
1.OsGEBAC’s
Transcorrido o primeiro ano de formação, ainda na condição de grupo de estu
dos, em 2005, a Liga do Comportamento criou um grupo voltado para os alunos dos
primeiros semestres do curso, o Grupo de Estudos Básicos em Análise do Comporta
mento (GEBAC), o qual tinha como objetivos:
1. Criar um ambiente de iniciação aos estudos em Análise do Comportamento
para os alunos dos semestres iniciais do curso de Psicologia da UFC;
2. Estabelecer contingências para a difusão da AC na universidade;
3. Propiciar um espaço de discussão entre os membros do grupo, com participa
ção ativa desses;
4. Permitir aos membros da Liga do Comportamento a experiência docente.
Posteriormente, o GEBAC ganhou continuidade, passando a integrar um total de
três grupos voltados ao estudo da Análise do Comportamento: GEBAC I; GEBAC
II e o grupo de capacitação da Liga.
O GEBAC I tem duração semestral e é integrado por membros da Liga do Com
portamento (facilitadores do grupo) e alunos do primeiro semestre do curso de Psicolo
gia da UFC (público-alvo), que se reúnem semanalmente nas dependências da universi
dade a fim de discutir a bibliografia proposta pelos facilitadores do grupo. No decorrer do
GEBAC I, são apresentados os conceitos básicos em AC e é discutida a visão de homem
presente no Behaviorismo Radical, de modo que os próprios alunos encarregam-se de
apresentar o texto proposto pelos facilitadores, iniciando as discussões no grupo.
214 Natália Santos Marques, Ariela Oliveira Holanda, Elaine Esmeraldo Nogueira
dade, o então projeto de extensão desenvolveu uma parceria com o Grupo de Apoio à
Prevenção à AIDS (GAPA), por meio da qual foram desenvolvidos atendimentos
psicoterapêuticos semanais a pacientes portadores de AIDS/ HIV vinculados à ONG.
O GAPA diz respeito a uma organização não governamental sem fins lucrativos,
fundada em 1989, que tem como objetivo o estabelecimento de uma política eficiente de
saúde pública ligada ao HIV/AIDS no Brasil. Desse modo, atua, dentre outras atividades,
na assistência a portadores do vírus em diversos estados do país, dentre os quais o
estado do Ceará, com o qual foi desenvolvida a referida parceria (http://
www.gaparp.org.br).
Participaram ativamente da parceria os membros da Liga do Comportamento
com experiência em atendimento clínico, vinculados na condição de estagiários à Clíni-
ca-Escola de Psicologia da UFC, de modo que os atendimentos oferecidos ao GAPA
eram realizados nas dependências da universidade. Com a conclusão de cursó de tais
membros, entretanto, foram paralisadas as atividades com o GAPA, visto que não mais
havia, no grupo, membros suficientes com experiência em atendimento clínico.
De todo modo, ainda que tenham sido interrompidas prematuramente, ao final
de apenas um ano, as atividades desenvolvidas na ONG em questão, além de oferece
rem um serviço psicológico gratuito e de qualidade a uma parcela da sociedade, contri
buíram substancialmente com a formação profissional dos membros do grupo, cuja
experiência lhes permitiu a aprendizagem empírica da tecnologia comportamental em
contexto clínico.
3. Pesquisas
No que diz respeito às pesquisas realizadas, estas se dão enquanto iniciativa
voluntária dos membros do grupo, visto que não há nenhuma fonte de financiamento ou
ajuda de custos. Desse modo, dentre as atividades da Liga do Comportamento relati
vas à pesquisa, pode-se citar o desenvolvimento de dois projetos, em andamento.
O primeiro projeto foi desenvolvido e orientado pelo Prof. Dr. João lio Coelho
Barbosa, com auxílio da Liga do Comportamento, além da participação de estudantes
matriculados na disciplina “Pesquisa em Psicologia”. Esse tem como objetivo observar
se o tempo de experiência com atendimentos clínicos constitui-se como uma variável
relevante para as referências do cliente aos seus sentimentos, emoções e estados
motivacionais, para as intervenções do terapeuta frente a essas referências ou para a
evolução dos problemas ou queixas relatadas.
A fim de desenvolver tal análise, serão considerados dois casos clínicos, com
parados quanto aos tipos e freqüências de verbalizações realizadas por terapeutas e
clientes, a partir dos registros das sessões conduzidas. O primeiro caso será o mesmo
utilizado na pesquisa que serviu de base para a elaboração da tese de doutorado do
professor-orientador desta pesquisa, portanto, já registrado, transcrito e analisado de
acordo com as categorias desenvolvidas por Tourinho (2004). O segundo caso clínico,
por sua vez, atendido por outro psicólogo clínico de orientação analítico-comportamental
com mais de 10 anos de experiência clínica, está sendo transcrito e analisado através
dos mesmos instrumentos empregados na categorização do primeiro caso.
Os resultados obtidos poderão contribuir para um melhor conhecimento das
variáveis que interferem no processo terapêutico e para o aperfeiçoamento do ensino
da prática clínica comportamental.
No que se refere ao segundo projeto de pesquisa em andamento, este consis
te em uma iniciativa dos membros fundadores da Liga do Comportamento, em parceria
216 Natália Santos Marques, Ariela Oliveira Holanda, Elaine Esmeraldo Nogueira
da Silva Gimenes, palestrante do evento, a realização de um simpósio intitulado “Inser
ção e manutenção da Análise do Comportamento no Nordeste: O papel das Ligas
Acadêmicas”, idéia prontamente acatada e efetivada pelos membros das duas ligas
acadêmicas (Liga do Comportamento e LiAAC) durante o XVII Encontro da ABPMC.
Desse modo, o presente artigo resulta da apresentação do referido simpósio,
durante a qual foram discutidas estratégias para o fortalecimento da Análise do Com
portamento na Região Nordeste, tais como as propostas a seguir.
Referências
218 Natália Santos Marques, Ariela Oliveira Holanda, Elaine Esmeraldo Nogueira
Capítulo 21
Proposta de Análise Funcional das
Dísfunções Temporomandibulares
Neyfsom Carlos Fernandes Matias
Consultório Particular
1. Introdução
As Dísfunções Temporomandibulares (DTMs) têm sido objeto de estudo de
profissionais de diversas áreas como a Fonoaudiologia, Fisioterapia, Psicologia e,
principalmente pela Odontologia área em que há mais estudos acerca do tema. Até
mesmo no que tange aos aspectos psicológicos relacionados a estas desordens
(Matias, 2008a).
Com o intuito de contribuir para um olhar diferenciado sobre estas dísfunções,
este texto tem como objetivo apresentar uma análise sobre as DTMs a partir da análise
funcional (Skinner, 1974). Para isso, recorre-se à literatura proveniente da Odontologia
para apresentação das características envolvidas nessa temática, em seguida os ter
mos comumente utilizados são descritos a partir da linguagem da Análise do Compor
tamento. Isso faz-se necessário para uma melhor compreensão da proposta de análi
se das DTMs a partir da Tríplice Contingência, que será apresentada.
Além disso, realiza-se uma discussão sobre os principais aspectos e desta
ca-se a importância de se observar o entrelaçamento das contingências envolvidas na
emissão dos Comportamentos Operantes destacados. Na última seção encerra-se o
texto com as considerações finais, com o destaque para a necessidade de estudos
empíricos sobre o tema e da importância da Análise funcional para a compreensão e
elaboração de estratégias para o tratamento das DTMs.
neyfsom@yahoo.com.br
1Em outra oportunidade foi descrito o quanto que afirmações como “ansiedade causa DTM" podem ser pouco significativas para o tratamento
de tais desordens (Matias, 2008b).
, «I
História Prévii SD <m ...> R a ... >m
Pode-se supor a situação em que uma pessoa trabalha com um chefe coerci
tivo. SD corresponde à chegada do chefe no local de trabalho; SI corresponde a uma
estimulação interior do indivíduo, por exemplo, um sentimento de raiva ou medo que
poderá ser uma estimulação para o R1 que corresponde ao comportamento
parafuncional de morder o lábio; R2 de continuar o que estava fazendo ou mudar de
atividade, por exemplo, conversar com o chefe e SR seriam as conseqüências que se
seguem. Ressalta-se que o tempo entre as respostas, em uma situação como a
exemplificada, é extremamente curto, os comportamentos são emitidos em segundos,
o que contribui em certa medida para uma não percepção da realização dos comporta
mentos.
Apesar de haver uma menção à estimulação privada, é preciso lembrar que
“não é possível caracterizá-la sempre como subproduto das contingências. Isso porque
a estimulação privada pode vir a ser tanto um estímulo discriminativo quanto um estí
mulo reforçador para uma instância comportamental qualquer” (Tourinho, 2001a, p.
163). Sendo também pertinente lembrar que em última instância a explicação vai estar
no ambiente e não “dentro do indivíduo” para a emissão ou não do comportamento.
É preciso destacar que apertar ou ranger os dentes, morder o lábio ou boche
cha, é praticamente imperceptível para outras pessoas isso é “quase um comporta
mento encoberto”, ou seja, somente quem emite estes comportamentos é que poderá
detectar a presença ou não deles, apesar de que em alguns casos outras pessoas
podem perceber como Scarpeli (2007) apresenta.
Um ponto de extrema relevância envolvido em toda a análise de comportamen
tos parafuncionais é o de que estes são emitidos inconscientemente na maioria das
vezes não são discriminados. Okeson (2000, p. 128), chama a atenção para o fato de
que “os clínicos devem reconhecer que a maior parte das atividades parafuncionais
ocorrem em grau subconsciente. Em outras palavras, os indivíduos não sabem de
seus hábitos de ranger ou morder bochechas”.
Hií&téftâ Prévia SD fU . - $R
ás ás?
5. Considerações Finais
Este ensaio teórico teve como idéia central propor uma maneira diferente de
enxergar as DTMs, para além do que vem sendo chamado de complicações clínicas
relacionadas à Articulação Temporomandibular e músculos da mastigação, devido a
uma hiperatividade muscular. Julga-se que as questões e variáveis envolvidas são
demasiadamente complexas para serem definidas de maneira tão “simplórias”. Princi
palmente do ponto de vista da importância que uma descrição pormenorizada apresen
ta para a criação de estratégias para o tratamento das DTMs.
Há necessidade de estudos empíricos sobre o tema a partir da Análise do
Comportamento, tendo em vista que tal atividade ainda é embrionária, sendo encontra
das poucas pesquisas com este enfoque teórico.
Referências
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Qicobbflrgfís®gmaLcQm
‘ Trabalho apresentado na sessão “Primeiros Passos", no XVII Encontro da ABPMC.
1No sentido de menor treino de discriminação entre as propostas.
2Peço desculpas, àquele leitor que tem alguma “bagagem" e que julga minha explicação simplista, entretanto, para o objetivo desse texto diria
que essa resposta é suficiente.
3Leia “eleito" como sinônimo de amplamente utilizado ou utilizado por um maior número de grupos espalhados pelo Brasil. Os demais termos
ainda são usados por alguns grupos, porém diria que seus usos são mais regionalizados.
4O homem como parte ativa e integrante da natureza.
AATUAÇÃO CLÍNICA
O terapeuta analítico-comportamental compreende que os comportamentos
que levam uma pessoa a procurar ajuda são comportamentos que, de modo geral,
trazem consigo sofrimento para aquele que se comporta ou para seus próximos.
Segundo Oliveira, & Borges (2007) o terapeuta é procurado para auxiliar o cliente
a: 1) responder de modo a produzir as conseqüências necessárias, sem que a mesma
seja acompanhada de aversividade ou, quando não for possível eliminá-las, que pelo
menos diminua o sofrimento experienciado na situação; 2) mudar a forma como o cliente
responde às situações (age, pensa, sente, etc.), conseqüentemente, alterando o compor
tamento (relação); e, 3) otimizar suas relações com terceiros (ambiente).
8 Refiro-me ao grupo do Paradigma, formado por: Denis Zamignani, Roberta Kovac e Alessandra Lopes Avanzi (Picky).
Para uma maior compreensão dessa discussão sugere-se a leitura de Tourinho (no prelo).
Para maior aprofundamento sobre esse recurso, sugiro leitura de Kohlenberg, & Tsai (2001).
” É importante que os reforçadores que mantêm as respostas não sejam os liberados na terapia. Caso os reforçadores que mantenham a resposta
sejam liberados pelo terapeuta, esse precisará primeiro garantirque os reforçadores sejam produzidos fora da terapia, pois só assim a resposta
se manterá após o término do processo terapêutico
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O objetivo desse texto foi apresentar, de forma introdutória, a prática clínica
conhecida como “terapia analítico-comportamental”, que consiste na aplicação dos
conhecimentos advindos da Análise Experimental do Comportamento e da filosofia
Behaviorista Radical no contexto clínico.
Nessa prática clínica, é comum observarmos os terapeutas tratarem os usuá
rios do serviço como “cliente” em detrimento de “paciente”. Isso se deve a dois fatores:
1) a crença em que o usuário tem papel ativo na construção das mudanças
comportamentais; e 2) a compreensão, por parte desta proposta, que o comportamen-
to-problema é adaptativo, e não “patológico”.
O terapeuta analítico-comportamental planeja suas intervenções após uma
avaliação funcional daquele caso, que se caracteriza pela compreensão da dinâmica
de funcionamento dos comportamentos-problema de cada cliente. Por acreditar nessa
unicidade de cada caso, pretere tratamentos por pacotes, os quais aplicam as mesmas
técnicas a todos os clientes.
Suas intervenções têm como objetivo mudar as relações do cliente com seu
entorno, diminuindo sofrimento ou aumentando o acesso a reforçadores, melhorando a
“qualidade de vida” deles, sem causar prejuízo a outrem.
Seus principais métodos de intervenção são modelagem de “repertórios no
vos” e promoção de autoconhecimento (habilidade de conhecer seus padrões de res
posta e as variáveis das quais elas são função).
Referências
Andery, M. A. PA.; Micheletto, N., & Sério, T. M.A. P (2008). Modo causai de seleção por conseqüências
e a explicação do comportamento. Em M. A. Andery, T. M. Sério, & N. Micheletto (Orgs.). Comportamento
e Causalidade, (pp. 31-48). São Paulo: Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Experi
mental: Análise do Comportamento da PUC.
"Amor é uma reação emocional e que se aprende. É uma resposta para um grupo
de estímulos e comportamentos aprendidos. Como qualquer comportamento apren
dido é provocado pela interação daquele que aprende com seu meio, com a
habilidade da pessoa para aprender..." (p. 72).
É possível pensar, então, que não deva ser o amor por si só que se aprende,
mas aprende-se (e, portanto, se constrói) ao vivenciá-lo numa relação dual tanto os
comportamentos encobertos quanto os abertos. Entre estes comportamentos podem-
se identificar: ternura, cumplicidade, medo, tolerância, raiva, paixão, humildade, rejei
ção, fidelidade, humor, punição, dependência, intimidade do corpo e do emocional,
entre muitos outros; certamente, esta lista jamais se completará.
Vale assinalar que como qualquer outro comportamento aprendido, o amor
está diretamente relacionado às contingências que o ser humano experiencia ao interagir
com seu ambiente e vice-versa, assim como, a história de vida singular das pessoas
envolvidas na relação, além do aspecto de que só emergirá em condições nas quais
são cultivadas interações genuínas. Dessa forma, somente numa relação continuada,
- Na página em que se encontra o item 3-a, referindo-se à expressão do sexto parágrafo “procedimento terapêutico1
(’ ) Na literatura vigente observa-se poucas citações sobre tal procedimento terapêutico. Duas referências a serem citadas: Gottman, J. VI. filSJ
(1976) eSmith (2008).
4. Conclusão
Foram aqui apresentadas algumas reflexões a partir de tão intrínseco e inesgo
tável tema. Quando Skinner (1995, p. 16) deu significado em “eu te amo” como sendo
essencialmente “você me dá prazer ou faz sentir-me bem”, fortaleceu, assim, a idéia de
que há no amor um grande elemento reforçador, ou seja, exatamente as consequencias
que advém do comportamento de amar.
Adequado seria, portanto, o casal experienciar contingências realísticas de um
relacionamento, no sentido de facilitar a construção do mesmo de forma saudável,
Referências
Apoio CAPES
parte da dissertação da primeira autora apresentada ao Mestrado em Análise do Comportamento/ UEL.
Contatos: oliviajb@onda.com.br / malumarinho@pa.cnpq.br
Resultados
Os dois atendimentos de Davi ocorreram em ambientes diferentes, conforme
pode ser observado na Figura 1: o primeiro foi na sala comum da clínica e o segundo na
sala individual do PS. Na primeira consulta, a criança teve seus movimentos restritos
pelo “pacote pediátrico”. Ela tinha acabado de passar por um atendimento de retorno
(que não foi filmado), quando houve exame clínico e a dentista decidiu fazer tratamento
de canal. A posição da mãe era sentada na cadeira odontológica junto com o filho, com
os pés dele em seu colo. Na segunda consulta, a posição inicial da mãe era em uma
cadeira ao lado da cadeira odontológica e depois passou para a posição de sentada
junto com o filho na cadeira odontológica, com os pés do filho em seu colo.
Os comportamentos da díade e da dentista, registrados durante todo o primeiro
atendimento de Davi, estão organizados na Figura 2. O tratamento foi de pulpectomia
(tratamento do canal do dente), realizado por duas dentistas com a ajuda de uma tercei
ra, com duração de 38 minutos e 10 segundos. A Figura 3 apresenta o registro dos
comportamentos da díade e das dentistas na consulta de retorno. O atendimento de
choque, por duas dentistas, durou 7 minutos.
A Tabela 1 apresenta dados quantitativos do comportamento de Davi e de sua
mãe durante as duas consultas odontológicas transcritas.
s •:
i:; 5 ' ?V -::U >ix -;;i w: >/Í y i j:
M n segura o filho com a m ão, o faz deitar e d iz “ Fica aí” . A m ãe fica agradando a
b arriga c as p cm a s da cria n ça c olhando para o filho
D e n tis ta “V ocê q u er colo? V ocê já está no colo da m am ãe!”, “ A tia vai dar
um desenho bem bonito para você p in tar depois” .
^ D e n tis ta “A tia vai fazer teu dente d orm ir e você não vai sentir nad a !”
D e n tis ta “V am os fa zer o d entinho d orm ir? A tia vai p assar pom ada cheirosa,
com gosto de m enta!”
continua chorando e com eça a g ritar com freqüência. M ovim enta seus pés e às
:ze^ ^enta m exer o corpo e as pernas.
D en tista “ Legal heim ! A tia vai lim par o seu dentinho! V am os o lhar para ver sc
II está bonito! B ate a m ão igual parabéns para ascender a luz.
\ *=
não m ex e as m ãos e continua quieto
D entista “ A tia vai su b ir a cadeira p ara en xergar o teu d en te” e m ovim enta a
c a d eira p a ra cim a. “ A gora a tia vai o lh ar”
choram inga
M d levanta e senta na cadeira ju n to com o filho, com os pés dele em seu colo.
Pica seg urando as pernas do filho e olhando p a ra ele.
D entista “ M am ãe tá aqui!”
pára o choro
D en tista “A h, você é tão bonito D avi!” “V ocê não gosta de lim par o dente?”
3‘30 “T á só escovando o dentinho!”
Discussão e Conclusão
Analistas do comportamento consideram que os comportamentos maternos
podem exercer função de variáveis ambientais para o comportamento infantil. Por isso,
é possível que os pais modifiquem o comportamento de seus filhos por alterarem as
condições antecedentes e conseqüentes ao comportamento da criança (Hübner, 1999).
Algumas evidências dessas relações funcionais entre os comportamentos maternos e
infantis puderam ser verificadas nos dados da presente pesquisa. Por exemplo, obser-
vou-se que ocorreu diminuição na freqüência do choro da criança quando a mãe acari
ciou seus pés a pedido das dentistas. O agrado da mãe pode ter funcionado como sinal
de apoio que amenizou o efeito da estimulação aversiva. No entanto, foram poucos os
ciados que demonstraram uma modificação pontual do comportamento infantil diante
de uma ação materna. Provavelmente, o comportamento da criança estava mais sob
controle dos procedimentos odontológicos do que dos comportamentos maternos apre
Referências
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Rosana Angst
PUCPR
A pesquisa
Participaram da presente pesquisa 23 indivíduos do sexo feminino, na faixa
etária de 18 a 24 anos, alunas do curso de Psicologia de Universidades particulares da
cidade de Curitiba-PR.
Resultados e Discussão
Até uma determinada idade, que varia de criança para criança, o ambiente
social é composto apenas pelo contexto familiar, entretanto, isso se modifica quando há
o ingresso na escola. Hoje as crianças vão para a escola cada vez mais cedo e a família,
portanto, divide espaço na vida da mesma com os novos amigos e professores. As
relações que as crianças estabelecem com os pares também interferem na construção
dos repertórios comportamentais característicos de cada um. “Fora do contexto familiar,
o contato da criança com o seu grupo de iguais, como na escola, proporciona oportuni
dades de cooperação interpessoal, negociação ou trocas, que são essenciais à apren
dizagem e ao desenvolvimento de interações saudáveis” (Lisboa, & Koller, 2008, p.3).
No entanto, essas relações podem ser tanto benéficas quanto prejudiciais a auto-
estima infantil, de forma que esse impacto pode vir a influenciar a forma como esta
criança, vai lidar com o mundo ao seu redor e seus conseqüentes desafios.
Essa compreensão a respeito de si e do mundo ao seu redor acompanha a
criança ao longo de todo o seu processo de desenvolvimento. Trata-se de regras apren
didas que controlam o comportamento dessa pessoa gerando conseqüências, inclusi
ve, na fase adulta. Conforme Skinner (1981/1953, p.31), “(...) o autoconhecimento é de
origem social. Só quando o mundo privado de uma pessoa se torna importante para as
demais é que ele se torna importante para ela própria.”
No caso do bullying feminino, a interação social parece ser ainda mais
determinante para a construção da auto-estima infantil já que o que controla o compor
tamento das meninas é a presença, ou não, do reforço social emitido pelo grupo de
pares. Ao serem perguntadas a respeito da forma como as meninas podiam ser “mal
dosas” entre elas, pôde-se observar que 52% das participantes apontaram fofocas e
intrigas, seguidos pelo deboche (22%) e exclusão do grupo que foi apontada por 12%
das entrevistadas.
As respostas das participantes do presente estudo, a princípio, correspondem
ao que aponta a literatura. Simmons (2002), caracteriza a expressão da agressão infan
til feminina como diferente daquela demonstrada pelos meninos. Estes têm a tendên
cia de demonstrarem a agressividade a partir de condutas físicas, enquanto aquelas
demonstram através de condutas mais sutis, utilizando a agressão verbal e a manipu
lação do grupo social como formas coercitivas de manipular o ambiente social.
Ao serem questionadas se já foram autoras de fofocas ou apelidos que acaba
ram por isolar alguém do seu grupo de amizades, 44% responderam que sim, enquan
to que 40% responderam que não. Observa-se que, embora muitas não tenham sido
autoras de agressões contra seus pares, o número de autoras se mostra significativo.
Conforme Middelton-Moz, & Zawadski (2007/2002), as crianças se classificam
Considerações finais
Embora existam diversos estudos que apontem as características do bullying,
que estudam e fazem levantamentos quanto às variáveis que interferem na manuten
ção e determinação desse padrão comportamental, há pouca literatura que dedique
estudos à caracterização do mesmo padrão apresentado por meninas (Fante, 2008).
Esse dado pode ser uma das variáveis que determina a discrepância entre as respos
tas apontadas pelas participantes ao longo do presente estudo.
Diante do exposto anteriormente, fica ainda mais evidente a necessidade dos
estudos quanto ao fenômeno comportamental caracterizado como Bullying, todavia é
necessário que sejam realizados estudos que discriminem os padrões
comportamentais apresentados por meninos e por meninas.
Os estudos que tratam a questão do bullying atualmente enfatizam a urgente
necessidade de programas de intervenção que visem a prevenção da ocorrência desse
fenômeno, a fim de proporcionar o desenvolvimento global desses indivíduos (Pietro,
Navarro, & Mora, 2005; Sanchéz, 2006).
Porém, é necessário ressaltar que muitas vítimas já sofreram com o bullying e
que suas conseqüências são visíveis em sua vida adulta. Dessa forma, programas que
visem o esclarecimento sobre o termo e formas de lidar com os sentimentos gerados
Pelos atos de agressão é fundamental para garantir a saúde de jovens adultas para que
Possam ter melhoras em suas relações sociais futuras.
Constanni, A. (2004) Bullying: como combate-lo. (E. V. Moraes, Trad.) São Paulo, S.P: Itália Nova
(versão original em língua portuguesa, 2002).
Fante, C. (2005) Fenômeno bullying: como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz.
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Pietro, M. T., Navarro, J. C. C., & Mora, J. J. (2005) La violência escolar: un estúdio en el nivel medio
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Paulo: Martins Fontes, (edição original em língua inglesa, 1953).
266 Priscila Corcelli Barbosa, Maria Goreth Vieira Ribeiro, Sônia Maria Mello Neves
variáveis. Dessa forma, para que o trabalho parental seja efetivo, são necessários três
passos: os pais devem adquirir habilidades e modificar seu próprio comportamento,
implementar mudanças com as crianças, nas quais devem generalizar e persistir (Hübner,
& Marinotti, 2006).
O modelo de intervenção proposto por Alexander etal., em 1982 (apud Caballo,
& Buela-Casal, 2007), adota uma orientação baseada na teoria comportamental e
sistêmica, que identifica cinco dimensões da intervenção:
(a) as fases da intervenção, (b) os objetivos de cada fase, (c) as funções do
terapeuta, necessárias para alcançar os objetivos, (d) os tipos de habilidades do
terapeuta, necessárias para conseguir as funções de cada fase, e (e) as atividades
representativas implicadas em cada fase. As fases da intervenção são as seguintes:
1. A fase de introdução/impressão refere-se às expectativas que se criam antes
da interação terapêutica. A principal função do terapeuta nessa fase é a conquis
ta de credibilidade e a criação de expectativas de mudança para a família.
2. A fase da avaliação/compreensão, cujos objetivos são compreender o com
portamento, o afeto e a cognição na família. Além disso, o terapeuta necessita
inteirar-se do que precisa mudar e das variáveis intrafamiliares e extrafamiliares
que facilitarão e obstaculizarão a mudança positiva. Também deve identificar o
contexto e as funções dos padrões problemáticos e desadaptativos, e avaliar os
padrões de resposta cooperativos e de resistência para com o terapeuta, além
de identificar os sistemas de valores e o tipo de linguagem da família.
3. Fase de indução/ terapia, que tem como principal objetivo a criação de um
contexto favorável à mudança. Baseia-se em processos motivacionais e
atributivos tornados manifestos através de intervenções específicas. Esses pro
cessos implicam mudar o significado do comportamento dos membros da famí
lia, enfatizando especialmente as atribuições positivas. Também se definem os
problemas e se estabelece um tipo de linguagem, de modo que a família veja a
mudança como desejável e possível. Durante essa fase, o terapeuta também
modifica as reações adversas, proporciona uma explicação razoável das técni
cas de tratamento e desenvolve procedimentos para estabelecer controle sobre
pessoas que não estão envolvidas diretamente na terapia.
4. Fase de tratamento/educação, em que o principal objetivo é produzir uma
mudança a longo prazo na família. Planejam-se, cuidadosamente, mudanças
nos padrões de interação, aplicando as técnicas de modificação de comporta
mento. Atividades representativas dessa fase incluem o treinamento em comu
nicação, o contrato comportamental, a modelação e a manipulação de aconteci
mentos ambientais para estabelecer o controle do estímulo e as conseqüências
apropriadas.
A análise funcional do comportamento de cada membro da família é necessária
para particularizar a aplicação das técnicas às famílias. Nessa fase, também se
identificam e modificam o afeto, a cognição e o comportamento resistentes.
5. Fase de generalização/finalização, cujos objetivos consistem em manter as
mudanças iniciadas previamente. Às vezes, será necessário aplicar técnicas
específicas para assegurar a generalização, como a superaprendizagem, a an
tecipação e representação de crises e tensões futuras na família, e a avaliação e
intervenção direta em sistemas extrafamiliares. É necessário certificar-se de
que o problema terminou e que foram alcançados estilos de solução de proble
mas e processos familiares adaptativos (Caballo, & Buela-Casal, 2007).
Método
Participantes
Participaram do estudo, duas famílias (família 1 e família 2). O adolescente da
família 1 era M. G F., do sexo masculino, 13 anos de idade e com índice de massa
corpórea (IMC) de 25,89 kg/m2. Na família 2, a pre-adolescente era T. V. P do sexo
feminino e idade de 10 anos e IMC igual a 29,71 kg/m2. Ambos os participantes são de
condição sócio-econômica média, os quais, já participavam de um programa de atendi
mento multidisciplinar com foco em obesidade, realizado na Santa de Casa de Miseri
córdia em Goiânia. O critério para seleção dos participantes foi a disponibilidade de
tempo e interesse dos mesmos em participar desse estudo.
A participação dos pré-adolescentes foi autorizada pelos pais, através da assi
natura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Materiais
Para a coleta de dados, utilizaram-se os seguintes recursos: caneta, gravador
de voz, folhas em branco papel A4, computador, impressora HP Deskjet 870Cxi. Foram
também utilizadas figuras de revistas e um projeto arquitetônico do interior de uma
casa.
Local
O estudo foi realizado primeiramente através de visitas ao hospital da Santa
Casa de Misericórdia de Goiânia a fim de possibilitar a seleção das famílias participantes.
Posteriormente foram realizadas visitas domiciliares nas residências dos mesmos.
Procedimento
O estudo ocorreu em dois momentos. O primeiro foi realizado por duas estagi
árias, que freqüentaram o Hospital da Santa Casa de Misericórdia, em Goiânia, onde
entrevistaram todas as famílias engajadas no programa multidisciplinar da Santa Casa.
Essas primeiras entrevistas eram voltadas às questões socioeconômicas e visavam
conhecer as famílias que freqüentam o programa.
Deste modo, as estagiárias se apresentavam aos participantes, e pergunta
vam-lhes se gostariam de participar de uma pesquisa sobre a obesidade infanto-juve-
nil. Explicaram que seriam realizadas visitas a suas casas, para conhecimento da
família e de sua dinâmica e seu funcionamento. Esclareceram que as famílias seriam
procuradas para confirmar o inicio do trabalho. Das 14 famílias participantes do progra
ma da Santa Casa, duas foram selecionadas, uma vez que se dispuseram a receber as
estagiárias.
Posteriormente, realizou-se contato por telefone com as famílias selecionadas,
para marcar a visita. Solicitou-se que escolhessem os horários de sua preferência. As
famílias foram também informadas sobre a necessidade da presença de todos os
268 Priscila Corcelli Barbosa, Maria Goreth Vieira Ribeiro, Sônia Maria Mello Neves
familiares moradores da casa, ou, pelo menos, a maior parte deles, em especial os
responsáveis pelos adolescentes.
Na primeira visita, realizou-se a leitura do Termo de Consentimento Livre Escla
recido, que foi assinado pelo responsável do participante. As estagiárias esclareceram
que, como consta no documento assinado, todos os encontros seriam gravados, e que
os cômodos da casa seriam observados e também seriam listados os alimentos pre
sentes nos armários da cozinha e na geladeira.
Nos encontros posteriores, aplicou-se o questionário direcionado às famílias.
Elaborado para a coleta de dados dos possíveis causadores da obesidade do adoles
cente, o instrumento divide-se em questões sobre fatores socioeconômicos, emocio
nais, comportamentais e cognitivos; genéticos e históricos; nutricionais, relações
interpessoais e familiares. Desde o questionário, já se aplicava o modelo de interven
ção proposto por Alexander et al. (1982, apud Caballo, & Buela-Casal, 2007), que pro
põe primeiramente a fase de Introdução/Impressão.
No segundo momento, selecionou-se a família de M. G. F., de acordo com o
critério de disponibilidade de tempo e interesse em continuar participando do estudo. A
partir daí, a pesquisa passou a contar com apenas uma estagiária. Deu-se continuida
de à utilização do modelo de intervenção de Alexander et a i (1982, apud Caballo, &
Buela-Casal, 2007), com a aplicação da segunda fase, de Avaliação/Compreensão.
Nesse momento, deu-se, primeiramente, um feedback dos aspectos positivos e nega
tivos observado no primeiro momento, referente às condições domiciliares/familiares
relacionadas com a obesidade. Foi elaborada, conjuntamente, uma lista de mudanças
comportamentais necessárias, com foco no tratamento da obesidade. Apresentou-se
um contrato de mudanças necessárias, e solicitaram-se as assinaturas. Iniciaram-se,
então, procedimentos para se tentar identificar os entraves à efetivação das mudanças
acordadas.
Durante as duas visitas posteriores, sintetizaram-se as dimensões da terceira
fase do modelo de intervenção de Alexander et al. (1982, apud Caballo, & Buela-Casal,
2007), Indução/Terapia, em que foram definidos os problemas e se estabeleceu um
tipo de linguagem de modo que a família passasse a ver a mudança como desejável e
possível. As fases 4 e 5, do modelo de intervenção descrito, não foram aplicadas no
presente estudo
No total foram realizadas seis visitas, com duração em media de 90 minutos.
Em nenhuma delas a família estava em casa no horário marcado.
Resultados
Os dados coletados no primeiro momento, relativo à primeira fase, Introdução/
Impressão, do modelo de intervenção proposto por Alexander etal. (1982, apud Caballo,
& Buela-Casal, 2007), através do questionário aplicado, mostraram que, em relação
aos fatores socioeconômicos, a família do participante M.G.F (família 1) é formada por
duas pessoas: mãe e filho, o qual é fruto de um relacionamento extraconjugal de seu
pai, que subsidia as despesas da família em questão. Observa-se que, na família 1, a
mãe trabalha informalmente, alcançando 650,00 reais para a renda familiar, porém, o
pai contribui subsidiando as despesas. Os participantes estimaram que, da ajuda ofe
recida pelo pai, R$ 300,00 são destinados à alimentação. Quanto à família 2, da partici
pante T. V. P, verifica-se que habitam quatro pessoas na residência (pai, mãe, avó, e
irmã). Tanto o pai como a mãe trabalham, como donos de um restaurante, obtendo
3000,00 reais para a renda familiar.
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270 Priscila Corcelli Barbosa, Maria Goreth Vieira Ribeiro, Sônia Maria Mello Neves
Sobre a questão de situação que a criança come mesmo sem sentir fome, M. G.
F demonstrou que se ver algo apetitoso, ou quando as pessoas estão comendo perto
dele. Semelhantemente a participante da família 2, também afirma não resistir quando
vê algo apetitoso.
Os dados sobre os fatores referentes à vida domiciliar (vide Tabela 2) mostra
ram que os participantes não são freqüentemente deixados em casa sem companhia
de um adulto. Por outro lado, os relatos demonstram que o participante M. G. F em
alguns momentos breves fica em casa quando a mãe sai para seus afazeres. A partici
pante da família 2, embora os pais trabalhem durante o dia, neste período ficam com ela
a avó materna e a babá da irmã menor.
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272 Priscila Corcelli Barbosa, Maria Goreth Vieira Ribeiro, Sônia Maria Mello Neves
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Discussão
O presente estudo procurou identificar possíveis variáveis no contexto familiar
capazes de atuar como determinates do sobrepeso de um adolescente e assim possi
274 Priscila Corcelli Barbosa, Maria Goreth Vieira Ribeiro, Sônia Maria Mello Neves
bilitar mudanças necessárias. De acordo com o modelo de intervenção adotado, pro
posto por Alexander et al. (1982, apud Caballo, & Buela-Casal, 2007), na primeira fase
(introdução/inpressão) foi possível criar expectativas de mudanças no contexto familiar.
Com o resultado da aplicação do questionário, foram observadas as seguintes variá
veis domiciliares determinantes no sobrepeso do participante da família 1: tota! depen
dência financeira na família para com o pai, ausente; predispocição genética de famili
ares o pai, os avós paternos e tios maternos; identificação de fatores nutricionais em
que se observou a escassez de alimentos saudáveis e a não preparação de refeições
em casa, o que leva o participante a alimentar-se embarracas de rua que vendem
cachorro quente, restaurantes e a consumir fast food.
Outro aspecto considerado determinate no problema de sobrepeso do adoles
cente refere-se aos fatores emocionais, comportamentais e cognitivos. Observou-se,
através do relato do participante, a carência de interação mais íntima com seus amigos,
de um bom relacionamento com sua mãe, e até um certo distanciamento afetivo com
relação ao pai e a ausência de contato com seus irmãos.
Os dados obtidos através da entrevista com T.V. P. mostaram alguns fatores
relacionados com o excesso de peso; dentre fatores genéticos, históricos e emocio
nais. Também observou-se casos de obesidade na família, uso freqüente de marmitas
compradas do restaurante, pouco tempo utilizado para realizar suas refeições, ausên
cia de monitoramento direto dos pais nas refeições. O do relato da participante indica
que seu pai parece não contribuir da mesma forma que a mãe no tratamento da obesi
dade
Através das visitas, observaram-se pontos comuns entre as duas famílias como;
alimentação não preparada em casa, mas, provinda do restaurante, o fato de passarem
a maior parte do tempo durante o dia ausentes dos pais e também que ambos os
participantes apresentam obesidade na família.
As visitas realizadas permitiram conhecer comportamentos interacionais dos
familiares destes participantes, como o fato de apenas as mães participarem das en
trevistas. Os pais embora convidados não participaram, e é interessante que ambos os
pré-adolescentes relataram questões de relevância referentes aos pais; o participante
da família 1, relata que seu pai é ausente, enquanto T. V. P afirma que o pai não posiciona-
se quanto ao tratamento para perda de peso.
Muitos dos dados obtidos nas visitas ainda não eram do conhecimento da
equipe do programa multidisciplinar para perda de peso de crianças e adolescentes
obesos da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia, sendo que talvez sem as visitas
domiciliares não seria possível conhecer tais variáveis.
De acordo com Rocha (1998) desenvolver situações que permitem
observar a interação familiar mais proximamente da situação em que ocorre natural
mente é um passo muito importante para identificar as causas e as variáveis reforçadoras
do comportamento infantil.
A aplicação do questionário evidencia as seguintes mudanças: (a) Os relatos
da mãe de M. G. F. mostram interesse em adquirir uma mesa para a realização das
refeições; (b) Melhora nas interações sociais de M. G. F. com amigos e familiares; o
adolescente relatou que dormiu na casa de alguns amigos; (c) Aproximação do adoles
cente com a família do pai.
Com relação à segunda fase de intervenção proposta por Alexander et al. (1982,
Caballo, & Buela-Casal, 2007), que tem como objetivo inteirar a família do que precisa
276 Priscila Corcelli Barbosa, Maria Goreth Vieira Ribeiro, Sônia Maria Mello Neves
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Envolvimento comercial com o cliente. Pode ser de vários tipos, desde apre
sentar pessoas ou indicar como referência. Deixo ao critério de vocês, uma vez que o
consultório não é um balcão de negócios.
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Esetec.
O poeta inglês William Cowper (1731-1800) teria escrito que “Variety is the very
spice of life, that gives it ali its flavor”. A despeito de não ter sido a psicoterapia o contexto
sócio-cultural que deu origem a esta frase, nela faz-se menção a um dos aspectos
interessantes do nosso trabalho: um cliente não é igual ao outro, cada sessão tem
componentes únicos e lidamos o tempo todo com a diversidade, este é um dos encan
tos da nossa profissão.
Evitamos o caos e a aleatoriedade das intervenções pela salvaguarda das
regularidades comportamentais, buscamos compreender e intervir sobre processos
complexos investigando as contingências controladoras do que fazemos, pensamos e
sentimos. A ciência nos conduz ao longo desta descoberta dos problemas e peculiari
dades de cada caso clínico. Um sistema teórico coeso, experimentalmente fundamen
tado, subjaz à nossa prática. A análise do comportamento provê sentido ao conjunto de
estímulos constituintes do fenômeno com o qual interagimos e sobre o qual se supõe
que precisamos intervir, de modo ético, eficaz e minimamente intrusivo.
É interessante atentar para o fato de que a variedade é democrática: atinge, por
igual, a clientes e terapeutas. A supervisão em grupo evidencia diferenças entre reper
tórios pessoais e acadêmicos dos alunos. No processo de forjar novos terapeutas,
precisamos respeitar diferenças, tirar bom proveito do repertório de entrada de cada
supervisionando e, em paralelo, suprir lacunas, fornecendo material de estudo e diretrizes
para ação, estimulando a troca de experiências entre os participantes. Como qualificar
pessoas tão diferentes para o atendimento clínico adequado, rico em demandas que
sequer conhecemos de antemão? Além dos óbvios cursos de formação, é possível
sugerir a jovens profissionais outras formas de ampliar seu preparo para a prática da
psicoterapia?
A formação do terapeuta na graduação não assegura a posse de plenas qua
lificações clínicas e, ocasionalmente, nós, professores, questionamos a competência
de alunos, inclusive de especialização e mestrado. As grades curriculares bem
Este artigo refere-se à palestra de mesmo nome, proferida pela autora no XVII Encontro da ABPMC em 2008, em Campinas
E-mail para contato: wielensk@uol.com.br
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Método
Triagem:
Os participantes foram encaminhados ao atendimento psicológico por inter
médio das parceiras que estavam recebendo psicoterapia realizada por estagiárias do
curso de Psicologia da UFSCar, sendo tal estágio oferecido desde 1998 (Williams,
2001a). O estágio era inicialmente oferecido inicialmente na Delegacia de Defesa da
Mulher de São Carlos, sendo que a partir de 2006 passou a ser ofertado na USE. Deve-
se ressaltar que a parceira do Participante 1, ao observar os benefícios do atendimento
psicológico e verificar a relevância de seu parceiro também ser atendido fez-lhe tal
convite. Já a parceira do segundo Participante foi encaminhada ao atendimento pela
equipe da USE na qual recebia atendimento na área de saúde em decorrência de
problemas de fibromialgia e sintomas depressivos, sendo encaminhada ao LAPREV
após a constatação de episódios graves de violência (ameaças) em sua relação afetiva
Participantes:
Participaram do atendimento dois homens que agrediram suas parceiras aten
didas pelo Programa da Saúde da Mulher/USE.
Local de Atendimento:
Sala de atendimento da USE da UFSCar.
Considerações éticas:
Ao buscar um atendimento na USE, o individuo é informado que as informa
ções obtidas são confidencias e sigilosas, podendo ser utilizados para fins científicos.
O seu consentimento em participar do programa é formalizado pela assinatura do Ter
mo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Procedimento
O procedimento do atendimento terapêutico foi fundamentado no modelo
terapêutico cognitivo comportamental e baseou-se nos trabalhos de Rynerson e Fishel
(1993), 0 ’Leary, Heyman, & Neidig (1999), Sinclair (1985), Padovani, & Williams (2002)
e Cortez, Padovani, & Williams, (2005). As sessões eram semanais e tinham duração
de uma hora, sendo conduzidas pelo primeiro autor.
As estratégias e técnicas cognitivo-comportamentais foram: definição de vio
lência, responsabilização pela violência, discussão do fenômeno da violência contra
Resultados e Discussão
A Tabela 1, a seguir, traz uma descrição dos participantes. A Tabela 1 indica que o
Participante 2 é mais jovem, possui maior escolaridade, é solteiro e segurança como
profissão. Quanto à ocupação, verificou-se que o Participante 1 foi afastado pelo INSS em
função de problemas de saúde desenvolvidos em decorrência da sua profissão de pedrei
ro. O Participante 1 passava a maior do tempo em casa ajudando a parceira nos afazeres
domésticas. Relatou, ainda, que gostava de dividir as tarefas domésticas com a esposa.
Ainda em relação ao perfil dos participantes, deve-se ressaltar que o Partici
pante 1 fazia uso de bebidas alcoólicas de maneira excessiva até iniciar o atendimento
psicológico. O Participante 2 fez uso de álcool e drogas no passado. Deve-se mencio
nar que o Participante 2 morava sozinho, assim como sua parceira.
Com relação à adesão dos participantes, P1 não faltou em nenhuma sessão ao
longo das 12 realizadas. Já P2 teve três faltas não justificadas ao longo de 11 sessões. O
Considerações Finais
A presente narrativa de dois estudos de caso vem demonstrar a relevância de
um atendimento especializado para o homem que agride sua parceira. Nessa direção,
desenvolver ações que venham contribuir ao combate e prevenção da violência contra
mulher se apresenta como uma questão prioritária no plano nacional. Conforme desta
cou Williams (2001b) nenhum Direito Humano é tão desrespeitado quanto o direito à
integridade física, psicológica e sexual da mulher. Trata-se de crime silencioso e escon
dido que normalmente ocorre no interior dos próprios lares, distante de qualquer teste
munha (Sinclair, 1985), com efeitos nocivos para a saúde física e emocional da mulher
e do agressor.
Contribuindo com o processo de prevenção da violência contra a mulher, a Lei
n°. 11.340 de 07 de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha, considerada
um avanço no campo jurídico, passou a tipificar e definir a violência doméstica e familiar
contra a mulher, entre outras determinações, retirou dos juizados especiais criminais a
competência para julgar os crimes de violência doméstica contra a mulher, criou condi
ções para decretar a prisão preventiva quando houver riscos à integridade física ou
psicológica da mulher, além de possibilitar que o juiz determine o comparecimento
obrigatório do agressor a programas de recuperação e reeducação (Brasil, 2006). Por
tanto, ações que venham promover a melhoria das condições de vida e saúde da mu
lher e favorecer a redução da morbidade e mortalidade feminina, especialmente por
causas evitáveis, são urgentes e necessárias.
Referências
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1Psicóloga Clínica, Mestre em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento pela PUCSP. Professora e Supervisora do curso de
Especialização em Clínica Analítico-Comportamental do Paradigma - Núcleo de Análise do Comportamento. Endereço para contato.
robertakovac@nudeoparadigma.com.br
2Psicólogo Clínico, Doutorem psicologia clínica pela Universidade de São Paulo. Mestre em Psicologia Experimental: Análise do C o m p o r ta m e n to
pela PUCSP. Professor e Supervisor do curso de Especialização em Clínica Analítico-Comportamental do P a r a d ig m a - N ú c l e o d e Análise do
Comportamento. Endereço para contato: denis@nucleoparadigma.com.br
3Psicóloga Clínica, Mestre em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo. Professora e supervisora do curso de E s p e c ia h z a ç a o
em Clínica Analítico-Comportamental do Paradigma - Núcleo de Análise do Comportamento. Endereço para contato: p ic k y 0 2 @ u o l. c o m . b r
4 When wepublish behavioral research, wearenotallcwedtocommunicatethethrill, thepoetry, ortheexhHaration thatare outcomes ofthe discovery^
process. Yet, these are among our mosi potent reinforcers. Explicit recognition ofthe emotional accompaniments to research could heip anr3Cl
students into the experimental analysis o f behavior.
... Aquilo que o cliente faz na clinica não é a preocupação básica. O que lá
acontece é uma preparação para um mundo que não está sob controle do terapeuta.
Em vez de arranjar contingências correntes de reforçamento, como acontece no
lar, na escola, no local de trabalho ou no hospital, os terapeutas dão conselhos.
(...) Ele [o conselho] pode assumir a forma de uma ordem (“faça isto, pare de fazer
aquilo”) ou pode descrever contingências de reforçamento (“Fazer isto provavel
mente acarreta um efeito reforçador", “Se você fizer aquilo as conseqüências
podem ser punitivas"). (p. 111)
Um sistema reforçador que é afetado desta maneira pode conter defeitos inerentes
que ievam a comportamento instávef. Isto pode explicar porque contingências
reforçadoras da sociedade causam com portam ento indesejável mais
freqüentemente do que as contingências aparentemente comparáveis na natureza
inanimada. (Skinner, 1993/1953 p. 301).
Referências
3 Esta abordagem vem derivando uma atuação clínica específica, a ACT (Aceptance and Commitment Therapv).
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História Comportamental
História Comportamental pode ser definida como uma área de pesquisa em
Análise do Comportamento que está interessada no estudo das condições às quais
um organismo tem sido submetido e como responde a tais contingências. Em um
estudo sobre as noções e definições referentes à história comportamental, Dias et al.
(2007) observam que até 1990 podem ser encontradas na literatura analítico-
comportamental um conjunto de noções de história comportamental, sendo que defini
ções mais acuradas surgem a partir desta data. Independente de se tratarem de no
ções ou de definições, ou seja, de serem respostas verbais sob controle de contingên
cias mais ou menos refinadas, elas se referem à história comportamental.
Murray Sidman (1960), no livro “Táticas de Pesquisa Científica” sugere que o
“(,..) comportamento de um organismo é determinado pelas experiências passadas,
assim como pela situação atual (...) Estudos de extinção, estados de transição, efeitos
cumulativos de certas variáveis, etc, todos se encaixam nessa categoria” (p.384). Essa
definição é demasiadamente ampla, implicando, segundo Sérgio Cirino (2001), na
restrição do valor explicativo do conceito de “história comportamental”, uma vez que a
importância das contingências pregressas perde destaque. Ainda na década de 1960,
Harold Weiner (1969) descreve um conjunto de resultados experimentais nos quais se
observa os efeitos da exposição prévia a contingências sobre o comportamento pre
sente em humanos. Neste trabalho, Weiner (1969) afirma que os: “(...) dados sugerem
que repertórios comportamentais passados interagem com as contingências de
reforçamento presentes (...)” (p.371). Mais recentemente, Marc Branch (1987) propõe
que o responder está em função das condições presentes devido às experiências
passadas. A partir das colocações destes autores, sobretudo pela de Branch (1987),
percebe-se um eixo central que é a relação entre condições passadas e presentes, na
qual o presente é função do passado.
Em se tratando das definições de história comportamental, Bárbara Wanchisen
(1990) define este conceito como a “(...) exposição a contingências respondentes e
operantes cuidadosamente controladas em laboratório, antes da fase de ‘teste’ deseja
da” (p.32). Nas conceituações apresentadas até o momento, é a primeira vez em que
aparece o termo “laboratório”, implicando na concepção de que apenas as condições
arranjadas no setting experimental para o teste a ser realizado é que são consideradas
variáveis da “história comportamental”. Em 1992, Timothy Freeman e Kennon Lattal
propõem que
3Para Josef Bro*ek & Marina Massimi (1998), bem como para Regina Helena Campos (1998), a Historiografia como método de pesquisa pode
ser definida como uma maneira de, a partir de relatos de eventos passados, fazer uma (re)constaiçâo daquilo que aconteceu para posteriorm ente
analisar e interpretar tais relatos. Mais à frente será feita uma apresentação mais detalhada do conceito.
4Para uma discussão específica sobre noções e definições de história comportamental, sugere-se a leitura de Dias, A. L. F., Cançado, C. R. X.
Soares, P G., & Cirino, S. D (2007). História Comportamental: noções e definições na literatura em análise do comportamento In E N P Cillo
& M. R. M. Santos (Eds). Ciência do Comportamento: conhecer e avançar, 6, (pp. 200-207). Santo André. SP: Esetec.
Historiografia
François Dosse (20005), na introdução de sua obra “A História”, questiona “o
que é a história?”. Num primeiro momento, a fim de responder esta questão, pontua
que a palavra história no francês guarda consigo dois significados, enquanto que em
outros idiomas existem mais termos para se referir a sentidos diferentes. No alemão
geschichte e historie, no italiano istoria e storia e, por fim no inglês, history e story. Na
análise de Dosse (2000), o primeiro termo se refere à “(...) trama dos acontecimentos
propriamente dita e o outro sigfnificando o relato complexo que narra” (p.7). Nesse
mesmo sentido, no português brasileiro houve duas grafias: estória e história. O primei
ro termo era aquele que designava a narrativa dos acontecimentos ou a rede tecida
pelos momentos passados, de cunho ficcional, como os contos de fadas. O segundo
termo, por sua vez, se referia à narração crítica dos fatos da humanidade, de forma
condizente com o real, como, por exemplo, a história do Brasil. Há algum tempo, todavia,
tanto o tom de ficção quanto o de realidade são marcados no português brasileiro
apenas pela palavra história. Importante destacar que em francês, língua na qual foram
produzidos importantes documentos sobre historiografia no século XX há também ape
nas um termo, a saber, histoire. Este termo, assim, remete à trama dos fatos passados
e à construção de uma narrativa sobre eles, sendo que este segundo elemento é o
esforço sobre o qual se debruça a Historiografia.
Para Regina Helena Campos (1998), o trabalho historiográfico compreende a
identificação de vestígios históricos para “(...) poder coletá-los, organizá-los, analisá-los
e interpretá-los” (p. 15). William Woodward (1998), por sua vez, define a Historiografia
como sendo o “(...) ato de escrever a história, aos métodos de coletar provas e de
organizá-las dentro de um padrão objetivo e significativo” (p.61). Assim, observa-se que
a Historiografia se define não apenas pelo seu objeto, mas também pelo método de
empreender a pesquisa pela procura de fontes de pesquisa, escolha de com que
fontes trabalhar, analisar o material disponível e selecionado e, por fim, interpretar as
fontes, transformando-as em documentos. Concomitantemente, Michael Wertheimer
(1998) salienta que a História não é “(...) a concatenação de nomes, datas, e fatos não
relacionados entre si (...)” (p.21).
5Em citações de obras traduzidas, optamos por citar no corpo do texto a data de publicação do original e não da obra traduzida consultada. Este
procedimento foi adotado para dar mais fidedignidade ao pensamento dos autores, pois ele pode mudar com o tempo. Além disso, deve-se
considerar que não necessariamente ocorrre a mesma cronologia de publicação de várias obras de um autor para as traduções.
6Para os interessados numa história da História, sugere-se a leitura de Dosse, F. (20031. A História fUhistnire.M. E. O. Assumpção, trad.]. BaunX
SP: EDUSC. (Trabalhooriginal publicado 2000).
' Para os interessados em uma discussão específica sobre a Nova História e a École des Annales suoere-se a leitura de Le Goff, J. (1978). A
História Nova São Paulo, SP: Martins Fontes, 5aedição, (obra consultada de 2005).
A ciência histórica, nesse sentido, não é a ciência do passado, pois este não é
um objeto de estudo, mas sim, uma ciência dos homens no tempo (Bloch, 1949). Para
Jacques Le Goff (1978) e Eric Hobbsbawm (1997), embora por razões diferentes, toda
história é social. Para apreender esse movimento dos homens no tempo, novas moda
lidades de documentos são colocadas em análise - documentos escritos não-oficiais,
produtos de escavações arqueológicas, fotografias, filmes, etc -, pois “tudo o que o
homem diz ou escreve, tudo o que fabrica, tudo o que toca, pode e deve informar sobre
ele” (Bloch, 1949: p.79).
8 Para maiores detalhes sobre a discussão de perspectiva externalista e internalista da Historiada Psicologia, sugere-se ver Cruz, R. N. (2006)
História e Historiografia da Ciência: considerações para pesquisa histórica em análise do comportamento. Revista Brasileira de Terapis
Comportamentale Cognitiva, v.8(2). p. 161-178.
Considerações Finais
A partir das reflexões apresentadas neste trabalho, pode-se perceber que a
História Comportamental e a Historiografia são como conjuntos, nos quais observam-
se áreas de intersecção e outras de divergência, como se espera num diálogo no qual
os termos não devem se reduzir a apenas um dos componentes. As diferenças são
salutares, na medida em que asseguram a especificidade da área. As aproximações,
por sua vez, permitem que ambas as áreas se sofistiquem.
No que se refere à Análise do Comportamento, o diálogo com a Historiografia
permite um conjunto de reflexões teórico-metodológicas que podem contribuir, sobretu
do, para a delimitação de definições mais precisas e com maior potencial heurístico,
uma vez que cria condições para que se repense sobre: a temporalidade, o que definir
como história, o objeto (resposta/conceito) posto em evidência, a construção da histó
ria, dentre outros. A Historiografia, por sua vez, pode observar mais interfaces com a
Psicologia, área que já vem discutindo com a História, principalmente a partir do início
do século XX, com a História Nova. Com isso, abre-se espaço para se repensar tam
bém a própria Psicologia, ou Psicologias, com objeto de estudo da História.
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Considerações Finais
Com a desinstitucionalização do tratamento psiquiátrico, o papel do psicólogo
precisou ser revisto, já que a sua atuação profissional passou a ter como enfoque a
reinserção do portador na sociedade e melhor convivência familiar.
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A obesidade infanto-juvenil
A palavra obesidade é composta por ob (excesso) e edere (comer). Significa,
portanto, comer em excesso. A obesidade, e.m um contexto clínico, pode ser definida
como excesso de peso corporal, no entanto, a definição mais exata é a de excesso de
gordura corporal. A etiopatogenia da obesidade descreve que o excesso de gordura
resulta de sucessivos balanços energéticos positivos, em que a energia ingerida é
maior do que a energia gasta. Embora a etiologia da obesidade seja ainda desconhe
cida, alguns fatores conhecidos podem favorecer o excesso de peso, classificando a
obesidade como uma doença multifatorial: (1) fatores genéticos (obesidade endógena);
(2) fatores ambientais (ausência de atividade física e maus hábitos alimentares); (3)
fatores psicológicos, psicossociais e culturais (obesidade psicogênica) (Azevedo &
Spadotto, 2004; Coutinho & Dualib, 2006).
As estatísticas sobre a incidência da obesidade são muito altas com tendência
a aumentar nos próximos anos. A obesidade é considerada um problema grave, com
1Emai!:sonia. mneves@terra.com.br.
346 Sônia M. M. Neves, Myriam C. A.Rodrigues, Daniele P. e Silva, Luis G G. Barreto, Raquel V. da Costa
Existem vários métodos diagnósticos para classificar o indivíduo como porta
dor de obesidade ou de sobrepeso; o IMC (peso/estatura2), a medida de dobra cutânea
do tríceps (DCT) e o índice de obesidade (IO, peso atual/peso no percentil 50/estatura
atual/estatura no percentil 50x100). Aescolha de um ou vários métodos deve ser criteriosa
devendo-se considerar sexo, idade e maturidade sexual para obter valores de referên
cia e classificar a obesidade. Há diferenças na quantidade de gordura e na sua distri
buição regional entre as pessoas, e também quanto à idade e sexo - diferenças essas
que podem ser de origem genética.
As complicações da obesidade infantil são identificadas pela quantidade total
de gordura, o excesso de gordura em tronco ou região abdominal e o excesso de
gordura visceral que são três aspectos da composição corporal associados à ocorrên
cia de doenças crônico-degenerativas. O aumento do colesterol sérico é um fator de
risco para doença coronariana, e esse risco é ainda maior quando associado à obesi
dade. O sobrepeso triplica o risco de desenvolvimento de diabetes melito. A obesidade
é também fator de risco para dislipidemia, promovendo aumento de colesterol,
triglicerídeos e redução da fração HDL colesterol. A perda de peso melhora o perfil
lipídico e diminui o risco de doenças cardiovasculares. A qualidade dos alimentos inge
ridos é um fator de risco para o desenvolvimento das doenças acima citadas e a ingestão
desses pela criança está intimamente relacionada com hábitos alimentares dos pais.
Os mesmos autores também relatam existência de estudos que demonstram
que a síndrome aterosclerótica já se inicia na infância e adolescência. O risco de síndrome
plurimetabólica na vida adulta é maior nos indivíduos que apresentam obesidade na
infância. Os fatores de risco são mais prevalentes quando maior o grau de obesidade. Os
riscos de hipertensão arterial e hipertrigliceridemia parecem ser maiores nas crianças
mais novas, e os riscos de hipercolesterolemia e hiperinsulinemia, maiores em adoles
centes. A presença de doenças cardiovasculares na família indica maiores riscos para as
crianças. O histórico familiar é determinante e justifica investigação laboratorial.
A obesidade, já na infância, está relacionada a várias complicações, como
também a uma maior taxa de mortalidade. E, quando mais tempo o indivíduo se man
tém obeso, maior é a chance das complicações ocorrerem, assim como mais precoce-
mente. O diagnóstico das evidências quanto aos danos na qualidade de vida mostra
que crianças e adolescentes obesos apresentam comprometimento físico variável em
conseqüência de alterações musculoesqueléticas, intolerância ao calor, cansaço e
falta de ar. É importante examinar, nessa população, as possibilidades de morbidades
ortopédicas, de morbidades gastrintestinais do tipo esteatose hepática, de refluxo
gastroesofágico, de coletilíase, assim como morbidades do sistema reprodutor, como
ovário policístico e pseudoginecomastia. Também, deve-se ressaltar que pode haver
incidência de transtornos do comportamento alimentar na adolescência e no início da
vida adulta, com maior possibilidade em meninas (Halpern & Rodrigues, 2006).
Em geral, quanto maior o número e a gravidade das complicações, maior a
probabilidade de que a criança necessite de avaliação e tratamento, talvez
medicamentoso, sob orientação de um médico pediatra.
348 Sônia M. M. Neves, Myriam C. A.Rodrigues, Daniele P. e Silva, Luis G G. Barreto, Raquel V. da Costa
cício físico é uma subcategoria da atividade física e deve ser prescrito por esses profissi
onais. Para melhor entender as funções e os resultados das atividades físicas e dos
exercícios, os epidemiologistas da atividade física estudam a correlação entre hábitos de
atividade física e doença ou atividade física e saúde; a verificação dos agentes que defi
nem os hábitos de atividade física em uma população e a correspondência entre atividade
física e outros hábitos ou rotinas do cotidiano. Os pesquisadores após registrarem os
dados da pesquisa descritiva e analítica aplicam-na na prevenção e no controle de doen
ças e de determinados situações que favorecem a ocasião de predispor a população.
O exercício físico é um dos fatores mais importante na manutenção do peso
corporal. Para tanto, é necessário uma avaliação individualizada do estilo de vida no que
se refere a quantidade de atividade física que o obeso realiza. A atividade física colabora
para o controle do peso corporal e reduz os sintomas dos transtornos de ansiedade e
do humor; o risco de fatores associados a doenças cardiovasculares; aumenta o
colesterol HDL; diminui os triglicerídeos e a propensão a trombose. Os indivíduos fisi
camente ativos e com excesso de peso apresentam menor morbidade e mortalidade
do que os sedentários, pelo aumento da sensibilidade à insulina e melhora na tolerân
cia à glicose e no metabolismo lipídico. Cerca de 60 a 85% da população mundial não
é suficientemente ativa para obter os benefícios para a saúde, dados verificados princi
palmente em mulheres e em dois terços das crianças. De acordo com a OMS, o
sedentarismo está entre as 10 maiores causas de morte no mundo.
O educador físico orienta que a prática de atividade física proporciona um maior
gasto energético e auxilia no controle metabólico (glicose e lipídios) e no controle da
pressão arterial. Os exercícios devem ser sempre prescritos por profissionais capacita
dos e os pacientes devem estar acompanhados por esses. Pois, geralmente, essa
população tem grande prevalência de fatores de riscos cardiovasculares.
350 Sônia M. M. Neves, Myriam C. A.Rodrigues, Daniele P. e Silva, Luis G G. Barreto, Raquel V. da Costa
Os grupos de pacientes são compostos por crianças (8 à 11 anos), adolescen
tes (12-15 anos) e cuidadores. As crianças e adolescentes são selecionados dentre
aqueles que procuram o serviço de pediatria da Sta Casa de Misericórdia de Goiânia e
que são diagnosticados como portadores de sobrepeso ou obesidade. A equipe
multidisciplinar que atende essa população é composta por representantes dos cam
pos da nutrição, medicina, psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia e educação física.
São utilizadas salas para atendimento em grupo e individual, o auditório para palestras
e consultórios médicos. Recursos áudio-visual, balança, instrumentos específicos e
material de consumo são necessários para intervenções dos profissionais de diversas
áreas.
O tratamento consiste basicamente em reuniões semanais onde é acompa
nhada a evolução do peso e do tratamento nutricional individualmente. Já a psicoterapia
de apoio e as palestras educativas alusivas à problemática da obesidade ocorrem em
grupo. Atendimentos psicoterápicos individuais, acompanhamento domiciliar, fisiotera
pia, tratamento fonoaudiológico e acupuntura são oferecidos aos pacientes onde tais
necessidades são identificadas.
Referências
352 Sônia M. M. Neves, Myriam C. A.Rodrigues, Daniele P. e Silva, Luis G G. Barreto, Raquel V. da Costa
Capítulo 35
Obesidade Juvenil: Correspondência
entre Relatos das Causas,
Tratamentos Necessários e
Praticados.
354 Suzan Alves dos Santos, Sônia Maria Mello Neves, Doralice Oliveira Pires
pelo reforço mediado por outra pessoa. Entretanto, a emissão do comportamento ver
bal tende a ocorrer apenas no contexto em que tem probabilidade de ser reforçada e
necessita de um falante e de um ouvinte, conjunto este denominado de episódio verbal
total. Esse episódio constitui no comportamento combinado de dois ou mais indivídu
os, onde, nessa interação social, os indivíduos emitem comportamentos, ora como
falantes, ora como ouvintes (Skinner, 1978).
A análise funcional do comportamento verbal emprega a forma como cada
indivíduo usa a língua em episódios de interações verbais, estando sob o controle tanto
da comunidade verbal quanto de sua própria história pessoal e das variáveis atuais em
vigor, que aumentam a probabilidade da ocorrência de dado comportamento verbal,
incluindo as formas aberta ou encoberta (Gangora, 2003).
Na abordagem Behaviorista Radical conhecer é comportar-se
discriminadamente perante estímulos. A discriminação de estímulos gerados pelo pró
prio individuo que se autoconhece está relacionada ao conhecimento sobre si, distinto
do conhecimento sobre o mundo, podendo ser estes estímulos privados ou públicos.
Assim, o sujeito é capaz de se autoconhecer quando consegue identificar os fatores ou
variáveis controladores e as condições sob as quais o comportamento é emitido, como
também os repertórios verbais autodescritivos e a auto-observação, são elementos
indispensáveis no comportamento de se autoconhecer. O autoconhecimento é um com
portamento de origem social, e é instalado a partir de contingências providas pela
comunidade verbal (Marçal, 2004). Portanto, problemas na formação do autoconceito
acarretam comportamentos disfuncionais na descrição precisa e no rearranjo das vari
áveis controladoras do evento comportamental (Simonassi, & Cameschi, 2003).
Os comportamentalistas em seus estudos têm preferência pela observação
direta de seu objeto de análise, o comportamento, atendendo preferencialmente as
causas desse comportamento através da manipulação direta de variáveis experimen
tais. Mas, nem sempre essa observação direta é possível, dado que certos eventos
comportamentais são privados ou inacessíveis num certo momento. Portanto, utilizam
de relatos verbais, que são um comportamento verbal emitido sob controle de um
estado de coisas, que funcionam como estímulo discriminativo para obterem informa
ções acerca de comportamentos manifestos (públicos) e comportamentos encobertos
(de Rose, 1997).
O relato verbal é uma das fontes de dados mais amplamente utilizadas na
Psicologia, Medicina e outras ciências que lidam com o homem, constituindo a base de
entrevistas clínicas, levantamentos, avaliações padronizadas, entrevistas pré-experi-
mentais e outros (de Rose, 1997). Porém, resultados de várias pesquisas que utiliza
ram diferentes técnicas de inquérito alimentar demonstraram a subestimação nos rela
tos de consumo, tanto em homens quanto em mulheres adultas (Salvo & Gimeno,
2002; Drummond, Crombie, Cursiter, & Kirk, 1998), como também em adolescentes
(Andrade, 1995). Entretanto, a subestimação é, especialmente, encontrada entre mu
lheres (Drummond, Crombie, Cursiter, & Kirk, 1998). Outros estudos indicaram, através
do uso de relatos verbais, que o consumo calórico de pessoas obesas pode ser o
mesmo ou ainda menor que o consumo calórico de pessoas magras (Lincoln, 1972;
Krombout, 1983).
Bandini, Schoeller, Cyr, & Dietz (1990) também mostraram que o consumo calórico
foi subestimado por 20% dos não obesos e por 45% dos obesos. Em um outro estudo,
com um grupo de obesos submetidos a uma dieta de restrição calórica, os 47% do
consumo calórico subestimado e, os 51% dos exercícios físicos superestimados pare
cem explicar o fracasso na perda de peso. Dyer (1994) conclui que os resultados obtidos
Método
Participantes
Participaram deste estudo 21 (vinte e um) pré-adolescentes e adolescentes de
Goiânia com sobrepeso e obesidade, na faixa etária entre 10 anos e cinco meses e 14
anos. Tpdos os participantes foram escolhidos mediante critério de índice de massa
corpórea (IMÇ), ou seja, com IMC acima de 25% e foram classificados conforme o índice
do percentil acima de 85 como portadores de sobrepeso, e acima de 95 como portado
res de obesidade (Halpern, & Rodrigues, 2006). Essa seleção só fora iniciada após o
consentimento dos pais ou responsáveis mediante a leitura, preenchimento e assina
tura do termo de consentimento livre e esclarecido (vide Tabela 1)
Materiais
A coleta de dados foi realizada através da abordagem dos indivíduos em ambi
entes variados, tais como: escolas, hospitais e domicílios. Para tal finalidade foram
utilizadas folhas de fichário, canetas esferográficas para as anotações; uma balança
356 Suzan Alves dos Santos, Sônia Maria Mello Neves, Doralice Oliveira Pires
mecânica pessoal digital e analógica, da marca Plenna, para pesagem; uma fita métri
ca (trena de 2m), para medir a altura; um microcasset pearlcorder 5706 Olimpus, duas
micro fitas casset de 30 minutos de cada lado, para gravar as respostas dos participan
tes; uma calculadora para o cálculo do IMC e um computador.
Procedimento
Antes do início da entrevista os participantes abordados nas escolas, hospitais
e domicílios foram investigados sobre a sua possibilidade de colaboração ou não no
estudo, mediante as informações contidas na folha de instrução para iniciar as entrevis
tas. Após o aceite do participante, foi entregue um documento de consentimento e
autorização aos pais ou responsáveis que foram devolvidos devidamente preenchidos
e assinados para a pesquisadora.
Em seguida os participantes foram pesados e medidos para a realização do
cálculo de índice de massa corpórea (IMC), que se dá pela fórmula: IMC, peso (kg)/
altura2 (m2), pois a seleção dos participantes se dava pelo IMC acima de 25%. O valor do
IMC foi transportado para uma figura de peso-padrão relacionado com a idade
objetivando a classificação dos participantes como portadores de sobrepeso ou obesi
dade (Halpern & Rodrigues 2006). Posteriormente os sujeitos responderam verbal
mente a um questionário que constava de três perguntas estruturadas e abertas, grava
das juntamente com as respostas. Todas as entrevistas tiveram a freqüência de tempo
variando de 10 a 20 minutos.
As perguntas foram as seguintes:
1. O que você acha que é a causa do seu excesso de peso? (Se a causação for
multifatorial) Então qual dessas causas você considera mais importante?
2. O que você acha que deve fazer para resolver seu excesso de peso?
3. O que você já fez para resolver essa situação?
Resultados
Com referência às causas, aos tratamentos necessários e aos tratamentos já
praticados, os relatos verbais dos pré-adolescentes e adolescentes com sobrepeso ou
obesidade foram agrupados em cinco categorias, sendo: 1) nutrição/dieta: nesta foram
tabuladas respostas referentes à quantidade e qualidade de alimentos, horário de
alimentação, perda de calorias, emagrecimento e regime; 2) exercício físico: nesse
grupo incluem-se relatos como atividades físicas, academia, esportes e dança; 3)psi-
cológico/comportamental: esta categoria abarca-se respostas tais como:
compulsividade/descontrole, gula, fome è vontade de comer; 4) médico/orgânico/
farmacológico, descrições sobre especialidades médicas, tendência genética e medi
camentos foram reunidas nessa categoria. A não descrição das variáveis investigadas
foi agrupada na categoria não sei/nada.
A análise da freqüência das respostas dada por cada participante, referentes
às variáveis investigadas (causa, intervenções necessárias e intervenções já pratica
das), foi tabulada de acordo com o seu conteúdo, considerando as categorias acima
definidas.
A categoria nutrição/dieta foi apontada pela maioria dos participantes nas três
variáveis investigadas (causa - 12 vezes, intervenção necessária - 17 vezes e interven
ção já praticada - 17 vezes).
Discussão
358 Suzan Alves dos Santos, Sônia Maria Mello Neves. Doralice Oliveira Pires
de causas, tratamentos necessários e tratamentos já praticados. A partir das análises
dos relatos, os resultados demonstraram que a maioria dos participantes apontou os
fatores nutricionais como a causa do seu sobrepeso ou obesidade.
Os dados, com base nas indicações referentes à causação do problema de
sobrepeso ou obesidade, podem ser relacionados com os níveis de determinação e
variação do comportamento segundo o Behaviorismo Radical (Micheletto, 2001). As
sim, pode ser observado que somente um dos participantes identificou a causalidade
do seu problema num nível biológico de determinação, identificação essa de causação
filo-genética. No entanto pouco mais da metade (2/3 de 21 dos participantes), perce
bem os determinantes do seu sobrepeso ou obesidade como provenientes do nível de
causação ontogenético, ou seja, indicam os fatores nutricionais e psicológicos/
comportamentais como causas. Em contrapartida, o nível de causação sócio-cultural
identificado como um dos fatores de determinação do comportamento dentro do mode
lo Skinneriano, não foi contemplado neste estudo, como possíveis causas.
Poderíamos supor que em termos do sobrepeso ou obesidade, fatores como
por exemplo, mídia ou família, podem ser identificados como fatores sócio-culturais,
mas isso não ocorre nos relatos, sugerindo que esses fatores não são entendidos
pelos pré-adolescentes e adolescentes como determinantes de seus hábitos alimen
tares.
Conforme Bicalho, & Sallim (2004), Dyer (1994), Neves etal. (2007), o excesso
de peso pode ser acarretado por uma multiplicidade de causas; isto é uma combinação
de fatores que incluem hábitos alimentares inadequados, sedentarismo, propensão
genética e distúrbios psicológicos. Dos 21 participantes, 17 não apresentam estar
conscientes das afirmações dos autores citados, pois relataram apenas uma causa,
isto é, esses pré-adolescentes e adolescentes parecem não ter consciência no sentido
de descrever o seu problema de sobrepeso ou obesidade como multideterminado.
Pode-se conferir nos relatos de identificação dos tratamentos necessários
que um pouco mais da metade participantes acredita ser necessária para a solução do
seu problema de excesso de peso apenas uma intervenção. Esse dado sugere certa
dificuldade desses entrevistados de entenderem a necessidade de realizar tratamen
tos multidisciplinares. Certamente essa visão pode ser proveniente da falta de consci
ência sobre a gênese multifatorial da obesidade.
Esse estudo teve como objetivo especialmente investigar além dos dados já
discutidos acima, a correspondência existente entre os relatos de causas do sobrepeso
ou obesidade, dos tratamentos necessários e aqueles aos quais os participantes já se
submeteram. Verificamos a correspondência, nos relatos de mais da metade dos par
ticipantes; indicando frequentemente os fatores nutricionais nas três variáveis
investigadas. Nesse sentido, a correspondência encontrada nas descrições dos pré-
adolescentes e adolescentes indica que o autoconhecimento, observado através do
relato das causas e dos tratamentos necessários e praticado, pode dessa forma de
senvolver pré-requisitos para o autocontrole (Simonassi & Cameschi, 2003). Entretan
to, apesar de apresentarem essa correspondência, os participantes desse estudo não
entendem sobre a multicausalidade do comportamento humano, não tendo desse modo
um desenvolvido repertório de autoconhecimento o que, neste sentido, prejudica a
obtenção de autocontrole eficaz. Isto é, intervenções apropriadas no sentido de mudar o
comportamento ou intervir no nível da multicausação.
Pode-se supor que provavelmente o insucesso do tratamento do seu sobrepeso
qu obesidade se deve ao fato de muitas vezes não perceber todos os fatores causado
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Anexos
Tabela e Figuras
Tabela 1. Dados descritivos dos participantes em relação a: idade, peso, IMC, percentil e
classificação de peso/padrão para a idade.
Participantes Idade Peso (kg) IMC (kg/m*) Percentil(%) Classificação
1 10,10 72 29 >95 Obesidade
2 12 75 28 >95 Obesidade
3 11 55 26 >95 Obesidade
4 11 59 25 >95 Obesidade
5 11 75 29 >95 Obesidade
6 12 81 30 >95 Obesidade
7 13 71 31 >95 Obesidade
8 12 91 36 >95 Obesidade
9 11 72 28 >95 Obesidade
10 12,10 79 28 >95 Obesidade
11 10,11 55 28 >95 Obesidade
12 10,10 58 26 >95 Obesidade
13 14 75,7 28 >95 Obesidade
14 12 87 32 >95 Obesidade
15 14 99 36 >95 Obesidade
16 12 87 36 >95 Obesidade
17 13 74 36 >85 Sobrepeso
18 12 80 30 >95 Obesidade
19 14 70 28 >95 Obesidade
20 12 70 26 >95 Obesidade
21 12 64 26 >95 Obesidade
1 Causa
Figura 1: Porcentagem de respostas distribuídas nas categorias, quando apontado uma causa.
0 Nutrição
□ Pscologé/Oompatamental
■ Exercido Físico
03Médico/Orgânico
SNão se^Nada
Figura 2. Porcentagem de respostas distribuídas nas categorias, quando apontado duas causas.
0 Nutrição
□ Psicologia/Comportamental
■ Exercício Fisico
0 Médico/Orgânico
□ Não sei/Nada
1 1ntervenção Necessária
Figura 3: Porcentagem de respostas distribuídas nas categorias, quando apontado uma intervenção
necessária.
0 Nutrição
□ Psicologia/Comportamental
■ Exercício Fisico
ESMédico/Orgânico
B Não sei/Nada
2 Intervenções Necessárias
362 Suzan Alves dos Santos, Sônia Maria Mello Neves, Doralice Oliveira Pires
□ Nutrição
□ Psicologia/Comportamental
■ Exercício Físico
DDMédico/Orgânico
□ Não sei/Nada
1 1ntervenção Já Praticada
Figura 5: Porcentagem de respostas distribuídas nas categorias, quando apontado uma intervenção
já praticada.
Q Nutrição
□ Psicologia/Comportarrental
■ Exercício Físico
CDMédico/Orgânico
B Nâo sei/Nada
2 intervenções Já Praticadas
Z Nutrição
□ Psicologia/ComportamentaJ
■ Exercício Fisico
D Médico/Orgânico
5 Não sei/Nada
3 Intervenções Já Praticadas
Figura 7: Porcentagem de respostas distribuídas nas categorias, quando apontado três intervenções
já praticadas.
Introdução
As pessoas estão cada vez mais insatisfeitas com sua aparência (Stenzel,
2006). Todo ano milhões de pessoas fazem dieta para emagrecer, se exercitam para
ficar em forma, usam cosméticos para disfarçar defeitos ou se submetem as cirurgias
plásticas estéticas para modificar alguma característica de sua aparência. Todas essas
estratégias possuem um único propósito: fazer com que a pessoa se sinta melhor no
corpo em que vive (Cash, 2008).
A obesidade é hoje um problema de saúde pública em diversos países. Muitas
pessoas estão com sobrepeso e a gordura é repudiada na sociedade ocidental ou com
hábitos ocidentalizados, o que gera a “fobia de gordura”. A preocupação com o peso é
um dos pilares principais para a imagem corporal negativa (Pope, Phillips, & Olivardia,
2000).
Homens e mulheres estão cada vez mais se submetendo á cirurgia plástica
estética para modificar sua aparência. De acordo com a Sociedade Americana de Cirur
giões Plásticos (2007) aproximadamente 11 milhões de americanos passaram por
cirurgia ou procedimentos cosméticos só no ano de 2006, uma média 7% acima de
2005, que é 48% maior do que a média do ano 2000 e assustadoramente 800% acima
da média de 1992. A questão que se levanta a partir desses dados é se a melhora do
corpo em si é capaz de melhorar a imagem corporal (Cash, 2008) e a auto-estima. Para
entender essa questão, neste capítulo iremos discorrer sobre o contexto atual da beleza
em nossa sociedade e como a auto-estima, imagem corporal e resiliência, principais
aspectos psicólogos intrínsecos a esse procedimento, estão atreladas a busca pela
cirurgia plástica estética.
Imagem corporal
Hoje em dia há um consenso quanto à definição da imagem corporal, que se
refere à experiência subjetiva que as pessoas têm com sua condição corpórea (Stenzel,
2006). Para Castilho (2001) a imagem corporal é formada a partir da infância. As crian
ças aprendem como a sociedade enxerga diferentes características físicas e a imagem
corporal vai se formando na medida em que elas absorvem conceitos do que é valoriza
do e do que não é atraente. Julgam sua própria aparência corporal e conferem se estão
de acordo com aquilo exigido pela sociedade. A clara percepção de si mesmo é influen
ciada pelos padrões estipulados pela sociedade e cultura, pela família e experiências
vividas pelo indivíduo.
Segundo Briggs (2000) a construção da imagem corporal, bem como da auto-
estima, se dá à medida que a criança interage como ser social em sua família e com o
meio em que vive, adquirindo informações a seu respeito. Antes do aprendizado da
linguagem, a criança aprende a linguagem corporal transmitida pelos outros, e, através
dela, a criança capta e registra impressões sobre si mesmo e o mundo com base na
maneira como é tratada. Quando se está feliz, por exemplo, tende-se a se perceber
mais belo e o contrário também é verdadeiro.
A avaliação do próprio corpo surge a partir da interação com o ambiente, sendo
a auto-imagem desenvolvida e reavaliada no decorrer de toda a vida. Com a valorização
extrema da beleza externa, ocorre um processo onde se atrelam valores tais como
aceitação social, ascensão social, profissional, pessoal com o belo e se faz de tudo
Auto-estima
De acordo com Coopersmith (1967):
Uma pessoa com auto-estima aita mantém uma imagem bastante constante das
suas capacidades e da sua distinção como pessoa, pessoas criativas têm alto grau
de auto-estima. Estas pessoas com auto-estima alta também têm maior probabili
dade para assumir papéis ativos em grupos sociais e efetivamente expressar as
suas visões. Menos preocupados por medos e ambivalências, aparentemente se
orientam mais diretivamente e realisticamente às suas metas pessoais.
Resiliência
Tavares (2001) define resiliência sob três aspectos: físico, médico e psicológi
co. Aspecto físico, como sendo a qualidade de resistência de um material ao choque, à
pressão, o qual lhe permite voltar à sua posição inicial. Aspecto médico como sendo a
capacidade de um sujeito resistir a uma doença, infecção ou intervenção por si próprio
ou com ajuda de medicamentos. Aspecto psicológico, como a capacidade das pesso
as, individualmente ou em grupo, resistirem a situações adversas.
Referências
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*Esse artigo faz parte do trabalho de condusão de curso de Especialização em Clínica Analítico-Comportamental elaborado pela primeira autora,
sob orientação do segundo autor. Contato: taniapappas@uol com .br
Método
Amostra
Para a realização desse trabalho, foram analisados todos os 36 exemplares de
ambas as publicações lançados até momento (junho de 2008). A coleção de livros SCC
lançou 20 volumes ao todo. Os três primeiros foram lançados em 1997 e o quarto em
1999. A partir daí, a cada ano, foram lançados dois volumes; os últimos datam de 2007.
A RBTCC teve seus dois primeiros exemplares lançados em 1999. A cada ano, lança
ram-se duas novas publicações, perfazendo um total de 16 exemplares lançados até
2006. Até a data de coleta de dados do presente trabalho (junho de 2008), a RBTCC não
havia publicado os volumes referentes a 2007.
Procedimento
Pesquisaram-se artigos sobre Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). A seleção
incluiu desde aqueles exclusivos sobre o assunto até aqueles que apenas faziam referên
cia a ele. Para tal, a primeira etapa consistiu em ler o título de cada um dos 775 capítulos (um
deles era um posfácio) da coleção de livros SCC e também cada título dos 138 artigos (105
artigos, 10 sobre livros, nove artigos didáticos, quatro notas técnicas, duas resenhas, oito
“outros”3) dos exemplares da RBTCC Buscaram-se, inicialmente, aqueles artigos que apre
sentavam, em seu título, as palavras TOC ou Comportamento Obsessivo Compulsivo (COC).
Como foram encontrados apenas 14 artigos na coleção de livros SCC e três nos exempla
res da RBTCC com essa especificação, resolveu-se adotar alguns critérios de inclusão que
poderiam facilitar a descoberta de outros artigos que pudessem fazer alusão ao tema
proposto. Desta forma, os critérios de inclusão foram:
• trazer, no título, as palavras TOC ou COC;
• trazer, no título, as palavras Ansiedade ou Transtorno de Ansiedade;
• trazer, no título, as palavras Acompanhamento Terapêutico ou Ambiente Natural;
• trazer, no título, as palavras Transtorno(s) Psiquiátrico(s);
• trazer, no título, as palavras Caso(s) Grave(s);
• trazer, no título, as palavras Distúrbio(s) de Comportamento.
Com isso, encontraram-se inúmeros artigos cujos títulos continham algo do
supracitado ou mesmo sinônimos e similares. Vale ressaltar que houve títulos de arti
gos que continham dois critérios de inclusão (exemplo: TOC e Transtorno de Ansieda
de). Na ocorrência desse fato e para qualquer fim, prevaleceu o termo TOC por ser o
tema central deste trabalho. Inversamente ao ocorrido na primeira etapa (número redu
zido de trabalhos), houve um aumento significativo na quantidade de artigos encontra
dos. Este fato ocasionou, pelo intuito de maximizar tempo e resultados, o estabeleci
mento de alguns critérios de exclusão para tais artigos. Foram eles:
3“Outros" refere-se a: três artigos sobre ABPMC/AEC/ SBP, uma homenagem a M. Amélia Matos e uma a Carolina Bori, uma auto-biografia
de D. Francês, um sobre inauguração do laboratório F. Keller e um sobre comunidade científica em Análise do Comportamento no Brasil.
Resultados e Discussão
Os resultados mostram que, dos 775 títulos de artigos analisados da coleção de
livros SCC, apenas 30 (3,87%) foram selecionados por preencherem os critérios de
inclusão e por não preencherem os critérios de exclusão estabelecidos para a realização
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Ê*5>ss £*^.r.iracíi&ii,. Te*£*|*»T»ôricí> *•experimentai.
4Até a data de coleta de dados do presente trabalho, a Revista Brasileira de Terapia comportamental e Cognitiva não publicou os volumes referentes
ao ano de 2007.
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Considerações Finais
Após toda a explanação dos dados encontrados, pode-se dizer que os objetivos,
tanto gerais quanto específicos, foram alcançados. Pesquisar a cerca do que se tem
escrito sobre TOC estritamente na coleção de livros SCC e nos exemplares da RBTCC
revelou seis aspectos a se considerar.
O primeiro deles é o percentual de artigos publicados nesses periódicos que
fazem menção ao TOC, 3,87% e 3,62% na coleção de livros SCC e nos exemplares da
RBTCÇ, respectivamente. Ressalte-se o fato que só se chegou a essas quantidades após
o estabelecimento de alguns critérios de inclusão e de exclusão. Quando se buscou ape
nas títulos que continham o termo TOC o número de artigos encontrados foi ainda menor.
Verificou-se que um aumento significativo de publicações na coleção de livros
SCC ocorreu no período entre 1999 e 2003. Já nos exemplares da RBTCC um aumento,
mesmo que sutil, só pôde ser notado a partir de 2003.
O segundo aspecto merecedor de destaque diz respeito à quantidade de auto
res que publicaram e a forma com que o fizeram. Na coleção de livros SCC foram 59
autores. Destes, 18 escreveram seus artigos sozinhos (60%). Os outros 12 artigos
(40%) foram escritos por, no mínimo, dois e, no máximo, cinco autores. Outro dado
sobre os autores é que dos 59, 34 publicaram apenas um artigo, nove publicaram dois,
um publicou três e um (Denis Roberto Zamignani) publicou quatro artigos. Nos exem
plares da RBTCC, 11 autores publicaram artigos, sendo que oito em dupla (80% dos
artigos) e um em trio (20%). Novamente, Denis Roberto Zamignani aparece não apenas
como autor, mas, também, como o que mais publicou (dois artigos).
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Conclusões
O presente trabalho objetivou a análise de alguns aspectos que constituem a
perspectiva de estudo do desenvolvimento humano, mais precisamente do desenvolvi
mento infantil. O suporte empírico-conceitual dessas análises preliminares foi conceito
de behavioral cusps como uma ferramenta que permita a elaboração de um possível
modelo comportamental para a compreensão do desenvolvimento. Entretanto, são inú
meras as questões de natureza teórica, empírica e metodológica que os analistas do
comportamento precisam abordar e aprofundar a fim de contribuir para a explicação e a
promoção do desenvolvimento infantil.
Espera-se que o trabalho propicie uma discussão mais ampla do conceito de
cúspide comportamental, tanto para a compreensão do aspecto cumulativo do desen
volvimento como para o planejamento da aquisição de novas habilidades para diversas
populações.
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Condução do atendimento
A terapia comportamental de casais pode ser conduzida por um ou dois
terapeutas e esta decisão dependerá dos critérios e das características pessoais do
profissional e dos clientes, assim como dependerá também da natureza das principais
dificuldades apresentadas pelos parceiros. Além disso, as sessões poderão ser todas
conjuntas, conjuntas e individuais ou basicamente individuais, todas realizadas por um
ou dois terapeutas. Ao tomar as decisões acima o terapeuta ficará atento também às
questões relativas ao funcionamento do casal e às dificuldades mais acentuadas de
cada um dos cônjuges para assim poder escolher a estratégia que levará ao melhor
andamento do processo. E importante, seja qual for o arranjo escolhido, que o foco
esteja nos processos que interferem na interação dos parceiros.
Violência doméstica
Terapeutas de casais constantemente se encontram diante de parceiros que
praticam e/ou sofrem violência doméstica. A despeito de ser um tema bastante atual e
freqüente na relação a dois observa-se que os profissionais têm pouco preparo técnico
para trabalhar com estes problemas. A formação do psicólogo não contempla este
estudo como um tópico especifico. Jacobson e Christensen (1998) relatam que a falta
deste conhecimento pode vir a trazer “conseqüências sérias” aos clientes por ser um
problema que põe o (a) parceiro (a) em risco se não forem tomados alguns cuidados.
“Abuso físico de qualquer tipo, seja ele de parceiro ou de filho, seja estupro ou
incesto, exige posicionamentos morais e éticos específicos.” (Papp, 2000/2002, p.28).
Sempre será inaceitável, em qualquer condição.
A história, exemplificada nos relatos abaixo, de Artur, 46 anos, agricultor, e Laís,
36 anos, professora, mostra um dos tipos comuns de violência doméstica: Artur: “E/a
me tira do sério. Já falei prá ela nâo me olhar daquele jeito. Já falei prá ela que não é prá
por os meninos contra mim. Aí eu fico louco e parto prá cima dela.” Laís: uE!e não sabe
escutar. Ele acha que os meninos não percebem como ele é. Ele acha que sou eu quem
põe os meninos contra eles. Ele bate em mim e nos meninos também. ”
O que fazer nestes casos? Atendimento do casal? Atendimento individual?
Não atendimento? Denúncia à polícia? Dois terapeutas?
A incidência de violência entre casais é de 3 a 4 % da população (Roth, 1993, in
Mattaini 1999). Estimativas indicam que alguma violência física, ocorre em metade das
relações íntimas entre adultos. Algumas são em baixo nível e sua função não é só o
controle coercitivo; envolvem ainda as diferentes funções do bater (Jacobson, &
Christensen, 1998).
Segundo estes autores, 50% dos casais que procuram terapia se engajaram
em comportamento violento no ano que antecede a procura. Porém a maioria dos
casais envolveu-se em comportamentos violentos alguma vez. Salientam os autores
que a violência contra a mulher é, às vezes, acompanhada pela violência recíproca da
mulher. Estes dados sugerem que, na maioria dos casos, o homem tem menos preju
ízos e não tem a experiência emocional de terror que a mulher vivência, pois a violência
na mulher, em geral, envolve auto defesa (Mattaini, 1999).
Nestes casos o mecanismo usado é a coerção. Sidman (1989/1995) afirma
que punimos as pessoas porque acreditamos que as levaremos a agir diferentemente.
Queremos parar ou prevenir certas ações. Punimos alguém quando avaliamos que sua
conduta é considerada má para a comunidade, para outros indivíduos ou para nós
mesmos. O que desejamos com a prática da punição é por fim à conduta indesejável.
Desta maneira a violência é usada como forma de controle por reforçamento negativo
tomando funcional a aversividade da agressão.
Esta aversividade, algumas vezes, detém o comportamento indesejável, pelo
menos temporariamente. No entanto, não ensina nada sobre o que deve ser feito além
de poder destruir relações. A violência é um comportamento, e não é causado por raiva,
abuso de substâncias ou doença mental, embora em alguns casos estes fatores dimi
nuam a sua inibição. A violência repetitiva ocorre porque é reforçada pelo estabeleci
Namorados ou noivos
Parceiros que estão nesta etapa da vida buscam ajuda terapêutica tentando
encontrar alguma “solução mágica” para as dificuldades encontradas em seus relacio
namentos, no momento, ou mesmo alguma “previsão segura” sobre o “acerto” ou não
da escolha da parceria que têm no momento. São comuns indagações do tipo:
• O relacionamento “dá conserto”?
• O relacionamento tem futuro?
• Como mudar o relacionamento?
• Como mudar o outro?
• Ele (a) vai mudar?
• Como fazer a família aceitar o (a) parceiro (a) que escolheram?
“Aposentadoria”’
Esta etapa da vida pode configurar-se de diversas maneiras para os casais,
exigindo atenção apropriada do terapeuta, como na apresentada no caso a seguir:
Considerações finais
O terapeuta de casais exerce papéis e/ou funções variados como: mediador,
orientador, instigador, pacificador, “informador”, no entanto será sempre um analista do
comportamento.
O terapeuta precisa saber ouvir com todos os filtros presentes: gênero, idade,
pessoas de diferentes culturas e origens, profissionais, valores de vida, sociais, morais e
éticos. Precisa considerar os sinais dos tempos, o que significa viver em cada época; as
transições de costumes, práticas e realidades sociais de cada momento. Precisa saber
falar (comunicar-se) considerando todos os aspectos anteriormente mencionados.
Os objetivos e as estratégias apresentadas por diferentes propostas teóricas
para atender parceiros devem ser modificados, ampliados, encampados e revistos cons
tantemente. Isso porque cada casal é único, tem sua própria história de relacionamento
e, portanto sua terapia requer o estabelecimento de objetivos e estratégias próprias.
A terapia de casal para ser eficaz deve prever processos de mudança, tolerân
cia e aceitação. Deve considerar que diferentes conjuntos de variáveis controlam dife
rentes interações entre eles. Uma terapia de casais deve “cuidar” de comportamentos
públicos e de encobertos presentes na relação. Embora o objetivo primeiro da terapia
de casais seja lidar com a relação do casal é fundamental para cada um deles como
pessoa: 1) identificar a influência de seus comportamentos na interação deles; 2) iden
tificar suas características pessoais; 3) identificar seus sentimentos; 4) identificar seus
valores de vida; 5) identificar seus “limites” pessoais; 6) identificar seus objetivos de
vida; 7) perceber que ambos os parceiros “ganham” ao descobrir que são igualmente
responsáveis pela qualidade do relacionamento. (Otero e Ingberman, 2004).
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c o m p o rta m e n to e c o g n i ç ã o . Contingências e metacontingências: contextos sócio-verbais e
Para Sanders (1996), a intervenção comportamental com famílias (BFI) teve uma
grande importância no campo da psicopatologia da criança e tornou-se o paradigma
dominante no tratamento de muitas desordens infantis (Lochman, 1990). Durante as
últimas três décadas, a Intervenção Comportamental com Famílias evoluiu como uma
aproximação viável e, com suporte empírico, para o trabalho com crianças opositoras e
com distúrbios de conduta. Seu sucesso levou ao desenvolvimento de novas aplica
ções de seus métodos. A justificativa para sua extensão veio em parte de estudos
mostrando que as dísfunções da família são um fator de risco genérico para uma série
de problemas psicológicos na infância. Extensa base empírica sustenta a conclusão
básica de que, quando os pais são treinados a implementar estratégias de mudanças
de comportamento, há um aumento do ajustamento do comportamento de seus filhos.
Intervenção Comportamental com Famílias é um termo genérico utilizado para
descrever um processo terapêutico que procura efetuar uma mudança no comporta
mento da criança e ajustamento em mudanças correspondentes em aspectos do am
biente familiar que afetam os problemas de comportamento da criança (Sanders e
Dadds, 1993).
Para os autores, tem como alvo processos interativos que pode ser relacionada
à etiologia, manutenção, exacerbação ou recaída do funcionamento da criança. O foco
da intervenção envolve uma tentativa de mudar o comportamento dos pais com relação
a seus filhos, apesar de poder incluir outros aspectos do funcionamento da família
como a relação de casal dos pais, o comportamento de irmãos, avós e de pessoas que
cuidam da criança, a divisão de trabalho entre os que cuidam da criança e o oferecimento
de atividades de acordo com a idade em casa.
Para Sanders e Dadds (1993), a contemporaneidade da Intervenção
Comportamental com Famílias tem suas rotas dentro das tradições da análise do
comportamento aplicada, uma aproximação que enfatizava a importância de se envol
ver pais, professores, e outras pessoas significativas como mediadores ou agentes
modificadores do comportamento para obter a mudança terapêutica. Sua prática tera
pêutica não é uma modalidade simples e inclui vários tipos diferentes de intervenção.
Caso Clínico
O caso aqui apresentado diz respeito a uma família composta por quatro mem
bros: o pai, aqui chamado de senhor João, 40 anos; a mãe, senhora Maria, 36 anos, o
F i g u r a 1 . A n á lis e E c o c o m p o r ta m e n ta l a n te s d a in te r v e n ç ã o .
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