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© ESTADO E A POLITICA AGRICOLA NO BRASIL NO SECULO XIX. (RESUMO DA PESQUISA INTITULADA HISTORIA POLITICA ADMINISTRATIVA DA AGRICULTURA BRASILEIRA NO SECULO XIX). ** EULALIA MARIA LAHMEYER LOBO* Apés a emancipacio do Brasil, o Imperador repetidamente definiu ‘© Estado como liberal, nao devendo intervir na economia mas apenas propiciar a liberdade de producdo das mercadorias. () © processo de Iiberacdo iniciou-se antes da independéncia com a abolico das restrigdes ao comércio, reduc&o das tarifas alfandegarias, cancelamento das proibices de certos cultivos e da industria impostos pela metrépole. No entanto, mantiveram-se e multiplicaram-se os im- Postos e conservaram-se os controles de precos das mercadorias através das Cémaras, Alfandegas (Mesas de Inspecio), Juntas de Comércio. Essa contradicdo entre a doutrina liberal professada pelo Governo e a politica adotada refletia as contingéncias de despesas crescentes com & maquina do Estado e sobretudo com o sistema de defesa. Apesar das declarag6es oficiais do Governo favoraveis a nao inter- vengao e a liberdade do mercado e da economia, o Estado procurou atuar no ambito do suprimento de mio de obra, das relacdes de produgao, do capital, do crédito, da tecnologia e da terra. Na primeira metade do século XIX os instrumentos de ag&o do Estado na formulago da polftica agricola foram o Imperador, 0 Conse- Iho de Estado, os ministérios, 0 Parlamento, 0 Conselho da Fazenda, 0 Real Erdrio e a Real Junta do Comércio, Agricultura, Fabricas e Na- vegacio. A Real Junta que era subordinada ao Conselho da Fazenda asses- sorava 0 Executivo em todos os assuntos referentes a agricultura e, através das Alfandegas e Mesas de Inspecio, controlava os precos dos produtos da lavoura, As CAmaras Municipais, além de determinarem Pregos, exerciam a fungio de equilibrar a oferta e a demanda, manten- do celeiros e estoques quando necessério. A Real Junta do Comercio, Agricultura, Fabricas e Navegacio ado- tava uma posicio fisiocrética, favorivel ao desenvolvimento da agri- cultura, contraria A indiistria, e defendia os principios liberais. Em _1849 a Junta do Coméreio, Agricultura, Fabricas e Navegacao & fechada e em 1861 houve uma reforma dos Ministérios, a agricultura deixou de ser subordinada aos Ministérios do Reino, do Império e da Fazenda e ficou sob a jurisdicio do novo Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Publicas. O Ministério da Fazenda conservou apenas bras, Mint, ho Paulo, 20):19.31, mar, 1082, 20 poderes na formulac&o da politica agricola, na medida em que Ihe com- petiam as iniciativas em matéria fiscal, de crédito e emiss6es, de con- role da moeda de orcamento e de alocagao de recursos, subordinadas A sangdo dos poderes Moderador, através do Conselho de Estado, e do Legislative. O Ministério da Fazenda retinha a maior parcela do total de recursos dos Ministérios, ficando o da Agricultura em segundo lugar. © Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Publicas rejeitava 0 fisiocratismo e apesar de defender uma politica liberal, intervinha na economia em maior escala do que a antiga Real Junta do Coméreio, Agricultura, Fabricas e Navegaciio. © Partido Conservador ficou mais tempo no poder, porém, tanto © Partido Conservador como o Liberal tinham uma proporcao pratica- mente equivalente de Ministros que eram fazendeiros. ® As divergén- cias entre os dois partidos que afetavam a politica agricola revelavam- se no debate sobre a escravidio, a imigracio, a Guarda Nacional, a questdo das emissdes do crédito, a defesa da industria. As divergéncias podem ser, ao menos em parte, atribuidas ao predominio de fazendeiros do Nordeste no partido Conservador e de fazendeiros do Vale do Paraiba e Sao Paulo no partido Liberal. POLITICA RELATIVA A MAO DE OBRA E AS RELAQGES DE PRODUGAO E A TECNOLOGIA © Estado tentou promover a substituigio da mao de obra escrava pela livre. O Partido Conservador procurou resistir a essa politica. Os fazendeiros do Nordeste e da Bahia gradualmente tornaram-se menos dependentes da mio de obra escrava a partir de 1850. Os de Sio Paulo também foram se desligando desse tipo de trabalho rural. A politica governamental executada pelos Ministérios do Reino, do Império e, mais tarde, da Agricultura, Comércio e Obras Publicas foi de propiciar a transicao através de estimulos & imigragio. Uma sé- rie de medidas foram adotadas para esse fim, tais como: concessaio ou vendas de terras baixo preco aos colonos, apoio & criagio de colénias particulares e formago de colénias régias, graduais restri¢des & obri- gacdo do colono prestar servico militar, tolerancia & pratica de outras Teligides pelos estrangeiros, subsidios 4 companhias destinadas a tra- zerem imigrantes para o Brasil, ao transporte de mio de obra ou custeio total da viagem, pagamento de salario no primeiro ano de permanéncia e fornecimento de instrumentos agricolas, sementes, mudas ao colono. A despesa do Governo Central com a importacdo direta de colonos foi de apenas 171:162$, de 1861 a 1881, num orgamento total do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Publicas de 450.313:007$. No mesmo periodo esta instituicéio dispendeu 49.040:075$ com demarcacéo ¢ dis- tribuigdo de terras pablicas e colonizacio e 343.697$"com emancipagao de colénias do Estado. ® © plano do Governo era de formar a colénia para entrega-la quando jé estivesse préspera, a empresa particular ou 21 aos préprios moradores. A interferéncia estatal deveria ser de carter transitério. O objetivo final era de favorecer a iniciativa privada. A politica de estimular a imigragao visava, por um lado criar co- lénias em que se desenvolvesse a agricultura para o mercado interno, base de mao de obra livre e, por outro lado, fornecer bragos 4 lavoura de exportacio. As coldnias nao alcangaram os objetivos da politica governamen- tal na maicria dos casos. Fieavam demasiado distantes dos centros consumidores nao podendo supri-los e frequentemente os colonos pas- saram a usar escravos em cultivos destinados & exportacéo. A partir da década dos setenta, o Estado resolveu, devido a crise econ6mica, reduzir as verbas empregadas no sustento das colénias régias e transferi-las em grande escala aos particulares. A importagao de bracos para a lavoura era favorecida apenas in- diretamente pelo Estado fieando 0 grosso da despesa por conta das Provincias e das companhias particulares. resultado de 40 anos de colonizag&io, de 1818 a 1858, resumia-se a cerca de 80 colonias com uma populacéo aproximada de 40.000 pes- soas. Em 1854 a populagao do Brasil era estimada em 7.677.000 e em. 1860, em 8.418.000; 0 primeiro dado é de um levantamento feito pelo Ministério do Império e o segundo 6 um célculo do Instituto Brasileiro de Geogratia e Estatistica (IBGE). Segundo Fernando Carneiro ®, teriam entrado 4.940 colonos entre 1824 e 1829 e 7.298 entre 1840 e 1849, (10 espanhéis, 223 franceses, 491 portuguéses, 93 suicos, 292 ingleses, 2 velgas, 4.450 alemies e 1.737 de diversas origens) . Em 1858 chegaram ao Brasil, 135.864 ou 137.165 imigrantes; em 1859, 132.048; em 1860, 142.117; em 1861, 198.085. A estimativa da populacdo do Brasil em 1864 feita por Wappaus, Handbuch der Geographie und Statisitk des Kaiserreichs Brasilien ( ¢ de 10.045.000 de habitantes, © Estado, através das leis de 13 de setembro de 1830 e de 11 de outubro de 1837 ® regulamentou a locagao de servigos aplicavel sobre- tudo aos imigrantes, baseada no pressuposto da igualdade das partes contratantes (locador e locatario), que tornava desnecessario a inter- vengiio do Governo no mercado do trabalho em defesa do locador. Essa legislacéo formalmente liberal, encobria uma profunda desigualdade entre 0 fazendeiro locatério e o trabalhador rural locador de servicos, redundando em prejuizo deste ultimo. Caio Prado Junior “) considerou que as formas de parceria previstas na regtilamentacio da locacao de servigos e as praticadas fora da lei eram na realidade salarios. Outros autores julgaram que se tratava de formas de direitos feudais e n&o de obrigagdes de contratos entre iguais. Braz José de.Araujo® julgou que para distinguir as formas pré-capitalistas das capitalistas era in- dispensavel diferenciar dois tipos de cessdo de terras pelo fazendeiro ao trabalhador, em que este tiltimo e sua familia produzet sob o comand do proprietario e aquele em que o pareeiro e sua familia mantém re- Jativa autonomia,

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